UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 18 de agosto de 2025
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Trabalhadores da Amazul denunciam falta de condições e assédios

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Mesmo após a maior paralisação grevista de seus quase 12 anos de existência, nenhuma das pautas reivindicadas foi atendida, enquanto as denúncias de assédio e das péssimas condições de trabalho seguem aumentando.

Rodolfo Martins | São Paulo – SP


TRABALHADOR UNIDO – A estatal Amazul, destaque por fazer parte do projeto do Submarino Nuclear Brasileiro vive grandes contradições entre sua diretoria, composta por militares, e seus trabalhadores civis.

Enquanto militares da mais alta patente da Marinha em cargos comissionados recebem salários que, somados às aposentadorias, benefícios e encargos trabalhistas, podem chegar a quase R$100.000,00, os trabalhadores civis concursados relatam rotinas de assédio, baixos salários e comida de péssima qualidade, principalmente para os funcionários que trabalham em quarteis e que são impedidos de receber o benefício de alimentação.

De acordo com o site do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, há diversas ações contra a empresa, onde são alegados desrespeitos básicos dos direitos trabalhistas, como negligência no pagamento de salários, falta de condições mínimas para exercício da função, falta de intervalos e horários devidos e até mesmo assédio de superiores.

Em paralisação realizada em julho de 2024 que contou com apoio de mais de 250 funcionários, onde ficaram por 5 dias embaixo de sol e chuva em frente à sede da empresa, na Zona Oeste de São Paulo, denunciando os casos de assédio e racismo, e também reivindicando pautas econômicas justas já que os funcionários enfrentam realidades bastante diferentes de seus superiores militares que muitas vezes não possuem sequer os requisitos básicos para as funções desempenhadas.

Entre as principais reivindicações e denúncias realizadas estão: Correção da defasagem salarial acumulada de 25%, transferência entre unidades dificultadas pela empresa e/ou utilizada como forma de punição, plano de carreira insuficiente ou ineficaz, plano de saúde insatisfatório com rede insuficiente em várias cidades, refeição precária servida aos empregados, assédio moral e racismo, como o que resultou na investigação de um militar aposentado que supostamente teria chamado um subordinado negro de “chimpanzé” em uma unidade da empresa no Rio de Janeiro, que contribuem para o péssimo clima organizacional. Pautas que até hoje, quase um ano depois, ainda não foram atendidas.

O acordo coletivo do ano de 2024 ainda permanece em Juízo na Justiça do Trabalho, tendo a empresa e seu departamento jurídico burocratizando e criando dificuldades para o ganho da causa que favorece seus empregados.

Enquanto isso, a diretoria formada por militares que recebem altos salários e aposentadorias, negociou bônus que devem chegar a R$60.000,00 caso atinjam os indicadores estipulados pela própria gestão da empresa.

Trabalhadores em greve fecham a Avenida Corifeu Azevedo de Marques em frente ao prédio administrativo da Amazul. (Créditos: CUT/SintPQ)

Desmonte e soberania em xeque

Em meio a esse cenário a evasão de funcionários segue em alta, desde 2022 até abril de 2025 já foram cerca de 300 desligamentos, sendo praticamente a metade composta por engenheiros e/ou cargos de nível superior.

Tais desligamentos afetam diretamente projetos que deveriam servir ao povo brasileiro e sua soberania, tais como os Programas Nucleares Brasileiros, Programas de Desenvolvimento do Submarino Nuclear, Reator Multipropósito Brasileiro, Combustível Nuclear, entre outros.

Cabe destacar que não há qualquer projeto iniciado pela estatal, sendo a mesma uma mera fornecedora de mão-de-obra para outros projetos já existentes de outros órgãos e empresas públicas, como a Eletronuclear, IPEN e a Marinha do Brasil, sua principal aliada.

A empresa se diz mantenedora de um renomado projeto de Gestão de Conhecimento, mas como gerir conhecimento em um local com tantos pedidos de demissão, relatos de assédio e desvalorização? Cada vez mais a empresa tem caminhado para ser apenas uma estatal “cabide de emprego” para militares que muitas vezes trabalham na contramão dos interesses dos trabalhadores e do povo brasileiro para manutenção de seus privilégios.

Esse é só mais um exemplo de empresas estatais que, ao invés de servir aos interesses da população, seguem a lógica capitalista do lucro, onde privilegia alguns poucos ao custo da exploração e humilhação de muitos. A solução definitiva só virá com a organização dos trabalhadores e trabalhadoras em uma sociedade socialista, onde os reais interesses do povo e a soberania nacional serão respeitados e garantidos.

Livro: “A Batalha de Stalingrado”. Há 80 anos os comunistas salvavam o mundo do Nazifascismo

capa do livro a batalha de stalingrado.
Lançado no Brasil em 1966, “A batalha de Stalingrado” é mais do que um livro sobre tática de guerra, é uma lição histórica e uma prova da superioridade do Socialismo, que libertou a humanidade do Nazismo.

 Lançado no Brasil em 1966, “A Batalha de Stalingrado” é um vasto relato pessoal, estratégico e político escrito por Vassili I. Tchuikov, que foi Marechal do Exército Vermelho, comandando o Exército Vermelho em dois momentos decisivos: os seis meses da resistência na cidade de Stalingrado e posteriormente em Berlim, batalha que decretou a derrota das forças nazistas que invadiram a URSS. No ano em que a derrota do nazismo completa 8 décadas e uma nova onda fascista se ergue no mundo, as reflexões desse enfrentamento se fazem mais do que necessárias.

 

Clóvis Maia- Redação Pernambuco


História- Vasili Ivanovitch Tchuikov (1899-1982) era filho de agricultores.  Operário, ingressou no Exército Vermelho durante a revolução de 1917, seguindo carreira militar em seguida. Quando o exército nazista invadiu a União das Repúblicas Socialistas Soviética (URSS) ele estava na China, onde trabalhava como adido militar, prestando serviço como conselheiro militar. Recebeu a tarefa de dirigir o 62° Exército Soviético, que durante seis meses enfrentou uma terrível batalha contra o exército nazista que receberam a ordem expressa de Hitler para destruir a cidade que recebia o nome do Secretário Geral do partido comunista e Primeiro Ministro.  Modificando profundamente a forma de organização do exercício bolchevique na frente de batalha e estudando o inimigo, Tchuikov conseguiu guiar os comunistas até a vitória.

 

Heroico é aquele que pode derrotar o inimigo e viver”

 Com mais de 400 páginas contendo mapas, fotos da época, documentos diversos, cartas e depoimentos de participantes da resistência soviética naqueles duros dias, a obra poderia ficar apenas classificada como um grande manual de tática e estratégia bélica ou mesmo um documento histórico ou memórias de um soldado. Mas não.  “A Batalha de Stalingrado” é uma ode ao poder ideológico e uma prova cabal da força e da organização coletiva e da superioridade moral do Socialismo em batalha com o lado mais feroz do capitalismo sem máscara que é o Nazifascismo.  O autor faz questão de registrar e provar de como a vitória contra o nazismo só foi possível por conta da existência, organização e presença do partido em todas as frentes de batalha.  Ou seja, o partido comunista conseguiu aprofundar junto ao povo soviético a necessidade de derrotar Hitler, no que ficou conhecido como A grande guerra patriótica.

O autor registra que os operários e os comitês do partido estavam nos destacamentos e defendiam as fábricas e as cidades. O Komsomol (juventude do Partido Comunista da União Soviética) foi fundamental na abnegação e nos enfrentamentos. O partido garantia a agitação política, a organização das finanças para garantir os materiais necessários para a manutenção do exército, a formação para os soldados e, apesar da grande perda de soviéticos no combate, o partido cresceu:

 

A despeito das pesadas perdas, as organizações do Partido e do Komsomol cresceram em efetivos e em poderio. Dezenas, centenas de soldados, que não tinham um momento de descanso do calor da batalha, requeriam a sua admissão no partido.  Todos desejavam combater, e se necessário morrer, como membros do partido ou do komsomol.

