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sexta-feira, 18 de abril de 2025

Ossadas de Denis Casemiro e Grenaldo de Jesus, lutadores contra a ditadura, foram identificadas em SP

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Mais de 30 anos após a Vala de Perus ser aberta na cidade de São Paulo (SP), finalmente os remanescentes ósseos de Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro foram corretamente identificados. A história da identificação destes heróis do povo é marcada de descaso e mentiras, mas também muita luta social.

Vivian Mendes | São Paulo (SP)


No dia 16/04, em ato público realizado na Reitoria da Unifesp, anunciou-se a identificação de dois desaparecidos políticos entre os remanescentes ósseos da vala clandestina de Perus: Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro. Foi um momento de grande comoção e avanço da luta por Memória, Verdade e Justiça no nosso país.

A vala clandestina foi criada durante a ditadura militar, nos anos 70, para ocultar corpos de pessoas vítimas da violência de Estado, no cemitério Dom Bosco, bairro de Perus, região periférica de São Paulo. Apenas em 04 de setembro de 1990, com apoio corajoso da então Prefeita Luiza Erundina, ela foi aberta. Nela foram encontradas cerca 1500 ossadas entre adultos e crianças, vítimas dos órgãos due repressão, dos esquadrões da morte e também do surto de meningite que a Ditadura quis ocultar. As ossadas infantis não resistiram a mais esse crime de ocultação de cadáveres, restando apenas 1049 caixas com remanescentes ósseos com possibilidade de serem analisadas.

Quando prefeita, Luiza Erundina instaurou comissões de investigação das ossadas da Vala de Perus. Foto: Unifesp.
Quando prefeita, Luiza Erundina instaurou comissões de investigação das ossadas da Vala de Perus. Foto: Unifesp.

Hoje, a identificação das ossadas está a cargo do CAAF – Centro de Arqueologia e Antropologia Forense da Unifesp. A criação desse centro, em 2014, foi resultado da luta incessante dos familiares de mortos e desaparecidos políticos que nunca desistiram de perguntar: Onde estão nossos desaparecidos políticos?

Em 2018, o CAAF já havia identificado Dimas Antônio Casemiro (irmão de Denis) e Aluizio Palhano Pedreira Ferreira. Ainda procuramos na vala por Francisco José de Oliveira, conhecido como “Chico Dialético”, cuja documentação encontrada ao longo dos anos nos leva a crer que tenha sido enterrado na vala clandestina.

Luta pela identificação de vários outros heróis do povo continua. Foto: Unifesp.
Luta pela identificação de vários outros heróis do povo continua. Foto: Unifesp.

Décadas de descaso e a verdade sobre Denis Casemiro

Depois de aberta a vala em 1990, os remanescentes ósseos ficaram sob a responsabilidade do chefe do Departamento de Medicina Legal da Unicamp, Fortunato Badan Palhares, para análise, e lá permaneceram por 20 anos. Tamanho foi o descaso com as ossadas que, anos depois, fez Palhares ser acusado de negligência pelos familiares e pelo Ministério Público.

Esse triste momento histórico se liga ao anúncio atual. A identificação de Denis Casemiro, a primeira apresentada por Palhares, ainda em 1991, foi equivocada.

Durante o trabalho do CAAF sobre os remanescentes ósseos, ao identificarem uma ossada compatível com a de Denis, o material genético foi enviado para análise, bem como a exumação do corpo apontado por Palhares anteriormente para verificação. Agora, a verdade finalmente veio à tona, a troca foi desfeita e, enfim, Denis Casemiro foi identificado corretamente.

Cerimônia contou com a presença de vários familiares, amigos e lutadores sociais. Foto: Unifesp.
Cerimônia contou com a presença de vários familiares, amigos e lutadores sociais. Foto: Unifesp.

Grenaldo de Jesus da Silva, o marinheiro assassinado num avião em Congonhas

Um maranhense, nascido em 1941, que ingressou na Escola de Aprendizes de Marinheiros do Ceará em 1960 e foi expulso por sua participação política em 1964, após o golpe militar.

Foi preso, mas conseguiu fugir da prisão. Foi viver em Guarulhos-SP, onde se casou e teve um filho, Grenaldo Edmundo da Silva Mesut. A família não tinha nenhum conhecimento de sua atuação política e soube de sua morte pelos jornais, onde foi tratado como um terrorista, que havia tentando sequestrar um avião e se suicidou.

Seu filho cresceu pensando que seu pai não era mais do que isso, um bandido, até que, em 2003, leu em uma matéria na revista Época, que uma testemunha relatou para a jornalista Eliane Brun que ele havia sido assassinado e que carregava uma carta para o filho no bolso explicando sua história e dizendo que um dia voltaria para buscar sua família. A partir disso, Grenaldo procura Amelinha Teles e Criméia Almeida e se depara com seu verdadeiro passado: seu pai não era um bandido, mas um verdadeiro herói do povo brasileiro.

Agora, enfim, Grenaldo Mesut, filho de Grenaldo Silva, pode enterrar os restos mortais de seu pai.

A CPI da Vala de Perus e sua contribuição para a história do nosso país

Quando a vala de Perus foi aberta, em 1990, uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI foi instalada na Câmara Municipal de São Paulo para investigar a vala e, ao mesmo tempo, a prefeita Luiza Erundina nomeou uma Comissão Especial de Investigação das Ossadas de Perus, composta por ex-presos políticos e familiares de assassinados pela ditadura (Amelinha Teles, Suzana Lisboa e Ivan Seixas compunham essa comissão).

Foi graças ao trabalho dessas pessoas e com a força legal da CPI que muitos documentos e livros de cemitérios puderam ser acessados e investigados. Foi assim que se chegou à localização das valas onde se encontravam os restos mortais de Manoel Lisboa de Moura e Emannuel Bezerra dos Santos no cemitério Campo Grande, na zona sul de São Paulo.

Unidade Popular esteve presente na cerimônia de identificação. Foto: Unifesp.
Unidade Popular esteve presente na cerimônia de identificação. Foto: Unifesp.

Manoel e Emannuel foram os únicos desaparecidos políticos encontrados nesse cemitério até hoje. Sem o trabalho, sem a história de luta pela verdade escondida na vala de Perus, nossos heróis não teriam sido encontrados.

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