UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 14 de outubro de 2025
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Ampliação da Inteligência Artificial aumenta exploração dos trabalhadores

O avanço da Inteligência Artificial vem ocorrendo em todo mundo em cima de uma profunda exploração da força de trabalho de milhões de pessoas de países dependentes.

Guilherme Fernandes | Fortaleza


OPINIÃO – O que mais vemos sendo divulgado pela grande mídia burguesa é a narrativa de que a inteligência artificial (IA) é ao mesmo tempo promissora e ameaçadora. Fala-se constantemente sobre a possibilidade de uma “escravização” do homem pela máquina, da substituição massiva de empregos, inclusive em atividades essencialmente humanas, como a psicoterapia.

Não são raras as manchetes sensacionalistas que afirmam que sistemas de IA estão se tornando “conscientes”, alimentando uma falsa disputa entre humanos e máquinas. No entanto, por trás desse discurso alarmista, o que se observa é uma tentativa da classe dominante de nos desorganizar e confundir, desviando o foco das verdadeiras contradições do sistema.

Qual força nos move?

Marx e Engels afirmam que o ser humano está inserido na sociedade sempre a partir de uma posição de classe, e que a luta de classes é a força motriz da história. No pensamento marxista, compreendemos que as condições materiais de produção não apenas moldam as estruturas sociais, mas também formam os próprios indivíduos que nelas vivem. Em outras palavras, nossos desejos, capacidades e traços pessoais são profundamente influenciados pela posição que ocupamos na estrutura de classes.

Então partindo de nossa realidade, ao percebermos as contradições da sociedade, somos capazes de realizar uma prática transformadora e para isso acumulamos conhecimento. Dessa forma podemos perceber outras contradições e seguir neste contínuo processo de aprendizagem. Logo, quanto mais prática pudermos ter, mais podemos aprender e transformar. Contudo temos diversas limitações (de classe, física, emocional, histórica) que não nos permitem experimentar diversas possibilidades ao mesmo tempo.

É nesse ponto que surge a falsa promessa de que um ente artificial, focado unicamente na execução de processos de aprendizado, poderia testar infinitas possibilidades, mapear contradições e apontar caminhos de superação com mais eficiência que o próprio ser humano. Mas essa ideia ignora uma questão fundamental: a IA não está no mundo.

Ela não possui corpo, história, nem engajamento prático com as contradições que moldam a existência humana. Por mais sofisticados que sejam, não experienciam o mundo de maneira situada, e, portanto, não compreendem contextos, significados ou intencionalidades.

A IA pode simular decisões, mas não age no mundo. Atribuir a ela o mesmo processo dialético da prática humana é esvaziar a dimensão histórica, material e vivida da transformação. É converter uma tecnologia em fetiche, ocultando que ela opera sob os interesses de uma classe que a molda conforme suas necessidades. 

A evolução dos meios de produção

Mikhail Bakhtin (filósofo, crítico literário e linguista russo) concebe a linguagem como essencialmente dialógica, ou seja, constituída pela interação constante entre diferentes vozes sociais. Segundo o pensamento do dialogismo, todo enunciado é, ao mesmo tempo, uma resposta a discursos anteriores e uma antecipação de respostas futuras. A linguagem, portanto, nunca é neutra ou isolada: ela reflete a multiplicidade de perspectivas, valores e tensões que atravessam a vida social. Nesse sentido, todo discurso está enraizado em um contexto histórico e ideológico específico, carrega consigo marcas do tempo, do lugar e das relações sociais que o produziram. Falar ou escrever é sempre entrar em uma arena de vozes, onde sentidos são disputados, negociados e ressignificados continuamente.

Partindo desse olhar sobre a linguagem, torna-se evidente que aqueles que detêm os meios de produção tecnológica estão sendo beneficiados com esse discurso; são eles que ganham quando um clima de medo e desconhecimento é construído em cima de uma ferramenta dessas. Mas como eles ganham?

Em O Capital, Marx apresenta o conceito de exército industrial de reserva para se referir ao desemprego estrutural das economias capitalistas. Esse exército é composto pela força de trabalho que excede as necessidades imediatas de produção, mas cuja existência é fundamental para a manutenção do processo de acumulação capitalista. Para que o sistema funcione, é necessário que uma parte da população economicamente ativa permaneça desempregada. Segundo Marx, esse contingente de trabalhadores e trabalhadoras desempregados atua como um freio às reivindicações da nossa classe, contribuindo para a compressão dos salários e a precarização das condições de trabalho.

Ao gerar uma massa de pessoas em situações tão degradantes que estariam dispostas a aceitar qualquer forma de emprego para garantir sua sobrevivência, o sistema capitalista utiliza esse exército de reserva como instrumento de coação: quem recusar as condições impostas, será facilmente substituído. É assim que os patrões nos mantêm submetidos a condições de trabalho cada vez mais exploratórias.

É neste contexto que surge a vitória da classe atualmente dominante. Durante muito tempo, essa ameaça da substituição tecnológica era em maior parte dirigida àqueles que realizavam ofícios manuais, ligados ao trabalho produtivo direto. Com o advento das máquinas, a necessidade de força humana foi reduzida, mas ao invés de realocar esses trabalhadores para outros setores e reduzir as jornadas de trabalho, o sistema simplesmente os descartou, deixando-os sem meios de subsistência.

Por outro lado, os ofícios que necessitavam de uma formação superior ou conhecimentos técnicos mais especializados, geralmente acessíveis apenas por meio da universidade, permaneceram, por certo tempo, relativamente protegidos dessa lógica de substituição. Contudo, ferramentas como a inteligência artificial, hoje mercantilizadas como soluções autônomas para problemas cada vez mais complexos, passam a exercer um papel semelhante ao das máquinas tradicionais. Elas não apenas ameaçam substituir funções antes consideradas exclusivamente humanas, como também aprofundam a lógica de exclusão e precarização estruturante do capitalismo.

A IA nas mãos da burguesia é exploração

Enquanto a burguesia utiliza a inteligência artificial para expandir o exército industrial de reserva, também se vale desse mesmo exército para alimentar o desenvolvimento dessas tecnologias. É fundamental denunciar que muitos desses sistemas são construídos com base na violação de direitos autorais (defendidos pela própria lei capitalista), no uso indevido de dados sensíveis e na superexploração do trabalho humano. Em especial, por meio do que a organização sem fins lucrativos Partnership on AI (PAI) denominou de força de trabalho oculta. Essa força é composta por trabalhadores invisibilizados que realizam tarefas essenciais para o treinamento desses sistemas de IA, como rotulagem de dados e revisão de conteúdo.

Milhares de trabalhadores são subcontratados por grandes empresas de tecnologia, especialmente em países periféricos do Hemisfério Sul, para atuarem como rotuladores de dados. Esses trabalhadores são responsáveis por classificar milhões de textos, imagens, áudios e outros conteúdos, tarefa essencial para o treinamento das IAs.

Não há nada de “inteligente” nesse processo: trata-se de trabalho humano intensivo, invisibilizado e mal remunerado. Muitos dos rotuladores terceirizados pela OpenAI, por exemplo, recebiam entre US$ 1,32 e US$ 2,00 por hora para rotular dados. Além da precarização econômica, esses trabalhadores são frequentemente expostos a conteúdos extremamente violentos, degradantes e perturbadores, oriundos dos espaços mais tóxicos da internet, a fim de classificá-los como material impróprio, isso quando esses conteúdos não são passados pela triagem e vão parar nos bancos de treinamento dos modelos.

