UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 8 de junho de 2025
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Reitoria da UFPB ameaça famílias do MLB de despejo em João Pessoa

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Famílias do MLB ameaçadas de despejo pela Reitoria da UFPB lutam pelo seu direito à moradia em João Pessoa

Rayssa Batista e Redação PB


LUTA POPULAR – Há três meses, no dia 17 de dezembro, mais de 50 famílias sem-teto, organizadas no Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), ocuparam um imóvel abandonado pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), no Centro de João Pessoa (PB). Nasceu, então, a Ocupação Nego Fuba, batizada em homenagem a João Alfredo Dias, uma das lideranças da Liga Camponesa de Sapé, que foi assassinado pelo Exército, em setembro de 1964, logo no início da Ditadura Militar.

Segundo o IBGE, João Pessoa conta com um déficit habitacional de 40 mil moradias. Nos últimos anos, seus moradores sentiram que o preço dos alugueis dispararam e que, cada vez mais, as famílias se encontram na situação de ter que escolher entre pagar o aluguel ou fazer a feira do mês. Enquanto isso, no Centro da cidade vê-se um imenso vazio urbano, com imóveis servindo apenas à especulação imobiliária e gerando insegurança em seus arredores. 

Em 2021, o ex-reitor e interventor Valdiney Gouveia despejou entidades da sociedade civil que utilizavam as instalações do prédio para suas atividades. O imóvel estava completamente abandonado, com centenas de documentos entregues à chuva e às baratas. Diante do descaso com o patrimônio da instituição, as famílias, inclusive, guardaram todo o acervo na sala de Arquivos.

Imediatamente, construiu-se um espaço de cozinha coletiva, energia e água foram resolvidas e uma grande limpeza foi realizada. As salas, que antes abrigavam ratos e baratas, hoje abrigam famílias, que, sem dúvidas, dão uma aula sobre como cuidar de um patrimônio histórico como o prédio, já tombado pelo poder público por sua importância histórica na cidade.

Ameaça de despejo

Surpreendentemente, ignorando todo o diálogo realizado junto de uma comissão da universidade, a Reitoria decidiu ameaçar as famílias de despejo com uma ação na Procuradoria Regional Federal, às vésperas do Carnaval, sob a prerrogativa de que estariam “destruindo” o patrimônio da UFPB, pedindo, inclusive, o uso de “força policial”.

As famílias não se intimidaram e, junto com movimentos sociais apoiadores, organizaram a resistência e decidiram ocupar o gabinete da reitora para cobrar uma resposta diante desse ataque. E a resposta foi: “Não é papel da universidade resolver a questão da moradia”, mantendo, assim, a ordem de despejo. Uma atitude que facilmente se confunde com o autoritarismo da última gestão, marcada por processos e perseguições aos movimentos estudantil e sindical.

Após o ocorrido, o MLB e o Movimento Correnteza organizaram passagens em sala de aula na UFPB para denunciar a violência direcionada às famílias da Ocupação Nego Fuba e o descaso frente a realidade da falta de moradia em João Pessoa.

Moradia já!

Uma das possibilidades apresentadas pelo MLB foi a cessão de um dos terrenos da universidade, o local da primeira Faculdade de Medicina da UFPB, abandonado há mais de 30 anos, e que hoje está em ruínas. No entanto, agora a Academia Paraibana de Medicina (APM), depois de 30 anos, apresenta interesse no terreno para supostamente transformá-lo em um museu.

A universidade precisa trabalhar ensino, pesquisa e extensão em prol da sociedade e isso também significa ter uma prática política coerente. O despejo de famílias em situação vulnerável e a tentativa de isentar-se do debate sobre a moradia e o direito à cidade não é uma atitude aceitável.

Enquanto morar for um privilégio, ocupar é um direito!

Resiste Nego Fuba!

Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade 

Campanha por democracia na UNE

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Conselho de Entidades Gerais se reunirá em 17 e 18 de abril, em São Paulo, para convocar o Congresso da UNE

Vitor Davidovich | Movimento Correnteza


EDUCAÇÃO – Nos dias 17 e 18 de abril, será realizado, em São Paulo, o Conselho Nacional de Entidades Gerais da União Nacional dos Estudantes, instância responsável por convocar o Congresso da UNE e aprovar seu regimento.

A UNE foi criada em 1937 e sua história está intimamente ligada às lutas do povo brasileiro. Em 1940, tomou posição contra o nazifascismo e defendeu a ruptura do Brasil com os países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). Nos anos seguintes, a UNE participou da grande mobilização popular que exigia que o petróleo fosse tratado como uma riqueza nacional e que os lucros de sua exploração significassem melhorias de vida para o povo brasileiro.

A Ditadura Militar, instaurada em 1964, perseguiu incessantemente a UNE e o movimento estudantil. Em 1968, o 30º Congresso da entidade foi invadido pelos militares, que prenderam mais de 900 estudantes. Em 1973, Honestino Guimarães, então presidente da UNE, foi assassinado pelos militares fascistas. Os casos de perseguição, tortura e assassinato de estudantes que lutavam contra a Ditadura são incontáveis.

Negando as lutas no passado

Apesar do passado de luta intransigente pela educação pública e pela democracia, hoje prevalece o imobilismo na UNE. Os grupos que ocupam a maior parte das diretorias da entidade (PCdoB e PT) estão intimamente ligados ao Governo Federal e, por isso, trabalham para frear qualquer mobilização que conteste a política econômica do governo. Exemplo disso foi a posição desses grupos diante da greve dos servidores e professores em 2024 – invés de apoiar a justa reivindicação dos trabalhadores e usar a greve para impulsionar as reivindicações dos estudantes, trabalharam contra.

Agora, no momento em que é debatida a lei orçamentária, a entidade tem restringido sua defesa à ampliação do orçamento das Universidades em R$ 1,3 bilhão. A vitória seria importante, mas ainda muito distante de ser a solução para os problemas concretos vivenciados diariamente pelos estudantes, como a falta de vagas no ensino superior público, a falta de restaurantes e alojamentos, a precariedade de laboratórios, salas de aula, banheiros e outras estruturas, e diversos outros problemas.

Isso porque a atual direção da UNE se limita a pautas que o Governo aceita, mas abandona, por exemplo, a luta pela auditoria e suspensão dos pagamentos da Dívida Pública, maior esquema de corrupção do país. Esses pagamentos se destinam a banqueiros e especuladores do mercado financeiro e, segundo dados da Auditoria Cidadã da Dívida, consumiram 43% de todo orçamento de 2024 do Estado brasileiro, correspondendo a R$ 5,5 bilhões por dia. Em comparação, a educação recebeu 2,95% do orçamento.

A postura da atual direção da entidade, entretanto, não encontra passividade entre os estudantes das universidades brasileiras, que buscam se organizar e lutar por orçamento e diversas outras reivindicações. Como é, então, que esses grupos imobilistas continuam se elegendo para presidir a entidade?

Fraudes

A cada dois anos, estudantes elegem em suas universidades representantes (delegados) para participarem do Congresso da UNE. Essas eleições, entretanto, são marcadas, muitas vezes, por fraudes.

A principal estratégia utilizada pelos grupos que hoje controlam a UNE é a impugnação de chapas de oposição. Em especial em grandes universidades particulares, esses grupos criam diretórios estudantis falsos para organizar as eleições, estabelecem critérios absurdos para a inscrição das chapas e exigem o cumprimento desses critérios apenas para a oposição, sem qualquer isonomia. Assim, são eleitos milhares de delegados sem que a oposição tenha o direito de participar das eleições.

