UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 8 de junho de 2025
Início Site Página 10

Reintegração de posse da Ocupação Inês Etienne Romeu é ataque às mulheres de Cabo Frio (RJ)

“A decisão de reintegração de posse contra a Ocupação de Mulheres Inês Etienne Romeu, em Cabo Frio (RJ), não apenas representa uma violação dos direitos humanos como também expõe a insensibilidade e o autoritarismo do prefeito, que se recusa a ouvir as mulheres.”

Chantal Campello | Cabo Frio (RJ)


A decisão de reintegração de posse contra a Ocupação de Mulheres Inês Etienne Romeu em Cabo Frio (RJ), recentemente solicitada pela Prefeitura e concedida pela Justiça, não apenas representa uma violação dos direitos humanos. Expõe também a insensibilidade e o autoritarismo do prefeito, que se recusa a ouvir as mulheres que, há meses, buscam nesse espaço a dignidade e a segurança que o Estado, através das políticas públicas, deveria garantir. Em vez de promover o diálogo, a solução encontrada foi a repressão, uma escolha equivocada e cruel diante de um problema que se arrasta há décadas.

Brasil afora, as ocupações realizadas pelo Movimento de Mulheres Olga Benario desempenham um papel fundamental na luta contra a violência de gênero e na promoção de políticas públicas eficazes para as mulheres. Essas iniciativas transformam imóveis abandonados em espaços de acolhimento e apoio, oferecendo atendimento psicológico, jurídico e social a mulheres em situação de vulnerabilidade. ​

Além de fornecer suporte direto, as ocupações servem como centros de organização popular, onde são promovidas atividades culturais, cursos de formação e debates sobre os direitos das mulheres. Essas ações não apenas conscientizam, mas também mobilizam a comunidade para enfrentar as desigualdades de gênero. ​

Em suma, as ocupações do Movimento de Mulheres Olga Benario exemplificam uma estratégia eficaz de resistência e construção do poder popular.

A luta das mulheres na Região dos Lagos

Os índices de violência na Região dos Lagos são alarmantes e refletem um cenário de desamparo para muitas mulheres. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Rio de Janeiro apresenta uma média de 5,2 feminicídios por mês, e a região não está imune a esse cenário. Em Cabo Frio, os índices de violência contra mulheres são especialmente altos, com denúncias de agressões físicas e psicológicas registradas em número crescente. A falta de políticas públicas efetivas para enfrentar essa violência só aumenta o ciclo de medo e vulnerabilidade.

Por isso, localizada no cidade de Cabo Frio, a Ocupação Inês Etienne Romeu denuncia a situação grave que vivem as mulheres na Região dos Lagos.

“Esse espaço tem sido um refúgio para nós. Aqui, encontramos força, apoio e uma perspectiva de vida. Muitas de nós fomos vítimas de violência, e não apenas violência física, mas violência psicológica, onde a sociedade e o próprio Estado viraram as costas. Aqui, não somos só um número. Somos mulheres com voz e com história. E é isso que o prefeito e quem decide por essa reintegração de posse não vê. Não estamos invadindo, estamos buscando um futuro. Esse espaço é de acolhimento, de luta e de construção de uma nova realidade”, afirma Dona Conceição, de 73 anos, acolhida da casa do Movimento de Mulheres Olga Benario.

A cidade sofre com uma escassez de serviços essenciais de acolhimento e suporte à mulher, como casas-abrigo e centros de atendimento psicológico e jurídico. A ausência de programas habitacionais e a falta de uma abordagem integrada no enfrentamento da violência só agravam a situação. Porém, em vez de agir em conformidade com as necessidades das mulheres, a administração municipal opta pela repressão.

A organização das mulheres como caminho para a libertação

A luta das mulheres da Ocupação Inês Etienne Romeu é uma demonstração clara de que somente por meio da organização popular e da construção coletiva de um novo modelo de sociedade é que será possível combater a violência e garantir direitos básicos para todas as mulheres. O movimento das mulheres vai muito além da resistência contra a repressão e a opressão. É uma força transformadora, que exige não só moradia, mas justiça, igualdade e a criação de um Estado que respeite as especificidades e as necessidades de sua população mais vulnerável.

Somente a organização das mulheres, sua união e sua luta incessante por uma sociedade mais justa, sem violência e com respeito à dignidade humana, poderá derrubar as estruturas que perpetuam a desigualdade. O poder público, ao se omitir e adotar posturas autoritárias como a reintegração de posse, não faz mais do que aprofundar o ciclo de opressão que essas mulheres enfrentam diariamente.

Reintegrar a posse da casa e propor a demolição da Ocupação Inês Etienne Romeu, sem oferecer alternativas viáveis para a continuidade do trabalho e sem garantir políticas públicas efetivas para as mulheres e sem escutar suas vozes, é uma decisão política equivocada. Ao contrário, é urgente que o município de Cabo Frio, assim como todo o Brasil, invista em políticas públicas que garantam a segurança e respeito às mulheres, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade.

Além disso, a coordenadora da ocupação, Pétala Cormman, enfatiza a importância desse espaço não apenas como um abrigo, mas como um símbolo de poder popular.

“Construir esse espaço é construir um verdadeiro poder popular. Este é um espaço de mulheres que se levantam, que não aceitam a violência e a marginalização, mas que também sabem que a luta não termina dentro dos muros da nossa casa. Queremos ampliar esse poder, queremos que nossa voz ecoe para além desse espaço. O que buscamos é uma mudança social verdadeira, onde mulheres, especialmente as mais vulneráveis, possam ser respeitadas e garantir seus direitos em todas as esferas da sociedade.”

Diante das ameaças constantes de despejo e da criminalização da nossa ocupação, o Movimento de Mulheres Olga Benario reafirma sua decisão de não aceitá-las passivamente. A luta das mulheres por dignidade e uma vida sem violência continua firme, baseada na organização coletiva e na solidariedade. A resistência é uma escolha política, e ocupar é uma forma legítima de exigir direitos negados historicamente à classe trabalhadora e às mulheres pobres.

Chapa de oposição vence eleições para o DCE da UFMT

0

Após uma série de lutas e a organização de dezenas de estudantes, Movimento Correnteza vence eleições para o Diretório Central dos Estudantes da UFMT.

Ana Pistori | Cuiabá


JUVENTUDE – No último dia 2 de abril, aconteceram as eleições para uma das entidades estudantis mais importantes do Mato Grosso: o Diretório Central dos Estudantes da Universidade Federal de Mato Grosso Campus Cuiabá. O Movimento Correnteza, o Movimento de Mulheres Olga Benario e a União da Juventude Rebelião saíram vitoriosos da disputa, com 62% da votação.

Defendendo principalmente as pautas do RU gratuito e da construção da creche universitária, a chapa do Movimento Correnteza, do Movimento de Mulheres Olga Benario e de diversos estudantes independentes, vanguardeados pela União da Juventude Rebelião, disputaram o processo que elegeu democraticamente a nova gestão do DCE da UFMT.

Da inscrição até o dia de pedir votos, a chapa eleita demonstrou ousadia ao propor a construção de um DCE combativo, que organiza os estudantes na luta por uma universidade gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.

O contato cotidiano e contínuo na UFMT

Ao longo dos últimos anos, o Movimento Correnteza tem lutado pelas condições de permanecer na UFMT. Em 2023, organizou os estudantes na ocupação de guarita, barrando a retirada de mais de 400 bolsas de permanência e a ameaça de aumento no preço do RU.

