UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 20 de abril de 2025
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Estudantes e trabalhadores ocupam Câmara de Itaquaquecetuba pela Tarifa Zero

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Em 18 de fevereiro, estudantes e trabalhadores ocuparam a Câmara Municipal de Itaquaquecetuba (SP) para exigir a revogação do aumento da tarifa de ônibus, decretado sem consulta popular pelo prefeito fascista Delegado Eduardo Boigues (PL), e a implementação da tarifa zero.

Evelyn Silva, Marcos Felipe, Danilo Nunes, Junior de Sousa e Camu Valadares | Itaquaquecetuba (SP)


Em 18 de fevereiro, a Associação Regional dos Estudantes Secundaristas (ARES) do Alto Tietê, em conjunto com os trabalhadores e trabalhadoras organizados no Movimento Luta de Classes (MLC) e na Unidade Popular pelo Socialismo (UP), ocuparam a Câmara Municipal de Itaquaquecetuba, na região do Alto Tietê (SP), para exigir a revogação do aumento da passagem e adoção da tarifa zero no município. O aumento realizado pelo prefeito fascista da cidade, Delegado Eduardo Boigues (PL), segue a tendência dos aumentos decretados em outras cidades da região como Suzano, Poá e Ferraz de Vasconcelos.

Delegado Boigues, favorecendo a burguesia local e a multimilionária Expresso Planalto (concessionária de transporte na cidade) decretou, às escondidas do povo, um aumento injustificado da tarifa em 27 de dezembro de 2024, em pleno período de festas. O Decreto nº 8.457/2024 reajustou a tarifa do transporte público coletivo urbano a partir de 1º de janeiro de 2025, elevando o valor da passagem para R$ 6,80 utilizando o vale-transporte, R$ 6,00 para pagamento em dinheiro, R$ 5,80 no bilhete eletrônico e R$ 2,90 para estudantes.

Indignados com a situação, estudantes e trabalhadores denunciaram o aumento abusivo em plena sessão da Câmara de Vereadores através de palavras de ordem, faixas e cartazes, interrompendo a sessão por cerca de meia hora. Quatro viaturas da GCM foram chamadas para retirar os militantes do local, que afirmaram, após tensa negociação, que só iriam embora quando fossem recebidos pela comissão de transporte e pelo presidente da Casa, Dr. Roque (PL), apoiador do prefeito.

Durante a primeira intervenção e ao iniciar a suspensão da sessão, Roque, em conversa com outros vereadores, riu e desdenhou da manifestação, atitude que não se repetiu ao final de sessão quando foi interpelado pelo povo. O presidente da Câmara Municipal tentou sair pela porta dos fundos, pedindo para que um servidor fosse “conversar” com os manifestantes, que questionavam o porquê da omissão da Casa, ao mesmo tempo em que exigiam que fosse colocada em pauta o fim do decreto sobre o aumento da passagem e a implantação da tarifa zero para o transporte municipal.

Se a Câmara não pauta, o povo vai pautar

Ao ser questionado sobre a falta de debate na Câmara, que tem o dever de fiscalizar o Poder Executivo, o presidente da Casa afirmou que “era coisa do prefeito” e que os vereadores não poderiam fazer nada. Diante da resposta, os manifestantes prontamente contestaram a resposta do presidente, que se irritou ao ser cobrado pelo silêncio da Câmara em relação ao aumento da tarifa.

Vamos fazer uma proposta de consenso então, senhor presidente. Se o senhor e nenhum vereador desta Câmara querem falar sobre o aumento da tarifa, abra uma tribuna livre e conceda cinco minutos para que o povo expresse sua opinião em cada sessão. Você verá que a população é contra esse aumento”, declarou Junior de Sousa, uma das lideranças do ato presente.

Em resposta, o presidente ironizou: “Vamos fazer o seguinte: você entra com um requerimento para uma tribuna livre aqui na Câmara, eu vou negar, e você entra na Justiça para ver se consegue falar.” A declaração gerou indignação entre os presentes, que questionaram se o presidente utilizava o transporte público diariamente e reafirmaram que estariam em todas as sessões até a conquista da tarifa zero.

Em tom elevado, Dr. Roque ameaçou: “Da próxima vez, não permitiremos que essa manifestação nos atrapalhe aqui.” Assim como ele, os demais parlamentares adotaram a mesma postura, que os manifestantes denunciaram como uma criminalização da mobilização e o fechamento das portas da chamada “Casa do Povo” para os trabalhadores.

O povo é mais forte

Os manifestantes em defesa do passe livre se depararam na mesma sessão com diversas famílias que protestavam sobre os severos alagamentos em regiões periféricas da cidade. Os estudantes e trabalhadores que lutavam em defesa da Tarifa Zero demonstraram seu apoio ao outro ato, sinalizando a importância da união da classe contra os ataques da burguesia e seus representantes.

Os trabalhadores de Itaquaquecetuba, uma das grandes “cidades-dormitório” da Grande São Paulo, se vêem obrigados a gastar cerca de R$ 300 por mês apenas para se deslocar para o trabalho na capital, enquanto enfrentam o abandono da periferia. Diante da revolta popular, os representantes do poder rapidamente se esconderam atrás da repressão do Estado.

Trabalhadora e mãe, Dona Maria, presente na sessão com seus três filhos e vítima das enchentes na cidade, expressou seu desejo de se engajar na luta. Ao conversar com um dos militantes presentes, declarou: “Quero saber como faço para fazer parte disso aí. Vocês falaram exatamente o que eu penso, o que eu não tinha coragem de dizer em voz alta. Quero lutar junto com vocês. Estou cansada de tudo isso, quero lutar!”

Quem luta, conquista

A decisão de ocupar a Câmara pela Tarifa Zero veio após a realização de dois protestos que percorreram as ruas de Itaquaquecetuba nos dias 14 e 27 de janeiro, e a entrega de dois ofícios à prefeitura sem qualquer resposta. Cansados da ironia e desrespeito do poder público, os estudantes e trabalhadores organizados na ARES e na UP decidiram intensificar a mobilização e levar a luta diretamente ao Legislativo municipal — uma Câmara que, a serviço da burguesia, frequentemente aprova projetos que prejudicam a vida do povo trabalhador itaquaquecetubense.

Ao final da sessão, mesmo com o ato cercado pela GCM, o povo em luta conseguiu protocolar um ofício exigindo a instauração de um requerimento para a fiscalização do decreto que aumentou a tarifa. Também foi conquistada uma reunião com a comissão de transportes da cidade para pautar um transporte público a serviço do povo, e não como uma mercadoria. O único vereador de oposição da casa, Gustavo Ramos (PT), se reuniu ao final do ato com as lideranças da manifestação, comprometendo-se a fortalecer a luta pela tarifa zero.

Ao fim do ato, Henrique Ceolin, coordenador do núcleo da Unidade Popular de Itaquaquecetuba, afirmou ao jornal A Verdade: “A classe trabalhadora do Alto Tietê é de luta e não vai abaixar a cabeça para todos os ataques da burguesia. Vamos defender um transporte público, gratuito e de qualidade para todos.”

Dois anos após tentativa de golpe, PGR finalmente denuncia Bolsonaro

O procurador-geral Paulo Gonet denunciou Bolsonaro pelos crimes de Golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado de Direito e organização criminosa. Investigação da Polícia Federal já estava encerrada desde dezembro de 2024.

