UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 18 de agosto de 2025
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Ocupação no Dops, em Minas Gerais, é grande denúncia das torturas na ditadura militar

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O prédio que abrigou por 30 anos o Dops de Minas Gerais, um dos principais aparelhos de tortura da ditadura militar fascista, foi ocupado permanentemente por movimentos sociais no 1º de abril deste ano.

Felipe Annunziata e João Márcio Dias | Belo Horizonte (MG)


BRASIL – A fachada modernista do prédio que abrigou por 30 anos o Dops de Minas Gerais esconde um dos principais aparelhos de tortura e repressão da ditadura militar fascista. Entre 1958 e 1988, o edifício localizado na Avenida Afonso Pena, principal avenida de Belo Horizonte, foi local de torturas e violações de direitos humanos de centenas de pessoas.

O prédio foi depois utilizado como Delegacia da Polícia Civil e abandonado em 2018 pelo governo estadual. No entanto, desde o período da redemocratização o endereço é ponto de encontro das lutas por memória, verdade, justiça e reparação na capital mineira. Há anos, todo 1º abril é marcado com manifestações exigindo que o prédio do antigo Dops se torne espaço de memória da luta contra a ditadura.

Mas o 1º de abril deste ano foi diferente. Diversos movimentos sociais, organizações e partidos políticos de esquerda organizaram uma ocupação permanente do espaço. Desde então, atividades de visitação, reuniões de movimentos e formação educativa de estudantes ocorreram. Desde o início da ocupação, mais de três mil pessoas visitaram o local, sendo que 800 tiveram visitas guiadas.

A decisão dos movimentos de manter a ação mostrou a viabilidade e a necessidade da instalação do Memorial dos Direitos Humanos naquele espaço. O projeto já havia sido elaborado por um Grupo de Trabalho da UFMG, em 2020, no entanto foi boicotado pelo atual governo estadual, liderado pelo fascista Romeu Zema (Novo). Além disso, o projeto não contou com nenhum apoio do atual governo federal ou da Prefeitura de Belo Horizonte, mesmo com os constantes protestos de vítimas e familiares de vítimas da ditadura militar.

Apagamento e destruição da memória

Para além disso, o espaço é vítima de um processo de apagamento dos vestígios de tortura. O acesso às oito celas e espaços de tortura no subsolo do prédio estão completamente bloqueados por paredes construídas nos últimos 20 anos. Após a ditadura, a Polícia Civil continuou usando o espaço não só como delegacia, mas também como carceragem.

Uma sala de tortura, localizada no pátio externo à carceragem, era conhecida como “igrejinha”, onde havia uma mureta para apoiar o “pau de arara” e também como espaço para guardar os aparelhos de tortura, como as fiações para choques elétricos e armas de espancamento. O apelido do lugar se dava em referência ao fato de que quem entrasse “confessaria” diante das torturas. O local foi tapado com uma parede para fazer parecer que fossem, na verdade, dois banheiros.

“Estamos dispostos a resistir. A política do governo é de destruição e apagamento da memória da ditadura.”, afirmou Oraldo Paiva, metalúrgico, militante perseguido na ditadura e que passou pelo Dops de Minas Gerais no ano de 1987.

Paiva, que também é membro da Comissão da Verdade dos Trabalhadores (Covet), lembrou da luta contra a ditadura e como a classe trabalhadora foi importante naquele processo. O metalúrgico também defende que as empresas que financiaram as operações de tortura financiem o novo Memorial.

“Então, aí eu cheguei aqui e comecei a trabalhar na Sid, e aí eu comecei a trabalhar aqui. Isso que me levou a chegar, em 87, na greve geral, que acabei sendo preso, né… Não fui torturado fisicamente, mas, segundo a companheira, a jornalista falou: ‘Oraldo, você está falando que você não foi torturado, mas você foi torturado, toda interrogatória é uma tortura psicológica.’ Uma das vezes que eu fui interrogado foi naquela sala lá da cortiça. Então, depois acabou me liberando”, afirmou.

Outro perseguido político que foi torturado no Dops-MG é Paulo Guarani, militante do movimento negro e ex-cabo da PM-MG. Ele nos contou as inúmeras vezes que foi parar no prédio do Dops por conta da perseguição racista da Ditadura à cultura do povo negro.

“A Polícia Militar chegava lá com as viaturas do 16º Batalhão e recolhia todos os negros que eles podiam recolher. Alguns iam pro 5º Distrito, alguns iam pro 2º e alguns iam pro Dops. E parece que era minha falta de sorte que eu estava sempre indo pro Dops. Parece que eles já sabiam que tinha que me levar pra lá”, contou Paulo Guarani.

Arquitetura da tortura e da morte

Segundo relatos de ex-presos e também por vestígios encontrados no local, o edifício passou por reformas para adequar o espaço a outros tipos de violação dos direitos humanos.

No local, nossa reportagem pôde verificar a existência de apoios para colocar o famoso “pau de arara”, salas solitárias e sem entrada de luz para presos, espaços designados como locais de espancamento, um canil onde cachorros eram treinados para atacar presos, entre outros espaços voltados para tortura. Todas as estruturas foram feitas durante a ditadura militar.

No entanto, no estacionamento anexo ao prédio, foi encontrada uma piscina e uma sauna, supostamente para a recreação dos policiais, mas que na verdade era usada para a tortura conhecida como “esquenta-esfria”. Neste tipo de tortura, o preso é colocado numa sauna extremamente quente e após alguns minutos é jogado numa piscina de água gelada. O objetivo é causar choque térmico na pessoa.

A utilização do prédio para torturas físicas é corroborada pela entrevista de Paulo Guarani. Ele revelou como as torturas aconteciam no espaço hoje ocupado pelos movimentos sociais.

“Mas o Dops chegava infiltrado no samba, no pagode, e já chegava arrastando. Não dava para fazer muito barulho no samba, porque ia machucar muita gente. E machucava mesmo. Então, a gente saía e vinha, tomava esse couro. O que você fala de tortura, a gente fala de couro, a gente fala de pau de arara, de cabeça para baixo, com choque no testículo, choque no ânus, cassetete enterrado no ânus, cassetete entre os dentes, choque elétrico entre os dentes, banho de banheira gelada, com gelo mesmo, mas era muito gelo”, afirma Paulo Guarani.

Segundo o relatório da UFMG, a estrutura arquitetônica difere de um espaço de recreação. O formato da piscina é de um poço que claramente não é utilizado para as pessoas nadarem. De acordo com a pesquisa também, o espaço teria sido construído na década de 1980.

A fachada modernista, que da rua poderia muito bem ser confundida com a de um museu ou de uma escola, esconde uma arquitetura construída para realização de torturas e assassinatos.

