UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025
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Estudantes do IFPE em Garanhuns realizam ato pelo bandejão

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Estudantes organizados no movimento estudantil realizam ato reivindicando um restaurante acadêmico no IFPE Campus Garanhuns, denunciando a falta de investimento na estrutura do Instituto Federal.

Redação PE


EDUCAÇÃO – Na última sexta-feira (3), estudantes do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), campus Garanhuns, realizaram um protesto pela implementação do bandejão. Com a palavra de ordem: “com fome não se estuda!”, o ato fez parte de uma jornada nacional de lutas organizada pela Federação Nacional de Ensino Técnico (FENET) e pela União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (UESPE).

Organizado pelo movimento Rebele-se pela chapa Aurora em Movimento, que concorre ao grêmio, o ato buscou chamar a atenção para um problema crônico da instituição. Apesar de ter comemorado recentemente 15 anos de funcionamento e atender mais de 1.200 estudantes em cursos técnicos e superiores, o Campus Garanhuns, assim como outras unidades do IFPE, não possui um bandejão.

Cortes no orçamento dos Institutos Federais

Atualmente, os IFs têm o mesmo orçamento que tinham no ano de 2012, quando a rede possuía menos unidades. Essa defasagem orçamentária tem feito com que os estudantes sofram com a falta de estrutura adequada, como laboratórios equipados e acesso à alimentação de qualidade.

Mesmo com todas essas dificuldades, as escolas técnicas continuam sendo uma referência de educação no país. Se o pagamento da dívida pública fosse suspenso por apenas um dia, o valor seria suficiente para construir restaurantes em todos os Institutos Federais e ainda resolver diversos outros problemas de infraestrutura nas escolas, mostrando que a solução é uma questão de prioridade política.

Os estudantes destacaram que a falta de um bandejão força os alunos a dependerem de barracas de alimentos na frente da instituição, o que gera incerteza sobre a qualidade e o custo da alimentação diária. “A gente ter que pedir de fora, vir com fome pra escola ou não comer. Passa o dia com fome quem não tem condições de pedir uma marmita de 20 reais”, destaca Mylena, estudante do IFPE e diretora da UESPE.

Além da pauta principal, o ato também criticou a falta de investimento na infraestrutura dos campi já existentes. Segundo os estudantes, o campus Garanhuns iniciou suas atividades sem estruturas essenciais, como biblioteca, quadra poliesportiva e número adequado de salas de aula, problemas que, em sua maioria, persistem até hoje.

O protesto apontou um ponto de vista à política de expansão da rede federal. Enquanto avança a pressão pela construção dos 100 novos institutos federais, os campi já existentes sofrem com a falta de estrutura adequada.

Os estudantes também se posicionaram contra a implementação do Novo Ensino Médio (NEM) nos Institutos Federais, defendendo que a prioridade deve ser outra: “A reforma que queremos não é a do ensino médio, é por alimentação de qualidade”.

A manifestação foi encerrada com um chamado à mobilização em todas as unidades que enfrentam o mesmo problema, reforçando a urgência da pauta com o apelo: “Bandejão em todos os IFs já! Os estudantes têm pressa, com fome não se estuda!”

É urgente ampliar a rede de proteção para as mulheres paraibanas

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A Paraíba conta com apenas 21 delegacias especializadas espalhadas por 223 municípios do estado, e apenas duas funcionam 24 horas. A precarização das políticas de combate à violência resulta no aumento da violência e casos de feminicídio na Paraíba escancara o quanto é urgente termos uma verdadeira política de combate ao feminicídio e toda violência de gênero.  
Redação Paraíba

MULHERES- Micilene Gomes, de 26 anos, moradora do bairro Valentina, em João Pessoa, foi assassinada na frente dos filhos por seu ex-marido com mais de cem golpes de faca. Ana Kelly Oliveira, de 32 anos, mãe de cinco filhos, foi morta no interior da Paraíba, também por seu ex-marido. Os dois casos aconteceram na mesma semana, no mês de setembro, e demonstram o cenário de violência que vivem as mulheres paraibanas. Já são mais de 20 feminicídios registrados apenas neste ano; o número registrado no primeiro semestre foi o segundo maior da última década. Eles ocorreram em dezoito cidades do estado, das quais somente seis possuem DEAMs (Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher).
A Paraíba conta com apenas 21 delegacias especializadas espalhadas por 223 municípios do estado, e fica pior: apenas duas funcionam 24 horas. Esse cenário se repete quando falamos de outros equipamentos, como a Patrulha Maria da Penha. No ano passado, o governador João Azevêdo, do PSB, anunciou com muito entusiasmo que a nova base da patrulha em Guarabira atenderia mais 28 municípios da região. A realidade é que apenas quatro municípios (Cajazeiras, João Pessoa, Campina Grande e Guarabira) possuem esse equipamento. Também é insuficiente a quantidade de casas abrigo ou de passagem.
Além disso, a subnotificação dos casos e a defasagem na divulgação dos dados impedem um diagnóstico completo. Esse é o reflexo da política de Estado burguesa que tem como prioridade garantir a riqueza dos empresários e não se importa com a vida das mulheres, principalmente, das pobres, trabalhadoras e negras.

Mulheres lutam por mais políticas de combate à violência

Por tudo isso, o Movimento de Mulheres Olga Benario e a Unidade Popular iniciaram uma campanha de abaixo-assinado pela ampliação das DEAMs e pela vida das mulheres. Já foram coletadas mais de mil assinaturas em universidades, manifestações, feiras e locais de trabalho. Em uma das atividades realizadas no Terminal da Lagoa, em João Pessoa, a população demonstrou muito apoio e até fez fila para assinar o abaixo-assinado, principalmente mulheres, que se aproximavam para conversar e relatar casos de violência doméstica e a importância dos equipamentos públicos para garantir a nossa segurança e as nossas vidas.
A iniciativa aconteceu após a leitura da matéria do jornal A Verdade, em homenagem à companheira Gabriela Mariel Silvério, que destacou seu papel na luta pela delegacia 24 horas de Mauá. A partir daí, várias mulheres têm se somado à construção da campanha, como é o caso de May Chapier, estudante da UEPB, que avalia: “É importantíssimo que as mulheres estejam unidas, porque ainda há muita desigualdade de classe e territorial. Existem cidades sem delegacias especializadas no atendimento à mulher e, mesmo na capital, há bairros com índices mais altos de violência em que o atendimento é inexistente ou precário, sem delegacias específicas ou casas de acolhimento para mulheres em situação de violência doméstica.”
É urgente fortalecer as políticas de combate à violência de gênero e a defesa dos direitos das mulheres trabalhadoras. Se organize no Movimento de Mulheres Olga Benario para lutar por uma sociedade mais justa. Justiça por Micilene e Ana Kelly!

“Fora Hugo Motta!”: ato denuncia Presidente da Câmara como inimigo da classe trabalhadora

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Filho da velha política das oligarquias, o Presidente da Câmara dos Deputados foi alvo de denúncias e críticas dos paraibanos na ultima manifestação nacional contra a chamada PEC da ‘Bandidagem’.

