UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 20 de agosto de 2025
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Sem comida, sem educação: a realidade dos restaurantes universitários no Brasil

Falta de verbas nas universidades gera problemas nos restaurantes universitários de todo país que sofrem com falta de estrutura e pessoal.

Thaís Rachel Zacharia | Vice-Presidente da UNE


JUVENTUDE – Atualmente, o Brasil possui cerca de 10 milhões de estudantes matriculados em instituições de ensino superior.  A maioria jovens, que veem o ingresso em uma universidade como a possibilidade de transformação de vida. Porém, as dificuldades para se manter estudando são enormes e ficam evidenciadas com nas altas taxas de evasão.

Em 2023, a taxa de evasão em cursos presenciais foi de 26,4%, ou seja, 1,35 milhão de estudantes desistiram de seus cursos. Nos cursos EaD a situação é ainda mais alarmante: quase 2 milhões dos ingressantes (40%) abandonaram seus cursos. As motivações para isso são inúmeras: dificuldades financeiras; transporte público ineficiente; desestímulo com as disciplinas; necessidade de conciliar trabalho e estudo; e, sobretudo, a ausência de políticas de permanência e assistência estudantil verdadeiramente eficazes.

Apesar dos avanços, em especial com a Política Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes), que transformou o programa de assistência estudantil que antes dependia de governos, em política de Estado, ainda há muitas limitações, em especial no tema orçamentário. Em 2024, o Governo Federal destinou R$ 1,5 bilhão para a assistência estudantil na educação superior, atendendo a 400 mil estudantes exclusivamente de universidades públicas. Vale lembrar que o pagamento da dívida pública no mesmo ano drenou R$ 5,5 bilhões por dia (!) dos cofres públicos. Ou seja, a política econômica do Governo privilegia os bilionários em prejuízo de assegurar a formação dos estudantes brasileiros.

Segundo o Pnaes, os restaurantes universitários (RUs), também conhecidos como “bandejões”, são uma das principais ferramentas para assegurar que estudantes permaneçam na universidade até a conclusão do curso ao oferecer alimentação gratuita ou a custos reduzidos. O jornal A Verdade fez um levantamento sobre a situação dos RUs e o do sistema de alimentação de algumas universidades ao redor do Brasil para entender melhor essa realidade no dia a dia dos estudantes.

Não há comida para quem precisa

Hoje, a gestão do sistema de alimentação das universidades é descentralizada, e não há dados sistematizados de orçamento e custos operacionais. Das 69 universidades federais do país, quase todas possuem restaurantes universitários em ao menos um campus, porém, a maioria atende a uma parcela muito pequena dos discentes. Já nas universidades estaduais, 29 contam com restaurantes universitários e 17 não possuem o serviço. A maioria das universidades privadas não conta com nenhum tipo de sistema de alimentação próprio, e as que dispõe desse serviço praticam valores inacessíveis.

As dificuldades mais recorrentes nos restaurantes universitários são: ausência de restaurantes em todos os campi; quantidade insuficiente de refeições; filas enormes; comida estragada; falta de pagamento dos trabalhadores dos restaurantes. O jornal A Verdade conseguiu dados e informações sobre o sistema de alimentação de cinco universidades que serão apresentadas a seguir.

Na Universidade Federal de Goiânia (UFG), três dos quatro campi possuem restaurante universitário, todos sob gestão de empresas terceirizadas. No campus de Aparecida está prevista a construção do RU, cuja obra tem o valor estimado de R$ 7,5 milhões e onde, temporariamente, estão sendo servidas quentinhas aos estudantes. Um total de R$ 21,6 milhões do orçamento da universidade é investido no sistema de alimentação. Os valores cheios das refeições são R$ 7,66 (café da manhã) e R$ 16,80 (almoço e janta). Desses valores, os estudantes de graduação pagam R$ 2,50 e R$ 4,00 respectivamente.