Redação


BRASIL – Jair Bolsonaro e outros 33 criminosos foram denunciados pela Procuradoria Geral da República por conta da tentativa de golpe de estado realizada de 2022 a 2023. O general Braga Netto e mais 24 militares também são alvos da denúncia.

A denúncia da PGR acusa do cometimento de ao menos três crimes: abolição do Estado Democrático de Direito, Golpe de Estado e organização criminosa. Se condenados, os denunciados podem pegar pelo menos 38 anos de cadeia.

A Polícia afirmou que a quadrilha de Bolsonaro se organizou em 6 núcleos operacionais que desempenharam diferentes tarefas.

De acordo com a PF, no relatório de dezembro, “As investigações apontaram que os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência dos seguintes grupos:

  • a) Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
  • b) Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;
  • c) Núcleo Jurídico;
  • d) Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
  • e) Núcleo de Inteligência Paralela;
  • f) Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas”

Entre os denunciados estão também o general fascista Augusto Heleno, o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem e o ex-ministro da defesa, o general Paulo Sergio Nogueira.

No entanto, ao contrário do relatório da Polícia Federal, três pessoas não foram denunciadas pelo procurador geral, entre elas está Valdemar da Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), uma das principais estruturas políticas que os fascistas usaram em 2022 para se organizar para o golpe de estado.

Agora caberá ao ministro do STF Alexandre de Moraes aceitar ou não a denúncia. Caso seja aceita, o processo criminal se iniciará no Supremo e, segundo alguns órgãos da grande mídia, a tendência é que o julgamento seja realizado neste ano.

Esta denúncia contra Bolsonaro aponta a necessidade de se intensificar a luta pela sua prisão e dos seus comparsas. Além disso, é preciso lutar para que ele pague por todos os seus crimes.

Cabe ainda julgar o ex-capitão fascista cível e criminalmente pelo genocídio em relação aos povos indígenas e as negligências, negacionismo e ações promovidas durante o momento de pandemia da Covid-19 e que resultou na morte de milhares de brasileiros. Também há os casos de corrupção (rachadinhas, joias das arábias, dentre outros) e a prevaricação e improbidades administrativas cometidas por sua gestão e por seus cúmplices e aliados.

O alto comando das Forças Armadas não pode também ficar impune na história, pois vários generais estiveram presentes e incentivaram pela internet o desrespeito às eleições e à vontade soberana do povo. Além disso, tiveram papel determinante no Golpe Institucional de 2016, na eleição de Bolsonaro e nos diversos intentos golpistas. Traíram o povo e devem ir a julgamento pelos crimes de lesa-pátria que cometeram.

Por que falta acesso ao cinema para a classe trabalhadora?

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O sucesso do filme Ainda Estou Aqui levantou um importante debate sobre a produção cinematográfica brasileira. Porém, precisamos perguntar por que o cinema ainda é tão caro e distante da realidade da maioria dos trabalhadores de nosso país.

Gabriela Calixto | Recife


CULTURA – Com o estrondoso sucesso de “Ainda Estou Aqui” de Walter Sales, o cinema voltou a ser um assunto em alta no cenário brasileiro. O filme, além de ter levado milhões de brasileiros para as salas de cinema, tem destacado nossa cultura lá fora e a nossa história política recente. Ainda assim, o hábito de ir ao cinema é algo extremamente caro e pouco acessível para a maioria das nossas população.

Em um mundo marcado por jornadas exaustivas de trabalho, o ato de consumir um filme se torna um meio de escapismo e reflexão, conectando pessoas e histórias em que muitas vezes, refletem suas lutas diárias e seus desejos. Assim, é preciso olhar para o impacto do cinema na vida da classe trabalhadora como algo que transcende o entretenimento: ele é um espaço de pertencimento, uma ferramenta de educação e um instrumento de resistência cultural.

No entanto, sabe-se que nesse sistema capitalista exploratório, o acesso à cultura e educação é completamente negligenciado a classe trabalhadora. Devido ao alto preço dos ingressos, gastos com alimentação e transporte, a constância em consumir filmes em uma sala de cinema fica em segundo plano para pessoas de baixa renda – em segundo não, em último. Entretanto, a falta de acesso da classe trabalhadora a essa importante atividade cultural, não é de hoje, mas faz parte de um projeto de transcende décadas e vem desde a sua origem.

Dos Vaudevilles aos Nickelodeons

A história do Cinema começa com as transmissões dos irmãos Lumière, que em 28 de dezembro de 1825 fazem as primeiras exibições, suas ideias envolviam criar curtas que mostrassem as pessoas fazendo atividades do cotidiano, com os mais famosos sendo “A saída dos operários da fábrica” e “A chegada do trem na estação”. Com o desenvolvimento da tecnologia os projetores ganharam fama e se espalharam, surgindo especialmente nos Estados Unidos as pequenas salas de cinema, chamadas de Nickelodeons, fazendo alusão ao valor do ingresso (níquel, o centavo americano) e ao formato (Odeon, teatro coberto). Passando de tudo, desde de desenhos animados a comerciais essas salas de entretenimento tornaram-se uma febre e a percussora do Cinema como o conhecemos.

Antes da ascensão dos Nickelodeons, o entretenimento da classe trabalhadora se dava, entre outros meios, através dos vaudevilles, um tipo de espetáculo teatral criado na França, muito popular entre o final do século XIX e início do século XX especialmente nos EUA, que consistia em apresentações curtas e variados, incluindo esquetes cômicos, números musicais, dança e até performances de mágica e ilusionismo. Seu formato acessível e sonoro controlado por grande parte do proletariado urbano, que encontrava nos vaudevilles uma forma de lazer acessível.

Com a chegada do cinema, muitas das características dos vaudevilles foram incorporadas às primeiras produções cinematográficas, especialmente as curtas cômicas e as apresentações burlescas.

Com o surgimento dos Nickelodeons  entre os anos de 1905 e 1915, e seu estrondoso sucesso, passa a surgir também uma indústria em torno desse entretenimento, visando aos poucos a sua elitização.

Os Nickelodeons fizeram sucesso entre a classe proletária. Porém, as suas salas eram completamente precarizadas, com cadeiras de madeira duras, sem qualquer tipo de acolchoados. Elas eram muito quentes e úmidas, e o cheiro de cigarro era forte e constante, já que na época simplesmente não existiam as proibições de se fumar em locais fechados, por exemplo. Apesar disso, o cinema era uma forma de entretenimento popular entre o proletariado, já que seu ingresso era muito barato, custando apenas cinco centavos de dólar, com um ingresso que lhe garantia permanência indeterminada nas salas, já que com apenas um ingresso, era possível assistir todas as obras em cartaz.

Os nickelodeons representaram um passo muito importante na democratização da cultura e educação da classe trabalhadora, contudo, esse acesso veio para evidenciar que, desde o início, o acesso dos mais pobres a atividades culturais é cheio de limitações e empecilhos.

O cinema como indústria e o Código Hays até os dias de hoje

Com o evidente potencial lucrativo dos cinemas, as grandes empresas de entretenimento passaram a investir mais na qualidade dos espaços, elevando o preço dos ingressos e mirando em um público-alvo. Surgem os grandes estúdios como os de Hollywood e cria-se com isso os primeiros passos de uma indústria cultural.  A partir daí, o cinema deixou de ser um espaço popular, e se tornou apenas um grande jogo de negócios, sendo altamente rentável e priorizando espectadores com maior poder aquisitivo. As pequenas salas do Nickelodeon agora batia de frente com as grandes salas dos grandes estúdios.

