UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
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Mobilização da Fenet escancara falta de orçamento nas escolas técnicas

Diante de um cenário de cortes orçamentários e precarização que levou um estudante a desmaiar de fome no IFRS-Campus Restinga, a FENET iniciou uma caravana de mobilização por dezenas de Institutos Federais e escolas técnicas do Brasil.

Julia Cacho e Adriane Nunes | FENET


JUVENTUDE – A Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet) está realizando uma ampla mobilização em dezenas de campi dos Institutos Federais e de escolas técnicas estaduais em todo o Brasil. A Caravana vai passar por dezenas de unidades dos Institutos Federais para convocar os estudantes para o Encontro Nacional, que ocorrerá em Salvador (BA), de 18 a 21 de setembro. Também tem como objetivo organizar uma grande jornada de lutas em defesa do orçamento para a educação, especialmente por alimentação de qualidade.

E já ficou comprovado que os estudantes querem lutar em defesa da educação e da permanência. No IFRS – Campus Restinga, uma paralisação de três dias foi organizada pela Fenet e pelas entidades estudantis locais, liderada pela diretora da Federação Marcela Almerindo (que recentemente faleceu, ver pág.2). “Queríamos organizar uma assembleia com os estudantes para falar sobre a necessidade do bandejão, mas, no mesmo dia, um estudante desmaiou de fome. Não tivemos outra alternativa senão organizar uma greve estudantil”, relatou Marcela, à época.

Cortes no orçamento

Atualmente, os Institutos Federais tem o mesmo orçamento que tinham no ano de 2012, quando a rede tinha menos unidades, o que tem feito com que os estudantes sofram com falta de estrutura adequada, como laboratórios e alimentação.

Como se não bastasse, em abril, o Governo Federal, para agradar os empresários e banqueiros, assinou o Decreto nº 12.448, que congelou R$ 31,3 bilhões da Educação em 2025. Na prática, essa medida significou um corte de 30% no orçamento previsto. Fomos, então, às ruas e o Governo teve que recuar! Isso mostra que só a luta é capaz de garantir nossos direitos.

Na rede estadual, não é diferente. Escolas caindo aos pedaços, falta de professores, turmas inteiras fechando e blocos interditados por falta de manutenção.

Mesmo com todas essas dificuldades, as escolas técnicas continuam sendo referência de educação. Agora imagine se o pagamento da dívida pública fosse suspenso por apenas um dia… Esse valor seria suficiente para construir restaurantes em todos os Institutos Federais e ainda resolver diversos problemas de estrutura das escolas.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Mortes alimentam o lucro do Uber Moto

Dados revelam que, enquanto a Uber anuncia lucros bilionários, seus trabalhadores, sem direitos trabalhistas, pagam com a própria vida, engrossando as estatísticas de fatalidades.

Igor Barradas | Macaé (RJ)


TRABALHADOR UNIDO – Nos últimos anos, o Uber Moto se tornou uma opção frequente nas cidades brasileiras. Diante do colapso do transporte público e dos preços elevados dos carros por aplicativo, muitos recorrem às motos para se deslocar. Porém, essa “solução rápida” tem um custo altíssimo: cada vez mais trabalhadores morrem para sustentar os lucros de uma empresa bilionária.

Dados do DataSUS e do Detran-SP mostram que motociclistas respondem por mais de 35% das fatalidades no trânsito urbano. Desde a expansão acelerada do Uber Moto durante a pandemia, esses índices não param de subir. Quanto maior o volume de corridas feitas por profissionais sem direitos trabalhistas, maior o faturamento da companhia, mesmo que isso custe vidas.

O lucro que tira vidas

O Uber Moto é a face brutal do apodrecido sistema capitalista que transforma um direito fundamental, o transporte, em mercadoria arriscada. Sem vínculo formal, sem garantias mínimas, o trabalhador está à mercê do perigo. Se se machuca, não tem suporte; se morre, é simplesmente substituído. Em 2024, a Uber anunciou lucros bilionários globais enquanto seus “parceiros” brasileiros pagam o preço nas ruas.

Alguns dizem que esses trabalhadores “escolheram” essa atividade. Mas quando as opções são desemprego, fome ou morte, falar em escolha é um cinismo. É a lógica cruel do sistema capitalista que força a precarização.

A empresa não oferece qualquer apoio aos familiares, não cobre despesas com funerais. Apenas mantém o funcionamento do sistema, trocando vidas como peças descartáveis.

Doação de órgãos

Outro lado chocante dessa realidade é que motociclistas de aplicativo estão entre os principais doadores de órgãos no Brasil. Jovens vítimas de acidentes fatais, com morte encefálica, têm seus órgãos utilizados para transplantes.

Segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), mais da metade dos doadores com morte encefálica tem entre 18 e 35 anos – faixa etária predominante entre quem trabalha em apps de transporte e entrega.

Cidades desenhadas para poucos

Enquanto a burguesia circula em carros blindados e helicópteros, a maioria se arrisca em vias mal cuidadas, escuras e perigosas. A cidade é projetada para atender aos interesses dos mais ricos, não para proteger os que trabalham.

Nenhuma “tecnologia” ou aplicativo jamais resolverá essa desigualdade. Só a luta coletiva e a organização popular podem transformar essa realidade.

Lutar pela vida é urgente

Só um sistema 100% público, com tarifa zero, seguro e controlado pelos próprios trabalhadores pode garantir mobilidade digna. Enquanto o transporte for negócio, vidas continuarão sendo perdidas.

Nenhum trabalhador deveria arriscar a vida para ir ao trabalho. Construir uma sociedade socialista, disputar consciências e garantir passe livre são passos essenciais.

Porque, a cada queda de moto e a cada corpo no asfalto, cresce a pergunta que não quer calar: quantas mortes ainda serão pagas para sustentar esse lucro?