 

Ou seja, a tarefa de salvar o mundo do nazismo foi possível por conta de um enorme sacrifício, desde os grandes nomes, como o do Franco-atirador Vasili Zaitsev (retratado no filme Círculo de Fogo, de 2001) que matou mais de 400 nazistas e tornou-se um herói nacional, mas também dos anônimos e das mulheres. Em certa altura do livro o autor faz questão de registrar o quanto a literatura da guerra acaba esquecendo o papel das mulheres em todos os conflitos, além de reforçar que as mulheres soviéticas foram decisivas e estavam na linha de frente como artilheiras, pilotas, médicas e comandantes. O livro é repleto de exemplos de ações envolvendo as mulheres comunistas.

 

Uma luta contra o imperialismo mundial

A Alemanha Nazista tinha um plano: destruir a URSS exatamente para deter o avanço do socialismo no mundo. Se engana quem acha que não houve durante aquele conflito uma verdadeira expressão da luta de classe. Aqui o autor deixa claro que durante três anos a União Soviética combateu sozinha contra a Alemanha e seus aliados. As grandes potências, que assim que acabou a guerra passou a produzir mentiras sobre quem realmente saiu vitorioso, queria que a pátria socialista fosse esmagada. Afirma e prova Vasili Tchuikov: As potências ocidentais só abriram uma segunda frente quando se tornou claro que as forças soviéticas estavam em posição de derrotar os exércitos alemães e libertar os países da Europa da tirania nazista.

Torcendo pelo fim da URSS os inimigos do socialismo não contavam com a superioridade moral soviética. Uma passagem importante do livro são os trechos de um diário de Wilhelm Hoffmann, que foi escrevente nazista e registrou a batalha em uma companhia e um batalhão de infantaria. O diário, que começa em maio de 1942, mostra bem como o crescimento da resistência russa foi ganhando forma, até chegar a colocar medo no enorme exército nazista, reduzido depois a um bando de homens covardes e medrosos. Inicialmente chamando os russos de fanáticos, o soldado passa a registrar: os russos não se rendem. Se defendem com insana obstinação… se todos os prédios de Stalingrado forem defendidos assim, então nenhum dos nossos soldados voltará à Alemanha.

Em outro trecho ele desabafa: Quem teria imaginado, há três meses, que, em vez da alegria da vitória, teríamos de sofrer tais sacrifícios? (…) Os russos não são homens, mas alguma espécie de criaturas forjadas em ferro; nunca se cansam nem receiam o fogo. Stalingrado nos transformou em seres sem sentimentos- estamos cansados, exaustos, irritados. (…) na Alemanha todos acreditam que já tomamos Stalingrado. Que erro! Se pudessem ver o que Stalingrado fez de nosso exército! E depois de registrar a completa desmoralização de seu exército, o diário termina com a emblemática frase: Maldita guerra!

 

 A burguesia internacional sempre espalhou todo tipo de mentira ao se falar sobre aquele período. Alguns apontam que a derrota alemã se deu por conta do clima, da fraqueza do exército que tentou tomar Stalingrado ou mesmo pregar a insanidade do líder nazista. Puro engano. O 6° exército por exemplo, era formado por maioria jovens, de 20 e 27 anos, a maioria classificados como “arianos puros”, com um a cada cinco soldados pertencente ao partido nazista. Ou seja, um destacamento de elite, escolhido a dedo, mas que foi desmoralizado.

 

A força da coesão

 “Toda humanidade tem uma dívida para com o Partido Comunista e o seu Comitê Central, que organizaram a derrota dos exércitos alemães em Stalingrado, produzindo uma alteração crucial no curso da Segunda Guerra Mundial. “Nem um passo atrás!” Esta palavra de ordem foi transmitida às tropas numa ordem de Stalin, o Comandante Supremo. Para isso, o partido mobilizou seus melhores membros… as sessões mais importantes do Quartel General (QG) da frente foram postas nas mãos de enérgicos trabalhadores do partido, membros do Comitê Central e secretários de comitês regionais. Milhares de comunistas com vasta experiência de trabalho político juntaram-se às tropas na frente. Um poderoso núcleo do partido se formou no exército. Não havia uma companhia sem um número substancial de membros do partido e muitos batalhões consistiam exclusivamente de membros do partido bolchevique e do Komsomol”.

Após o fim da Segunda Guerra Mundial as potências capitalistas trataram imediatamente de promover uma escancarada propaganda mentirosa contra a URSS, o socialismo e espalhando mentiras sobre aquele conflito. Até hoje a quantidade de livros, reportagens, filmes e todo o tipo de propaganda procuram diminuir a importância dos Soviéticos ao mesmo tempo que mentem sobre o papel dos EUA, por exemplo, ou colocam oportunistas de marca maior como Churchill, no papel de heróis salvadores do capitalismo, negando principalmente que a guerra nada mais foi do que um sintoma das contradições do imperialismo mundial em sua busca incessante por territórios. Ainda hoje nós vemos a falsificação da história quando tentam afastar as pessoas do socialismo ao dizerem que o nazismo é uma ideologia de esquerda ou mesmo tentarem minimizar o fascismo quando o homem mais rico do mundo faz uma saudação nazista em um evento transmitido ao vivo para o mundo todo.

Em um documento encontrado durante a vitória contra os nazistas, uma reunião secreta de Hitler com seus líderes militares em 30 de março de 1941 o próprio Hitler deixa claro os objetivos do imperialismo e seu caráter fascista: “As nossas tarefas, com relação à Rússia, são o esmagamento das suas forças armadas e a destruição do seu governo. A guerra contra a Rússia é uma guerra entre duas ideologias. É uma sentença de aniquilamento para o bolchevismo”. Como prova a história, o plano não deu certo. Mas como uma ideologia está ligada ao processo da luta de classe, o fascismo continua ameaçando hoje a humanidade, trazendo uma nova onda de ataques à classe trabalhadora se alastra pelos quatro cantos e, no ano em que se completa oito décadas da gloriosa vitória dos socialistas contra a besta nazifascista, resgatar esse exemplo de luta e enfrentamento se faz necessário.

Não de propósito, obras como A Batalha de Stalingrado se encontram esgotadas nas livrarias e são atacadas pelos inimigos do socialismo. Hoje o mundo se encontra diante de uma nova ameaça de guerra e a classe trabalhadora tem nesse exemplo da URSS como prova e inspiração para um novo mundo. Não foi à toa que Stálin usou um ditado popular russo no auge da guerra para se referir a vitória contra os nazistas e a construção de um mundo novo: “também haverá festa na nossa rua”.

Tirem as mãos do dinheiro dos aposentados do INSS

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Cerca de quatro milhões de aposentados do INSS foram vítimas de um golpe que desviou mais de R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024. As fraudes agravam ainda mais a crise enfrentada por quem depende do benefício para pagar alimentação, aluguel e medicamentos.

Thiago Santos | Diretório Nacional da UP


EDITORIAL – Não bastasse a carestia, os capitalistas, gananciosos por enriquecer a qualquer custo, pioram o sofrimento do povo: idosos de famílias pobres, que têm como única renda a aposentadoria do INSS para comprar comida, remédios e pagar aluguel, descobriram que seus míseros R$ 1.518,00 foram alvo de descontos indevidos, inexplicados e desconhecidos, indo parar nas contas de golpistas disfarçados de falsas associações, todas ligadas a “lideranças” ou partidos de direita (“Centrão”), incluindo denúncias contra cerca de 20 parlamentares do Congresso Nacional.