Além disso, no mesmo ano, organiza um abaixo-assinado pela volta do transporte interno da universidade – carinhosamente apelidado de Ligeirão. E como quem luta conquista, o Ligeirão tem circulado na UFMT há dois anos.

Em 2024, na direção do CALET conquistou a contratação de intérpretes de LIBRAS para o curso de Letras – LIBRAS, que estava há meses sofrendo com a falta de acessibilidade no principal curso para formar pessoas que trabalham na inclusão linguística de pessoas surdas.

Da mesma forma, ao longo de 3 anos, o Movimento de Mulheres Olga Benario tem se colocado à frente das lutas contra a evasão de mulheres na UFMT. Por meio de campanhas de denúncia ao assédio, de pesquisas de opinião e de abaixo-assinado a respeito da creche universitária, as estudantes do Olga têm procurado se organizar na luta!

A vitória das eleições é fruto desse trabalho cotidiano, junto aos estudantes da UFMT.

Atividades de lazer, esporte e cultura para os estudantes

Com menos de três semanas de campanha eleitoral, a chapa de oposição esteve presente no I Fórum de Violência Contra a Mulher em Mato Grosso, organizado pelo curso de Psicologia, e no Café com A Verdade, em frente ao Restaurante Universitário. Nesses espaços, foram feitas as defesas do programa da chapa para a UFMT e para a comunidade externa.

Durante a campanha a chapa também organizou um cinedebate sobre a importância da luta pela legalização do aborto a partir do filme Verde-Esperanza (2022); uma prática de exercício físico coletiva (a Queimada da Chapa 2) e o Sarau da Chapa 2, que reuniu estudantes artistas de todos os cantos da UFMT em um momento de apreciação da cultura mato-grossense.

O trabalho com o Jornal durante as eleições

Durante toda a campanha, o trabalho com o jornal foi colocado no centro pelos militantes. Fruto dessa luta política, foram vendidos 218 jornais em apenas duas semanas e meia.

Isso significa que os membros da chapa foram ganhando a consciência das pessoas a cada dia, a partir da evidência das contradições existentes no nosso país, que se baseia suas relações na lógica do lucro, e da associação direta do programa político para um DCE combativo ao Jornal A Verdade.

A imprensa popular cumpriu seu papel de disputa política com os estudantes e evidenciou a necessidade de se dar mais atenção ao trabalho com o Jornal A Verdade nas universidades.

Os estudantes das universidades federais, como um todo, têm sofrido com a falta de investimentos na educação. O novo teto de gastos estrangula o orçamento necessário para manter as políticas de permanência estudantil, mas não só isso.

Atualmente, as bolsas de iniciação científica, extensão e iniciação à docência, assim como as de permanência, estão sendo pagas no valor de R$ 700,00. Valor este que não chega nem aos pés de 1 salário mínimo e que é absurdamente insuficiente se considerarmos a pesquisa do DIEESE, que aponta que o salário mínimo deveria ser de R$ 7,1 mil para se viver dignamente.

Portanto, vencer a eleição foi só o começo. Como disse a nova coordenadora geral do DCE da UFMT, Rayssa Piovani: “a gente precisa ter a firmeza e a esperança de que o movimento estudantil pode fazer coisas muito grandes, então, o que a gente tá fazendo aqui é um ponta-pé inicial!”.

Centro Cultural Manoel Lisboa (CCML): polo de resistência e luta em Curitiba

0

Localizado na região sul de Curitiba, a mais pobre da cidade, o CCML funciona como ponto de integração e de encontro para brigadas e aproximação com os moradores do bairro.

Jeanete Gouveia, Juliane Mendes e Jacson Luiz | Curitiba (PR)


CULTURA – O Centro Cultural Manoel Lisboa (CCML) é uma iniciativa dos comunistas que resistiram à ditadura, presente em dezenas de capitais brasileiras para manter vivo o legado de Manoel Lisboa. Recentemente, o CCML passou a contar com uma sede na cidade de Curitiba, onde se tornou um espaço de formação para a militância e a comunidade em geral. No local, estão disponíveis livros, revistas e outras publicações, além de ser um ambiente aberto para diversas atividades, como cursos, oficinas, feiras e muito mais.

Jeanete Gouveia é militante do Partido Comunista Revolucionário e uma das principais organizadoras do CCML em território paranaense. Entre 1998 e 1999, ajudou a organizar o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB). Foi em Minas Gerais que recebeu, das mãos de Eliana Silva, a primeira bandeira e camiseta do movimento.

No Paraná, a camarada contribuiu para a divulgação do A Verdade, distribuindo-o em pequenas bancas e organizando, aos sábados, uma banquinha na rua XV de Novembro (região central de Curitiba). Hoje este é um dos pontos principais de brigada do jornal, fortalecendo o trabalho de conscientização popular. 

CCML no Paraná: espaço de luta e resistência

Inspirada na memória de seus avós, Jeanete tinha o desejo de construir um espaço que funcionasse como “casa dos comunistas”. Seu avô, grande amigo dos revolucionários, abria as portas de sua casa para que realizassem reuniões e atividades, tornando o espaço um ponto de encontro e organização. Com isso, aos poucos, sua dedicação ajudou a fazer surgir o CCML em um bairro na região Sul da capital paranaense.

Em demonstração de seu amor pela militância, doou mais de 600 exemplares de livros para a abertura da biblioteca do Centro Cultural Manoel Lisboa. Seu maior companheiro é o “Pitty”, seu cachorrinho, que a acompanha na rotina de cuidado do espaço. “O CCML é um lugar de resistência. Me sinto em casa quando estou lá e com a companheira Jeanete. Meus filhos amam muito a companheira, em especial meu bebê, Gustavo. Ela me acolheu de forma maravilhosa, gosto de ouvir a companheira contar suas experiências de militância e acho que ela tem muito a acrescentar a todos os militantes”, relata Luana, apoiadora da UP e do Movimento de Mulheres Olga Benário.

O local também foi sede da festa de 25 anos do jornal A Verdade, onde estiveram presentes os militantes dos nossos movimentos. Coletivamente, os militantes contribuem para manter as atividades do local, como almoço solidário, rodas de leitura e confraternizações, em sua maioria ajudam na arrecadação de valores para seguir com a luta na região. “Um dia que me marcou bastante foi o dia de comemoração dos nossos heróis lá no CCML. Achei muito bonita a comemoração, teve muito significado pra mim. Foi um momento que dedicamos para relembrar dos nossos camaradas que deram sua vida pela democracia”, relembra Luana.

Preservar o CCML é tarefa de todes

Atualmente, a manutenção do CCML é realizada graças às contribuições de todos os camaradas de Curitiba e região. Por meio de escalas e divisão de tarefas, os militantes de todos os núcleos e coletivos se revezam para manter o local limpo, organizado e acolhedor. “Todos deveriam ir ao CCML. É reconfortante e esperançoso saber das coisas que a companheira Jeanete pode dividir com a gente”, completou Luana.

A camarada Jeanete, uma veterana com apenas 20% da visão, continua sendo uma inspiração. Dedica-se com amor e determinação ao cuidado do espaço, à militância e à luta na construção da revolução. Assim como Jeanete, os militantes da UP e dos movimentos sociais se dedicam a manter e construir “a casa dos comunistas” com toda a disciplina e afinco que ela merece. Por isso, convidam todos a participar das escalas e atividades do CCML e a construir esse espaço de resistência e força em Curitiba.

Privatização da COPEL piora serviço de energia e precariza trabalhadores no Paraná

0

Após a privatização da Companhia Paranaense de Energia (COPEL), que levou a um grande número de demissões, os problemas com a qualidade do serviços elétricos no estado se multiplicaram.

