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segunda-feira, 18 de agosto de 2025
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Documentário sobre a história de Jaboatão dos Guararapes (PE) resgata memória cultural da cidade

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João Montenegro
João Montenegro dirige o filme “Tesouros de Jaboatão”, que trás um debate sobre a história da cidade e resgata das origens de nosso país. Fotos: divulgação.

Lançado dia 18 de maio de 2025 no Cine-Teatro Samuel Campelo, o documentário “Tesouros de Jaboatão” resgata a história do município e levanta uma discussão sobre memória histórica e cultural em uma das cidades mais importantes de Pernambuco. O jornal A Verdade entrevistou o diretor do filme, João Montenegro, que fala sobre a importância da obra para a cultura local.

 

Clóvis Maia – Redação Pernambuco


Entrevista- Com direção de João Montenegro, pesquisador, produtor cultural e colaborador do Jornal A Verdade, e produção da Bem Viver Produções, o documentário “Tesouros de Jaboatão: revelando a história através das igrejas centenárias”, teve sua estreia no histórico Cine-Teatro Samuel Campelo, no centro de Jaboatão e inaugurado em 1947. O filme resgata a história de 4 igrejas do período colonial brasileiro em Jaboatão para discutir o passado político, religioso e cultural local, a escravidão no município, a resistência popular e a religião. A exibição foi gratuita e contou com a presença dos movimentos sociais e da população jaboatonense, com um debate após a exibição.

O Jornal A Verdade entrevistou o diretor do documentário, João Montenegro, sobre a importância dessa produção para a cultura local e para a produção cinematográfica em Pernambuco.

 

A Verdade- Jaboatão é hoje a terceira cidade mais rica de Pernambuco, no entanto, há poucos espaços culturais e fortalecimento dessas atividades no município, quais os motivos que inspiraram o filme? Há uma necessidade de se abrir mais espaço para a arte a cultura locais?

 

João Montenegro- Jaboatão é uma cidade que em muitos aspectos é esquecida. Em termos de sua história, e até mesmo o brilho é um pouco ofuscado em detrimento das narrativas que permeiam Recife, Olinda e nesse sentido fica parecendo que é uma cidade sem histórias, mas, na verdade é uma cidade de apagamentos como grande parte da história brasileira. E como grande parte da história brasileira é também uma cidade marcada por contradições. Contradições de classe, por contradições na sua própria formação. Nesse sentido, é uma cidade que foi formada durante o período da escravidão e carregou essas marcas na sua história, ao mesmo tempo surge ao redor de engenhos e esses engenhos continham quase todos igrejas. Então desde a origem da cidade, de seus primórdios, havia uma íntima relação entre o poder local, o poder escravocrata e a igreja enquanto instituição, ao mesmo tempo legitimadora e por outro lado apaziguadora das contradições colocadas na ordem do dia pela escravidão.  Jaboatão é uma cidade que cresce em torno da fé e do trabalho escravo. E aí, nesse sentido, esse documentário visa trazer a tona essa memória, mostrar a história daqueles que foram esquecidos, mas não de todo modo, mas sim apresentando essa perspectiva de uma cidade formada pelas contradições para contar um pouco da história da cidade. E contar a história de Jaboatão é contar um pouco da história do país.

Jornal A Verdade- Conta um pouco mais como se deu essa questão da formação da cidade, envolvendo a questão das igrejas.

João Montenegro- A Igreja Católica, nesse aspecto, teve um papel fundamental na formação da identidade brasileira. Então, quando a gente fala de Jaboatão, a gente fala um pouco de qualquer lugar do país, claro, com suas particularidades, mas é uma história que se assemelha muito A história que a gente pode encontrar de norte a sul do Brasil, então é um modo de contar, talvez, pra gente mesmo, a importância do nosso passado, fazer um resgate, mas um resgate crítico, que a gente possa refletir sobre como isso determina, por exemplo, a nossa história hoje. A cabeça pensa onde os pés pisam, e os países onde pisam tem muita história. Jaboatão é uma cidade de muita história Então esse documentário surge acima de tudo como um resgate.

 

Jornal A Verdade- Como foi trabalhar com esse material histórico?

 

João Montenegro- Essas igrejas têm relatos muito marcantes. Uma delas, por exemplo, a igreja Nossa Senhora dos Prazeres, surge a partir da Batalha dos Guararapes, batalha essa que foi fundamental para a criação da identidade nacional brasileira, a criação do próprio exército. Então a pátria nasce um pouco em Jaboatão, como descreve o slogan da própria cidade. Nesse sentido, essas igrejas passam pela história local e também se encravam na história nacional. Todas as quatro igrejas fundadas por senhores de engenho. Isso reflete também um aspecto de classe da igreja no Brasil. Reflete também um papel ideológico de conformação da identidade brasileira e de resignação diante das desigualdades. Ao mesmo tempo, a igreja é, como fala Marx, o coração de um mundo sem coração. Então, é uma expressão da contradição social, ao mesmo tempo que, às vezes, a legitima, por outro lado, remedia. E esse papel também da igreja de remediar, de acolher aos pobres, os menos favorecidos. Tudo isso expressa essa contradição da igreja que, em última instância, está presente na nossa identidade e na nossa trajetória política, social e na constituição desse país.

Chuvas causam prejuízos em 132 cidades do Rio Grande do Sul

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Já se contabilizam 132 municípios afetados pelo temporal e mais de 7 mil pessoas estão fora de casa. A chuva que atinge o estado desde o dia 16 de junho elevou o nível dos rios em diversas regiões.

Claudiane Lopes | Rio Grande do Sul


BRASIL – A cada nova chuva, o medo se instala. Novamente mais uma tragédia anunciada, depois treze meses após a última enchente de 2024 no Rio Grande do Sul. Já se contabilizam 132 municípios afetados pelo temporal e mais de 7 mil pessoas estão fora de casa. A chuva que atinge o estado desde o dia 16 de junho elevou o nível dos rios em diversas regiões. Há registros de 38 bloqueios em estradas e quatro pessoas morreram em decorrência da chuva. Uma pessoa segue desaparecida.

Na cidade de Canoas, já são 100 mil pessoas afetadas e 430 desalojadas. Em Porto Alegre, a situação é especialmente grave na região das Ilhas, que está em alerta máximo devido ao avanço das águas. Além disso, vários pontos da cidade enfrentam alagamentos e bloqueios. Estamos mais uma vez perto de atingir a cota de inundação do Rio Guaíba, que está em 3,60 metros, e o nível já chegou a 2,77 metros, subindo cerca de 1 cm por hora.