“Eu não sei de onde veio isso aí e nem sei aonde foi parar meu dinheiro. Eu preciso de reumatologista, tenho que comprar remédio. Me sinto lesada, enganada com essas coisas. O salário é R$ 1.518,00, mas o meu vem R$ 931,00. A gente tem esses descontos todos, mas os deputados têm a mordomia deles”, desabafou Maria das Graças, 63 anos, moradora de Jaboatão dos Guararapes (PE).

Esse foi o drama vivido por cerca de quatro milhões de brasileiros, conforme estimativa do próprio INSS, vítimas do mais recente golpe na Previdência Social. Segundo a Polícia Federal, os desvios renderam aos golpistas mais de R$ 6 bilhões entre 2019 e 2024.

Seguro social dos brasileiros

A Previdência Social foi criada para ser o seguro social dos brasileiros. Para entender como ela funciona, imagine, por exemplo, o seguro de um automóvel: o proprietário paga à seguradora uma mensalidade e, caso aconteça uma batida, por exemplo, esta seguradora custeará as despesas com a oficina mecânica e fornecerá um carro reserva até que o serviço de recuperação seja feito, ou mesmo indenize as vítimas do acidente.

O seguro social é um conjunto de medidas para proteger o trabalhador e a sua família em eventualidades como desemprego, situações incapacitantes para o trabalho (doenças e idade avançada), acidentes de trabalho, necessidade de se afastar do trabalho por motivo do nascimento de um filho (licença maternidade) e aposentadoria.

Como nos seguros mais conhecidos (como de um automóvel), o segurado paga uma mensalidade para ficar amparado. Mas a Seguridade Social tem regras um pouco diferentes, afinal, existem situações em que as pessoas não tiveram condições de contribuir, mas precisam da proteção social.

No nosso sistema de previdência social, a União, ou seja, o Estado Brasileiro, é contribuinte no financiamento da Previdência. Assim, todas as pessoas, de alguma maneira, estão acobertadas por um sistema de mínimo de proteção baseado na Lei de assistência social, que ampara pessoas necessitadas, como pessoas idosas, sem nenhuma renda ou que vivem em famílias com renda familiar muito baixa, por exemplo.

A Constituição de 1934 estabeleceu, pela primeira vez, que o sistema de seria financiado com a participação de empregados, empregadores e da União. A partir das lutas da classe trabalhadora outras leis consolidaram avanços, como a inclusão do trabalhador rural, em 1963, a criação do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), em 1966, substituído depois pelo INSS para unificar a administração da Previdência.

Após a derrubada da ditadura militar fascista, a Constituição de 1988 consolidou o conceito de “Seguridade Social” englobando ações como Saúde, Assistência e Previdência.

Justamente por ser uma conquista da classe trabalhadora, os governos burgueses tentam dificultar o acesso das pessoas aos benefícios da Previdência Social e diminuir o investimento na proteção. Especialistas burgueses surgem aos montes dizendo que o trabalhador pode trabalhar por mais tempo antes de se aposentar. Para os ricos, é fácil falar: rico não precisa se aposentar porque não precisa trabalhar nem se preocupar na velhice ou com imprevistos.

Não é o caso de Eliane Teodoro, enfermeira no Recife, que precisou ser afastada do trabalho em setembro de 2023 devido a um acidente de trabalho, mas teve o benefício cortado em dezembro de 2024. “O INSS não acatou a ordem judicial. Desde então, minha vida foi afetada em todos os sentidos: social, físico e principalmente mental. Noites sem dormir, crise de ansiedade, angústia, lágrimas e a sensação de inferioridade tomou conta da minha alma. Passei dificuldades financeiras, sem conseguir honrar meus compromissos, assim como manter uma alimentação básica e necessária. Tive ajuda de familiares para poder me alimentar, comprar medicação para aliviar as dores diárias e medicações para conseguir dormir um pouco melhor”, relata emocionada.

Com Cristiano Francisco, 44 anos, agente de limpeza urbana, foi semelhante. “Fui atropelado por um carro. Tive fratura exposta na perna direita. Dei entrada no benefício do INSS, mas, até hoje, não recebi nada. Me senti impotente, triste e incapaz. Não consigo mais fazer minhas atividades como uma pessoa normal. Eu necessito do benefício do INSS para ajudar a custear as despesas da minha casa, incluindo os remédios que preciso”, denuncia.

Quem fez o “rombo na Previdência”?

Segundo lista divulgada, em janeiro de 2024, pela Procuradoria-Geral da Fazenda, a JBS, líder mundial da indústria de alimentos com atuação em mais de 20 países, deve cerca de R$ 3 bilhões ao INSS e só perde para a companhia aérea Varig S.A., com uma dívida de quase R$ 4,5 bilhões, que se negou a quitar seus compromissos quando entrou em falência.

Além das dívidas, o Governo Federal promove as chamadas desonerações, que nada mais são do que deixar de cobrar das empresas o que elas deveriam recolher para o INSS. Somente em 2017, as empresas deixaram de recolher R$ 285 bilhões (equivalente a mais de 4% do PIB nacional). Em 2024, entre janeiro e agosto, as empresas deixaram de pagar R$ 12,3 bilhões.

Com o aumento do desemprego, da informalidade e o achatamento dos salários, o recolhimento da contribuição previdenciárias por parte dos trabalhadores cai constantemente.

Tem mais: com o mecanismo da Desvinculação das Receitas da União (DRU), o Governo Federal pode retirar 30% das receitas destinadas à seguridade social para gastar em qualquer área, inclusive pagar juros da dívida pública.

A verdade é que se todo esse dinheiro fosse utilizado para a seguridade social, conforme determinam as leis e a Constituição, a Previdência Social não seria deficitária.

Ricos querem o dinheiro da Previdência

Não satisfeitos com os lucros que conseguem explorando os trabalhadores, os ricos querem se apropriar do orçamento que o país tem para investir em Saúde, Educação, Moradia, Serviços Públicos e Previdência. Querem que esse dinheiro vá para o agronegócio, financie os empresários da construção civil, da indústria e pague os juros da dívida pública aos bancos, mas não aceitam que se invista no sistema de seguridade social. É por isso que a Previdência foi alvo de várias reformas.

Em 1991, no Governo Collor, a reforma visava à correção monetária. Em 1998, o então presidente Fernando Henrique Cardoso introduziu o fim do tempo de serviço e adotou o tempo de contribuição como requisito para aposentadoria.

Em 2003, no primeiro Governo Lula, criou-se um teto para os servidores federais, instituiu-se a cobrança e se alterou o valor pago a pensionistas e inativos. Em 2015, No Governo Dilma Rousseff, foi instituída uma regra de pontos, fixando como condição para aposentadoria a soma da idade ao tempo de contribuição.

O golpista Michel Temer, em 2016, tentou promover a mudança mais radical contra a Previdência, mas uma Greve Geral da classe trabalhadora barrou seus intentos. Já em 2019, o plano dos golpistas foi concluído. O fascista Jair Bolsonaro e os corruptos partidos do “Centrão” aprovaram no Congresso Nacional uma Emenda à Constituição. Surgiu a exigência de uma idade para aposentadoria, estabeleceu-se um tempo de contribuição e se modificou a pensão por morte para servidores públicos, além de implantar uma regra de transição. Segundo Paulo Guedes, ministro da Economia na época, o plano era economizar R$ 87,3 bilhões. Se tivesse deixado de pagar os juros e amortizações da dívida em 2022, teria economizado quase R$ 2 trilhões, ou seja, mais de R$ 5 bilhões por dia.

O que há de comum entre todas essas chamadas reformas é diminuir o acesso à aposentadoria.

