UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

domingo, 17 de agosto de 2025
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Trump ameaça ataque imperialista à economia do Brasil

Para defender o golpista Bolsonaro e sua gangue de fascistas, o presidente dos EUA Donald Trump impõe taxação de 50% nos produtos do Brasil.

Felipe Annunziata | Redação


INTERNACIONAL – Após uma semana de ameaças contra o Brasil para defender a anistia à gangue de fascistas e golpistas liderada por Jair Bolsonaro, o presidente da principal potência imperialista do mundo, Donald Trump, anunciou uma taxação de 50% sobre os produtos brasileiros importados pelos EUA. A medida é uma forma de ampliar a guerra comercial patrocinada pelo imperialismo estadunidense para o nosso país.

Na carta enviada ao presidente Lula em que anuncia as taxas, Trump deixa bem evidente quais são seus objetivos: atacar a indústria brasileira, ampliar o domínio dos monopólios imperialistas estadunidenses sobre a economia brasileira e garantir a liberdade à gangue fascista liderada por Jair Bolsonaro. Na carta, o presidente estadunidense exige o fim imediato de todos os processos contra Bolsonaro.

“Como você sabe, não haverá tarifa se o Brasil, ou empresas de seu país, decidirem construir ou fabricar produtos dentro dos Estados Unidos (…) Se você deseja abrir seus mercados comerciais até então fechados para os Estados Unidos e eliminar suas políticas e barreiras comerciais tarifárias e não-tarifárias, talvez consideraremos um ajuste nesta carta.”, afirma Trump na carta ao presidente Lula.

O presidente Lula, por sua vez, respondeu em tom duro recusando qualquer ingerência estrangeira nos assuntos internos brasileiros. O presidente lembrou que nosso país é independente e tem direito a sua soberania e afirmou que responderá às taxações dentro do que define a lei brasileira. 

“O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém.“, afirmou Lula nas redes digitais. 

Embaixada dos EUA defende Bolsonaro

As exigências do chefe do imperialismo dos EUA deixam claro como eles vêem nosso país apenas como um quintal para seus interesses e seus agentes, como Bolsonaro. 

Em nota publicada nesta quarta (09), a Embaixada dos EUA no Brasil reconheceu o papel de Bolsonaro como agente dos interesses estadunidenses no nosso país. No documento, o encarregado de negócios estadunidense Gabriel Escobar afirmou que Bolsonaro e sua família são  “fortes parceiros” dos Estados Unidos aqui.

Jair Bolsonaro e sua família têm sido fortes parceiros dos Estados Unidos. A perseguição política contra ele, sua família e seus apoiadores é vergonhosa e desrespeita as tradições democráticas do Brasil. Reforçamos a declaração do presidente Trump. Estamos acompanhando de perto a situação.“, afirma a nota.

Nenhuma prova a mais é necessária para comprovar o envolvimento da gangue fascista no atual ataque do imperialismo ao nosso país. Desde que saiu do governo, Bolsonaro tem tentado de todas as formas trazer uma intervenção dos Estados Unidos para favorecer um golpe de estado, assim como ocorreu em 1964. 

Agora, com Trump no governo estadunidense, a expectativa e o empenho dos fascistas é que os ataques ao Brasil se ampliem para se criar uma nova situação favorável a um golpe de estado aqui.

Enfrentar o imperialismo dos EUA no Brasil 

Este ataque mostra, mais uma vez, como é ruim para o povo brasileiro a influência e o controle da economia nacional pelos monopólios imperialistas, em especial os estadunidenses. 

Hoje, o capital imperialista dos EUA controlam setores extensos da economia brasileira, com monopólios norte-americanos presentes em setores como o de automóveis (Ford e Chevrolet), alimentos (Coca-cola, PepsiCo, General Mills e outras), produtos de higiene (P&G, Johnson & Johnson, Unilever etc.), serviços financeiros (Mastercard) e também no setor digital, com as chamadas Big Techs estadunidense controlando quase todas as redes digitais mais usadas no Brasil (Alphabet/Google, Meta, X). Em setores como petróleo e gás, os monopólios imperialistas dos EUA (Chevron, ExxonMobil) dominam dezenas de campos na nossa costa.

O que não está explícito na carta, mas também é um objetivo do imperialismo estadunidense no Brasil é o interesse nas nossas riquezas naturais. Além dos setores que as multinacionais norte-americanas controlam, Trump quer roubar nossos recursos naturais, especialmente as chamadas “terras raras”, uma série de minérios utilizados para a produção de componentes essenciais para produtos de alta tecnologia. O Brasil tem a segunda maior reserva desse material no mundo, estimada em 21 milhões de toneladas, ficando atrás apenas da China.

É preciso responder firmemente a este ataque taxando e proibindo as bilionárias remessas de lucros destas multinacionais para os Estados Unidos. Não apenas isso, é preciso nacionalizar os setores estratégicos que estão nas mãos de empresas estadunidenses.

Hoje, a taxação de 50% afetará exportações de café, suco de laranja, aço, petróleo bruto e minérios que o Brasil faz aos EUA. Estes produtos são vendidos para garantir o lucro dos donos do agronegócio e das mineradoras. 

Pagamos mais caro no café e em várias frutas e seus derivados pela ganância da burguesia brasileira em vender mais para o mercado estadunidense. Agora com a taxação de Trump é a hora de obrigar que estes produtos sejam colocados à disposição do mercado nacional, de forma a serem vendidos mais baratos ao nosso povo.