Socialismo ou Barbárie

Fica nítido que a burguesia está, mais uma vez, utilizando toda a produção do conhecimento humano para converter em dinheiro e aumentar os seus já entupidos cofres. Para isso estão dispostos a nos explorar mais e consumir o máximo de recursos naturais de nosso planeta. Não por acaso estamos vendo o aumento dos conflitos no Oriente Médio e Leste Europeu, onde boa parte destes conflitos ficam em regiões estratégicas para produção energética e disputa de minérios que permitirão a manutenção do desenvolvimento predatório destas tecnologias.

Quando é anunciado o bombardeio nas usinas nucleares do Irã é muito mais falado sobre a possibilidade do Irã desenvolver uma arma de destruição em massa do que sobre o criminoso ataque realizado pelos EUA em parceria com o Estado de Israel. Muitas vezes a imprensa burguesa utiliza o discurso moral para justificar estes ataques e não responsabilizar os reais culpados.

Assim, a mesma imprensa constrói um discurso moral sobre a inteligência artificial, mas se recusa a colocar no ponto central da discussão quem financia essa ferramenta para fazer a manutenção do poder. Precisamos avançar com o debate e denunciar quem realmente são os culpados da utilização da inteligência artificial de maneira predatória e criminosa para as pessoas e para o planeta.

Desta forma veremos que não há, no sistema capitalista, qualquer possibilidade de uso consciente da IA ou de qualquer forma de utilizar essa ferramenta com interesse primário na sociedade, porque os capitalistas vão deturpá-la em nome do lucro. Por isso, a única possibilidade para a utilização ética da IA é com a construção de uma sociedade socialista. Só assim esta ferramenta estará com as condições adequadas para a nossa humanidade.

Crise política do Nepal é resultado da exploração imperialista

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Nepal vive crise politica e econômica que levou a uma revolta popular geral. Dominação imperialista da economia nepalesa está na origem dos problemas.

Felipe Annunziata | Redação


INTERNACIONAL – O mundo assistiu nos últimos dias 8 e 9 de setembro uma revolta social de jovens trabalhadores nepaleses. A capital do país sul-asiático viu os principais prédios governamentais e casas de ministros serem atacados e queimados por manifestações de massa furiosa. Os protestos levaram à renúncia do primeiro-ministro KP Sharma Oli e a dias de instabilidade generalizada.

Em vários meios de comunicação da burguesia e até de esquerda foi colocada como razão principal para a revolta o corte do acesso às redes digitais no país. O Nepal aprovou nos últimos meses uma série de regulações desse setor que as chamadas Big Techs se recusaram a cumprir.

No entanto, a atual crise política no país asiático tem como origem problemas muito mais profundos. Entre eles está o controle imperialista da economia nepalesa e a exploração dos trabalhadores do Nepal dentro de seu país e do mundo.

Revolução incompleta

Pouco conhecido nesta parte do mundo, o Nepal viveu um importante processo revolucionário entre 2005 e 2006. Liderado por uma frente de partidos comunistas e sociais-democratas, os trabalhadores nepaleses derrubaram a monarquia quase absolutista e de traços feudais que governava o país há milhares de anos.

No entanto, apesar de ter dado conta da tarefa democrática, a revolução nepalesa parou por aí. A posição do país, encravada entre Índia e China, sem acesso para o mar, e também a falta de disposição dos sucessivos governos em ampliar a luta revolucionária para romper a dependência do país levaram a uma manutenção do cenário de desigualdade e de exploração dos trabalhadores.

A realidade é que, quase 20 anos após o fim da monarquia, os trabalhadores nepaleses não viram uma mudança concreta na vida. Apesar de ter havido uma tímida diminuição da desigualdade, a ampla maioria do povo vive da agricultura e de serviços de turismo (o Nepal é um dos centros mundiais da religião budista e do hinduísmo e também é onde fica o Monte Everest). Em 2015, o país vivem um terremoto na região de Gurkha, na histórica região central do país, que deixou 10 mil vítimas.

Para comparar, o Nepal tem um PIB de cerca de 45 bilhões de dólares, ao passo que o Qatar tem uma riqueza interna de 218 bilhões de dólares, mesmo tendo uma população de menos de 3 milhões de habitantes. Portanto, a realidade nepalesa é de um país pobre e que não conseguiu ainda se livrar das cadeias de dominação econômica imperialista. A revolução de 2006 não conseguiu superar esta contradição.

O papel do Nepal no sistema capitalista imperialista

O país tem uma população de 30 milhões de habitantes, mas desde 2010 conta com uma diáspora (emigração) de mais de 4 milhões de nepaleses. Para termos uma medida de comparação, no exterior vivem cerca de 5 milhões de brasileiros, para uma população de 212 milhões que vivem no território nacional. De acordo com a Organização Mundial de Imigração, ligada à ONU, em 2019, 50% das famílias nepalesas contavam com pelo menos um de seus membros vivendo no exterior.

Esses trabalhadores servem de mão de obra barata para monopólios capitalistas que atual na Índia, nos países árabes do Golfo Pérsico e no sudeste asiático. Ficaram conhecidas as denúncias de trabalho escravo na construção dos estádios da Copa do Mundo de 2022, realizada no Catar, em que milhares de operários morreram nos sítios de construção. Desses trabalhadores que atuaram na Copa, milhares são nepaleses.

O papel da classe trabalhadora nepalesa então é servir à reprodução do capital em outros países, em que os monopólios capitalistas entendam ser economicamente mais importantes, em troca de salários de fome que tentam enviar de volta ao seu país natal.

Dentro do Nepal, 20% da população vive abaixo da linha da pobreza e 22% dos jovens não encontram emprego. Entre 2004 e 2024, a média de crescimento do país foi de 1,4% ao ano (dados do CEIC Data). Em contraste com esta realidade, os políticos que ascenderam ao poder com a revolução mantiveram muito do estilo de vida da antiga monarquia. Com cada vez mais riqueza acumulada, na prática constituíram sucessivos governos que atenderam prioritariamente os interesses dos ricos.

No país, existem dois partidos que se chamam comunistas que tem grande expressão eleitoral. O Partido Comunista do Nepal (marxista-leninista unificado), do primeiro-ministro deposto KP Sharma Oli, e o Partido Comunista do Nepal (Centro Maoísta), que já compôs o governo e hoje se encontra na oposição. Mesmo tendo liderado a revolução de 2006 e ganhado muito prestígio junto a população, nenhuma das duas organizações deram cabo das mudanças necessárias para a população do país. Na realidade, foi durante os governos destes partidos que o papel dos nepaleses como mão de obra barata no exterior foi reforçada.

Primeiro ministro deposto do Nepal, KP Sharma Oli, durante cerimônia governamental. Foto: Arquivo

Revolta de 2025 é disputada pelo imperialismo

Esta situação atingiu um pico quando as contradições entre a classe rica e os trabalhadores nepaleses ficaram mais evidente. A contradição entre políticos ricos, casos de corrupção constantes e a extrema pobreza do povo era o tema diário nas redes digitais. Junto a esta realidade, o acesso da população às redes digitais se ampliou exponencialmente, assim como no resto do mundo. A população passou a denunciar a realidade econômica através destas redes.

O governo, por sua vez, ao invés de atender às demandas dos trabalhadores, principalmente dos jovens, buscou dar conta apenas do problema da dependência do país às redes digitais sediadas no exterior. Por sua vez, a direita e extrema-direita monarquista viram nesta ação uma oportunidade para tentar retomar o poder.