Mais uma vez, a Prefeitura aposta em medidas paliativas como sacos de areia, enquanto falta um plano estruturado e investimentos concretos para prevenir as enchentes de forma definitiva. As famílias atingidas estão desamparadas, sem informações precisas sobre os riscos, a necessidade de evacuação ou os procedimentos de segurança que deveriam ser seguidos. Essa ausência de comunicação é intencional e agrava o sofrimento e a insegurança de quem já viveu situações extremas.

A falta de transparência e agilidade na resposta expõe um problema estrutural: a cidade e seu entorno não estão preparados para enfrentar os efeitos do clima em crise ambiental. Além disso, é fundamental que as ações de limpeza dos bueiros, manutenção das bombas de drenagem e abertura dos abrigos sejam aceleradas e priorizadas, evitando que o caos se repita.

O medo e a ansiedade causada pelas chuvas é resultado direto de um projeto de cidade e de estado que há séculos virou as costas para o povo e para a natureza. Não é um problema de agora, é fruto do sistema capitalista – imperialista que destrói a natureza na busca por mais lucros.

Enquanto as comunidades esperam por soluções reais, o Governador Eduardo Leite (PSD) e o Prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo (MDB) seguem empurrando o problema com a barriga. Já se passaram um ano da enchente passada, e nada de estrutural foi apresentado. A drenagem continua precária, as áreas de risco seguem esquecidas. Famílias esperam suas casas que foram prometidas.

O que acontece não é um caso isolado. O RS já é palco de políticas que colocam o lucro acima da vida, como a autodeclaração e a autorregulação das empresas que exploram e destroem o meio ambiente sem controle real. E agora querem levar esse modelo de destruição para todo o país, através do “PL da Devastação” que corre no Congresso e ameaça institucionalizar a devastação ambiental no país.

A vida do povo precisa ser prioridade. É urgente mudar tudo! E somente lutando por outro modelo de sociedade, a sociedade socialista, podemos viver com tranquilidade.

Onda de violência em Pernambuco escancara falência do capitalismo

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PMs reprimem manifestação no Recife. 2021. É isso que as autoridades destinam para a classe trabalhadora. Foto de Manu Rodrigues.

A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) publicou os dados do último trimestre de 2025 em relação aos homicídios registrados em Pernambuco. As duas cidades mais ricas do estado e a mais rica do interior estão liderando esse ranking, algo que levanta uma reflexão sobre a realidade política de nossas cidades.

 

Airton Soares e Clóvis Maia–Redação Pernambuco


SOCIEDADE- A Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE) divulgou os dados dos homicídios registrados em Pernambuco no último trimestre e uma coisa chamou atenção. As três cidades mais ricas do estado são as que mais tiveram homicídios, são elas: Recife (159 mortes), Jaboatão dos Guararapes (61 mortes) e Petrolina (50 mortes). Acontece que essas três cidades são as duas mais ricas de Pernambuco, Recife em primeiro lugar, com um PIB de R$54 milhões, Jaboatão em segundo, com R$13 milhões e Petrolina, que apesar de ser a sétima economia do estado, com um PIB de R$5 milhões, é simplesmente a cidade mais rica do interior de Pernambuco.

Esses dados da violência levantam uma discussão que precisa ser feita: de um lado a escancarada hipocrisia da direita, que governam Petrolina e Jaboatão há décadas, mas também a mentira do PSB, que de Socialista só tem o nome, e que mesmo tendo apoio de partidos ditos de esquerda como o PCdoB, PT e PDT, servem para enganar o povo trabalhador, que vê na propaganda um Recife que não existe.

 

Petrolina: riqueza para poucos

 

No final do ano passado uma onda de violência tomou conta de Petrolina, no sertão pernambucano. Entre os dias 20 e 26 de Outubro de 2024, por exemplo, uma crescente onda de violência trouxe preocupação na população.  Pra piorar, o clima de insegurança tem como resposta do poder público local a repressão contra a população de rua e contra as periferias, para maquiar a situação. Giovanny Diniz Carvalho, de 36 anos, era Personal Trainer e foi assassinado a tiros no bairro Vila Mocó. Bruno Ramalho, empresário de 50 anos, foi morto em plena Orla da cidade.  Outra vítima, um jovem identificado apenas como Rafael, foi morta a facadas, dentro de casa, no bairro Pedro Raimundo.

Também no bairro Vivendas, tiros foram disparados durante a tentativa de homicídio contra um homem de 32 anos. Um jovem de 23 anos foi morto a tiros em um estabelecimento comercial no bairro Gercino Coelho e no fim de outubro um tiroteio em pleno Terminal Rodoviário resultou na morte de um jovem de 23 anos e deixou outras duas pessoas feridas. A cidade também lidera o número de casos de violência doméstica no sertão. Até novembro de 2024 foram registrados 2.532 casos.

Petrolina é a terceira cidade mais populosa de Pernambuco (414.083 mil habitantes em 2024 segundo o IBGE) e a 6° maior economia do estado. Ainda assim a situação da violência deixa escancarado que esse poder econômico não está servindo para resolver questões básicas como a segurança. A classe trabalhadora, que luta todos os dias para conseguir o pouco que tem, não quer ter suas coisas roubadas e sua vida interrompida. Porém, ao analisar com a lente do materialismo histórico, do marxismo e da estatística percebemos que essas soluções além de erradas são usadas como ferramenta para aumentar ainda mais a repressão no sistema que vivemos, o capitalismo.

A relação entre o aumento do policiamento e a diminuição da violência já foi provada como errada há muito tempo. Quando aumentamos o efetivo policial e aumentamos a violência da polícia o que acontece é justamente o contrário. Podemos citar por exemplo o Amapá, estado que registra proporcionalmente o maior efeito policial do Brasil (4,2 policiais militares para cada mil habitantes), lidera o ranking dos homicídios brasileiros (45,2 mortes por 100 mil). Santa Catarina fica no extremo oposto: tem o menor efetivo policial do Brasil (1,3 PMs por mil habitantes) e a segunda menor taxa nacional de homicídios (7,9 por 100 mil habitantes). Esse discurso falso de colocar mais repressão e não se preocupar com questões como saúde, educação e cultura continua sendo usado como um instrumento para um projeto de “limpeza” na cidade. Petrolina é governada pela direita há décadas e tem hoje na prefeitura Simão Durando, União Brasil.