Punir os golpistas 

Esta situação mostra também o quanto é fundamental a prisão imediata de Bolsonaro e seus cúmplices fascistas. Agora é evidente que eles agem aqui a mando dos chefes do imperialismo contra os interesses do povo brasileiro. Sua prisão agora é uma necessidade para defender a soberania nacional e impedir um novo golpe financiado pelos Estados Unidos. 

A tentativa de Trump de criar instabilidade no nosso país é mais uma prova de que não se pode mais confiar na política de conciliação com os setores reacionários do Congresso Nacional, que se colocam ao lado dos fascistas e golpistas. Estes grupos contam com apoio estadunidense para impor ao nosso país uma nova ditadura. Para vencer o golpismo e o fascismo no Brasil é preciso lutar também contra o imperialismo.

Black Pantera: a batida que incendeia o racismo

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Originada de Uberaba (MG), a banda Black Pantera adquire uma sonoridade única ao mesclar elementos de metal, punk e sua militância incansável. O grupo, popular por músicas como “Fogo Nos Racistas”, “Perpétuo” e “Candeia”, traz à tona o real caráter da rebeldia negra: ela é ancestral e revolucionária.

Sat Montaigne | UJR-MG


O Black Pantera foi formado por três trabalhadores que, desde sempre, já tinham algo em comum: a pele retinta, carregada da força de povos ancestrais que lutaram e lutam, até hoje, em nossos corpos. Antes da formação da banda, os artistas já se engajavam no mundo da arte – no entanto, enfrentando muitas dificuldades e desvalorizados por uma sociedade que trata a arte como matéria de segundo plano, precisavam fazer “bicos” para se manter dignamente.

A união se deu após anos tocando covers juntos. Depois de anos tocando juntos, os irmãos Charles Gama (guitarra e vocal) e Chaene da Gama (baixo e vocal) uniram-se ao baterista Rodrigo Pancho. Insatisfeitos com a estrutura racista do capitalismo, que desumaniza e joga o povo negro à fome e à miséria todos os dias, fundaram a Black Pantera. Seu primeiro EP, “Ratatatá”, já demonstrava a energia explosiva de seus integrantes – e deixava bem claro: eles estão aqui para ficar.

Dessa forma, após se organizarem para a produção do álbum “Ascensão”, Black Pantera se populariza após o lançamento de “Fogo nos Racistas”, hino em forma de metal que combate a opressão do povo afrodescendente, que constrói e sustenta o Brasil. Desde então, eles vêm conquistando mais corações à cada dia, mostrando às massas que o racismo, fascismo e nazismo não são toleráveis: precisamos existir, resistir e combater os ataques ao povo rumo a uma nova realidade.

Das ruas aos ouvidos, fogo nos racistas!

A mensagem que a banda passa, contudo, não se limita ao chamado à resistência: é também uma crítica a quem insiste na conciliação com os algozes burgueses, verdadeiros escravizadores da classe trabalhadora. Todas as conquistas do povo foram arrancadas nas ruas. O caminho das negociatas, do ‘governismo’ e da ‘governabilidade’ é pura ilusão, é preciso lutar! Não há conciliação possível com aqueles que, desde 1500, sequestram, exploram e matam o povo negro nas periferias. Pelo poder popular e pelo socialismo, com a luta organizada do povo negro e da classe trabalhadora!

Em Belém (PA), ato pela Palestina cobra rompimento de relações com Israel

Organizado pela Rede Cabana de Solidariedade aos Povos, lutadores e lutadoras sociais se reuniram, no último dia 3, na Praça do Operário, mesmo sob forte chuva, para denunciar os crimes de Israel.

Luiza Friza | Redação PA


LUTA POPUULAR – Sob o céu chuvoso da Praça do Operário, na tarde desta quinta-feira (03/07), organizações como UP (Unidade Popular), UJR (União da Juventude Rebelião), PCR (Partido Comunista Revolucionário), Unidos pra Lutar (PSOL) e Revolução Socialista (RS/PSOL), PSTU e demais coletivos e juventudes, reuniram-se na Praça do Operário, em Belém, para um ato em defesa do povo palestino. 

Durante as falas, representantes das entidades e organizações denunciaram a violência contra a Palestina. A multidão respondeu em uníssono com os gritos: “Estado de Israel, Estado assassino! Viva a luta do povo palestino!”. Também foi cobrado o rompimento das relações diplomáticas e comerciais com Israel. O Brasil é um importante exportador de petróleo bruto para Israel e importa milhões de dólares em armas todos os anos para utilizar em operações policiais nas favelas.

Ainda na concentração do ato, a denúncia dos interesses dos EUA sobre a Amazônia e a Palestina foram destaque. Quando tratamos da Palestina, os interesses norte-americanos ficam evidentes desde o veto sistemático à adesão do Estado da Palestina como membro pleno da ONU até o fluxo contínuo de armas para Israel.

Entendendo que os interesses econômicos imperialistas dos Estados Unidos são os principais responsáveis pelo fortalecimento do genocídio cometido por Israel à Palestina e à exploração desenfreada na Amazônia, ocorreu a queima da bandeira estadunidense, um ato simbólico reflete a fúria dos povos explorados contra o imperialismo.