A partir da década de 1920, Hollywood consolidou seu domínio no cinema global, criando um sistema de estúdios que ditava como seria a produção, distribuição e exibição da época, consolidando o star system, modelo de contrato que exigia exclusividade nos contratos para atores em determinados estúdios, prática que foi banida 1948 por ser considerada abusiva, e os blockbusters (ou arrasa-quarteirões), filmes que conseguem, por meio do marketing, estratosféricas bilheterias, como é o caso do filme dos Vingadores, Ultimatum, de 2019, que rendeu uma bilheteria mundial de U$$2,7 bilhões, apesar de sua qualidade duvidosa.

Juntamente a isso, o cinema Hollywoodiano foi submetido ao Código Hays, nos anos 30, uma espécie de censura prévia que foi um conjunto de regras de caráter machista, racista, xenófobico, misógino e homofóbico que proibia conteúdos considerados “imorais” com o intuito na verdade de vender uma falsa imagem de uma suposta perfeita vida americana, onde, claro, seus filmes não podiam trazer questionamentos nem nada que incomodasse o status quo.

Essa regulamentação não apenas refletiu os interesses da elite conservadora, que obviamente envolviam distanciar as classes marginalizadas dessa importante atividade, mas também restringir narrativas à sociedade e ao sistema capitalista. Com isso, o cinema perdeu sua força como instrumento de resistência e reflexão, tornando-se um mero produto comercial e controlado pelas elites.

Ainda nos tempos atuais, percebe-se como o mundo audiovisual ao todo é dominado pelo modo de produção capitalista, onde as produções que vão para o circuito dos cinemas e grandes streamings são justamente as que tiveram a maior quantidade de capital investido. E, produções realmente boas, ficam de escanteio, por não terem dinheiro para se promover. Pode-se notar esse fato também quando vemos a falta de representatividade nas prestigiadas premiações, onde minorias são esnobadas e deixadas de lado. Por outro lado, mesmo quando uma produção foge desses padrões da indústria e apresentam uma crítica ao próprio sistema, tratam logo de a colocar em um pedestal, como um diferencial, um ponto fora da curva, numa tentativa escancarada de tentar esvaziar seu sentido. O maior exemplo disso é o fato que só tivemos um filme de língua não-inglesa ganhando a categoria de Melhor Filme do Oscar em 2020, exatamente com “Parasita” de Bong Joon-ho, cineasta sul coreano.

O acesso ao cinema sempre foi moldado pelas dinâmicas de classe e pelo lucro dos grandes estúdios. Desde os Nickelodeons até os multiplexes de hoje, a classe trabalhadora enfrenta barreiras para consumir essa forma de arte de maneira plena. No entanto, o cinema também pode ser um espaço de resistência, como demonstram movimentos de cinema independentes e iniciativas que visam democratizar o acesso à sétima arte. Por isso, devemos construir lutas para que artistas recebam mais incentivos para realizar esse tipo de trabalho, para que possamos ter mais cursos e formação nessa área, bem como o direto a montar cineclubes, documentários e outras iniciativas que fortaleça essa área, para que a classe trabalhadora tenha cada vez mais acessos a essa atividade tão importante

Crimes ambientais envolvem a construção da Linha Verde em Maceió

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Representação protocolada no Ministério Público Federal denuncia os crimes ambientais da Braskem e da Prefeitura de Maceió na construção do projeto viário da Linha Verde, de grande impacto social. Pelo menos 10 hectares de vegetação nativa da Mata Atlântica já foram destruídos de forma ilegal

Neirevane Nunes* | Maceió (AL)


Coletivos e organizações da sociedade civil protocolaram uma representação no Ministério Público Federal (MPF) denunciando a supressão irregular de vegetação nativa da Mata Atlântica para a construção da Linha Verde, projeto viário que liga os bairros Tabuleiro do Martins e Antares, em Maceió. O desmatamento, que já resultou na perda de aproximadamente 10 hectares do bioma, ocorreu sem as devidas autorizações ambientais e sem um plano adequado de mitigação de impactos.

Além dos danos ambientais, a denúncia também questiona o traçado determinado pela Prefeitura de Maceió, que na proposta inicial acarretaria a desapropriação e demolição de cerca de 40 imóveis no bairro Antares. Moradores diretamente impactados pelo projeto já haviam recorrido ao MPF apresentando uma alternativa de traçado que reduziria os impactos sociais e ambientais. No entanto, até o momento, os questionamentos seguem sem resposta, e as famílias afetadas enfrentam incertezas sobre sua situação, pois até o momento não foram informados do projeto atual, para onde as obras irão avançar e se o numero de desapropriações será maior que o estimado.

Segundo a denúncia, o desmatamento começou no primeiro semestre de 2024, afetando espécies ameaçadas de extinção e expulsando a fauna silvestre de seu habitat. Desde então, moradores da parte alta da cidade relatam um aumento na presença de animais como saguís, bichos-preguiça, tamanduás-mirins e serpentes em áreas urbanas, gerando riscos tanto para a fauna quanto para a população. A ausência de um projeto de resgate e reabilitação da fauna agrava ainda mais a situação.

Em 26 de julho de 2024, o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) embargou a obra e multou a Prefeitura de Maceió e a Braskem em R$ 450 mil por desmatamento irregular. A empreiteira S.A. Paulista, responsável pela execução do projeto, também foi autuada em R$ 150 mil. A supressão da vegetação ocorreu sem autorização do IMA e do Ibama, sem registro no Sistema Nacional de Controle da Origem dos Produtos Florestais (Sinaflor) e sem um plano de compensação ambiental para garantir o replantio de espécies nativas.

A denúncia ressalta ainda que a Mata Atlântica é protegida pela Lei nº 11.428/2006 e que qualquer intervenção no bioma exige autorização prévia dos órgãos ambientais. A presença de espécies ameaçadas, como o Pau-brasil, torna a infração ainda mais grave. Diante das irregularidades, as instituições pedem que o MPF determine a suspensão imediata da obra até que sejam apresentados estudos e licenças ambientais obrigatórios, incluindo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA-RIMA), planos de manejo de fauna e flora, e autorizações para supressão de vegetação nativa.

A sociedade civil reafirma a importância do desenvolvimento urbano alinhado à proteção ambiental e à responsabilidade social, cobrando transparência e compromisso das autoridades envolvidas no projeto. Exige-se, portanto, que o traçado da obra seja revisado, garantindo o direito da população à informação sobre as intervenções e assegurando sua participação no processo decisório em todas as etapas do projeto.

*Neirevane Nunes é bióloga e professora

Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos realiza audiência pública no Recife

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Uma série de atividades marcaram a retomada da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) entre os dias 11 e 14 de fevereiro, no Recife. Ligada ao Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania, a Comissão retomou suas atividades públicas, após ter sido extinta pelo governo Bolsonaro em 2022.

Clóvis Maia | Redação Pernambuco


Uma das últimas ações tomadas pelo governo do fascista Jair Bolsonaro foi extinguir a Comissão Especial Sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), criada em 1995. Recriada em julho de 2024, depois de muita pressão da Coalizão Nacional Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, dos Comitês de luta por memória, verdade e justiça, e da Comissão Nacional de Familiares de Mortos e Desaparecidos Politicos, a Comissão realizou no Recife entre os dias 11 e 14 de fevereiro uma concorrida sessão pública.