Redação Paraíba


BRASIL- As manifestações ocorridas no domingo, dia 21 de setembro de 2025, sacudiram o Brasil em dezenas de cidades contra a PEC da Blindagem, aprovada pela Câmara dos Deputados, que dificulta investigações contra parlamentares, exigindo prévia autorização do congresso em votação secreta dos próprios deputados para que eles sejam investigados. A mudança na lei inviabiliza processos criminais e por isso ficou conhecida por PEC da ‘Bandidagem’. Os privilégios na lei para os parlamentares causaram indignação social e desaprovação com uma enxurrada de críticas nas redes sociais.

Entre os alvos dos protestos do dia 21 de setembro, destaque para o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos), da cidade de Patos – PB. Hugo Motta tem pautado projetos que atacam os direitos sociais, protegem os ricos e privilegiam os deputados. A PEC da Bandidagem foi defendida por Hugo mesmo após as grandes manifestações de rua. No dia seguinte, o presidente disse que a PEC é para “conter supostos excessos do judiciário contra deputados”.

“Nós temos deputados sendo processados por crimes de opinião, temos deputados sendo processados por discursos na Tribuna, temos deputados sendo processados por uso das redes sociais. Essa é a realidade do país hoje”, disse Motta durante evento promovido pelo banco BTG Pactual no dia 22 de setembro.

Filho da velha política

Hugo Motta é filho do prefeito de Patos, Nabor Wanderley (Republicanos) que está no seu 4º mandato como prefeito do município que tem pouco mais de 100 mil habitantes no sertão paraibano. A família do deputado forma uma oligarquia que domina a região há mais de 100 anos. A sua avó, Francisca Motta (Republicanos) é deputada estadual com vários mandatos e já prepara a neta para substituí-la nas eleições de 2026. O pai de Hugo se lançou pré-candidato a senador e faz articulações em outras regiões do estado visando se fortalecer.

Mesmo diante do poder econômico e político da família Wanderley, a cidade natal de Hugo Motta também registrou ato contra a PEC da Bandidagem e dezenas de manifestantes saíram às ruas na tarde do domingo histórico, denunciando a PEC, pelo fim do projeto de anistia e gritando em coro: “fora Hugo Motta”. A concentração para o ato se deu na frente da própria prefeitura no centro da cidade e seguiu em caminhada até a Praça Getúlio Vargas.

A manifestação foi organizada pela Unidade Popular pelo Socialismo (UP), movimentos sociais, sindicais, professores, servidores públicos e contou com cidadãos de diversos segmentos insatisfeitos com a postura do Congresso Nacional e suas pautas antipovo. A organização do ato avaliou a ação como positiva e importante para demonstrar a insatisfação com o atual congresso nacional.

FEPAL: “Plano de Trump” premia “israel” por extermínio de palestinos e diz ao mundo que genocídio compensa

O plano do imperialismo internacional de transformar a Palestina num resort de luxo tem sido rechaçado mundo a fora, enquanto só aumentam as mobilizações em solidariedade à Flotilha Global Sumud e ao povo palestino, que segue como exemplo de luta e resistência, defendendo seu território.  Reproduzimos aqui a íntegra da nota pública da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) sobre o “plano de paz” apresentado por Donald Trump.  


INTERNACIONAL- O escandaloso “Plano de Trump”, feito a quatro mãos com o foragido internacional por crimes de guerra e lesa-humanindade, o genocida Netanyahu, para “acabar com a guerra” em Gaza é uma distopia colonial que despreza e humilha palestinos, tenta varrer para debaixo do tapete o maior crime cometido contra a humanidade no milênio, premia “israel” por exterminar crianças de fome e diz ao mundo que genocídio compensa. Uma vez que essa obscenidade é apresentada pela imprensa comercial do “ocidente” como um “plano de paz”, cabe a esta Federação, novamente, oferecer algo além da tradicional propaganda genocida regurgitada pela mídia à sociedade brasileira.

O primeiro — e óbvio — ponto a ser comentado é o fato de que os EUA, os maiores assassinos da história da humanidade, não têm nenhuma legitimidade para participar ou conduzir um “processo de paz” na Palestina. Os gângsters de Washington, democratas e republicanos, são os verdadeiros mandantes e financiadores do Holocausto Palestino, sendo “israel” nada mais do que um poodle raivoso dos estadunidenses para promover suas guerras de extermínio no Oriente Médio. A única participação que as lideranças políticas e militares dos EUA, tanto o açougueiro Biden quanto o plantonista a administrar o extermínio, Trump, deveriam ter na resolução do genocídio em Gaza é fazer companhia a Netanyahu no banco dos réus do Tribunal Penal Internacional.

Por falar em criminosos de guerra, poucas coisas são mais reveladoras sobre a depravação do “Plano de Trump” do que a reabilitação de Tony Blair, um dos maiores assassinos do século, para a distópica função de governador das ruínas de Gaza. Nem o mais criativo dos roteiristas de uma ficção científica poderia imaginar o retorno do açougueiro de Bagdá no papel de príncipe regente da paisagem pós-apocalíptica de Gaza. Por outro lado, realmente é difícil pensar em outros candidatos tão “qualificados” e de rebaixamento moral tão subterrâneo que poderiam aceitar tal função.

Ao invés de oferecer uma perspectiva real para uma solução política justa e duradoura para Questão Palestina, o “Plano de Trump” aprofunda a ocupação ilegal da Palestina, mantém Gaza sob o bloqueio genocidário israelense, restando aos palestinos passarem as próximas décadas tentando retirar seus familiares dos escombros sob uma administração de fome e condições subumanas. Um insulto às premissas mais elementares do direito internacional e do senso mais básico de humanidade.

Trump se coloca como “soberano de Gaza” não para realizar sua vulgar e egóica ambição por um Nobel da Paz ou necessariamente construir sua “riviera” no enclave palestino, mas para supervisionar o apagamento de provas do genocídio, blindar “israel” e os perpetradores da maior matança propocional da história de responderem pelo Holocausto Palestino nos tribunais internacionais e conduzir o processo de despalestinazação de Gaza e de toda a Palestina Histórica, este o objetivo original do projeto sionista “do Rio ao Mar”.

Em última análise, Trump está premiando “israel” pelo uso da fome como arma de guerra, um crime de lesa-humanidade, e abrindo um precedente histórico macabro e perturbador: cometer genocídio, aniquilar uma sociedade inteira e matar crianças de fome compensa. Afinal, o que há para negociar sob a perspectiva palestina? O que é oferecido ao povo palestino na costura desse “acordo”, do qual nenhum palestino tomou parte ou foi consultado? Capitulação ou extermínio total?