Defender nossos direitos

Agora, os mesmos corruptos que tramaram contra os aposentados para promover descontos indevidos nas aposentadorias querem, novamente, mudar as regras da aposentadoria e do acesso aos benefícios da assistência do INSS, chamando isso de “Reforma da Previdência”.

Enquanto isso, Maria Elizete, de 63 anos, que faz tratamento contra o câncer no Sistema Único de Saúde (SUS), teve o pedido de auxílio negado. Perguntada como se sente, declarou: “Decepcionada, triste, humilhada ao recorrer ao INSS para adquirir o meu direito ao benefício por questão de doença e foi negado. Sem condições de trabalhar, desamparada. Enquanto isso, o dinheiro do INSS é desviado por ladrões”.

O Governo Federal, em nome da falsa governabilidade, cede às chantagens do “Centrão” no Congresso, pondo em risco os direitos sociais e previdenciários conquistados pelo povo brasileiro com muita luta. A quem precisa, a única opção é seguir lutando contra essa política econômica de privilégios aos banqueiros e de financiamento público do agronegócio.

É necessário fortalecermos as verdadeiras associações, sindicatos e partidos que representam os interesses da classe trabalhadora para garantir que não haja mais cortes nos investimentos sociais e que o povo tenha direito à assistência social que merece.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Clube de leitura da Ocupação Anita Garibaldi

Na ocupação Anita Garibaldi, um clube de leitura tem transformado a relação de crianças e adultos com os livros. Além de fortalecer a alfabetização, o projeto ajuda os participantes a compreenderem questões como direito à moradia e a história das ocupações.

Jaqueline Damasceno | Auxiliar de limpeza terceirizada e Militante do MLC – Florianópolis


JORNAL – O clube de leitura é um espaço para adultos e crianças desenvolverem a leitura e aprimorar o entendimento do texto lido, e também aprenderem a interpretar o texto. Essa ideia surgiu a partir do que eu passei na infância, quando tive muita dificuldade de ler e interpretar textos. “Rodei” muitas vezes no colégio e, na terceira série, me seguraram até aprender a ler. Conforme eu cresci, botei na minha cabeça que se eu pudesse ajudar as crianças a desenvolver a leitura cedo pra não repetir de ano como eu, eu ajudaria. E também os adultos, que, por não terem condições, não puderam aprender a ler. Muitos casam cedo, a família não tem condições e não conseguiram desenvolver a leitura.

Hoje, na ocupação, o clube de leitura da Escola Eliana Silva está de portas abertas. Toda terça-feira, das 19h30 às 20h30, funciona o clube. Cada um leva um livro, ou escolhe um da biblioteca da ocupação. Cada um lê trechos do seu livro, e depois fazemos um debate sobre os livros de cada um. Essa troca é muito legal. Nas duas últimas semanas, começamos a ler a matéria do jornal A Verdade sobre as ocupações para as crianças terem mais entendimento e compreenderem o que é uma ocupação e que todos têm direito a uma moradia digna.

Uma das meninas que participa toda semana do clube disse que na escola dela diziam que as pessoas da ocupação não trabalhavam e viviam só de favor de governo. Ela disse que agora ela teria a resposta certa sobre o que é a ocupação e que todos lá trabalham sim. Entrevistei duas das meninas que compõem o clube de leitura: a Maysa, de 12 anos, e a Alice, de 11 anos. “Depois do grupo de leitura, estou aprendendo a ler mais e conseguindo estudar melhor na escola”, afirmou Alice. “Eu gosto muito de ler e aprendi até a escrever melhor… agora queremos fazer a assembleia das crianças”, disse a Maysa.

Em quatro meses de clube de leitura, sem falhar nenhuma, podemos notar que as crianças leem mais fluentemente. Fazemos um jogo de perguntas e respostas com cartas e isso ajuda em atividades de soletrar, dividir sílabas e fazer contas básicas. Estamos agora planejando uma excursão para o planetário da universidade para aprender mais sobre o planeta. Pra mim, o clube é importante porque eu sei que as crianças no futuro vão ter mais entendimento da leitura e da luta do MLC e do MLB, e eles vão estar mais preparados para enfrentar o mundo capitalista, para questionar mais e dar respostas.

Eu com a luta estou aprendendo que o povo unido é mais forte e que a nossa história precisa ser contada. Quanto mais a gente exercitar a leitura, mais vamos entender sobre a história da classe operária e trabalhadora!

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Gilmar Mendes (STF) prepara ataque aos trabalhadores

Gilmar Mendes (STF) suspendeu, em abril, todas as ações trabalhistas sobre pejotização que tramitam na Justiça do Trabalho.

Pablo Antunes | Porto Alegre (RS)


TRABALHADOR UNIDO – A recente decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a pejotização é uma afronta aos trabalhadores. O STF finge que o trabalhador não existe, que a relação é de uma empresa exploradora contratando outra empresa para ser explorada.

Em meados de abril, o ministro Gilmar Mendes determinou a suspensão de todas as ações relacionadas ao tema “pejotização” que tramitam na Justiça do Trabalho, aquela competente para tais casos. O ministro tomou essa decisão para que o STF corte decida sobre a vida de milhões de trabalhadores “escondidos” por trás de CNPJs.

Em resumo, a pejotização, ou seja, a contratação de pessoas físicas como se fossem pessoas jurídicas, é uma forma de os empresários burlarem a legislação trabalhista. É uma oportunidade a mais para a burguesia e a pequena burguesia fraudarem a CLT. Essa modalidade permite que as empresas deixem de pagar a Previdência Social e de arcar com as demais responsabilidades legais que teriam se contratassem os trabalhadores como trabalhadores. Repassar o que é de obrigação do contratante aos funcionários diminui a renda dos trabalhadores pejotizados, que almejam se aposentar um dia e construir algum patrimônio que lhes dê o mínimo de segurança.

Decisões como essa escancaram que o sistema capitalista funciona na separação entre aqueles poucos que possuem capital e a imensa maioria, que são as trabalhadoras e os trabalhadores, que vendem as horas do seu dia e o seu esforço para garantirem a sua sobrevivência. A conquista de direitos trabalhistas foi uma luta histórica da classe trabalhadora, que obteve uma Previdência Social, a formação de sindicatos, férias remuneradas, regramento da jornada de trabalho, direito à greve, 13º salário, insalubridade, licença-maternidade, descanso remunerado, entre outros.

Essas conquistas foram possíveis apenas com muita organização e uma ideologia em defesa da classe trabalhadora. Por outro lado, a elite econômica brasileira e internacional, aquela que é dona dos bancos, das grandes redes de mídia, dos latifúndios, dos complexos industriais, das plataformas de serviços por aplicativos, das redes digitais, dos fundos de investimento, das grandes construtoras, do setor extrativista, entre outros, defende os salários baixos, uma alta taxa de desemprego e a desregulamentação das leis trabalhistas, ou seja, a barbárie.

Por isso, ao sair de casa todos os dias ou ao trabalhar em sua residência, os trabalhadores podem até não perceber, mas estão em um campo de disputa, uma verdadeira luta entre a ideologia da classe burguesa e a ideologia da classe operária.

Em plena luta pela redução da jornada de trabalho sem a diminuição dos salários, a pejotização tem o potencial de se tornar uma bomba para acabar com os direitos conquistados com muita luta pelos trabalhadores e retroceder à exploração capitalista nos moldes do século 19.

Matéria publicada na edição impressa  nº313 do jornal A Verdade

Fraude no INSS roubava de aposentados e pensionistas

Um esquema de fraude que desviou R$ 4,4 bilhões de aposentados e pensionistas do INSS é alvo de investigação da Polícia Federal e do Ministério Público Federal.