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Sete trabalhadores morrem por acidente de trabalho todos os dias no Brasil

Com uma média de 7,5 mortes por dia, o Brasil registrou mais de 1.600 óbitos por acidente de trabalho no primeiro semestre deste ano, consolidando o país como o quarto no ranking mundial de fatalidades no ambiente laboral.

Ludmila Outtes | Presidente do SEEPE


TRABALHADOR UNIDO – De janeiro a junho deste ano, o Brasil registrou mais de 1.600 mortes por acidente de trabalho, uma média de 7,5 mortes por dia, o que rendeu ao nosso país o quarto lugar no ranking mundial de mortes por acidente de trabalho. Se levarmos em conta todas as notificações (Comunicação de Acidente de Trabalho – CAT), foram mais de 400 mil acidentes no primeiro semestre.

Os números mostram uma tendência à elevação: em 2022, foram registrados 654 mil acidentes; em 2023, 732 mil; e, em 2024, foram 742 mil acidentes de trabalho notificados. A maior parte está relacionada a trabalhadores da construção civil, trabalhadores rurais e trabalhadores da saúde. Entre os principais fatores estão a falta de equipamentos de proteção e a sobrecarga de trabalho.

Consequências da Reforma Trabalhista

É importante destacar que o aumento dos acidentes de trabalho também está diretamente relacionado ao aumento da rotatividade e à precarização dos serviços trazidos com a reforma trabalhista e a terceirização irrestrita, aprovadas pelo Congresso Nacional e sancionadas pelo golpista Temer, em 2017.

Desde a implementação da reforma, a informalidade avançou de forma avassaladora. Hoje, estimam-se que 38 milhões de trabalhadores não têm qualquer direito garantido. Muitos mal sobrevivem, pois não conseguem pagar alimentação, aluguel nem, muito menos, se aposentar.

O crescimento da informalidade e da terceirização também se reflete nas estatísticas. Estudos apontam que trabalhadores terceirizados sofrem mais acidentes, cumprem jornadas mais extensas e recebem menos treinamento. Em muitos casos, a ausência de fiscalização agrava o risco, deixando operários expostos a máquinas defeituosas, andaimes irregulares e produtos químicos sem proteção adequada.

A reforma trabalhista de 2017 aprofundou o problema. Ao flexibilizar regras de contratação e reduzir a obrigação das empresas de manter vínculos formais, criou-se um cenário em que grande parte dos empregados não possui garantias mínimas de saúde e segurança. Essa mudança favoreceu os grandes empresários, que aumentaram seus lucros, em detrimento da vida da classe trabalhadora.

Doenças mentais ainda ficam de fora

Mesmo com esse alarmante índice de CATs, vale destacar que ainda existe uma grande dificuldade dos trabalhadores de reconhecerem e comprovarem o adoecimento mental como também relacionado ao trabalho.

Depressão, síndrome do pânico e burnout são exemplos de doenças que atingem um número cada vez maior de trabalhadores e que podem estar relacionados ao trabalho: assédio, sobrecarga de trabalho, baixos salários e a pressão para atingir metas são alguns fatores que levam ao adoecimento mental.

Das notificações de 2024, por exemplo, as doenças mentais relacionadas ao trabalho representaram apenas 1% dos registros de CAT, apesar de terem sido responsáveis por mais de 500 mil afastamentos de trabalhadores no mesmo ano, mostrando que ainda estamos muito distantes de garantir o reconhecimento do trabalho como causa do adoecimento.

Ampliar os direitos é a garantia de vidas

Somente com a união da classe trabalhadora e a luta pela ampliação de direitos, fim das privatizações e reestatização dos serviços, revogação da reforma trabalhista e fim da terceirização, poderemos ter mais garantias de condições de trabalho adequadas e equipamentos de proteção individual e coletivo suficientes para a garantia da vida do trabalhador. Por isso, é fundamental nossa atuação nas associações de trabalhadores, sindicatos e centrais sindicais para organizar a luta de nossa classe.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

PL da Devastação atinge diretamente a vida da população maranhense

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A aprovação da PL da Devastação flexibiliza o licenciamento ambiental e ameaça ecossistemas sensíveis como os corais da margem equatorial e os manguezais do Maranhão.

Gabriel C. Silva | São Luís (MA)


BRASIL – No dia último dia 17 de julho, foi aprovado o Projeto de Lei 2.159/2021 – o chamado PL da Devastação, que representa um ataque direto às pautas ambientais e energéticas mais urgentes do nosso tempo. Em vez de investir na transição para fontes renováveis e sustentáveis, o Brasil caminha na contramão da história. A contradição entre o avanço da transição energética e a manutenção da lógica extrativista revela os limites do sistema capitalista. O que está em curso é a entrega dos nossos recursos naturais e o aprofundamento de um modelo de desenvolvimento dependente, predatório e desigual.

A atual ofensiva contra o meio ambiente e os direitos dos povos é parte do pacote neoliberal impulsionado pela direita brasileira. As políticas de “livre mercado”, de privatizações e de desregulamentações ambientais têm aberto caminho para que interesses empresariais, sobretudo de multinacionais, tenham acesso irrestrito às nossas riquezas. A crise estrutural do capitalismo força as grandes potências a manterem seus níveis de acumulação, empurrando os países da periferia do sistema – como o Brasil – à condição de exportadores de commodities e exploradores de seus próprios ecossistemas em nome de uma falsa ideia de desenvolvimento.

Nesse sentido, o PL 2.159/2021 flexibiliza profundamente o licenciamento ambiental, abrindo caminho para empreendimentos de alto impacto, como a exploração de petróleo e gás nas bacias do Golfão Maranhense. Essas áreas, que até então permaneciam relativamente preservadas, agora estão sob grave ameaça, colocando em risco não apenas o equilíbrio ambiental, mas também a vida de milhares de pessoas que dependem diretamente desses territórios.