Entre as atividades da Comissão, tivemos uma diligência em três cemitérios do Recife (Cemitério da Várzea, de Santo Amaro e Parque as Flores) com o objetivo de levantar dados sobre os desaparecidos políticos enterrados de forma clandestina nesses locais. Na ocasião, acompanharam a diligência Amparo Araújo do Comitê Memória, Verdade, Justiça, reparação e Democracia de Pernambuco e Marcelo Santa Cruz, representando a Secretaria de Direitos Humanos do Recife, ambos militantes históricos pelo direito à memória, à verdade e à justiça no estado de Pernambuco.

A CEMDP também fez uma visita à sede do Memorial da Democracia em Pernambuco, no bairro de Casa Amarela, onde se encontra o acervo da Comissão da Verdade Dom Helder Câmara de Pernambuco, além da audiência pública sobre memória, Verdade, Justiça e Reparação, no auditório Fernando Santa Cruz, na sede da OAB-PE, dia 13/02. No final da sessão, Eugênia Gonzaga, presidenta da CEMDP, convidou a todos e todas para o ato inaugural do busto de Soledade Barret Vieram, ao lado do Monumento Tortura Nunca Mais, na rua da Aurora, em homenagem à militante comunista paraguaia, assassinada pela ditadura militar fascista, em janeiro de 1973.

Audiência pública resgata a necessidade da construção da justiça de transição em nosso país

O mais importante momento da agenda da Comissão em Pernambuco foi a audiência pública realizada no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE). Falando sobre a importância da escolha de Recife para a retomada das atividades públicas da Comissão, Eugênia Gonzaga, presidenta da comissão afirmou que “Em agosto do ano passado, a comissão praticamente não tinha verbas para sair a campo. Todas as resoluções, todas as portarias que embasavam nossas diligências, elas tinham sido revogadas pelo governo Bolsonaro. Então foi um período burocrático de tentar reerguer aquilo que foi reconstituído. E por que Pernambuco? Porque nós sabemos que o número de desaparecidos e mortos, proporcionalmente ao tamanho do Estado, é o maior do país.”

“Nós temos documentado 51 pessoas de algum modo relacionadas a Pernambuco, que nasceram aqui e desapareceram, morreram em outro estado, ou que nasceram em outro estado e morreram ou desapareceram aqui. Além disso, nós temos esses relatos desses cemitérios que tiveram suas valas comuns. E Recife tem uma militância forte, aqui as pessoas são muito bem organizadas e tem muitos espaços de memória, então nós fizemos questão de iniciar por Recife, por essa importância do tema que é dado aqui, tanto pela população, pela sociedade civil e pelas autoridades”, complementa.

Ao facultar a palavra para o público presente, a presidenta do Comitê Estadual da Verdade do Rio Grande do Norte (CEV-RN), Jana Sá, cujo o pai, foi guerilheiro no Araguaia e morto, no Rio Grande do Norte, em 1990, sob circunstâncias ainda não esclarecidas pela justiça, protocolou uma petição para que o caso de seu pai seja também investigado pela Comissão.

Falando ao jornal A Verdade, sua filha, Ana Beatriz de Sá, que é integrante do CEV-RN, representante do movimento de Filhos e Netos de ex-presos políticos e militante da UJR, declarou que “a audiência foi muito importante não só para os familiares dos mortos e desaparecidos políticos da ditadura militar fascista, mas também representou um avanço importante para toda a sociedade brasileira. Nesta conjuntura atual, é muito importante erguer a bandeira da luta por memória, verdade e justiça e pela prisão dr Bolsonaro e os generais golpistas de 1964 e de 2023. A gente precisa, na verdade, relembrar a memória dos nossos lutadores, que a gente precisa reativar a memória popular do que foi a ditadura militar no nosso país, do que foi a exploração do nosso povo durante esse período, que o nosso povo tem memória, e além disso que é preciso a gente dizer que a saída para a gente poder, de fato, ter uma sociedade sem exploração, para a gente ter uma sociedade em que lutar não seja crime, a gente precisa construir o socialismo como alternativa”.

Garantir o debate sobre memória, verdade, justiça e reparação

Para o Jornal A Verdade, Amparo Araújo, do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, falou dos desafios que a Comissão vai ter nos próximos momentos. Para ela, “a principal tarefa da Comissão é continuar a busca pela verdade, pela justiça e pela garantia da democracia. E para quem sabe um dia esse país possa vir a ser uma nação. É como eu sempre digo, a luta pelos direitos humanos é feita de pequenas vitórias e grandes retrocessos. Houve um compromisso de campanha de que ela seria reinstalada logo em seguida da posse do governo Lula. Entretanto, houve muitas pressões por parte dos militares e a gente só conseguiu reinstalar após muita pressão dos movimentos sociais e por uma sentença do Superior Tribunal Federal, quando ela foi reinstalada em agosto de 2024. Desde então a comissão estava funcionando, mas de forma muito precária, porque não tinha nem estrutura. Essa reunião aqui em Pernambuco, com esse novo levantamento que está sendo feito a partir dos livros de registro dos cemitérios é um avanço que vai servir, inclusive, para ajudar na retificação dos atestados de óbito, mas, sobretudo, para que possa se corrigir os procedimentos que hoje estão sendo utilizados pelas administrações de cemitérios, tanto públicos quanto privados, para que não se perca os registros dessas pessoas que deixaram de existir, mas que existiram e tiveram sua importância ou histórica ou afetiva. Isso não pode se perder no tempo. É um desrespeito jogar as ossadas fora com dois anos e um dia, caso a família não tenha tido condições de identificar ou de pagar pelo procedimento para uma guarda definitiva”.

Entre as reivindicações da sociedade civil organizada e dos movimentos sociais estão a mudança de nomes de praças públicas com nomes de ditadores, renomeação de escolas públicas e investigações de outras pessoas que foram atingidas pelo regime e que até hoje ainda não tiveram seus casos, julgados. Ainda há muito que se fazer quando se trata da justiça de transição em nosso país.

Moradores do Jardim Pantanal fazem ato contra ameaça de despejo

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No sábado (15/2), a população do Jardim Pantanal se manifestou em defesa de suas moradias, com o apoio do MLB e da UP. As famílias do bairro rejeitam a proposta de remoção com indenização baixíssima, apresentada pela prefeitura do fascista Ricardo Nunes após as enchentes

Gabriel Zerbinato | São Paulo (SP)


As famílias do Jardim Pantanal, bairro da Zona Leste de São Paulo, realizaram neste sábado (15/2), um protesto contra o completo abandono do governo e da prefeitura frente às enchentes que têm destruído os seus lares. A situação ficou ainda mais crítica quando o prefeito Ricardo Nunes (MDB) expressou, no começo do mês, a intenção de expulsar os moradores mediante um pagamento ínfimo de até R$50 mil.

O bairro, que nasceu na década de 1980 às margens do Rio Tietê e hoje abriga cerca de 45 mil trabalhadores, historicamente carece de obras públicas que impeçam alagamentos como os deste ano, e o povo se diz cansado de ver essas cenas se repetindo através das gerações. “Mudei para cá em 1991 com meus quatro filhos pequenos. Criei eles aqui com muito sofrimento. Foram muitas enchentes, era sempre um mar de água, perdíamos tudo para a água. Até agora não vimos melhora”, relatou a moradora Fernanda ao jornal A Verdade, que esteve presente no protesto.