No entanto, o povo nepalês claramente tem dado demonstrações que não quer retornar a realidade de antes de 2006. Uma restauração monárquica nunca esteve entre a agenda dos protestos. Mas, não se pode descartar uma tentativa do imperialismo, especialmente o norte-americano, de querer criar uma área de instabilidade no país.

A posição do Nepal é estratégica na disputa interimperialista entre China e o EUA, o país tem 1.389Km de fronteira compartilhada com os chineses, sendo que ela se encontra na região do Tibete, onde os EUA patrocinam desde a Revolução de 1949 uma oposição ao governo chinês. Portanto, um cenário de crise política permanente no Nepal pode ser interessantes aos estadunidenses.

Solução é a superação da dependência do imperialismo

A saída para atual crise nepalesa é dar conta das tarefas históricas iniciadas na revolução de 2006. Assim como os outros países do mundo explorados pelo imperialismo, apenas quando o Nepal romper definitivamente as correntes de dependência do capital imperialista é que será possível resolver os principais problemas do povo.

Mais do que algum ensinamento sobre o papel das redes digitais em períodos de crise política, como a mídia social-democrata brasileira tenta nos falar, a atual situação do Nepal mostra como os trabalhadores do mundo estão cada vez mais revoltados com a exploração capitalista e a imposição da dominação imperialista. A falha dos partidos de esquerda do país em romper com o modelo de conciliação é a verdadeira lição para o mundo e o nosso país.

A quem serve a repressão aos movimentos por moradia popular?

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Quando os movimentos populares decidem reivindicar é comum, infelizmente, toda uma repressão e violência, seja pela PM ou mesmo pela mídia hegemônica.  No entanto, é importante refletir sobre o quem por trás de toda essa situação e orientação, sobretudo quando estamos falando de uma sociedade dividida em classes.  

Evelyn Dionízio | São Lourenço da Mata – PE


LUTA POPULAR – Uma das formas do Estado burguês capitalista controlar as massas trabalhadoras é através da repressão pelo Poder Legislativo. É uma ilusão acreditar que vivemos numa sociedade livre e que a lei é aplicada a todos com igualdade. Se a pena por um crime é de multa, já não pode ser aplicada igualmente para uma pessoa rica e outra pobre.

A criminalização, ou seja, tornar um fato crime, é um dos instrumentos utilizados pelas classes dominantes para manter os menos privilegiados na rédea. Na ditadura da burguesia, aqueles que se opõem à opressão são imediatamente postos na marginalidade. Exemplo disso, o Black Panther Party (Partido dos Panteras Negras) se rebelaram contra a sufocante violência policial que sofriam. Para isso utilizaram o porte de armas de fogo, permitida nos EUA, para autoproteção. A resposta do governo do ex-Presidente Ronald Reagan foi clara: estabeleceu uma lei para maior restrição ao porte de armas de fogo através do Mulford Act.

No Brasil, a fim de justificar a criminalidade, os eugenistas¹ brasileiros culparam a miscigenação. Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906), professor de Medicina Legal da Faculdade de Medicina da Bahia, sustentou a tese de que as raças ditas inferiores (negros, índios e mestiços) não poderiam ter o mesmo tratamento no Código Penal, justificando que as mesmas possuíam mentalidade infantil e portanto eram irresponsáveis. Considerou os mestiços “indolentes, fracos, imprevidentes”, devido ao menor desenvolvimento de seus cérebros, e herdeiros de um “desequilíbrio mental”. No fim, para os eugenistas, a solução se dava no embranquecimento da sociedade brasileira. Com isso, percebemos um padrão: o sistema capitalista, para sua manutenção, é essencialmente racista.

Amparado pelo Legislativo, as polícias militares executam tais ordens. Ao ser perguntado sobre as consequência desse conceito de controle social como função principal da polícia, o ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro disse ao Jornal A Verdade:

[…] Quando se deram as revoltas de escravizados, o que eles fizeram? O governador geral chegava com homens, iam pra lá e arrasavam os caras. É a mesma coisa hoje. Como é que o Estado se protegia contra o escravizado que começou a ficar rebelde? Era repressão.

No último dia 7 de setembro, o MLB (Movimento de Lutas nos Bairros, Vilas e Favelas), realizou uma série de ocupações em todo o Brasil, reivindicando um direito que deveria ser de todos: a moradia. Porém, para manter a propriedade privada da terra, sem nenhuma função social, o estado do Rio de Janeiro (Cláudio Castro), com apoio da Prefeitura (Eduardo Paes), reprimiu duramente diversas famílias, compostas por maioria de mulheres e crianças, deixando 18 feridos.

É previsto na Constituição Brasileira (art. 5º, XXIII) que a propriedade atenderá sua função social. No Brasil, há 11,4 milhões de domicílios vazios e 6 milhões de pessoas sem casa para morar (Fundação João Pinheiro, 2019). Se existem mais prédios vazios que pessoas sem teto, não é lógico que a ocupação e exigência da construção de moradia é legítima? Ao invés disso, o Poder Público e a mídia burguesa tratam as famílias como invasores e criminosos.

Portanto, se faz necessário a organização realmente revolucionária – como a do MLB – dessa parcela da população marginalizada, com o objetivo de acabar com o sistema que ainda perpetua tais ideais. O sistema capitalista se beneficia da situação fragilizada das minorias e busca explorá-las ao máximo. Acontece com a população negra e acontece com os LGBTIA+.

Com o objetivo de aumentar o nível de exploração da classe trabalhadora, a grande burguesia trabalha para manter um alto grau das mais variadas opressões. Manter a estrutura racista e patriarcal e cisheteronormativa, o controle reprodutivo, a violência e a divisão social, sexual e racial do trabalho são estratégias fundamentais para gerar uma mais valia cada vez maior e constante para a burguesia ao mesmo tempo que nos mantém acorrentados(as) nas atuais estruturas e relações de opressão, fortalecendo a divisão social baseada na propriedade privada dos meios de produção. [grifo nosso] (UP realiza seu 1º Encontro Nacional LGBTI+, agosto de 2025)

Temos diversos casos na história brasileira da criminalização das revoltas sociais para tentar barrar a transformação da sociedade. Quando a burguesia se incomoda com a organização dos trabalhadores, ela se utiliza do instrumento das leis ao seu favor, foi assim com a Reforma Trabalhista que desmantelou o mínimo de direitos dados aos trabalhadores e assim o é quando as mães do movimento de bairro ocupam os mercados para lutar contra a carestia e o desperdício de alimentos das grandes indústrias e são recebidas por viaturas policiais.

Por isso, é necessário desacreditar que um dia a classe trabalhadora será libertada da sua exploração através de leis e pelo Congresso. Devemos mostrar nossa força pela organização e revoltas populares. Às tarefas.


¹ Eugenia: Preconizava o favorecimento, pelo Estado, da formação de uma elite genética por meio do controle científico da procriação humana, onde os inferiores (os menos aptos) seriam ou eliminados ou desencorajados de procriar. Visava essencialmente o aperfeiçoamento da raça (BOLSANELLO, 1996 apud Thuillier, 1984).

Referências citadas:

BOLSANELLO, Maria Augusta. Darwinismo social, eugenia e racismo “científico”: sua repercussão na sociedade e na educação brasileiras. Educar, Curitiba, n.12, p.153-165. 1996. Editora da UFPR.