Vitória e negociação

A ocupação, desde o primeiro dia, foi perseguida pelo governador fascista Zema. No entanto, a resistência das organizações e movimentos sociais deu resultado. No dia 20 de maio, o desembargador Luis Carlos Balbino Gambogi emitiu uma liminar proibindo o despejo da ocupação e obrigando o governo de MG a negociar a criação do espaço de memória. Mesmo assim, a PM se recusava a levantar o cerco ao prédio, sendo novamente obrigada pelo judiciário a recuar.

Na Assembleia Legislativa a ocupação também tem repercutido e parlamentares progressistas têm defendido a manutenção do espaço. Diversos parlamentares já visitaram o local e reafirmaram a importância da criação do memorial. A Comissão de Direitos Humanos da ALMG tem atuado na defesa da permanência da ocupação.

No dia 30 de maio, aconteceu uma audiência de conciliação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na qual os ocupantes tiveram importantes vitórias para a luta, incluindo o compromisso do governo de que o prédio não será vendido e será destinado a ser o Memorial dos Direitos Humanos, além da prorrogação do mandado de segurança que garante a continuidade da ocupação.

“A gente conseguiu mostrar que a luta para ser memorial é fundamental para o resgate da memória, da verdade, da justiça do povo de Minas Gerais e do Brasil que lutou contra a ditadura, e também as heranças da tortura que ainda existem hoje no Brasil”, afirmou Renato Amaral, um dos coordenadores da ocupação.

As organizações que participam da ocupação defendem gestão coletiva do espaço pelo movimento social, para torná-lo definitivamente um Memorial dos Direitos Humanos e também um espaço de organização das lutas sociais.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Privatização da Agespisa deixa 300 trabalhadores sem emprego no Piauí

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A demissão de 300 trabalhadores da Agespisa, autorizada pelo governador Rafael Fonteles (PT), expõe os efeitos imediatos da privatização da estatal de saneamento do Piauí.

Celine Albuquerque e Pedro Kardec | Teresina (PI)


BRASIL – A recente demissão em massa de 300 trabalhadores da empresa Águas e Esgotos do Piauí (Agespisa), autorizada pelo governador Rafael Fonteles (PT), marca um novo capítulo sombrio na história do serviço público no estado. A decisão, consequência direta da privatização da companhia estatal de saneamento, concretizada no final de 2024, escancara os impactos da política neoliberal – disfarçada sob o discurso de modernização e eficiência –, que, na prática, destrói direitos, empregos e piora a prestação de serviços à população.

Com um patrimônio estimado de R$ 4 bilhões, segundo levantamento de técnicos da empresa estatal, foi vendida em leilão no dia 30 de outubro de 2024 por R$1 bilhão. A empresa arrematante foi a Aegea, grupo privado que administra a Águas de Teresina desde julho de 2017. Desde o início do processo de privatização, a ameaça de demissões em massa era uma realidade anunciada. O próprio secretário de Administração do Estado do Piauí, Samuel Nascimento, declarou publicamente a intenção do governo de implementar um “robusto Programa de Desligamentos Voluntários”, sinalizando o destino cruel que agora se concretiza para centenas de trabalhadores.

“A demissão arbitrária e sem justa causa destes trabalhadores, muitos com décadas de dedicação ao saneamento básico, é um ato cruel e desumano, que atenta contra os direitos trabalhistas garantidos constitucionalmente e contra o Acordo Coletivo de Trabalho que ainda está vigente”, denunciou a Central Única dos Trabalhadores no Piauí (CUT-PI).

Capital acima da vida

A retórica de progresso usada para justificar a privatização encobre uma realidade já conhecida: empresas privadas operam sob a lógica do lucro. Isso significa menos investimentos em áreas menos lucrativas, tarifas mais altas para a população e precarização das condições de trabalho.

A demissão em massa na Agespisa não é um caso isolado, mas parte de um projeto mais amplo de destruição dos direitos sociais, como mostram os recentes casos de privatização da Sabesp (SP), Cosanpa (PA) e o metrô de Belo Horizonte.

A resposta está na reestatização dessas empresas e no fortalecimento do controle público e popular sobre os setores fundamentais da economia nacional, com valorização do trabalhador e a defesa intransigente dos serviços públicos.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Movimento Olga Benario organiza 4º Encontro no RS

Movimento feminista se reuniu no estado gaúcho para debater os desafios dos movimentos sociais para barrar o fascismo e construir o socialismo

Claudiane Lopes | Redação RS


MULHERES – Contando com mais de 50 mulheres, o 4º Encontro Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benario ocorreu dia 6 de julho na Escola Técnica José César de Mesquita, no estado do Rio Grande do Sul.

O tema central deste 4º Encontro foi “Os desafios dos movimentos sociais para barrar o fascismo e construir o socialismo” e teve como destaque o protagonismo das mulheres nas lutas por serem as principais interessadas no fim da sociedade capitalista, por serem as mais oprimidas e violentadas.

O Encontro contou com a saudação de movimentos sociais parceiros como o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), Movimento Luta de Classes (MLC), União da Juventude Rebelião (UJR) e dos Partidos Unidade Popular pelo Socialismo-UP e Partido Comunista Revolucionário (PCR).

Participaram mulheres de Passo Fundo, Pelotas, Canoas, Novo Hamburgo, Porto Alegre e Caxias do Sul que falaram sobre a realidade de suas cidades e sobre a necessidade de organizar as mulheres nos bairros, empregos e universidades.

Durante a tarde, nos dividimos em 3 grupos e debatemos os temas: saúde reprodutiva da mulher e a legalização do aborto, combate à violência contra as mulheres e as lutas da mulher trabalhadora. Estudamos textos da nossa nova Cartilha e pensamos coletivamente em diversas propostas de lutas para fazer no estado do Rio Grande do Sul.

Foi eleita uma coordenação estadual do movimento com trabalhadoras jovens, sem-teto, dos bairros e estudantes, de diversas cidades em que atuamos.

Por fim, homenageamos as mulheres vítimas de feminicídio no Rio Grande do Sul e também a companheira Gabriela Mariel, que foi uma das principais lideranças do Movimento de Mulheres Olga Benario na região do ABC Paulista, vítima de feminicídio há pouco mais de um mês, mas que segue nos inspirando a continuar a luta em seu nome por todo o país.

Prefeitura privatiza São João em Caruaru

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Mesmo sendo um dos eventos culturais mais importantes do país, o São João de Caruaru (PE) tem passado por um processo de privatização e de abandono dos artistas locais e das tradições populares para gerar lucro para empresários.

Iany Morais | Caruaru


CULTURA – Após 65 dias de festa, o São João de Caruaru em Pernambuco, chegou ao fim, deixando evidente como a cultura popular tem sido precarizada em nome da garantia do lucro de uma minoria de ricos. Os festejos juninos figuram entre os principais do país e a cidade carrega o título de maior São João do Mundo, porém, a tradição tem sido sistematicamente esmagada por uma lógica mercantil.

O espaço, antes tomado por pessoas dançando forró pé de serra, hoje é disputado com o camarote, que a cada edição parece maior. Esse ano o camarote que fica em frente ao palco principal, ocupou mais de 4mil m² no Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, principal polo entre os 27 espalhados pela cidade, impedindo que quem não pague fique próximo ao palco e revelando a privatização do São João.

