UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 18 de agosto de 2025
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Kommunalkas: as ocupações a serviço da Revolução

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Assim como as kommunalkas — moradias coletivas organizadas pelos soviéticos após 1917 —, as ocupações do MLB buscam enfrentar o déficit habitacional e fortalecer laços comunitários, fundamentais para a construção de uma sociedade mais justa.

Raiê Roca Antunes | Porto Alegre (RS)


SOCIEDADE – Com a realização do Congresso Nacional do MLB, é importante aprofundar o entendimento de toda nossa militância sobre a relevância do trabalho de base do nosso movimento e seu papel histórico. Por isso, este artigo retoma a experiência das ocupações como instrumentos a serviço da Revolução Russa.

Os comunistas fazem ocupações há muito tempo. Muito antes de o MLB existir, nossos camaradas na Rússia já enxergavam as ocupações como ferramentas fundamentais para a Revolução. O papel das ocupações no contexto revolucionário dos anos 1910 e 1920 é semelhante ao do Brasil atual, pois ambas têm, em sua essência, dois objetivos principais: resolver o problema da falta de moradia e transformar a consciência da classe trabalhadora.

Não foi em outubro de 1917 que a situação habitacional na Rússia soviética se resolveu por completo, mas foi ali, no berço da Revolução, que a transformação social começou a tomar forma. Uma das primeiras medidas do governo revolucionário para enfrentar a crise da moradia foi organizar as kommunalkas. Eram ocupações em grandes palácios, apartamentos e casas desapropriadas da burguesia, onde várias famílias dividiam quartos dentro de uma mesma unidade, compartilhando áreas comuns, como cozinhas e banheiros. Uma solução habitacional popular e emergencial para a época.

Um exemplo emblemático de kommunalka foi a Casa Muruzi. Construída na década de 1870 para o conde Alexander Dmitrievich Mourouzis, serviu de residência para o general czarista Oskar Rein, de 1890 a 1917, até ser expropriada pelos revolucionários. O prédio, que tinha apartamentos luxuosos com até 26 quartos cada, foi dividido para abrigar centenas de famílias. Em 1919, os aposentos do conde se transformaram no estúdio literário da editora Vsemirnaya Literatura (Literatura Mundial). Assim, um espaço que antes servia apenas à burguesia passou a beneficiar toda a sociedade.

Outro aspecto fundamental das kommunalkas, assim como das ocupações do MLB, é o desenvolvimento da consciência social e de classe do proletariado. Os arquitetos da vanguarda soviética criaram o conceito de Condensador Social – a ideia de que a arquitetura deve servir para fortalecer as relações coletivas e construir o espírito da nova era, a era socialista. Dessa forma, com seus espaços compartilhados e sua estrutura modificada, prédios que antes reproduziam a ideologia burguesa passaram a difundir a ideologia socialista.

No nosso cotidiano, vemos essa transformação acontecer nas ocupações. Pessoas de diversas origens, realidades e crenças participam do Movimento. Chegamos carregando muito da ideologia burguesa, mas, aos poucos, os cursos, as atividades, as lutas, as manifestações e a vida coletiva nos moldam, tornando-nos pessoas mais comunitárias e solidárias. A ocupação não permite, e não deve permitir, a perpetuação do racismo, do machismo, da homofobia, do individualismo e de todas as demais manifestações da ideologia capitalista. Seu caráter comunal faz com que as relações e as interdependências sociais sejam construídas de forma fraterna e camarada, não mais a mentalidade da exploração do homem pelo homem, mas sim a mentalidade da cooperação de todos em prol do comum.

As kommunalkas foram essenciais para a Revolução Soviética, assim como nossas ocupações são fundamentais para a construção da Revolução Brasileira. Enfrentar o déficit habitacional e formar o homem e a mulher novos, como dizia Che Guevara, não são tarefas para depois da Revolução. Cada ocupação deve ser um condensador social, transformando tanto o espaço urbano quanto a consciência de quem o habita – sempre a serviço da Revolução e do Socialismo.

Matéria publicada na edição impressa  nº313 do jornal A Verdade

Ato no Recife exige justiça 5 anos após morte do menino Miguel

Manifestação denunciou descaso da justiça brasileira em condenar a culpada pela morte do menino Miguel, ocorrida em 2020.

Redação PE


BRASIL – O dia 2 de junho é uma data que ficou marcada no coração do Recife. Nesse dia, há exatos 5 anos, Mortes Renata, perdia seu único filho, Miguel Otávio, data essa que foi marcada com um ato público em frente ao Pier Maurício de Nassau, edifício de alto luxo, chamado popularmente como “Torres gêmeas”. O ato contou com a participação de diversas entidades e movimentos sociais. Na ocasião a Frente Negra Revolucionária (FNR) entregou seu manifesto de fundação para Mirtes, junto ao movimento de mulheres Olga Benário e o MLB. 

Não esqueceremos

Em 2 de junho de 2020, em plena pandemia mundial de COVID, Mirtes Renata teve que levar seu filho, então com apenas 5 anos, para o trabalho, por não ter com quem deixar a criança. Essa, aliás, é infelizmente a realidade de muitas domésticas em nosso país, que são forçadas a levar seus filhos para o trabalho por falta de creche, apoio dos maridos ou nenhuma possibilidade de ter com quem deixar os meninos.

O caso de Miguel é ainda mais grave, pois estávamos exatamente na quarentena, com escolas e creches sem funcionar. Sarí Corte Real, patroa de Mirtes, deixou Miguel sozinho no elevador de serviço, além de apertar o botão, enquanto Mirtes passeava com o cachorro da patroa. Miguel caiu do nono andar, o que acarretou na prisão em flagrante de Sarí Corte Real por homicídio culposo (quando não se tem a intenção de matar), abandono de incapaz e negligência, tendo sido liberada após uma fiança de R$20 mil. 

Pelos crimes foi condenada a 8 anos e seis meses, mas até hoje responde em liberdade, tendo inclusive recorrido em segunda instância, diminuindo a pena para 7 anos. Um outro fato que passou impune em todo o processo foi o fato de que a mãe e a avó de Miguel eram pagas com dinheiro do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) do município de Tamandaré, onde Sérgio Hacker Corte Real (PSB) era Prefeito da cidade, sendo inclusive denunciado por improbidade administrativa, já que as duas trabalhavam como funcionárias fantasmas da Prefeitura. 