O suposto “retorno social” desse tipo de exploração não se sustenta diante da realidade. O argumento de que a exploração de petróleo e gás trará geração de emprego, aumento de renda e melhoria na qualidade de vida não se sustenta quando confrontado com a realidade concreta. A maioria das empresas interessadas nas concessões são estrangeiras, especialmente da Europa, e não têm compromisso com o desenvolvimento local. Estudos de impacto mostram que o efeito na geração de empregos será mínimo: apenas 0,1% no emprego total e 0,3% no emprego formal. Ou seja, a maior parte da riqueza gerada será transferida para fora do país, sem retorno efetivo para a população maranhense.

O aspecto ambiental também não pode ser ignorado. Até hoje, não havia exploração direta em muitas dessas áreas justamente por falta de estudos detalhados sobre os impactos nos ecossistemas locais. Entre os biomas mais ameaçados está o conjunto de corais da margem equatorial, onde se localiza o Parque Estadual Marítimo Parcel de Manuel Luís – criado em 1991, o primeiro parque marítimo do Brasil e o maior banco de corais da América do Sul. Ele abriga uma enorme diversidade de espécies marinhas e desempenha um papel essencial na preservação da vida marinha no Atlântico tropical.

Outro bioma em risco são os manguezais, que possuem enorme importância ambiental, econômica e social. Presentes em regiões como São Luís, Cururupu, Turiaçu e outras, os manguezais atuam como barreiras naturais contra as mudanças climáticas, armazenando mais de 1,9 bilhão de toneladas de CO₂. Além disso, sustentam economicamente milhares de famílias e comunidades tradicionais, sendo estimado que mais de 100 mil pessoas dependam diretamente desse ecossistema para viver.

Portanto, o PL da Devastação não representa apenas um ataque à legislação ambiental brasileira, mas sim um projeto estratégico de subordinação do Brasil – e especialmente do Maranhão – aos interesses do capital estrangeiro. É a face mais cruel do imperialismo, que se reinventa para explorar recursos naturais e submeter povos inteiros à miséria, à desigualdade e à destruição de seus territórios.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Reforma Administrativa: estratégia da burguesia para facilitar privatizações

Proposta de Reforma Administrativa, apresentada pelo deputado bolsonarista Zé Trovão (PL-SC) com o apoio de entidades empresariais, retoma o projeto de desmonte dos serviços públicos no Brasil.

Coordenação Estadual MLC/RS


BRASIL – O povo brasileiro sempre soube que a privatização dos serviços públicos piora a qualidade dos serviços, encarece tarifas e dificulta a vida dos trabalhadores e trabalhadoras, e por isso se mobiliza para barrá-las.

Já os políticos que servem apenas aos ricos deste país, não desistem de roubar o patrimônio do povo e tentam encontrar meios de precarizar as empresas públicas através de leis que retiram direito dos servidores, facilitam terceirizações e fragilizam os vínculos de trabalho para dificultar a organização dos trabalhadores em seus sindicatos.

Esse é o caso da proposta de nova Reforma Administrativa do Serviço Público que foi apresentada pelo deputado bolsonarista Zé Trovão (PL-SC), com apoio de diversas entidades empresariais.

Tentativas de desmonte do serviço público se aprofundam desde os governos neoliberais de Fernando Collor e FHC, mas foi no governo Bolsonaro que a proposta se consolidou como PEC 32. Agora, ela retorna como proposição dos deputados e senadores de direita e do centrão, e conta com o apoio da base do governo Lula. No fim, o objetivo é o mesmo: acabar com conquistas do povo brasileiro consolidadas na Constituição de 1988, principalmente a garantia de serviços públicos para efetivação dos direitos sociais.

A atual contrarreforma é vendida como projeto de modernização do Estado, mas, ao invés de combater privilégios, não modifica as estruturas dos altos cargos da administração pública, pois generais, juízes, magistrados, parlamentares e outros não terão suas regalias revogadas. Já para a grande maioria dos servidores públicos, que recebem pouco e trabalham muito, a Reforma acaba com a estabilidade e impõe mecanismos de redução salarial.

O fim do Regime Jurídico Único

A estabilidade do servidor público foi proposta na Constituição para a proteção tanto do servidor como de toda a sociedade. O fim dessa estabilidade retira dos trabalhadores a possibilidade de denunciar, inclusive, medidas autoritárias, imorais ou ilegais de seus chefes.

Em 2024, o Superior Tribunal Federal (STF) formou maioria para flexibilizar o RJU, contando com os votos de ministros indicados por Lula, como Flávio Dino e Cristiano Zanin. Agora, caberá aos governos federal, estaduais e municipais decidirem qual modelo de contrato de trabalho. Na prática, serão criados cargos temporários por tempo determinado ou indeterminado, inclusive por meio de indicação, ao invés de concursos públicos.

Essa decisão do STF é uma demonstração do compromisso dos três poderes com os interesses da burguesia capitalista.

O novo que já nasce velho

O “novo” projeto de Reforma Administrativa tem o mesmo objetivo de toda política antipovo: precarizar para depois vender o patrimônio público. Quando a Reforma ataca a estabilidade dos servidores, abre espaço para perseguições, possibilita troca constante de profissionais, aumenta os contratos precários, põe em risco o compromisso com a qualidade do serviço público e, principalmente, facilita a entrega à iniciativa privada, enriquecendo ainda mais o empresariado e prejudicando quem utiliza os serviços públicos.

A privatização e a terceirização de serviços essenciais no Brasil já trouxeram aumento de preços, queda de qualidade e exclusão de populações vulneráveis. Temos exemplos em diversos setores, como energia elétrica, transporte e na área da saúde. No fim, a Reforma Administrativa será apenas mais um presente à elite econômica brasileira, que odeia o serviço público na medida em que ele não é estruturado para gerar lucros, mas para servir a todo o povo.