Raul Bittencourt | Rio de Janeiro (RJ)


TRABALHADOR UNIDO – Um grande esquema de fraudes envolvendo cobranças irregulares em benefícios de aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foi descoberto e está sendo investigado pelas autoridades. As irregularidades começaram no governo de Michel Temer (2016-2018), intensificando-se durante a gestão de Jair Bolsonaro (2019-2022), em especial durante a pandemia da Covid-19. Bolsonaro, inclusive, sancionou, sem vetos, uma lei que acabava com o controle do INSS sobre os descontos, tornando o sistema mais vulnerável. O esquema foi comunicado ao Ministério da Previdência Social (MPS), do Governo Lula, que só agiu após o escândalo estourar.

Segundo as investigações da Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF), o golpe consistia na cobrança indevida de taxas administrativas ou “serviços fantasmas”, descontados diretamente nos benefícios de segurados do INSS. Os criminosos acessaram dados sigilosos dos beneficiários e lançaram ilegalmente os descontos no sistema do INSS, valendo-se do desconhecimento das vítimas, em regra idosos e pobres, principalmente nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais.

O então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, foi exonerado, e a operação provocou a suspensão dos descontos automáticos de milhões de beneficiários.

A demora na tomada de providências também custou o cargo do então ministro Carlos Lupi (PDT). As investigações apontam a participação de empresários, empresas de cobrança, associações, sindicatos, servidores e intermediários. Foram abertas investigações contra mais de 12 entidades e várias prisões. A investigação aponta que os valores desviados chegam a R$ 4,4 bilhões.

Falsas entidades

Várias entidades supostamente associativas estão envolvidas no esquema. Elas contam apenas com registro formal em cartório e não desenvolvem nenhum tipo de atividade em apoio aos trabalhadores aposentados e pensionistas. Chegaram, até, a falsificar a documentação de aposentados para “autorizar” os descontos.

Na realidade, diferente do que a grande mídia procura divulgar, não eram sindicatos de trabalhadores que participavam desses esquemas, mas sim, em sua maioria, entidades controladas por empresários ricos e políticos oportunistas, com conexões com os Governos Bolsonaro e Temer.

Segundo as investigações, “um dos principais gestores das associações investigadas” é o empresário Natjo de Lima Pinheiro, proprietário de clínicas e laboratórios de saúde no Ceará, que já veio candidato pelo PP em 2008. A PF também apura a participação da ex-deputada federal Gorete Pereira (PL-CE), partido de Jair Bolsonaro.

A fraude no INSS demonstra a necessidade de se ampliar a disputa por um movimento sindical combativo e revolucionário, para que as entidades de trabalhadores aposentados, pensionistas e das categorias ativas lutem, conjuntamente, em defesa dos direitos de toda a classe trabalhadora.

Matéria publicada na edição impressa  nº313 do jornal A Verdade

Governo Federal apoia privatização do metrô e da água em Pernambuco

 

A situação do transporte público em Pernambuco está terrível.
O metrô de Recife precisa de investimento, não de privatização. foto: reprodução.

 

Indo na contramão do que fui sua campanha presidencial em 2023, o governo Lula está apoiando a privatização da COMPESA, empresa de abastecimento de água em Pernambuco e do Metrô na região metropolitana, tendo o BNDES a frente do processo. 

 

Redação Pernambuco

 

TRABALHADOR UNIDO- O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem ido na contramão do que foi proposto pelo governo Lula, quando venceu as eleições em 2022, prometendo fazer um governo diferente do que foi o do fascista Jair Bolsonaro. O banco, criado em 1952, tem como missão a geração de empregos, a inclusão social, a melhoria da qualidade de vida da população por meio de projetos que visam o desenvolvimento social e é vinculado ao Ministério da Economia, porém, não é isso que temos visto nesse novo governo. Ao contrário, o BNDES tem continuado com a política de privatização, essa que foi intensificada desde o golpe de 2016 com Michel Temer e aprofundado nos últimos quatro anos no governo do capitão corrupto.

Em Pernambuco, com apoio direto do governo federal, a governadora Raquel Lyra (hoje no PSD de Gilberto Kassab) anunciou a privatização do Metrô e da Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA), mesmo com forte repercussão negativa da população. Em ambos, porém, o BNDES não só organizou os estudos para viabilizar o processo de privatização, como também irá conduzir os processos de licitação.

No fim de maio desse ano, o Ministro das Cidades, Rui Costa (PT) anunciou que o metrô de Recife será privatizado, processo esse que vem sendo posto em prática desde 2019 pelo governo Bolsonaro. A Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) é ligada ao Ministério de Rui Costa e o metrô de Recife atende por dia cerca de 137 mil passageiros. O principal argumento para a “concessão”, nome colocado no lugar de privatizar, para tentar enganar a população, e que “o metrô só dá prejuízo”. Estranho é a boa vontade do setor privado nesse caso. Com graves problemas estruturais, tendo o serviço interrompido várias vezes por semana e toda uma campanha por parte da imprensa local o metrô segue com uma passagem cara (R$4,25), com um processo de terceirização profundo e sem funcionar aos domingos desde setembro de 2024, afetando a ida ao trabalho e o lazer das famílias.

A categoria decretou “estado permanente de greve” desde o dia 30 de maio, inclusive cobrando ao Presidente Lula a promessa feita em campanha de que o metrô não seria privatizado, mas a prática tá se mostrando bem diferente. Em 9 de junho uma Audiência Pública na Câmara de Vereadores do Recife debateu o caso, que foi duramente criticado pelos movimentos sociais presentes. Falando em nome da Unidade Popular, Raimundo Malheiros classificou essa situação como “uma política neoliberal que precisa ser combatida na rua e precisa ser revista pelo governo federal, correndo o risco de termos o afastamento da população que elegeu o atual governo mas que está vendo cada vez mais o governo se rendendo para o centrão”.

No mesmo caminho, a Companhia Pernambucana de Saneamento[1] (COMPESA) também segue ameaçada. A empresa estatal abastece todo o estado de Pernambuco e é uma das mais lucrativas do país, mas que está também na mira dos empresários, que tem como proposta deixa a parte mais pesada nas costas do setor público (capitação, transporte e distribuição de água) enquanto o setor privado, que já possui uma Parceria Público Privada (PPP) e oferece um serviço de péssima qualidade cuidando do saneamento básico, teria uma maior participação na estatal.

No início do ano de Pernambuco organizou 5 audiências públicas nas micro regiões do estado, todas marcadas por denúncias da população e dos movimentos sociais por serem na verdade apenas um anúncio da “concessão”, ao invés de promover um verdadeiro diálogo e escuta dos participantes.

Em nova audiência pública, dessa vez promovida na Assembleia Legislativa pernambucana (ALEPE) dia 26 de maio, a Unidade Popular e o MLB engrossaram o caldo das denúncias junto ao Sindicato dos Urbanitários, que há anos defende melhorias no serviço e denuncia a proposta das elites de entregar a empresa para os empresários.

 

“Não se pode servir a dois senhores”

 

O governo federal tem dado seguimento ao Programa Nacional de Desestatização (PND), que hoje se disfarça com o nome de Programa de Parcerias de Investimento (PPI) mas é o mesmo que foi criado por FHC em 1997 e segue conduzido no governo Lula. Aluísio Mercadante (PT) Presidente do BNDES, já foi Ministro da Educação, da Ciência e Tecnologia e também conduziu a Casa Civil no governo Dilma, mas parece esquecer do compromisso social feito na última campanha e segue a cartilha do Mercado Financeiro junto com o Ministério da Fazenda, que é socializar o prejuízo e privatizar o lucro. Não a toa vem crescendo a decepção dos brasileiros com o atual governo, que só tem para oferecer para a classe trabalhadora mais do mesmo.