No ato, Mirtes lembrou que “a mulher que cometeu o crime contra meu filho está vivendo a vida dela como se nada tivesse acontecido. Sarí ainda está solta, o processo passou um bom tempo parado, sem andamento nenhum. Se fosse o contrário, o caso já estaria resolvido. Eu já estaria presa se tivesse deixado a filha dela sozinha no elevador e terminasse da forma que terminou”. 

A família Corte Real é representante da elite pernambucana, tendo diversos negócios no ramo imobiliário, comércio, postos de gasolina e diversos nomes ligados diretamente a política local. Não à toa que o casal mora na região do Recife que possuí o metro quadrado mais caro, com alugueis dos apartamentos das chamadas Torres Gêmeas custando em torno de R$15mil, fora IPTU e condomínio. Para a imprensa os advogados de defesa da ex-primeira dama afirmaram que “seguem confiantes que o judiciário deve absolver Sarí”, além de classificarem a acusação de “injusta”

“No país negro e racista / No coração da América Latina…”

Em setembro daquele 2020 a cantora e compositora Adriana Calcanhotto lançou a música “2 de junho”, homenageando e denunciando a impunidade cometida pela justiça no caso de Miguel. A artista ainda doou os direitos autorais da música para o Instituto Menino Miguel, criado também naquele ano pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) para fomentar projetos de extensão voltados para as crianças das comunidades periféricas e outras ações sociais.

A luta por justiça de Mirtes Renata tornou o Menino Miguel num símbolo de resistência em todo o país. O nome de Menino Miguel batizou ocupações urbanas, inspira artistas e poetas, alimenta a luta dos movimentos sociais por uma sociedade mais justa enquanto vemos os responsáveis por sua morte escondidos em suas mansões, envoltos na covardia e no anonimato que o dinheiro compra.

A Frente Negra Revolucionária (FNR) fez questão de afirmar o compromisso com essa luta em seu manifesto de lançamento, como um compromisso de lutar para destruir esse sistema injusto e racista: Nem mesmo as crianças, que deveriam ser protegidas e educadas estão sendo poupadas do extermínio, como ocorreu com as vidas da menina Ágatha e Thiaguinho (Rio de Janeiro, 8 anos e 13 anos respectivamente) e Jonathas (Engenho Roncadorzinho, Barreiros/PE, 9 anos).”

No capitalismo as crianças não são poupadas nem protegidas. Se forem os filhos da classe trabalhadora e da periferia a impunidade e a violência são ainda pior. São 5 anos que a justiça se coloca arbitrariamente ao lado dos poderosos, enquanto uma mãe periférica convive diariamente com o luto e a ausência. São milhares de Mirtes que sofrem diariamente nas mãos desse sistema apodrecido que a cada hora que passa escancara a necessidade de ter um fim, para que possamos construir uma sociedade onde crianças fiquem seguidas e não percam suas vidas pela garantia da exploração e do individualismo de uma elite racista.

Câmara de São Luís impõe lei contra mulheres trans e travestis

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Lei transfóbica aprovada pelos vereadores de São Luís proíbe mulheres trans e travestis de usarem o banheiro feminino em espaços públicos.

Zaíta Moura Dias e Celine Oliver Albuquerque | São Luís


MULHERES – No dia 15 de abril, o Projeto de Lei n° 201/23, de autoria do vereador Marquinhos (União), foi aprovado em primeira e segunda votações na sessão ordinária da Câmara Municipal de São Luís. Em trâmite há dois anos, a matéria proíbe que mulheres trans (definidas no texto como indivíduos do “sexo biológico masculino”, mas se identificam como mulheres) se utilizem de espaços como banheiros e vestiários destinados ao público feminino em órgãos públicos e instituições privadas do município.

Em resposta a essa violência, o Movimento de Mulheres Olga Benário em conjunto com o Coletivo de Identidades Trans da UFMA – Xica Manicongo realizaram, no dia 22 de abril, um ato na Câmara Municipal de Vereadores de São Luís em denúncia e oposição ao PL aprovado. Tentaram nos impedir com justificativas de vestimentas inadequadas (mais uma forma de expressão das desigualdades sociais, na medida em que a Câmara não é um espaço para a população mais vulnerável) e limitação do espaço, mesmo com esses empecilhos, organizamos e fizemos com que a maioria entrasse, denunciamos a criação desse PL e essa lógica da extrema direita de atacar os direitos das pessoas trans, população já absolutamente estigmatizada e marginalizada.

A aprovação desta proposição legislativa representa a exclusão de pessoas trans, especificamente mulheres trans e travestis, de espaços de convivência coletiva. A suposta preocupação com a segurança de mulheres cis serve enquanto desculpa para proibir o acesso dessas pessoas aos banheiros adequados ao seu gênero, sendo um fator que pesa, agora legalmente, acima do debate moralista a respeito do tema.

Sendo mais um entrave para que essa população tenha direito de acesso à cidade e tenha garantida a possibilidade de ir ao banheiro, o PL se soma ao medo que a população trans tem de usar tais espaços, tendo de segurar a urina por muito tempo, o que muitas vezes ocasiona em casos de infecção urinária e outros problemas de saúde, se tornando, então, um problema de saúde pública.

Além do efeito direto sobre as pessoas trans, projetos como esse são parte de uma tentativa da burguesia em gerar um pânico moral a respeito de pessoas dissidentes, criando para a maior parte da população um inimigo a quem direcionar seu ódio com o intuito de esconder quem é a verdadeira minoria perigosa para nosso povo: a classe rica. 

Medidas transfóbicas têm tido efeito nos direitos de pessoas trans a nível nacional e internacional e isso é resultado da propaganda da extrema-direita, ou seja, o fascismo. Como é exemplo a decisão do Conselho Federal de Medicina de proibir o tratamento de bloqueio hormonal para adolescentes trans, a decisão da Suprema Corte do Reino Unido de definir legalmente mulheres pelo “sexo biológico”, além das diversas políticas que visam a marginalizar a população trans dos Estados Unidos desde o início do mandato de Donald Trump.