Apesar de existirem opções de alimentação em todos os campi, os problemas são inúmeros. “É um absurdo o RU não abrir no jantar nos finais de semana e feriados! Isso prejudica muito quem mora na Casa do Estudante. No campus da cidade de Goiás, ainda não temos café da manhã. Como que vamos pra aula com fome? Em Goiânia, no Colemar e Samambaia, sempre tem filas enormes durante o almoço e não se fez nada para tentar expandir o restaurante para diminuir as filas, além de ficar claro que o RU atende a uma parcela pequena dos estudantes”, declarou Emily Pereira, estudante de Biomedicina e coordenadora geral do DCE-UFG.

Na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a gestão do restaurante universitário também é terceirizada e corresponde a R$ 17,6 milhões do orçamento. Os problemas se repetem: a refeição é cara (R$ 17,82, dos quais R$ 2,50 são pagos pelos estudantes), falta de capacidade para atender o corpo estudantil, causando superlotação, filas enormes, falta de climatização nos refeitórios, entre outros. Entretanto, ao longo dos anos, os estudantes se organizaram para conquistar melhores condições de alimentação.

Whilber Ribeiro, estudante de Matemática e coordenador geral do DCE-UFMT, relata: “Em 2018, ocupamos todos os campi da universidade e vivemos a maior greve estudantil do estado. A principal pauta, era justamente barrar o aumento do preço do RU, que custava R$ 1,00, e a Reitoria queria aumentar para R$ 10,00. Hoje, pagamos R$ 2,50, mas nossa luta segue a mesma por RU gratuito para todos os estudantes. Nesse ano, teremos a comissão paritária que avalia o desempenho da empresa que gere o RU, e vamos organizar a luta pela redução do preço!”.

Em Sergipe, o restaurante da UFS se chama de Resun e funciona apenas no campus principal de São Cristóvão. Nos demais campi, a comida é servida em quentinhas, que, além de não atenderem a todos os estudantes, não raras vezes chegam estragadas ou atrasam muito por conta do transporte, dificultando o acesso à alimentação. Em novembro de 2024, cerca de 50 pessoas, em um mesmo dia, tiveram problemas gastrointestinais, como vômito, diarreia e febre, após comerem no Resun do Sertão. A universidade investe hoje cerca de R$ 27 milhões na alimentação, e o custo de cada refeição é R$ 14,66, dos quais R$ 1,00 é pago pelos estudantes.

Giovanni Oliveira, estudante de Relações Internacionais denuncia as condições precárias: “Passamos por filas imensas, chegamos até a ter que ficar mais de uma hora para poder almoçar. Mas o pior de tudo é o calor extremo dentro do restaurante: cada dia se torna mais insuportável ter que almoçar enquanto você derrete de suor num ambiente lotado!”.

Nas universidades estaduais também existem exemplos semelhantes. A Universidade Estadual Paulista (Unesp) conta com restaurantes universitários em apenas 10 das 24 cidades em que possui campus. Algumas unidades não possuem nem sequer cantinas, fazendo com que a comunidade acadêmica não tenha nenhuma opção de alimentação. A universidade utiliza um sistema de reserva de refeições no qual os estudantes entram em uma fila de compras virtual para adquirir as refeições da semana seguinte. Além de excludente, esse sistema se mostra insuficiente: em Bauru, por exemplo, existem 6.000 estudantes de graduação e cerca de 1.000 estudantes de pós-graduação, mas apenas 1.300 refeições são servidas, 800 no almoço e 500 na janta. Sobre isso, Muriel Veronezzi, estudante de Arquitetura e Urbanismo, denuncia: “A maioria gritante dos estudantes não consegue comer! Na semana passada, em 15 minutos já tinham acabado as refeições da janta pra semana seguinte… Ao longo do dia, os grupos de WhatsApp de compra e venda de refeições fervem de estudantes desesperados para comprar uma refeição e não passarem fome”.

Diante desse cenário, os estudantes do campus Bauru têm se organizado. No início de abril, fizeram “entraços” no restaurante universitário, garantindo que cerca de 500 estudantes se alimentassem mesmo sem o agendamento.

Uma das maiores universidades do país, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é a única do levantamento que conta com restaurantes universitários em todos os campi. Entretanto, são servidas uma média de 7.600 refeições por dia, número muito inferior aos mais de 70 mil estudantes da instituição.