Para piorar, no Congresso o voto não é secreto! Assim como ocorria há cem anos no Brasil, os grupos que controlam a entidade usam de ameaças e coagem os estudantes a votarem na chapa da situação.

Campanha por democracia

Diante desse grave quadro, estudantes de diversas universidades estão realizando uma campanha por democracia na União Nacional dos Estudantes, reunindo diversos movimentos e exigindo a igualdade de critérios para a inscrição de chapas, o voto secreto no Congresso e o direito da oposição em fiscalizar o processo.

O principal passo da campanha, contudo, é a organização dos Diretórios Estudantis nas universidades particulares, já que esse é o principal método de fraude da atual direção. Outros obstáculos também se impõem, como a resistência por parte dessas instituições privadas, que não desejam ver o movimento estudantil organizado, defendendo mais vagas em instituições públicas, fim dos aumentos abusivos nas mensalidades e outras medidas. Eles instalam catracas para impedir o acesso dos movimentos e, por vezes, proíbem a entrada.

Nessas instituições, o movimento estudantil enfrenta diretamente os grandes capitalistas que lucram com a educação privada. Mais de 79% dos estudantes do ensino superior estão nessas instituições e, portanto, não é possível desenvolver o movimento estudantil no Brasil sem enfrentar esse desafio.

Para transformar a UNE e trazê-la de volta para o cotidiano dos estudantes e de nossas reivindicações, o Movimento Correnteza está preparando uma grande bancada para o Coneg. Convidamos todos os estudantes a se somarem nessa luta, organizando seus Diretórios Centrais em cada universidade e a participando do Coneg e do Congresso da UNE com o Correnteza.

As palavras convencem e o exemplo arrasta!

Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade 

Estudantes lutam por climatização de escolas

Estudantes organizam atos no Rio de Janeiro para lutar pela climatização das salas de aula. Principal causa da falta de climatização é negligência do Governo do Estado

Yasmin Farias | Presidente da AERJ


JUVENTUDE – Um movimento crescente de estudantes e educadores tem se intensificado no Rio de Janeiro, cobrando do Governo Estadual melhores condições nas escolas públicas, principalmente em relação à climatização das salas de aula. A alta temperatura e a falta de infraestrutura nas unidades escolares têm afetado diretamente o aprendizado e o bem-estar dos alunos e professores. 

A falta de recursos e o orçamento insuficiente para a educação são os principais fatores para o cenário de precariedade nas escolas. Enquanto isso, as medidas emergenciais propostas pela Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc) são rodízio de turmas nas poucas salas climatizadas, indicação de que os estudantes bebam água e comam frutas. Mas, na maioria das escolas, os bebedouros estão quentes e sem manutenção regular, além do prejuízo da perda de aulas durante o rodízio.

Nos últimos meses, diversas escolas públicas no Rio de Janeiro têm sido palco de atos e mobilizações estudantis de várias regiões. Na zona norte da capital, estudantes realizaram manifestações dentro das escolas e nas ruas, bloqueando vias e cobrando providências imediatas do governo. “A gente não consegue mais estudar com esse calor insuportável. Algumas salas tem ar-condicionado, mas não funcionam, e temos que ligar os ventiladores e com o calor que faz não é suficiente. Não dá para estudar”, afirmou Alice Ribeiro, estudante do Colégio Estadual Olavo Bilac, em São Cristóvão.

A pressão nas escolas também se estendeu para a Secretaria. Em um grande ato realizado no início de março, estudantes foram até a sede do órgão para exigir a implementação de sistemas de climatização e melhores condições de infraestrutura nas escolas, além da elaboração de um plano emergencial que autorize uso de uniforme de verão e a revisão dos cardápios escolares.

Falta de orçamento para a educação

A falta de um orçamento adequado para a educação no Estado do Rio de Janeiro tem sido uma das principais causas do cenário precário. O orçamento destinado para a área é insuficiente. O governador Cláudio Castro (PL) prefere gastar a verba que deveria ir para a educação com a Polícia Militar, que realiza operações cotidianas nas favelas, que não geram nada além da morte de diversos jovens e trabalhadores e a suspensão das aulas nas escolas das comunidades. 

Em novembro do ano passado, o Governo foi proibido pelo Tribunal de Justiça de usar o orçamento da educação para ações de segurança pública e pagamento de policiais através do Programa Estadual de Integração na Segurança ou similares. Além disso, foi condenado a devolver para educação R$ 147 milhões que foram gastos com esses fins.

“A nossa luta é não apenas pela climatização, mas por uma educação de qualidade. Quando o Governo ignora nossas demandas, ele está condenando vários estudantes a uma educação precarizada. Estamos aqui para cobrar que esse direito seja respeitado”, afirma Mariana Lopes, diretora da Associação dos Estudantes Secundaristas do Rio de Janeiro (Aerj).

Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade 

Terceirização precariza assistência social e explora trabalhadores em São Paulo

A terceirização da assistência social em São Paulo precariza serviços essenciais para a população e explora trabalhadores, resultando em atrasos salariais, instabilidade e más condições de trabalho. Essa política favorece o capital, fragiliza direitos e exige mobilização para uma assistência pública e de qualidade.

Willian Agulhão e Cleide Bezerra| São Paulo (SP)


A cidade de São Paulo, maior metrópole da América Latina, é marcada por profundas contradições sociais. Enquanto arranha-céus imponentes simbolizam a riqueza concentrada nas mãos de poucos, milhões de pessoas vivem em situação de vulnerabilidade extrema, dependentes dos serviços de assistência para garantir o mínimo necessário à sobrevivência. Esses serviços, que deveriam ser premissas do Estado para assegurar direitos fundamentais, foram progressivamente entregues à lógica privatista, por meio da terceirização e da transferência de responsabilidades para Organizações da Sociedade Civil (OSCs).

Essa estrutura, longe de ser uma solução para melhorar a eficiência dos serviços, revela-se um mecanismo de precarização que explora os trabalhadores e fragiliza a rede de proteção social. A terceirização da assistência social expõe profissionais a jornadas exaustivas, atrasos salariais constantes, demissões arbitrárias e a um ciclo permanente de insegurança. Enquanto isso, a população mais pobre é abandonada pelo poder público, que se exime de responsabilidades sob o pretexto de “parcerias” que, na prática, representam o desmonte dos serviços públicos.

Esse modelo não é apenas resultado de más gestões ou crises financeiras, ele é a manifestação de um projeto político que atende aos interesses do capital e utiliza a precarização do trabalho como estratégia de controle. Para entender e combater esse processo, é fundamental analisar as raízes da terceirização, os impactos sobre os trabalhadores e os caminhos possíveis para construir uma assistência social verdadeiramente pública e de qualidade.

Terceirização: atrasos e a crueldade sistêmica do capitalismo

A terceirização dos serviços públicos no Brasil, impulsionada nos anos 1990 sob o neoliberalismo, desmantelou direitos conquistados pela classe trabalhadora. Sob o pretexto de eficiência, a burguesia transferiu setores estratégicos à iniciativa privada, transformando direitos em mercadoria.

Em São Paulo, a assistência social foi um dos principais alvos, ficando sob controle de Organizações da Sociedade Civil (OSCs). Apesar de serem formalmente sem fins lucrativos, essas entidades dependem dos repasses da Prefeitura, que manipula esses recursos conforme interesses políticos. Com isso, trabalhadores enfrentam precarização e instabilidade, enquanto serviços essenciais são tratados como moeda de troca.