O problema da moradia em Petrolina (PE)

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Mesmo sendo uma das cidades mais ricas do nordeste brasileiro, Petrolina, no sertão pernambucano, sofre com a especulação imobiliária e o déficit habitacional promovidos pela especulação capitalista. 

Redação Petrolina


BRASIL – Em 2024, um estudo da Macroplan, empresa de consultoria, definiu Petrolina em primeiro lugar em qualidade de vida no Nordeste, e entre as 50 melhores do Brasil. Mas não é bem isso que vemos no mundo real. 12º maior PIB de Pernambuco e a cidade mais rica do fora interior, Petrolina fica às margens do Rio São Francisco, localização essa que permitiu o desenvolvimento de uma agricultura voltada ao cultivo de frutas, principalmente de mangas e uvas. Assim como é comum em outras cidades nordestinas, grandes famílias e empresários do agro lucram bilhões extraindo toda a riqueza para si. Um dos grupos que mais tem lucrado na cidade e região, são os imobiliários, que usam essa falsa impressão de uma “cidade dos sonhos” para subir o valor dos aluguéis e aumentar ainda mais o déficit habitacional local.

De acordo com dados apresentados pela Fundação João Pinheiro, em parceria com o Ministério das Cidades, com base em dados de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o fator que mais influencia no déficit habitacional no Brasil é o valor exorbitante dos aluguéis. Em Pernambuco, o déficit habitacional atinge 143.634 lares (65%), do total de 221.115 incluídos no déficit habitacional. Em Petrolina, o último dado oficial da própria prefeitura, de 2021, aponta um déficit de mais de 50% nas moradias da cidade. Hoje, nas regiões mais próximas do centro da cidade, o aluguel subiu 68% nos últimos 4 anos.

Quem mais sofre é a classe trabalhadora

 Residente no Bairro João de Deus, Zona Oeste de Petrolina, a comunitária Poliana dos Santos é mãe de quatro filhos – um garoto de 12 anos e três meninas (de 8, 3 e 1 ano, respectivamente). Poliana foi contemplada em 2015 com uma unidade no Bairro Jardim Guararapes. No entanto, sua esperança em conseguir seu tão sonhado lar foi dando lugar ao desespero. O primeiro baque sofrido por ela foi saber que já havia uma família na casa pela qual tinha sido sorteada pela prefeitura. “Fiz contrato com o Banco do Brasil, estou pagando essa casa até hoje. Vai fazer sete anos no dia 17 de setembro que estou pagando essa casa, e nunca tive acesso, a não ser no dia da vistoria”, desabafa Poliana.

Poliana é apenas um dos vários casos de pessoas que não receberam suas casas. E como se isso não fosse suficiente, ainda existem golpes sendo aplicados. Denúncias sobre supostos representantes da Secretaria Executiva de Habitação de Petrolina explodiram em 2020. Os golpistas estariam visitando ocupações na cidade para oferecer facilidades no programa Minha Casa Minha Vida. Os farsantes estariam cobrando o valor aproximado de até R$1000,00.

Enquanto vemos as limitações de programas como o Minha Casa Minha Vida, e o crescimento das pessoas em situação de rua, atitudes como a jornada do último sete de setembro, tomada pelo MLB e tendo apoio da Unidade Popular e os movimentos que a constroem, mostram uma solução definitiva: um dos pontos do programa da UP defende: “Garantia de moradia digna, saneamento e coleta de lixo para todas as famílias brasileiras; destinar os imóveis abandonados para resolver o déficit habitacional; realização de uma profunda reforma urbana.”.

Em Petrolina temos pelo menos 257 terrenos e imóveis abandonados de acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Sustentabilidade (número subnotificado). Para além disso, a história arquitetônica da cidade está em risco por falta de tombamento. Ou seja, não bastasse o abandono da população, não há o cuidado com a própria história da cidade.

Depois de todos esses dados é importante perguntarmos: o que está errado? Como é possível que, mesmo com uma quantidade de imóveis superior à quantidade de famílias sem moradia, as pessoas ainda não tenham casa? Isso se deve pela lógica do capital. Na sociedade capitalista, a moradia é só uma mercadoria. Por ser uma mercadoria é mais lucrativo manter prédios e casas desocupadas para gerar o aumento do valor dos imóveis, uma escassez artificial, que faz o valor dos alugueis subirem sem nenhuma justificativa real.

Apenas um governo formado pela classe trabalhadora, voltado para organizar a sociedade em torno de uma verdadeira reforma popular pela moradia, é que conseguiremos garantir casa para todos os trabalhadores e suas famílias, moradia digna e o direito básico de casa ser humano de morar dignamente. Enquanto isso não é possível, os movimentos continuarão ocupando terrenos abandonados pelo poder público, dando a eles a sua verdadeira função social. Independência é ter onde morar.

O perigo da privatização da água em Pernambuco

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Com uma proposta antipopular e contrária a tudo que tem sido feito e debatido no mundo em relação ao uso e o direito à água, a governadora do estado, Raquel Lyra (PSD), segue com o plano de privatizar a água em Pernambuco. Onde se privatizou, o serviço ficou pior e a conta mais cara, mas parece que não é do interesse do poder público, incluindo o governo federal, que apoia essa política que vai penalizar nosso povo, que olha apenas garantir os lucros para os empresários. 

Airton Soares | Redação Pernambuco


BRASIL – Um recente relatório sobre o ano de 2024 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), divulgada pelo IBGE em 22/08/2025, ficou constatado o que todos os pernambucanos já sabiam: Pernambuco tem um péssimo sistema de esgoto e distribuição de água. Pernambuco ocupa a 21ª colocação nacional em fornecimento de água e segue entre os estados com maiores fragilidades em saneamento básico. 39,7% dos lares dependem de fontes alternativas, como rios, açudes e caminhões-pipa e apenas 51,4% dos domicílios pernambucanos possuem ligação à rede ou fossa séptica conectada à rede geral.

Os dados assustadores, que provam que praticamente metade dos habitantes de nosso estado não tem ligação de esgoto, mostram o descaso histórico dos governos estaduais em conceder para a população pernambucana um bem básico, além de escancarar as contradições com o processo de privatização que está sendo conduzido pela governadora Raquel Lyra (PSD). A COMPESA é uma empresa milionária, possui um vínculo com o setor privado por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP) mas ainda assim, a maioria do povo pernambucano não tem acesso a água encanada e esgoto de qualidade.

A mídia burguesa esconde a verdade

Diante desses fatos vem a pergunta: se o serviço hoje que já é privatizado, ainda assim é ruim, qual o argumento para privatizar tudo? Mas não é essa a pergunta feita pela grande imprensa, pertencente a pequenos grupos interessados em defender os empresários. Pouco se fala dos problemas enfrentados pelos mais pobres em relação ao saneamento básico. Em  artigo feito para o Jornal A Verdade, Daniel Albuquerque (técnico ambiental na cidade do Recife), vemos um histórico da COMPESA, suas origens nas lutas da classe trabalhadora e da participação popular para que tal serviço fosse regulamentado. Porém, o que vemos hoje são medidas de corte de investimento intencionais e incentivadas pela pressão internacional, que fizeram com que o serviço só fosse se deteriorando.