Diante de tantos ataques aos nossos direitos, é indispensável a organização da população trans para a garantia de nossos direitos. É essencial garantir em nossos movimentos um espaço de inclusão e acolhimento de pessoas trans e travestis, avançando assim na organização destas, que são também parte essencial na luta pela construção de uma nova forma de sociedade. A luta contra a transfobia deve ser, em sua essência, uma luta pela libertação da classe trabalhadora e pelo socialismo.

Israel bombardeia Irã em nova agressão militar

Sem qualquer tipo de provocação, Israel ataca dezenas de localidades no Irã com objetivo de ampliar seu domínio no Oriente Médio.

Felipe Annunziata | Redação


INTERNACIONAL – Cidades iranianas se encontram sob ataques ininterruptos de Israel desde esta quinta (12). Prédios residenciais, bases militares e instalações nucleares foram os principais alvos dos primeiros ataques, de acordo com relatos da imprensa internacional, os sionistas miram agora instalações de energia e distribuição de água no país.

De acordo com a própria imprensa iraniana, o chefe da Guarda Revolucionária e o comandante da força aérea foram assassinados. Além disso, 6 cientistas do programa nuclear também foram mortos com suas famílias. De acordo com o governo do Irã, ao menos 78 pessoas foram mortas no ataque.

Nesta sexta, os iranianos responderam com três barragens de mísseis balísticos contra algumas cidades israelenses. Em Tel Aviv, capital sionista, o prédio do Ministério da Defesa Israelense foi atingido. Até agora, a contagem dá conta de pelo menos 40 feridos.

Objetivo do ataque é dominar Oriente Médio e ampliar genocídio

Na prática, está se estabelecendo um cenário de guerra aberta entre Israel e Irã. Ao contrário do que se diz em muitos meios de comunicação, a República Islâmica é uma das principais potências militares daquela região no mundo. No entanto, Israel conta com uma força e um apoio militar muito maior, devido ao compromisso do imperialismo europeu e estadunidense em financiar a máquina de guerra sionista.

Reino Unido, França e os próprios EUA já colocaram jatos para atuar na defesa do espaço aéreo israelense. De acordo com o Council of Foreing Affairs, Israel recebeu 228 bilhões de dólares em ajuda militar desde 1948 apenas dos Estados Unidos.

O objetivo do nazi-sionista Netanyahu e do Estado de Israel é ampliar o domínio político no Oriente Médio por parte do imperialismo estadunidense e europeu, e consequentemente de Israel. Outra meta é a de aprofundar o genocídio em Gaza, dado que hoje o Irã é o único Estado a se opor de forma prática ao regime sionista, apoiando os grupos de resistência palestina, embora este apoio tenha decaído desde o meio do ano passado.

 

Concessão privada ameaça unidades de conservação no DF e aprofunda exclusão ambiental

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Transformar o acesso ao meio ambiente em mercadoria, por meio da concessão privada de unidades de conservação no DF, aprofunda desigualdades e cerceia os direitos das populações que já sofrem com os impactos das mudanças climáticas.

Beatriz Aires | Brasília, DF


BRASIL — No dia 2 de abril de 2025, o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) iniciou uma consulta pública, com término previsto para 15 de junho, sobre o edital de concessão privada das Unidades de Conservação (UCs) no DF, especificamente o Parque Nacional de Brasília (PNB) e a Floresta Nacional de Brasília (Flona). A proposta prevê a transferência de serviços como visitação, limpeza, manutenção, segurança e transporte a empresas privadas. Também inclui a visitação de áreas como o Vale do Rio da Palma e o atrativo do Poço Azul, área integrada ao PNB.

Diversas manifestações por parte da população e de várias entidades socioambientais vêm denunciando a falta de participação da sociedade civil e a fragilidade dos estudos sobre impactos ambientais e sociais. O Ministério Público Federal (MPF), em 23 de abril, instaurou inquérito civil público para apurar as regularidades no processo de concessão.

O papel das UCs na proteção ambiental

Os Parques Nacionais (PARNA) são UCs de Proteção Integral, cujo objetivo é a preservação do meio ambiente e da biodiversidade. Já as Florestas Nacionais (FLONA) são UCs de Uso Sustentável, nas quais é permitido o uso, direto ou indireto, de seus recursos pela população, ou por parte dela, conforme as normativas do plano de manejo. Em ambos os casos, a visitação é permitida, desde que dentro das diretrizes estabelecidas pelo órgão gestor. Além de promover o lazer e o ecoturismo, o contato direto da população com essas UCs é essencial para fortalecer o vínculo entre as comunidades e o meio ambiente, promovendo a educação ambiental, o voluntariado e o engajamento na preservação do Cerrado.

Impactos sociais, ambientais e territoriais da concessão

No entanto, a concessão privada das UCs no DF ameaça essa realidade. Embora o ICMBio argumente que a concessão trará melhorias em estrutura, segurança, limpeza e transporte, além da ampliação e manutenção dos locais de visitação, movimentos sociais e entidades civis têm alertado para os possíveis impactos negativos à população e ao meio ambiente. Entre as preocupações estão a construção de estruturas de visitação, hospedagem e comércio sem estudos de impacto ambiental adequados, o estabelecimento de linhas de transporte para a barragem de Santa Maria (com riscos à fauna, à flora e à qualidade ambiental) e a cobrança de ingressos e taxas de estacionamento nas UCs. O acesso exclusivo à Flona, por exemplo, terá cobrança de R$ 10,00, e o acesso às duas unidades poderá custar até R$ 34,40 por pessoa.

Essas unidades estão inseridas em regiões periféricas como Ceilândia, Taguatinga e Brazilândia e representam um dos poucos refúgios naturais disponíveis à classe trabalhadora. Transformar o acesso ao meio ambiente em mercadoria, cobrando inclusive por espaços antes gratuitos, é aprofundar desigualdades e excluir parte da população que já sofre os efeitos das mudanças climáticas.

A lógica das concessões privadas visa ao lucro de grandes empresas, ignorando os reais benefícios (ou prejuízos) para o povo e a natureza. Enquanto isso, os investimentos públicos na área ambiental seguem insuficientes, ao passo que setores como o agronegócio — um dos principais responsáveis pela devastação ambiental no Brasil — recebem subsídios bilionários. O poder público continua sucateando os serviços, reduzindo verbas e recursos, para depois repassá-los à iniciativa privada a preços módicos.