Os constantes atrasos nos repasses da Prefeitura governada pelo fascista Ricardo Nunes (MDB) não são simples falhas, mas parte de uma estratégia de exploração. Sem salários, vale-transporte ou alimentação, os trabalhadores terceirizados lidam com insegurança extrema. Essa política de abandono não é descaso, mas um mecanismo de dominação: quebrar a resistência operária pela fome e pelo medo, enquanto empresas contratadas lucram com a miséria da classe trabalhadora. A terceirização, vendida como modernização, na prática significa precarização sistemática.

A OSC FUNDAC é um exemplo dessa lógica perversa. Em 2020, uma auditoria revelou um desvio de R$54 milhões, prejudicando 250 funcionários. Mesmo após a denúncia, a Prefeitura de Bruno Covas (PSDB) manteve o contrato, forçando os trabalhadores a realizar greves para garantia dos pagamentos. As condições eram degradantes: “Trabalhei no CRAS Grajaú no verão, sem ventilador. Para não passar mal, eu e outra colega precisávamos molhar o corpo”, relata Joana*, entrevistadora social. Só após se recusarem a continuar é que trouxeram ventiladores.

Em março de 2023, os trabalhadores da FUNDAC paralisaram atividades diante de mais um atraso salarial. Apesar da pressão, os pagamentos não foram regularizados. “Nos prometeram pagamento até dezembro de 2024, mas o prazo passou e nada”, denuncia Joana. Mesmo com registros oficiais indicando repasses de mais de R$ 1,5 milhão à empresa, os trabalhadores seguem sem receber o que lhes é devido. Após a FUNDAC perder o contrato, a substituição pela ATSantos apenas intensificou a exploração, com redução de benefícios e justificativas fraudulentas para não pagar reajustes salariais.

O caso da OSC CEBASP reforça essa brutalidade. Após o rompimento do contrato, mais de 350 funcionários foram demitidos sem receber suas verbas rescisórias. Sem alternativas, os trabalhadores se organizaram via WhatsApp para pressionar OSCs e a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS). Como relata o orientador socioeducativo Thiago, “começamos a nos mobilizar sozinhos, porque ninguém nos dava respostas.” A luta coletiva fortaleceu a resistência contra o calote.

A pressão resultou em um feito inédito: a garantia do pagamento das rescisões. Em dezembro de 2024, os trabalhadores conquistaram a transparência da planilha de pagamentos, expondo o quanto lhes era devido. No entanto, muitos ainda não receberam, reféns de uma burocracia que protege a exploração. “Com a troca da equipe, os pagamentos ficaram travados na contabilidade, e seguimos cobrando”, afirma Thiago. A terceirização não só priva trabalhadores de direitos básicos como os torna descartáveis diante da máquina pública.

Esse sistema não visa apenas economizar, mas desmobilizar a luta de classes. Trabalhadores inseguros, sem direitos e isolados são mais fáceis de controlar. Enquanto isso, o Estado age como cúmplice, transferindo responsabilidades para entidades privadas que operam como intermediárias da exploração. O discurso de “modernização” esconde um projeto consciente de desmonte dos serviços públicos e enfraquecimento da classe trabalhadora.

A terceirização não é inevitável, é um projeto da burguesia para manter seu domínio. Enquanto aceitarmos esse modelo, o capital seguirá lucrando às nossas custas. Como bem resume Maria, trabalhadora do CRAS: “Se fôssemos funcionários diretos da Prefeitura, teríamos estabilidade, melhores salários e direitos garantidos. A terceirização nos trata como descartáveis.” A luta contra esse modelo é a luta pela dignidade da classe trabalhadora e pelo controle popular dos serviços públicos.

A força da classe trabalhadora combate a terceirização e o fascismo

O desmonte da assistência social não é apenas um reflexo da lógica neoliberal, mas parte de um projeto político mais amplo, que se alinha ao avanço do fascismo no Brasil. O fascismo moderno não se limita a violências explícitas ou discursos autoritários diretos, ele atua dentro das estruturas do Estado, corroendo serviços públicos e transformando direitos sociais em mercadoria ou caridade.

Ao precarizar os trabalhadores da assistência social, o Estado enfraquece a capacidade de resistência e converte o serviço em instrumento de controle. Trabalhadores exaustos e população vulnerável, mantida na dependência do assistencialismo, perpetuam a desigualdade. Essa fragmentação da classe trabalhadora é essencial para a sustentação do projeto fascista.

A terceirização e a precarização são ferramentas fundamentais nesse processo, rompendo vínculos de solidariedade e isolando os trabalhadores em contratos instáveis. Diante disso, a única saída é a organização coletiva, como demonstram as mobilizações autônomas dos trabalhadores da assistência social.

Porém, a luta não pode se restringir a demandas imediatas: é preciso exigir a reestatização completa dos serviços, com concursos públicos, salários dignos e condições de trabalho adequadas. Como já alertava Lênin em “O Estado e a Revolução” (1917): “Nenhuma classe opressora jamais deixou seu poder sem resistência.” A Prefeitura de São Paulo deve reassumir a gestão direta, garantindo que a assistência social seja pautada pela dignidade humana e não pela lógica mercantil.

Cleide, militante da Unidade Popular pelo Socialismo (UP) e do Movimento de Luta de Classes (MLC), relata a realidade dos trabalhadores da assistência social: profissionais dedicados, mas exaustos e desamparados. Ao apresentar as organizações, ela observa um “raio de esperança” entre aqueles que, embora temam represálias, encontram força na conscientização coletiva. “Minha luta é pela dignidade de toda a classe”, afirma Cleide, destacando a necessidade de união contra a exploração capitalista. Seu testemunho reforça que a mobilização é o caminho para enfrentar a terceirização, os cortes de verbas e a precarização, que transformam direitos em lucro.

A história mostra que a classe trabalhadora só conquistou direitos através da organização e da luta, como a jornada de oito horas, o SUS e a Previdência Social. Agora, é hora de resistir aos ataques da burguesia com greves, ocupações e fóruns populares que unam trabalhadores e usuários dos serviços.

A passividade não é uma opção: como ensinou Rosa Luxemburgo, “quem não se movimenta, não sente as correntes que o prendem”. A indignação deve virar ação, para garantir direitos plenos e erradicar a exploração. A combatividade e organização da classe trabalhadora é a chave para transformar a realidade e construir uma nova sociedade, justa e igualitária, a sociedade socialista.

*Para evitar represálias aos trabalhadores, o jornal A Verdade utilizou nomes fictícios.

Crise nas maternidades de Goiânia

A suspensão dos serviços ambulatoriais e eletivos nas maternidades públicas de Goiânia expõe a crise provocada pelo atraso de repasses financeiros da prefeitura.

Isabelle dos Santos Ferreira | Goiânia – GO


SAÚDE – No dia 27 de agosto de 2024, a Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) comunicou ao secretário de saúde, Wilson Modesto Pollara, a suspensão das unidades de maternidades públicas de Goiânia pelas quais é responsável. Devido ao não repasse financeiro por parte da prefeitura, os serviços ambulatoriais e eletivos se tornaram insustentáveis, limitando as atividades a serviços essenciais e urgentes.