Por meio da PPP a empresa BRK Ambiental (canadense), tem feito um péssimo trabalho no saneamento básico, água e esgoto. Em mais de uma década atuando na Região Metropolitana do Recife, a BRK Ambiental aumentou em apenas 8 pontos percentuais a cobertura de esgoto, saindo de 30% para 38% a cobertura do serviço a que foi contratada. Pior: a empesa é uma das mais interessadas no processo de privatização de toda a empresa. Esses fatos a imprensa hegemônica simplesmente não mostra.

Privatizar é piorar o serviço e deixar a conta mais cara

A partir de 2013, a Agência Tocantinense de Saneamento (ATS), pública, passou a controlar os serviços de saneamento de 78 dos 139 municípios do estado. Quatro anos depois, em 2017, a chamada Odebrecht Ambiental foi vendida para a Brookfield Business Partners LP, uma empresa líder global em gestão de ativos, que em conjunto com outros investidores, assumiu hoje o controle de 70% da Companhia. Hoje, a empresa chama-se BRK Ambiental. A empresa privada segue responsável por 47 cidades tocantinenses, incluindo a capital Palmas, que, por serem mais populosas, são também as mais rentáveis. Mesmo com o vaivém e com a divisão público-privada, um levantamento feito pelo IBGE apontou que 70% dos tocantinenses vivem sem os serviços de saneamento básico. A mesma política ocorreu no Rio de Janeiro, Ceará, São Paulo, Rio Grande do Sul e até o amazonas, entre outros.

Os dados de saneamento básico e distribuição de água em Pernambuco nos deixa indignados com tamanho descaso. Por isso que as mobilizações e as atividades organizadas pela Unidade Popular, junto aos servidores e o sindicato dos urbanitários contra essa política privatista mostra que só a mobilização é possível de mudar essa realidade. Do mesmo modo que a criação da COMPESA foi uma conquista do povo pernambucano, a sua manutenção, pública, de qualidade e com melhorias para a classe trabalhadora será garantido por meio dessa luta. Privatizar água é um crime contra o povo!

Bolsonaro e generais são condenados por tentativa de golpe de Estado no STF

Bolsonaro e mais 7 acusados são condenados pelo STF por tentativa de golpe de Estado. Entre os condenados se encontram 3 generais, um almirante, um coronel, o ex-chefe da ABIN e o ex-ministro da Justiça, fato inédito na história do Brasil.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Depois de anos de luta antifascista, com manifestações de rua, greves e ocupações, o ex-presidente fascista Jair Bolsonaro, os generais Braga Netto, Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, o almirante Almir Garnier, o ten. coronel Mauro Cid, o deputado e ex-chefe da ABIN Alexandre Ramagem e o ex-minsitro da justiça Anderson Torres foram condenados pela maioria dos ministros da Primeira Turma do STF.

“A lembrança do golpe de 64 é curiosa porque tinha menos prova documental do que nesta tentativa. Nessa tentativa, agora só faltou lavrar ata. Na verdade, as provas documentais (do golpe de 64) só emergiram com a abertura dos arquivos do governo dos Estados Unidos”, afirmou o ministro Flávio Dino, durante a sessão desta quinta (11/09).

A quantidade enorme de provas documentais e de testemunhas foi um dos pontos mais ressaltados pelos ministros. Mesmo o ministro Luis Fux, que absolveu quase todos os acusados, reconheceu a quantidade de provas e escolheu ignorá-las para atender os interesses do imperialismo estadunidense e salvar Bolsonaro.

Os ministros também definiram o tamanho das penas dos condenados, que completam 5 crimes: Golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado de Direito, dano qualificado, deterioração do patrimônio público tombado e organização criminosa.

Jair Bolsonaro – 27 anos e 3 meses de prisão

General Walter Braga Netto – 26 anos de prisão

Ten. Coronel. Mauro Cid – 2 anos de prisão em regime aberto, por causa do acordo de delação premiada

Anderson Torres – 24 anos de prisão

Almirante. Almir Garnier – 24 anos anos de prisão

General Augusto Heleno – 21 anos de prisão

General Paulo Sérgio Nogueira – 19 anos de prisão

Deputado Federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) – 16 anos de prisão

Condenação é resulta da luta popular

O resultado do julgamento de hoje só foi possível por conta mobilização permanente de trabalhadores, mulheres e do povo pobre do nosso país. Não foram poucas as manifestações realizadas desde o início do governo Bolsonaro exigindo a prisão dele e de seus cúmplices.

A condenação da direção da organização criminosa fascista mostra também que é possível garantir a punição a todos os golpistas e fascistas de ontem e de hoje. Até agora o Estado brasileiro se nega a processar e condenar os torturadores e agentes da Ditadura Militar Fascista (1964-1985), mesmo esse período histórico tendo sido lembrado várias vezes como um momento sombrio da história pelos ministros que hoje condenam Bolsonaro.

A luta antifascista no Brasil conquistou hoje uma grande vitória. Pela primeira vez militares e políticos de alta patente são condenados por golpe de Estado. Esta luta, no entanto, não terminou, pois os fascistas ainda estão organizados em nosso país e agora apelam para uma intervenção direta do imperialismo estadunidense aqui e, portanto, a luta contra eles deve continuar.

Despejo violento em São Paulo mostra que não existe soberania para o povo pobre

Centenas de famílias, idosos e crianças da Ocupação Palestina Livre, em São Paulo, organizada na campanha nacional do MLB no dia 7 de setembro, foram violentamente despejadas pela tropa de choque do governador fascista Tarcício

Redação SP


BRASIL – Cerca de 200 famílias, incluindo mães trabalhadoras, idosos e dezenas de crianças, ocuparam um prédio abandonado no bairro Liberdade, centro de São Paulo, no dia 7 de setembro. O local estava abandonado, sem cumprir função social, acumulando poeira e entulho. A ocupação foi parte da campanha nacionalnão há independência e nem soberania sem direito à moradia”, do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

Desde cedo, centenas de famílias e militantes do movimento se uniram para limpar e tornar o espaço habitável e livre da fome. As crianças estavam brincando na creche coletiva organizada no local. O almoço já estava sendo preparado e o cheiro de feijão já perfumava o ar dentro da ocupação quando a tropa de choque, desproporcionalmente paramentada e com a presença de caveirões, começou a usar bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e  spray de pimenta nas famílias e  militantes do lado de fora, incluindo os advogados, imprensa e apoiadores.

As janelas de todos os andares do prédio estavam cheias de mulheres, jovens, crianças, trabalhadores e trabalhadoras gritando as palavras de ordem do MLB em defesa da moradia digna, mas o efeito do gás subiu até os últimos andares, onde estavam as crianças, obrigando os militantes a fecharem as janelas.

Durante a ação violenta promovida pela PM, as famílias foram despejadas, duas pessoas ficaram feridas e dezenas passaram mal devido às bombas e gás de pimenta. Uma mulher, trabalhadora e ocupante, que desmaiou, sofreu assédio na ambulância, numa tentativa de deslegitimar a luta por moradia. Além disso, apenas três dias após a Ocupação os pertences das famílias e itens da Ocupação foram devolvidos, com o almoço que estava breve a sair já estragado pelo tempo.