Os dispositivos do tal plano não dão conta nem de resolver questões urgentes como o fluxo de ajuda humanitária à população palestina sob o extermínio pela fome há dois anos! Que dirá oferecer garantias reais de que “israel” não retomará a orgia genocidária em Gaza quando “der na telha” ou permitir a reconstrução do enclave palestino. O plano soterra qualquer prognóstico de uma resolução para a questão palestina nos termos do que é consenso na comunidade internacional. Mais do que isso, prepara as bases para a nova etapa do Holocausto Palestino.

Por fim, ao contrário do que diz a propaganda sionista papagaiada na imprensa comercial, não está nas mãos “do Hamas” e do conjunto de forças palestinas aceitar ou não a imoral “proposta” de Trump e de “israel”, mas sim ao mundo confirmar se permitirá que a chantagem do extermínio de pessoas pela fome seja transformada em “moeda de negociação”, que a aniquilação da vida seja tornada “instrumento de diplomacia” e que genocídio, o crime dos crimes, compensa.

Palestina Livre a Partir do Brasil, 1 de outubro de 2025, 78º ano da Nakba

Nota disponível aqui.

Assata Shakur, presente!

Assata Shakur faleceu em 25 de setembro de 2025, uma das maiores militantes da causa antiracista do mundo. Vivendo há mais de 40 anos como exilada em Cuba, foi exemplo de enfrentamento e combatividade diante do país mais violento e racista do mundo, os EUA. Assata viveu uma vida em defesa do socialismo e da revolução. 

Clóvis Maia| Redação Pernambuco


 

Nascida JoAnne Deborah Byron, justamente no Queens, o maior distrito de Nova York, onde pode ver de perto todas as mazelas do capitalismo, sobretudo entre a população negra, em meio a toda segregação racial americana. Criada em Wilmington, Carolina do Norte, teve que deixar a escola ainda no ensino médio para poder trabalhar.

Conheceu o movimento estudantil na universidade, onde aprofundou seus estudos no Marxismo após conseguir entrar no ensino superior em Nova York. É por meio da militância que ela conhece e ingressa no Partido dos Panteras Negras, que fora fundado em 1966, onde desenvolve uma profunda campanha de formação, diversas ações sociais no Harlem, e destaca-se junto a nomes como Angela Davis na direção do partido. No início dos anos 70 ela se afasta dos Panteras Negras e funda o Exército de Libertação Negra (BLA), que tem como tática ações de guerrilha urbana  em defesa da revolução e contra o racismo. É nesse período que ela adota o novo nome: Assata (“aquela que luta” ou “guerreira”) Shakur  (“grata”).

Enfrentamento e luta

Após as ações organizativas dos Panteras Negras, sobretudo nos bairros mais populares, e temendo um levante revolucionário contra as elites, o governo americano usou de tudo para destruir a organização popular. Se a violência usada para calar Malcolm X (1965) e Martin Luther King (1968) agora encontrava os negros armados e organizados político e ideologicamente, é isso precisava ser enfrentado, como mostra o filme “Os Panteras Negras”, de 1995, adaptação do livro de Melvin Van Peebles, produzida e dirigida por Mario Van Peebles, é uma obra obrigatória para entender a luta política travada naquele período nos EUA.

Assata foi presa após uma ação coordenada da repressão do Estado americano, que a acusou de ter assassinado um policial em Ney Jersey, fato que ela sempre negou. Presa em 1973, ela foi condenada a prisão perpétua em 1979, nesse período, foi torturada, mantida na solitária, inclusive estando também em um presídio de segurança máxima para homens, numa escancarada mostra da violação dos direitos humanos e da política racista do Estado norte-americano.  Ela consegue escapar do da Penitenciária em Nova Jersey, prisão de segurança máxima, após seus companheiros entrarem disfarçados de visitantes, uma ação Revolucionária do Exército de Libertação Negra (BLA), e é recebida em Cuba, onde passa a ser exilada com apoio de Fidel Castro, a quem chamou de “herói dos oprimidos”, onde viveu de 1984 até entrar para a imortalidade em 25 de setembro de 2025.

Sempre consequente

“Eu sou uma escrava fugitiva no século XX. Devido à perseguição governamental, não tive escolha a não ser fugir da repressão política, do racismo e da violência que dominam as políticas do governo dos EUA em relação aos negros. Sou prisioneira política e vivo exilada em Cuba desde 1984”, escreveu em uma Carta Aberta publicada na revista Counterpunch em 30 de dezembro de 2014. Em Cuba, Assata continuou sua militância em defesa dos direitos dos negros. Sua autobiografia, escrita em Cuba em 1987, defende o socialismo como única forma de libertação dos oprimidos. Falando sobre a importância da organização ela afirma:  “Uma das coisas mais importantes que o Partido fez foi deixar bem claro quem era o inimigo” (…) “não os brancos, mas os opressores capitalistas e imperialistas”. (…) “Somos ensinados desde muito cedo a ser contra os comunistas, mas a maioria de nós não tem a menor ideia do que é o comunismo”.

Uma das pioneiras do feminismo negro, Assata passou a ser procurada pelo FBI e teve seu nome vinculado na lista de terroristas mundiais pelo governo americano em 2013. Várias foram as pressões ao governo de Cuba, exigindo sua deportação.

Em maio desse ano, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, colocou uma foto de Assata nas redes sociais, atacando a ilha socialista por manter Shakur em seu solo. A mesma política foi imposta para Mumia Abu-Jamal,  jornalista e militante, o ex-pantera negra continua preso na solitária desde dezembro de 1981, com a mesma acusação de ter assassinado um policial, condenado à morte por esse mesmo sistema judicial fascista, racista e desigual.

Assata faleceu aos 78 anos, morrendo de causas naturais, entrando para a história como uma lutadora incansável e sem renunciar sua luta e sua trajetória. Em um de seus poemas, “Afirmação”, ela diz:

“Eu acredito no viver (…)

Eu acredito na vida.

E eu vi o desfile da morte (…)

Eu vi a destruição da luz do dia,

E vi vermes sedentos de sangue

Sendo adorados e saudados.

Eu vi os dóceis tornarem-se cegos

E os cegos tornarem-se prisioneiros

Num piscar de olhos.

Eu andei sobre cacos de vidro.

Eu admiti meus erros e engoli derrotas

E respirei o fedor da indiferença.

Eu fui trancafiada pelos injustos.

Algemada pelos intolerantes.

(…) Um muro é apenas um muro

E nada além disso.

Ele pode ser posto abaixo.

Eu acredito no viver.

Eu acredito no nascimento.

Eu acredito na doçura do amor

E no fogo da verdade (…)

 

 

Assata Shakur, entrou para a imortalidade daquelas que lutam pelo melhor da humanidade. Como costumamos lembrar, Assata presente, agora e sempre!

Greve na UEPB: estudantes e professores na luta por uma Universidade pública, gratuita e de qualidade

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Docentes e estudantes da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) estão numa grande mobilização em defesa do ensino de qualidade e contra o sucateamento do ensino superior na Paraíba. 