Atualmente, o cenário na maternidade Dona Íris assemelha-se ao do ano passado, pois o 13º salário dos funcionários ainda não foi pago, as visitas estão suspensas há mais de 20 dias e a unidade atende apenas casos urgentes. Pacientes e acompanhantes também relatam falta de insumos e materiais, como roupas de cama, inadequados para uso.

Descaso com as unidades de saúde 

Com a falta de renda para manter a o pleno funcionamento das unidades, junta-se o não pagamento dos salários dos funcionários de saúde pública e terceirizados, impossibilitando o exercício de seus ofícios. Tendo seus direitos desrespeitados, o trabalho é redobrado com turnos mais longos, aumentando o estresse e cansaço típicos dessas profissões. Para piorar, a insegurança financeira assombra os profissionais sobrecarregados pela insalubridade das maternidades.

Desde 2024, os casos de atendimentos mal realizados vêm crescendo de forma incontrolável, mostrando que o desleixo financeiro do Estado de Goiás com os centros de saúde pública é pago com o suor e sofrimento dos funcionários e da população em vulnerabilidade social. 

A maioria das pessoas gestantes dependem exclusivamente dessas maternidades durante toda a gestação. Com a falta de estrutura para englobar o fluxo de consultas, exames, partos, cirurgias, etc., a limitação a casos urgentes e a suspensão de visitas, como no caso da Maternidade Dona Íris, comprometem a vida de inúmeras gestantes, em especial crianças e adolescentes, que acabam por só conseguir atendimento após chegarem a extrema urgência.

As suspensões e a inacessibilidade não atingem apenas a situação das gestantes, mas também de pessoas com deficiências ou doenças que atingem o útero, vulva, ovários e demais regiões que exigem atendimento ginecológico especializado. A superlotação devido a incapacidade de adesão dos inúmeros pacientes gera filas de espera absurdamente longas, novamente pondo em risco inúmeras vidas. 

Pelo direito a maternidades públicas

O atual cenário das maternidades públicas no Estado de Goiás fere os direitos e ameaça a vida das pessoas com útero que dependem de tais serviços. Em contrapartida, ironicamente, a lei nº 22.537/2024 (conhecida como “Campanha de Conscientização Antiaborto”), de autoria do ex-deputado corrupto Fred Rodrigues (Gustavo Rodrigues de Cunha), foi sancionada pelo fascista Ronaldo Caiado (União Brasil) no dia 11 de janeiro de 2024. Entre outras medidas misóginas e inconstitucionais, a sua principal e mais absurda é obrigar a pessoa gestante a escutar os batimentos cardíacos do feto ao realizar o aborto. 

Mesmo com a degradação das maternidades e demais unidades de saúde pública, Fred comemora a vitória reacionária em suas redes sociais, atribuindo como um avanço a dita segurança de “crianças no ventre”. Ou seja, como se não bastasse o atendimento precário, a falta de insumos e filas de espera superlotadas, aqueles que carregam uma gestação fruto de estupro ou com risco, as pessoas gestantes ainda estão passíveis de violência obstétrica legalizada. Em suma, todo esse cenário não passa de uma consequência do poder centrado em uma oligarquia latifundiária reacionária e misógina que reina na região Centro-Oeste.

Em fevereiro, o Movimento de Mulheres Olga Benário iniciou a Campanha Nacional pelo Direito à Creche. Atualmente, mais de 9 mil crianças goianas se encontram na fila de espera por vagas, visto que inúmeras mães abdicam do trabalho para cuidarem de seus filhos, o que agrava o nível de insegurança social das casas brasileiras. Por isso, o Movimento e a Unidade Popular lutam no combate à violência e pela plena eficácia dos direitos básicos das mulheres e pessoas com útero. 

Matéria publicada na edição impressa nº309 do jornal A Verdade

Trabalhadores da saúde recém-formados sofrem com a exploração

Profissionais de saúde em residência no Hospital Universitário de Brasília (HUB) enfrentam jornadas de 60 horas semanais, com salário inferior ao de servidores efetivos que cumprem metade da carga horária.

Redação DF


SAÚDE – A residência na área de saúde é um programa de especialização de um profissional em uma ou algumas áreas específicas, que dura por volta de 2 anos. À primeira vista pode parecer um “sonho” ingressar em um programa de residência logo após concluir sua graduação e poder iniciar uma especialização remunerada, porém, muitas vezes o que era “sonho” se torna um verdadeiro “pesadelo”. 

O residente precisa cumprir 60h semanais, trabalhando 12h diárias, enquanto os profissionais do quadro fixo, que cumprem metade da jornada dos residentes, recebem o dobro do valor da bolsa auxílio. No Hospital Universitário de Brasília (HUB), por exemplo, um residente (profissional formado) trabalha 60h semanais e recebe de bolsa auxílio menos da metade de um mesmo profissional do quadro fixo do HUB trabalhando 30h semanais. Assim, um residente trabalha o dobro e recebe metade. Além da falta da existência de um plano pedagógico real e que seja estabelecido previamente datas para oferta das disciplinas.

Vale salientar que o HUB é gerido, hoje, pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), que tem como interesse contratar mão de obra especializada por um valor que sequer garante o direito à vida, ao lazer, e ironicamente, à saúde.

Além disso, caso um residente precise de atendimento por um outro profissional da saúde e apresente um atestado à Coordenação da Residência, o atestado não será considerado e o residente terá a necessidade de, obrigatoriamente, repor serviço proporcional a cada hora que precisou se ausentar. Mas se o Residente já trabalha 60h semanais, em qual momento ele vai conseguir repor? A resposta é simples: não vai conseguir repor! Eles obrigam o residente, ao final do contrato de 2 anos, a trabalhar de graça para garantir a reposição de cada hora que ele precisou se ausentar para cuidar da sua saúde.

Residente que preferiu não se identificar denuncia esta situação: “A residência é praticamente um sonho para boa parte dos profissionais de saúde e estudantes que querem passar por um período de especialização. Porém, quando você cai na realidade, com jornada de 60 horas, sem pesquisa, sem extensão, sem nada, trabalhando o dobro da carga horária de um efetivo e recebendo menos da metade do que ele recebe.

Para piorar, se você adoece, tem que repor aquela carga horária. Ou você repõe no serviço, ou você tem que pagar depois. Isso tudo acarreta sobrecarga, adoecimento, tive crises de ansiedade e até desenvolvi Bornout, isso fez com que não conseguisse mais viver naquela situação e me desliguei” 

Esta realidade cria uma profunda indignação, pois onde já se viu um profissional da área da saúde que trabalha em um hospital não ter direito de cuidar da própria saúde física e mental. Por isso, existe um processo de organização e luta dos residentes. Fruto disso, foi apresentado um Projeto de Lei (PL 504/2021) onde além de abordar a necessidade da criação de uma Política Pública de Residências em Saúde, também propõe a redução da carga horária da residência de 60 horas semanais para no mínimo 40 horas e no máximo 44 horas semanais.

Ciente dessa realidade, o Diretório Central dos Estudantes da Universidade de Brasília, em conjunto com vários residentes, entregou uma pauta de reivindicações e solicitação de reunião para tratar sobre o assunto com a recém nomeada Superintendente do HUB, Fátima de Sousa. Foram recebidos no dia 14 de março, após exposição das denúncias, e foi criado uma Mesa Permanente de Negociação. Um primeiro passo foi dado no sentido de enfrentar estes graves problemas.  

O processo precarização do trabalho promovido pela Ebserh é grave, e cumpre o papel de fragilizar o SUS. Para isso, é necessário restabelecer o controle total público e repudiar todas as iniciativas que visam privatizar, terceirizar e precarizar o sistema público de saúde.