 

Jaboatão dos Guararapes. A extrema direita destruiu a cidade

 Já a segunda cidade mais rica do estado, é governada há décadas pelas extrema direita. Jaboatão vem registrando desde 2022 um aumento nos registros de homicídios. Bairros populares como Curado, Prazeres e Cajueiro Seco estão entre os mais atingidos. Apesar de riquíssimo, o segundo mais populoso município de Pernambuco parece completamente abandonado, aparecendo entre as 10 piores ofertas de creches das cidades pernambucanas (Tribunal de Contas de Pernambuco de 2023) e se quer possuí um transporte municipal regular, apesar de um PIB milionário. Como resposta para a situação da violência, o Prefeito, Mano Medeiros (do PL) anunciou no início do mês a intenção de armar a Guarda Municipal, o que vai certamente causar mais problemas, especialmente para os mais pobres. Como se não bastasse, as chuvas, o desemprego, e a falta de um transporte público municipal são gargalos que demonstram o quanto a  cidade se encontra desassistida. Pra se ter uma ideia do abandono, a Prefeitura só recebeu as famílias do residencial Mércia de Albuquerque 2, de Cajueiro Seco, e da ocupação Selma Bandeira, de Dom Helder, depois de vários atos para exigir uma audiência pública com o poder local.

 

Recife: muita diferença entre a vida real e a propaganda

 

A capital de Pernambuco lidera o ranking estadual de homicídios do último trimestre. A cidade mais rica do estado é governada pelo PSB, com apoio de partidos ditos de esquerda como PT, PDT e PCdoB. Porém, quando olhamos para a realidade da cidade vemos que a propaganda da Prefeitura mente. Em 2024 houve um aumento de 4,8% de casos de homicídios na capital (de 597 casos em 2023 para 626 em 2024). Como resposta para o aumento da violência o Prefeito João Campos anunciou em abril que também seguirá a política da extrema direita de armar a Guarda Municipal recifense.

Com toda essa crescente violência e a inércia dessa falsa política, que mesmo disfarçada de esquerda, fica escancarado que, na verdade, estamos vendo é um projeto de uma elite para se manter no poder e lucrar às custas da população mais pobre seguindo as regras do sistema vigente. São grupos e famílias que enriqueceram com a administração pública enquanto vemos nossa população negra, nossos jovens e as periferias de um modo geral desamparadas. Em comum entre essas três cidades, as alianças e as disputas por poder, e o abandono ao ensino, cultura e saúde. Quando professores, enfermeiros ou outros servidores fazem greve, sabemos como tais autoridades tratam as categorias. Seja no âmbito local ou no internacional, o capitalismo prova cada vez mais que ele não tem serventia alguma para a classe trabalhadora, e que só tem como alternativa a organização popular ou mais miséria no capitalismo.

 

 

Governo Ibaneis Rocha e Terracap promovem despejo violento na Terra indígena Bananal, no DF

O despejo violento da Aldeia Teko Haw, no Distrito Federal reflete a aliança entre interesses privados e poder público, ameaçando os direitos dos povos indígenas.

Caio Bessa e Joyce Melo | Rio de Janeiro (RJ)


LUTA POPULAR – Na manhã de 15 de abril de 2025, o Distrito Federal amanheceu sob fortes tensões. Uma operação conduzida pelo Batalhão de Choque da Polícia Militar, em apoio à Terracap — Companhia Imobiliária de Brasília —, resultou em um despejo violento da Aldeia Teko Haw. Localizada na comunidade indígena Bananal, esta também é conhecida como Santuário dos Pajés, na Asa Norte da capital federal.

A área ocupa cerca de 50 hectares e abriga diferentes etnias, entre elas os Fulni-ô Tapuya, Tuxá, Kariri-Xocó, Guajajara e Tupinambá, e os povos indígenas que vivem ali a consideram sagrada. A área existe e resiste há mais de quarenta anos e, desde a década de 1990, indígenas reivindicam o reconhecimento da terra como território tradicional junto à Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).

Especulação Imobiliária e Interesses Privados: Ameaça aos Territórios Indígenas

Por estar situada em uma das regiões mais valorizadas do Distrito Federal, o território tem sido alvo constante da especulação imobiliária e de interesses privados ligados ao setor da construção civil. Denúncias apontam que o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Terracap têm articulado acordos com grandes empreiteiras, como a Emplavi e Brasal, interessadas em incorporar a área ao projeto de expansão urbana do Setor Noroeste.

A ação foi marcada pelo uso de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha, tratores e tropas montadas. Com extrema violência, ela atingiu a comunidade de surpresa, inclusive idosos e crianças que se dirigiam para a escola. Além da violência física, houve a invasão de espaços sagrados; por exemplo, a casa de reza Guajajara — centro espiritual da Aldeia Teko Haw — foi desocupada à força para ser destruída.

Apesar de um acordo judicial de 2018 ter reconhecido oficialmente 32,4 hectares do Santuário dos Pajés como território indígena da etnia Fulni-ô Tapuya, outras comunidades — como os Guajajara, Tuxá, Kariri-Xocó e Wapichana — também habitam a área, mas não foram incluídas nesse reconhecimento. O Ministério Público Federal (MPF) recomendou a remoção da Aldeia Teko Haw, alegando que ela não integra oficialmente a Comunidade Indígena do Sagrado dos Pajés.

A Luta dos Povos Indígenas pela Preservação de Seus Territórios

Segundo lideranças locais, a ação representa um conflito fundiário e um ataque aos direitos indígenas garantidos pela Constituição Federal e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que assegura a consulta prévia, livre e informada para qualquer intervenção em territórios tradicionais.

Em entrevista ao Jornal A Verdade, o indígena e morador da Teko Haw, Ashaninka Tsonkiri, relata: “Como que um país que vai sediar a COP 30 está destruindo a floresta em plena capital do país? Aqui não é só um território. É um território sagrado. E nós precisamos da ajuda de todo mundo porque os ricos estão dominando o Judiciário, os ricos estão dominando as empresas, os ricos estão privatizando tudo. E nós não vamos permitir isso, porque nós já vivíamos aqui. Somos povos originários e exigimos respeito.”

Corrupção e Acordos Políticos

A responsabilidade pela operação recai diretamente sobre o governador Ibaneis Rocha, que busca a reeleição e, segundo denúncias, estaria cumprindo acordos políticos com grandes empreiteiras envolvidas em escândalos.

A CPI das Empreiteiras de 2021 escancarou um sofisticado esquema de corrupção envolvendo grandes construtoras e agentes públicos no Distrito Federal. O relatório apontou a existência de um cartel que fraudava licitações por meio de rodízios combinados, superfaturamento de obras e distribuição de propinas disfarçadas em “emendas parlamentares”. As empreiteiras não apenas decidiam entre si quem venceria os contratos, como também elaboravam projetos e influenciavam diretamente o orçamento da União, transformando o lobby institucional em um motor silencioso da captura do Estado. Apesar das provas documentadas, como trocas de obras entre empresas e relatos de favorecimento político, a CPI foi arquivada sem punições.