O protesto seguiu em caminhada até a sede da SUDAM (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia), onde foi encerrado. No local, houve novas falas, palavras de ordem e manifestações de trabalhadores e estudantes, reafirmando a solidariedade à causa palestina e a perspectiva de construção de novas ações na Amazônia.

Estudantes do IFSC fazem marmitaço e denunciam falta de permanência

O ato contou com a venda de marmitas a R$5,00 e teve como foco a denúncia da falta de um restaurante acadêmico e das condições que geram fome entre os alunos.

Matheus de Magalhães | Redação SC


Estudantes do Grêmio Estudantil Livramento organizaram um marmitaço para denunciar a falta de políticas de permanência. Representando os estudantes do campus de Florianópolis do IFSC, a entidade promoveu o ato no seu aniversário de 35 anos de fundação, e denunciou o descaso com os secundaristas em todo esse período.

A demanda por um Restaurante Acadêmico para os estudantes existe há mais de trinta anos. A justificativa da direção para a falta de alimentação é de que as obras ainda estão acontecendo. Porém secundaristas relatam que o chamado “refeitório” em construção possui apenas um micro-ondas. “A alternativa que resta aos alunos do IFSC Campus Florianópolis é uma cantina terceirizada, que cobra R$7,00 por um salgado. Muitos alunos, especialmente os de tempo integral, não conseguem arcar com esse custo. A denúncia do grêmio é clara: se precisamos pagar tão caro para nos alimentar, será que o ensino é realmente gratuito?”, relata um estudante do campus.

Crise se agrava com fim do Restaurante Popular
A realidade de fome dos estudantes mais pobres se agravou após o fechamento do Restaurante Popular de Florianópolis, decisão tomada pelo prefeito Topázio Neto. Desde então, as filas do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) triplicaram, mas o programa não foi ampliado. “As filas não aumentaram porque os estudantes gostam das bolachas-pão ruins do programa. Aumentaram porque tem gente passando fome”, afirmou um estudante.

O ato distribuiu dezenas de marmitas no valor simbólico de R$5,00 para os estudantes e R$4,00 para os trabalhadores terceirizados. As refeições foram financiadas com recursos próprios do grêmio, oriundos da venda de camisetas realizadas semestralmente. “A movimentação do Grêmio Livramento enquanto entidade que representa alunos aqui do campus foi muito importante”, declarou Alice Fuchs, estudante do técnico integrado em Química. “O marmitaço mostra que um grêmio organizado faz o que as gestões eleitas na instituição não têm coragem de cumprir.”

A atividade contou com a participação da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET) e da União Florianopolitana dos Estudantes Secundaristas (UFES), representações nacionais e municipais dos estudantes secundaristas.

CCML recebe ex-presas políticas para debate em Recife

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CCML recebeu ex-presas políticas das ditaduras militares da América Latina para evento de formação e memória em Recife.

Redação


A Sala Ernesto Che Guevara do Centro Cultural Manoel Lisboa de Pernambuco ficou cheia na noite do último dia 2 de julho para ouvir os relatos de ex-presas políticas do Uruguai, Argentina e Brasil sobre a experiência de resistência, no cárcere, às ditaduras fascistas em nossos países sul-americanos e a construção da memória histórica das mulheres que participaram da luta armada contra os regimes militares impostos às nossas pátrias pelo imperialismo norte-americano.

Participaram do encontro as uruguaias Maria Lux, Alice Fay e Ana Elena, a argentina Lídia Escalante, que esteve acompanhada de Francisco Pancho, e as brasileiras Lilia Gondim, Teresa Vilaça, Helena Serra Azul, Vera Rocha, Eridan Magalhães, do Coletivo Filhos e Netos, Jana Sá, presidenta do Comitê Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Norte, e Rose Michelle Rodrigues, também integrante do CMVJRD-PE, Lourdes Luna, do Grupo Mulher Maravilha, e Eliane Velozo, autora da exposição sobre a obra de Eduardo Galeano, em exposição na Galeria Massagana da Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.

O evento foi organizado pelo CMVJRD-PE e pelo CCML, sob a coordenação de Lilia Gondim, Amparo Araújo, Camila Falcão e Edival Nunes Cajá.

Movimento Correnteza em defesa da democracia e contra o autoritarismo na UNE

Movimento Correnteza denuncia que a atual direção (UJS/PCdoB, PT e Levante), tem sufocado a democracia interna da União Nacional dos Estudantes (UNE) com fraudes, arbitrariedades e manobras regimentais que impedem a participação ampla nos congressos.

Thaís Rachel Zacharia | Vice-presidente da UNE


JUVENTUDE – O movimento estudantil (ME) brasileiro sempre foi protagonista na defesa da democracia, enfrentando períodos de repressão e autoritarismo, como durante a ditadura militar. Estudantes resistiram bravamente, mesmo diante de perseguições, prisões e assassinatos, como Edson Luís, Honestino Guimarães, Manoel Lisboa e Helenira Resende, que deram a sua vida pela liberdade do Brasil.

Esse histórico de mobilização e construção coletiva, no entanto, contrasta com o que ocorre atualmente dentro da maior entidade estudantil universitária do Brasil, a União Nacional dos Estudantes (UNE). A democracia interna da entidade tem sido sistematicamente suprimida, a partir da atuação de sua direção imobilista, comandada pelo grupo político composto por UJS/PCdoB, PT e Levante, que adota práticas antidemocráticas para garantir uma maioria artificial nos congressos e fóruns da entidade.