Nayara Cordeiro | Movimento Correnteza (PB)


 

EDUCAÇÃO – A Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) vive um dos momentos mais cruciais de sua história. Desde 22 de setembro, professoras e professores estão em greve por tempo indeterminado, decisões tomadas em assembleia geral descentralizada da ADUEPB que atinge todos os campi. A paralisação é a resposta ao descumprimento sistemático da Lei de Autonomia (nº 7.643/2004), ao congelamento de progressões e concursos e ao estrangulamento deliberado do orçamento.

Ao mesmo tempo, o movimento estudantil também se levanta. Na última semana de setembro, assembleia multicampi aprovou indicativo de greve estudantil, formando uma comissão estudantil  para dialogar e agir junto ao sindicato dos docentes. O objetivo é claro: que a greve se encerre com conquistas para todas as categorias, garantindo assistência estudantil, restaurante universitário, moradia universitária e bolsas de permanência durante a paralisação, e que se construa um plano estadual de permanência estudantil com orçamento próprio.

 

O projeto de sucateamento do governo paraibano

Os motivos da greve não são novos. Há anos, o governador João Azevêdo (PSB) e o vice Lucas Ribeiro (PP) mantêm a universidade estrangulada com concursos travados, progressões congeladas e cortes nas bolsas. A dívida do retroativo das progressões já supera R$75 milhões. Há 393 docentes temporários para apenas 790 efetivos, segundo dados oficiais de 2024.

Na Assembleia Legislativa, presidida por Adriano Galdino (Republicanos), nem situação nem oposição cumprem seu papel de fiscalizar o Executivo. O orçamento enviado pelo governo é aprovado sem resistência. A oposição aparecem esporadicamente para usar a pauta da UEPB como palanque.

 

Lei da Autonomia e números da crise

Criada em 2004, a Lei da Autonomia deveria garantir 3% da Receita à UEPB. O artigo 3º determina que os recursos destinados à universidade constem obrigatoriamente de rubrica própria no orçamento do Estado, calculados anualmente com base na receita ordinária prevista para cada exercício financeiro.

Em 2025, conforme a Lei Orçamentária Anual do Estado da Paraíba, a receita total foi de R$21.365.510.629,00. Aplicando-se o percentual mínimo de 3% previsto na lei, o repasse para a UEPB deveria ser de R$640.965.318,87. No entanto, de acordo com dados da própria universidade, o valor efetivamente repassado foi de apenas R$455.073.874,00, uma diferença de R$185.891.444,87 a menos para a UEPB.

Esse cenário se repete ano após ano: em 2023 faltaram mais de R$152 milhões; em 2024, mais de R$171 milhões. O governo do Estado não cumpre a Lei da Autonomia, e a Assembleia Legislativa aprova orçamentos inferiores ao que a universidade realmente necessita, mantendo a UEPB refém dos caprichos políticos.

 

O movimento estudantil entra em cena

Semanas antes da deflagração da greve docente, o Movimento Correnteza já mobilizava os campi da UEPB sobre a crise orçamentária. Foram passagens em sala, panfletagens, convocações para audiências públicas e participação em paralisações, em diálogo direto com a ADUEPB, para tentar evitar que a situação chegasse ao ponto da greve. Esse esforço do sindicato, voltado a abrir canais de negociação entre a UEPB, o governo e a Assembleia Legislativa, foi ignorado pelo governo estadual.

Diante disso, com a deflagração da greve dos professores, o movimento estudantil compreendeu que precisava cumprir seu papel histórico: unir-se aos trabalhadores da educação. O indicativo de greve estudantil aprovado na Assembleia Unificada realizada no dia 29 de setembro, com participação de estudantes de todos os campi da UEPB e convocada pelos Movimentos Estudantis, marcou o ápice dessa mobilização, unificando estudantes e docentes no mesmo lado da trincheira. Desde então, estudantes têm participado de panfletagens, diálogo com a população, sessões itinerantes da Assembleia Legislativa e demais atividades convocadas pelo comando de greve docente e a comissão estudantil.

Dentre as pautas apresentadas pela comissão estudantil estão a garantia do funcionamento do RU e moradia universitária durante a greve, manter bolsas acadêmicas e de permanência durante a greve, construção de um Plano Estadual de Permanência Estudantil e o cumprimento da Lei de Autonomia.

 

Panorama nacional: o ataque é geral

A crise da UEPB é parte de um quadro mais amplo. Em Minas Gerais, o governador Romeu Zema (Novo) ameaça transferir a UEMG para a União, abrindo caminho para privatizações. No Rio de Janeiro, a UERJ enfrenta atrasos salariais e cortes de bolsas. Na Bahia, a UNEB sofre restrições orçamentárias e atrasos de repasses, deixando professores sem reajuste e estudantes sem assistência básica.

As universidades estaduais brasileiras vivem uma crise orçamentária que não é fruto do acaso, mas resultado direto da política de cortes, sucateamento e privatização do ensino superior. A UEPB, patrimônio do povo paraibano, não escapa dessa realidade: falta verba para a manutenção da estrutura, laboratórios e assistência estudantil, enquanto professores e técnicos têm seus direitos trabalhistas atacados e estudantes convivem diariamente com a precarização e a falta de dignidade para estudar.

O governo da Paraíba, assim como tantos outros pelo país, trata a educação pública como gasto supérfluo, e não como investimento estratégico para o desenvolvimento da sociedade. Esse descaso aprofunda a desigualdade: a juventude trabalhadora, que depende da universidade pública, vê seu futuro ameaçado por cortes e pela lógica mercadológica que tenta transformar a educação em mercadoria.

“O governo e as oligarquias paraibanas querem que a UEPB sobreviva apenas como cabide eleitoral. Nossa luta é para garantir que a universidade continue sendo um espaço do povo, da juventude e da classe trabalhadora. Para que os estudantes possam estudar com dignidade, com comida na barriga e um teto para dormir – o que hoje não é uma realidade em todos os campi, já que faltam RU e moradia universitária”, afirma Sheyla Silva, estudante de Sociologia da UEPB.

 

A UEPB vale a luta!

Os estudantes da UEPB não são massa de manobra nem desinformados. O movimento estudantil é organizado, combativo e de luta. Ele continuará firme na luta pela recomposição do orçamento e pela assistência estudantil.

A UEPB vale a luta, mas essa luta tem que ser organizada. Não basta reclamar ou esperar que soluções venham de cima. Para que a greve se encerre com vitória, é necessário fortalecer os centros e diretórios acadêmicos, ajudar a reconstruir um DCE combativo e se somar às mobilizações nacionais e locais pela defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade.

A luta pela UEPB não é apenas por orçamento. É pela dignidade de estudar, por comida no prato, teto para dormir e futuro para a juventude paraibana. É hora de unificar forças, fortalecer a comissão estudantil e dizer em alto e bom som: a UEPB vale a luta!