Mas, não para por aí. Os apoios que antigamente serviam para fazer a festa acontecer, deram lugar aos patrocínios multimilionários que determinam a lógica da festa, incluindo as atrações artísticas. Exemplo disso, é a Aposta Ganha, casa de aposta e cassino online que há 4 anos consecutivos é a maior patrocinadora do São João de Caruaru, evidenciando a influência das chamadas bets, que lucram com o vício e o endividamento do povo pobre no Brasil atualmente.

O São João, historicamente construído por artistas populares, trios de forró pé de serra, banda de pífanos, bois, quadrilhas, foi rifado e virou vitrine para grandes marcas lucrarem ainda mais. A discrepância entre as atrações é enorme. O maior montante de dinheiro é destinado a cantores e bandas tidas como “nacionais”, Wesley Safadão, por exemplo, cantor e dono de bets, recebeu R$1.200.000,00, (Um milhão e duzentos mil reais), o maior cachê do ano.

Enquanto isso os verdadeiros responsáveis pela identidade do São João, os trabalhadores da cultura popular, são precarizados, dividem a menor parcela dos cachês e estão cada vez mais longe do palco principal. Para alguns trios e bandas de pífano de Caruaru, o cachê ficou em torno de R$ 1.500,00 (Mil e quinhentos reais), que muitas vezes são pagos meses após o fim da festa.

A mercantilização do São João na capital do forró não é obra do acaso, é fruto da sociedade em que vivemos.

No capitalismo tudo vira mercadoria, os ricos ficam mais ricos e até mesmo a cultura é usada para esse fim. Mas é possível mudarmos isso! É preciso cobrar do poder público o fortalecimento da cultura popular e pegar nosso São João de volta. E mais: é urgente construirmos uma nova sociedade e fazer como diz a canção de Gilberto Gil, virar este mundo em festa, trabalho e pão!

Trabalhadores são superexplorados na fábrica da chinesa BYD na Bahia

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Com obras atrasadas em Camaçari (BA), a montadora chinesa BYD enfrenta acusações de violações trabalhistas graves, incluindo trabalho análogo à escravidão, jornadas exaustivas e falta de equipamentos de segurança.

Gregorio Motta Gould | Salvador (BA)


BRASIL – A montadora chinesa de carros elétricos BYD está construindo uma unidade para produção de automóveis no Polo Petroquímico de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. As obras estão atrasadas, de acordo com o cronograma inicial, e parece que a sede de lucro e o desrespeito aos direitos dos trabalhadores (chineses e brasileiros) por parte da multinacional “não fica devendo nada” a nenhuma empresa de qualquer outra potência imperialista do mundo.

Em dezembro de 2024, uma denúncia de trabalho análogo à escravidão e tráfico de pessoas praticada por terceirizadas da obra levou o Ministério Público do Trabalho (MPT) a denunciar a empresa, cobrando o pagamento de R$ 257 milhões por danos morais coletivos.

Na denúncia, o MPT apontou condições insalubres nos dormitórios, ausência de colchões, além de seguranças armados que impediam a saída dos trabalhadores do alojamento. Na ocasião, a BYD informou que a construtora terceirizada Jinjang Construction Brazil Ltda., também chinesa, havia cometido irregularidades e decidiu encerrar o contrato com a empreiteira. Como sempre, quando se trata das multinacionais bilionárias, ninguém é responsável, são todos santos.

Recentemente, duas empresas terceirizadas que estão responsáveis pela obra atrasaram o salário dos trabalhadores. A resposta não poderia ser outra: greve! Os trabalhadores pararam as obras no último dia 14 de maio, exigindo o pagamento dos salários e melhores condições de trabalho. Em poucas horas, o salário estava na conta.

Além disso, os brigadistas do jornal A Verdade que realizam a brigada de maneira regular em frente à empresa, há mais de quatro meses, receberam denúncias de muitos abusos, como jornadas extenuantes, falta de EPIs e jornadas de trabalho ilegais, de domingo a domingo, sem nenhum dia de folga.

“Temos que trabalhar até às 22h00, comendo apenas um pão com ovo dado pela empresa, quando muito. Estão chegando muitos chineses que vivem em condições precárias e dormitórios muito ruins”, denunciou um trabalhador anonimamente.

Isso não ocorre à toa, nem apenas porque os capitalistas são desumanos, mas para garantir os superlucros dos bilionários. A BYD lucrou US$ 107 bilhões em 2024 e segue lucrando em 2025, já que vendeu mais de um milhão de unidades até abril, um aumento de 60% na comparação anual.

É preciso organizar os trabalhadores para lutar para pôr fim a essa exploração, como demonstrou a paralisação do dia 14. Só a luta dos trabalhadores pode garantir seus direitos e o fim da escala 6×1. Para isso, precisamos fortalecer o trabalho do jornal A Verdade na porta das empresas e desenvolver as lutas da classe trabalhadora, como as greves.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Trabalho alienado e riqueza concentrada: obra de Karl Marx já denunciava a precarização do trabalho

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No capitalismo, o trabalho não dignifica o homem. Foto: Reprpdução.

Lançado em 1844, a obra Manuscritos Econômico-Filosóficos de Karl Marx, aprofunda a questão do trabalho e é de uma grande serventia para nossos dias. Hoje, no Brasil, a precarização do trabalho virou a regra do jogo, um jogo cruel que só beneficia o lado dos patrões em detrimento do trabalhador, que ganha cada vez menos, trabalhando muito mais e perdendo direitos.

André Luiz | Petrolina (PE)


BRASIL – Os Manuscritos Econômico-Filosóficos de Karl Marx, escritos em 1844, representam um dos primeiros esboços de sua crítica à economia política e ao sistema capitalista. Entre os principais temas abordados, destaca-se a alienação do trabalhador, conceito fundamental para compreender a exploração no capitalismo e a relação entre trabalho e propriedade privada. A precarização do trabalho no século XXI destaca que o trabalho, longe de dignificar, aprofunda a exploração dos trabalhadores. Em tempos de coaching corporativo e do modelo uberizado de trabalho, cada vez mais indivíduos são incentivados a se tornarem ‘donos’ do próprio tempo de trabalho, quando, na realidade, enfrentam jornadas extenuantes sem garantias trabalhistas.

Como Marx afirma, “o trabalhador se torna tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e extensão”. Os defensores desse modelo argumentam que “não existe pobreza que resista a 14 horas de trabalho”, naturalizando a exploração e ignorando as implicações da alienação laboral. A uberização do trabalho segue essa mesma lógica, sustentada pela flexibilização extrema da jornada e pela ausência da proteção trabalhista tradicional, como férias, 13º salário e aposentadoria. A dissolução da jornada padrão de oito horas diárias e 44 horas semanais, sem a égide do sistema hierárquico das empresas, revela a transferência dos custos operacionais para os próprios trabalhadores. Sob a justificativa da liberdade de escolha, essa dinâmica oculta um padrão de superexploração, no qual o trabalhador, ao aumentar sua produção, não acumula riqueza, mas aprofunda sua própria precarização.