Dona Maria*, uma das famílias que ocupavam o local, reforça que “nós estávamos fazendo uma coisa que o governo não faz. Nós estávamos lá para lutar contra a pobreza, apoiar a população, dar uma vida mais digna. Eles não estão nem aí para quem é pobre, para quem vive em comunidade, quem ganha um salário mínimo, porque eles estão na boa vida deles e é a gente que está sofrendo. Quando nós vamos procurar um jeito de sobreviver, de ter pelo menos uma vida melhorzinha, eles atacam do jeito que atacaram”

E continua

“Eu saí de lá carregada pelos companheiros, porque não aguentava nem ficar de pé. Eles machucaram os companheiros que estavam na linha de frente. Difícil falar (dona Maria se emociona). Eles não respeitaram as crianças e nem os idosos, não respeitaram nada e nem ninguém. Mas nossa luta não vai parar por aqui!”.

Aparato polícial mobilizado pra despejar famílias, mulheres trabalhadoras, idosos e crianças. Foto: Wildally Souza

Campanha nacional por moradia

Campanha nacional do MLB em defesa da moradia digna e do povo palestino. Foto: Wildally Souza.

É por isso que o MLB lançou a campanha “Não há independência nem soberania sem direito à moradia”, realizando 18 ocupações em 15 estados brasileiros e denunciando a condição precária com que milhões de famílias vivem no nosso país, sem acesso à saneamento básico, em áreas de risco ou pagando aluguéis abusivos.

A ação nacional mobilizou cerca de 5 mil pessoas, em todas as regiões do país, e todas as ocupações incluíram o nome Palestina Livre, homenageando a resistência do povo palestino e chamando a atenção para a repressão de estados fascistas contra a população. No Brasil, a PM se utiliza de armas e veículos blindados israelenses também para oprimir o povo pobre e trabalhador.

Nossa resposta é a luta

As famílias organizadas pelo MLB sabem que só a luta transforma, e ninguém abaixou a cabeça para a repressão. Foto: Arthur Lamonier.

A opressão violenta da PM do Estado de SP, comandada pelo fascista Tarcísio (Republicanos), não intimidou as famílias do MLB. Pelo contrário. Saindo do imóvel de cabeça erguida, as famílias realizaram uma passeata pelo centro da cidade, no bairro da Liberdade, e puxaram palavras de ordem que reforçam a justiça da luta por moradia no Brasil e a necessidade de criação de um país socialista.

Ao gritar “esse país, está num abismo, a solução é construir o socialismo” foi possível ver dezenas de pessoas ao redor, que observavam a ação, gritando junto e prestando solidariedade às famílias do movimento. Além disso, vendas do Jornal A Verdade foram realizadas às pessoas que se interessaram, também, em somar forças ao MLB.

Após a reintegração ilegal e a manifestação, as famílias se reimuniram em assembleia para se fortalecer e planejar as próximas lutas.

Para Ivan, família organizada pelo movimento: “Nós não vamos baixar a guarda jamais, e a importância de ocupar o centro, é que quanto mais ocupações estiverem no centro, mais nós estaremos aqui no meio deles incomodando, mostrando nossas caras e aumentando a nossa luta, onde está a riqueza, onde nós possamos estar no meio deles, usufruir de tudo que tem aqui, porque o centro é do povo, o centro foi o povo que construiu e o povo tem direito dele, as famílias do MLB e todo o povo trabalhador”.

“Eu senti medo, muito medo pelas minhas crianças. Mas quando vi todas as famílias, quando vi o Movimento forte enfrentando aquilo tudo, tive certeza de que nada ia acontecer com a gente. To mais certo do que nunca de que nossa luta está certa! Se estamos incomodando então vamos incomodar mais, por que o Centro precisa ser do povo! Não podemos parar por aqui, camaradas!”, relatou Luiz.

Luiza*, imigrante haitiana e moradora da Ocupação dos Imigrantes Jean-Jacques, também do MLB, relatou ao Jornal A Verdade sobre a importância da construção de ocupações, que fazem valer a lei e oferecer moradia digna aos trabalhadores: “para mim é uma coisa incrível fazer ocupações, porque quando conheci o MLB e consegui uma moradia, fez muita diferença na minha vida. Ajudar outras pessoas que não conseguem pagar aluguel, que trabalham, mas não conseguem pagar o aluguel, representa muito para mim. E nessa ocupação percebi como a gente tem uma organização forte! Cada um tem uma função bem organizada.”

Não há dúvidas da força que a classe trabalhadora unida possui. Por isso, seguimos na organização de novas lutas pelo país. Pois, como diz o lema do MLB: quem luta, conquista! E há muito mais para conquistarmos, camaradas. Até a vitória!

*Nomes fictícios

Prefeitura de Porto Alegre ameaça Casa Mirabal de despejo

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A ação de despejo movida pela Prefeitura de Porto Alegre contra a Casa de Referência Mulheres Mirabal expõe a hipocrisia do poder público e como o descaso com a vida das mulheres não é exceção, mas política sistemática da lógica capitalista.

Milene Arruda l Redação RS


MULHERES – A Casa de Referência Mulheres Mirabal foi intimada da ordem judicial de despejo no processo movido pelo Município de Porto Alegre, com previsão de utilização de força policial e sem qualquer destinação às mulheres atualmente abrigadas na Casa.
A Casa Mirabal é a segunda ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benario no país e já atendeu mais 700 mulheres em situação de violência desde 2016, entre acolhimentos e abrigamentos.

O espaço desde então se tornou o serviço mais próximo ao modelo da Casa da Mulher Brasileira em toda a Região Sul. A Casa da Mulher Brasileira é uma estrutura federal de enfrentamento à violência contra a mulher prevista na Lei Maria da Penha, e não existe no estado do Rio Grande do Sul. Em vez de expandir políticas públicas voltadas às mulheres, o estado e o município optam pela desocupação de um espaço que cumpre uma função vital e organiza as mulheres contra o descaso sistemático do Poder Público com a vida das mulheres.

O contexto do despejo, entretanto, não poderia ser mais alarmante. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2025, o Rio Grande do Sul é o estado com maior índice de descumprimento de medidas protetivas do país, além de ter registrado 36 feminicídios somente entre janeiro e junho deste ano.

O prefeito Sebastião Melo sancionou, no início de agosto, o Projeto de Lei (PLL) 070/23, que cria um auxílio-aluguel para mulheres vítimas de violência. No entanto, vetou justamente o trecho que estipulava o valor e o tempo do benefício, sob a justificativa da ausência de análise do “impacto orçamentário” do auxílio. Na prática, a medida fica esvaziada, sem qualquer previsão de regulamentação ou implementação concreta. As opções que o governo disponibiliza às mulheres vítimas de violência é clara: morar com seus agressores ou na rua.

Em um momento em que os números de violência contra as mulheres crescem sem parar, vemos verdadeiramente para quem funciona um sistema em que recursos públicos seguem sendo drenados para o pagamento da dívida pública e aos interesses da burguesia.
Assim, o Movimento de Mulheres Olga Benário e a Casa de Referência Mulheres Mirabal reafirmam a luta pela construção de uma sociedade verdadeiramente pautada na dignidade das mulheres e não no lucro, a sociedade socialista, e levantando alto a bandeira da resistência.

Moradores de Joinville se manifestam contra demolição de suas casas

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Prefeitura demole casas de trabalhadores do bairro Ulysses Guimarães, em Joinville, e moradores protestam exigindo direito à moradia digna.

Kauê de Melo de Oliveira l Redação SC


LUTA POPULAR – Uma operação coordenada pela prefeitura de Joinville, em Santa Catarina, demoliu diversas casas no bairro Ulysses Guimarães, no loteamento José Loureiro durante o final de julho. Utilizando de máquinas pesadas, a Secretaria do Meio Ambiente, junto da Guarda Municipal fortemente armada, destruíram as casas enquanto grande parte dos moradores já haviam saído para trabalhar, com móveis e pertences destruídos junto com as construções erguidas com tanto esforço e trabalho. No mesmo dia, trabalhadores organizaram um protesto queimando pneus e lixo na Rua Dilson Funaro, uma rua movimentada do bairro.