Além disso, um dos principais desafios é a questão contratual da empresa terceirizada que gerencia as unidades, a Nutrienergy. Apesar de a universidade realizar o pagamento do contrato em dia, muitas vezes a empresa não repassa os valores aos trabalhadores, o que afeta o serviço de todo o sistema de alimentação. O DCE Mário Prata organizou um “calotaço” em abril em apoio a greve dos trabalhadores do bandejão.

Giovanna Almeida, estudante de Direito e tesoureira do DCE explica: “Precisávamos fazer alguma coisa. Os trabalhadores não poderiam trabalhar sem receber, e os estudantes não poderiam ficar sem comer. Então nós mesmos fomos fazer o que os trabalhadores fariam. Ocupamos o bandejão, servimos a comida, lavamos a louça e organizamos a fila. Nenhum estudante pagou o bandejão em protesto à atitude absurda da empresa!”.

Diante dos desafios enfrentados pelos estudantes brasileiros no ensino superior, especialmente no que diz respeito à permanência e à assistência estudantil, é urgente a mobilização coletiva para exigir mais investimentos na educação. O governo diz que a educação é prioridade, mas basta olhar para onde vão os recursos públicos para escancarar a contradição.

A UFRJ, por exemplo, investe R$ 45 milhões por ano no sistema de alimentação. Esse valor é equivalente ao que é consumido em 11 minutos com o pagamento de juros e amortização da dívida pública. Para mudar essa realidade, é indispensável uma grande mobilização de massas, e os diversos casos relatados aqui demonstram que só conquista quem luta.

Matéria publicada na edição n°311 do Jornal A Verdade.

Josenildo Antônio: “Temos uma grande oportunidade de fazer uma greve geral”

O jornal A Verdade conversou com Josenildo Antônio, mecânico de manutenção de máquinas e diretor executivo do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Laticínios e Alimentação de São Paulo (Stilasp), responsável por acompanhar as bases na Região Metropolitana da capital paulista e realizar assembleias nas fábricas representadas pelo sindicato.

Entre elas, a Pepsico, onde os trabalhadores fizeram história ao deflagrar a primeira greve do país contra a escala 6×1, em novembro de 2024. Nesta entrevista, Josenildo relata como foi a mobilização, que, ao final, garantiu uma folga extra aos trabalhadores.

Cadu Machado | Redação


A Verdade – Como o Stilasp têm desenvolvido a luta contra a escala 6×1?

Josenildo AntônioTemos algumas bandeiras antigas do sindicato e uma delas era garantir nas convenções coletivas a mudança da escala de trabalho para que os trabalhadores folguem sábado sim, sábado não.

A legislação fala da jornada de trabalho de 44 horas de segunda a sábado, que é a escala 6×1. Mas nós já conquistamos acordos para que os trabalhadores tenham um pouco mais de folga, mesmo antes do movimento pelo fim da escala 6×1. Na indústria Panco, por exemplo, há mais de dez anos o acordo prevê a folga sábado sim, sábado não, a chamada semana espanhola.

Nos últimos anos, temos feito muitas greves na categoria e, às vezes, a gente consegue fechar na própria mesa de negociação porque o patrão sabe que a gente vai e faz a greve quando é necessário.

A greve é desgastante, mas é necessária, é a única ferramenta que a gente tem hoje para avançar, porque, se não houvesse a greve, a gente não teria como avançar. A gente só avança quando as máquinas estão paradas.

Quando as máquinas estão silenciosas, sem produção, o patrão começa a ouvir e dar um pouco mais de valor aos trabalhadores. Quando elas estão funcionando e a gente só está negociando, sem possibilidade de uma paralisação, não consegue avançar.

O que os trabalhadores pensam sobre essa pauta?

O fim da escala 6×1 é algo que tocou mesmo eles. É um sofrimento que os trabalhadores vêm tendo. Quando se trabalha no regime 6×1, não dá tempo para passear, não tem nem ânimo, porque no dia da folga, o trabalhador está cansado, está exausto.