A manutenção de serviços públicos gratuitos e de qualidade só será garantida através da luta contra as classes dominantes que fazem de tudo em nome de seus lucros, e é por isso que devemos nos levantar contra a Reforma Administrativa. Enquanto vivermos num sistema em que as relações de produção visam o enriquecimento das elites, sofreremos constantes ataques para cassar nossos direitos e piorar nossas condições de vida. A justiça social que desejamos só será conquistada em definitivo com o triunfo do povo trabalhador sobre a classe parasita que o explora, através da instauração da sociedade socialista.

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Importância do planejamento e preparo para grandes reuniões da UP

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No último dia 20 de julho, a sede da Unidade Popular (UP) em São Paulo reuniu coordenadores de 30 núcleos da capital. A comissão organizadora preparou uma reunião com formato dinâmico, incluindo café da manhã coletivo, análise de conjuntura e atividades em grupo.

Tati Bornato | Diretório da UP (SP)


PARTIDO – Realizar reuniões periódicas para receber e transmitir informes, estudar, debater sobre a conjuntura, aprovar e realizar propostas é uma prática comum na Unidade Popular (UP). Para o êxito dessas reuniões, é importante dedicar um tempo para sua preparação. Por exemplo, reuniões grandes, tanto em quantidade de participantes quanto em duração, exigem uma atenção especial dos presentes e, se a reunião não for bem planejada, é possível dispersar após algumas horas de estudo ou de falas.

No último dia 20 de julho, coordenadores e representantes de 30 núcleos da capital se reuniram na sede da UP, em São Paulo. O encontro teve como principal objetivo debater o crescimento do partido, especialmente entre as mulheres. Além disso, novos coordenadores, que assumiram a tarefa recentemente, puderam esclarecer dúvidas sobre o funcionamento dos núcleos, seus principais objetivos e formas de coordenação. Neste sentido, a Comissão Municipal da UP preparou um formato dinâmico e participativo para a reunião.

O encontro teve início às 08h30 com um café da manhã coletivo. Quem pôde, levou uma comidinha para socializar, e todos puderam se conhecer melhor. Os núcleos da UP estão distribuídos pelas cinco regiões da maior capital da América Latina, e nem todos os coordenadores se conheciam.

A reunião iniciou-se com uma breve análise de conjuntura, baseada na leitura do artigo de capa do jornal A Verdade, edição nº 317 – “Imperialismo estadunidense quer mandar no Brasil”. O objetivo foi contextualizar os militantes sobre o cenário econômico e político do Brasil e do mundo, destacando a importância e as motivações para o crescimento do partido entre a classe trabalhadora.

Também foram apresentados os resultados das duas últimas reuniões, como o aumento da participação de mulheres na coordenação dos núcleos e o crescimento do número de filiados. Em um mês, mais de 200 trabalhadores se filiaram, ultrapassando a meta que era de 3 mil filiados até o final de junho.

Na segunda etapa da reunião, os participantes foram divididos em grupos e passaram por diferentes “blocos”, cada um representando uma pasta específica: construção material, filiação, comunicação, formação e coordenação de núcleo. Em cada bloco, os grupos leram matérias do jornal A Verdade relacionadas à pasta, receberam informes, fizeram falas e puderem tirar dúvidas. Ao todo, foram lidas seis matérias do Jornal durante a reunião.

A terceira etapa foi marcada por uma dinâmica desafiadora, em que os coordenadores e representantes tiveram que convencer mulheres trabalhadoras a se organizarem ou a voltarem a participar das reuniões de núcleos na UP. A comissão se dividiu em categorias representativas da classe trabalhadora: estudante; mãe trabalhadora da saúde com jornada de 12×36 e dois empregos; professora com dois empregos afastada das reuniões de núcleo; operária da indústria têxtil chegando na fábrica; e caixa de supermercado na escala 6×1. Os grupos tiveram quatro minutos para apresentar a UP e convencer as mulheres a se organizarem ou a voltarem para a militância. A atividade gerou risadas, mas também destacou as dificuldades de interação e convencimento.

A reunião terminou com uma breve avaliação das estações e da dinâmica, seguida de propostas e depoimentos.

“A dinâmica e a abordagem das outras pessoas me ajudaram a ter melhores elementos de abordagens, uma vez que sempre tive dificuldades por me sentir despreparada ou envergonhada”, relatou Vanessa, do núcleo da Zona Oeste, que participou pela primeira vez de uma reunião de coordenadores.

Josy, coordenadora do núcleo de Osasco, destacou que “o formato da reunião permitiu um aprofundamento mais eficaz em cada uma das pastas, além de proporcionar um melhor entendimento sobre as debilidades e acertos dos demais núcleos”.

Para Victor, coordenador do núcleo de Pirituba, “as estações proporcionaram uma compreensão mais profunda sobre os problemas individuais de cada núcleo e destacou que a dinâmica foi essencial para identificar que a dificuldade de organizar as mulheres trabalhadoras está diretamente relacionada às escalas de trabalho exorbitantes, como a 6×1”.

Reuniões grandes, que possuem um caráter formativo e com longa duração, permitem inovar sem perder o método ou sair da linha política da Unidade Popular.

Avante, camaradas!

Matéria publicada na edição impressa nº320 do jornal A Verdade

Povo Guarani-Kaiowá é atacado por fazendeiros, policiais e governo no Mato Grosso do Sul

Indígenas Guarani-Kaiowá lutam para retomar suas terras originárias enquanto são atacados por policiais, jagunços de fazendeiros e o governo estadual. 

Douglas Soares | Redação MS


BRASIL – No último dia 21 de setembro, os indígenas Guarani-Kaiowá retomaram a Fazenda Ipuitã, sobreposta à Terra Indígena (TI) Guyraroká, em Caarapó, para impedir pulverização de agrotóxicos e exigir a demarcação da área, que segue travada desde 2011 pelo STF. A prática de pulverizar veneno sobre terras e aldeias é recorrente, denunciada como genocídio continuado, como publicado no texto Povo Guarani-Kaiowá resiste em Douradina (MS) de setembro de 2024 do Jornal A Verdade.