Democracia na UNE!

Desde fevereiro, o Movimento Correnteza e diversos outros coletivos de oposição dentro da UNE organizaram a campanha por mais democracia na entidade, denunciando o imobilismo das organizações políticas da direção majoritária e que impõe um verdadeiro freio às mobilizações estudantis. No Conselho Nacional de Entidade Gerais da UNE (Coneg), e na edição nº 309 do jornal A Verdade, denunciamos as práticas antidemocráticas desse setor, como as fraudes nas eleições em universidades privadas e de ensino à distância, voto do cabresto no congresso para eleição da diretoria, arbitrariedade nas decisões da Comissão Nacional de Eleição, Credenciamento e Organização do Congresso da UNE (CNECO) e critérios absurdos para inscrição de chapas que só são exigidos da oposição.

Pois bem. Apesar da tentativa desesperada da UJS e companhia de provarem a todo custo que a UNE é democrática, o processo das eleições de delegados para o Congresso da UNE (ConUNE) começou com uma série de absurdos que comprovam que a direção imobilista da entidade segue ignorando o seu lema “A UNE somos nós!” e usando de todo tipo de manobra para manter os estudantes bem distantes da entidade. A democracia da UNE só existe nos posts de Instagram e nos textões da UJS que, de maneira oportunista, precisa tentar dar uma resposta para as organizações políticas e para os estudantes ao verem a verdade sendo escancarada!

Provando mais uma vez que estão dispostos a tudo para tentar manter seu poder sobre a UNE, em pouco mais de um mês de eleições já vimos de tudo: Critérios absurdos muito acima do regimento aprovado no Coneg foram estabelecidos para impedir a participação nas universidades, estudantes sendo perseguidos e assediados para se retirarem de chapas da oposição numa grande campanha de fake news, diversas impugnações impostas de maneira arbitrária sem direito a recurso e a completa submissão da CNECO aos interesses da direção majoritária da UNE, que delibera arbitrariamente e unicamente em favor desse setor. Até as eleições do novo Papa foram mais democráticas…

E na luta, cadê a UNE?

Muito após nossa denúncia na matéria “Crise Orçamentária na educação expõe contradições do Governo Lula” (A Verdade, nº 313) e com as diversas manifestações públicas das universidades, se tornou impossível esconder os impactos do decreto nº 12.448/2025, que cortava das universidades mais de 30% do orçamento mensal previsto pela Lei Orçamentária Anual aprovada em março, que já era insuficiente. Através da nossa pressão interna na diretoria da UNE, a executiva foi obrigada a se reunir (a terceira reunião em quase 2 anos de gestão) e convocar ações para o dia 29 de maio em defesa da educação pública e contra os cortes.

Apesar das tentativas de esvaziamento da mobilização por parte do setor imobilista em diversos estados, o dia 29 foi um recado de que os estudantes não irão se submeter à política econômica do governo que segue priorizando o pagamento da dívida pública e volumosos aportes ao agronegócio ao invés de cumprir com a promessa de campanha de valorizar e fortalecer a educação. Apesar da vitória parcial de recomposição orçamentária (apenas 400 milhões dos 2,5 bilhões necessários), conquistada pela pressão estudantil, a educação segue mobilizada para conquistar mais verbas que garantam a sobrevivência das nossas universidades.

O setor imobilista da UNE é tão submisso ao capital que agora defende que devemos nos contentar com a retirada da educação dos limites orçamentários impostos pelo arcabouço fiscal, demonstrando que, na verdade, são defensores da austeridade contra todo o povo. Ou seja, mantém-se os cortes nas áreas sociais para continuar entregando os cofres públicos aos banqueiros e bilionários de toda ordem. Não queremos apenas a “educação fora do arcabouço”, queremos o fim do arcabouço fiscal que segue submetendo os trabalhadores e a juventude no nosso país a condições precárias de vida!

A quem interessa o enfraquecimento do ME?

O Congresso da UNE deveria ser um importante momento de mobilização estudantil, de profundo debate de ideias e de apresentação das lutas como alternativa para a solução dos nossos problemas, inclusive em universidades onde a tradição de mobilizações ainda não está tão estabelecida.

Entretanto, enquanto a direção imobilista da UNE continuar perpetuando os mesmos atos antidemocráticos e golpistas, impedindo os estudantes e a oposição de participarem do processo, rasgando o regimento do Congresso e arbitrando sempre em seu favor, o resultado vai ser a desmobilização e o afastamento das lideranças das entidades de base dos espaços da UNE.

Enquanto isso, a direção real do movimento estudantil brasileiro se apresenta concretamente em eleições de Norte a Sul: vitória das chapas da oposição nas principais universidades públicas que são centros políticos do movimento estudantil; vitórias nas universidades pagas onde foi possível, através de muita pressão, ter chapas homologadas; expansão do trabalho e eleição de delegados mesmo onde perdemos as votações; núcleos organizados pelo Correnteza em novas Universidades toda semana; milhares de jornais A Verdade chegando na mão dos estudantes; novas lideranças do movimento estudantil sendo forjadas; e muito mais.