Esta ação escancara a aliança entre capital privado, poder público e forças policiais, que se articulam para avançar sobre territórios indígenas em nome do lucro. Trata-se de uma nova fase da colonização, agora movida por cifras e concreto. Enquanto Ibaneis promete sustentabilidade aos líderes mundiais, como fez durante o Brazil Economic Forum de 2025, o sangue indígena escorre no chão vermelho do Cerrado.

O ataque à Teko Haw não é uma exceção; porém, a resistência indígena permanece viva. A comunidade reafirma seu compromisso com a preservação de seus territórios, culturas e modos de vida. Aumentando essa luta, representantes da aldeia participaram do Acampamento Terra Livre 2025, em Brasília, buscando apoio de movimentos sociais e da sociedade civil para impedir o avanço da especulação sobre suas terras ancestrais. A resistência indígena se levanta com cada grito, com cada palavra, com cada denúncia. A aldeia vive, a luta seguirá!

A Importância dos sebos para a leitura no Brasil

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Mesmo com a internet e da difusão de informação, o brasileiro tem lido cada vez menos e o acesso aos livros é cada vez mais difícil. No meio de tanta dificuldade para se adquirir um bom livro e com um preço acessível, os sebos continuam sendo uma alternativa para adquirir livros mais baratos, além de serem espaços de resistência cultural e promoção da arte.  

 Marcelo Pessoa | Petrolina.


CULTURA- Uma realidade bem triste no Brasil em relação aos livros e a questão das vendas online, nem sempre acessível para a maioria dos trabalhadores. Nesse processo os sebos continuam sendo uma opção que representa uma fonte de acesso a literatura, cultura e a livros mais acessíveis para o grande público. A origem do termo ainda hoje não é precisa, alguns remontam o fato dos livros antigos terem em suas pontas o sebo das velas que eram feitas de gordura, e se popularizou pelo país. O livreiro em sua grande maioria é um trabalhador da arte que fica feliz quando consegue vender em dias bons seu sustento.

Por isso é importante essa cultura, que não é apenas comprar um livro e ir embora.  De acordo com o Anuário Nacional de Livrarias com levantamento de dados de 2023, o Brasil tem 2.972 livrarias espalhadas pelos cinco cantos do país, mas destes dados não se tem informações ou um levantamento da quantidade de sebos espalhados país afora, isso por que, apesar da pesquisa registrar que temos 102 sebos registrados, ainda há diversos espaços que operam de forma autônoma e sem uma organização prévia. Mesmo assim os números nos mostram algo para se refletir: do mesmo e a quantidade de sebos ainda é também muito pequena para um país do nosso tamanho.

Um bom exemplo da importância de um espaço como esse temos aqui em Petrolina, no Sertão Pernambucano. Petrolina com mais de 400 mil habitantes   um sebo que existe desde 1993 continua resistindo e prestando um grande serviço cultural para a região. O sebo Rebuliço pertence a Mauricio Cordeiro Ferreira é um escritor e militante da área cultural em Petrolina e tem seu sebo localizado próximo à Praça Dom Malan e a praça 21 de setembro, bem centro da cidade. Ou seja, é um espaço importante e histórico na cidade, aberto todos os dias e além disso participa de diversas atividades culturais na região.

Com livros de diversos temas o Sebo Rebuliço é um espaço de resistência na terceira maior cidade do estado, já foi palco de lançamento de livros, recebe recitais poéticos e movimento a cena cultural local. É mais do que um espaço comercial, é uma necessidade que a sociedade precisa, pois mesmo que existam a possibilidade de adquirir livros pela internet nada substitui a necessidade da interação entre as pessoas e a reprodução da arte local, coisa tão bem preservada e mantida por espaços como esse.

Nadezhda Krupskaya e a importância das bibliotecas para a Revolução Russa

A militância, o exemplo e a dedicação de uma das maiores dirigentes do partido Bolchevique, uma educadora Marxista que dominava a ciência do Socialismo e inovou ao criar ações práticas para pôr fim ao analfabetismo na Rússia e edificar o poder soviético.

Alberes Simão | PERNAMBUCO


EDUCAÇÃO- Nadezhda Konstantinovna Krupskaya Ulianova, foi uma das figuras de destaque nas atividades do Partido Comunista Bolchevique, fundadora do sistema educacional soviético e pioneira no desenvolvimento, estudos e na política de criação e difusão de bibliotecas como espaços culturais, de agitação e propaganda, além de formação da ciência, da política na Rússia pós-revolução de 1917 e posteriormente no que viria a ser a União das Repúblicas Soviéticas (URSS), especialmente formando as crianças e combatendo um dos maiores problemas no campo social no país: o analfabetismo, que impedia o desenvolvimento social e humano entre a população.

Krupskaya nasceu em 26 de fevereiro de 1869 em São Petersburgo. Ela terminou o ensino médio em 1887 e em 1890, enquanto estudava no Women ‘s College (Faculdade Feminina) em sua cidade, começou a participar dos Círculos Marxistas. De 1891 a 1896, ela se dedicou a espalhar suas ideias revolucionárias na escola para trabalhadores. Conheceu Vladimir Lênin em 1884 com quem veio a se casar pouco depois. Juntos, mergulharam no processo revolucionário e organizativo da classe trabalhadora russa.

Militante incansável

Em agosto de 1896, ela foi presa e levada com Lênin ao exílio, inicialmente em Shushenskoye e depois em Ufa. Naquela época, ela escreveu seu primeiro livro The Woman Worker (A mulher trabalhadora). De 1901 a 1905, ela viveu com Lênin na Alemanha, Grã-Bretanha e Suíça onde trabalhou nos serviços de referência das bibliotecas do Museu Britânico e na Biblioteca Nacional da Suíça, e também participando ativamente do movimento revolucionário e publicando Iskra e Vperiod. Em seu retorno à Rússia, em novembro de 1905, ela trabalhou como secretária do Comitê Central do Partido Bolchevique e continuou a desenvolver um intenso trabalho dentro e fora do partido.

De 1907 a 1917, ela viveu novamente no exílio com Lênin, interessando-se na época pela Educação popular na Rússia e nos países da Europa Ocidental. Era membro da Sociedade Pedagógica de Pestalozzi, na Suíça, e dos Museus Pedagógicos de Freiburg e Berna. Com a chegada ao poder dos Bolcheviques na Rússia, em 1917, foi nomeada Comissária da Educação, participando ativamente da preparação de leis educacionais, em atividades destinadas a combater o analfabetismo, na organização do sistema escolar russo e no estabelecimento de fundações culturais para alcançar uma nova sociedade.