Na segunda-feira (22/9), a PM atacou a retomada. A Funai foi acionada, mas se recusou a enviar servidores, alegando falta de estrutura e risco. Na ausência da Funai, a Tropa de Choque realizou despejo sem ordem judicial, enquanto a Força Nacional nada fez. A Funai vergonhosamente só apareceu após o ataque.

Este foi o primeiro de uma série de ataques. Após o despejo ilegal, a comunidade deu 48 horas para os ruralistas suspenderem a pulverização. Sem resposta, voltou a ocupar a fazenda, sendo recebida a tiros por jagunços. Dois indígenas foram sequestrados e levados à sede da fazenda, sendo libertados após intervenção da comunidade.

Já a retomada Ñundi´a Ry Passo Piraju, na TI Dourados-Amambaipeguá III, em Porto Cambira, também no município de Caarapó, foi atacada a partir de terça (23/9). Sob o pretexto de “combater o tráfico”, o DOF e a Tropa de Choque cercaram a área e dispararam contra os indígenas. Desde então, ataques se alternam entre Guyraroká e Passo Piraju.

Em Guyraroká, destruíram o acampamento, enterraram comida, ferramentas, colchões e até dois cachorros vivos. “Isso pode ser um experimento: primeiro fazem com os animais, depois conosco”, relatou um membro da Comissão de Direitos Humanos ao CIMI (Conselho Indigenista Missionário).

Há quatro feridos, entre eles uma grávida de seis meses que passou mal com bombas de gás vencidas, inclusive sendo uma prática constante da PM-MS, como ocorrido em outras situações. O caso mais grave é de um homem baleado com tiros de borracha à queima-roupa. Ele se recusa a ir ao hospital devido ao histórico de racismo e prisões contra indígenas que buscam atendimento, como destacado pelo CIMI.

Enquanto isso, rádios locais incitam ódio e convidam a população a assistir aos ataques “de camarote”, num espetáculo de violência que lembra a Palestina, onde colonos nazi-sionistas fazem da barbárie um show.

A conciliação do Ministério dos Povos Indígenas não deve ser aceita

Nos dias 25 e 26/9/2025, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) reuniu-se emergencialmente com lideranças Guarani-Kaiowá, entidades indigenistas, órgãos de direitos humanos, Governo do Mato Grosso do Sul e a Secretaria de Justiça do MS. Ficou evidente a falta de preparo do MPI diante da gravidade da situação. Não houve enfrentamento aos crimes da PM-MS e da Secretaria de Segurança, comandada por Antonio Carlos Videira, indicado pelos governos dos ruralistas Reinaldo Azambuja (PSDB) e Eduardo Riedel (PSDB).

Vale destacar que a Polícia Militar não pode atuar de forma autônoma em terras indígenas ou retomadas, pois a retirada de indígenas depende de decisão da Justiça Federal, dado o interesse da União, e jamais para cumprir reintegrações sem mandado. Mas isso pouco importa para a Secretaria de Segurança Pública do MS, que viola tais questões com frequência.

Porém, o maior absurdo estaria por vir durante a própria reunião de quinta (25). Foi que, enquanto ocorria a reunião, helicópteros da PM e do DOF atacavam a TI Guyraroká. Nem durante a “conciliação” os ataques cessaram.

Além disso, o MPI, mesmo destacando a Força Nacional para estas situações, sempre o faz em número insuficiente, e só é destacado maior contingente após dias de graves violações. Na maioria das ocasiões, é uma viatura para duas retomadas. E a Força Nacional tem sua atuação muitas vezes apenas quando é conveniente, sendo seus agentes frequentemente coniventes com os ataques ilegais de jagunços e PM.

Ao fim da reunião, o MPI firmou acordo com o Governo Estadual. Mas como confiar, se enquanto se dialoga a PM continua atacando? Como esperado, no domingo (28), a tropa de choque voltou a agredir a comunidade em Guyraroká.

Segundo fontes anônimas, a solução proposta é oferecer terras próximas a Anaurilândia aos fazendeiros, em permuta. Ou seja, prova de que o crime compensa. O latifundiário ocupa, intoxica e destrói, e depois é recompensado com novas terras. Essa é a “dura” vida dos burgueses e latifundiários brasileiros.

A conciliação com o agronegócio

Caso essa medida de conciliação com o agronegócio ocorra, não será um caso isolado. Ao final de setembro de 2024, Governo Federal, Governo de Mato Grosso do Sul e fazendeiros firmaram, no STF, um acordo de R$ 146 milhões para indenizar “pelas benfeitorias” e pela terra nua os ocupantes da Terra Indígena Nhanderu Marangatu, do povo Guarani e Kaiowá. Só após a assinatura, o Estado restaurou o decreto de homologação suspenso desde 2005 em virtude de uma decisão monocrática do ministro Nelson Jobim. O território, marcado pela luta e violência, incluindo o assassinato de Marçal de Souza (1983) e, em 2024, de Neri Ramos da Silva, executado pela PM-MS em 18 de setembro.

Embora o STF tenha reconhecido em 2023, no julgamento do marco temporal, a indenização por “evento danoso”, condicionou sua aplicação a critérios como análise da boa-fé na ocupação e ausência de esbulho indígena, além de procedimento próprio ainda não regulamentado. No entanto, o acordo de 25 de setembro de 2024 ignorou essas exigências, criando insegurança jurídica e legitimando práticas que desconsideram décadas de violência, destruição ambiental e violações sofridas pelos Guarani e Kaiowá.

Na ocasião, o Governo Federal cravou como vitória dos povos indígenas, mas não havia nada a se comemorar, com a comunidade Nhanderu Marangatu em luto, sem a devida participação na negociação. E com um precedente perigoso criado para beneficiar quem só levou destruição ao povo Guarani Kaiowá.