Movimento Luta de Classes Paraná


TRABALHADOR UNIDO – Em 2022, a Assembleia Legislativa do Paraná, composta por deputados da base do governador Ratinho Jr. (PSD), aprovou a privatização da Companhia Paranaense de Energia (COPEL) de forma mascarada. Apesar de os deputados da direita afirmarem que “somente de parte das ações” seriam vendidas, em agosto de 2023, o governo do Paraná vendeu a companhia em uma transação de R$ 4,53 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo, a B3. Com isso, o governo deixou de ter o controle societário da companhia e ficou com apenas 15% das ações.

Além disso, pouco tempo após a privatização, a classe trabalhadora começou a sofrer as consequências. Desde o início do governo Ratinho Jr., a demissão dos funcionários subiu para 51%, devido à venda anterior da COPEL Telecom (serviço de internet da COPEL). Uma funcionária que preferiu não se identificar denunciou que a empresa pressionou os trabalhadores a aderirem a um programa de demissão voluntária. Isso ocorreu porque, sem ele, o acordo coletivo provavelmente teria sido adiado e atrasado a venda.

Privatizações de Ratinho precarizam serviço ao povo

No entanto, as garantias do acordo do plano de demissão foram descumpridas. “Ficamos surpresos quando chegou a data do cronograma de saída e a diretoria decidiu por cancelar a adesão de mais da metade dos solicitantes”, conta. Muitos, segundo a trabalhadora, já estavam com planos até de mudar do país, e isso fez com que muitos adquirissem um quadro de ansiedade, pânico e depressão severa, e até mesmo tentar o suicídio.

As demissões coincidem, também com o aumento de 23,6% nas ocorrências emergenciais de interrupção de energia e no tempo médio de preparação dos profissionais. Em setembro de 2022, esse intervalo era de duas horas e dezessete minutos. Em 2023, aumentou para mais de cinco horas. Além disso, as multas que a ANEEL aplicou à Copel aplicou à Copel por conta do nível de tensão aumentaram 625% no ano da privatização.

Um funcionário denuncia que a empresa só ressarcirá judicialmente os produtores que tiverem prejuízos nas plantações por interrupções no fornecimento de energia. Essa decisão, por sua vez, encerra o ressarcimento administrativo, aumenta a burocracia e impõe barreiras significativas para pequenos agricultores, que já enfrentam diversos desafios no campo.

Com a nova decisão, portanto, produtores com perdas por interrupções de energia devem buscar o Judiciário para ressarcimento, um processo que pode ser longo, caro e incerto. Assim, a medida é vista como um desestímulo aos pedidos de indenização, pois muitos agricultores não têm recursos ou tempo para enfrentar grandes empresas judicialmente.

Por fim, representantes da classe produtiva expressaram indignação com a mudança. “Essa decisão demonstra o total desrespeito da Copel com o produtor rural, que depende da energia elétrica para manter sua produção. Ao nos forçar a recorrer à Justiça, a empresa transfere a responsabilidade ao agricultor, que já enfrenta os impactos diretos das falhas no sistema”, criticou um líder*.

Lucros e pressão aumentam, salários congelam

Por outro lado, a nova política da empresa recém-privatizada estabeleceu altos salários para diretores e CEOs, se travestindo de “meritocracia”. Porém estes lucros exorbitantes não foram destinados a melhorar a infraestrutura de geração, transmissão e distribuição de energia. Muito pelo contrário, na mesma semana em que anunciou R$ 600 milhões em dividendos, a empresa não ofereceu aumento real aos empregados, mantendo os salários congelados. Essa decisão ocorreu após os trabalhadores rejeitarem amplamente a proposta do Acordo Coletivo de Trabalho, com 96,5% votando contra a oferta da COPEL.

A situação se agrava ainda mais, pois os empregados que permanecem na empresa enfrentam pressão constante dos diretores para aumentar os lucros, com base em uma nova metodologia de metas e resultados que ignora o histórico dos anos anteriores. Isso significa que a COPEL agora opera com metas desconectadas da realidade, focando apenas em gerar lucros excepcionais para distribuir aos novos acionistas.

Subsidiárias também estão precarizadas

A mesma coisa acontece na subsidiária Fundação COPEL, que administra os planos de previdência e saúde dos empregados. A ex-diretora Ana Letícia Feller organizou o PDV na COPEL e, como recompensa, recebeu o cargo de Presidenta na Fundação Copel.

Foi assinado o fim do seguro de vida Pecúlio, afetando mais de 10.000 funcionários que dependiam dessa garantia para seus dependentes em caso de morte.

Com o fim do seguro, os empregados e aposentados mais velhos correm o risco de não conseguir contratar um novo seguro de vida para suas famílias. Após a privatização, o novo grupo acionista controla indiretamente a Fundação COPEL, que administra R$ 14 bilhões em patrimônio dos empregados da companhia.

A contradição é clara: a privatização da COPEL custou R$ 4,53 bilhões, enquanto uma subsidiária vale R$ 14 bilhões, mais de três vezes o valor pago. A nova CEO, Ana Feller, cancelou o seguro de vida da Fundação COPEL e alterou o plano previdenciário, reduzindo os direitos dos empregados.

Efeitos da privatização

A privatização e o desmonte de benefícios e direitos impactam profundamente a saúde mental dos trabalhadores. Eles enfrentam cargas de trabalho cada vez maiores, salários congelados e o medo constante de demissão.

O episódio da tentativa de suicídio de um funcionário em 30 de janeiro de 2025 foi um dos mais graves efeitos da privatização na saúde mental dos trabalhadores. Segundo testemunhas, ele solicitou a demissão voluntária e teve o pedido negado. “Enquanto isso, a diretora ganhava a Presidência da Fundação Copel, e o CEO, Daniel Pimentel, posava para revistas”, denuncia uma testemunha.

Esse trágico episódio evidencia o desgaste físico e emocional a que os trabalhadores estão submetidos. Diante desses abusos, precisamos organizar a categoria para combater o fascismo. Somente pelo poder popular conseguiremos construir uma nova realidade social, que não seja da exploração do homem pelo homem, uma sociedade verdadeiramente livre.

*Mudamos os nomes originais para preservar a identidade dos entrevistados.

Saúde reprodutiva das mulheres é negligenciada no capitalismo

0

Mesmo com diversos métodos contraceptivos e possibilidade de aborto legal, a saúde reprodutiva das mulheres sempre estará em risco no sistema capitalista.

Laís Muniz* | São Paulo (SP)


A legalização do aborto é uma questão de saúde pública por diversos motivos, como por sua alta mortalidade em clínicas clandestinas ou até mesmo pelo direito de escolha com base na saúde física e mental da gestante. Muito se fala sobre os corpos livres, mas o que seria de fato essa liberdade?

Atualmente, o Sistema Único de Saúde (SUS) possui uma gama de métodos contraceptivos para a população, podendo variar de região para região e de investimentos na saúde pública.  Entre eles podem se encontrar o anticoncepcional oral, os injetáveis (mensal ou trimestral), os dispositivos intrauterinos (DIU), o implante subdérmico, diafragma, a pílula do dia seguinte, as camisinhas e os métodos cirúrgicos (laqueadura e vasectomia). Os que se intitulam de “pró-vida” utilizam desses métodos como argumento para lhe fazer acreditar que “se você engravidou, foi culpa sua”.