O MLB esteve presente no protesto registrando o momento, e nos dias seguintes realizou brigada de casa em casa na região das demolições. Após a mobilização, o MLB conseguiu novos contatos e convocou uma reunião para apresentar a alternativa da luta em coletivo para conquistar uma moradia digna.

Segundo depoimentos, algumas famílias foram ameaçadas a serem soterradas junto aos escombros se não deixassem as casas, e tiveram que sair para que a demolição ocorresse. “As famílias desalojadas ficaram todas debaixo de uma árvore, uma cena muito triste”, disse Maria Zelete moradora antiga do local.
Outros vizinhos relataram que uma mulher se recusou a sair de sua casa e conseguiu defender sua moradia mesmo sob grande perigo, mas recebeu ameaças de que voltariam para demolir sua casa outro dia. Emanuel, imigrante haitiano, assim como outros tantos, estava trabalhando durante a operação, e quando voltou, sua casa já estava destruída. No protesto, ele mostrou as faturas de água e luz que já pagava, pois sua casa já tinha ligação com a rede da Celesc e da Águas de Joinville.

A Secretaria de Habitação disse em reportagens que estaria disponível para auxiliar os moradores “caso fosse necessário” mas não apareceu no local para cumprir sua função de solucionar os problemas de moradia da cidade. A Prefeitura disse em nota que “Os imóveis não estavam ocupados”, mas depoimentos dos moradores e a existência de móveis dentro das residências desmentem essa alegação.

Esse ato de violência causou grande revolta também pela forma que foi planejado e executado. Os ocupantes disseram que os policiais debocharam e provocaram os moradores, perguntando até se ninguém iria revidar para eles poderem reprimir violentamente as pessoas. “Coincidência ou não, a maioria das casas demolidas são dos imigrantes haitianos. Aqui perto todas essas casas eram dos haitianos” disse o morador Fábio, indicando locais de demolição.

“Eles cortaram os fios de internet e de energia e levaram embora, ninguém conseguiu se comunicar. Tenho problemas de pressão alta e ansiedade. Nesse dia eu achei que ia infartar! Fiquei muito mal, com tremores, tive que ficar fortemente medicada. Meu marido teve que voltar do trabalho nesse dia para ficar cuidando de mim” disse Lucia, moradora vizinha de casas demolidas.

A Prefeitura utiliza de lei de proteção ambiental para Área de Proteção Permanente (APP) para justificar as demolições sem aviso prévio. A região já é significativamente modificada pela ação humana com presença de moradias. “Joinville está cheia de buracos. Aí a população faz uma casa improvisada e a derrubam. Por que eles não vêm dar casa para o povo? Olha aqui, por causa da ocupação agora tem farmácia, tem mercado. O que falta aqui é escola mais perto, ônibus, e não destruir o que a gente construiu”, disse a moradora Maria.

O bairro Ulysses Guimarães, assim como muitas áreas de Joinville, historicamente cresceu com ocupações sobre região de mangue. A expansão industrial dos anos 1970 trouxe grande oferta de mão de obra. Pressionadas pela escassez de moradias acessíveis, famílias de baixa renda ocuparam terrenos públicos e privados em áreas periféricas sem infraestrutura básica. “Eles dizem que de um ponto da rua pra lá é mangue, mas é tudo igual! Eu moro aqui desde que nasci, quero que eles me provem por que é diferente o lado de lá” disse um manifestante se referindo às regiões mais antigas já regularizadas.
Recentemente foram aprovadas leis para flexibilização e criação de áreas de expansão urbana (AEU) de Joinville, totalizando 32 km², do tamanho de Bruxelas, capital da Bélgica. Amplamente comemorado como um avanço para o desenvolvimento de Joinville, essas medidas são convenientes para as loteadoras e imobiliárias da cidade para aproveitar o alto preço dos imóveis na cidade, principalmente para a construção de novos condomínios industriais próximo a BR-101, residenciais de luxo, moradias para classe média e para os ricos.

Os impactos ambientais da mudança do tipo de uso da terra envolvem diversos fatores dependendo de suas dimensões e já são alertados por especialistas. Os impactos no aumento da área residencial e industrial necessitam de investimentos e novas instalações para saneamento básico, abastecimento de água potável, lançamentos de efluentes de esgoto, geração de resíduos sólidos, pressão sobre a vegetação, poluição do ar, entre outros. Fatos esses que parecem ser ignorados para gerar lucro para a burguesia da cidade, já que o mercado imobiliário vê nas ocupações clientes perdidos que poderiam estar alugando residências do mercado formal.

“Por que eles vêm aqui demolir tudo, sem antes dar uma moradia para as pessoas?”, questiona o morador Emerson. A capacidade de ação dos políticos locais é diretamente afetada com as doações de campanha e vínculos diretos com o lobby dos setores imobiliários e de construção civil. “Cadê os vereadores, agora não aparece nenhum aqui para resolver o nosso problema” disse a moradora Rosimar, revoltada com a situação.
Nesse momento há grande demagogia dos políticos dos setores mais conservadores, criminalizando as famílias migrantes da cidade. Os ocupantes sofrem com xenofobia e frequentemente são estigmatizados com acusações de baderneiros, desordeiros, vagabundos entre outras calúnias e difamações.

A mobilização dos moradores do bairro Ulysses Guimarães mostra que somente a partir da organização do povo para lutar pelos seus próprios interesses é possível fazer mudanças estruturais em nosso sistema. Agora, é momento de apresentar a alternativa da luta coletiva e organizar as pessoas que querem lutar pela moradia e pela libertação do povo brasileiro no MLB e na Unidade Popular!

XIV Semana de luta pela reinterpretação da Lei da Anistia acontece em Pernambuco

Evento envolve sociedade civil e comunidade acadêmica, e discute a luta por memória, verdade, justiça e reparação, aprofundando a necessidade de se reinterpretar a Lei da Anistia, uma exigência dos movimentos sociais e da sociedade civil organizada desde a redemocratização até nossos dias.

 Evelyn Dionízio| Recife


 

BRASIL- A XIV Semana de Luta pela Reinterpretação da Lei da Anistia é promovida por mais um ano na cidade do Recife, Pernambuco. A Semana é organizada pela Comissão Pernambucana de Luta pela Memória, Verdade e Justiça e se estende pelas cidades de Petrolina e Caruaru, Sertão e Agreste do estado, respectivamente.

No dia 28 de agosto foi realizado o Ato pela Punição dos Golpistas e pela Soberania na Unicap (Universidade Católica de Pernambuco). O ato se iniciou com uma apresentação cultural feita pelo ator Júnior Aguiar, interpretando Dom Hélder Câmara.

Arcebispo emérito de Olinda e Recife, Dom Hélder foi uma referência na luta contra a ditadura militar brasileira, “acusado” de comunista, respondeu “Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não tem pão, me chamam de comunista”. Ao final, o ator faz uma intervenção pelas crianças palestinas assassinadas pelo estado genocida de Israel.