Conciliação não é solução

Após os recentes ataques da Polícia Militar do MS contra retomadas e Terras Indígenas, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) segue numa linha conciliatória com o agronegócio e o Governo Estadual, comandado pelo latifundiário fascista Eduardo Riedel.

A criação do MPI foi um grande acerto do Governo Lula, fruto de uma demanda histórica dos povos indígenas, algo impensável em governos fascistas como o de Bolsonaro. No entanto, a postura atual do ministério é insuficiente diante da brutalidade das contradições no campo brasileiro, revelando que a solução real só virá por meio de um processo verdadeiramente revolucionário no Brasil.

Por isso, é necessário que o MPI urgentemente quebre com a sua linha conciliatória, responsabilize o governo do estado e seu secretário de segurança que segue a cartilha das SS. Que avance com urgência na discussão de inconstitucionalidade do Marco Temporal e não coloque na pauta do dia a indenização de perpetradores da violência.

Além disso, essas contradições só reafirmam o que os comunistas sempre avisaram, não é possível servir a interesses antagônicos, ou se está com o povo ou se está com a burguesia. Por isso, saudamos a luta do povo Guarani Kaiowá, que sabe que só o povo organizado em luta podemos transformar nossa realidade. Por isso, afirmamos que só seremos livres e soberanos com um governo revolucionário dos trabalhadores.

Greve geral na Itália em defesa do povo palestino

Confira a nota da Plataforma Comunista – Organização para o Partido Comunista do Proletariado da Itália sobre a greve geral dos trabalhadores italianos em defesa da Palestina e contra o genocídio em Gaza.


INTERNACIONAL – No último dia 22 de setembro, milhares de trabalhadores italianos aderiram à greve geral pelo fim do genocídio do povo palestino e pelo rompimento de todas as relações do país com o Estado terrorista de Israel. 

Com ampla participação de trabalhadores, jovens e mulheres das camadas populares, pelo menos 700 mil pessoas se somaram nas centenas de manifestações que ocorreram do norte a sul da Itália. Entre os participantes, muitos jovens, de todas as idades, até os mais novos, em suas primeiras experiências de luta.

Foram realizadas ações incisivas, como o bloqueio de portos (em Gênova, Livorno e Veneza), de estações ferroviárias (em Milão, Roma e Nápoles), de transportes públicos, bloqueios de rodovias (Turim-Milão, Florença-Bolonha) e estradas (Pisa), de escolas e universidades, desafiando a “lei de segurança” [1]. A máquina da indústria e dos transportes bélicos foi freada, com protestos em frente às sedes do conglomerado industrial bélico italiano Leonardo. Fotos do criminoso primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu e de sua cúmplice, a primeira-ministra italiana Giorgia Meloni, foram queimadas em diversos protestos. Foi intensa a resposta contra as forças repressivas que buscavam impedir os atos de massa com gás lacrimogêneo, jatos de água e investidas policiais.

O lema da greve foi “Bloqueemos tudo!” e se traduziu em ação concreta em muitas cidades, dentro de um dos maiores protestos realizados na Europa desde o início da agressão sionista em Gaza.

A mobilização ultrapassou as estimativas dos sindicatos de base que haviam convocado a greve. Milhares de ativistas políticos, sociais e estudantis contribuíram de forma espontânea para seu êxito, a ponto de, em algumas cidades, as mobilizações se estenderem até a noite. Em Livorno, os protestos contra o envio de armas a Israel continuam sem cessar.

Nas praças, foi expresso um forte sentimento de solidariedade ao povo palestino e em defesa da Sumud Flotilla. As massas também expressaram sua rejeição à política e à economia de guerra impostas pela OTAN, pela União Europeia e pelos grandes monopólios bélicos, aos cortes nos setores sociais e sanitários e à onipotência do capital financeiro que destrói Gaza e a vida de milhões de trabalhadoras e trabalhadores.

Os derrotados dessa jornada de luta foram, em primeiro lugar, o governo reacionário e filosionista (simpatizante do Sionismo) de Giorgia Meloni, que inicialmente ameaçou tomar medidas contra a greve e agora busca dissimular a participação evidente das massas; em segundo lugar, a falsa oposição burguesa e os dirigentes das confederações sindicais duramente criticados também pelos numerosos trabalhadores filiados que participaram da greve.

O diferencial da greve geral do dia 22 de setembro foi a vasta simpatia popular à causa palestina e a retomada da mobilização de massas na Itália. Com o despertar do movimento popular, emerge a necessidade de conectar estritamente a solidariedade ao povo palestino e a luta pela paz às reivindicações dos trabalhadores explorados em suas necessidades vitais e urgentes: trabalho, grandes aumentos de salários, saúde, direito e liberdade de luta.

Isso é de fundamental importância para favorecer a participação de amplos setores do proletariado, que precisam romper o cerco da ofensiva patronal e da trava imposta pelas burocracias sindicais. Nas fábricas e nos demais locais de trabalho, entre os demitidos, os empregados em lay-off, os precarizados, o descontentamento e a raiva crescem dia a dia e podem se transformar rapidamente em luta aberta contra o regime da exploração e da miséria.

A luta a ser desenvolvida não é “moral” ou “humanitária”, mas de grande significado político. É através da ligação entre a luta do proletariado organizado nas metrópoles capitalistas e a luta pela libertação dos povos e das nações oprimidas pelo imperialismo que se recolocará na mesa a questão da saída revolucionária da profunda crise de um sistema apodrecido desde as bases.

De extrema atualidade é a convergência em uma frente popular de caráter anti-imperialista, antifascista e antisionista, na qual o proletariado exerça a hegemonia, reunindo em torno de si as necessárias alianças de classe.

Uma frente de massas, que saiba dar expressão à solidariedade entre os povos na saída do bloco belicista da OTAN, na recusa do rearmamento, na desmobilização das bases militares estrangeiras, na retirada das tropas italianas do exterior; que lute contra qualquer envolvimento da Itália na guerra em curso na Ucrânia, a qual, sob a pressão dos contrastes entre Estados e monopólios imperialistas, pode lançar os povos no abismo de um conflito ainda mais amplo.