Enquantos os preços aumentam, MLB conquista 750 toneladas de alimentos

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“A solução para a crise alimentar não virá de políticas paliativas ou de acordos com os setores que lucram com a fome. A única saída é a organização popular e a construção de um projeto que rompa com o capitalismo, sistema que transforma alimentos em mercadorias e vidas em números.”

Denily Fonseca e Michael Castro | MLB


O Brasil enfrenta uma crise econômica que aprofunda a desigualdade social, e o povo pobre, que constrói as riquezas deste país, é quem mais sofre com a alta dos preços dos alimentos. O café, símbolo da mesa do trabalhador, tornou-se um luxo. O arroz, o feijão e o óleo de cozinha são itens cada vez mais distantes do prato das famílias que vivem nas periferias.

A falta de medidas efetivas do Governo Federal para combater a fome tem deixado milhões de brasileiros à mercê da inflação e da ganância dos grandes monopólios alimentícios.

É nesse cenário que o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) surge como um farol de esperança. As famílias organizadas pelo Movimento conquistaram mais de 750 toneladas de alimentos em todo o país em apenas um ano, fruto de lutas incansáveis, como a ocupação de órgãos públicos e supermercados.

A alta dos preços dos alimentos não é um fenômeno natural. É resultado de um sistema capitalista que prioriza o lucro acima da vida. O agronegócio, os supermercados e as grandes corporações controlam a cadeia alimentícia, ditando preços e especulando sobre a necessidade básica de comer. Enquanto isso, o Governo Lula, mesmo com discursos progressistas, alia-se aos grandes empresários e latifundiários do país, como mostrou a edição nº 307 de A Verdade: foram destinados R$ 400 milhões dos cofres públicos para o Plano Safra e cerca de R$ 3 trilhões por ano para o pagamento da dívida pública, a famosa “bolsa banqueiro”.

Rute Costa, moradora do bairro do Tapanã, em Belém do Pará, faz parte de uma das milhares de famílias beneficiadas pelas ações do MLB. “A gente trabalha o mês inteiro, mas não dá para comprar o mínimo. Eu vejo assim: quando o MLB convoca para um ato contra a fome, muitas famílias vão com a certeza na vitória, porque o MLB é referência. Graças ao Movimento, eu consigo ter todo mês o feijão, arroz e o café na mesa de casa”, relata.

O MLB não espera por soluções dos governos. Por meio da organização popular, o ocupa supermercados e denuncia a ganância dos grandes monopólios. As famílias que participam dessas lutas, recebem diretamente as cestas básicas conquistadas coletivamente.

“A carestia no nosso país aumenta cada vez mais e, com isso, também a sede de lucro do agronegócio, que é o principal responsável pelo aumento do preço dos alimentos no nosso país, existe um engodo, principalmente da direita e da extrema-direita, em defender que o agronegócio é o herói da nação. Na verdade, é o vilão. Os latifundiários lucram com os altos preços dos alimentos, o que agrava a situação de miséria do nosso povo. Por isso, nós ocupamos os supermercados”, afirma Kleber Luiz, da Coordenação Nacional do MLB.

A solução para a crise alimentar não virá de políticas paliativas ou de acordos com os setores que lucram com a fome. A única saída é a organização popular e a construção de um projeto que rompa com o capitalismo, sistema que transforma alimentos em mercadorias e vidas em números.

O MLB aponta o caminho: é preciso fortalecer as lutas locais, ocupar espaços, pressionar o poder público e construir uma rede de solidariedade que garanta que nenhuma família passe fome. A luta por soberania alimentar, reforma agrária e pelo fim dos monopólios é o que vai garantir um futuro digno para toda as classes trabalhadoras.

Matéria publicada na edição impressa nº 309 do jornal A Verdade

“O povo palestino tem um profundo amor pela vida e não teme a morte”

“Temos uma grande luta pela frente, e ela começa aqui no Brasil. Precisamos construir uma frente unida, com objetivos claros e ambiciosos: a libertação da Palestina, do rio ao mar; o retorno de todos os refugiados palestinos às suas terras; e a libertação de todos os prisioneiros palestinos”, afirmou Rawa Alsagheer, coordenadora da Rede Samidoun de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos, em entrevista ao jornal A Verdade.

Redação SP


Rawa Alsagheer é coordenadora da Rede Samidoun de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos, membro do Masar Badil, o “Caminho Revolucionário Alternativo Palestino”, e esteve presente na celebração dos 25 anos do jornal A Verdade, em São Paulo, em dezembro passado, para falar sobre a resistência palestina. Conversamos com Rawa sobre a atual situação de luta na Palestina e sobre a solidariedade internacional.

A Verdade – Qual o sentimento em ver os palestinos deslocados pela guerra voltando para suas casas em Gaza?

Rawa – A conquista do acordo de troca de prisioneiros, que garantiu a libertação de importantes lutadores condenados à prisão perpétua, além da liberdade de todas as mulheres e crianças palestinas encarceradas, representa uma vitória histórica para a resistência palestina.

Após um ano e meio de genocídio contra o povo palestino, fica evidente a força e a resiliência de sua luta. Eles têm demonstrado ao mundo que são os verdadeiros donos daquela terra. Somente aqueles que são donos da terra caminham com tanto orgulho sobre ela, e é exatamente isso que os combatentes da resistência vêm fazendo desde o primeiro dia do cessar-fogo.

Apesar das inúmeras tentativas da ocupação israelense de destruir o povo palestino, a resistência jamais foi abalada. O povo permanece vivo, tem um profundo amor pela vida e não teme a morte. E, quando não se tem medo da morte, não há medo de nada.

Mas é muito importante destacar que, no mesmo dia em que ocorreu a troca de prisioneiros, enquanto libertavam aqueles que estavam na lista acordada, mais de 200 palestinos foram presos. Essas detenções foram o que chamam “prisões de administrativas”, uma prática que não envolve acusações formais ou julgamento em tribunais e que pode ser renovada a cada seis meses.

Desde o início do acordo até agora, mais de 2 mil palestinos foram detidos, enquanto pouco mais de 800 foram libertados. Conhecemos os nomes daqueles que recuperaram sua liberdade, mas é alarmante o número de novas prisões, especialmente na Jordânia, durante esse breve período desde o cessar-fogo.

Como tem sido para você defender os direitos do seu povo aqui no Brasil?  

Eu coordeno a Samidoun (Rede de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos) desde 2020. Ao longo desse período, enfrentei muitas dificuldades, mas após o início do genocídio na Faixa de Gaza, a situação se tornou ainda mais difícil.

Trabalhava como analista de comunicação no Museu da Imigração do Estado de São Paulo. Dia 07 de outubro de 2023 foi um sábado (o Sábado Sagrado). A partir do dia 10 de outubro, o museu passou a receber e-mails me acusando de terrorismo e antissemitismo, questionando a instituição por empregar uma ativista palestina.

Quando fui informada sobre os e-mails, solicitei cópias para registrar um Boletim de Ocorrência. Mas, em vez de fornecerem as cópias, fui questionada sobre a rede Samidoun e meu ativismo, além de ser pressionada para não formalizar a queixa. O e-mail que me enviaram estava incompleto, sem anexos ou cópias. Só consegui acesso às mensagens graças a uma colega de trabalho que me enviou prints, já que ela estava em cópia na lista de e-mail.