Foi editora de um grande número de publicações a respeito da educação pública, escola para adultos, socializando e refletindo métodos de alfabetizar operários, as mulheres e os camponeses. Dedicou muito tempo ao mundo das bibliotecas, sendo também especialista em bibliografia russa e bibliotecas da Europa Ocidental, mostrando, por outro lado, interesse especial pelas bibliotecas norte-americanas no qual era muito apaixonada pela Library of Congress e pelo Melvil Dewey que posteriormente foi sua inspiração para escrever o sistema Biblioteko Bibliografic. Ela participou da elaboração da legislação sobre as bibliotecas soviéticas, incluindo o decreto sobre a centralização das mesmas.

As conferências e reuniões mais importantes realizadas no campo da Biblioteconomia foram realizadas sob sua supervisão. Krupskaya deu várias palestras sobre distribuição de livros, problemas no campo da biblioteconomia ou bibliotecas públicas, também escreveu numerosos artigos sobre esses tópicos.  Podemos agrupar todas as suas atividades em três seções. Além disso, era uma grande propagadora e ardente estudiosa das teorias do Marxismo.

Trabalho e exemplo depois da Revolução

Durante as duas primeiras décadas do poder soviético, ela liderou a organização do Sistema de Bibliotecas, contribuindo para a popularização das bibliotecas e seu uso por um amplo setor da sociedade. Ela era uma grande conhecedora de todos os aspectos relacionados à biblioteconomia. Passou muito tempo desenvolvendo literatura infantil e organizando bibliotecas escolares e públicas, manifestando profunda preocupação em criar e manter vivo esses espaços, especialmente nas cidades mais afastadas do centros, nas vilas e nas fábricas.

Trabalhou no desenvolvimento da bibliografia e amplamente desenvolvendo os cursos de biblioteconomia e incentivando os estudantes das áreas rurais do mais jovem país socialista a fazerem este curso.

Ela elaborou os princípios fundamentais da biblioteconomia na União Soviética, seus escritos foram amplamente publicados e estudados e muitos foram os livros e artigos escritos sobre ela. Krupskaya recebeu a Medalha Anual do melhor professor e bibliotecário da União Soviética. Ela veio a falecer em 27 de fevereiro de 1939 em Moscou. Fez de seu trabalho um exemplo. Toda vida e obra desta grande mulher que dedicou sua vida no desenvolvimento da biblioteconomia e na revolução russa deixa um legado importante para um país que era semifeudal para uma das maiores potências mundiais do ocidente.

Pesquisas apontam que após a revolução de 1917 apenas 44% da população russa era alfabetizada. Fruto desse intenso trabalho da revolução esse índice deu um salto enorme para 60,9% de alfabetizados em 1926, apenas nove anos após a tomada do poder, mesmo tendo passado por uma guerra civil e a invasão de 16 países que tentaram acabar com a revolução vitoriosa. 13 anos mais tarde, em 1939 a URSS já possuía 89,7% de sua população alfabetizada, o que representava um verdadeiro milagre do Socialismo, especialmente por falarmos de um país que era praticamente semifeudal. Até hoje as obras e o pensamento de Krupskaia são estudadas e contribuem para entender como é possível por meio da cultura e do aprendizado transformar vidas e a sociedade.

 

 

Polícias do país perseguem trabalhadores e protegem os ricos

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As polícias do país tem servido apenas aos interesses privados dos ricos. A cada ano fica mais evidente que de público é só o dinheiro do povo.

Eloísa Bonifácio| São Caetano do Sul (SP)


SOCIEDADE – Em todo o país, a população enfrenta uma realidade marcada pela fome, pelo alto custo de vida e pela exploração da classe trabalhadora, que segue submetida a jornadas exaustivas, como a escala 6×1, que atinge em maior escala o povo negro. Mas também tem enfrentado o aumento da violência armada do Estado.

No dia 5 de abril, Natanael, um jovem negro de 19 anos, foi assassinado na favela do Siri, em Florianópolis (SC). Seis dias depois, em 11 de abril, Ngange Mbaye, de 34 anos, trabalhador ambulante e imigrante senegalês, foi morto no bairro do Brás, em São Paulo (SP). Ele deixou uma esposa grávida de sete meses. No dia seguinte, 12 de abril, Bárbara, de 34 anos, mãe e trabalhadora, foi assassinada em Natal (RN). Já em 13 de abril, Ana Luiza, jovem negra de 19 anos e universitária, foi assassinada em Salvador (BA).

O que esses casos têm em comum é evidente para a classe que sente na pele as contradições deste sistema de miséria e injustiça: as balas vêm sempre da PM, e os corpos baleados são quase sempre negros.

A falta de dignidade nos postos de trabalho, as privatizações que comprometem serviços essenciais e o aumento da violência são apenas alguns reflexos desse sistema que está apodrecido e não consegue dar respostas às dores mais profundas da classe trabalhadora e do povo negro, pois ele mesmo é o causador dessa miséria.

Ditadura

O golpe militar fascista que instaurou uma ditadura no Brasil em 1964 deixou heranças que continuam vivas. Durante esse período, trabalhadores e jovens negros foram perseguidos, torturados e assassinados a sangue frio pelo braço armado do Estado.

Um exemplo desse fato brutal é a vala de Perus, onde foram encontradas mais de mil ossadas de desaparecidos durante o período da ditadura — muitas delas de crianças. Mais de quatro décadas se passaram desde o fim desse regime, mas essa ferida permanece aberta. Para muitas mães, pais e responsáveis da periferia, ela ainda sangra. A violência policial letal contra adolescentes e crianças no estado de São Paulo aumentou 120% após o início do governo Tarcísio, segundo dados da UNICEF.

Quantos desses jovens foram assassinados na Operação Verão? Quantas mães ainda choram o luto dos seus filhos sem ter uma resposta? Quando a população negra terá direito à segurança pública?

A política fascista da polícia

No dia 16 de abril, o Ministério Público de São Paulo iniciou investigações contra integrantes do 9º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (BAEP) de São José do Rio Preto (SP), após a divulgação de um vídeo nas redes digitais que mostra policiais realizando uma cerimônia com uma cruz em chamas e sinais nazistas.

O vídeo remete a rituais semelhantes aos realizados pela organização supremacista branca Ku Klux Klan, conhecida por sua ideologia racista, antissemita e fascista, que atuou fortemente nos EUA a partir de 1865, promovendo linchamento de negros no sul do país.