A força da mobilização popular e da memória de Chico Mendes

Em 2024, a Flona foi atingida por incêndios que devastaram mais de 40% de sua área, sendo restaurada com a ajuda de centenas de voluntários do DF, que ajudou a recuperar trilhas, alimentar animais silvestres, realizar mutirões de limpeza e plantar mudas. A população local participa ativamente da vida na Flona e no PNB, não apenas com atividades de lazer, mas promovendo a abertura de trilhas, a prática de esportes e a educação ambiental. Restringir o acesso a quem pode pagar — e implementar mudanças que coloquem em risco a integridade do bioma — é um ato de exclusão contra a população e a vida selvagem.

O ICMBio, desde sua criação, é o órgão federal responsável pela gestão, conservação e proteção das UCs, devendo garantir sua manutenção com participação efetiva da sociedade civil. Mais do que isso, deve honrar o nome que carrega: Chico Mendes, seringueiro, trabalhador, sindicalista e defensor incansável da Amazônia e do meio ambiente — até sua morte, que permanece como ferida aberta na história dos trabalhadores no Brasil. Conceder à iniciativa privada a gestão de uma UC na capital do país é trair a luta histórica pela preservação ambiental no Brasil, uma luta que não se resume à proteção dos ecossistemas e dos recursos naturais, mas inclui o direito fundamental a um meio ambiente saudável e a um futuro sustentável para toda a população.

Usina Termelétrica Brasília: lucro para os ricos, destruição para o povo 

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A instalação da Usina Termelétrica Brasília é associada aos interesses de grandes empresários e representa uma grave ameaça socioambiental.

Núcleo Unidade Popular | Brasília DF


Em março deste ano, a população do Distrito Federal foi surpreendida com a divulgação de uma audiência pública para discutir a instalação da Usina Termelétrica Brasília. Após denúncias e pressão popular, o evento foi adiado. No entanto, já há nova data marcada: 17/06/2025.

A construção da UTE Brasília está prevista para ocorrer em Samambaia, região periférica do DF, onde já existem uma estação de tratamento de esgoto e um aterro sanitário que despejam resíduos poluentes no Rio Melchior. Há tempos, moradores da região sofrem com o mau cheiro e a indisponibilidade de água, o que contribui para a queda na qualidade de vida. Muitas pessoas precisam se deslocar até a região do P Norte, na Ceilândia, para buscar água em tambores para beber, tomar banho e cozinhar.

Com a usina — atualmente em fase de licenciamento ambiental — a população enfrentará ainda mais impactos: emissões anuais de 4,7 milhões de toneladas de CO₂, consumo intensivo de água do Rio Melchior para resfriar os reatores, geração de resíduos, alteração na biodiversidade local, aumento de doenças respiratórias e cardiovasculares, desmatamento de quase 32 hectares do Cerrado, aumento nos níveis de ruído e a demolição da Escola Classe Guariroba, afetando cerca de 560 crianças. Além disso, 330 terreiros espalhados pelo DF podem ser impactados, conforme identificado pelo Relatório Técnico do Mapeamento dos Terreiros do Distrito Federal (2018).

Mas quem são os grandes interessados nesse empreendimento?

Carlos Suarez, conhecido como “Rei do Gás”, é figura influente na política burguesa e, em 2021, conseguiu incluir um “jabuti” — emenda sem relação direta com a proposta original — na MP da privatização da Eletrobras, obrigando o governo federal a contratar termelétricas, favorecendo assim seus próprios negócios. Principal nome por trás da Termo Norte Energia Ltda., empresa responsável pela usina, Suarez também é sócio da Transportadora de Gás Brasil Central (TGBC), que pretende construir um gasoduto ligando São Carlos/SP a Brasília. Isso mesmo: nem sequer há gás natural disponível na capital para operar a termelétrica. Mas o empresário, um dos 100 maiores doadores de campanhas nas eleições municipais de 2024, já planejou tudo. É difícil acreditar que o Secretário de Meio Ambiente do DF (Gutemberg Gomes), a ADASA e a Secretaria de Educação do DF desconhecessem tamanha aberração climática.

A usina prevê uma capacidade instalada de 1.470 megawatts (MW) e fornecerá energia mais cara para o cidadão, dado que as termelétricas têm alto custo operacional e impacto ambiental. Por exemplo, o empreendimento usará 110 mil litros de água por hora para resfriamento, devolvendo 104 mil litros do volume em temperatura elevada, ou seja, além do enorme potencial de comprometimento da vida aquática devido à alta temperatura da água, o rio vai perder 6 mil litros do líquido por hora, isso em uma realidade na qual Brasília enfrenta períodos prolongados de seca, acentuados pelas queimadas promovidas pelos barões do agronegócio. A população já sofre com problemas respiratórios causados pelo clima em mudança e projetos como esse, que geram ainda mais poluição, podem sobrecarregar ainda mais os hospitais já sucateados pela atual gestão do IGES, empresa privada que ampliou o caos na saúde pública distrital.

Omissão do Estado

Sobre a ADASA (Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico), é importante destacar que concedeu duas outorgas para captação e devolução da água do Rio Melchior. Questionada sobre a utilização de dados de 2012 — há 13 anos — para avaliar os impactos ambientais, a resposta foi evasiva, apesar de 2024 ter sido o ano mais quente já registrado, com 164 dias sem chuva e queda drástica no nível dos reservatórios. “A gente rebate que esses dados são muito questionáveis, principalmente em relação a uma possível volta da crise hídrica de 2024. Será que teria água para essa térmica com a crise? Qual foi a vazão do rio em 2024?”, questiona o engenheiro ambiental John Wurdig, gerente de transição energética da Arayara.

Organizar o povo para barrar a destruição

Esse projeto, como tantos outros, reflete a onda de privatizações em curso em todo o país, nas quais membros do governo e grandes empresários, como Suarez, transformam setores fundamentais para os trabalhadores em balcões de negócios. A burguesia sempre colocará o lucro acima da vida da população, contando com a cumplicidade de agentes do Estado que atuam como meros executores de seus interesses.