Então, vivem exclusivamente para a empresa, não vivem para a família, não vivem para eles, não têm uma vida social, vivem exclusivamente para trabalhar. 

Pior ainda é trabalhar e receber um salário no final do mês que não dá nem para comprar o necessário e os alimentos, ou comprar algum objeto que ele tenha sonho ou vontade de comprar.

Mesmo a lei permitindo a escala 6×1, a gente tem o direito de lutar. Nós passamos isso para o trabalhador e eles aderiram à luta e à greve. Houve uma adesão muito grande dos trabalhadores.

Como foi o processo de construção da greve na Pepsico?

Antes de a gente fazer a greve na Pepsico, ia iniciar com uma multinacional também, a Dr. Oetker. Nós encaminhamos a pauta para as duas empresas para negociar o trabalho sábado sim, sábado não. Na Dr. Oetker, quando a gente mobilizou os trabalhadores e publicamos o edital de greve, eles pediram 15 dias para fazer uma avaliação. Nesses 15 dias, fizemos uma tratativa com a empresa e implantamos lá essa conquista.

Aí fomos para a Pepsico para mobilizar os trabalhadores. E hoje temos uma grande certeza: a pauta de reivindicar um descanso a mais é totalmente abraçada pelos trabalhadores porque eles estão exaustos. E eles só começaram a perceber que estão tão exaustos quando começou a se falar.

Quando começou a falar o fim da escala 6×1, deu o boom. Nós já tínhamos adesão antes, mas, quando se iniciou a campanha nas redes digitais e com os movimentos, os trabalhadores começaram a se conscientizar mais e começaram a ouvir e a se mobilizar. Nós fomos para a empresa, entregamos a pauta, negociamos, tivemos várias rodadas de negociação.

A Pepsico falou que era impossível implantar essa escala de sábado sim, sábado não. Nós insistimos, insistimos, até que não deu para fechar na mesa de negociação e nós publicamos um edital de greve. Comunicamos à empresa para dar o prazo de 72 horas para ela rever a postura e, mesmo assim, ela não voltou atrás, insistiu que não poderia mudar a escala do trabalho porque iria prejudicar a produtividade.

Fizemos a convocação, os trabalhadores toparam ir para a greve. Começamos a greve no domingo (24/11/2024). Decretamos a greve, os trabalhadores foram para casa e ficamos nove dias de greve.

Foi uma semana de greve e, na semana seguinte, fechamos um acordo no Tribunal. Os trabalhadores tiveram um dia a mais de folga no mês, que não foi o objetivo que a gente queria. Nós estávamos pleiteando no mínimo dois dias de folga a mais, mas foi uma conquista importante.

Seguimos negociando com a empresa, continuamos a negociação e, provavelmente, se a empresa não ceder em mais um dia de folga, pode ser que a gente tenha mais uma greve novamente na Pepsico, porque a gente não desistiu e os trabalhadores não desistiram, seguem na disposição de construir.

A greve da Pepsico também influenciou no fim da 6×1 em outras empresas. A Liotecnica, por exemplo, tem 600 trabalhadores e ela era o outro passo que a gente ia tomar. Nós tivemos a greve na Pepsico e comunicamos à empresa que a próxima seria ela. Tivemos uma reunião e eles pediram para a gente 30 dias para se adaptar e já vamos implementar lá também o sábado sim, sábado não.

Por que essa luta é tão importante?

Eu sou da Panco, uma empresa de biscoitos. Sou mecânico de manutenção. Lá nós criamos uma jornada de trabalho e mostramos que é possível manter a mesma produção trabalhando de segunda a sexta. O problema é a ganância dos empresários, que, se tiverem que sugar um dia ou dois dias a mais, mesmo que não tenha necessidade, vão fazer. 

No ano passado, teve mais de 500 mil trabalhadores afastados por doença psicológica. Eles estão doentes porque trabalham o mês inteiro sem folgar. Imagina como está a cabeça desse trabalhador. Ele não tem o direito de folgar, ele não tem o direito de descansar. Trabalha, ganha pouco… A gente ainda precisa lutar e avançar muito.

Qual é a reação dos trabalhadores depois dessas conquistas?