Exportamos riqueza, colhemos pobreza: a lógica da alienação no capitalismo brasileiro

A alienação do trabalho parte do pressuposto basilar de que, no momento em que a relação e exteriorizada, tornando-se alheio as consequências. A dedicação perene do trabalhador torna-se mais desgastante ao ponto de não ser possível usufruir do fruto do seu trabalho, ou seja, o que é produzido fica inacessível. A exteriorização do trabalhador, significa que o trabalho passa a ser um objeto, uma existência externa, fora dele algo estranho a própria existência, Por exemplo os trabalhadores que atuam nas entregas de alimentos, que participam ativamente do processo desde o cozimento, mas não tem acesso ao que é produzido. Um entregador de comida, que passa o dia entregando refeições, as vez mais de 12 horas diárias, mas que almoçam muitas vezes, um biscoito recheado para economizar no recurso e fazer render mais sua renda.

O trabalho é primordial para os ricos, mas para quem está na linha de frente da produção gera privação. O Brasil é o maior exportador de soja do mundo, segundos dados da EMBRAPA, até maio de 2025 foram cerca 167,87 milhões de toneladas de soja ocupando cerca de 47,52 milhões de hectares, tendo a China como maior comprador. Mais: é a China quem adquire cerca de 70% da soja exportada pelo país. Os dados apenas confirmam que quem produz não tem acesso á riqueza gerada. Em consonância aos números exorbitantes de exportação, a renda média do trabalhador brasileiro que em 2022 era de R$ 1.625, em 2023 foi para R$ 1.893.  Segundo dados do IBGE, em 2023, a renda média por morador nos lares brasileiros foi de R$ 1.893 e em 2022, a média per capita era de R$ 1.625. O nível de exportação exprime outro número alarmante: cerca de 77% do território brasileiro é ocupado por pastagem, cana de açúcar e soja, revelando a brutal concentração da propriedade privada nas mãos dos latifundiários.

O trabalhador mesmo em casa permanece de prontidão porque o trabalho é forçado, obrigatório. Marx, afirma, não é uma satisfação. Condiciona apenas para sustentar uma carência fora dele. Paralelamente, aos animais, o homem é racional pela possibilidade de comunicação, contudo, nas relações produtivas os animais produzem o necessário para suprir ausência física imediata. O homem, que depende somente de sua força de trabalho, produz de maneira desordenada para além da sua capacidade de carência exigida pela natureza. Marx continua “Se o produto do trabalho não pertence ao trabalhador, um poder estranho [que] está diante dele, então isto só é possível pelo fato de [o produto do trabalho] pertencer a um outro homem fora o trabalhador.”

A discrepância de moradia entre palácios de um lado e casebres do outro, escancara o quanto o trabalho, no lugar de dignificar a vida humana ou garantir coisas básicas como um teto, só atualiza o quanto o pensamento de Karl Marx continua atual e estava correto. Mais ainda, é uma mostra de como o ódio ao pensamento socialista continua na ordem do dia da burguesia nacional. Uma obra como essa, lançada há mais de 100 anos continua sendo uma fonte de formação para a classe trabalhadora e transformadora de sua realidade, e é justamente esse pensamento que precisar ser cada vez mais exposto para nosso povo e divulgado, em sua luta por uma organização popular que vá na raiz das contradições impostas por esse sistema e que são cada vez mais difíceis para as classes dominantes defender ou esconder.

Governo de Israel espalha rastro de sangue no Oriente Médio

Governo de Israel, com apoio dos EUA, conduz guerra contra os povos do Oriente Médio enquanto realiza um genocídio na Faixa de Gaza. Povo palestino resiste contra o extermínio nazi-sionista.

Felipe Annunziata e Rafael Freire | Redação


INTERNACIONAL – São mais de 620 dias de genocídio do povo palestino na Faixa de Gaza. Apesar disto, os governos capitalistas e imperialistas do mundo assistem calados ou mesmo apoiam o extermínio de crianças, mulheres, idosos, enfim, de famílias inteiras.

A “nova tática” do governo neonazista de Israel é oferecer “ajuda humanitária” aos palestinos em centros controlados por uma empresa privada estadunidense disfarçada sob o nome de Fundação Humanitária de Gaza (GHF), enquanto abrem fogo indiscriminadamente contra a população faminta e mutilada física e emocionalmente.

Em apenas um dia, 11 de junho, os mercenários de Donald Trump e Benjamin Netanyahu assassinaram 80 palestinos em Gaza, sendo 57 mortos enquanto buscavam comida. Nesses “centros de distribuição”, os palestinos são tratados da mesma forma como os judeus eram tratados pelos nazistas nos campos de extermínio da Europa na 2ª Guerra Mundial.

“Não quero que meu pai morra, não quero que ele se vá! Acabou! Não haverá mais um sorriso! Papai foi buscar algo para comermos e estava levando mais pessoas para buscar comida. Estamos famintos há três meses”, falou numa rede digital a filha de Khaled al-Daghma, assassinado na fila da fome. “A comida virou uma oportunidade para matar. Nunca ouvi falar de tal coisa”, afirmou em entrevista à rede Al Jazeera o ex-chefe de ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths.

Israel segue com bombardeios a casas com famílias inteiras dentro e o bloqueio total da entrada de comida e água, que começou em março. Já são mais de 60 mil mortos, 140 mil feridos e dezenas de milhares de desaparecidos. Toda população da Faixa de Gaza se encontra abaixo da linha da miséria, em situação de fome, sem-teto, sem sistema de saúde, educação, saneamento e água. Mesmo com tudo isso, a resistência palestina continua firme e o povo de se recusa a sair de seu território.

Em cima do muro?

Alguns importantes países, como o Brasil, adotam uma posição totalmente contraditória em relação ao extermínio em Gaza. O presidente Lula condena publicamente o genocídio: “O que está acontecendo em Gaza não é uma guerra, é um genocídio de um exército altamente preparado contra mulheres e crianças. É contra isso que a humanidade tem que se indignar”, afirmou Lula durante recente visita à França. Porém, só neste ano, as exportações de petróleo cru do Brasil para Israel cresceram 309%, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio. Além disso, nosso país continua a vender aço e alimentos usados pelas Forças Armadas israelenses para manter sua máquina de morte.

Seria uma posição “em cima do muro”? O problema é que não existe muro faz tempo. Mais de 80% de todas as construções da Faixa de Gaza já foram destruídas pelas bombas estadunidenses lançadas pelos assassinos israelenses. O Governo Lula deveria, imediatamente, romper com qualquer relação diplomática e econômica com o Estado de Israel.