Informações sobre saúde reprodutiva não chegam à população

O que não está esclarecido para a população é que mesmo com o método mais eficaz utilizado, não há como garantir que não haja uma gravidez. O índice de falha pode chegar a 21% dependendo do método escolhido, como é o caso da camisinha feminina. Mesmo com os métodos cirúrgicos, ainda há pelo menos 0,1% de chance de um método falhar, como é o exemplo de uma vasectomia. Até a laqueadura que muitas consideram como sua libertação tem 0,5% de falha.

Outra informação pouco difundida é que o diagnóstico de infertilidade, muito ligado por exemplo a endometriose e a síndrome dos ovários policísticos, não te deixa isento da capacidade de gerar novos indivíduos, apenas uma maior dificuldade para fecundação. Logo, esse termo está ainda muito distante da esterilidade. É preciso que essas informações sejam difundidas para todos, principalmente quando houver o debate sobre saúde gestacional, já que os números apontam que nem toda gravidez indesejada é oriunda de falta de preservação.

Para além das mulheres, corpos de homens trans e pessoas não binárias também podem passar pelo período de gestação. Desta forma, a responsabilidade da gestação não pode ser, exclusivamente, de quem gesta.

Segundo o Ministério da Saúde, ao menos 1 milhão de abortos são induzidos no Brasil todo ano e esse número independe da classe social, o único recorte é nas mortes dessas pessoas. Não é escondido de ninguém que existe a população restrita ao julgamento e ela tem cor, endereço e renda estipulada. Enquanto mulheres negras, pobres e periféricas morrem em pedidos de socorro, existem mulheres que conseguem facilmente um atendimento digno e apoio (ou até mesmo pressão) familiar para fazer o procedimento. A legalização do aborto é uma bandeira por sensibilidade com as que já estão vivas sofrendo que é preciso apoiar esse movimento.

Diversos estudos já foram feitos sobre a diminuição de abortos registrados nos locais onde há a legalização, então se é de interesse dos “pró-vidas” que isso ocorra, por que não apoiar? Ou só vale para a parente que destruiria a própria vida com a gravidez indesejada? E o que eles falam sobre as crianças que não possuem a oportunidade de viver por causa da opressão do estado? Ou onde estão os defensores da gestação de menores quando a discussão é o apoio psicológico das crianças abusadas sexualmente? Por que ser contra a educação sexual nas escolas? Onde estão os que incriminam o aborto quando o debate são os cuidados dos filhos das trabalhadoras?

No Brasil, com o crescimento descarado e cínico do fascismo, corremos risco de perder o que já foi conquistado: o direito do aborto legal para situações em que o feto seja anencéfalo, que exista risco à estante ou em caso de estupros.

Quantas matérias já vimos ou lemos sobre o não cumprimento do que é imposto por lei? Nos últimos anos, é noticiado diversos casos em que a lei não se cumpre quando se refere ao aborto legal. Um exemplo é o da criança de 11 anos que foi exposta nas mídias pela influenciadora Sara Winter e pela Thaís Maranhão do Portal Fidei, recebendo ofensas e pressão social por interromper uma gestação fruto de um abuso sexual que ainda era um risco para a sua saúde e vida.

Por um aborto legal e seguro

Essa ação levou ao debate e à pressão popular por um aborto completamente legal e necessário. Fora o descaso do estado que permitiu que o sofrimento dessa menina se prolongasse de 22 semanas (quando pediu ajuda) até 29 semanas de gestação.

Importante lembrar que mesmo com números altos, eles não são condizentes com a realidade. As mulheres da classe trabalhadora sofrem, morrem e viram subnotificações todos os dias. O respaldo da lei ainda é falho e opressor, já que mesmo abaladas psicologicamente são assediadas em delegacias ou em clínicas e hospitais que prestam o serviço. Hoje o médico do local, em casos que não sejam de emergências, pode escolher não realizar o procedimento se não tiver coerência com sua convicção, o que leva a vítima a implorar por um atendimento. Então até que ponto nos é assegurado o atendimento clínico?

Precisamos estar munidos de conhecimento e que o falso moralismo não nos desmotive da luta. Não podemos ignorar os fatos que são esfregados nas nossas caras todos os dias: enquanto mulheres pretas e periféricas são usadas como aparelhos reprodutores de mão de obra barata, a saúde reprodutiva das mulheres estará longe de ser uma prioridade do sistema capitalista.

*Laís Muniz é biomédica e militante do Movimento de Mulheres Olga Benario

Glauber Braga inicia greve de fome contra cassação golpista do mandato

Glauber Braga não se intimidou diante da aprovação do parecer favorável à cassação no Conselho de Ética, e seguirá denunciando o caráter golpista do processo no plenário da Câmara dos Deputados. UP e movimentos sociais estão presentes na luta em apoio ao mandato legítimo de Glauber

Alexandre Ferreira e Guilherme Arruda


Nesta quarta-feira (9/4), a Comissão de Ética da Câmara dos Deputados aprovou a cassação do mandato do parlamentar Glauber Braga (PSOL-RJ), em represália por sua atuação combativa e a favor dos trabalhadores no Congresso Nacional. A votação ainda não significa a perda do mandato, que só será cassado caso a decisão seja aprovada pelo plenário da casa.

Contando com a solidariedade de dezenas de membros de organizações políticas e movimentos sociais presentes, inclusive da Unidade Popular (UP), Glauber Braga alertou que a cassação é um processo político que tenta calar suas denúncias contra o Orçamento Secreto e outras manobras do Centrão. Os parlamentares desse grupo, com o apoio explícito do ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), se apropriam ilegalmente de verbas públicas e as utilizam sem nenhuma transparência para beneficiar suas políticas oligárquicas.

Dando continuidade à luta contra o caráter golpista da tentativa de cassação de seu mandato, que anula a vontade legítima dos eleitores e do povo do Rio de Janeiro, Glauber anunciou uma greve de fome e informou que não sairá da Câmara dos Deputados até a votação no plenário.

A Unidade Popular apoia a luta em defesa do mandato de Glauber Braga. Foto: Donavan Sampaio (JAV/DF)
A Unidade Popular apoia a luta em defesa do mandato de Glauber Braga. Foto: Donavan Sampaio (JAV/DF)

Votação armada

Como denunciaram os militantes da UP que estavam no local, a sessão do Conselho de Ética foi marcada pelo clima de armação dos líderes do Centrão. De acordo com o regimento da Câmara, todas as comissões e conselhos devem parar de funcionar quando o plenário da casa começa sua sessão. Normalmente, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), dá início aos trabalhos às 16h30. Hoje, porém, para garantir o andamento da cassação de Glauber, só os iniciou depois das 19h.

Na sessão, foi aprovado um relatório favorável à cassação preparado pelo deputado Paulo Magalhães (PSD-BA). A escolha desse parlamentar para a relatoria escancara mais ainda o caráter político do processo. Em 2001, o deputado Paulo agrediu na Câmara um jornalista que havia escrito um livro de denúncias contra seu tio, o oligarca baiano Antônio Carlos Magalhães (ACM), e não sofreu nenhuma punição e nem perdeu seu mandato.

Em agosto do ano passado, Paulo Magalhães se absteve na votação da cassação de Chiquinho Brazão, o mandante do assassinato de Marielle Franco. Seguindo com sua conduta hipócrita, o relator se recusou a responder qualquer pergunta durante a sessão que aprovou a cassação de Glauber.