Em nota, o comandante do 9º BAEP afirmou que “o vídeo em questão retrata uma cerimônia interna destinada a valorizar o desempenho de novos policiais integrados à unidade”. Porém, em 2019 esse mesmo batalhão realizava treinamentos em tapumes com a palavra “FAVELA” escrita, deixando claro qual é o verdadeiro objetivo da Polícia Militar: assassinar em massa, com crueldade e sangue frio, trabalhadores, favelados, pobres e negros — enquanto protegem os verdadeiros bandidos, os traficantes ricos e os corruptos, aqueles que fazem de tudo em defesa do capital.

Mas essa realidade não se restringe a São Paulo. Na Bahia, a PM lidera o ranking nacional de letalidade policial. Segundo dados recentes, 98% das vítimas são pessoas negras. No Rio de Janeiro, as “operações” continuam ceifando a vida de trabalhadores, jovens e crianças negras — lembraremos sempre de Ágatha, João e Cláudia. Em estados do Norte, como Pará e Amazonas, a repressão atinge de forma brutal povos originários e comunidades quilombolas que resistem há décadas à exploração e ao abandono do Estado. Já no Sul, o cenário é igualmente alarmante: no Paraná, há denúncias recorrentes de tortura e racismo durante abordagens policiais.

Em todos os cantos do país, a opressão avança em ritmo acelerado e atinge níveis insustentáveis. Para a classe trabalhadora é imposta a uma vida de exploração até o esgotamento, a humilhação e a exaustão — principalmente às mulheres e aos negros. No capitalismo, existem duas alternativas para essa classe: suportar a exploração e a violência ou lutar pela libertação de todo um povo, lutar contra o racismo e a exploração, e erguer no mais alto mastro a bandeira da rebelião.

Lutar contra o fascismo

Assim como cresce a ofensiva do fascismo contra os trabalhadores, também crescem as lutas do nosso povo contra o fascismo.

Um exemplo disso são os moradores da Favela do Moinho (última favela no centro de São Paulo), que resistiram ao braço armado do Estado, que, de maneira truculenta, tentou intimidar os moradores para garantir o despejo ilegal dessa comunidade, consolidada há mais de 30 anos.

É preciso ocupar as ruas contra a política fascista. O povo quer a prisão dos generais golpistas e jogar na lata de lixo da história os torturadores de ontem e de hoje. É urgente lutar pela desmilitarização da PM, pelo fim da escala 6×1 e contra o alto custo de vida. Mais do que isso: é preciso lutar pela construção do socialismo, pois será somente com o poder popular que superaremos o racismo e a exploração — e construiremos, de uma vez por todas, Palmares de novo.

Privatização de rodovias em SP ameaça moradias de famílias pobres

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Lote de privatizações de rodovias “Nova Raposo” pode causar despejo de centenas de famílias na Região Metropolitana de SP.

Vinicius Ariel e Renata Álvares | São Paulo


SOCIEDADE – Mais uma vez os privatistas se organizam para vender um serviço essencial em São Paulo, e novamente o alvo é o transporte. No dia 28 de novembro de 2024, a concessão “Lote Nova Raposo” foi leiloada na Bolsa de Valores de São Paulo para a empresa EcoRodovias. Essa concessão não apenas mantém na mão do capital privado as vias anteriormente concedidas à Via Oeste, como também entrega ainda mais rodovias.

Com a justificativa de melhorar as péssimas condições de segurança e mobilidade, o contrato de 30 anos de duração e 7,9 bilhões de reais em investimentos teve pouquíssimo contato com a população que vive perto das rodovias. As únicas duas audiências públicas que aconteceram antes do leilão praticamente não tiveram divulgação oficial.

Além disso, ocorreram num momento de pré-projeto, ou seja, quando os impactos sociais e ambientais das obras estavam convenientemente obscuros. E mesmo com a mobilização de organizações e associações de moradores no movimento “NOVA RAPOSO, NÃO”, uma nova audiência pública foi marcada apenas no dia 04 de Dezembro de 2024, depois que o leilão já ocorrera.

O que é o “Lote Nova Raposo”?

O “Lote Nova Raposo” se trata de mais um exemplo do entreguismo promovido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) através da Secretaria de Parceria em Investimentos. Secretaria essa que também vendeu a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP), a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (EMAE), e deu escolas nas mãos dos capitalistas.

Sob o falso de pretexto de melhorar as péssimas condições de trânsito e diminuir o número de acidentes nas Rodovias SP-280 (Castelo Branco), SP-270 (Raposo Tavares), SP-029 (Nelson Tranchesi) e SPA053/280 (Embu-Cotia), o projeto vai na contramão de soluções que envolvem transporte coletivo. A concessão de 30 anos visa construir aproximadamente 50 quilômetros de marginais e 140 quilômetros de faixas adicionais, sem mencionar túneis, viadutos e alças.

Ou seja, ignora completamente os pedidos históricos dos moradores da região por metrô e corredores de ônibus. Em vez disso, dá lugar a um transporte individualizado e que não resolverá os problemas de trânsito, tal como não resolveu em lugar algum em que se construíram vias adicionais.

No entanto, sabemos que fazer reformas incoerentes não é suficiente para atingir o objetivo final de uma privatização: o lucro. Por isso, a concessão também prevê a construção de 15 novos pórticos de pedágio ao longo das rodovias no esquema “free-flow” (com a cobrança automatizada, sem necessidade de parar o veículo). Com esse novo sistema, vários trechos que antes poderiam ser percorridos gratuitamente passarão a ser automaticamente taxados.

Transporte refém do lucro

Jogar a mobilidade urbana, um dos serviços mais essenciais para o povo trabalhador, na lógica de mercado significa deixar a locomoção das pessoas à mercê do lucro. Não há dúvidas que, tal como ocorreu em todos outros casos de privatização, não se poupará esforços para maximizar a margem de lucros de toda maneira que for possível: precarização do serviço, pouca manutenção, aumentos recorrentes nas tarifas, multas, etc.

No entanto, para além dos prejuízos intrínsecos de toda privatização de um setor essencial, há aspectos ainda mais cruéis na implementação desse projeto. A construção de marginais, vias adicionais, pontes, passarelas e viadutos significa, sem dúvidas, um avanço da rodovia sobre casas, comércios e parques regionais. E o restante dos moradores do entorno das rodovias sofrerão com um aumento da poluição sonora e trânsito causado por carros tentando desviar dos pedágios.

As linhas desenhadas nos planos passam sem hesitações por cima da moradia de várias famílias e não há plano sólido de realocação. Alegam que como o projeto ainda não está concluído, não existe maneira de saber quantas e quais desapropriações vão ocorrer e nem quais medidas serão tomadas para indenizar e realocar essas pessoas. Tudo que temos são promessas vazias de minimização de futuros danos.