Mas essa conivência não é apenas do governo brasileiro. Outros países adotam a mesma postura hipócrita. A China, a segunda potência imperialista do mundo, foi a maior exportadora de produtos para Israel em 2024, com um comércio de US$ 19 bilhões por ano, mais que o dobro do valor do comércio feito pelos EUA, o principal aliado ideológico e militar israelense. Os chineses mandam, entre outros produtos, metais utilizados na produção de equipamentos militares. 

Além desses países que condenam o genocídio, os aliados tradicionais de Israel (o imperialismo estadunidense e europeu) continuam a mandar bilhões de dólares em armas e equipamentos para o Estado nazi-sionista. Segundo pesquisa da Revista Foreign Affairs, Israel recebeu mais de U$ 220 bilhões em ajuda militar desde que foi criado, em 1948. Hoje, toda tecnologia israelense é derivada dos armamentos fornecidos pelos EUA, e o regime sionista depende extremamente do fornecimento contínuo de munições, armas e inteligência por parte dos Estados Unidos. Na prática, Israel é um regime que obedece aos comandos militares do Pentágono, como demonstra o caso da agressão militar contra o Irã.

Essa situação confirma o que o revolucionário russo Vladimir Lênin afirmou, em 1916, em sua obra Imperialismo, fase superior do capitalismo: “O capitalismo transformou-se num sistema universal de subjugação colonial e de estrangulamento financeiro da imensa maioria da população do planeta por um punhado de países ‘avançados’. A partilha deste ‘saque’ se efetua entre duas ou três potências gananciosas, armadas até os dentes, que dominam o mundo e arrastam todo o planeta para a sua guerra pela partilha do seu saque”.

Israel ataca Irã

O Estado assassino de Israel espalha sangue pelo Oriente Médio. Não satisfeito em cometer um genocídio contra o povo palestino, além de já ter bombardeado Síria, Líbano e Iêmen, o neonazista Netanyahu ordenou, em total acordo com Trump, bombardeios contra o Irã a partir do dia 12 de junho, com apoio dos serviços de inteligência e auxílio militar do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Segundo o portal de notícias Middle East Eye, que faz cobertura jornalística do Oriente Médio, os EUA entregaram secretamente centenas de mísseis guiados a laser a Israel pouco antes do ataque ao Irã. A entrega de aproximadamente 300 mísseis de alta precisão ar-terra Hellfire teria sido confirmada por duas autoridades estadunidenses que forneceram a informação sob condição de anonimato.

Os governos israelense e estadunidense, em alinhamento com os monopólios burgueses de imprensa, acusam o Irã de produzir a bomba atômica – coisa que os EUA têm aos milhares em seu arsenal. Na prática, é uma guerra para subjugar o povo iraniano e roubar suas riquezas, como petróleo e gás natural. O Irã tem a quarta maior reserva de petróleo do mundo e a terceira maior de gás natural.

Os ataques atingiram instalações nucleares na região de Isfahan, no centro do Irã, e também blocos residenciais, além de um hospital em Kermanshah, no oeste do país. Segundo os serviços de saúde iranianos, até o fechamento desta edição (16/06), mais de 220 pessoas foram mortas nos bombardeios, sendo pelo menos 70 mulheres e crianças. Entre os mortos, também estavam alvos selecionados, como cientistas e membros do alto-comando militar iraniano.

Junto com os ataques aéreos, o regime sionista colocou em atividade dezenas de agentes da organização terrorista de espionagem Mossad para atacar cidades iranianas com carros-bomba, drones e a sabotagem do sistema de energia e distribuição de água para a população.

Apesar de toda esta campanha, as Forças Armadas iranianas mostraram capacidade de resposta e iniciaram uma campanha de bombardeio contra instalações israelenses. Até agora, os iranianos conseguiram destruir armazéns de combustíveis e atacar o porto de Haifa e bases militares de Israel. Os mísseis iranianos também atingiram blocos de apartamentos onde se encontravam baterias anti-aéreas israelenses. Até agora, os ataques deixaram ao menos 16 pessoas mortas. Não é possível saber a real extensão dos danos causados pelos mísseis iranianos devido à censura militar imposta pelo governo de Israel à imprensa local.

Segundo informações divulgadas pela grande mídia, existem mais de 1,5 milhão de bunkers (esconderijos subterrâneos) no território israelense para abrigar a população em caso de ataques. Mais uma prova de que a lógica armamentista faz parte da ideologia do regime sionista, sempre disposto a atacar as nações do Oriente Médio e a tomar mais terras da Palestina Histórica para implantar novos assentamentos de colonos judeus.

Povos do mundo em defesa de Gaza

Diante de tamanha atrocidade, os povos do mundo têm se levantado em defesa da causa palestina. No dia 10 de junho, milhares de argelinos e tunisianos se uniram na “Caravana Sumud” (“resiliência, resistência”, em árabe) e se dirigiram em direção à fronteira do Egito com a Faixa de Gaza. Cruzando três países, os manifestantes pretendiam romper o bloqueio e garantir a entrada de ajuda humanitária aos palestinos, mas foram reprimidos por forças policiais do governo egípcio.

Na Europa, os atos com dezenas de milhares de pessoas continuam a pressionar os governos a romperem com Israel. Cidades como Haia, Paris, Londres e Madrid têm manifestações semanais. Nos EUA, mesmo sob a censura e perseguição do Governo Trump, a juventude continua a se levantar contra o genocídio, combinando com os atos contra a política racista anti-imigrante (ver página 11) vigente no país.

No Brasil, o maior ato em defesa do povo palestino ocorreu em São Paulo, no último dia 15, reunindo mais de 35 mil pessoas. Mais de uma dezena de cidades brasileiras registraram manifestações em defesa do povo palestino.

Neste mês, houve ainda a ação da Flotilha da Liberdade, com tripulantes de várias nacionalidades, incluindo o brasileiro Thiago Ávila. Eles tentaram levar comida e água para Gaza, mas foram sequestrados pelo Exército israelense, torturados e presos nas masmorras sionistas. Posteriormente, a maioria foi solta, mas ainda há três pessoas detidas ilegalmente.

É preciso fortalecer a campanha de solidariedade no Brasil. Diante da falta de atitude do governo brasileiro contra o extermínio palestino, é urgente levantar bem alto a bandeira da libertação da Palestina e exigir respeito à soberania do povo palestino, com seu direito a organização de um Estado próprio.

Publicado na edição nº315 do Jornal A Verdade.

Em SP, movimentos fazem vigília de 24 horas contra o genocídio palestino

Movimentos sociais realizaram vigília de 24 horas em frente à secretaria da Presidência da República exigindo a ruptura de relações do Brasil com Israel.

André Molinari | São Paulo


LUTA POPULAR – No frio da capital paulistana, no encontro das avenidas Brigadeiro Faria Lima, Eusébio Matoso e Rebouças, um dos locais mais agitados e centrais do capital financeiro do país, manifestantes de inúmeras organizações e entidades começaram a levantar tendas, barracas, palco e bandeiras, em frente ao Escritório de Representação da Presidência da República em São Paulo, para exigir que o governo Lula rompa todas às relações com o estado genocida de Israel.