Glauber conta com o apoio de milhares de lutadores populares por todo o país. Foto: Donavan Sampaio (JAV/DF)
Glauber conta com o apoio de milhares de lutadores populares por todo o país. Foto: Donavan Sampaio (JAV/DF)

Luta segue para o plenário

Em apoio à luta democrática contra a cassação de Glauber, a Unidade Popular esteve presente em várias reuniões do Conselho de Ética no último período e também acompanhou todo o processo desta quarta-feira.

Agora que o processo segue para o plenário da Câmara dos Deputados, o partido seguirá mobilizado ombro a ombro com Glauber Braga e todos os lutadores populares, para impedir que o Centrão e os fascistas do Congresso Nacional cassem o mandato de um legítimo representante do povo trabalhador.

População sofre com o aumento da violência policial e da criminalidade em Fortaleza (CE)

0

Moradores da periferia de Fortaleza sofrem com o aumento da criminalidade e da disputa policial. Morte de agente penitenciário é estopim para série de violências cometidas contra a população do Moura Brasil

André Cidade e Renan Azevedo | MLB (CE) 

BRASIL – Todos os dias, a população trabalhadora enfrenta inúmeros problemas que existem em uma sociedade capitalista. Não bastassem os aluguéis altos, o transporte caro, a escala 6×1 ou os alimentos caros nas prateleiras nos mercados, ainda existem a violência de facções criminosas, que destroem vidas e lares em todo o país, e a violência sistemática a população na periferia, comandada pelo Estado brasileiro, que camufla como a “guerra às drogas”.

Centenas de moradores do Moura Brasil viveram dias de terror por conta de operações policiais feitas naquele bairro litorâneo de Fortaleza (CE). Na capital cearense, a disputa de territórios por facções criminosas tem feito vítimas de todos os tipos. Sejam policiais, criminosos, trabalhadores, mães ou estudantes, qualquer pessoa pode morrer nesta disputa. Assim, quando um policial penal foi alvejado por criminosos que o confundiram com um rival de outra facção, toda a população sabia que a resposta seria brutal.

O revide da Polícia Penal cearense foi rápido. Nos dias que se seguiram à morte daquele agente penitenciário, foi instaurada uma grande operação policial para localizar os criminosos que fizeram o disparo. Operação esta que pode ser vista como ilegal. De acordo com testemunhas, os policiais que ocuparam a favela do Oitão Preto, localizada no Moura Brasil, violaram direitos básicos dos moradores. Rapidamente, todas as pessoas do Moura Brasil se tornaram membros de facções aos olhos da polícia.

A truculência

Conforme os dias se passaram, todas as pessoas eram revistadas. Ninguém mais poderia transitar sem o aval da polícia. Não bastasse a violência das facções, presente no temor de todos os moradores, a população ainda devia prestar contas à polícia por um crime que ela não cometera. Não há diálogo com o fardamento: qualquer pessoa que questione ou peça alguma orientação pode sofrer tantas represálias quanto um criminoso faccionado.

Nestas ações, a truculência policial é democrática: qualquer pessoa poderá sofrer violências de um agente armado. De acordo com diversos relatos, as ações da polícia não se restringiam à vistoria de documentos. Nos dias de intervenção intensiva no Moura Brasil, uma mulher grávida foi agredida pelos agentes, a ponto de sofrer um aborto. Uma senhora idosa, doente cardíaca, desmaiou durante uma abordagem que foi feita aos berros. Um morador que quis registrar as violências teve seu celular quebrado pela polícia. Além disso, diversas residências foram arrombadas e invadidas sem qualquer mandato. “Eu acredito que isso foi uma forma de constranger a gente, de nos ameaçar. É como se fosse para amedrontar a gente”, relatou um morador.

Como o trânsito de moradores estava completamente restrito pela polícia, comércios locais da favela do Oitão Preto fecharam durante os dias de operação. Crianças e adolescentes eram igualmente revistadas. Não importava o gênero ou a idade, todas as pessoas deveriam prestar contas aos policiais fortemente armados.

O resultado da atuação brutal da polícia no Moura Brasil foi uma atmosfera de medo dos moradores em relação à corporação. “A gente não é contra o policiamento”, declarou uma moradora para o jornal A Verdade. “A gente não é contra a segurança pública. Digo que também a gente… É a favor que a polícia trabalhe de forma correta”.

A manifestação

Buscando respostas à truculência policial, a população do Moura Brasil organizou uma manifestação cobrando respostas do governo. O ato buscou interromper o trânsito de uma avenida principal de Fortaleza para chamar a atenção das autoridades. Enquanto pelotões do choque acompanhavam a manifestação, outros agentes da polícia avançavam na favela do Oitão Preto. Três suspeitos, que teriam reagido às abordagens, foram mortos em confronto.
Um fato que também causou muito desgosto para os habitantes foi a invasão e depredação da sede do Núcleo de Patrimônio Cultural (NUPAC) do Moura Brasil. O NUPAC é uma organização não-governamental (ONG) que busca desmistificar a história da favela. As áreas periféricas de todo o Brasil, incluindo o Oitão Preto, costumam ser vistas enquanto sinônimo de criminalidade, uso de drogas, prostituição e violência.

Para combater essas visões, o NUPAC atua com museologia social, patrimônio e memória como principais medidas socioeducativas. Ainda assim, no anoitecer do dia da manifestação e da morte dos três suspeitos, a sede do NUPAC Moura Brasil foi encontrada destruída. Moradores suspeitam que os agentes da polícia tenham feito a depredação.

Devemos superar estas violências

Os eventos apresentados, desde a morte do agente penitenciário até a saída da polícia do Moura Brasil, ocorreram em menos de uma semana (27 a 31 de janeiro de 2025). Estas datas não tornam a notícia obsoleta. A atuação truculenta da polícia contra populações periféricas é uma constante em todo o mundo.

Há, entretanto, mais um elemento que tensiona ainda mais a situação do Oitão Preto. No Plano Diretor de Fortaleza, a comunidade se encontra em uma ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) prioritária. Isto significa que aquela região deve passar por um processo de regularização fundiária com urgência. Dentro da lógica urbanística, as ZEIS cumprem a função de garantir moradia para quem nelas habita.

Além disso, as ZEIS combatem a especulação imobiliária, impedindo a construção de prédios altos, bem como a compra e venda de lotes. A grande questão é que a ZEIS Moura Brasil se encontra em uma área muito visada pelo setor imobiliário de Fortaleza: está a poucos metros da praia e tem uma extensão considerável. Os conflitos entre facções e policiais atrasam a regularização dos terrenos, algo positivo para quem tem interesse em comprar e construir algum hotel luxuoso naquela área. O cruzamento das violências não se limita ao crime organizado das facções ou à polícia que age com brutalidade. Também existem os interesses da classe dominante sobre aquele território, tal qual em tantas outras favelas onde mora nosso povo.

O que aconteceu no Moura Brasil é a luta de classes escancarada. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) tem atuado com força nos debates do Plano Diretor de Fortaleza, garantindo os direitos do povo trabalhador e combatendo os desejos do grande capital. A luta institucional é potente, mas tem suas limitações. A única força capaz de superar os problemas que surgem nesta sociedade está nos braços do proletariado. Nada cai do céu, mas tudo é erguido do solo pelo suor de quem trabalha.

Operários denunciam más condições de trabalho em Mogi das Cruzes

1

Enquantos os funcionários da Silgan Dispensing em Mogi das Cruzes trabalham em uma jornada exaustiva, com retirada de benefícios em caso de doença, e convivem com variados tipos de assédio diariamente, acionistas lucraram mais de US$250 milhões em 2023. Mulheres e terceirizados são os mais afetados.