Além disso, temos vivenciado a verdadeira democracia em diversos processos conduzidos por nosso movimento: Garantia de voto secreto aos estudantes; possibilidade de acompanhamento dos trabalhos das comissões eleitorais por todas as chapas; critérios justos e igualitários para inscrição das chapas; campanhas construídas no debate político; etc. A prática é o critério da verdade, e o Correnteza, através da atuação nas entidades que constrói, tem dado provas mais do que suficientes de que é possível e urgente transformar a democracia da UNE!

A UNE precisa mudar!

Queremos que o estatuto e a história da UNE sejam respeitados! A direção imobilista rasgou o regimento da entidade ao aprovar eleições online, realizadas em sistemas que ferem a autonomia do ME já que, via de regra, são geridos pelas reitorias, para a votação dos delegados para este Congresso. Além disso, a proposta de reforma eleitoral apresentada para ser votada no ConUNE propõe a redução da proporção de delegados, atualmente um delegado para cada mil estudantes, para um delegado a cada dois mil estudantes. Essa mudança só pretende favorecer a artificialidade do Congresso já que diminui a representatividade de Universidades onde o movimento estudantil é pujante e ativo ao mesmo tempo em que não resolve o problema das mega universidades privadas que elegem centenas de estudantes em processos unilaterais sem participação da oposição da entidade.

Sabemos que essas não são batalhas fáceis, mas como a nossa tese já diz, quem vem com tudo não cansa, e a UNE de Honestino Guimarães, Helenira Resende e Sarah Domingues vale a luta!

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Greve dos servidores da Cultura cobra Plano de Carreira

Servidores federais da Cultura estão em greve desde 29 de abril para pressionar o governo por um plano de carreira específico. A paralisação atinge autarquias como Ibram, Iphan, Biblioteca Nacional, Funarte e Fundação Palmares, com adesão em 22 estados.

Durcilene Silva | Rio de Janeiro (RJ)


TRABALHADOR UNIDO –  Os servidores federais ligados ao Ministério da Cultura (MinC) e suas autarquias (Ibram, Iphan, Biblioteca Nacional, Funarte e Fundação Cultural Palmares) estão em greve desde o dia 29 de abril, em luta por um plano de carreira. Desde o início da greve, o movimento tem ganhado força em todo o país, com adesão em 22 estados. A mobilização, marcada pelo lema “É greve porque é grave”, resultou em avanços significativos nas negociações pelo Plano de Cargos e Carreiras da Cultura (PCCULT) e obrigou o presidente Lula a se reunir com os servidores no último dia 20 de maio.

A mobilização pela criação de um Plano de Cargos e Carreiras específico para o setor começou em 2005, quando a categoria protagonizou a histórica “Greve de Cem Dias”. O fim da greve foi condicionado à concessão de uma gratificação “provisória”, a ser implementada em janeiro de 2006, além da aprovação do projeto que previa a implantação integral do plano até janeiro de 2007. No entanto, o acordo não foi cumprido no prazo. A não implementação total do plano levou a uma nova greve, em 2007, com duração de setenta e três dias.

Desde então, não houve avanços nos planos de carreira e a cultura segue em desvalorização e na mira dos cortes de gastos. Isso porque as políticas de todos os governos que passaram, e atualmente através dos ministros da Fazenda (Fernando Haddad, do PT) e do Planejamento e Orçamento (Simone Tebet, do MDB), priorizam o pagamento dos juros de amortizações da dívida pública. Em outras palavras, o orçamento público é usado para enriquecer meia dúzia de banqueiros, enquanto o povo não tem acesso a direitos básicos para sobrevivência e é negada a educação e cultura.

Essa negligência histórica impacta diretamente a qualidade das políticas públicas de cultura e muitos procuram outras atividades em busca de melhores condições e não conseguem prosseguir construindo uma carreira pública na área da cultura.

A implementação do Plano de Cargos e Carreiras da Cultura teria impacto de apenas 0,12% nas despesas com pessoal do Executivo Federal em 2025, e de 0,09% em 2026 – um percentual irrisório diante da relevância do setor para a economia e a sociedade.

Greve é o caminho

No dia 20 de maio, um grande ato organizado pelo comando de greve, com o apoio do Sindisep (RJ) e do MLC, marcou mais um capítulo importante da mobilização. O protesto ocorreu durante a cerimônia de entrega da Medalha do Mérito Cultural, realizada no Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro, com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A reivindicação foi clara: a reestruturação imediata da Carreira da Cultura.

Apesar de não terem sido convidados para a solenidade que comemorava os quarenta anos do Ministério da Cultura, as servidoras e os servidores compareceram em peso ao local. Vieram caravanas de diversos estados – São Paulo, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Brasília – e de cidades fluminenses, como Petrópolis e Paraty.

O ato foi vitorioso ao reafirmar a legitimidade da pauta da categoria e a importância da mobilização nacional. Mais do que uma reivindicação salarial, trata-se da luta por reconhecimento, estrutura e dignidade para os servidores. O presidente Lula foi obrigado, depois de mais de um mês de greve, a receber representantes dos servidores que puderam finalmente entregar uma carta com sua pauta de reivindicações.

A organização da categoria tem se mostrado fundamental para dar visibilidade à pauta, pressionar o governo e fortalecer a unidade dos trabalhadores. A mobilização continuará até que seja conquistado um plano de carreira justo, que reconheça o valor do trabalho desses profissionais.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Professores municipais de Salvador em greve

Professores da rede municipal de Salvador estão em greve desde 5 de maio, cobrando o pagamento do piso salarial nacional e valorização da categoria.