Para avançar por esse caminho, é necessário que os comunistas e os operários de vanguarda se unam na luta por um partido independente do proletariado, capaz de dar orientação revolucionária e internacionalista ao movimento operário e popular. Sem esse partido, a classe operária e as grandes massas se encontrarão política, ideológica e organizativamente desarmadas diante do desenvolvimento das contradições da época e das grandes batalhas que nos aguardam. 

Enquanto isso, os acontecimentos se aceleram e é necessário preparar-se para novas e mais decididas ações de luta de massas. Todos e todas a Roma, para a manifestação nacional de 4 de outubro! Avante na luta para salvar Gaza, por uma Palestina livre e independente, para derrubar o governo Meloni! 

23 de setembro de 2025.

Plataforma Comunista – Organização para o Partido Comunista do Proletariado da Itália

Nota:

[1] Lei imposta recentemente pelo governo Meloni, contendo medidas fascistas e racistas destinadas a limitar as liberdades democráticas dos trabalhadores e a intensificar a repressão contra o movimento de oposição social e política.

80 famílias ameaçadas de despejo em prédio com dívida de R$ 5,6 milhões no DF

Com dívida milionária e após 15 anos de abandono, um prédio em Taguatinga virou lar para 80 famílias organizadas pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Mas, mesmo depois de reconhecer o interesse social da ocupação, a Justiça do DF voltou atrás e autorizou a reintegração de posse, aprofundando a insegurança habitacional em uma região marcada pelo déficit de moradias.

Redação DF


LUTA POPULAR – O Juiz da Vara de Meio Ambiente, Desenvolvimento Urbano e Fundiário do Distrito Federal, Carlos Maroja, decretou nesta quinta-feira (26) a reintegração de posse do imóvel ocupado pela Ocupação Expedito Xavier, no Setor Hoteleiro de Taguatinga Sul. A decisão, contraria despacho anterior do próprio juiz dias antes, que havia reconhecido o interesse social da ocupação e marcado audiência de conciliação para o próximo dia 10 de outubro.

A ocupação, que renasceu no dia 7 de setembro pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), abriga cerca de 80 famílias. O prédio estava abandonado havia mais de 15 anos e pertence a um proprietário que acumula dívidas superiores a R$ 5,6 milhões, valor maior do que o próprio imóvel. Desde a chegada das famílias, que reconhecem a ocupação como lar, o espaço passou a abrigar atividades comunitárias, culturais, esportivas e educativas, além de uma creche e uma cozinha coletiva.

Contradição judicial

Na decisão publicada no início da semana, o juiz havia negado o pedido de reintegração de posse, considerando que o imóvel não cumpria sua função social e que a ocupação se mostrava legítima. Entretanto, o novo despacho afirma que o prédio estaria em reforma e que a permanência das famílias representaria “risco à vida e à integridade física de pessoas”, determinando a retirada imediata.

Para a advogada da ocupação, Laura Ingrid, a decisão ignora a realidade: “O prédio permaneceu abandonado por 15 anos, sem qualquer função social. Foi somente com a chegada das famílias que o espaço ganhou vida comunitária, com atividades culturais, educativas e de solidariedade”.

A realidade das famílias

Juliana, de 74 anos, resume a luta: “Só Deus sabe o que eu sofri. Nunca morei numa casa minha, desde que saí da casa do meu pai. Sempre trabalhei, sempre lutei, mas nunca consegui ter um teto próprio”.

Para Ellica Ramona, coordenadora do MLB, os números revelam a urgência da mobilização: “No Brasil existem 18 milhões de imóveis abandonados e 8 milhões de famílias sem teto. A Ocupação Expedito Xavier nasceu para enfrentar essa realidade. Já temos creche, cozinha coletiva e mutirões constantes para recuperar um imóvel que estava abandonado há mais de 15 anos”.

Famílias seguirão resistindo

Apesar da decisão judicial, as famílias organizadas prometem resistir. Um ato público em apoio à ocupação está marcado para o dia 27 de setembro, às 15h, no próprio local. Durante o fim de semana, estão previstas oficinas, rodas de conversa, exposições e atividades culturais.

A ocupação segue aberta à comunidade e recebe doações de alimentos, roupas, materiais de limpeza e serviços voluntários. As contribuições podem ser entregues no endereço – Setor Hoteleiro Taguatinga Sul, a 900 metros da Praça do Relógio, ao lado da Escola Único – ou via Pix: ocupacaoexpedito@gmail.com.

Trabalhadores sofrem com a péssima situação do transporte intermunicipal em Pernambuco.

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Se a situação do transporte coletivo na região metropolitana já é terrível, no interior do estado a situação é ainda pior: passagens caras, estradas ruins, insegurança e rotas que dificultam a vida da classe trabalhadora ainda mais.  

Isabella Morais e Clóvis Maia | Redação Pernambuco


BRASIL- Dentro do sistema capitalista tudo vira mercadoria e visa apenas o lucro de uma minoria. Quando o tal do lucro é ameaçado, vemos medidas ainda mais mesquinhas sendo tomadas para manter esse individualismo. É assim que podemos resumir bem a situação do transporte intermunicipal em Pernambuco e nas grandes cidades do país.  Mesmo com milhares de trabalhadores precisando fazer uso do transporte intermunicipal na zona da mata, agreste e Sertão Pernambucano, seja para estudar, trabalhar ou mesmo para fazer um lazer cultural, temos visto uma outra realidade.