Por sua vez, se identificando com a manifestação enquanto ela passava pelas ruas do bairro, a moradora Rosa Maria declarou: “Quando eu vim para cá, nem sabia que existia pantanal, era tudo mato. É o seguinte: se estamos aqui, se construímos nossas casas, não vamos aceitar R$50 mil como estão propondo para sair daqui. Com esse dinheiro não dá nem para comprar um pedacinho de terra para fazer um banheiro. Temos que ir à luta, porque mesmo saindo daqui você vai achar enchente em tudo quanto é lugar. Melhoria eu não vejo ainda, e por isso mesmo não podemos deixar tirar ninguém daqui”.

Moradores devem decidir

Esse quadro demonstra a falsidade do discurso do prefeito Ricardo Nunes, que alega que as enchentes são um fenômeno natural recente, e por isso não seriam controláveis nem podem ser prevenidas. Na realidade, a recusa de implementar medidas de prevenção contra os alagamentos na região e ainda propor a expulsão de uma comunidade inteira se mostra uma escolha política da gestão do fascista Nunes. Por isso, os moradores exigem ser ouvidos e estar à frente de qualquer processo de urbanização que ocorra na região.

A Unidade Popular (UP) e o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) tiveram uma participação massiva na manifestação, somando-se à luta coletiva dos moradores em defesa da moradia digna. Léo Péricles, presidente nacional da UP, esteve presente e ressaltou a importância do protagonismo do povo na urbanização do Jardim Pantanal.

“É um absurdo a cidade mais rica da América Latina largar milhares de pessoas à sua própria sorte como estamos vendo aqui. No bairro dos ricos não ouvimos falar de alagamento, de lares destruídos, porque o prefeito governa para essa meia dúzia de ricos que mandam nele. A urbanização daqui dessa comunidade deve ser feita, com certeza o povo vai conquistar, mas deve ser feita com a opinião dos moradores. O povo não deve mais ficar pedindo, deve exigir”, disse Léo Péricles.

O jornal A Verdade também ouviu Manoel Pereira, morador do bairro e militante do MLB, que sintetizou a importância da mobilização ocorrida no dia e a luta por moradia nos bairros em geral: “Sou operário e moro aqui no Jardim Pantanal desde 1991. Foi a situação de exploração que vivemos enquanto trabalhadores que nos levou a ocupar essas terras na margem do rio, e o poder público nunca se interessou em resolver o problema de moradia daqui. Por isso manifestações como essa são necessárias para conscientizar os moradores que foram afetados e caminhar, com o povo à frente, para a solução definitiva, que é a construção do poder popular e do socialismo”.

Compesa: movimentos sociais organizam plenária em Recife contra a privatização

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A plenária conjunta convocada por movimentos sociais contou com diversas entidades e organizações para traçar um plano de luta contra a privatização da Compesa, empresa que administra os serviços públicos de saneamento básico e abastecimento de água em todo o estado.

Clóvis Maia | Redação Pernambuco


BRASIL – Na noite do dia 10 de fevereiro a Unidade Popular em Pernambuco e o PSOL realizaram uma plenária aberta junto ao Sindicato dos Urbanitários de Pernambuco (SINDURB-PE) para discutir encaminhamentos e organizar o enfrentamento ao projeto da governadora, Raquel Lyra (PSDB) de privatização da água no Estado de Pernambuco. Na ocasião participaram também representantes do Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados (PSTU), Rede Sustentabilidade e a deputada estadual Dani Portela.

Pernambuco na contramão

Seguindo a cartilha da extrema direita, como Cláudio Castro (PL-RJ) e Tarcísio de Freitas (Republicanos- SP), a governadora de Pernambuco propôs privatizar a água, indo na contramão do mundo.

O Relatório do SINDURB-PE aponta que só entre os anos 2000 e 2019, 312 cidades, em 37 países, reestatizaram seus serviços de tratamento e esgoto, justamente após a falência escancarada do serviço privatizado que, além de aumentar as contas, não resolve o problema de abastecimento para os locais mais carentes. E ainda causaram problemas ambientais, de saúde e econômicos.

Alemanha, França, Bolívia, Argentina, Equador, Venezuela, Honduras e Jamaica estão entre os países que retornaram para o controle publico esse serviço tão essencial. No projeto de privatização em Pernambuco, o chamado PPP, o setor privado vai deixar os serviços mais pesados, como captação e tratamento de água, para o setor público enquanto administra os lucros.

Outra ameaça é a extinção de programas como a Tarifa Social, que já sofreu um aumento no fim do ano passado e dos caminhões-pipa, que hoje são mantidos exclusivamente pela COMPESA.

Outra contradição é o apoio do governo federal, por meio do BNDES, além do PAC 3, ter anunciado um investimento de R$3,9 bilhões para obras com a água e R$2,2 bilhões para o tratamento de esgoto. Vale lembrar que a empresa está longe de qualquer tipo de dificuldade financeira, ou seja, o que está em jogo é o lucro pelo lucro.

Disposição para lutar

A plenária contou com a disposição da militância para barrar o processo de privatização em Pernambuco. Seguindo o exemplo das lutas em defesa da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), as organizações presentes se comprometeram a continuar nas ruas, mobilizando o povo das periferias e dos bairros populares, para denunciar mais esse golpe que atinge diretamente os mais pobres e a maioria da população nas quatro regiões do Estado. Privatizar a Compesa é roubo!”

Estudantes da USP protestam contra interdição da Sala Lilás Janaína Bezerra Vive

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A Sala Lilás Janaína Bezerra Vive, espaço criado para acolher mulheres em situação de violência na universidade, sofreu interdição de forma arbitrária pela Guarda Universitária e a diretoria da Escola Politécnica da USP.

Movimento de Mulheres Olga Benario


Na manhã desta segunda-feira (17/02), a Sala Lilás Janaína Bezerra Vive, espaço de acolhimento de mulheres vítimas de violência, foi interditada pela Guarda Universitária da Universidade de São Paulo (USP). Localizada no Campus Butantã, esta ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benario foi criada para denunciar a falta de políticas efetivas da reitoria para enfrentar o crescente problema da violência de gênero na USP.

A Sala Lilás vinha sofrendo com uma série de notificações extrajudiciais por parte da Diretoria da Escola Politécnica e uma ameaça de despejo para o dia 13 de fevereiro.

Atualmente, a USP possui medidas insuficientes de acolhimento às vítimas de violência de gênero. Há casos de recusa quando chamada a tomar medidas legais cabíveis a estupradores de alunas da universidade, mesmo que elas possuam medidas protetivas contra esses criminosos.

A ocupação reivindica um espaço físico de acolhimento de pessoas que foram vítimas de violência de gênero na USP e um novo protocolo de denúncias elaborado em conjunto com as estudantes.

A partir das notificações, o Movimento de Mulheres Olga Benario compareceu a uma reunião com a Diretoria da Escola Politécnica, que inicialmente tinha se mostrado aberta à uma negociação. Contudo, em uma segunda reunião com a Diretoria e a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), representantes do órgão compararam  ocupação com a violência de um crime de estupro.

Após a interdição da Sala Lilás, houve uma terceira reunião. Em tentativa de intimidar as militantes, a PRIP e a Reitoria foram racistas com uma delas e  chamaram o Movimento de Mulheres Olga Benario de misógino.