Vitória Louise, Macé Silveira e Eduardo Monteiro | Salvador (BA)


TRABALHADOR UNIDO – Desde 5 de maio, professores municipais de Salvador estão em greve exigindo o cumprimento do piso salarial, além de direitos trabalhistas e valorização profissional. Organizados pelo sindicato, realizam ocupações, protestos e passeatas para conscientizar a sociedade.

Entre as ações, destacam-se a ocupação da Estação Lapa, protestos na Prefeitura e na Câmara Municipal e passeatas com carro de som. A mobilização cresce a cada ato, reforçando a necessidade de a classe trabalhadora ocupar as ruas em defesa dos direitos.

“Há 13 anos, sofremos uma política de fragmentação e descontinuidade, com aparência de diálogo. Lutamos pelo piso desde 2011. ACM Neto não pagou, gerando um déficit de 58%. Bruno Reis mantém o processo, desidratando nossos salários”, relata Denise Sousa, coordenadora pedagógica no subúrbio ferroviário.

A precarização corta verbas, piora o serviço e reforça a ideia de que o público não funciona, para justificar privatizações. Arthur Neto, há 18 anos na rede, denuncia: “Há dinheiro para a educação, mas o prefeito não quer mostrar onde está. Se é para artista no Carnaval, há verba. Prometeu ar-condicionado nas escolas, mas há salas com mais de 40 alunos, todos passando mal”.

Sem realizar concurso para efetivos desde 2019, a Prefeitura só contrata temporários via Regime Especial de Direito Administrativo (Reda).

Cristina Brites, há 24 anos na rede, adoeceu pelo excesso de trabalho: “Não somos ouvidos, não há perspectiva. A greve continua até conquistarmos o piso”.

Repressão na Câmara Municipal

Na votação do projeto de lei que não contemplava os professores, a categoria foi impedida de entrar na Câmara por apoiadores pagos pela base do prefeito. Além disso, os trabalhadores foram agredidos por seguranças e PMs com spray de pimenta, pó químico e empurrões, tudo incentivado por vereadores fascistas, que provocavam os manifestantes e os criminalizam nas redes, acusando-os de vandalismo. Após intensa pressão, os vereadores se esconderam numa sala para votar o PL.

Após a votação, os professores reafirmaram a continuidade da greve e o compromisso com a luta, marcando nova assembleia.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Enfermeiros de Recife realizam greve histórica

Enfermeiros da rede municipal do Recife encerraram, no fim de maio, a maior greve da categoria na história da capital pernambucana.

Redação PE


TRABALHADOR UNIDO – Em uma dura campanha salarial com a Prefeitura de Recife, os enfermeiros mostraram que não se rendem aos desmandos da gestão do prefeito João Campos (PSB). Com a data-base de janeiro desrespeitada e tendo uma vergonhosa proposta de 1% de reajuste salarial na mesa de negociações em abril, a categoria, liderada pelo Sindicato dos Enfermeiros de Pernambuco (Seepe) ocupou as ruas para exigir respeito e valorização.

Com a aprovação do estado de greve, a gestão suspendeu as negociações numa clara tentativa de intimidar os trabalhadores, que não abaixaram a cabeça e aprovaram uma greve geral com início no dia 08 de maio. A greve durou setes dias e foi a maior da história do município: adesão de 62% dos enfermeiros do Programa Saúde da Família (postos de saúde); 90% do Programa Mãe Coruja (programa municipal de acompanhamento de gestantes e crianças até seis anos); 30% dos enfermeiros da rede de saúde mental, policlínicas, maternidades e Samu.

Também houve um movimento de devolução dos plantões extras (os enfermeiros recebem hora-extra para cobrir a escala dos serviços onde faltam profissionais efetivos), o que resultou no fechamento de algumas unidades.

Com adesão crescente, chegando a ter a participação de mais de 250 enfermeiros em um dos atos organizados pelo comando de greve, a gestão não teve outra alternativa senão judicializar a greve. A Justiça decretou a greve ilegal, mas, numa decisão inédita, obrigou a gestão municipal a retomar as negociações com a categoria.

Após muita determinação e mobilização, finalmente a campanha salarial foi encerrada no dia 30 de maio, em uma grandiosa assembleia em que foi aprovada a proposta de 3% de reajuste no salário-base para enfermeiros de 40h e 4% para os enfermeiros de 30h; a criação da gratificação para os enfermeiros diaristas (pauta antiga da categoria); outros reajustes em gratificações; abono das faltas nos dias de greve.

“Só conquistamos esses avanços em relação à proposta inicial de 1% porque a greve mostrou a força da categoria. A categoria sai de cabeça erguida e confiante na greve como um instrumento efetivo de luta”, avaliou Ludmila Outtes, presidente do Seepe.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Ocupação no Dops, em Minas Gerais, é grande denúncia das torturas na ditadura militar

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O prédio que abrigou por 30 anos o Dops de Minas Gerais, um dos principais aparelhos de tortura da ditadura militar fascista, foi ocupado permanentemente por movimentos sociais no 1º de abril deste ano.