A vigília conta com a participação de Thiago Ávila, Eduardo Moreira (ICL) , Breno Altman, Rawa Alsagheer (Samidoun – Rede de Solidariedade aos Presos Palestinos), Tiago Santinelli, Leonardo Péricles, Ian Neves, Padre Júlio Lancellotti, Vivian Mendes, Guilherme Terreri (Rita von Hunty) e muitos outros combatentes ativos pela causa palestina.

Começaram as atividades às 15h do dia 01 de julho até às 15h do dia seguinte e é um marco no desenvolvimento da luta em defesa do povo palestino no Brasil. A vigília conta com várias atividades: palestras sobre a questão palestina, sobre o genocídio negro, aulas de boxe, cinema, atividades culturais e muito mais. Até agora mais de 300 pessoas estiveram presentes na vigília.

Genocídio palestino pode chegar a centenas de milhares de mortos

Com velas, cruzes e bandeiras, os manifestantes fizeram 1 minuto de silêncio e colocaram as velas no chão em frente ao acampamento, simbolizando as mais de 100 mil vidas palestinas perdidas, enfatizando que mais de 70% destes são de crianças e mulheres, de acordo com a Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL).

Recentemente um relatório feito em Harvard pelo professor israelense Yaakov Garb, usando técnicas de análise de dados de mapas em Gaza estimou. com base inclusive em muitos dados do próprio exército israelense, de que a população de Gaza hoje é de cerca de 1,85 milhão de habitantes.

Considerando o censo e as estimativas de população em Gaza há uma discrepância de 377 mil palestinos. Pela análise, embora haja deslocados e desaparecidos, existe certo acordo em que a maioria está morta. Esses números continuam sendo subestimados, pois não conseguem considerar outros causas de morte de maneira mais precisa, causadas direta e indiretamente por Israel, como fome e doenças.

Com o cerco israelense mantido e toda ajuda humanitária impedida, Israel continua a promover uma das maiores atrocidades contra a humanidade do período recente.

Militantes acenderam velas para lembrar a dezenas de milhares de mortos no genocídio. Foto: Willdaly Souza/JAV

Ruptura de todas as relações com Israel e o sionismo fascista

De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o Brasil é o 12º maior parceiro comercial de Israel, representando 2,1% do comércio de Israel.

A vigília exige que governo brasileiro rompa relações com o estado de Israel, assim como vários países já o fizeram.

O Governo Lula, apesar de ter sido um dos primeiros governos do mundo a se posicionar abertamente contra o genocídio contra o povo palestino, se limita a manter o repúdio no âmbito das palavras, sem tomar nenhuma ação concreta sequer em apoio ao povo palestino e de, minimamente, ruptura com Israel. Assim, coloca o povo brasileiro em situação de cumplicidade com este crime. Mesmo após a violação cometida por Israel contra o Irã, com um chamado “ataque preventivo”, sem nenhum precedente no direito internacional, com total apoio dos Estados Unidos.

Israel desenvolve uma política colonial e imperialista de agressão contra os povos árabes e persas da região e o sionismo, tal como o racismo e o nazismo, surge como ideologia dos grandes monopólios e do imperialismo norte-americano para legitimar e impulsionar essa agressão burguesa contra os povos. No final, as agressões de Israel são agressões das grandes corporações dos Estados Unidos e de Israel para assegurar e ampliar os seus negócios na região.

O povo brasileiro que, como poucos, conheceu a dor e a agonia da violência colonial e, ainda hoje, conhece os efeitos do genocídio realizado nas periferias contra o povo negro, tem uma obrigação moral, histórica e de classe com o povo palestino. De não somente condenar o genocídio, mas trabalhar ativamente para impor todas as derrotas possíveis contra os agressores: expulsar as cerca de 300 empresas israelenses do território brasileiro, interromper todo comércio com o Israel, romper todos os acordos militares e acadêmicos com uma das maiores potências genocidas de nossa época.

A luta internacional dos povos é capaz de barrar enormes atrocidades. Basta lembrar de que quando a Inglaterra pretendia entrar com suas tropas na Guerra Civil Americana, para apoiar os estadunidenses que desejavam manter a escravidão, só não pode fazer isso por conta da enorme quantidade de greves que se desenvolviam na própria Inglaterra.

A vigília é um primeiro passo numa nova etapa da luta no Brasil. Organizando mais vigílias, manifestações, caravanas e greves podemos caminhar para uma ruptura imediata com Israel e poderemos impor derrotas ao imperialismo estadunidense e ao sionismo.

A luta histórica dos operários do ABC Paulista

Nos anos 1970, operários do ABC desafiaram a ditadura com greves massivas, conquistando 63% de reajuste. Hoje, frente à precarização do trabalho e ameaças golpistas, urge retomar a combatividade operária por uma nova greve geral.

Redação SP


É uma realidade dos trabalhadores das grandes indústrias das cidades do ABC Paulista ouvir nos corredores das fábricas, nas conversas da pausa do almoço, que a condição de trabalho está ficando pior: menos opções de empregos, trabalhos mal remunerados, jornadas cada vez mais exaustivas – como é o caso da jornada 12×36 e a escala 6×1 –, além da ameaça diária do desemprego.

É dito que os trabalhadores podem fazer pouco frente a essa situação, e impera o sentimento de descrença e impotência. Parte dessa perspectiva vêm de sindicatos que abandonaram a luta política, se afastaram da base e institucionalizaram a luta. Mas será que sempre foi assim? É necessário resgatar o passado para saber a verdade, entender o presente, e intervir no futuro.

Exemplo de combatividade durante a ditadura

Em 1978, a ditadura militar fascista (1964-1985) era o regime vigente no país, período caracterizado por grande repressão e violência, restrições dos direitos civis e liberdades individuais. As condições de trabalho eram marcadas pela exploração da mão de obra, pelo arrocho salarial e pela repressão aos sindicatos, enfraquecendo direitos trabalhistas e reduzindo o poder de compra dos trabalhadores.

Porém, mesmo em um cenário tão restrito, esses foram anos em que ocorreram grandes levantes dos operários: em maio de 1978, por exemplo, houve a primeira grande paralisação na Scania de São Bernardo do Campo (SP), seguida por greves em 27 outras empresas que seguiram o exemplo desses ferramenteiros, que reivindicavam 20% de aumento salarial e liberdade sindical.

Inauguraram, a partir dessa luta, uma nova política nos sindicatos da região, que passaram a defender a independência frente ao governo, firmando os antagonismos de classes e combatividade como características primordiais. Foi a partir dessas condições que em 1979, deflagrou-se em assembleia dos três sindicatos dos metalúrgicos do ABC uma grande greve geral, com protagonismo de impressionantes 200 mil trabalhadores e trabalhadoras, que paralisaram por completo a produção das principais indústrias automobilísticas da região (Volkswagen, Ford, Mercedes-Benz e Scania), reivindicando um reajuste salarial de 78,1%.