Empresas responsáveis pelo transporte para o interior estão defasando o serviço, o que deixou 80 cidades do interior com linhas de ônibus suspensas, horários reduzidos, frotas diminuídas, mais de 2 mil trabalhadores desempregados e paisagens mais caras. Tudo isso porque o Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários de Passageiros de Pernambuco (SERPE), está pressionando o governo estadual para obter subsídios, isenções e garantias de manutenção de seus lucros com dinheiro público, enquanto oferecem um serviço de péssima qualidade para os usuários, que pagam pelo prejuízo.

O transporte intermunicipal é operado por sete empresas (Progresso, 1002, Borborema, Rodotur, Astrotur, Coletivos, Joalina e Logo Transporte) que transportam 1,3 milhão de passageiros por mês, segundo informações do próprio sindicato. Mas na verdade, o que se tem em jogo é a manutenção de um velho monopólio, onde famílias tradicionais locais repartem entre si a região para continuarem mantendo seus lucros.

Governo do estado não tem proposta de melhoria para o transporte intermunicipal

 De família ligada a empresas de transporte, a governadora Raquel Lyra (PSD), entregou ao Progressistas (PP), de nomes como Ciro Nogueira, a direção do Departamento Estadual de Transito (DETRAN), o mesmo partido que, coincidentemente, tinha indicado também a presidência da Companhia Brasileira de Trens Urbanos do Recife (CBTU-Recife), ambos cargos indicados por Eduardo da Fonte, figura conhecida da extrema-direita pernambucana. Enquanto isso a classe trabalhadora tem que pagar passagens caras, em ônibus sucateados e de péssimas qualidades e sem segurança.

Empresas como a Progresso, por exemplo, é uma das mais denunciadas no Procon em Pernambuco, e cobram passagens que custam R$240, em média, de Recife para Petrolina, ou R$130 para Serra Talhada, outro polo educacional no estado, que possui grande média de passageiros que estudam ou trabalham na cidade e região. Enquanto a governadora segue sucateando o transporte coletivo na região metropolitana- sem melhoria nos serviços e ainda subsidiando empresários com milhões dos cofres públicos-  e tenta privatizar o metrô com apoio do governo Lula, temos que pagar o prejuízo de um transporte intermunicipal também sucateado. É sempre assim no capitalismo: socializam o prejuízo e privatizam o lucro. Por isso, quando os movimentos que compõem a Unidade Popular defendem tarifa zero, auditoria nos contratos dessas empresas e passe livre para estudantes e desempregados tentam esconder de todo jeito essas propostas. Na cara dura, os mesmos parlamentares e empresários que defendem a PEC da bandidagem ou são financiados com dinheiro público apresentam que a única solução é privatizar tudo. Querem, de toda forma, negar ao povo o acesso a essas informações e conhecimento.

Mas não é nada justo continuarmos sofrendo com um transporte de péssima qualidade para enriquecer um punhado de empresários e seus lacaios. Enquanto isso, usando a desculpa de que o transporte alternativo tem atrapalhado o serviço, os empresários oferecem um serviço sucateado, chantageando o poder público para obter mais lucros, igualando as mesmas benesses do já precarizado transporte coletivo da região metropolitana, que está longe de ser público, ao contrário, no capitalismo, só aumenta a possibilidade de adoecimento para a classe trabalhadora e mais lucros para uma elite, que ironicamente, simplesmente não usa o serviço que eles mesmos oferecem.

Estudantes da UnB relatam precarização falta de aulas por ausência de vigilantes

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Cortes no orçamento, terceirização e sucateamento dos serviços impactam diretamente a vida acadêmica da UnB, que registra falta de aulas por conta de não haver vigilantes.

Pedro Gheventer | Brasília 


EDUCAÇÃO – Na noite do dia 3 de setembro, estudantes do Departamento de Música da Universidade de Brasília (UnB) foram surpreendidos ao encontrar as salas de aula e o auditório trancados. Por mais de uma hora, alunos e professores permaneceram do lado de fora, aguardando a chegada de um vigilante noturno que pudesse destrancar os espaços. A demora resultou no cancelamento de diversas aulas. 

“A gente precisa vir para universidade tarde da noite para a aula, mas quando chegamos a sala está trancada. Ninguém vem dar satisfação sobre o que aconteceu, nenhum aviso é dado, nem os professores são avisados. É muito ruim essa situação de precarização”, relatou um estudante que preferiu não se identificar.

O episódio não é isolado, mas reflete um processo mais amplo e crescente de sucateamento da educação pública no Brasil. Nos últimos anos, cortes sucessivos no orçamento federal têm impactado diretamente a UnB, que hoje opera com serviços terceirizados em diversas áreas, incluindo segurança. Sem número suficiente de trabalhadores para atender a todas as demandas, falhas como a de quarta-feira tendem a ser mais frequentes.

Outro estudante, que também pediu para não ser identificado, reforça que a situação evidencia um problema mais profundo: as péssimas condições de trabalho dos funcionários terceirizados.

“Essa questão da precarização tem muito a ver com a situação do trabalhador. Provavelmente aconteceu alguma coisa séria com o vigilante, mas a gente não tem como saber. O trabalhador terceirizado não está nas mesmas condições que um servidor público, e isso acaba impactando diretamente no funcionamento da universidade”, afirma.

Para além da defesa do acesso à universidade, dentro de um cenário em que as políticas federais de fomento ao ensino superior privilegiam os principais grupos universitários privados, é urgente abrir o debate sobre as condições de trabalho de quem garante o funcionamento do espaço da universidade pública. Trabalhadores terceirizados enfrentam remuneração insuficiente, menos direitos trabalhistas e maior rotatividade, o que gera instabilidade para toda a comunidade acadêmica.

Em uma sociedade que privilegia o lucro de poucos em detrimento do direito de muitos, o resultado é um cotidiano marcado por insegurança, atrasos e salas trancadas — uma metáfora cruel para os obstáculos que os estudantes enfrentam.

Estudar é um direito, não um privilégio. A luta por uma universidade pública, gratuita, democrática e de qualidade depende da organização coletiva dos estudantes, professores e trabalhadores.