Diante disso, é fundamental que nos organizemos e mobilizemos nossa comunidade para lutar contra esse absurdo e contra todas as privatizações que enriquecem os bilionários, enquanto o povo sofre com tarifas abusivas e serviços precários. A luta contra a Usina Termelétrica Brasília não é apenas uma questão local, mas um símbolo da resistência popular frente ao avanço de projetos que ignoram o meio ambiente e os direitos da população. Dizer não à Usina Termelétrica Brasília é afirmar que nossas vidas valem mais do que os lucros dos grandes empresários.

É hora de lutar pela estatização das empresas, pela preservação do meio ambiente, contra o racismo ambiental, contra o capitalismo e por uma sociedade com o povo no poder: uma sociedade socialista. Ou construímos o socialismo, ou estamos fadados à extinção e à destruição do nosso planeta.

Prefeito de Sorocaba (SP) Rodrigo Manga rouba do povo com privatização da saúde

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Prefeito de Sorocaba Rodrigo Manga rouba verbas destinadas à saúde pública para enriquecer aliados, família e Organização Social (OS) que administra unidades de saúde, enquanto povo morre na fila de cirurgias e exames.

Matheus Vinicius – Sorocaba SP


Em todo o país, e na cidade de Sorocaba (SP) não é diferente, o SUS tem sido entregue a Organizações Sociais (OS). Essas entidades privadas atentam contra o caráter público e eficácia do Sistema Único de Saúde, comprometendo o acesso da população a um atendimento gratuito e de qualidade, criando uma forma a mais das prefeituras roubarem do povo.

Para demonstrar que privatização e terceirização são crimes contra o povo, a operação da Polícia Federal (PF)  “Copia e Cola” apreendeu mais de R$1.700,000,00 (um milhão e setecentos mil reais) em dinheiro vivo, além de armas e veículos, no dia 10 de abril de 2025. As investigações apontam que esses recursos são provenientes de desvios de verbas da saúde do munícipio de Sorocaba.

Na operação, R$863.000,00 (oitocentos e sessenta e três mil reais) em dinheiro foram encontrados em caixas de papelão na casa da cunhada do prefeito Rodrigo Manga (Republicanos). A PF ainda investiga ex-secretários do governante, inclusive um já foi condenado pela compra superfaturada de um prédio de dez milhões de reais para abrigar a Secretaria de Educação da cidade.

Quando a saúde vira mercadoria

Uma das promessas de campanha de Manga era de zerar a fila de cirurgias e exames na cidade, entretanto, a fila quase dobrou: em fevereiro de 2022, Sorocaba tinha uma fila de 87.498 exames; em julho de 2023, eram 160.273 pessoas na fila; e no final de 2024, eram cerca de 110.000 mil procedimentos em atraso, isso sem falar na tentativa de burlar a Lei de Acesso à Informação para esconder os dados que comprovam o aumento contínuo da fila.

A realidade é que há falta de insumos, medicamentos e o número de profissionais não dá conta da demanda da população, além das péssimas condições estruturais. Tudo isso faz parte do plano de sucateamento das gestões neoliberais e demonstram que a prefeitura de Sorocaba segue a política dos ricos.

Ainda, Sorocaba (SP) tem um dos piores investimentos por habitante em saúde e educação do Brasil. O sucateamento e precariedade do Conjunto Hospitalar de Sorocaba (CHS) e problemas em máquinas de esterilização acabam fazendo com que cirurgias sejam canceladas e remarcadas. Em 25 de março de 2025, as cirurgias agendadas no período da manhã não foram realizadas, porque duas autoclaves (máquinas para esterilização) estavam quebradas.

Os funcionários e representantes do Sindicato da Saúde relatam que no CHS faltam ou demoram para entregar uniformes, lençóis e camisolas para os pacientes. Além disso, há escassez de leitos, roupa de cama, limpeza e mais funcionários.

Os trabalhadores da saúde e os movimentos defendem que o SUS seja 100% público e a experiência em Sorocaba demonstra que é impossível ter uma boa gestão com OSs, que tiram proveito do sucateamento e da privatização da saúde, e ainda participam do roubo com a prefeitura.

O prefeito tiktoker

Após a operação da PF, Manga apareceu mais uma vez em suas redes digitais, em frente a sua casa localizada em um condomínio de luxo (desde que entrou para a política em 2012 seu patrimônio aumentou mais de 2.270,8%), e gravou um novo vídeo para mentir para o povo: Manga ironiza os mandados de busca e apreensão realizados em sua casa, na Secretaria de Saúde e na Prefeitura de Sorocaba, dizendo que a polícia encontrou apenas bolo de cenoura, “pokemóns” e nutella. Alegou ainda que mandaram a Polícia Federal na casa dele apenas, porque ele havia lançado sua pré-candidatura à presidência da República e por figurar em segundo nas pesquisas para o Governo do Estado.

Por fim, citou que não tem medo do atual presidente ou de qualquer outra autoridade que estivesse “incomodada com sua ascensão”, como vemos, chama a roubalheira que está executando de ascensão e zomba mais uma vez da cara da população.

O político tem uma forte presença virtual, com promessas absurdas, afirmações exageradas quanto às ações da prefeitura, sempre acompanhadas de um humor duvidoso.

Durante a pandemia, Rodrigo Manga já era prefeito de Sorocaba e anunciou em 19 de março de 2021 o início de “tratamento precoce” contra a Covid-19, que utilizava remédios sem eficácia comprovada contra o vírus. Os tais kits de prevenção podiam ser recolhidos em qualquer Unidade Básica de Saúde.

Quando era vereador, em maio de 2020, Manga invadia hospitais para acusar a prefeitura de mentir sobre a situação da pandemia e já nessa data pedia o fim da quarentena. Em abril de 2021, enquanto prefeito, anunciou cortes de gastos no combate à pandemia, e neste mês havia um recorde de pessoas infectadas e mortas pelo vírus, ou seja, colaborou com o genocídio do povo durante a pandemia da Covid-19.

Rodrigo Manga é mais um governante dos ricos, que também tenta higienizar a cidade. Engana pessoas em situação de rua com promessas falsas de emprego em outros municípios, isso quando não as expulsa por meio da violência física com seus capangas.

A quem servem esses prefeitos?