Nós temos relatos dos trabalhadores que eles estão muito contentes e muito satisfeitos. Vários trabalhadores mandaram mensagens falando que foram à praia depois de 15 anos, 20 anos de empresa. Eles não iam para a praia porque eles tinham só um dia de folga, então ficava muito cansativo ir e voltar. No primeiro dia de folga que eles tiveram no sábado, conquistado com a greve, a gente recebeu vários relatos e fotos deles agradecendo e falando que valeu a pena lutar.

A gente tem tido um retorno muito positivo dos trabalhadores, que estão reconhecendo ainda mais as conquistas alcançadas em nossas convenções coletivas. E isso foi conquistado com luta, com luta mesmo, com greve, com paralisação. 

Mas essa conquista de trabalhar a semana espanhola e poder ficar dois dias com a família, foi uma das que eles mais ficaram satisfeitos. A felicidade deles, o descanso deles, eles parecem que olham com mais brilho no olho da gente, começam a aderir mais, a confiar mais.

Você acha que essas greves e lutas influenciam na aprovação do Projeto de Lei no Congresso Nacional? 

Sim, influencia! Infelizmente, o movimento sindical está deixando uma bola quicando na frente do gol e não chuta. Quando a gente falava simplesmente da redução da jornada de trabalho, não havia empolgação dos trabalhadores. Agora, quando falamos do fim da 6×1, é impressionante: o trabalhador vibra, grita, levanta o braço, faz cara… é uma coisa muito impactante.

O fim da escala 6×1 é importante porque precisa haver redução da jornada sem cortar o salário. Não tem outro caminho. Eu acho que o movimento sindical está perdendo uma grande oportunidade de fazer uma greve geral. Essa pauta pode ser o impulsionador de uma greve geral, e a gente precisa avançar para que o projeto passe no Congresso, porque aí vira lei e todas as empresas do país vão ter que se adaptar.

Matéria publicada na edição n° 311  do Jornal A Verdade.

Pacientes e trabalhadores terceirizados de hospital sofrem com exploração

Terceirizados lutam contra exploração e falta de salários em hospital municipal do Rio de Janeiro.

Douglas Batista e Gustavo Vorage | Rio de Janeiro


BRASIL – A precarização da saúde no Município do Rio de Janeiro atingiu níveis catastróficos, com consequências brutais, tanto para os trabalhadores do setor quanto para a população. O que vemos, mais uma vez, é o Estado protegendo os interesses da burguesia e do setor privado, enquanto o povo morre nas filas de hospitais. Afinal, o lucro das iniciativas privadas depende da fragilidade e da escassez impostas ao setor público.

Em Irajá, o núcleo local da Unidade Popular (UP), em conjunto com o Movimento Luta de Classes (MLC), iniciou uma brigada semanal do jornal A Verdade no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles para dialogar com os trabalhadores e com a população, além de denunciar os absurdos que vivem os profissionais da área.

Os relatos denunciam o cenário humilhante que os trabalhadores vivenciam: uma confusão de gestão de múltiplas Organizações Sociais (OSs), servidores concursados realocados para outros setores para dar espaço à mão de obra mais barata, falta de insumos, condições de trabalho desumanas e até mesmo retaliação em caso de reivindicação por melhorias.

Recebemos um relato com foto de um dos pacientes que sofreu uma necrose nos tecidos do pé após um procedimento. Este não é o único caso absurdo. O mais trágico é o de Shirley D’Oliveira, que foi internada para um procedimento de retirada da vesícula no dia 14 de fevereiro. Durante sua internação, uma saga horrível de sofrimento se iniciou, que culminaria na morte da paciente. Primeiro, a pele ao redor do corte cirúrgico sofreu necrose. Depois disso, todos os pontos de seu corpo em que foram inseridas agulhas para aplicação de medicamentos e os curativos apresentaram o mesmo problema. 

Em extrema angústia, durante uma visita no dia 8 de março, Shirley relatou para sua cunhada que “se sentia podre” em vida. No dia 9, ela foi transferida para o Hospital de Piedade, onde permaneceu internada por semanas em estado grave enquanto os médicos tentavam salvar sua vida. Infelizmente, Shirley não resistiu.