Não é a primeira vez que ridicularizam o movimento: nas notificações extra judiciais recebidas  nos intitularam de “Coletivo preocupado com a segurança das mulheres do campus.”

A violência sexual é uma realidade da USP e de diversas universidades em todo o país. “Já recebíamos várias denúncias e pedidos de ajuda das estudantes da USP antes de construir a sala Lilás. Por isso, levamos à direção da Universidade a demanda de um centro de referência para acolher as estudantes e trabalhadoras “, afirma Naomi Asato, do Diretório Central dos Estudantes (DCE). Ela acrescenta: “A USP ignora essa violência! As medidas protetivas das estudantes contra os estudantes não são respeitadas! E mesmo com R$8,6 bilhões em caixa, a USP não destina orçamento para a contratação de uma equipe técnica especializada”.

Diante da interdição do espaço, os estudantes da USP realizaram um ato que contou com a presença de diversos centros e diretórios acadêmicos na própria segunda-feira (17/2).

Diversas entidades estudantis demonstraram sua indignação com essa medida reacionária de interdição do espaço. Entre as que participaram do ato em protesto à ação, estiveram: Centro Moraes Rego (CMR), de Engenharia de Minas, Materiais, Petróleo, Metalúrgica e Nuclear; Centro Acadêmico Visconde de Cariu (CAVC), da Faculdade de Economia, Administracão e Atuária; Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários – Suely Yumiko Kanayama (CAELL), da Letras; Centro Universitário de Pesquisa e Estudo Social – Ísis Dias de Oliveira (CeUPES), da Ciências Sociais; Centro Acadêmico do Instituto de Física (CEFISMA); Centro Acadêmico Guimarães Rosa (GUIMA), de Relações Internacionais; Centro Acadêmico de Farmácia e Bioquímica (CAFB); Centro Acadêmico Professor Paulo Freire (CAPPF), da Faculdade de Educação; Levante Indígena; Centro Acadêmico Lupe Cotrim (CALC), da Escola de Comunicação de Artes; Grêmio Politécnico, da Escola de Engenharia Politécnica; além da Associação de Moradores do CRUSP (AMORCRUSP) e do DCE Livre da USP.

Entidades participam de ato em defesa da Sala Lilás (Foto: Guilherme Farpa)
Quem foi Janaína Bezerra?

Janaína Bezerra era uma caloura de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI) que foi vítima de estupro seguido de feminicídio. Somente dois anos após o assassinato, dois dias após a ocupação ter se tornado pública, é que o feminicida de Janaína foi expulso da UFPI, no que os movimentos de mulheres definem como uma vitória da luta de todas as estudantes por memória, verdade e justiça.

Ao reprimir a Sala Janaína Bezerra Vive, o Movimento de Mulheres Olga Benario denuncia que a Universidade de São Paulo agiu de forma misógina e violenta, coerente com o seu histórico de se recusar a tomar ações efetivas e medidas legais contra estupradores nos campi

Estudantes protestam contra interdição da Sala Lilás (Foto: Francisca Silva)

Nesse cenário, o Movimento de Mulheres Olga Benario afirma: “Nós somos mulheres, estudantes e iremos seguir mobilizadas na defesa de nossas vidas. Janaína Presente!”

População trans exige mais políticas públicas da Prefeitura de Diadema

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Em roda de conversa, moradores demonstram estar atentos às posições conservadoras do prefeito Taka Yamauchi (MDB). A população defende a melhoria das condições do Ambulatório Trans de Diadema, que precisa de mais servidores

Bento Xavier | Diadema (SP)


No dia 4 de fevereiro, a roda de conversa “Vozes trans – Reconhecimento, empregabilidade, esporte e cultura trans e travesti” foi promovida pela Coordenadoria de Políticas de Cidadania e Diversidade da Prefeitura de Diadema, para apresentar os novos membros de sua equipe.

Os representantes da prefeitura afirmaram a disposição da gestão em ouvir as demandas e manter o espaço aberto da Coordenadoria, garantindo o interesse do prefeito na inclusão. No entanto, o atual prefeito de Diadema, Taka Yamauchi (MDB), venceu as últimas eleições com forte discurso conservador. Por isso, o discurso de estabilidade e promessas feito pela gestão no evento não convenceu os presentes.

Quando o microfone foi aberto à plateia após as falas dos convidados da roda de conversa, a população pôde expressar sua indignação e o desejo de melhorias na política municipal. Uma das principais demandas é a valorização do Ambulatório de Saúde Integral da População de Travestis e Transexuais do ABC, também conhecido como Ambulatório Trans, um espaço do SUS que oferece atendimento à população T da região.

“Desde a fundação do Ambulatório, só há um médico, um psicólogo e um assistente social, e ainda hoje não tem urologista nem ginecologista. Não basta só fazer o espaço, precisa crescer o número de funcionários. Hoje, o retorno demora 6 meses, isso tem que mudar urgentemente”, denunciou Diana, moradora de Diadema.

A crítica vem junto do reconhecimento do importante papel dessa política, já que “o Ambulatório foi um exemplo muito importante para outras cidades do estado de São Paulo”, continuou Diana. Destacando a importância desse espaço no sistema público de saúde, ela relatou: “Hoje, eu tenho convênio médico particular mas não uso, porque o médico olha na minha cara e diz: ‘eu não entendo de corpos trans'”.

Em outras intervenções, mais demandas ao poder público foram apresentadas. Uma fala apontou que, mais que apenas denunciar e punir servidores envolvidos em casos de LGBTfobia, é papel da prefeitura se responsabilizar pela preparação de seus profissionais, evitando esses episódios. Além disso, os presentes falaram da necessidade de expandir as políticas públicas voltadas à população trans para além da Saúde e dos espaços de Esporte e Cultura, contemplando também a formação profissional e a oferta de empregos.

Antes, durante a roda de conversa, convidados como Júnior Lima (fundador do Spartanos FC, primeiro time de futsal de homens trans do ABC Paulista), WinniT MC (rapper trans e morador da cidade) e Iza Potter (militante dos direitos LGBT+) fizeram falas destacando a importância da ocupação dos espaços políticas pelas pessoas trans e da realização do 1º Censo LGBT do ABC Paulista, que deverá ocorrer no próximo período.

A importância do Ambulatório Trans

Palco de diversas lutas sociais durante o período da industrialização e da ditadura militar, a cidade de Diadema vinha avançando na implementação de direitos à população trans, que participou ativamente dessas mobilizações.

No último período, foram realizados mutirões de retificação de documentos, a instalação de quadros que indicavam a obrigatoriedade do respeito ao nome social nos comércios e, principalmente, a instalação do primeiro ambulatório trans do ABC Paulista.

O ambulatório oferece serviços especializados para as travestis e transexuais. Disponibiliza cuidado médico ambulatorial, pré e pós-operatório, tratamento hormonal e acolhimento em enfermagem, psicologia, psiquiatria e serviço social. Em determinados momentos, o ambulatório também encaminha os usuários para a Atenção Básica, para que possam depois ser atendidos por determinadas especialidades. Seu trabalho funciona em conjunto com toda a rede da saúde pública, e o serviço funciona por livre demanda, sem barreiras e sem necessidade de encaminhamento.

Apesar disso, a eleição de Taka Yamauchi, que durante o período eleitoral acusou o prefeito anterior de “promover a ideologia de gênero”, levanta o alerta de que essas políticas podem estar em risco. Ele é um aliado próximo da deputada federal Carla Zambelli (PL), e sua vice Andreia Fontes (PL) é do mesmo partido do fascista Jair Bolsonaro.