Movimento Luta de Classes SP


TRABALHADOR UNIDO – A empresa Silgan Dispensing é uma multinacional estadunidense que produz embalagens para os setores de higiene, cuidados pessoais e farmacêuticos. No Brasil, a empresa tem 3 fábricas, sendo elas em Valinhos, Jundiaí e Mogi das Cruzes, todas no estado de São Paulo.

Trabalhadores da sede de Mogi das Cruzes lutam contra as medidas impostas pelos administradores da empresa. Operárias e operários denunciam a escala 6×1 e 6×2, o desconto de cestas básicas em caso de faltas justificadas e diversas formas de assédio — principalmente contra mulheres, a imensa maioria do operariado. Além disso, há protestos por conta da ausência de benefícios mínimos aos funcionários terceirizados e de um pagamento vergonhoso no valor da PPR (Programa de Participação nos Resultados).

E apesar de ser uma multinacional milionária, os administradores da empresa não têm interesse nem em zelar pela estrutura da empresa. Nos dias de chuva é recorrente as goteiras no interior de fábrica, assim como alagamento nos corredores e parte externa.

Enquanto isso, o grupo Silgan pagou mais de US$250 milhões em 2023 (segundo o site da própria empresa) aos acionistas por meio de compra de ações e dividendos. Os donos do capital ainda anunciaram um programa plurianual para 2024 que projetou reduzir US$50 milhões em custos, valor que é “economizado” pelo aprofundamento da exploração dos trabalhadores e retirada de seus direitos.

Escalas de trabalho desumanas

No início de 2024, o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas, Farmacêuticas e de Material Plástico de Suzano foi à planta de Mogi das Cruzes para realizar o acordo de turnos, visando manter, sem luta, a escala 6×1. Mas a votação foi marcada por agitações dos operários. Naquele momento, mais de 70% recusaram a manutenção da jornada vigente.

Devido ao movimento e a força dos trabalhadores, o sindicato e a empresa foram forçados a formar uma comissão para debater um novo formato de jornada de trabalho. Essa comissão foi composta pela diretoria, departamento jurídico da empresa, RH, membros do sindicato e apenas 6 operários.

Os trabalhadores apresentaram a escala de trabalho 5×2 (5 dias trabalhados e duas folgas na semana), mantendo os horários de entrada e saída, mas a diretoria negou e o sindicato mostrou-se desinteressado em defender a solicitação dos operários.

Após a diretoria recusar a proposta dos operários, os defensores da burguesia criaram um modelo de jornada pior que o atual, pois alteraram os horários de entrada e saída e não resolveram a questão central: o fim da escala 6×1 e a implantação da escala 5×2, mantendo os horários de entrada e saída.

Além de apresentarem condições piores, a diretoria impôs que só haveria mudança de escala caso 80% dos trabalhadores (ou mais) a aceitassem. Na prática eles fizeram um trâmite para não haver mudança.

O argumento da diretoria para seguir com 6 dias trabalhados por semana é que a empresa não tem verba para arcar com a diminuição da jornada de trabalho sem alteração salarial. Mas façamos umas contas usando a realidade diária dos funcionários.

Um exemplo prático está em todos os feriados que os funcionários devem ir trabalhar e recebem um valor de 110% de hora extra. Isso revela que há lucro para empresa, mesmo que ela pague o dobro do salário. É tão vantajoso para a Silgan pagar o dobro do salário, que nos dias que antecedem os feriados é comum ver a gestão pressionando, principalmente os terceirizados, a irem trabalhar nessa data “facultativa”.

Os operários denunciam que, se pagar o dobro fosse desvantagem para o bolso da empresa, não existiria essa pressão. Se há pressão psicológica e coação, é porque a Silgan paga o dobro do salário quando é feriado e ainda assim tem lucro.

Detalhando essa questão, pode-se observar duas coisas:

1) O salário mensal dos funcionários poderia dobrar, pois ainda assim haveria um lucro interessante para a empresa;

2) Seria possível reduzir a jornada de trabalho pela metade (3 dias trabalhados), e o lucro da empresa, na prática, seria igual ao de um feriado.

Se a empresa lucra ao pagar 110% nos feriados, a conta também serve para reduzir a jornada de trabalho. Se os trabalhadores fossem para a fábrica apenas 3 dias na semana, a empresa teria o mesmo lucro (no mês) que tem em um feriado. Mas esse dinheiro não é pago, ele vira capital para um pequeno grupo de milionários.

Recentemente um projeto de lei inspirado no abaixo-assinado do VAT (Movimento Vida Além do Trabalho) foi protocolado pela Deputada Federal Erika Hilton (PSOL-SP) e está em andamento na Câmara dos Deputados. O Brasil conta com diversos trabalhadores que estão insatisfeitos com essa jornada e cada vez mais se mobilizam para derrubá-la.

Recentemente ainda a Silgan Dispensing de Mogi das Cruzes ampliou a aplicação da escala 6×2. Nesse formato os fins de semana de descanso acontecem com um intervalo médio de 2 meses. Este arranjo também é rejeitado por grande parte dos colaboradores, pois os afasta de suas famílias.

Os operários entendem que a escala 6×1 e 6×2 deve ser suprimida, sem alteração salarial e com diminuição da jornada semanal e com pagamento de horas extras se for necessário trabalhar aos finais de semana.

Cesta básica para todos

Atualmente, o valor médio da cesta básica no estado de São Paulo é de R$808,38 (Fonte: O Globo), cerca de 38% do salário de um ajudante de produção da multinacional. Esse dado corrobora o cenário de carestia dos alimentos no Brasil: 64,2 milhões de pessoas são afetadas pela fome, totalizando 27,6% da população segundo dados do Pnad Contínua, da agência IBGE.

Ao mesmo tempo que a fome é iminente, a Silgan disponibiliza unicamente para seus trabalhadores primários (aqueles que tem contrato direto com a empresa, excluindo os terceirizados) uma cesta básica, desde que não tenham faltas no mês.

No auge da pandemia de Covid-19, os funcionários infectados pelo vírus e que entregavam atestado tinham acesso à cesta, uma medida mínima, afinal o trabalho presencial não foi cessado e os trabalhadores estavam expostos à doença.

Enquanto alguns funcionários morriam, o grupo “Silgan Holdings registrou um crescimento recorde no ano de 2021, com uma receita líquida de US$359 milhões e US$308,7 milhões em 2020”, segundo o presidente da empresa na época, Adam Grenlee.

Já no começo de 2024, vivemos uma situação parecida no município de Mogi das Cruzes e várias cidades do Alto Tietê, decretando estado de emergência por conta do surto de dengue, onde diversos funcionários foram diagnosticados com a doença e tiveram o acesso a cesta básica negado.

Quando se fica doente, se gasta mais. E no mesmo instante que o funcionário tenta recuperar sua saúde e se estabilizar financeiramente após gastar com remédios, tem a cesta básica cortada.

E pior, os trabalhadores terceirizados não têm acesso às cestas. Mesmo trabalhando todos os dias!

Os operários denunciam e exigem a disponibilização de cesta básica para todos os funcionários, incluindo os terceirizados, mediante a 100% de presença no mês ou mesmo que justifiquem suas faltas com atestado.

Mulheres exigem o fim dos assédios

O quadro de funcionários da Silgan Mogi das Cruzes, que conta com cerca de 500 funcionários, é composto majoritariamente por mulheres. Enquanto isso os cargos de liderança — principalmente na produção, onde fica a maior parte dos trabalhadores e trabalhadoras — são tomados por homens. O machismo na estrutura da empresa ultrapassa os limites da hierarquia e se materializa no dia a dia da fábrica, culminando em variadas formas de assédio.