Vemos aqui o que a entrega da gestão da saúde pública para a iniciativa privada provoca na população: descaso, sofrimento e morte. Uma trabalhadora saudável que fez um procedimento que deveria ser simples teve sua vida ceifada pela ganância de empresas terceirizadas.

Superexploração dos terceirizados

Um dos piores cenários dessa unidade de saúde é vivido pelos profissionais da limpeza empregados pela Construir Arquitetura e Serviços Ltda, uma empresa especializada em terceirização. De acordo com funcionários e pacientes do hospital, os trabalhadores da empresa ficaram mais de dois meses sem salário.

Entre dezembro e janeiro, a empresa não pagou os trabalhadores, deixando-os sem condições de arcar com suas contas. As denúncias demonstram ainda que a empresa mal se importa com a vida dos empregados, pois nem o vale alimentação é pago integralmente. 

No entanto, a empresa continua a receber verbas da Prefeitura, De acordo com o portal Contas Rio, só no ano de 2024 a Construir recebeu da Prefeitura R$ 1,5 milhão direcionados exclusivamente aos serviços prestados no Hospital Municipal Francisco da Silva Telles.

Para piorar, as denúncias recebidas pelo jornal A Verdade indicam que os funcionários acumulam até 10 anos de férias não pagas, além de não serem pagos o adicional de insalubridade, o décimo terceiro salário e com parcelamento em até vinte vezes os valores devidos a trabalhadores demitidos, sempre se recusando a fornecer qualquer explicação plausível sobre a situação caótica. 

Os trabalhadores relatam que não possuem acesso a EPIs e materiais básicos para executar suas funções. São, inclusive, obrigados a assinar a folha de recebimento dos equipamentos de proteção sem os receber. Até mesmo os insumos mais primários, como luvas e desinfetantes, não são entregues. Quando possível, os trabalhadores levam estes itens de suas próprias casas para garantir a higienização dos ambientes hospitalares. Os materiais de limpeza precisam ser diluídos em água para render mais. O mesmo ocorre com a equipe de enfermagem de outras empresas terceirizadas: são obrigados a trabalhar com materiais sujos, a não ser que paguem do próprio bolso pelas ferramentas de trabalho. A empresa assume o risco de prejudicar a saúde dos pacientes ao não fornecer sequer os produtos essenciais para a limpeza de espaços tão sensíveis.

Os funcionários frequentemente são coagidos e sofrem assédio moral. Em caso da impossibilidade de comparecer a um dia de trabalho por qualquer problema, por mais grave que seja, como doença ou alagamento na região onde residem, os trabalhadores são punidos e obrigados a executar suas funções em unidades de saúde muito distantes de seus locais de moradia. Ao tentar organizar uma greve para lutar por seus direitos, muitos funcionários são demitidos por justa causa. 

A Construir se aproveita da fragilidade de muitas mulheres trabalhadoras com uma idade, formação e gênero que as dificulta de conseguir emprego e se veem condenadas a trabalhar apesar da incerteza de recebimento de seus salários, porque a outra alternativa é a certeza do desemprego.

Em suas redes sociais, a empresa reproduz discursos claramente exploratórios, como um vídeo promocional com o título “Por que a terceirização é o melhor caminho”, onde reforçando as vantagens da terceirização para empresas, cita a “ausência de encargos trabalhistas” e “desburocratização de contratação” como benefícios para os grandes empresários. Enquanto isso, continua tratando seus funcionários com crueldade, ameaçando o sustento e a saúde daqueles que precisam do emprego para sobreviver.

Por conta da falta de limpeza e manutenção, a unidade de saúde está decadente e imunda. Recebemos relatos de um membro da equipe de enfermagem denunciando “o estado absolutamente insalubre dos ambientes hospitalares. Há sujeira por todos os lados e os materiais para manejo dos pacientes internados, como equipamentos para banho e limpeza pessoal, não são devidamente higienizados e esterilizados”.