Taka nem mesmo compareceu à roda de conversa chamada pela Prefeitura, como apontou Valentina, também moradora de Diadema: “O evento foi chamado há duas semanas, o prefeito não apareceu, a vice ficou dois minutos e não ouviu nada. Achei uma falta de respeito com a gente, saí da minha casa em um dia de chuva para ter um diálogo e eles não aparecem.”

Nenhum direito a menos

No último período, a população trans tem sido um dos principais alvos dos ataques da extrema-direita, que utiliza os espaços políticos e as redes digitais para questionar a humanidade e o direito à vida digna das pessoas trans e desviar as discussões sobre os problemas reais da população. Alguns dos ataques mais recentes envolvem as tentativas de proibir o uso do nome social, o acesso a banheiros públicos e a participação em esportes profissionais.

Apesar disso, como apontou Maiky Carneiro, médico e trabalhador do Ambulatório Trans de Diadema, a exclusão dessa população não é um problema recente, e remete à própria estrutura do sistema capitalista.

“A gente tá falando de uma população que teve seus direitos excluídos por muitos anos. Isso faz parte de um projeto, que surge da colonização, do patriarcado e do capitalismo, que resultou na exclusão de corpos divergentes. Isso impactou na saúde, por ignorar a especificidade da população, que hoje é alvo da violência e da mortalidade porque isso não foi pensado no projeto de saúde. Quando vem a reforma sanitária, após a ditadura militar, a população trans não fez parte de nenhum dos projetos. Os corpos trans existem há muitos anos, o que precisa ser reconstruída é a maneira que a gente lida com essa relação”, explicou Maiky.

Por isso, foi frisado por vários dos presentes que é preciso responder aos ataques ampliando a resistência da população trans e também a luta por mais políticas de cidadania. A necessidade de garantir programas de empregabilidade e o combate ao preconceito nos espaços educacionais foram apontados como importantes eixos dessa luta, sendo a violência um dos fatores para a baixa escolaridade da população trans.

A comunidade LGBTIA+ tem uma longa história de luta e resistência organizada e coletiva que não começa apenas com os direitos institucionalizados. Aqueles que foram à roda de conversa em Diadema demonstraram que, apesar da eleição de um prefeito conservador como Taka Yamauchi, seguem dispostos a defender seus direitos e lutar por muito mais, como na pauta da valorização do Ambulatório Trans.

Dando continuidade ao calendário de lutas, a II Marcha Transmasculina de São Paulo foi convocada para o próximo dia 30 de março. A manifestação será um importante momento para fortalecer a comunidade trans e a classe trabalhadora contra os políticos fascistas da burguesia e em seu interesse comum de defesa do serviço público, garantia de pleno emprego e vida digna.

As lições do livro “O Grande Norte”

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Lançado em 1954 pela coleção Romances do Povo, “O Grande Norte” fala sobre a instauração do socialismo numa das regiões mais distantes da Rússia, além de trazer lições sobre o esforço individual que devemos fazer no dia a dia para construirmos um mundo novo.

Clóvis Maia | Redação Pernambuco


CULTURA – Lançado no Brasil no ano de 1954, o romance “O Grande Norte” surpreende, seja pela densidade da leitura, pela pesquisa realizada pelo autor ao tratar do livro ou as lições incutidas ao longo da obra, condensadas por uma escrita primorosa. Não por acaso, o autor, Tikhón Siomúchkin recebeu o prêmio Stálin de Literatura no ano de 1949, maior prêmio de literatura na URSS.

O livro foi lançado no Brasil como 4º volume da coleção Romances do Povo, sob supervisão de Jorge Amado, pela Editora Vitória e foi responsável por popularizar a leitura dos chamados romances socialistas bem como a formação de gerações de leitores ainda hoje, haja vista a procura pelos exemplares seja na internet ou nos sebos por todo o país.

A Editora Vitória foi fundada em 1944 e lançou cerca de 30 romances de cunho socialista e humanista, bem diferente do que estava sendo lançado e produzido na época pelos chamados “Cânones literários”, ou seja, os autores que a imprensa burguesa aclama como bom de ser lido ou não. A Editora Vitória lançou outras obras de cunho político também, tendo encerrado suas atividades por força do golpe de 1964 que proibiu seu funcionamento.

Respeito à realidade social local

O Romance se passa nas regiões geladas da URSS, próximas ao Polo Norte. Tikhón Siomúchkin viveu na região, pesquisou e viveu com os moradores da região, o que lhe motivou a escrever seu histórico romance. Histórico, pois relata um processo real, fruto das modificações sociais e políticas na Rússia após a revolução de Outubro de 1917.

Os Chukchis eram povos nômades, nativos da Sibéria, presentes no mar de Bering, oceano Ártico. Viviam em Yarangas, tendas feitas de madeira e peles de renas, e tinham como principal atividade econômica e de subsistência a caça, a criação de renas ou a pesca de animais marinhos como a morsa, além do comércio com os estrangeiros. Comércio esse pautado no escambo troca de víveres por peles de renas.

Divididos em dois grupos: os da Tundra (vegetação típica das regiões frias), que criavam e comercializavam as peles da rena e os do Litoral, pescadores, e com uma variedade de línguas e dialetos (chukoto, yakut, lamut, yukaghir, entre outras) os povos Chukchis possuíam uma forte tradição secular, costumes bem firmados ao longo de séculos de vivência nas regiões geladas da Rússia czarista, tanto que os Czares, apesar de tentarem não foram capazes de dominar tal povo, isso dês do século XVIII, sendo obrigados a estabelecerem relações comerciais com os mesmos.

Essa relação comercial, pautada na exploração, extorsão e roubo do trabalho dos nativos bem como o descaso por parte das autoridades russas e a separação social, gerada ora pela questão geográfica, pelo nomadismo local ou por certa autonomia cultural do restante da Rússia gerou todo um atraso social em relação ao resto do mundo, além de um claro deslocamento, um isolamento por parte do povo Chukchis do restante do mundo. Dito de outra forma, a base social nativa era mergulhada num primitivismo profundo.

Guiados por um Xamã, os Chukchis acreditavam ter a natureza diversas divindades, espíritos e todo o tipo de superstição com relação ao templo, clima ou acontecimento dia a dia, ou era comum os homens entregarem suas mulheres (que deveriam ser totalmente submissas aos maridos e aos trabalhos domésticos, cuidado dos cães puxadores de trenó, alimentação e trato dos filhos) a seus amigos e vizinhos como um tipo de empréstimo, ou no meio de uma negociação entre ambos. Diante dessa fatídica realidade, mostrada detalhadamente e pormenorizada por Siomúchkin, que O Grande Norte se alicerça, para mostrar.

Um rico enredo literário

No início da década de 20 a URSS estende seu novo governo, leis e costumes para as regiões mais afastadas do centro nervoso, Moscou. No romance, dois jovens bolcheviques, Nikita Serguéievitch (chamado também de Loss) e Zhúkov, do Exército Vermelho e outro do Konsomol, respectivamente, chegam até a região com a missão de instalar um Comitê Soviético local, instruir a população sobre as mudanças relativas ao novo governo socialista, a derrubada do Czar e a implantação do novo regime social, leis e etc.