 

 

A advocacia popular na defesa dos explorados e oprimidos

Para a construção da luta popular, a advocacia pode ter papel importante. É certo que transformação da vida dos oprimidos não virá por meio do Direito ou de um processo judicial, porém a advocacia popular pode ser valiosa aliada, dando condições para o aprofundamento das lutas e utilizando o Direito como mais um campo de enfrentamento aos grandes ricos.

Leonardo Silva | Núcleo de Advocacia Popular – MLC


SOCIEDADE – A luta ideológica, responsável pela disputa dos corações e das mentes, insere ilusões no seio do povo com o intuito de impedir a organização revolucionária dos trabalhadores. A “meritocracia” enquanto critério para “vencer na vida” e o “empreendedorismo” como solução para a exploração são exemplos disso. Com o trabalho jurídico não é diferente.

É comum que se trate o trabalho do advogado como profissão de elite, ligada às instituições de poder político e, por isso, mais próxima da burguesia do que do proletariado.  A verdade, porém, é de precarização do trabalho, com a negação de direitos trabalhistas, baixos salários, desemprego e crescentes casos de problemas de saúde mental.

A “uberização” da advocacia se dá por meio de plataformas digitais, que, aproveitando-se do alto número de desempregados e autônomos, oferecem serviços de intermediação entre escritórios e esses profissionais, chamados de correspondentes jurídicos, que, por necessidade, acabam realizando audiências, fazendo protocolos, escrevendo petições e recursos por valores absurdos. A média de recebimento por audiência – que pode durar horas – fica entre R$ 50,00 e R$ 70,00, sem contar a taxa cobrada pela plataforma.

A situação não é muito diferente nos grandes escritórios, que, como verdadeiros monopólios, dominam grande parte do mercado. De acordo com a plataforma Indeed, a remuneração média no Brasil para um advogado recém-formado é de R$ 2.873,00 (menos de dois salários mínimos). Esse baixo salário, muitas vezes, não vem acompanhado de direitos trabalhistas em razão das contratações como associados ou pessoas jurídicas (PJ). Assim, o que se encontra na advocacia capitalista são extensas jornadas de trabalho, pressão por resultados e, em troca, pobreza e ausência de direitos.

 

Trabalho classista

Para o enfrentamento à precarização do trabalho, à violência policial, aos despejos indignos, à situação dos presídios e, no geral, para a construção da luta popular, a advocacia pode ter papel importante. É certo que transformação da vida dos oprimidos não virá por meio do Direito ou de um processo judicial, mas pela tomada do poder pela classe trabalhadora organizada. Porém, a advocacia popular pode ser valiosa aliada, dando condições para o aprofundamento das lutas e utilizando o Direito como mais um campo de enfrentamento aos grandes ricos.

Por isso, em 2024, o Movimento Luta de Classes (MLC) em São Paulo criou o Núcleo de Advocacia Popular (NAP), que reúne profissionais de diferentes cidades para lutar ao lado dos movimentos sociais, aprendendo com eles, bem como organizando a categoria para obter melhores condições de vida.

As reuniões do NAP-MLC ocorrem quinzenalmente, de forma virtual em razão das diferentes cidades em que residem os membros. Nos encontros, é realizado um trabalho de formação política a partir do marxismo-leninismo – com leituras do jornal A Verdade e de obras que relacionam a luta política ao Direito – e o debate prático, com organização e divisão de tarefas, acerca dos processos. Há advogados especializados em diferentes áreas, como Direito Penal, Civil, Trabalhista, Tributário, Sindical e Administrativo, de forma que cada camarada aprende com os demais, formando um coletivo sólido em defesa dos movimentos sociais. 

O resultado da construção dessa luta vem sendo colhido. Desde a organização, o NAP-MLC conseguiu, por exemplo, a suspensão do despejo da Casa Laudelina de Campos Melo, situada no bairro do Pari, em São Paulo capital, construída pelo Movimento de Mulheres Olga Benario e que atendeu mais de dez mil mulheres vítimas de violência.

As solturas de companheiros e companheiras presos injustamente enquanto lutavam pelo povo são outro grande exemplo de vitórias que vieram desse trabalho, em apoio à luta política. A libertação dos companheiros presos nas Batalhas da Alesp e dos Ferroviários, seriamente agredidos pela Polícia Militar; a soltura e o arquivamento da investigação contra Matheus, militante da União da Juventude Rebelião, preso pelo porte de uma tesoura de unha em manifestação contra o aumento do preço das passagens – e acusado de tentativa de abolição do Estado; e a revogação das medidas cautelares e o arquivamento da investigação contra uma companheira presa por se manifestar contra a militarização das escolas. Um saldo bastante positivo desse trabalho.

E não é só. O Núcleo de Advocacia, em junho de 2025, após ampla luta popular – com a ocupação da Secretaria de Habitação da Prefeitura de São Paulo – conseguiu ainda a suspensão da reintegração de posse da Ocupação Chaguinhas, situada no Centro de São Paulo, organizada pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), e que abriga famílias que perderam suas casas por conta das enchentes e dos despejos ilegais ocorridos no Jardim Pantanal.

 

Socialismo como realização da justiça

Nos bancos das faculdades de Direito, muito se discute acerca do conceito de justiça. No ensino passado pela burguesia, fala-se que a efetivação da justiça é a aplicação das leis, sem questionamentos acerca dos interesses políticos que comandam as decisões no geral. 

 Mas a vida no meio do povo nos ensina que não há justiça enquanto o povo passa fome. Não há justiça enquanto famílias vivem nas ruas após despejos de imóveis que ficarão abandonados. Não há justiça no genocídio e prisão da juventude negra e periférica com as mesmas armas que matam o povo palestino. Se o Direito serve aos grandes ricos, então nada tem a ver com justiça.

Da mesma forma, as faculdades de Direito ensinam que o Estado é neutro, criador de um sistema de justiça do qual o advogado é parte, com a única finalidade de resolver os conflitos sociais e promover a conciliação entre as classes sociais para o benefício de todos.

Porém, a luta popular e o estudo do marxismo-leninismo esclarecem que “o Estado é um órgão de dominação de classe, um órgão de opressão de uma classe por outra, é a criação da ‘ordem’ que legaliza e consolida esta opressão moderando o conflito de classes” (V. I. Lênin, O Estado e a Revolução).

Não há neutralidade. O Estado é uma forma de organização da opressão feita pelos ricos e para os ricos. É o Estado que institui as polícias que matam os filhos dos trabalhadores diariamente; que prende nossos camaradas em presídios sujos, desumanos; e que despeja famílias vulneráveis do único teto que conseguiram construir. Nessa luta de classes que se acirra a cada dia, é hora de os advogados tomarem o lado dos seus, o lado da classe trabalhadora.

Apenas com a organização do proletariado e a tomada do poder será possível falar em mudança profunda desse cenário. A construção do socialismo, com o fim da fome, da miséria, do desemprego e da violência, é a realização da justiça. E a advocacia deve ser parte disso.