Com a velha política de querer governar repartindo o bolo entre patrões e trabalhadores, o PT segue deixando as migalhas para nós enquanto os empresários e os partidos de direita seguem propondo leis contra a saúde, moradia e educação, se esquecendo até do velho conselho sagrado de que é impossível servir dois senhores. Raquel Lyra é inimiga da classe trabalhadora pernambucana e possui a mesma política neoliberal do que foi o PSB nesses últimos anos à frente do governo do estado e a mesma política na Prefeitura do Recife, com João Campos gastando milhões em propaganda, enquanto saúde e educação agonizam[2] e a cidade sofre com as chuvas. Mas o Presidente Lula e o BNDES preferem fazer o jogo e os gostos da burguesia, numa flagrante prova de que só a organização popular é capaz de reverter esse absurdo que significa privatizar a água e o metrô, luta essa que é dever dos movimentos sociais verdadeiramente comprometidos com a luta.

 

 

 

[1] Privatização da Compesa: uma ameaça aos trabalhadores

[2] Greve na Enfermagem de Recife denuncia “reajuste” de R$ 1,00 – A Verdade

Os Doutores da Ditadura

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Manifestação no RJ na época da ditadura.
Durante a ditadura militar sobrava repressão para nosso povo e nem direito a saúde existia. (Manifestação no RJ em 1968. Arquivo Público- reprodução)

 

 

O filme “Ainda estou aqui” trouxe de volta o debate do quanto a ditadura militar brasileira montou todo um aparato para se manter no poder. Nessa estrutura, alguns setores foram cruciais agindo para passar um verniz de legalidade e manter o regime. Aqui, analisamos a participação e apoio de alguns setores da medicina que agiram para esconder torturas e assassinatos e manter o discurso do regime.

 

Evelyn Dionízio UP-São Lourenço da Mata (PE). 

 

HISTÓRIA- Quando nos aprofundamos nos estudos sobre a ditadura civil militar de 1964, há alguns casos emblemáticos, que além de terem ganho repercussão internacional servem para mostrar como a manutenção do regime militar não só recebeu apoio de setores mais abastados da sociedade, como também foram cruciais para sustentar os 21 anos de abusos de 1964-1985 e que ainda hoje, quarenta anos desde o fim do regime, ainda não resolvemos enquanto país os males deixados por essas duas décadas de crimes arbitrários. Com o lançamento e a premiação do Óscar o filme “Ainda estou aqui”, levou para o mundo o debate sobre os golpes militares na América Latina e trouxe novamente para as discussões outros casos.  Rubens Paiva foi sequestrado de casa em 1971. Só em 1996, 25 anos depois, com a Lei dos Desaparecidos, foi emitido o atestado de óbito para seus familiares. Sem o corpo, só em 2014, 43 anos depois, que seu assassino foi denunciado.  Essa estrutura de ocultação de cadáveres, sumiço de corpos e uma verdadeira indústria da tortura era possível pela colaboração de membros de um setor que deveria ser impensável em estar desse lado da história. Mas a realidade é implacável: Médicos e profissionais de saúde apoiaram e prestaram seus serviços para manter o regime.

 

Os doutores do regime

Em 1975 o caso do “suicídio” do jornalista Vladimir Herzog abriu espaço para as denúncias internacionais sobre as práticas de tortura no regime militar brasileiro. A farsa ficou tão evidente que não se pode negar que se tratava de assassinato cometido pelo Estado brasileiro fascista e que os militares não tiveram sequer justificativa para as violações que se escondiam nas diversas casas da morte pelo país, argumentando que se tratava de autoextermínio, alegação muito usada pela ditadura para encobrir seus crimes. Com o aumento das denúncias passou a ficar ainda mais evidente que além da polícia forjar cenas e provas, a imprensa emitir notícias mentirosas sobre os envolvidos e profissionais de saúde ajudavam fraudando laudos e autópsias. Havia a imposição dos militares mas também houve quem prestou seus serviços por questões ideológicas.

Entre os seguimentos de profissionais da saúde que auxiliaram com teoria e técnica nesses encobrimentos, e até na participação ativa nas torturas tiveram médicos, legistas e peritos. Por exemplo, assinaram os laudos periciais mentirosos do assassinato de Herzog os médicos Arildo Viana e Harry Shibata. Desse modo, “desde os primeiros atos de violência do golpe que médicos atuaram como cúmplices, agindo como peças fundamentais do desenvolvimento e da operação da máquina repressiva dos militares.” (CHEVRAND, 2021).

Harry Shibata, médico colaborador dos militares, foi cassado em 1980 graças a intensa luta de médicos que reconheceram as violações aos direitos humanos cometidos pelos colegas de profissão. A justiça brasileira é tão leniente com tudo que ocorreu durante o regime militar que Harry Shibata segue solto ainda hoje, no alto de seus 98 anos, ele que tem seu nome e seus serviços profissionais envolvidos nos laudos dos companheiros Emmanoel Bezerra, Manoel Lisboa, além de ter sido também denunciado em 2023 pelo Ministério Público por também fraudar laudos necroscópicos sobre Sônia Angel e Antônio Bicalho Lana, também mortos em 1973.

Os crimes contra os direitos humanos infligidos nos Anos de Chumbo tiveram importante auxílio principalmente de médicos e de legistas, os quais avaliavam a resistência das vítimas, recebiam instruções para as torturas e ajudavam na ocultação do verdadeiro motivo da morte dos que resistiam. Sua posição estratégica fazia com que estivessem presentes nos mais diversos lugares, de centros oficiais a locais clandestinos de tortura.

Dulce Pandolfi, para a Comissão da Verdade do Rio de Janeiro, relatou que foi usada como cobaia em uma aula de tortura nos anos 70. Presente na sessão, o médico Amílcar Lobo, quando Dulce passou mal, aferiu sua pressão e disse “ela ainda aguenta” (CNV, vol. I, pág. 351). O “Dr. Carneiro”, como Amílcar Lobo era chamado na clandestinidade, foi um dos responsáveis por receber presos políticos na Casa da Morte, localizada em Petrópolis- RJ. O lugar foi um verdadeiro centro de torturas e mortes, descoberto através da denúncia de Inês Etienne Romeu, única sobrevivente da Casa.

Esse aparato sistemático de auxílio aos militares foi essencial para a manutenção da ditadura e no encobrimento dos crimes comandados (e executados) pelos generais fascistas.

Outros médicos que ajudaram na repressão foram João Bosco Rolim Araruna e Agrício Salgado Calheiros, responsáveis por assinar a perícia falsa da morte de Soledad Barrett, militante que lutou com armas contra a ditadura. A versão oficial de 1973, ratificada pelos legistas, diz que Soledad, junto com outros militantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), foram mortos em uma troca de tiros.

O perito criminal José Zito Albino Pimentel atestou que, na verdade, Soledad Barrett foi vítima de uma execução, sem possibilidade de defesa. Foram encontrados ferimentos que comprovam que ela sofreu diversos espancamentos e torturas (CEMVDHC, vol. 1, págs. 297 e 300), portanto, é completamente falsa a versão dos militares e mostra a fraude do laudo dos legistas assistentes da ditadura.

Agrício Salgado Calheiros, junto com os peritos João Luiz dos Santos Neto e Antonio Victoriano da Costa Barbosa, também foi responsável por assinar mais uma perícia falsa: Manoel Aleixo, o Ventania, foi vítima de troca de tiros e Anatália Melo Alves de enforcamento (suicídio). Quando, na verdade, ambos foram executados e torturados (ibidem, pág. 214 e 330).