Felipe Annunziata e João Márcio Dias | Belo Horizonte (MG)


BRASIL – A fachada modernista do prédio que abrigou por 30 anos o Dops de Minas Gerais esconde um dos principais aparelhos de tortura e repressão da ditadura militar fascista. Entre 1958 e 1988, o edifício localizado na Avenida Afonso Pena, principal avenida de Belo Horizonte, foi local de torturas e violações de direitos humanos de centenas de pessoas.

O prédio foi depois utilizado como Delegacia da Polícia Civil e abandonado em 2018 pelo governo estadual. No entanto, desde o período da redemocratização o endereço é ponto de encontro das lutas por memória, verdade, justiça e reparação na capital mineira. Há anos, todo 1º abril é marcado com manifestações exigindo que o prédio do antigo Dops se torne espaço de memória da luta contra a ditadura.

Mas o 1º de abril deste ano foi diferente. Diversos movimentos sociais, organizações e partidos políticos de esquerda organizaram uma ocupação permanente do espaço. Desde então, atividades de visitação, reuniões de movimentos e formação educativa de estudantes ocorreram. Desde o início da ocupação, mais de três mil pessoas visitaram o local, sendo que 800 tiveram visitas guiadas.

A decisão dos movimentos de manter a ação mostrou a viabilidade e a necessidade da instalação do Memorial dos Direitos Humanos naquele espaço. O projeto já havia sido elaborado por um Grupo de Trabalho da UFMG, em 2020, no entanto foi boicotado pelo atual governo estadual, liderado pelo fascista Romeu Zema (Novo). Além disso, o projeto não contou com nenhum apoio do atual governo federal ou da Prefeitura de Belo Horizonte, mesmo com os constantes protestos de vítimas e familiares de vítimas da ditadura militar.

Apagamento e destruição da memória

Para além disso, o espaço é vítima de um processo de apagamento dos vestígios de tortura. O acesso às oito celas e espaços de tortura no subsolo do prédio estão completamente bloqueados por paredes construídas nos últimos 20 anos. Após a ditadura, a Polícia Civil continuou usando o espaço não só como delegacia, mas também como carceragem.

Uma sala de tortura, localizada no pátio externo à carceragem, era conhecida como “igrejinha”, onde havia uma mureta para apoiar o “pau de arara” e também como espaço para guardar os aparelhos de tortura, como as fiações para choques elétricos e armas de espancamento. O apelido do lugar se dava em referência ao fato de que quem entrasse “confessaria” diante das torturas. O local foi tapado com uma parede para fazer parecer que fossem, na verdade, dois banheiros.

“Estamos dispostos a resistir. A política do governo é de destruição e apagamento da memória da ditadura.”, afirmou Oraldo Paiva, metalúrgico, militante perseguido na ditadura e que passou pelo Dops de Minas Gerais no ano de 1987.

Paiva, que também é membro da Comissão da Verdade dos Trabalhadores (Covet), lembrou da luta contra a ditadura e como a classe trabalhadora foi importante naquele processo. O metalúrgico também defende que as empresas que financiaram as operações de tortura financiem o novo Memorial.

“Então, aí eu cheguei aqui e comecei a trabalhar na Sid, e aí eu comecei a trabalhar aqui. Isso que me levou a chegar, em 87, na greve geral, que acabei sendo preso, né… Não fui torturado fisicamente, mas, segundo a companheira, a jornalista falou: ‘Oraldo, você está falando que você não foi torturado, mas você foi torturado, toda interrogatória é uma tortura psicológica.’ Uma das vezes que eu fui interrogado foi naquela sala lá da cortiça. Então, depois acabou me liberando”, afirmou.

Outro perseguido político que foi torturado no Dops-MG é Paulo Guarani, militante do movimento negro e ex-cabo da PM-MG. Ele nos contou as inúmeras vezes que foi parar no prédio do Dops por conta da perseguição racista da Ditadura à cultura do povo negro.

“A Polícia Militar chegava lá com as viaturas do 16º Batalhão e recolhia todos os negros que eles podiam recolher. Alguns iam pro 5º Distrito, alguns iam pro 2º e alguns iam pro Dops. E parece que era minha falta de sorte que eu estava sempre indo pro Dops. Parece que eles já sabiam que tinha que me levar pra lá”, contou Paulo Guarani.

Arquitetura da tortura e da morte

Segundo relatos de ex-presos e também por vestígios encontrados no local, o edifício passou por reformas para adequar o espaço a outros tipos de violação dos direitos humanos.

No local, nossa reportagem pôde verificar a existência de apoios para colocar o famoso “pau de arara”, salas solitárias e sem entrada de luz para presos, espaços designados como locais de espancamento, um canil onde cachorros eram treinados para atacar presos, entre outros espaços voltados para tortura. Todas as estruturas foram feitas durante a ditadura militar.

No entanto, no estacionamento anexo ao prédio, foi encontrada uma piscina e uma sauna, supostamente para a recreação dos policiais, mas que na verdade era usada para a tortura conhecida como “esquenta-esfria”. Neste tipo de tortura, o preso é colocado numa sauna extremamente quente e após alguns minutos é jogado numa piscina de água gelada. O objetivo é causar choque térmico na pessoa.

A utilização do prédio para torturas físicas é corroborada pela entrevista de Paulo Guarani. Ele revelou como as torturas aconteciam no espaço hoje ocupado pelos movimentos sociais.