A experiência do trabalho do NAP-MLC mostrou que a advocacia popular e socialista deve ser construída para lutar ao lado dos demais seguimentos da classe trabalhadora da qual os advogados fazem parte. É possível criar dezenas de núcleos de advocacia popular pelo Brasil. Porém, isso demanda um grande trabalho de organização e atenção dos núcleos dos movimentos sociais. Essa é nossa tarefa, camaradas.

Estudantes expulsam fascistas e impedem evento golpista na UFPR

DCE da UFPR organiza estudantes em ato antifascista para barrar evento que promovia anistia para o fascista Bolsonaro e sua corja de golpistas. O evento foi cancelado e estudantes foram duramente reprimidos pela polícia militar 

María Victoria e Felipe Tubiana | CURITIBA (PR)


JUVENTUDE – No dia 21 de agosto, estudantes da UFPR foram surpreendidos pela divulgação de uma palestra intitulada “Como o STF tem alterado a interpretação constitucional?”, organizada pelo vereador de extrema-direita Guilherme Kilter (NOVO), que tinha o claro intuito de descredibilizar as ações do STF frente ao julgamento e punição aos fascistas do 8 de Janeiro, em especial o fascista Jair Bolsonaro.

Na própria divulgação do evento, o palestrante exibia foto com camisetas com os dizeres “Free Bolsonaro” (Bolsonaro Livre, em inglês) e “Fora Moraes”, referindo-se ao juiz do STF, Alexandre de Moraes.

Ao saber do evento, o DCE da UFPR, dirigido pelo Movimento Correnteza e outras forças políticas, convocou um ato antifascista em frente ao Prédio Histórico da UFPR, chamando todos os estudantes e entidades estudantis da universidade a denunciar o evento golpista e antidemocrático.

 

Fora fascistas da UFPR

No final da tarde, dezenas de estudantes e membros de movimentos sociais foram chegando para o ato. Do lado de fora do prédio, estudantes puxavam palavras de ordem. Depois de uma hora, ocuparam o local, formando uma corrente em frente ao salão onde aconteceria o evento. A agitação política se intensificou e os “palestrantes” foram recebidos pelas palavras de ordem “Recua fascista, recua!”, “Sem Anistia” e “Eu quero ver Bolsonaro na prisão”. 

Graças à grande mobilização, o evento foi cancelado, mas os fascistas e sua equipe insistiram em permanecer no prédio. Começaram a insultar e ameaçar os estudantes, empunhando celulares com o intuito de fazer filmagens para seus famosos “cortes”. “Um segurança ameaçou quebrar meu braço, estou com o ombro todo machucado e todo roxo”, relatou Gabriel, estudante de Geografia e coordenador estadual do Movimento Correnteza.

Após a gigantesca pressão dos manifestantes, um dos provocadores foi expulso e colocado para fora da universidade. Enquanto isso, outro se escondeu em uma das salas do prédio. Aos prantos, ele alegou, falsamente, que havia sido sequestrado, com o objetivo de obter ajuda da polícia militar. 

 

Repressão policial

Apesar de não ter autorização para entrar na universidade, a polícia invadiu o prédio e reprimiu com truculência os estudantes. Usando balas de borracha, spray de pimenta e bombas de efeito moral contra a manifestação pacífica, atingiu várias pessoas. Um jovem negro, estudante de Ciências Sociais, foi arbitrariamente espancado até desmaiar, levado à delegacia e detido injustamente.

“Eles me pegaram com o escudo, me seguraram pela mochila e me jogaram no chão, me segurando pelas costas. Só pararam de me bater quando falei que era assessora parlamentar. Foram vários os tiros de chumbo, pois houveram estilhaços, só depois percebi o sangue”, relatou Ana Clara, estudante de Filosofia.

Mais uma vez, a polícia mostrou para que serve: ser o aparato de repressão e de violência de classe do Estado, para defender o interesse de fascistas provocadores e antidemocráticos ao invés de proteger os direitos da classe trabalhadora e dos estudantes. Depois da pressão do DCE junto à Reitoria, o estudante detido foi acompanhado pela equipe da universidade e solto no mesmo dia.

O ato foi concluído com uma enorme plenária, que denunciou a violência policial e declarou a vitória do movimento estudantil, que expulsou os fascistas da UFPR delimitando claramente que na UFPR fascista não se cria! 

Itaú promove demissão em massa de mil trabalhadores

Modelo híbrido de trabalho impõe exigência desumana por produtividade à funcionários do banco Itaú.  Trabalhadores se organizam para lutar contra as demissões injustificadas e a exploração

MLC | São Paulo


TRABALHADOR UNIDO – O Itaú Unibanco (o maior do país) registrou um lucro recorde de R$ 41,4 bilhões no começo deste ano. Mesmo assim, realizou uma demissão em massa de aproximadamente mil trabalhadores neste mês de setembro. A justificativa: “incompatibilidade” entre a marcação de ponto e a atividade registrada nas plataformas de trabalho durante o período de atuação remota ou híbrida. A ação gerou indignação entre os funcionários do banco e o Sindicato dos Bancários de São Paulo, que denuncia a falta de transparência e o impacto desumano da medida em um cenário de alta lucratividade da empresa.

 

Demissão sem aviso

Os trabalhadores desligados relataram que não foram notificados ou advertidos previamente sobre qualquer problema de produtividade. Muitos foram pegos de surpresa, sendo chamados em reuniões matinais com seus coordenadores para receber o comunicado de desligamento e, na sequência, encaminhados para os procedimentos de desvinculação.

Foi apurado que o plano inicial do Itaú envolvia o desligamento do dobro de funcionários, cujas atividades foram classificadas como “ociosas” no modelo remoto. No entanto, não foram divulgados os critérios exatos utilizados para selecionar o grupo de demitidos.

Os relatos dos trabalhadores demitidos escancaram uma realidade contraditória: muitos afirmam ter trabalhado em horários estendidos, incluindo noites, feriados e finais de semana, sem folgas compensatórias. Além disso, alguns haviam recebido recentemente avaliações de desempenho positivas, premiações por mérito e até promoções, o que torna a justificativa de “baixa produtividade” ainda mais questionável.

 

“Modelo Itaú”

Essa movimentação não é isolada. Nos últimos anos, o Itaú tem implementado uma série de mudanças em sua política de trabalho, dentre elas:

Final de 2021: Inicia estudos para o retorno ao trabalho presencial. No ano seguinte, já foram realizados alguns testes e adotaram um modelo voluntário, onde as equipes poderiam eventualmente trabalhar junto no presencial.

Maio de 2023: Corte de cerca de 150 funcionários de sua empresa de tecnologia ZUP Innovation.

Setembro de 2023: Banco implementa o regime de trabalho híbrido, exigindo a presença física no polo de trabalho pelo menos duas vezes por semana. Este modelo, conhecido popularmente como “Modelo Itaú”, tornou-se uma referência no mercado.