A violência psicológica é recorrente na empresa e se apresenta de diversas maneiras. Uma delas é a perseguição, que acontece quando os gestores abusam do poder de alterar os horários de refeição. Também fazem isso quando, de propósito, colocam funcionárias e funcionários para cuidarem de diversas máquinas. Não existe posto de trabalho fixo, a atuação varia entre o maquinário do setor. Algumas gestões aproveitam dessa forma de organização para perseguir trabalhadoras e trabalhadores.

Além dessa questão, xingamentos e ameaças de troca de horário são comuns no cotidiano da fábrica. A violência moral é presente ainda na forma de injúria e difamação. Os assédios praticados são incontáveis, essa conduta atinge dezenas de operárias diariamente.

As trabalhadoras relatam que sofrem importunação, algumas vezes em forma de comentários sobre a roupa que usam no caminho de casa para o trabalho. Também se apresenta em grupos de homens que partilham entre si prints de fotos pessoais de colegas de fábrica. Há relatos de homens que perseguem as trabalhadoras com mensagens e comentários invasivos em redes sociais.

Há denúncia de uma violência sexual que aconteceu no interior da fábrica. A vítima foi orientada a não tomar nenhuma ação policial e encorajada a “abafar o caso”, sendo obrigada a conviver diariamente com o abusador.

Sabendo disso, o Movimento de Mulheres Olga Benário realizou, no fim de março de 2025, uma grande ação orientando as mulheres da fábrica sobre as formas de assédio e como combatê-las. Os panfletos foram amplamente divulgados entre as próprias operárias, culminando em novas denúncias de casos de assédio sexual.

Além da luta contra uma escala desumana, as mulheres ainda enfrentam essas violências no ambiente de trabalho.

Pelo direito a uma PPR justa

Apesar do lucro milionário da empresa em 2023, no ano passado foi pago um valor baixíssimo de PPR para os funcionários. Em Tubos (um dos setores da empresa), apenas R$2297,50. Em CRP (outro setor) míseros R$1343,70.

Enquanto isso, em 2025 foi pago em média menos de um salário-mínimo por funcionário primário (mais uma vez excluindo os terceirizados e aprendizes).

Existe uma comissão na empresa para discutir os resultados do ano, mas esse órgão teve diversas reuniões adiadas, deixando os funcionários no escuro. O que está claro, no entanto, é que o valor de PPR poderia ser muito superior, tendo em vista que a empresa superou 100% da meta financeira em 2024. A diretoria cria mecanismos para impedir que os funcionários tenham acesso ao lucro gerado pelo próprio trabalho!

Quem luta conquista

A exploração atinge diversos setores da empresa: ajudantes de produção, operadores, trocadores de molde, trabalhadores da qualidade e do almoxarifado. Líderes das áreas, eletricistas, mecânicos de manutenção, ferramenteiros, T.I, RH, administração, EHS e aprendizes. Funcionários novos e os que já dedicaram décadas de suas vidas à empresa.

Todos são impactados e sofrem na pele as contradições de classe, os assédios, o baixo salário e o medo de perder a cesta básica, isso é, quem ainda tem algum acesso a ela. Além disso, os terceirizados, as mulheres e os que trabalham em turnos vivem essas contradições mais escancaradas.

Os trabalhadores são a maioria e os responsáveis por toda riqueza produzida na fábrica, mas só podem exercer seu poder se organizadas coletivamente. Quando centralizados em um movimento coeso, historicamente os trabalhadores avançaram em seus direitos, é dessa forma que a luta por direitos básicos como descanso adequado, acesso a alimentação e um valor justo de PPR vai avançar!

Operários da Silgan Dispensing de Mogi das Cruzes, se organizem no Movimento Luta de Classes!

A luta é pelo direito ao descanso! Pelo fim da escala 6×1 e 6×2! Por acesso a alimentação! Fim dos assédios e por uma PPR justa!

Sônia Livre é o tema do 8 de Março em Santa Catarina

0

Luiza Wolff | Florianópolis (SC)


MULHERES – Neste ano, o caso de Sônia Maria de Jesus foi o mote do 8 de Março em Santa Catarina. Em 2023, Sônia foi resgatada de uma situação análoga à escravidão, em Florianópolis (SC), da casa do desembargador Jorge Luiz de Borba. Sônia trabalhou por mais de 40 anos lá, sem receber um salário. Além disso, é uma mulher surda, de 51 anos, e não foi alfabetizada nem em português nem em Libras. Parou de ir à escola desde os nove anos, quando foi trabalhar na casa da sogra do desembargador.

Porém, dois meses após o seu resgate, uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) foi de que Sônia deveria voltar à casa do desembargador. Ele e a sua esposa entraram com pedido de reconhecimento de paternidade socioafetiva de Sônia. Alegam que ela é da família. Na ocasião, a justificativa foi de que lá seria o “seu lugar”.  

Histórico

Sônia Maria de Jesus foi separada de sua família aos nove anos. Ela perdeu o contato com a família por mais de 30 anos e, assim, também não teve direito a acessar a escola e a associação de surdos que hoje ela frequenta. Segundo Luciana Carvalho, auditora fiscal do trabalho que atua com a inclusão de pessoas com deficiência, “além de ser privada do contato com a família, o mais grave é ela ter sido privada do ensino escolar”. Isso porque, quando falamos de crianças surdas, todos os médicos e especialistas na área, apontam que o melhor tratamento para que possam ser inseridas na sociedade é ir à escola.

Além disso, Sônia só obteve sua primeira carteira de identidade em 2019 e seu título de eleitor em 2022. Por tudo isso, nunca teve acesso à saúde. “Ela não teve plano de saúde até 2021, o seu ciclo vacinal não estava completo”, denuncia Luciana. Prova disso é que, quando ela saiu da casa, fez uma cirurgia nos dentes, pois estava com a arcada dentária toda comprometida.

Assim, como é possível que o desembargador possa dizer que Sônia é de sua família? Todos os seus quatro filhos tiveram direito à educação, são formados no ensino superior e sempre tiveram direito à saúde. “O desembargador Jorge Luiz de Borba é pai de quatro filhos: uma CEO de uma empresa norte-americana, uma advogada, uma ginecologista e um engenheiro”, relata o Ministério Público do Trabalho.

“Desresgate”

Após o resgate feito em 2023, Sônia foi levada à casa de acolhimento às mulheres vítimas de violência de Florianópolis, onde ficou por cerca de três meses, e ali teve tratamentos médicos e foi levada à associação de surdos de Florianópolis, iniciando o estudo de libras. Após o “desresgate”, a decisão judicial apontou que ela deveria continuar indo à associação de surdos.

Apesar disso, o desembargador e sua família entraram com um pedido de adoção da Sônia e hoje a família de Sônia, sua irmã e irmãos, que ainda lutam pela sua liberdade, somente conseguem contato por e-mails ou com os advogados, inclusive sendo negada a visita à família durante o período de Natal.

Assim como Sônia, no Brasil várias mulheres se encontram em situação análoga à escravidão. Por isso, é tão importante denunciar este caso. Apesar de sua família lutar, há anos, para encontrar Sônia e a retirar da situação em que ela é mantida, o desembargador, por seu cargo privilegiado, por ora, ainda consegue manter Sônia nessa situação. Mas a força das mulheres organizadas vai libertá-la!

Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade 

Mulheres em todo o mundo foram às ruas no 8 de Março

0

Indira Xavier | Redação


MULHERES – No último dia 08 de março, milhões de mulheres marcharam em todo o mundo. A data marcou os 115 anos da instituição do Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, proposto por Clara Zetkin, dirigente do Movimento Comunista Internacional. No Brasil, o Movimento de Mulheres Olga Benario, honrando o legado desta importante data, mobilizou milhares de mulheres para ocupar as ruas em 21 capitais e dezenas de outras cidades.

O momento de acirramento das contradições do capitalismo, que aumentam os riscos de uma nova guerra mundial, além do criminoso genocídio contra as mulheres e crianças palestinas, associado a um constante aumento da violência contra as mulheres, da violência policial e da fome em todo o mundo, exige que o movimento consciente e organizado das mulheres esteja nas ruas para defender nossas vidas e lutar por um mundo sem violências, sem guerras e sem fome.

De fato, os dados mostram que, por mais que existam leis para garantir a segurança e a vida das mulheres, a violência e os feminicídios não param de aumentar. Segundo pesquisa divulgada no dia 07 de março pelo Fórum de Segurança Publica, a violência de gênero atingiu mais de 21 milhões de brasileiras e, nos últimos dez anos, foi a responsável por quase 12 mil feminicídios.

Não bastasse a violência e o feminicídio, os impactos da fome e do aumento do custo de vida, não só na cesta básica, mas também nos alugueis e no transporte coletivo, afetam mais particularmente a vida das mulheres trabalhadoras. “Pra gente, que somos dependentes de uma faxina pra fazer, que pagamos aluguel, que somos mãe solo, se torna muito difícil. Porque não é todo dia que a gente tem um real sequer no bolso. Então, pra gente que tem uma criança, que depende de um leite pra tomar, de uma fruta pra comer, isso abala muito nossa estrutura, nossa família”, conta Luana, de 34 anos, moradora de Diadema e militante do MLB.

Assim como no Brasil, onde as manifestações foram combativas e de muitas denuncias, milhões de mulheres pelo mundo foram às ruas contra a violência, o genocídio palestino, por direitos e contra todos os ataques que os governos fascistas de plantão desferem contra a classe trabalhadora. 

Mesmo com as tentativas de abafar as mobilizações, por parte da imprensa burguesa, não foi possível abafar as vozes das milhares de argentinas nas ruas contra os ataques do presidente fascista Javier Milei. Também foram bravas as mulheres que, na Alemanha, enfrentaram a polícia para denunciar o genocídio palestino. Na Nigéria, as mulheres foram às ruas de roxo para denunciar a violência e o casamento infantil. No México, milhares de mulheres indígenas assumiram o protagonismo na marcha e foram as vozes para denunciar os desaparecimentos forçados e os feminicídios.

O futuro é o socialismo!

O Movimento Comunista Internacional deu e segue dando grandes impulsos à organização revolucionária das mulheres, justamente por compreender que é impossível acabar com o sofrimento da humanidade sem fazer uma revolução que ponha abaixo o Estado burguês, que se alimenta do suor e do sangue do nosso povo, aqueles que verdadeiramente constroem todas as riquezas. Por isso, o 8 de Março é uma data que tem o objetivo de impulsionar a unidade e a luta das mulheres trabalhadoras de todo o mundo.

Só o socialismo será capaz de assegurar o futuro da humanidade, só em uma nova ordem, onde não haja exploração e objetificação de mulheres e crianças, onde o Estado esteja a serviço da classe trabalhadora para pôr fim a toda a violência e insegurança, é que seremos verdadeiramente livres. Lutemos, pois, pelo socialismo!

Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade

População se revolta com execução de dois jovens na periferia de Londrina

0

Jovens são assassinados pela polícia militar e população de Londrina (PR) protesta contra a violência policial e em denúncia aos assassinatos

Victor Santana, Giovanny Godoy, Helloisa Ramos | Londrina (PR)


LUTA POPULAR – Entre gritos, barricadas e fogo, amigos, familiares e moradores da periferia de Londrina (PR) protestaram contra a violência da Polícia Militar, que é acusada de assassinar Wender da Costa, de 20 anos, e Kelvin dos Santos, de apenas 16, no dia 15 de fevereiro.

Segundo os policiais, os jovens estariam envolvidos com roubos em residências e teriam resistido à abordagem, ocasionando uma troca de tiros. Testemunhas, no entanto, afirmam que eles trabalhavam em um lava-rápido e estavam a caminho de uma distribuidora, quando foram assassinados à queima-roupa. Uma câmera de segurança residencial flagrou o momento em que os policiais conversam e, logo em seguida, ouve-se o barulho dos tiros.

“Por que num sábado, 22h15 da noite, meu filho jantou em um aniversário comigo e, depois de 20 minutos, ele faleceu? Por que tanto tiro que eles levaram? Tanto, tanto, que a gente não conseguia entrar dentro do IML para ver”, complementou Cirlene, mãe de Kelvin, durante a manifestação.

População luta por justiça

As mortes de Wender e Kelvin mobilizaram a população dos bairros, que se uniu e paralisou Londrina no dia 17. O povo fechou as ruas, impediu o trânsito em várias partes da cidade, denunciando o crime. Linhas de ônibus e coleta de lixo também foram interrompidas. “Nós precisamos fazer isso pelas almas que foram e pelos que ficaram, porque estamos cansados”, disse Cirlene a uma rádio.

Em resposta, na noite dos assassinatos, a Polícia retaliou violentamente a revolta dos moradores com balas de borracha e spray de pimenta. Familiares foram atingidos ao exigirem que a violência cessasse. O prefeito fascista, Tiago Amaral (PSD), incomodado com as manifestações que “tentavam prejudicar a imagem da cidade”, não perdeu tempo em pedir reforços policiais ao governador Ratinho Jr e acionou até o Batalhão de Operações Especiais (Bope) para “instaurar a ordem na cidade”.

Em declaração nas redes digitais, o prefeito demonstrou mais preocupação em proteger o capital e as empresas de transporte urbano, que poderiam ter seus lucros prejudicados com as paralisações. Ao invés de cobrar explicações da Polícia e se propor a colaborar com a investigação do crime, disse apenas que “o caos não vai se instalar em Londrina”, ignorando o luto das famílias.

Nunca foi confronto

Dados do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do Ministério Público do Paraná, divulgados em 2023, mostram que, de 488 pessoas mortas em operações policiais no Estado do Paraná, cerca de 30% delas eram pretos e pardos. 

Outro estudo mostrou que, em 2020, Londrina registrou o 12º maior número de mortes por policiais no país, superando muitas capitais e até o total de mortes por policiais em todo o Estado de Santa Catarina. A violência é tamanha que as famílias das vítimas formaram o grupo “Justiça por Almas – Mães de Luto em Luta”, como é o caso da servidora pública Marilene Ferraz da Silva Santos, mãe de Davi Gregório Ferraz, morto pela Polícia Militar de Londrina em junho de 2022, quando tinha apenas 15 anos.

Estes fatos evidenciam que a violência é fruto do sistema capitalista, esse modo de produção que, em todos os lugares, explora os trabalhadores e garante apenas a segurança dos ricos. No entanto, em toda a história da humanidade, as classes oprimidas que se organizaram e lutaram, conquistaram sua libertação.

A força das comunidades das periferias de Londrina não só amedrontou o prefeito, como mostrou o povo organizado é forte. Como disse Gislaine, moradora da comunidade “esse é um ato de uma comunidade, não de uma facção, como a Polícia fala. Pedimos justiça, e ela vai chegar de qualquer maneira!”.

Matéria publicada na edição impressa nº 309 de A Verdade