“Mas o Dops chegava infiltrado no samba, no pagode, e já chegava arrastando. Não dava para fazer muito barulho no samba, porque ia machucar muita gente. E machucava mesmo. Então, a gente saía e vinha, tomava esse couro. O que você fala de tortura, a gente fala de couro, a gente fala de pau de arara, de cabeça para baixo, com choque no testículo, choque no ânus, cassetete enterrado no ânus, cassetete entre os dentes, choque elétrico entre os dentes, banho de banheira gelada, com gelo mesmo, mas era muito gelo”, afirma Paulo Guarani.

Segundo o relatório da UFMG, a estrutura arquitetônica difere de um espaço de recreação. O formato da piscina é de um poço que claramente não é utilizado para as pessoas nadarem. De acordo com a pesquisa também, o espaço teria sido construído na década de 1980.

A fachada modernista, que da rua poderia muito bem ser confundida com a de um museu ou de uma escola, esconde uma arquitetura construída para realização de torturas e assassinatos.

Vitória e negociação

A ocupação, desde o primeiro dia, foi perseguida pelo governador fascista Zema. No entanto, a resistência das organizações e movimentos sociais deu resultado. No dia 20 de maio, o desembargador Luis Carlos Balbino Gambogi emitiu uma liminar proibindo o despejo da ocupação e obrigando o governo de MG a negociar a criação do espaço de memória. Mesmo assim, a PM se recusava a levantar o cerco ao prédio, sendo novamente obrigada pelo judiciário a recuar.

Na Assembleia Legislativa a ocupação também tem repercutido e parlamentares progressistas têm defendido a manutenção do espaço. Diversos parlamentares já visitaram o local e reafirmaram a importância da criação do memorial. A Comissão de Direitos Humanos da ALMG tem atuado na defesa da permanência da ocupação.

No dia 30 de maio, aconteceu uma audiência de conciliação no Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na qual os ocupantes tiveram importantes vitórias para a luta, incluindo o compromisso do governo de que o prédio não será vendido e será destinado a ser o Memorial dos Direitos Humanos, além da prorrogação do mandado de segurança que garante a continuidade da ocupação.

“A gente conseguiu mostrar que a luta para ser memorial é fundamental para o resgate da memória, da verdade, da justiça do povo de Minas Gerais e do Brasil que lutou contra a ditadura, e também as heranças da tortura que ainda existem hoje no Brasil”, afirmou Renato Amaral, um dos coordenadores da ocupação.

As organizações que participam da ocupação defendem gestão coletiva do espaço pelo movimento social, para torná-lo definitivamente um Memorial dos Direitos Humanos e também um espaço de organização das lutas sociais.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade

Privatização da Agespisa deixa 300 trabalhadores sem emprego no Piauí

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A demissão de 300 trabalhadores da Agespisa, autorizada pelo governador Rafael Fonteles (PT), expõe os efeitos imediatos da privatização da estatal de saneamento do Piauí.

Celine Albuquerque e Pedro Kardec | Teresina (PI)


BRASIL – A recente demissão em massa de 300 trabalhadores da empresa Águas e Esgotos do Piauí (Agespisa), autorizada pelo governador Rafael Fonteles (PT), marca um novo capítulo sombrio na história do serviço público no estado. A decisão, consequência direta da privatização da companhia estatal de saneamento, concretizada no final de 2024, escancara os impactos da política neoliberal – disfarçada sob o discurso de modernização e eficiência –, que, na prática, destrói direitos, empregos e piora a prestação de serviços à população.

Com um patrimônio estimado de R$ 4 bilhões, segundo levantamento de técnicos da empresa estatal, foi vendida em leilão no dia 30 de outubro de 2024 por R$1 bilhão. A empresa arrematante foi a Aegea, grupo privado que administra a Águas de Teresina desde julho de 2017. Desde o início do processo de privatização, a ameaça de demissões em massa era uma realidade anunciada. O próprio secretário de Administração do Estado do Piauí, Samuel Nascimento, declarou publicamente a intenção do governo de implementar um “robusto Programa de Desligamentos Voluntários”, sinalizando o destino cruel que agora se concretiza para centenas de trabalhadores.

“A demissão arbitrária e sem justa causa destes trabalhadores, muitos com décadas de dedicação ao saneamento básico, é um ato cruel e desumano, que atenta contra os direitos trabalhistas garantidos constitucionalmente e contra o Acordo Coletivo de Trabalho que ainda está vigente”, denunciou a Central Única dos Trabalhadores no Piauí (CUT-PI).

Capital acima da vida

A retórica de progresso usada para justificar a privatização encobre uma realidade já conhecida: empresas privadas operam sob a lógica do lucro. Isso significa menos investimentos em áreas menos lucrativas, tarifas mais altas para a população e precarização das condições de trabalho.

A demissão em massa na Agespisa não é um caso isolado, mas parte de um projeto mais amplo de destruição dos direitos sociais, como mostram os recentes casos de privatização da Sabesp (SP), Cosanpa (PA) e o metrô de Belo Horizonte.

A resposta está na reestatização dessas empresas e no fortalecimento do controle público e popular sobre os setores fundamentais da economia nacional, com valorização do trabalhador e a defesa intransigente dos serviços públicos.

Matéria publicada na edição impressa  nº314 do jornal A Verdade