Setembro de 2024: Um novo corte, similar ao mais recente, mas ocorreu de forma mais discreta, também sob o argumento de “falta de ética dos trabalhadores em relação ao preenchimento do ponto com a jornada”.

 

Lucro recorde

A razão para essas demissões é a busca incessante por lucros cada vez maiores para os investidores do banco. Somente na última década, o lucro líquido do Itaú é estimado em quase R$ 300 bilhões.

Para ilustrar seu crescimento financeiro: em 2013, o lucro líquido reportado pelo banco foi de R$ 15,6 bilhões. Já em 2014, esse valor cresceu para R$ 20,6 bilhões (mais de 32%). No começo deste ano, Itaú Unibanco apresentou mais um novo recorde de lucro líquido entre os bancos brasileiros, atingindo R$ 41,4 bilhões, um crescimento de 16,2% em comparação ao ano anterior.

Paralelamente à redução de custos com pessoal, os trabalhadores que permaneceram no banco relatam um clima de intensa pressão por resultados, com a gestão afirmando que a reposição dos funcionários cortados não será necessária, mantendo prazos e metas já considerados inatingíveis.

 

A resposta do Sindicato

O Sindicato dos Bancários de São Paulo classificou a medida como uma “ilegal exposição de centenas de trabalhadores”. Em 11 de setembro, o Sindicato realizou uma plenária online que reuniu mais de 400 trabalhadores demitidos.

Durante a atividade, foram anunciadas as próximas ações, que incluem o ingresso de uma ação judicial por quebra do Acordo Coletivo por realizar uma demissão em massa sem negociar com o sindicato e uma ação por danos morais, reforçando que somente a categoria unida em prol da luta é capaz de mudar essa realidade.

 

Ocupação do antigo Dops resiste em Belo Horizonte

Sede do antigo DOPS-MG, ocupada por movimentos sociais em abril e transformada em Memorial dos Direitos Humanos, resiste à reintegração de posse e ataques da polícia militar em Belo Horizonte

Renato Campos Amaral | Comissão Independente do Memorial Ocupado (MG)

A ocupação do Memorial dos Direitos Humanos de Minas Gerais, na sede do antigo DOPS, em Belo Horizonte, completou 5 meses. Em 1º de abril de 2025, movimentos sociais organizados pelo Partido Comunista Revolucionário (PCR) e pela União da Juventude Rebelião (UJR) ocuparam as dependências do antigo Departamento de Ordem Política e Social para lutar pela abertura definitiva daquele espaço como memória dos que tombaram na luta contra a Ditadura Militar fascista no Brasil. 

Assim como na luta armada contra o regime militar, onde os revolucionários raptavam embaixadores para a troca de presos políticos de várias organizações, o PCR e a UJR fizeram a ação e convidaram as organizações políticas e demais movimentos sociais a se incorporarem à ocupação do Memorial para ampliar a luta por memória, verdade e justiça. 

Fruto disso, foi criada a Comissão Independente do Memorial Ocupado, que vem garantindo a manutenção da ocupação e os enfrentamentos que temos com o governo do Estado, dirigido pelo fascista Romeu Zema (NOVO). Esta comissão é composta por companheiros e companheiras com histórico na pauta dos direitos humanos, sindicalistas e historiadores que pesquisam o tema.  

O Memorial tem quatro andares, sendo o primeiro abaixo do nível da rua e onde se encontra a carceragem. Todos os andares funcionaram como espaços de tortura, compartilhados entre o DOPS  e o DOI-Codi.

Nestes cinco meses de ocupação, vencemos o cerco de um mês e meio da polícia militar e iniciamos as visitas mediadas ao local, onde apresentamos o prédio aos visitantes e explicamos o funcionamento macabro que a ditadura dava àquele espaço. 

A grande repercussão desta luta nos meios de comunicação deve-se à grande pressão popular. Com muito apoio político, conseguimos derrubar a reintegração de posse do governador contra nosso Memorial e, com isso, estabelecer uma mesa de conciliação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais. 

Este processo das visitas mediadas se expandiu com o fim do cerco da PM. Atualmente, recebemos no Memorial Ocupado professores, estudantes, ex-presos políticos e a população em geral. Ao todo, já recebemos 4.800 pessoas inscritas pelo formulário para visitação. Entre as visitas, destaque para a ministra dos Direitos Humanos Macaé Evaristo e vários parlamentares comprometidos com a causa, bem como da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Diariamente, militantes do PCR, da UJR, da UP e demais movimentos se revezam na manutenção e cuidados com o espaço. Desta forma, o prédio abandonado pelo governo cumpre função social dado por força dos comunistas, socialistas, anarquistas, democratas, progressistas e demais defensores dos direitos humanos.

Mesmo sendo já uma realidade, a luta pelo Memorial dos Direitos Humanos continua. É preciso impedir o governo Zema de fechar o prédio, vendê-lo e apagar esta importante memória. Nossa luta é para que o Estado assuma as obras necessárias para a adequação do prédio nos moldes do projeto museológico já elaborado por professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), além de garantir que a gestão do espaço tenha participação ativa dos movimentos ocupantes e familiares das vítimas da ditadura. Continuamos aqui, resistindo na luta por memória, verdade e justiça.

Não são “acidentes”: a pandemia da morte no trânsito

“Quem tem mais pressa

Que arranje um carro

Pra andar ligeiro

Sem ter porque

Sem ter pra onde

Pois é, pra quê?”

(Sidney Miller, “Pois é, pra quê?”. 1968)

Maria Ferreira e Júlia Andrade


BRASIL – Os acidentes de trânsito matam 1 milhão e 200 mil pessoas por ano, segundo o Relatório Mundial sobre a Situação da Segurança Viária, da OMS. As lesões no trânsito são a primeira causa de morte entre crianças e jovens de 5 a 29 anos no mundo. Do total de mortes, 93% ocorrem em países de baixa/média renda, que concentram apenas 60% dos veículos.

No Brasil, o trânsito é uma das principais causas externas de morte e figura no Atlas da Violência ao lado de categorias como “armas de fogo”. Segundo dados do Ministério da Saúde, sinistros de transporte terrestre mataram nos últimos anos, em média, 45 mil pessoas/ano, o que representa algo como 123 mortes por dia, todos os dias do ano. Estima-se uma média de 300 mil feridos graves anualmente no Brasil, ou seja, mais de 821 pessoas que têm parte de seu corpo seriamente comprometida em sinistros de trânsito todos os dias. 

Os números médios de óbitos ultrapassam, por exemplo, 30 vezes o número de mortes anuais por dengue no país (1.356 óbitos, em 2024), o número de homicídios cometidos com armas de fogo (32.749, em 2023) e se aproximam do total de mortes por homicídio, que foram 45.747, em 2023. Mesmo assim, as vítimas desses acidentes seguem invisibilizadas na agenda pública.