Como demonstrou o Editorial do Jornal A Verdade de setembro de 2024, as prefeituras de todo o país são marionetes de grandes empresas e governam contra o povo pobre. Casos como o do prefeito de Sorocaba reforçam a necessidade de mobilização popular para que o povo seja poder.

O compromisso desses governantes lacaios da burguesia nunca é com o bem da população. A única solução é a organização urgente da classe trabalhadora. O povo unido pode e deve lutar contra as privatizações de serviços essenciais e a má gestão de serviços públicos, caminhando para construção de uma sociedade sem políticos de carreira, nem patrões, somente trabalhadoras e trabalhadores.

Voluntários da Flotilha da Liberdade são enviados para a solitária em prisão israelense

Brasileiro Thiago Ávila e parlamentar franco-palestina Rima Hassan, voluntários da Flotilha da Liberdade, são jogados em solitária em campo de tortura israelense. 

Felipe Annunziata | Redação


INTERNACIONAL – Advogada de voluntários da Flotilha da Liberdade, grupo que busca levar ajuda humanitária para o povo de Gaza, denunciou nesta quarta (11) que Israel colocou a eurodeputada franco-palestina Rima Hassan e o brasileiro Thiago Ávila numa solitária no campo de tortura de Givon. Ávila e Hassan iniciaram uma greve de fome em protesto contra a prisão arbitrária e o genocídio do povo palestino.

Com a prisão de Thiago Ávila sobe para 12 o número de brasileiros presos em centros de torturas israelenses. Os outros 11 são brasileiros-palestinos, a maioria adolescentes, presos durante ataques israelenses na Cisjordânia. Em março, o brasileiro-palestino Walid Khaled Abdullah Ahmed, de 17 anos, foi assassinado no centro de tortura de de Meggido.

Em nota o Itamaraty continuou com as palavras bonitas de repúdio ao genocídio em Gaza e à prisão política dos voluntários da Flotilha da Liberdade. No entanto, nenhuma ação concreta contra Israel foi tomada.

“Ao reiterar sua firme condenação à interceptação, em águas internacionais, por forças israelenses, da embarcação “Madleen”, em flagrante transgressão ao direito internacional, o Brasil clama pela libertação de seu nacional e insta Israel a zelar pelo seu bem-estar e saúde. Em contexto de gravíssima situação humanitária na Faixa de Gaza, onde há fome e desnutrição generalizadas, o Brasil deplora a continuidade de severas restrições, em violação ao direito internacional humanitário, à entrada de itens básicos de subsistência no Estado da Palestina.”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores ontem (10).

Enquanto isso, o Brasil continua sendo responsável por causa 10% do petróleo importado por Israel e mantém relações comerciais e políticas como se não tivesse nada ocorrendo na Palestina.

Violência contra as mulheres cresce na região do Alto Tietê (SP)

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Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado mostram que a região do Alto Tietê registra, em média, 5 feminicídios por ano. Uma situação alarmante, mostrando que a violência contra as mulheres na região tem crescido nos últimos anos.  Para lutar pela vida das mulheres, o Movimento de Mulheres Olga Benario realizou uma ocupação na região.

Amanda de Lucca e Lis Sousa | Alto Tietê (SP)


MULHERES – De acordo com dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Estado, a região do Alto Tietê se encontra num quadro alarmante com relação à violência contra as mulheres: em média, a região registra cerca de 5 feminicídios por ano. Só entre 2014 e 2023, um total de 49 mulheres foram assassinadas devido à violência doméstica ou à discriminação de gênero. Porém, esse número não reflete a totalidade das vítimas, uma vez que muitas agressões não são denunciadas, revelando um problema ainda mais profundo e invisibilizado.

As cidades com os maiores índices de feminicídios são Itaquaquecetuba, com 12 casos; Mogi das Cruzes, com 11; e Suzano, com 10. Juntas, essas três cidades representam 67,3% de todos os feminicídios registrados na região.

O perfil das vítimas também é preocupante. 33 mulheres foram assassinadas dentro de suas próprias casas, evidenciando que a violência ocorre em ambientes onde deveriam estar seguras. Além disso, 26 das vítimas eram mulheres negras, e metade delas tinha 30 anos ou menos. Esses dados ilustram como gênero, raça e classe social estão interligados, criando barreiras para que essas mulheres acessem recursos e saiam do ciclo de violência.

Outro fator preocupante é o aumento dos casos de estupro na região. Em outubro de 2023, houve um aumento de 34% em relação ao mesmo período de 2022, com 17 casos de estupros e 42 estupros de vulnerável registrados. Itaquaquecetuba e Suzano aparecem novamente com 14 casos cada. O aumento dos registros reflete não apenas a maior incidência desses crimes, mas também as dificuldades que muitas mulheres enfrentam para denunciar, seja por falta de apoio, medo de represálias ou vergonha.

A Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) registrou 5.324 denúncias de violência contra a mulher em 2023, um aumento de 23,4% em relação ao ano anterior – uma média de 14 denúncias diárias. A análise dos dados mostra que a violência contra a mulher se mantém constante ao longo do tempo, refletindo a falta de serviços especializados, como a falta de delegacias especializadas 24 horas, e políticas públicas eficazes.

O capitalismo tem um papel central na perpetuação dessa violência, uma vez que privilegia a manutenção de hierarquias sociais que reforçam desigualdades de gênero e classe. As regiões mais afetadas são também aquelas onde mulheres negras e de baixa renda têm menos acesso a serviços de suporte e proteção.

A Ocupação Alexina Crespo

No dia 25 de novembro de 2024, o Movimento de Mulheres Olga Benario ocupou um imóvel abandonado para criar a Casa da Mulher Trabalhadora Alexina Crespo, localizada em uma rua marcada pela prostituição e violência. A ocupação foi uma resposta à negligência do poder público na proteção das mulheres em situação de vulnerabilidade. No entanto, as mulheres sofreram um despejo violento e foram ameaçadas pelo suposto proprietário do imóvel.

Movimento de Mulheres Olga Benario constrói a Casa da Mulher Trabalhadora Alexina Crespo para acolher mulheres. Foto: Pedro Baskia.
Movimento de Mulheres Olga Benario constrói a Casa da Mulher Trabalhadora Alexina Crespo para acolher mulheres. Foto: Pedro Baskia.