Os governos fascistas não hesitam em chamar a polícia para jogar na rua as famílias que, organizadas no MLB, ocupam prédios abandonados em endividados na busca por uma moradia mais digna e perto do trabalho. Mas onde está esse mesmo estado quando várias famílias estão prestes a perder suas casas e lojas como efeito colateral dessa privatização?

O que fazer?

Para tentar barrar essa privatização, moradores do entorno da Raposo Tavares se organizaram num movimento orgânico chamado “Nova Raposo, Não”, que tem tentado conscientizar e mobilizar as pessoas para lutar contra esse avanço privatista. A Unidade Popular pelo Socialismo (UP) tem prestado apoio nas panfletagens desse movimento. No entanto, mesmo se essa privatização for revertida, nada impede que este ou o próximo governo fascista a coloque em pauta novamente. Nosso objetivo não deve ser apenas focar em parar essa privatização agora, mas impedi-la de maneira permanente.

“O que a gente quer é transporte público. A gente acredita que tem várias alternativas de você melhorar a mobilidade sem você afetar milhares de pessoas com desapropriações, sem você desmatar, sem você estragar córregos e nascente que são fundamentais agora nesse momento de crise climática que a gente está vivendo”, disse Fabíola Rosa, coordenadora de comunicação do movimento.

Precisamos de investimento num transporte público de qualidade, que de fato resolverá os problemas viários.

Em São Carlos (SP), luta popular conquista passe-livre aos finais de semana

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Na cidade de São Carlos, no interior de São Paulo, luta popular conquista o passe-livre nos finais de semana.

Vitor Fabris e Ivan Borgueti | São Carlos (SP)


LUTA POPULAR – No dia 02/04, a Prefeitura de São Carlos, por meio da sua página oficial no Instagram, anunciou aos moradores que a partir de 1º de maio haverá passe-livre no transporte público aos finais de semana. Isso foi o resultado de uma extensa mobilização popular, que teve início ainda no começo deste ano, como resposta a uma onda de ataques ao nosso povo em várias cidades do país mediante o aumento das tarifas de ônibus – em São Carlos, o prefeito Netto Donato (PP) havia então aumentado a tarifa de R$4,50 para R$5,25.

A intensa pressão popular, construída junto aos movimentos sociais e partidos políticos da cidade – como o Movimento Luta de Classes (MLC) e a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), – foi exercida por meio de panfletagens, agitações e um plebiscito fez com que o fascista Netto Donato, conhecido por ter tentado expulsar famílias de suas casas no bairro Cidade Aracy dois dias após ter sido eleito, se comprometesse com o passe-livre aos finais de semana.

Audiência pública

Um dia após o anúncio, a cidade presenciou uma audiência pública sobre o transporte municipal, onde problemas relacionados à prestação do serviço seriam discutidos.

A audiência foi marcada por descontentamento e revolta por parte do povo presente. A tarifa caríssima, o serviço precário, o descaso com a acessibilidade, e a falta de linhas suficientes para atender os trabalhadores da cidade foram todos pontos abordados pelos presentes durante a abertura do plenário.

Falando sobre o contrato de R$50 milhões que São Carlos tem com uma empresa privada de transporte, a SOU São Carlos, Osmar Ângelo, morador da cidade, disse: “Ando de ônibus todo dia e a gente conhece a fundo os problemas. A primeira coisa que eu faria é uma auditoria em cima desse contrato”.

Ivan Borgueti, militante da UP e morador do Redenção, deixou claro que o passe-livre no final de semana é uma conquista importante, mas insuficiente para o trabalhador. “Estamos reivindicando um passe-livre para todos os dias; um passe-livre que não fique restrito aos finais de semana e aos feriados. Afinal, na nossa cidade, temos bairros em que nem passam ônibus aos finais de semana!”

Laisi, Coordenadora-Geral do DCE Livre UFSCar, após o vereador Julio Cesar (PL) solicitar aos manifestantes que fossem objetivos em suas falas, devolveu: “Eu não consigo ser objetiva porque essa questão é sobre o trabalho e a vida das pessoas. Um trabalhador que ganha um salário mínimo e paga R$5,25 no transporte gasta 15% do seu salário só para se locomover ao trabalho. E esse dinheiro faz falta na comida, dentro de casa, no aluguel. É isso que a questão da tarifa traz para a gente.”

Passe-livre para todo mundo, todos os dias!

É assim que o povo são-carlense se sente com o transporte municipal. Miguel Magalhães, estudante do IFSP, disse ao jornal A Verdade a situação de estudantes como ele: “No IFSP enfrentamos muitos problemas como a superlotação nos ônibus e a falta de respeito com os alunos e servidores dentro desses transportes públicos, causando diversos problemas e até alguns perigos para aqueles que estão no ônibus.”

Alessandro, morador do Cidade Aracy, nos conta a situação que os trabalhadores desse bairro enfrentam: “Como morador do Aracy, o que mais vejo são ônibus lotados, com gente se espremendo como sardinha por falta de opção. É desumano depender de um transporte que não comporta a demanda e ainda tentar chegar em casa com um mínimo de dignidade.”

E ainda adiciona: “Vejo a tarifa zero aos finais de semana como uma conquista, sim, mas está longe de ser suficiente. As empresas que ganham as licitações do transporte público movimentam contratos milionários, então limitar a gratuidade apenas aos fins de semana não é justo com quem depende do ônibus todos os dias. O transporte deveria ser tratado como um direito, não um privilégio ocasional!”

Por isso, a UP e o MLC, junto com outros movimentos sociais, continuam sua luta por um transporte público de qualidade, gratuito e controlado pelos trabalhadores de São Carlos. O passe-livre no final de semana não é suficiente: queremos acessar livremente nossa cidade! Queremos trabalhar e estudar sem ter que deixar de comer!

Amazonas sofre com cheias, resultado da exploração da natureza

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Cheia dos rios no Amazonas é resultado da exploração da natureza. O aquecimento dos oceanos – alimentado pela emissão desenfreada de gases de efeito estufa – também intensifica as chuvas na região.

Denily Fonseca | Belém (PA)


BRASIL – O Estado do Amazonas enfrenta, outra vez, uma, catástrofe ambiental que já afeta milhares de famílias e compromete a vida de comunidades inteiras. Cerca de 200 mil pessoas foram atingidas pelas enchentes até o início de junho. Ao menos 20 municípios decretaram estado de emergência, enquanto dezenas de outros estão em alerta. Essa cheia dos rios amazônicos, uma das piores da história recente, não pode ser explicada apenas pelo chamado “inverno amazônico”.