Ao longo do mês, fui alvo de uma série de perseguições. Uma campanha foi organizada nas redes sociais, me acusando de terrorismo e antissemitismo, expondo minha identidade e mencionando o museu em todas as publicações.

No dia 7 de novembro de 2023, fui demitida sem justificativa, em clara violação da lei trabalhista. Eu havia sofrido um acidente de trabalho e estava com atestado médico válido por sete dias. No oitavo dia, recebi a notícia da minha demissão.

Essa perseguição deixa claro o quanto o sionismo é forte no Brasil, mas também revela sua fragilidade ao mirar uma única ativista política. Eles têm influência até mesmo dentro do governo brasileiro.

E você chegou a denunciar essa perseguição virtual?  

Sobre as postagens, abri um inquérito na Polícia Civil, que foi encaminhado à Polícia Federal. Recentemente, tive uma audiência com um delegado que considero racista e xenofóbico. Ele me tratou como criminosa, não como vítima, durante o depoimento. Ele questionou minha opinião política, perguntando se eu apoiava o extermínio do Estado de Israel, algo totalmente alheio ao inquérito. A postagem que denunciei falsamente me acusava de apoiar tal extermínio, usando a palavra “pessoa” entre aspas, não me considerando como pessoa, mas o delegado ignorou isso.

Ele também não tinha noção da diferença entre sionismo e comunidade judaica ao descrever uma página chamada “Antisemita Exposure”, que usa a estrela de Davi. O sionismo frequentemente se apropria de símbolos judaicos para encobrir crimes, mas o delegado não reconheceu isso. Minha foto foi carimbada com a frase “Antisemita Exposure”, e ele não viu problema nisso, nem na página questionar meu trabalho no Museu da Migração. Fui exposta publicamente como antissemita, mas ele não deu atenção à calúnia. Além disso, o processo foi lento e desgastante, e o delegado agiu com ignorância, repetindo perguntas já respondidas na petição. Ele ainda dificultou a presença da minha advogada, deixando-a esperando.

Essa experiência reflete a perseguição que enfrento, desde ataques online até a interferência em minha vida profissional e pessoal, com conivência de setores do governo.

Enquanto o mundo assiste, em tempo real, ao genocídio televisionado do povo palestino, os sionistas se dedicam a perseguir aqueles que lutam pela Palestina em todo o mundo.

Que papel o apoio internacional cumpre na defesa do povo palestino e como os brasileiros podem apoiar mais essa resistência?  

A luta palestina é uma das mais importantes em escala internacional, pois a libertação da Palestina representa a libertação de todos os povos do mundo. É uma luta contra o colonialismo, o imperialismo, o capitalismo e o sionismo fascista.

Atualmente, existe um movimento global forte e crescente em apoio à libertação da Palestina. No entanto, o lobby sionista, com seu poder político e econômico, ainda é uma força grande e opressora.

No Brasil, por exemplo, há mais de 90 empresas de segurança israelenses atuando no país. Além disso, existem acordos entre a Sabesp e a Mekorot, empresa israelense de saneamento, vigentes desde 2009. Há também parcerias militares, incluindo acordos de armamento e treinamento militar entre Israel e Brasil. O povo palestino é usado como cobaia para testar tecnologias militares desenvolvidas nesses acordos. As mesmas armas utilizadas pela Polícia Militar para matar jovens brasileiros são testadas contra palestinos.

Temos uma grande luta pela frente, e ela começa aqui no Brasil. Precisamos construir uma frente unida, com objetivos claros e ambiciosos: a libertação da Palestina, do rio ao mar; o retorno de todos os refugiados palestinos às suas terras; e a libertação de todos os prisioneiros palestinos.

Matéria publicada na edição impressa nº 309 do jornal A Verdade

Avançar na nossa relação com o jornal

“Cada brigada é também um importante ato político. Em uma brigada, o militante é a voz da revolução. Ao apresentar o jornal e buscar convencer outra pessoa da importância de lutar pelo socialismo, o brigadista estimula uma vontade adormecida em cada trabalhador e se forma como liderança. Sua voz carrega o discurso revolucionário e chega mais longe do que qualquer alto-falante.”

Lucas Marcelino | São Paulo (SP)


O jornal A Verdade chegou aos 25 anos de existência construído sobre diversos pilares. Entre eles, estão a teoria revolucionária, o financiamento da classe trabalhadora e a abnegação de seus brigadistas. Mas é preciso refletir: como está a nossa relação (individual e coletiva) com o Jornal?

O que não é debatido, se perde

Cada camarada que fizer essa reflexão encontrará alguma atitude a ser melhorada na sua relação com o Jornal. Um militante de muitos anos pode se acomodar e enxergar como apenas mais uma tarefa da sua jornada revolucionária. Já um militante recém-ingressado pode ter dúvidas de por que ainda existir um jornal impresso na era da internet e das redes digitais ou alegar falta de tempo para participar das reuniões, manifestações, atividades e de uma brigada a cada 15 dias.

Os dois casos ocorrem pela falta de compreensão teórica e prática sobre o papel de um jornal político como A Verdade. Mas vejamos o que disse o líder revolucionário russo Vladimir Lênin:

“A nosso juízo, o ponto de partida de nossa atividade, o primeiro passo prático para a criação da organização desejada e, por último, o fio fundamental ao qual poderíamos agarrar, aprofundar e ampliar incessantemente esta organização, deve ser a fundação de um jornal político para todo o país”. (Por onde começar, 1901)

Quase 100 anos depois, essa citação abria outro documento: Plano para o jornal do Partido, produzido pelo Comitê Central do PCR, em maio de 1999, para estimular o debate e ganhar os comunistas a criarem um jornal político para todo o Brasil. Diz o Plano: “um jornal dedicado às massas populares, em particular às grandes massas operárias, que forme sua consciência de classe, eduque os operários e, principalmente, que os organize, convocando-os à luta”. Podemos confirmar que cumprimos esse objetivo e construímos esse jornal.

Cada brigada é um ato político

As grandes manifestações de rua, as greves, as ocupações – de estudantes, mulheres ou por moradia – e as atividades que reúnem centenas ou milhares de pessoas são ações importantes para o avanço da luta e a disputa da consciência do povo para o socialismo.

Mas gostaríamos de chamar a atenção para as brigadas do Jornal, sejam elas nos sábados de Brigada Nacional, sejam as brigadas de coletivo ou na porta de fábrica.

Cada brigada é também um importante ato político. Em uma brigada, o militante é a voz da revolução. Ao apresentar o jornal e buscar convencer outra pessoa da importância de lutar pelo socialismo, o brigadista estimula uma vontade adormecida em cada trabalhador e se forma como liderança. Sua voz carrega o discurso revolucionário e chega mais perto do que qualquer alto-falante.

A potência das brigadas – que já convenceram centenas de pessoas a se organizarem na luta pelo socialismo – confirma o acerto de mantermos o Jornal há 25 anos e deveria convencer cada camarada a estar presente nas ruas. Mas não só participar para cumprir uma tarefa. Estar na brigada com um ânimo que só a plena consciência desta ação política pode trazer. Ir preparado, ler as matérias antes e saber a linha política que deve ser discutida com o povo.

“Ideologia burguesa ou ideologia socialista. Não há meio-termo. Por isso, toda a diminuição da ideologia socialista, todo distanciamento dela, implica o fortalecimento da ideologia burguesa”. Lênin trouxe essa reflexão no livro Que Fazer?, que trata da necessidade do jornal político nacional para a construção de um partido revolucionário.