A coordenadora da ocupação, Lis Sousa, relata: “A Casa da Mulher Trabalhadora Alexina Crespo nasceu no Dia Nacional de Luta contra a Violência à Mulher para realizar, de forma autônoma e coletiva, o serviço de acolhimento e enfrentamento à violência contra a mulher, juntamente com o apoio no cuidado às crianças das mães atendidas. Esses pontos são negligenciados pela prefeitura de Suzano, que desde 2016 é governada pelo partido fascista do PL”.

Durante a ocupação, funcionários do proprietário começaram a abordar as mulheres, tentando intimidá-las. “Pela manhã, começaram a nos abordar, questionando o motivo de estarmos lá, com comentários feitos para nos amedrontar. Em seguida, carros começaram a passar lentamente pelo local, filmando e vigiando a casa. Cerca de uma hora e meia depois, o proprietário chegou em um carro de luxo, escoltado pela Polícia Militar, exigindo nossa retirada e alegando que o imóvel seria colocado para locação futuramente”, relata Lis Sousa.

A ação truculenta da polícia evidenciou sua atuação em defesa dos interesses dos ricos, em detrimento da vida das mulheres. O despejo violento demonstrou o alinhamento das forças do Estado com a especulação imobiliária, priorizando o lucro em vez da função social dos imóveis.

A prefeitura de Suzano não cumpriu a promessa de dialogar diretamente sobre o projeto, limitando-se a atender as mulheres na porta do prédio público e por meio de intermediários. Essa postura reforça a falta de compromisso das autoridades com políticas públicas eficazes de combate à violência contra a mulher.

As ocupações do Movimento de Mulheres Olga Benario são uma resposta à ausência do Estado e uma denúncia contra a especulação imobiliária. Além de oferecer acolhimento imediato, essas ações promovem conscientização e organização para a transformação social. A longo prazo, buscam organizar as mulheres e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Sobre a situação do imóvel, Lis Sousa destaca: “O imóvel ocupado estava abandonado há anos, sem função social, servindo apenas como ponto de uso de drogas e espaço de extrema vulnerabilidade para as mulheres que passavam pelo local. Além disso, ao entrarmos no imóvel, encontramos um cenário de total abandono: mofo por toda a estrutura, paredes e teto com rachaduras, reboco cedendo, sujeira, parasitas e inúmeras embalagens de preservativos espalhadas pelos cômodos. Diante dessa situação, nos organizamos para realizar a limpeza e a reestruturação do espaço, tornando-o adequado para acolher as mulheres que necessitam de apoio”.

Essas ações são fundamentais para pressionar o poder público, denunciar as omissões do Estado e fortalecer a organização das mulheres. Em um contexto de violência estrutural e sistêmica, as ocupações assumem um papel estratégico: tornam-se expressões concretas de resistência coletiva e da luta por uma vida digna, livre de violência e pelo fim do sistema capitalista.

Assédio moral e abusos corporativos em empresa de tecnologia em Campinas

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Trabalhadores de empresa em Campinas denunciam ao Jornal A Verdade que sofrem assédio moral, perseguição e abusos corporativos por parte de uma gestão comissionada pela prefeitura, que pretende demitir para recontratar por meio de contratos terceirizados e com salários menores.

Daniel Hadad | Campinas (SP)


SOCIEDADE – Trabalhadores da IMA (Informática de Municípios Associados) – empresa de economia mista da prefeitura de Campinas e responsável pelos sistemas digitais de vários serviços públicos do município – vêm sofrendo há anos assédio moral por parte de uma gestão comissionada pela prefeitura e que goza de salários até dez vezes maiores que os funcionários concursados.

Os trabalhadores relataram que a empresa se utiliza de mecanismos corporativos para infligir medo e forçar que aceitem condições de trabalho degradantes. Entre esses mecanismos destaca-se a chamada “avaliação de desempenho”, que é aplicada sem levar em conta os fatores que existem na prática em cada função. Em denúncia ao Jornal A Verdade, Reinaldo (nome fictício) contou: “toda equipe de digitalização recebe notas em cima de critérios que simplesmente não existem em nosso setor, como, por exemplo, ‘foco no cliente’. 90% do setor não tem contato nenhum com cliente. Além disso, é um setor completamente engessado, apenas digitalizamos e interagimos com sistemas limitados e ultrapassados, dificultando muitas vezes a migração para outros setores somente com as habilidades que adquirimos na empresa”.

Outra funcionária, Elisabete (também nome fictício) revelou ao Jornal, “cheguei a ouvir de uma supervisora que ‘cada uma está onde merece estar’. Não existe mobilidade na IMA”. De acordo com Elisabete, os dirigentes da IMA querem que a empresa demita a maior parte de seus atuais funcionários e venha a fazer apenas gestão de contratos – para isso, vêm impondo aos funcionários PDVs, ou “pedidos de demissão voluntária”, para que a empresa possa assumir licitações em contratos terceirizados e não precise criar, gerir e manter os sistemas ela mesma. Os funcionários forçados a aceitar esses PDVs, além de enfrentar dificuldades de recolocação no mercado após anos de serviço “com sistemas limitados e ultrapassados”, como pontuara Reinaldo, podem acabar contratados por salários ainda menores nas empresas para as quais os serviços da IMA serão terceirizados.

Assédio e violência: instrumentos de dominação de classe

Isso não é uma situação particular à IMA: é apenas mais uma prova de que os ricos deste país – que já controlam as empresas e os meios de produção necessários à nossa sobrevivência, além de rebaixarem as prefeituras e instituições públicas ao nível de seu “balcão de negócios” – têm interesse apenas em financeirizar seus ganhos, aprofundando a crise da desindustrialização e baixa produtividade do país, ao passo que mantém os salários dos trabalhadores baixíssimos para que os lucros venham de contratos superfaturados e em que os investimentos públicos são desviados a cada degrau de terceirização que se acumula entre os servidores e as gestões.