Apesar da dimensão da tragédia, o tema é tratado como fatalidade, um “mal natural”. O uso da palavra “acidente”, aliás, reforça a ideia de imprevisível, inevitável, sem causa aparente. O termo mais adequado é “sinistro de trânsito”, pois reconhece que essas ocorrências são previsíveis e, portanto, evitáveis. A persistência do termo “acidente” serve para esconder responsabilidades (do governo e dos grandes empresários) e ocultar suas causas: infraestrutura precária, modelo de cidade excludente, negligência estatal e a lógica da produção capitalista, um sistema que mata.

É comum vermos na mídia que os sinistros de trânsito são culpa de “falha humana”. Humanos falham, vejam só! Se cansam, têm pontos cegos e diferentes tempos de reação. Condições humanas naturais e previsíveis, aprofundadas pela precariedade da vida sob o capitalismo. Assim como a chuva não é culpada por enchentes, mas sim a ausência de planejamento urbano e sistemas de proteção, os “erros humanos” não devem isentar o Estado e os ricos empresários da responsabilidade. Mortes em vias sem calçadas ou faixas de pedestre, jornadas exaustivas com metas irreais para caminhoneiros e carreteiros e a falta de segurança em veículos populares revelam que essas tragédias são resultado de decisões políticas e econômicas, e não apenas de falhas individuais.

Há, de fundo, uma normalização cruel: quantas mortes por dia são aceitáveis para manter o modelo de mobilidade atual? Quantas vidas são sacrificáveis para que a fluidez do tráfego e a produtividade do capital não sejam interrompidas?

Os sinistros não são eventos isolados, mas expressões concretas cotidianas das contradições do modo de produção capitalista aplicadas às cidades e estradas do Brasil. São sintomas de um modelo que privilegia o capital, a circulação de mercadorias e a reprodução da força de trabalho em detrimento da vida, das necessidades e da mobilidade segura dos trabalhadores.

 

A mobilidade na história do Brasil 

A história da mobilidade urbana brasileira reflete essa lógica. Nos anos 1930, houve uma onda de estatização/municipalização do transporte sobre trilhos, porém, na década de 1950, durante os governos de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, chegam as indústrias automobilísticas no Brasil, e com elas o incentivo do governo ao rodoviarismo e ao transporte individual. 

Após 1964, a ditadura militar cumpre o papel de quebra do sistema ferroviário, desativando trens regionais e bondes urbanos em diversas cidades. Os militares aumentaram em 282% a malha rodoviária brasileira, em empreitadas como a construção da Transamazônica e outras BRs, que, além de violar territórios indígenas, marginalizaram o transporte ferroviário e hidroviário. 

Nos anos 1990, com o avanço do neoliberalismo, as linhas de trens que permaneceram sofreram novo ataque. A Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima (RFFSA) operava trens de passageiros intermunicipais e interestaduais: em 1996, sua malha compreendia cerca de 22 mil quilômetros de linhas (73% do total), mas foi privatizada no governo FHC, passando a operar apenas na carga de mercadorias, sendo oficialmente extinta em 2007. O transporte sobre trilhos é mais eficiente, menos poluente e mais seguro, mas foi – e segue sendo – desmontado em nosso país para beneficiar o transporte individual, tornando as cidades mais violentas, excludentes, letais e submetidas ao interesse dos muito ricos.

 

Os riscos do transporte individual

O transporte público coletivo é sucateado e transformado em mercadoria, com horários escassos e tarifas cada vez mais altas. Com isso, milhões de trabalhadores migraram para o uso da moto, veículo mais barato, rápido – e também o mais letal. Motociclistas respondem por quase metade das mortes no trânsito brasileiro; suas mortes cresceram mais de 10 vezes nos últimos 30 anos. Quem mais morre? Jovens, negros, trabalhadores periféricos. Soma-se a isso o fato de 53,8% dos proprietários de motos no Brasil não terem habilitação adequada. 

No SUS, os impactos são brutais: em 2020, 61,6% das internações por sinistros foram de motociclistas. Em hospitais, a sobrecarga é evidente – como no Regional de São José (SC), onde mais de 80% dos traumas atendidos em 2024 foram causados por sinistros com motos. Escolher a moto, nesse contexto, não é liberdade, é exposição ao risco. Fruto de uma política que nega transporte público digno e transfere para o indivíduo o peso da mobilidade, mesmo que isso custe sua vida.

Outro exemplo: a velocidade máxima nas vias não é definida pela segurança da travessia de uma criança ou idoso, mas pela lógica da produtividade. A pressa do capital impõe risco à vida. Um corpo humano pode aguentar impactos de até 30 km/h. A velocidade influencia diretamente a ocorrência e gravidade dos sinistros de trânsito. Quanto maior a velocidade, menor a margem de segurança para manejar imprevistos e maior o potencial de lesões graves ou fatais. Ao dobrar a velocidade do veículo, a energia do impacto quadruplica: uma colisão a 60 km/h é 4 vezes mais severa do que a 30 km/h. Em alta velocidade, o campo de visão se reduz, o tempo de reação e a condição de frenagem diminuem, tornando a colisão mais provável e letal. A alta velocidade é o maior fator de risco para sinistros de trânsito, seguido pelo uso de álcool e outras drogas. O terceiro fator é o uso do celular pelo motorista, que aumenta em 400% a chance de colisões. A banalização destes três comportamentos ceifa todos os dias a vida do nosso povo e deve ser combatida.

 

Existe saída!

Em benefício do lucro de um pequeno grupo de empresários da indústria automobilística, de distribuição e revenda de combustíveis, das construtoras e do setor rodoviário, agências internacionais estimam que o Brasil pode gastar mais de 2% do seu PIB com “acidentes”. Incluindo gastos do SUS com internações, consultas, tratamentos e reabilitação de vítimas, valores de perda de produção, custos previdenciários, perda de cargas, entre outros, pelo menos R$ 50 bilhões são investidos anualmente. 

O custo da insegurança viária não abarca a incalculável dor das famílias que perdem quem amam. Por isso, a Unidade Popular pelo Socialismo defende em seu programa a reestatização das estatais privatizadas, fim dos leilões do petróleo, a revisão das concessões dos portos, aeroportos e estradas brasileiras entregues a empresas privadas e estatização de todos os meios de transporte coletivo. O direito de ir e vir não pode ser submetido ao lucro e só existe se houver o direito de chegar com vida!

Em memória de Welfesom Campos, Ana Letícia, Leandro Souza, Ademilson Miltão e de todas as vítimas desse sistema assassino, registramos esta denúncia e este compromisso: não aceitaremos que a morte dos nossos seja normalizada. Não aceitaremos que ela seja tratada como destino. Lutaremos até transformar essa realidade!

 

Referências:

Global Status Report on Road Safety – OMS, 2018.

Atlas da Violência – IPEA 2025.

Impactos Socioeconômicos dos Acidentes de Transporte no Brasil de 2007 a 2018 – IPEA 2020.

Custos dos Acidentes de Trânsito no Brasil – IPEA, 2025. 

Ministério da Saúde. Base de dados das mortes causas externas.