Faltar na brigada, considerar uma tarefa menos importante ou não se dedicar a ela é fortalecer a ideologia capitalista, que já domina o cotidiano da classe trabalhadora com suas propagandas, filmes, séries, músicas etc.

Fio condutor

A missão do jornal não se limita, entretanto, a difundir ideias, a educar politicamente e a conquistar aliados políticos. O jornal não é só um propagandista coletivo e um agitador coletivo, senão também um organizador coletivo”. (Por onde começar)

Lênin reforça que o papel do Jornal é também de organizar a classe trabalhadora no partido revolucionário e levar sua linha política aos mais distantes pontos do país.

Muitos(as) camaradas se lembrarão da matéria sobre as brigadas realizadas na empresa Gomes da Costa, em Itajaí (SC), que contribuíram para a realização de paralisações de trabalhadores e evitaram descontos no vale-alimentação e o fim do adicional de insalubridade.

Nas edições seguintes, foram publicadas matérias sobre as brigadas realizadas nas fábricas de Diadema (SP), que começaram vendendo poucos jornais, mas resultaram em coletivos do Partido dentro de fábricas da região do ABC Paulista.

Outra matéria tinha o título de “Qual sua fábrica, camarada?”. Nela, toda a militância foi convocada a ir para as portas das fábricas e locais de trabalho. E isso não é à toa. Cada uma dessas matérias e todas elas em conjunto formam o que Lênin comparou com os andaimes de uma construção, com o prumo de um pedreiro ou com o fio condutor que une a militância em torno da construção correta e alinhada da obra do socialismo.

“Um livro de poesia na gaveta não adianta nada, lugar de poesia é na calçada”. Esses versos de cantor e compositor Sérgio Sampaio nos lembram da importância de não só produzir uma obra, mas de divulgá-la, apresentá-la para o maior número de pessoas. Então, por que muitos militantes deixam suas cotas individuais em casa, na mochila ou até no fundo de uma gaveta? Temos camaradas que vendem cotas de até 50 jornais por edição. Já outros camaradas têm cotas de cinco e até três jornais e relatam dificuldade para apresentar e vender.

Um dos princípios da luta contra o individualismo capitalista e a concentração da riqueza é que somos seres sociais. Ninguém pode viver uma vida inteira ou mesmo um dia sem entrar em contato com outra pessoa. Então como é possível que, a cada quinzena, camaradas não consigam encontrar ao menos cinco pessoas para vender a sua cota?

É preciso repensar nossa rotina, pois isso dificulta não só a venda do jornal, mas também a nossa saúde mental, nossas emoções e nossa consciência coletiva. Precisamos encontrar amigos, familiares, colegas de trabalho, ou mesmo uma pessoa que puxa assunto na rua, e vê-la como alguém que precisa saber da luta por um mundo melhor.

Mas não podemos somente nos desfazer dos exemplares. Precisamos prestar conta política da nossa cota. Para quem vendemos? Essa pessoa compra sempre? Se compra, já apresentamos os movimentos sociais e a UP? Fazemos a leitura ou discussão de matérias com quem compra? Ajudamos a inflamar o ódio de classe contra os capitalistas?

Financiamento popular

Nos orgulhamos de ter um Jornal que não recebe dinheiro de governos ou de empresas capitalistas e, mesmo assim, nunca deixou de publicar uma edição. Chegamos a cidades distantes dos grandes centros do país, como Rosana, na divisa de São Paulo com o Mato Grosso, a mais de 700 km da capital paulista.

“Nosso jornal, como um órgão de emancipação e luta dos trabalhadores, deve ser fundamentalmente financiado pelos próprios operários, camponeses, pela juventude e a intelectualidade revolucionária e as massas trabalhadoras. Ele será o alimento da classe operária pela sua libertação. Então, será na classe operária e nas massas populares que obteremos sua sustentação financeira”. (Plano para o Jornal do Partido)

São vários os relatos de pessoas que contribuem com R$ 5, R$ 20, R$ 100… e até nos chegou uma contribuição de US$ 100 (quase R$ 600,00). Mas vemos também camaradas que pagam sua cota do seu bolso só para não serem criticados na reunião do coletivo.

Camaradas brigadistas e leitores: nosso Jornal é uma grande obra coletiva que conquista uma vitória a cada nova edição, a cada exemplar vendido, a cada pessoa que decide se organizar após ler suas páginas. É “uma luz para esclarecer todos os mistérios que hoje deixa confuso e atordoado o proletariado e o impede de levar a luta até o fim”. (Plano para o Jornal do Partido)

Valdete Guerra e a luta das mulheres pobres por moradia e pelo socialismo

Valdete Guerra se orgulhava em ser comunista e defender a causa dos trabalhadores e trabalhadoras, e defendeu o Partido e o MLB até seu último dia de vida. “Com o MLB eu aprendi muitas coisas: uma delas é que é possível transformar essa realidade e viver em um mundo justo”

Alice Morais | Natal (RN)


No dia 8 de março de 1917, no frio da Rússia e perante as duras condições de fome e miséria, 90 mil operárias marcharam com suas crianças debaixo do braço em protesto contra o governo czarista. Esse dia foi determinante para a eclosão da gloriosa Revolução de Outubro, que libertou a classe trabalhadora da exploração do capitalismo, da autocracia da monarquia e transformou a Rússia em um país socialista. Por isso, em homenagem à essas mulheres, essa data é comemorada como dia Internacional da Mulher Trabalhadora. 53 anos depois, neste mesmo dia, nascia uma mulher que carregava este legado de luta não só em seu aniversário, não só em seu nome, mas no que praticava.

Valdete Pereira Guerra nasceu em 8 de março de 1970, na periferia da capital potiguar. Mulher negra, Valdete não teve a oportunidade de terminar a escola, e assim como milhões de mulheres em nosso país, conheceu de perto as dificuldades da classe trabalhadora: a de colocar alimento na mesa, o salário mínimo de fome e o trabalho dentro e fora de casa. Mas, a vida de Valdete mudou quando ela decidiu que não iria apenas aceitar essa realidade cruel, mas que iria lutar por uma nova perspectiva para si e sua família.

Como ela mesma disse, era “apenas” uma simples dona de casa quando conheceu o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), e ingressou no Movimento com o mesmo desejo que têm hoje milhões de brasileiros e brasileiras: ter sua moradia própria.  “Eu era uma simples dona de casa e mãe de seis filhos. Morava em um bairro chamado Felipe Camarão, na zona oeste de Natal. Um dia, fiquei sabendo que havia uma ocupação num terreno no bairro do planalto, próximo de onde eu morava. Então, como vivia no fundo do quintal da casa da minha mãe, não pensei duas vezes. Arrumei o pouco que tinha e fui saber como conseguir um espaço pra fazer um barraco na ocupação”.

Ocupação Leningrado

Em 9 de abril de 2004, O MLB, ainda jovem no Rio Grande do Norte, organizou a maior ocupação do Movimento até então no Norte-Nordeste. A Ocupação homenageava Vladmir Ilitch Ulianov, o Lênin, líder da Revolução de Outubro, e também a cidade que resistiu contra a invasão dos nazistas na União Soviética. Leningrado organizou mais de mil famílias na luta por moradia digna no bairro dos Guarapes, em Natal. Em 2010, tornou-se um conjunto habitacional, e atualmente só não é reconhecido enquanto bairro por decisão política da Prefeitura em não incluir Leningrado no plano diretor.