A perseguição, o assédio por parte dos gestores, e os abusos corporativos são, senão, mecanismos para disciplinar a classe trabalhadora e silenciar suas queixas, forçando-nos a aceitar condições cada vez piores de trabalho para que os lucros dos patrões sejam maximizados. Prova disso é que, conforme nos revelaram as denúncias, a empresa transfere funcionários que tenham se queixado abertamente para locais distantes e de difícil acesso, com o intuito de desmoralizar e punir. Soma-se a isso o agravante de que a opção por trabalho home office é negada àqueles mesmos funcionários, sem justificativa. Houve também quem tivesse sido incumbido de fazer trabalho em bairros de altos índices de violência e à noite.

O sindicato reaparece após anos ignorando a situação

Recentemente, o Sindpd, sindicato que assiste parte dos trabalhadores da IMA, veio ao Ministério do Trabalho para indiciar a empresa por essas e outras faltas, entre as quais se destaca a prática antissindical – isto é, a IMA vinha deliberadamente coagindo os funcionários a se desfiliarem do sindicato e abrirem mão do direito à luta garantido por lei. Neste mês de abril o processo deu seus primeiros passos para que os trabalhadores consigam reaver seus direitos, mas ainda é necessário ampla mobilização para assegurar que pautas mais aprofundadas possam ser garantidas, tanto o mais porque, conforme publicou o Sindpd em sua página no dia 19 de março, a empresa chegou até mesmo a usar sua Comissão de Empregados para tentar desacreditar o sindicato: “a IMA aciona sua Comissão para tentar justificar o injustificável: diante das denúncias e da multa aplicada pelo Sindpd por prática antissindical, a IMA, em vez de corrigir suas condutas, acionou sua Comissão de Empregados para tentar desacreditar o sindicato e minimizar a gravidade da interferência da empresa na organização sindical dos trabalhadores.”

Para se combater efetivamente as perseguições e assédios que empresas como a IMA vêm infligindo impunes aos seus trabalhadores, a única opção é a organização de frentes combativas. O sindicato é um instrumento de que os trabalhadores dispõem nessa luta. Organizados junto ao MLC (Movimento Luta de Classes), funcionários da IMA ano passado tentaram formar uma chapa para concorrer às eleições do Sindpd e impor-se à gestão atual que, apesar da sua recente atuação, tem se mostrado pouco combativa. Ainda que essa chapa não tenha sido vitoriosa, a escolha recente do Sindpd em fazer frente à IMA pode ser explicada como uma resposta à pressão criada por esses trabalhadores, demonstrando que a luta e a organização, mesmo quando os resultados não são imediatamente visíveis, sempre fortalecem e avançam o movimento operário.

Trabalhadores dos EUA se revoltam contra deportações de imigrantes

Governo Trump prende centenas de manifestantes em protestos contra a deportação de imigrantes e coloca militares nas ruas de Los Angeles (EUA).

Raul Bittencourt | Rio de Janeiro


INTERNACIONAL – Los Angeles tornou-se o epicentro de uma batalha contra as políticas racistas do governo Donald Trump, cujas imagens de resistência tem estimulado protestos em várias cidades outras cidades dos EUA, como Charlotte, Atlanta, Louisville, Memphis, Chicago, Detroit and Oklahoma City.

Desde sexta-feira (6 de junho), milhares de manifestantes ocupam as ruas em resposta às operações brutais do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega) em bairros latinos. O que começou como protestos contra deportações desumanas transformou-se em resistência organizada frente à escalada militar ordenada por Donald Trump, que mandou militares da Guarda Nacional para reprimir a população.

Enquanto a Casa Branca justifica a ação como “restauração da ordem”, nada mais é do que um ataque sistemático contra a liberdade de manifestação e as comunidades imigrantes, cujo trabalho em condições de exploração extrema sustentam a economia capitalista da “liberal” Califórnia.

Os protestos de rua eclodiram após batidas do ICE, sempre marcadas por violência brutal, com agressões e gás lacrimogêneo contra pessoas desarmadas, famílias separadas e 121 detenções arbitrárias em 48 horas. Em Paramount, trabalhadores sem documentos refugiaram-se em comércios locais, aterrorizados. “Nossa comunidade está sendo atacada. Eles são pais, mães, trabalhadores”, declarou Angélica Salas, líder da Coalizão pelos Direitos dos Imigrantes, conforme divulgou o sítio da BBC.

Contra a ação racista, a resposta popular foi imediata e uma multidão tomou as ruas para exigir o fim das deportações em massa. Diversos sindicatos se somaram aos protestos e tiveram dirigentes presos, como David Huerta, presidente do Service Employees International Union California (Sindicato Internacional dos Empregados em Serviços da Califórnia).

A Militarização da repressão a quem é contra a política imigratória dos EUA foi a forma de Trump lidar com os protestos. Mais de 4.100 soldados da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais foram enviados para sufocar os protestos. Militares posicionam-se agora em frente aos campos de prisioneiros, enquanto helicópteros sobrevoam bairros residenciais para intimidar a população civil. 

A violência da repressão é indiscriminada e atinge até mesmo a grande imprensa estadunidense. A reporter Lauren Tomasi, de uma afiliada da CNN, foi atingida nas costas por uma bala de borracha disparada por policiais que estavam observando a cobertura da imprensa, no domingo passado (8/6). O vídeo transmitido ao vivo afasta qualquer dúvida quanto a intencionalidade. O policial olha para a repórter, aponta e atira sem qualquer motivo. 

A ação do governo Trump só reforça o seu caráter fascista, marcado pela xenofobia, estigmatizando imigrantes como “inimigos” a serem abatidos e estimulando o pânico moral contra eles, facilitando, em aliança com grande grupos econômicos, a exploração destes trabalhadores. Fora isso, se vale de uma concepção autoritária de “lei e ordem” para criminalizar protestos e defender o status quo. Igualmente, criminaliza a pobreza e, através do combate aos pobres, afirma buscar um passado fantasioso de glória, que Trump afirma buscar resgatar, com o slogan “Make America Great Again”, que ecoa as promessas de Hitler de restaurar a grandeza da Alemanha, resultando na II Guerra Mundial. 

O fato é que, enquanto a imprensa continua a defender os EUA como “farol da democracia no mundo”, relatos da extrema brutalidade dos agentes de repressão do “regime” Trump, acontecidos longe das câmeras, lotam as redes sociais. A situação de Los Angeles apenas exemplifica o caráter fascista do atual presidente dos EUA e o de classe da impressa burguesa, criminalizado a justa revolta popular.