A greve, mesmo enfrentando forte repressão e intervenção federal, conquistou ao seu final um reajuste de 63%, a maior conquista salarial daquela época, além de transformar o ABC paulista num centro político do país, tendo um papel crucial na resistência e enfraquecimento da ditadura no Brasil. Nas décadas seguintes, ainda houve uma série de lutas dos operários junto ao sindicato, como a conquista da PLR (Participação nos Lucros e Resultados) a partir de 1995 e extensas campanhas salariais que firmaram o piso salarial da categoria acima da média comparado a todo país e outros setores.

Olhar para o passado para transformar o presente e o futuro

Como já dizia Karl Marx “A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa”. Seis décadas após o golpe militar fascista, organizações fascistas, em conluio com a alta cúpula das Forças Armadas, organizou um plano para dar um golpe de Estado, tentando impor novamente um regime militar ditatorial, aprofundando a precarização do trabalho, com a continuação da retirada de direitos já provocada pela reforma trabalhista – como o aumento das terceirizações e da informalidade, a autorização de demissões em massa, horas extras não remuneradas e jornadas de trabalho extenuantes como a já citada 6×1.

O aprofundamento da política neoliberal, antipovo e contra a soberania nacional, alinhada aos interesses dos capitalistas, fortalece também a desindustrialização da região. Exemplo disso foi a saída da Ford em 2019, após 52 anos de produção, deixando de empregar 3 mil trabalhadores. Outra evidência se expressou nas últimas eleições municipais, com o candidato apoiado por Bolsonaro defendendo que São Bernardo do Campo deveria se tornar um polo logístico e abandonar a política de investimentos nas indústrias.

Diante de um cenário de retrocessos, perdas de direitos e precarizações cada vez mais intensas das condições de trabalho, é urgente que a classe operária retome sua história de lutas e conquistas. A experiência dos metalúrgicos do ABC que enfrentaram com coragem a repressão brutal da ditadura militar nos anos 1970 mostra que só a organização dos trabalhadores pode restaurar nos sindicatos o ímpeto para a luta e combatividade.

É preciso também reconstruir a confiança nos sindicatos a partir da base através de campanhas de sindicalização e preparar o caminho para uma nova greve geral que enterre de vez a desumana escala 6×1, garanta a prisão de Bolsonaro e dos generais fascistas e reivindique um aumento de 100% no salário-mínimo. Cabe aos trabalhadores honrar a memória de suas lutas passadas, defendendo o presente e construindo um sistema livre da exploração do homem pelo homem, o sistema socialista.

 

Prefeitura agrava arrocho salarial dos servidores de Guarulhos

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Prefeitura de Guarulhos impôs reajuste de apenas 2% aos servidores em 2025, abaixo da inflação de 5,53%, ampliando perdas salariais históricas. Enquanto vereadores aprovavam 48% de aumento próprio. Servidores deflagraram greve e MLC articula mais lutas.

Guilherme Pizzo | Guarulhos-SP


Há pouco mais de oito anos e meio tomava posse, no município de Guarulhos, Gustavo Henric Costa (PSB durante o primeiro mandato e PSD durante o segundo). Eleito sob promessas de melhorias dos serviços públicos e valorização dos servidores, o prefeito chegou a compartilhar vídeos ressaltando a importância e agradecendo o trabalho da PROGUARU, entidade que ele mesmo viria a extinguir anos depois. Sabemos que é característico de todo governo liberal destruir o patrimônio público para, depois, entregá-lo aos grandes empresários que os elegeram com investimentos milionários. Em nosso governo atual não é diferente.

Lucas Sanches (PL) e Thiago Surfista (NOVO) tomaram posse sob o slogan: “A Cara da Mudança”. Em apenas cinco meses, a máscara do prefeito caiu e nos foi revelada a verdadeira face por trás da farsa: mais precarizações e arrochos salariais. Nos moldes de todos os partidos ricos e apoiados por bilionários, a intenção dos nossos governantes atuais não é nada mais que gerir o capital burguês.

Nestes termos, o reajuste salarial forçado dos servidores municipais (passado por cima do sindicato) foi de 2% com uma inflação em torno de 5,53%. Em 2024, foi de 3,5% com 3,93%. Em 2023 foi 6,6% com 3,94%. Em 2022 foi de 2% com 11,73% e em 2021 foi de 0% com 8,06%. Ou seja: enquanto a vida do povo encarece, o salário não acompanha. Como se ainda não bastasse: o grupo de vereadores que votou a favor do reajuste de 2% também votaram, para si mesmos, um reajuste de 48% de salários que ultrapassam R$20.000,00.

Ano Reajuste Salarial (%) Inflação (%)
2021 0% 8.06%
2022 2% 11.73%
2023 6.6% 3.94%
2024 3.5% 3.93%
2025 2% 5.53%

Histórico evidencia perda salarial dos servidores públicos de Guarulhos (SP)

O povo já sabe que não importa qual partido tome conta do município, a vida não vai melhorar. O poder de compra continuará caindo, a insalubridade aumentando e as condições de trabalho continuarão piorando. Por isso, muitos trabalhadores abandonam a participação política e vivem à margem de decisões tomadas pelos ricos.

Pouco tempo depois do reajuste miserável, do prefeito Lucas Sanches, deflagrou-se uma greve dos servidores públicos municipais de Guarulhos. Neste cenário de luta formou-se mais um núcleo do Movimento Luta de Classes – MLC. Dessa vez, dos servidores.

Organizaremos cada servidor público para tocar a maior greve já vista no município e caminharemos para a maior greve nacional. Mostraremos à cada trabalhador e trabalhadora que é só na luta que conquistamos melhores condições de trabalho. A construção do socialismo é a única forma de emancipar a vida de quem trabalha para se sustentar.

 

A comunicação popular como braço do movimento estudantil

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Sat Montaigne | Movimento Rebele-se

À medida que o movimento estudantil cresce e os estudantes combativos assumem a direção de um número crescente de entidades de luta, a necessidade de aprofundamento da conexão com secundaristas e universitários torna-se impossível de ignorar. Essa conexão se revela como a brasa necessária para reacender a combatividade da UBES e da UNE, formar novas entidades estudantis e despertar novos quadros para a luta contra os ataques à educação, o fascismo e o capitalismo. Assim, é necessário levar a sério as comunicações populares, indispensáveis para mostrar aos jovens, em seu dia a dia, a relação inseparável entre o sucateamento da educação e o sistema capitalista e chamá-los às ruas.

O que são as comunicações populares?

Caso seja uma dúvida do(a/e) leitor(a/e) o que são as comunicações populares, elas são grupos de militantes e aliados que analisam e constroem, em seus movimentos, grêmios, DCEs, CAs, entidades etc., formas de estabelecer contato, construir a agitação e propaganda entre as massas da forma mais acessível mas com qualidade profissional.