O inverno amazônico, período de chuvas entre novembro e maio, está se tornando mais extremo a cada ano. Especialistas alertam que o ciclo das águas na Amazônia está sendo violentamente alterado. Antes, a Floresta Amazônica ajudava a controlar o clima e segurar a água da chuva. Com tanto desmatamento, queimadas e grilagem, a floresta perde sua força. O solo fica seco, não absorve mais a água como antes. A chuva cai e escorre direto para os rios, que enchem muito mais rápido, provocando as enchentes.

O aquecimento dos oceanos – alimentado pela emissão desenfreada de gases de efeito estufa – também intensifica as chuvas na região. É a crise climática atuando com força total. Só que ela não é fruto do acaso ou de algum castigo divino. Ela é provocada por quem lucra com a destruição.

O que está acontecendo é resultado direto de um desequilíbrio climático provocado pela exploração desenfreada da natureza, com queimadas e expansão da agropecuária, agravado pela seca histórica registrada em 2023. No ano anterior, o Amazonas enfrentou a menor precipitação dos últimos 40 anos, com chuvas entre 100 e 350 milímetros abaixo do normal. Rios como o Amazonas e o Solimões atingiram níveis recordes de baixa, afetando todo o estado e deixando mais de 600 mil pessoas em situação de emergência. Agora, a mesma região sofre com um volume anormal de águas, por falta de tempo suficiente para o ecossistema se recuperar.

A crise no Amazonas é consequência de um sistema econômico global que privilegia o lucro e o consumo desenfreado, custe o que custar. São os grandes países emissores e corporações multinacionais – que exploram, poluem e acumulam riquezas – os principais responsáveis pelo colapso climático que agora atinge com violência as cidades do interior do Amazonas.

Enquanto os poluidores seguem impunes, é o povo amazonense que paga o preço. Agricultores veem suas plantações inteiras levadas pelas águas. Famílias ribeirinhas perdem suas casas e seus meios de subsistência. Crianças ficam sem escola. Povos tradicionais enfrentam a destruição de seus territórios. Ainda assim, esse povo não cruza os braços.

O povo do Amazonas é resistente. É feito de comunidades que protegem a floresta, que conhecem os ciclos da natureza e que enfrentam, com coragem, as consequências de uma crise que não criaram. Mesmo diante do abandono histórico, do desrespeito à sua cultura e das tentativas constantes de saquear suas riquezas naturais, o povo da Amazônia luta todos os dias para permanecer em pé, para defender sua terra e garantir dignidade às próximas gerações.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Medicamentos para câncer acumulam atraso para chegar ao SUS

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Atraso criminoso para que medicamentos sejam aprovados para entrar no SUS e disponibilizados ao povo é uma forma de violência que afeta a saúde, principalmente de pacientes oncológicos, com doenças graves ou raras.

Redação SP


SAÚDE – No Brasil, o câncer de mama é o segundo tipo mais prevalente entre as mulheres, com cerca de 70 mil novos casos por ano. O tratamento é de acordo com as características de cada caso, e pode incluir quimioterapia por infusões na veia, cirurgia e radioterapia.

Nos últimos anos a ciência tem avançado com tratamentos mais específicos, eficazes e seguros, havendo hoje opções em comprimidos, com melhores resultados e menos efeitos adversos como o mal estar marcante da quimioterapia. São os chamados “inibidores de ciclinas”¹, recomendados para pacientes com câncer em estágios avançados ou com metástase. Esses medicamentos entraram no “rol da ANS”, o que significa que passaram a ser cobertos pelos planos de saúde privados em 2021, mesmo ano em que recebeu recomendação favorável para a entrada na saúde pública no Sistema Único de Saúde – SUS (Portaria nº 73, Diário Oficial da União nº 229).

Após 180 dias da publicação os medicamentos já deveriam estar disponíveis na rede pública, mas até hoje isso não aconteceu.

Demora na aprovação custa a vida de milhares de brasileiras

Para que um tratamento chegue ao SUS, ele deve passar pela rigorosa Avaliação de Tecnologias em Saúde (ATS), além de consulta pública aberta à população. Segue então para a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (CONITEC); por fim, para a tomada de decisão por parte da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação e do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (SECTICS), parte do Ministério da Saúde.

Esse processo busca entender se o novo remédio funciona, o potencial de beneficiar a população, a custo-efetividade e qual o impacto no orçamento do SUS. Os inibidores de ciclinas já passaram por todo esse processo, mas as mulheres continuam falecendo na espera pelo tratamento.

Diferente do que acontece com outros medicamentos de alto custo, em que a compra é centralizada e feita pelo governo federal, para os medicamentos oncológicos a aquisição é feita por repasse do Estado para os centros especializados. O tratamento com inibidores de ciclinas têm um custo mensal por paciente de R$12.896,00 mas os hospitais recebem apenas R$2.378,00, o que impossibilita o tratamento.

Ministério da Saúde prefere gastar com processos a liberar tratamentos

Esse descaso com a saúde da população não é novidade e nem um caso isolado. Outros medicamentos para câncer de pulmão, rins e próstata já têm atrasos de até dez anos. Quem pode recorre a advogados para judicializar – isto é, quando se processa o Estado numa tentativa de obrigá-lo a cumprir com seu dever. Estima-se que o Ministério da Saúde gaste mais de 10 bilhões por ano com judicializações, a imensa maioria devido a indisponibilidade de medicamentos já aprovados no SUS, demonstrando que essa ineficiência têm custado caro.

Em 2023, o Tribunal Regional Federal da 4ª região deu entrada em uma Ação Civil Pública a respeito da falta de financiamento e consequente atraso na incorporação dos medicamentos. Em audiência, o Ministério da Saúde relatou que estava com dificuldades burocráticas e orçamentárias para efetivar a incorporação dos medicamentos. Em janeiro de 2024, o Ministério da Saúde apresentou um novo relatório e, de nove tratamentos com atraso, apenas um (blinatumomabe) teve a situação resolvida.

Câncer é a segunda causa de morte no país, mas ao invés de custear o tratamento do povo, o governo brasileiro prefere pagar a dívida pública e enriquecer a burguesia. Cerca de 80% da população depende do SUS, que permanece sob ataque no novo arcabouço fiscal.

No sistema capitalista o lucro é imperativo e a saúde não é verdadeiramente um direito, mas sim um produto: um privilégio disponível apenas para quem puder pagar.


¹ Os inibidores de ciclinas (abemaciclobe, ribociclibe, palbociclibe) são recomendados para tumores tipo RH+, HER2- que representam 65% do casos.