Loss, o líder Bolchevique, tem que enfrentar as dificuldades da língua, o frio intenso, a superstição e desconfiança local, além da falta de comunicação, a distância familiar e de sua direção, além dos mercadores e contrabandistas, como a personagem Mrs. Thompson, que além de dominar o comércio local, habitava havia décadas na região, casado com uma nativa, apoderando-se dos costumes locais com a intenção de enriquecer e lucrar à custa da alienação do povo Chukchis, mergulhados na interpretação e veneração do estrangeiro como desenvolvido e sábio, ou seja, a velha ótica e lógica do dominador e do dominado.

Os dois bolcheviques se veem tendo que criar meios e métodos para enfrentar as adversidades locais, expulsarem os contrabandistas estrangeiros, ensinar as novas leis para os locais e implantar a nova realidade socialista que ainda não havia chegado por aquela região. Uma lição de superação, de força e exemplo coletivo. Um livro raro, obviamente pouco divulgado e falado e um romance denso, profundo e completo, que não perde em nada para os chamados grandes clássicos mundiais.

Durante toda a obra “O Grande Norte” podemos conhecer os costumes locais, a história dos Chukchis, suas dificuldades em relação aos contrabandistas e como os Bolcheviques fizeram para iniciar as modificações necessárias no local. Detalhe: não pense que essas mudanças significaram mudar a língua, as tradições, impor qualquer modificação para os locais, derrubando seus costumes e etc. Detentores das novas diretrizes, os dois protagonistas fazem de tudo para erguer e fortalecer a cultura local. Criam uma escola, um hospital, e outros direitos antes roubados pelos estrangeiros sobre a tutela do Czar.

Médicos veterinários denunciam jornada exaustiva, salários de miséria e precarização

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Profissionais que se dedicam à saúde dos animais relatam jornadas de até 24 horas e locais de descanso insalubres. “Dá vergonha de falar: o valor do plantão de 12h, quando muito alto é R$ 300”, relata médica veterinária ao Jornal A Verdade.

Diego Barbosa e Alice Wakai | Paraná


TRABALHADOR UNIDO – A medicina veterinária é uma profissão milenar, cujos profissionais cuidam dos animais e previnem doenças transmissíveis aos seres humanos. Porém, o sistema capitalista tem humilhado estes profissionais, submetendo-as à jornadas extenuantes e abusivas pelos donos de clínicas, hospitais veterinários e pet shops.

“Os donos de clínicas e hospitais não investem o suficiente para desenvolver um comércio que equivalha à demanda exigida. Então, acabam construindo e administrando seus estabelecimentos de forma criminosa, subjugando e explorando os “colaboradores”, denuncia Mariana*, do Mato Grosso do Sul.

Trabalhadores relatam descumprimento do piso salarial e acúmulo de funções

Enquanto a lei nº 4.950-A determina a remuneração de 6 salários mínimos para 6 horas trabalhadas por dia, a maioria dos veterinários recebe de 1 a 3 salários mínimos por plantões de 12 horas. De acordo com dados do Movimento LUTE VET, Movimento Nacional de Médicos Veterinários na Luta por Direitos Trabalhistas, a precarização desses trabalhadores impôs a retirada de benefícios básicos à categoria como hora extra ou banco de horas, férias remuneradas, horário de almoço, auxílio alimentação, vale transporte, adicional de insalubridade, auxílio doença ou maternidade.

“Trabalho com base em um acordo verbal, a primeira proposta da empresa foi de uma jornada de segunda a sábado, das 8h às 18h, com um salário de R$ 1.000. Tentei aumentar o valor da minha hora trabalhada e hoje trabalho 6 horas por dia, de segunda à sexta e recebo apenas R$ 600″, disse a veterinária ACS*, de Brasília.

Outra veterinária, relata que a exploração começa desde a faculdade, quando os estágios não oferecem sequer auxílio de transporte. Durante a carreira, os contratos são feitos sem vínculo trabalhista. “Em 3 anos de formada só vi duas vezes contrato por CLT, a maioria trabalha com CNPJ ou simplesmente sem contrato. Na prática, temos obrigações iguais à CLT, mas sem os benefícios. A remuneração dá vergonha: o valor do plantão de 12h, quando muito alto, é R$ 300, mas a média é de R$ 180 a R$ 250. Ou recebe apenas comissões, o que não paga nem o curso de veterinária”, relata a veterinária Claudia, do Rio de Janeiro.

Profissionais desvalorizados

Segundo o Conselho de Medicina Veterinária, há uma alta procura por profissionais especializados, com pós-graduação ou cursos complementares. No entanto, mesmo estes profissionais sofrem com a precarização. “Sou pós-graduada, mas por ter optado por uma carga horária reduzida, sou paga como estagiária, mesmo entregando serviço especializado todos os dias e assinando com o meu CRMV”, disse Mariana, do Mato Grosso do Sul.

Devido à péssima remuneração, estes profissionais muitas vezes sequer conseguem se alimentar ou se locomover. “Quantas vezes pedi dinheiro para amigos e vizinhos para pagar transporte e alimentação para os plantões, porque precisava manter o aluguel em dia. Quantas vezes deixo de comer bem para pagar o aluguel, luz, água e internet”, disse Felipe*, de Brasília.

Locais insalubres e plantões sem descanso

Além da baixa remuneração, os veterinários estão constantemente expostos a doenças, acidentes com animais, assaltos e, no caso das mulheres que ficam sozinhas em plantões noturnos, até mesmo estupros. Nos plantões, os profissionais realizam todas as funções da clínica, incluindo limpeza e recepção, impedindo-os de dar atenção aos animais internados. “Não existem direitos trabalhistas, se você quer férias, paga para outra pessoa para fazer plantão no seu lugar, se suspeita que está grávida já é demitida, se se lesiona ou fica doente, também é demitida”, disse Claudia*, do Rio de Janeiro.

Outro profissional relata o descaso com os locais de descanso. “Já vi “quarto” dentro do consultório, com cama de palete de madeira, sem colchão. Passei duas noites me cobrindo com o meu jaleco, foram 24 horas e o gerente queria que eu ficasse mais 12 horas. Em outra clínica, o quarto era no “centro cirúrgico”, uma sala minúscula, com uma mesa de metal velha e suja! A gente colocava um colchão velho e fedorento no chão e dormia sem travesseiro, em outra clínica, dormíamos dentro de um depósito de ração”, denuncia Carlos*, de São Paulo.

Somente a luta muda a realidade

Segundo outro veterinário, é comum a falta de profissionais auxiliares e até mesmo recepcionistas nos plantões. “Conheço lugares que oferecem internação 24h, mas não tem equipamento para isso. Já fiquei em lugar que quem lava o banheiro era a auxiliar, eu tinha que lavar os cobertores, senão os internados não tinham cobertor. Em outros lugares também já vi faltar soro ou fita de glicemia”, relata Mariana*, de Mato Grosso do Sul.

No capitalismo, a força de trabalho dos veterinários é mais um meio de encher o bolso dos ricos. A única solução é construir um novo tipo de sociedade, a socialista, na qual todos sejam valorizados e respeitados e possam cuidar dignamente dos animais. Assim como os trabalhadores da Pepsico se organizaram pelo fim da escala 6×1 e os rodoviários de João Pessoa deflagram greve por salários dignos é urgente que a categoria se mobilize e se organize.

*Mudamos os nomes verdadeiros para preservar a integridade dos entrevistados.