Nesse sentido, cada comunicação popular é construída pelas e para as massas, engajadas em nossa luta contra as contradições do capitalismo e pelo Socialismo. É o braço coletivo responsável por, em conjunto à consciência revolucionária popular, organizar a juventude na luta por melhores escolas, universidades e, também, uma melhor sociedade. Por fim, é um órgão político das massas que, no fogo de atrito com a burguesia, mostra ao povo que a única alternativa ao capitalismo e suas crises é a organização e o poder popular.

No movimento estudantil, ela pode ser construída nos meios mais acessíveis à classe trabalhadora, como, por exemplo, o WhatsApp. Deve planejar postagens em redes sociais, organizar fotos, vídeos e registros de atos populares, escrever matérias ao Jornal A Verdade e difundir, de toda forma possível, consciência política a cada estudante desse país. Pode também diagramar jornais para entidades estudantis, divulgar eventos e vender carteirinhas. Isso, sem perder a noção de que é necessário conquistar a confiança dos jovens e, dessa forma, convocá-los à luta para muito além dessas redes.

Comunicações populares representam profissionalização de nosso trabalho

A construção desses grupos é de ordem do dia para garantir que as reivindicações angariadas das massas retornem a elas como lutas coletivas; para que possamos nos revelar às mesmas como uma força concreta de enfrentamento ao sucateamento de nossas escolas e universidades. É indispensável porque o Novo Ensino Médio, o Arcabouço Fiscal e tantas outras medidas que compõem a ofensiva anti-povo dos tempos atuais se sustentam em amplas campanhas burguesas, inseparáveis de comunicações profissionais e estruturadas com os mais caros equipamentos – e as comunicações populares são o nosso contra-ataque. É para criar uma extensão da conexão constante entre nosso movimento e os estudantes, que desmascare o caráter real das privatizações, dos cortes na educação, das altas tarifas no transporte e, finalmente, das mentiras dos capitalistas que as comunicações populares da juventude se organizam.

Essa força coletivizada exige que abandonemos os métodos de gestão artesanal da comunicação, seja a sobrecarga de um(a/e) camarada que, sozinho(a/e), tem de lidar com as redes sociais de nosso movimento ou a ausência de um ou mais militantes destacados para administrar nossos perfis, tornando-os de uso unicamente periódico – espontaneísta.

No Movimento Rebele-se, a estruturação da Comunicação Nacional (CON), que ocorreu a partir do 45º Congresso da UBES, representou um crescimento surpreendente de, aproximadamente, mil seguidores no Instagram em um período curto de 9 meses. Em meio a esse crescimento, que veio com erros e acertos, dezenas de estudantes entraram em contato com nosso movimento nas mensagens diretas e se organizaram materialmente conosco, provando a linha acertada da decisão.

Não obstante, vale ressaltar que esse saldo não é resultante da mera criação da CON: foram necessárias reuniões frequentes, estudos, o debate de como se comunicar de forma acessível, a organização de planejamentos mensais de postagens e um esforço incansável dos(as/es) envolvidos(as/es) para garantir que cada post, Reels e TikTok saísse na hora, bem legendado e despertasse nos secundaristas a vontade de lutar conosco pela educação pública, gratuita e de qualidade. Em resumo, foi necessário dar passos à frente rumo à profissionalização de nosso trabalho.

É importante esclarecer que o papel das comunicações populares é distinto do papel da vanguarda, e que estes dois não podem, de forma alguma, ser confundidos. A função da comunicação é, em sua essência, a de despertar nas massas o ímpeto revolucionário, a consciência de classe e, ao mesmo tempo, aproveitar desse ímpeto para realizar um chamado permanente e cotidiano à luta. Já o papel da vanguarda é mais complexo e historicamente demandante; constitui em formular, à luz da teoria científica do proletariado – o marxismo-leninismo – a estratégia e a tática pela derrubada do capitalismo e a construção, em suas ruínas, do Socialismo. Ou seja: enquanto a comunicação é um componente do trabalho de massas, a vanguarda é a sua orientadora, a formadora da linha política que levará o proletariado à derrubada do capitalismo e à construção do Socialismo.

Ademais, também dividimos aqui em duas as comunicações de massa. Na comunicação de cada entidade, o grupo comunicador deve focar em trazer as reivindicações imediatas dos estudantes; aquelas que despertam, a cada dia, a indignação direta com o sucateamento da educação e indireta com a realidade capitalista: saunas de aula, direções autoritárias, merendas ruins, etc. Tem a função de mostrar às massas o caráter justo de nossas lutas e, nesse processo, trazê-las às ruas para realizar mudanças concretas. Já a comunicação do movimento deve politizar essas lutas, e exerce a função indispensável de, além da formação de novos quadros anticapitalistas, elevar a consciência dos estudantes.

As comunicações não substituem a prática: é preciso ir às ruas

Cabe também a compreensão que esses meios de atuação, apesar de indispensáveis, não substituem, de forma alguma, o trabalho físico. Isso se comprova ao analisarmos que as redes e a mídia dominante, controladas pela burguesia, podem, a qualquer momento, derrubar nossas contas, censurar nossos discursos e perseguir nossa militância. Nesse caso, companheiros(as/es), o que faríamos se dependêssemos apenas das redes?

Nunca podemos superestimar o papel da comunicação a ponto de acreditar que, sozinha ou restrita à internet, ela possa garantir qualquer vitória definitiva. É necessário aliar a comunicação com o trabalho de base: a diagramação de panfletos, jornais para nossas entidades, o design de pôsteres e cartazes e a realização de cursos são tarefas que podem e devem ser feitas pelas comunicações. É preciso que ampliemos nosso trabalho nas escolas, nas universidades e Institutos Federais, que construamos grêmios, DCEs e outras entidades e estejamos, tanto digitalmente quanto materialmente, ao lado dos jovens e estudantes.

Ademais, é preciso mobilizar as comunicações populares para garantir a construção coletiva dos jornais de entidade, que tem um papel não menos importante em nossas lutas. Esses jornais, responsáveis por trazer, de forma detalhada, as reivindicações dos estudantes e os chamados à ação, são vitais na evolução da consciência e mobilização de nosso povo.

Ou seja, as comunicações populares não são, de modo algum, restritas aos meios digitais: a comunicação, afinal, também acontece na vida real. Elas, na luta para estabelecer laços com os estudantes, não se separam de todo outro trabalho, mas estão intimamente ligadas com todo o conjunto de atividades que movem o movimento estudantil. Não existe separação entre uma suposta comunicação digitalizada e o trabalho prático realizado nas escolas e universidades, mas sim o oposto. Isso significa que a mesma, como extensão desse trabalho, participa ativamente das assembleias, plenárias, manifestações, passagens em sala e está, diariamente, mobilizando a juventude onde quer que esteja presente.

E finalmente, se nosso foguete realmente não tem ré, camaradas, é fundamental realizar de forma séria a construção de comunicações populares nos níveis nacional, regional, estadual e municipal. Vai avançar! Venceremos!