Na mesa estavam presentes Edival Nunes Cajá, coordenador do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, Amparo Araújo, fundadora do movimento Tortura Nunca Mais em Pernambuco, Antonella, vice-diretora da Faculdade de Direito do Recife, Guila Xukuru, Presidente da Câmara de Vereadores de Pesqueira (PE) e Manoel Morais, Coordenador da Cátedra Unesco/Unicap de Direitos Humanos Dom Hélder Câmara.

Para abertura do tema, estiveram presentes Ana Oliveira, Presidente da Comissão de Anistia, e Marlon Weichert, Procurador Federal da República. Marlon ressaltou a importância das reformas institucionais, principalmente no setor da segurança pública, para uma verdadeira justiça de transição. “O Brasil não experimentou reforma institucional, diante de uma abordagem da justiça de transição. As forças armadas seguem as mesmas, as polícias militares seguem as mesmas, senão ainda mais vorazes e mais garantidas por modelos de impunidade”, diz o Procurador. Além disso, a impunidade e o fracasso da discussão do regime ditatorial contribui para que sucessivos golpes militares tomem conta da história do Brasil, inclusive para a tentativa de 8 de janeiro de 2023.

Mesa de debate na Universidade Católica, com Edival Nunes Cajá e Amparo Araújo, Manoel Moraes e Antonella Galindo. Foto: JAV-PE

Ana Oliveira lembra do tempo em que falar de anistia para os perseguidos políticos era motivo de prisão no começo dos anos 80, antes da “redemocratização” e que espaços de debate contribuem para que tais tentativas de golpe não aconteçam no país e que os responsáveis pela violação da democracia e dos direitos humanos sejam punidos. A comunidade, que lotou o auditório com capacidade para 300 pessoas, entoou a palavra de ordem “sem anistia e sem perdão, eu quero ver Bolsonaro na prisão” se fizeram presente no debate.

Cajá trouxe o fato de que a Comissão da Verdade brasileira não possui poder de polícia para que os torturadores fossem obrigados a depor acerca de seus crimes. “Nós precisamos dessas manifestações, de fortalecê-las, nos sindicatos, nas vilas, nos colégios, nas universidades, para que nós tenhamos força para seguir levando aos tribunais os golpistas de 8 de janeiro de 2023, mas também os golpistas de 1964, que assassinaram as esperanças que estavam mobilizadas nas ruas, dos camponeses, dos operários e da juventude”, diz.

Atos também ocorreram no agreste e sertão de Pernambuco

A atividade também ocorreu em Caruaru, com um debate na Cultural Livraria, com a participação de Veridiano Santos, Mestre em história do Brasil e professor e Iany moraes, presidenta da UP em Caruru. Em Petrolina, no sertão, com uma mesa de debate na Universidade do Vale do São Francisco (Univasf), Alysson Monteiro, presidente do DCE da instituição, debateu junto com Hortência Costa, da OAB Petrolina e Orlando Mindelo, ex-presidente do DCE da UFPE em 1977.

Prefeito de Garanhuns aprova vale alimentação de 5 mil para si mesmo

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Ao mesmo tempo que o Prefeito atua em causa própria, buscando abocanhar um auxílio de R$ 5.000,00 mensais – fora o gordo salário que já recebe 25.482,56  (líquido, já com todos os descontos) – a maior parte dos trabalhadores do Brasil tem que se virar com um salário de fome de R$ 1.518,00.

Hilsten de Barros | Garanhuns


BRASIL – Enquanto o valor da cesta básica aumenta significativamente em todo país, principalmente em Pernambuco , o Prefeito de Garanhuns-PE, Sivaldo Albino (PSB), sanciona auxílio-alimentação de R$ 5.000,00 para si mesmo. Além de se presentear com um auxílio-alimentação generoso, também entraram no bojo o Vice-Prefeito, Eraldo Ferreira (PT), os Secretários de pastas e os presidentes das autarquias municipais com auxílios de R$ 2.500,00 mensais.

Ao todo seriam 25 beneficiários, que receberiam um montante de quase R$ 780.000,00 ao longo de um ano. Tentando justificar a medida, o prefeito, por meio de nota da prefeitura, argumentou o seguinte: “A estimativa apresentada pelo impacto financeiro para 2025 permite que tal atualização possa ocorrer sem qualquer prejuízo ao orçamento municipal, e sem ferir qualquer princípio da Lei de Responsabilidade Fiscal”. Quer dizer, segundo ele, o município poderia desprender um recurso exorbitante desses e não comprometeria as contas.

Pois bem, fica a reflexão, se esse recurso existe, porque não desenvolver uma política de combate a fome no município? Uma conta rápida: ao todo, a medida beneficiaria 25 pessoas e consumiria R$ 65.000,00 por mês. Com esse mesmo valor, seria possível comprar e distribuir cestas cestas-básicas para mais de 180 famílias, beneficiando 720% mais pessoas com uma medida simples.

Diga-se de passagem, o Projeto de Lei foi encaminhado à Câmara Municipal em caráter de urgência no dia 13 de agosto, votado e aprovado no dia 14 de agosto por maioria absoluta (14 votos favoráveis, dos 17 possíveis) e sancionado pelo próprio prefeito no dia 15 de agosto. A pressa seria para que o auxílio já entrasse no próximo contracheque. Quem dera o próprio Sivaldo e os demais chefes do executivo tivessem esse mesmo compromisso e celeridade para acabar com o problema da fome da população das cidades do nosso país – e não só com os seus próprios “problemas”.

O de cima sobe e o debaixo desce 

Ao mesmo tempo que o Prefeito Sivaldo atua em causa própria, buscando abocanhar um auxílio de R$ 5.000,00 mensal – fora o gordo salário que já recebe 25.482,56  (líquido, já com todos os descontos) – a maior parte dos trabalhadores do Brasil tem que se virar com um salário de fome de R$ 1.518,00. Na prática, quem hoje recebe um salário mínimo, compromete cerca de metade do orçamento só com os itens essências de alimentação, fora as demais despesas: água, luz, aluguel, etc. Ainda cabe acrescentar que os servidores municipais não receberam nenhum aumento de vale-alimentação esse ano.

Após a grande repercussão dessa tentativa imoral do prefeito, a implementação da medida foi suspensa pela Justiça de Pernambuco, que considerou suspeita a falta de detalhes sobre o impacto financeiro e ausência da fonte de custeio, o que pode ser enquadrado na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Com tudo, Sivaldo Albino, insatisfeito, recorreu da suspensão e declarou em nota da prefeitura: “A gestão municipal acredita que em nova instância restará comprovada a normalidade jurídica, assim como já se observa em diversas outras instituições no estado e no país”, ou seja, a única preocupação é se está ou não está dentro da legalidade, não passou pela cabeça do gestor atuar em benefício da população, longe disso.

Esse acontecimento, assim como vários outros, em Garanhuns (PE) e em demais locais, demonstra com clareza a podridão do regime capitalista, gestores corrompidos e preocupados apenas em enriquecer por meio dos cofres públicos, beneficiando aliados e concentrando a renda em um número reduzido de pessoas, pouco preocupados em combater a desigualdade social. O mesmo vale para os empresários, principalmente do ramo alimentício, que lucram cada vez mais com a fome do nosso povo.

Precisamos lutar por uma sociedade livre dessa podridão, sem que haja exploração de uma pessoa sob as outras. Apenas com a luta e a organização dos trabalhadores, dos pobres e oprimidos é que poderemos por fim ao capitalismo e construir uma sociedade justa, que só se conquista no socialismo, com um Governo Revolucionário dos Trabalhadores.