 

“É preciso dar um jeito” …

Para que nunca se esqueça dos heróis que lutaram pela libertação do povo brasileiro, nossa luta é por Memória, Verdade e Justiça, pela punição de todos os responsáveis por manter e executar a ditadura no Brasil. Como exemplo de luta, os companheiros do Partido Comunista Revolucionário (PCR) em Belo Horizonte, junto a outros movimentos sociais e partidos de esquerda ocuparam o antigo prédio do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) que serviu como local de diversas desumanidades, além de exigir a construção de um memorial pelos que se sacrificaram pela liberdade da pátria.

Outro exemplo de resistência por memória, a Casa de Referência Soledad Barrett foi o nome dado pelo Movimento de Mulheres Olga Benário em Pernambuco ao ocupar um imóvel em 2022, abandonado há anos, para acolher mulheres vítimas de violência; em memória a uma das resistentes ao regime que massacrou, e ainda massacra, o povo brasileiro.

Após a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 se faz urgente lembrar que os crimes e as arbitrariedades do regime militar brasileiro ainda não é uma página virada. Se a sociedade não exigir reparação, cobrar justiça e trazer para nossos dias, importante contribuição do livro e filme “Ainda estou aqui”, para evitar, como diz a palavra de ordem que não se esqueça e que não se repita jamais.

 

 

Combater o machismo nas fileiras do partido é condição para a revolução

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O machismo dentro das organizações revolucionárias enfraquece a luta, afasta mulheres e reproduz estruturas opressoras. Líderes como Samora Machel, Alexandra Kollontai e Clara Zetkin já alertavam que não há revolução possível sem o combate ao patriarcado.

Chantal Campello | Cabo Frio (RJ)


MULHERES – A luta revolucionária exige coragem, firmeza ideológica e organização. Mas ela também exige uma ruptura radical com os valores e práticas herdadas da sociedade burguesa, entre elas, o machismo. A manutenção de relações patriarcais dentro das fileiras de um partido revolucionário é uma contradição grave, que enfraquece a organização, afasta as mulheres da luta e reproduz estruturas opressoras que deveriam estar sendo combatidas.

Samora Machel, líder revolucionário de Moçambique e comandante da luta contra o colonialismo português, já afirmava: “A emancipação da mulher não é um ato de caridade, não é um favor que se concede. A libertação da mulher é uma necessidade fundamental da revolução, uma garantia da sua continuidade e um preceito da sua vitória”.

A revolução não pode ser construída apenas com discursos, é preciso transformar de forma concreta as estruturas sociais e políticas, assegurando que as mulheres se organizem nas fileiras do partido e assumam papéis de liderança em todos os espaços.

No dia a dia da organização, o machismo se manifesta de maneiras que muitos homens sequer percebem, mas que têm efeito corrosivo. São práticas como interromper mulheres nas reuniões; dar pouca atenção às suas falas, repetir suas ideias como se fossem próprias; exigir delas mais provas de competência do que dos companheiros homens. São olhares que deslegitimam; insinuações sobre a vida pessoal; “piadas internas” que constrangem; convocações em horários que não consideram a dupla ou tripla jornada das companheiras mães e trabalhadoras.

Dirigentes mulheres são mais questionadas, mais vigiadas, mais cobradas. Há homens que, ao receberem orientações de uma mulher, reagem com resistência ou desdém, uma recusa silenciosa, mas constante, uma dificuldade de reconhecer a autoridade política de uma companheira. Esse comportamento, ainda que disfarçado, é, muitas vezes, puro e simples machismo.

Essas práticas se somam e formam o que chamamos de pequenas violências cotidianas: gestos, palavras, omissões e atitudes, que, individualmente, podem parecer banais, mas que, no conjunto, criam um ambiente hostil, inseguro e excludente para as mulheres. Essas violências, muitas vezes, não são levadas a sério, não são discutidas coletivamente e, pior, não são reparadas.

Alexandra Kollontai, revolucionária russa e pioneira na defesa da libertação sexual e econômica das mulheres, nos advertia que a revolução não poderia conviver com relações baseadas na dominação. Para ela, a opressão da mulher não se expressava apenas no campo econômico, mas também nas relações afetivas, sexuais e interpessoais, e que é necessária uma nova ética revolucionária entre camaradas.

Clara Zetkin, por sua vez, alertava que o machismo dentro da própria classe trabalhadora era uma armadilha: homens proletários, oprimidos pelo capital, buscavam se afirmar sobre as mulheres como forma de compensação de seu próprio sofrimento. Essa lógica reprodutora da opressão impede a construção de uma verdadeira unidade de classe, onde homens e mulheres lutem ombro a ombro com igualdade e respeito.

Por isso, combater o machismo nas fileiras do partido não é uma demanda “identitária” ou moralista. É uma necessidade estratégica da luta revolucionária. Um partido que ignora as demandas das mulheres, que normaliza agressões simbólicas ou institucionais, está minando a base política da transformação que pretende construir.

É dever de todo militante homem olhar para si, reconhecer os privilégios que carrega, escutar as companheiras sem defensiva e transformar práticas concretas. Como ensinaram Samora, Kollontai e Zetkin: não há socialismo possível sem o fim do patriarcado.

Por isso, é urgente romper com todas as práticas machistas que seguem entranhadas nos espaços militantes. As mulheres não podem ser ouvidas pela metade, questionadas o dobro e silenciadas no detalhe. Não se trata apenas de “melhorar o clima” ou “evitar conflitos internos”. Trata-se de dar um salto qualitativo na consciência e na prática revolucionária.

Superar o machismo significa investir conscientemente no desenvolvimento político das mulheres, criar espaços para que elas liderem, formulem, comandem e fortaleçam-se como reconhecimento da sua força histórica.

Quando o machismo for enterrado de vez, abriremos espaço para um novo tipo de organização social, livre, justa e poderosa. Aí sim o comunismo deixará de ser um horizonte e se tornará a prática viva do presente.

Matéria publicada na edição impressa  nº313 do jornal A Verdade

Quem deve financiar a luta das mulheres?

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O Movimento de Mulheres Olga Benario, fundado há 14 anos, reforça a luta por direitos das mulheres e pelo socialismo, diante dos impactos do capitalismo na vida das mulheres brasileiras.

Coordenação Nacional do Movimento Olga Benario


MULHERES – O Movimento de Mulheres Olga Benario foi organizado há 14 anos e se desenvolve cotidianamente com a perspectiva da luta coletiva pela vida das mulheres e pelo socialismo. A cada dia que passa, desde sua criação, nós, militantes do Movimento, aprofundamos os estudos do Feminismo Marxista e intensificamos nossas lutas. Não somente como resistência necessária, mas também como enfrentamento ao acirramento da luta de classes, das crises do sistema capitalista, que superproduz mercadorias, concentra e monopoliza toda a riqueza nas mãos da burguesia e, explorando toda a classe trabalhadora, empobrece e piora as condições de vida desta. Ademais, a realidade concreta da vida do povo brasileiro também evidencia as raízes patriarcais e racistas desse sistema, tendo as mulheres, principalmente negras e indígenas, como as que mais sofrem com as mazelas que o capitalismo impõe.

Alguns dados recém-publicados pelo Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (Raseam – 2025) apontam que, há três anos, desde 2022, as mulheres são as principais responsáveis por sustentar seus lares. Nesses lares, quando chefiados por mulheres negras, quase 70% possui uma renda per capita de até um salário mínimo. Além disso, conforme a Pnad Contínua (2023), quase 60% dos domicílios em situação de insegurança alimentar são chefiados por mulheres, chegando ao número de 12,8 milhões.

Esses são alguns dados que escancaram como o sistema capitalista define a vida das mulheres trabalhadoras. Também nos apontam para a urgência da organização da luta das mulheres na construção de uma alternativa socialista. Uma forma de organização da sociedade que tem as bases na colaboração, na socialização do trabalho doméstico, do cuidado às crianças, além da garantia dos nossos direitos básicos: moradia, saúde, educação e alimentação de qualidade.