Valdete integrou a coordenação da Ocupação Leningrado, e se tornou uma das principais lideranças do MLB no Rio Grande do Norte, mostrando uma grande vontade de luta e disposição para transformar a realidade. Mas ela logo percebeu que não bastava apenas lutar pela moradia, que na verdade era necessária uma mudança no sistema de produção para que a vida do povo se transformasse de verdade. “Temos que lutar para conseguir viver com dignidade. Meu marido é soldador, veja bem: nós não temos dinheiro para comprar o portão que ele ajuda a fabricar”, disse.

As palavras de Valdete mostram a realidade em que vivem hoje os trabalhadores: a classe trabalhadora vende sua força de trabalho pois não tem acesso aos meios de produção – as fábricas, as terras, as máquinas, etc. –, os quais estão sobre a propriedade de uma minúscula classe, a burguesia. A burguesia então se apropria dos produtos fabricados pelos operários, e, como o salário pago aos operários é apenas o mínimo necessário para sobreviver, os capitalistas lucram com o trabalho alheio e os trabalhadores não têm acesso ao que produzem. Essa é uma das leis que regem o capitalismo: para que existam ricos, eles exploram o trabalho dos pobres.

Entendendo essa realidade, Valdete se organiza então no Partido Comunista Revolucionário (PCR), e passa a organizar o povo não apenas para lutar pela moradia, mas também lutar pelo fim desse sistema, que é a causa da exploração e falta de direitos da classe trabalhadora. Profunda defensora dos direitos das mulheres, Valdete se orgulhava em ser comunista e defender a causa dos trabalhadores e trabalhadoras, e defendeu o Partido e o MLB até seu último dia de vida. “Com o MLB eu aprendi muitas coisas: uma delas é que é possível transformar essa realidade e viver em um mundo justo”.

Entrada para a imortalidade

Enquanto ainda escrevia sua história em Leningrado, Valdete Guerra descobriu um câncer. Na luta contra o câncer, ela se deparou com o que muitas mulheres hoje também enfrentam: um diagnóstico tardio e a falta de acesso a um tratamento de qualidade. Valdete foi mais uma condenada do pior crime na sociedade capitalista: nascer pobre. Ela nos deixou precocemente, entrou para a imortalidade aos 41 anos, em 2011. Desejou ser enterrada com a camisa do MLB, e recebeu uma homenagem digna de uma revolucionária: sob o caixão estava a bandeira do seu Partido e foi tocada A Internacional, canção da luta dos trabalhadores e explorados de todo o mundo.

“A companheira Valdete sempre se destacou pela coragem e combatividade com a qual enfrentava a luta todos os dias. Uma mulher de fibra, firme com o Partido e com a defesa da Revolução Socialista. Nunca foi de meias palavras e sempre muito verdadeira com o que pensava e sentia. Foi com essa coragem e firmeza que nos comunicou que já tinha dito à família que queria ser sepultada vestindo a camisa do MLB, que fosse entoada “A Internacional” e com a bandeira de seu Partido, o PCR, sobre seu caixão. E assim o fizemos. Tinha centenas de pessoas em seu enterro, o que expressava a importância de Valdete para o povo das Ocupações do MLB. Antes de cantarmos o Hino da Classe Operária alguns camaradas fizeram discursos em sua homenagem e reafirmando a continuidade de sua luta. Foi uma honra e um aprendizado ter convivido com a camarada”, relata Alex Feitosa, militante do MLB no Rio Grande do Norte.

Hoje, Valdete Guerra é homenageada onde sua luta começou: em Natal, no bairro do planalto, próximo à divisa com o Guarapes, está a Ocupação Valdete Guerra, que luta há 4 anos com mais de 70 famílias. A luta de Valdete segue presente em cada mulher que veste a camisa do MLB para lutar por seus direitos, por uma sociedade mais justa e pelo socialismo.

“Aprendi com a vida que a luta não pode parar, e é isso que levo comigo todos os dias”

Valdete Guerra, presente!

Matéria publicada na edição impressa nº 309 do jornal A Verdade

Estudantes fundam DCE do IFBA em Feira de Santana

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Depois de anos sem um DCE no Instituto Federal da Bahia na cidade de Feira de Santana, mobilização estudantil puxada por militantes do Movimento Correnteza, fundam o DCE José Coutinho Estrela IFBA – Feira de Santana. Com ampla participação estudantil, a entidade busca lutar pelas melhorias no campus e por mais direitos estudantis.

Guilherme Gonçalves | Feira de Santana (BA)


JUVENTUDE – Foi fundada no dia 25 de março, com a participação do Movimento Correnteza, o DCE José Coutinho Estrela IFBA – Feira de Santana. Essa fundação marca um novo período no movimento estudantil do Instituto Federal, que enfrenta um cenário precário para os estudantes.

A falta de transporte público marca o descaso com os estudantes, visto que o campus fica na saída da cidade e quase não há opção de ônibus para ir e vir do Instituto Federal. Para além disso os estudantes da graduação se deparam com um grande problema na alimentação, já que não existe bandejão e a única opção de alimentação custa 15 reais o almoço. Ao questionar o Instituto alega que há falta de verba. Isso é reflexo da política financeira do governo que prioriza o pagamento de banqueiros na dívida pública ao invés de investir mais na educação gratuita e de qualidade 

Como se não bastasse os problemas para o estudante conseguir permanecer estudando, quando chega na sala de aula, a realidade que os espera é desanimadora. Os estudantes que necessitam de computadores para estudar, passam por empecilhos, visto que as máquinas muitas vezes não funcionam e não tem prazos para conserto. Além disso, se quiserem utilizar para estudo fora do horário da aula, são barrados pela instituição. Ou seja, o Instituto Federal dificulta cada vez mais a permanência dos estudantes pobres, causando uma evasão daqueles que não têm condições de bancar alimentação, transporte e aparelhos para estudo.

Vendo esse cenário, estudantes organizados no Movimento Correnteza iniciaram as mobilizações para a fundação do DCE, para lutarem pelo direito de permanecer e estudar com qualidade. O processo se iniciou com muita passagem em sala, panfletando sobre o problema do campus e politizando a organização e luta dos estudantes. Além disso, a apresentação nas passagens do jornal A Verdade auxiliou nas denúncias da realidade e na organização estudantil. Por fim, a política do copinho foi essencial, pois garantiu que houvesse panfletos para todos estudantes do campus.

Após as mobilizações, foi marcada a assembleia de fundação e eleição do DCE no dia 25 de março (terça-feira). Com brigada da Juventude e com mais de 80 estudantes no plenário, a Assembleia aprovou a fundação e nomeação do DCE do IFBA em homenagem a José Coutinho Estrela. José foi professor do Colégio Feira de Santana, preso e torturado durante a ditadura militar por promover uma feira de conhecimentos e ser considerado “subversivo” ao regime militar. Nesse momento tão importante na luta por memória, verdade e justiça é uma honra e vitória homenagear aqueles e aquelas que foram perseguidos pelos militares.

Agora, os estudantes já começam a organizar os próximos passos do rumo do movimento estudantil. A luta pelo bandejão, passe livre estudantil, aumento de frotas de ônibus se inicia. Além disso há uma grande empolgação na construção de um grandioso Congresso da UNE, com a finalidade de tomar a UNE de volta para as mãos dos estudantes e que construa política consequente pro movimento estudantil!