Frente a toda essa opressão e exploração das trabalhadoras, o Movimento de Mulheres Olga Benario não resume suas ações apenas no entendimento teórico da situação da mulher e na revolta que sentimos. Pelo contrário. Vamos à ação e, com isso, compartilhamos o desafio da manutenção material e financeira dessas nossas ações.

Condições materiais

Como construir as condições materiais e financeiras para um grandioso movimento de massas que tome o poder no país?

A verdade é que a construção das finanças é uma tarefa coletiva, que deve se aliar às lutas desenvolvidas no cotidiano, fazendo com que a própria massa das mulheres trabalhadoras financie sua própria libertação. É necessário romper com o pensamento paternalista de que alguém fará por nós ou de que as finanças cairão do céu. É necessário planejar, executar o plano e fazer o balanço permanente.

Só consolidaremos o crescimento do nosso movimento nacionalmente e a intervenção entre as mulheres se a arrecadação financeira for levada a sério pelas Coordenações Regionais e núcleos. A cada luta desenvolvida (no bairro, na fábrica, nas universidades, etc.) devemos articular como será o levantamento dos recursos para custear a confecção dos panfletos e faixas, compra de megafones ou caixa de som, microfones, alimentação, transporte e, junto aos sindicatos, entidades aliadas e órgãos institucionais, desenvolver as relações políticas para o financiamento da luta.

Cabe ressaltar que a revolução deve se desenvolver em nível nacional, portanto, é necessário financiar a luta em todas as regiões do Brasil, dividindo os recursos que temos, e não os que sobram.

Cumprindo isso, conseguiremos ampliar o nosso Movimento aos estados onde ainda não temos atuação, onde há muitas mulheres com sede de organização, além de fazer os acompanhamentos pela Coordenação Nacional de forma periódica nas regiões em que já estamos organizadas.

Jamais devemos cair na defensiva quando o assunto é arrecadar fundos e levantar as condições materiais para obtermos êxitos na luta pelo socialismo, visto que somente com a construção do poder popular, financiado pelas próprias trabalhadoras, conseguiremos nos libertar das correntes em que o sistema capitalista nos aprisiona todos os dias. Deste modo, conseguiremos alcançar o bom, o justo e o melhor do mundo!

Matéria publicada na edição impressa  nº313 do jornal A Verdade

O desenvolvimento da Inteligência Artificial no mundo do trabalho

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O avanço da inteligência artificial tem acelerado a produtividade, mas não trouxe, até agora, redução da jornada de trabalho nem aumento dos salários. Pelo contrário, amplia a exploração, precariza empregos e ameaça postos de trabalho.

Sergio Henrique | São Paulo (SP)


SOCIEDADE – É fato que em diversas tarefas necessárias para a execução de um trabalho, o uso de Inteligência Artificial pode proporcionar maior agilidade. Entretanto, o aumento da produtividade, produzindo mais em menos tempo, não significa a redução da jornada de trabalho e muito menos o aumento nos salários. Portanto, a quem serve o avanço tecnológico das IAs?

A cada dia que passa, vemos que as chamadas “Inteligências Artificiais” (IA) se tornam um assunto cada vez mais relevante. Na mesma medida em que vivenciamos o avanço das IAs, também vivenciamos o seu impacto no mundo do trabalho. Esse avanço tecnológico caminha juntamente com a intensificação da exploração. Assim, como a implementação de tecnologia de automação na indústria com o objetivo de aumentar a produtividade, o desenvolvimento das Inteligências Artificiais, dentro do sistema capitalista, representa a capacidade de se produzir mais e gerar mais lucros.

Um exemplo disso pode ser observado na Amazon, uma das maiores empresas de logística do mundo. Em seus armazéns, a produção é altamente automatizada: os funcionários utilizam dispositivos que, ao escanear um pedido, os direcionam ao local exato onde o item está armazenado no imenso estoque. No entanto, eles precisam cumprir metas rigorosas estabelecidas por algoritmos, o que os obriga a manter um ritmo acelerado de trabalho para garantir sua produtividade e, consequentemente, evitar a perda de seus empregos.

A mesma lógica acontece na Uber, em que um algoritmo determina a eficiência ou não de um motorista com base em critérios desconhecidos por seus usuários. Os ritmos de trabalho produzidos por esses algoritmos funcionam como uma verdadeira caixa preta. Para se manterem empregados, os trabalhadores precisam se submeter aos obscuros critérios de produtividade.

Na prática, a automação no capitalismo intensifica a precarização do trabalho. As novas formas de emprego, impulsionadas, inclusive, pela Reforma Trabalhista, resultam na criação de vagas cada vez menos especializadas e com vínculos empregatícios mais frágeis. Além disso, observa-se uma onda crescente de desemprego, já que diversas funções são, parcial ou completamente, substituídas pelo avanço dessas tecnologias.

De acordo com uma análise recente do Fundo Monetário Internacional (FMI), a inteligência artificial deve impactar cerca de 40% dos empregos em todo o mundo: “Na maioria dos cenários, a IA tende a agravar a desigualdade social”. O estudo também aponta que 41% dos empregos no Brasil estão expostos à influência da inteligência artificial. No entanto, o critério utilizado pelo estudo inclui tanto trabalhos que “podem se beneficiar da tecnologia” quanto aqueles que “estarão ameaçados por ela no futuro”. Isso nos leva a uma reflexão crucial: no contexto do capitalismo, existem, de fato, trabalhos que se beneficiam genuinamente da IA, ou os ganhos de produtividade e eficiência acabam servindo principalmente aos interesses do capital, em detrimento dos trabalhadores?

Um estudo realizado pela Strategy&, consultoria da PwC (uma das maiores multinacionais de consultoria e auditoria do mundo), afirma que, para as empresas da indústria farmacêutica, a adoção da IA pode representar um ganho adicional de US$ 254 bilhões de lucros operacionais anuais até 2030, o que significa dobrar seus lucros.

Porém, o que vemos é o aumento do adoecimento físico e mental da classe trabalhadora frente às exigências de uma produtividade cada vez maior.

Vale recordar a experiência pioneira durante o governo de Salvador Allende, no Chile, que implementou o controle estatal de indústrias estratégicas e incentivou o desenvolvimento tecnológico com o objetivo de melhorar a produtividade e desonerar o trabalho. Um dos pilares dessa iniciativa foi o projeto Synco (ou Cybersyn), um sistema inovador que permitia o acesso diário aos dados de produção das fábricas, além de oferecer um conjunto de ferramentas computadorizadas para auxiliar o governo na previsão de comportamentos econômicos futuros.

O projeto incluía uma sala de operações centralizada, que facilitava a tomada de decisões com base no diálogo e na análise conjunta dos dados entre o governo e os trabalhadores. Essa abordagem buscava integrar a tecnologia à gestão participativa, representando um avanço significativo na relação entre Estado, tecnologia e força de trabalho.

Não devemos temer as tecnologias, nem projetar cenários apocalípticos de ficção científica diante de seus avanços. A História nos ensina, com a experiência da Revolução Industrial, que destruir os meios de produção não é o caminho para a emancipação da classe trabalhadora. Pelo contrário, devemos lutar para colocar esses meios de produção sob o controle daqueles que realmente os operam, por meio da construção de uma Revolução Socialista. Somente assim, poderemos criar as condições necessárias para desenvolver tecnologias que sirvam aos interesses da maioria da população, e não aos interesses de uma minoria burguesa que explora e parasita a sociedade.

Matéria publicada na edição impressa  nº313 do jornal A Verdade