Revolta dos trabalhadores

No dia 22 de janeiro, revoltados com a falta de dignidade imposta pela Construir, os trabalhadores da limpeza do Hospital organizaram de forma espontânea uma importante greve para pressionar os empregadores a quitarem os salários devidos.

Em apoio e solidariedade à luta, a Unidade Popular e o MLC promoveram um ato com agitação na porta do Hospital para fortalecer a paralisação, denunciando os absurdos que a empresa vem repetindo continuamente e exigindo o pagamento dos salários. No mesmo dia, conversamos com trabalhadores da Construir que estavam no local prestando serviços para a empresa. 

Joana (nome fictício) revelou que a empresa recrutou trabalhadores de outras unidades para garantir a limpeza, pagando as diárias. “Como que pode eles terem dinheiro pra nos pagar R$ 250,00 por uma diária, mas não tem para pagar os salários dos nossos colegas? É um absurdo o que eles fazem. Mas eu também preciso, por isso vim. Amanhã estão oferecendo mais R$ 250,00 para quem vier, estou pensando se venho novamente”, relatou a terceirizada.

Após o ato e a paralisação, a Construir pagou apenas metade do salário aos funcionários, evidenciando seu desprezo e escárnio pela vida dos trabalhadores, além da certeza da impunidade ao repetir a desumanização e a crueldade que pratica há anos. O Estado sempre mantém protegidos os interesses e privilégios da burguesia ao permitir que este drama se perpetue.

No mês seguinte, a empresa parecia ainda acreditar, muito ingenuamente, que os atos e as paralisações realizados até o momento seriam apenas ações isoladas e transitórias: atrasou mais uma vez os salários. Novamente, os trabalhadores foram à luta: novas mobilizações foram tocadas e um grande ato na porta da empresa foi planejado. O pavor que se instaurou foi tamanho que, um dia antes do ato, a Construir colocou o pessoal de seu escritório para trabalhar na limpeza do Hospital, além de pagar os salários que haviam atrasado.

Essas conquistas são fruto da luta dos trabalhadores em união com a Unidade Popular, mas ainda há muito pelo que se lutar: Os profissionais ainda estão sem receber os pagamentos de férias e adicionais de insalubridade, recebem um valor abaixo do devido no vale alimentação, continuam sofrendo ameaças de demissão caso se mobilizem e os materiais de limpeza não são garantidos. 

Após mais investigações, descobrimos que trabalhadores da Construir de outras unidades, como o Hospital Maternidade Alexander Fleming, em Marechal Hermes, na Zona Norte estão passando pela mesma situação. Com isso, também expandimos nosso trabalho de base para este local, envolvendo mais núcleos da Unidade Popular e abrindo novos pontos de brigada.

Manteremos nossa luta em conjunto com os trabalhadores do Hospital pelo tempo que for necessário, denunciando as condições degradantes que a privatização dos setores públicos gera na vida de tantos. Só a luta organizada e constante pode gerar vitórias para a classe trabalhadora!

Matéria publicada na edição n°311 do Jornal A Verdade.

Privatização da Corsan já deixou o povo sem água e aumentou os preços

Mesmo com problemas de abastecimento, a Aegea anunciou o aumento da tarifa de água no Rio Grande do Sul para 2025, deixando claro que sua preocupação principal não é garantir um serviço de qualidade e acessível para o povo.

Nícolas Behrens Leal | Charquadas (RS)


BRASIL – Desde que a Companhia Riograndense de Saneamento (Corsan) foi vendida para a Aegea, empresa privada líder em saneamento no Brasil, pelo governador Eduardo Leite (PSDB), o povo vem enfrentando diversas dificuldades em relação ao abastecimento de água e percebendo a piora da prestação deste serviço tão essencial. Apesar dessa realidade, a Aegea anunciou o aumento da tarifa de água para 2025, deixando claro que sua preocupação principal não é garantir um serviço de qualidade e acessível para o povo, mas precarizar cada vez mais os serviços da antiga estatal e lucrar cada vez mais em cima do desespero do povo e da desassistência às prefeituras.

Além da frequente poluição da água que chega às torneiras e do frequente desabastecimento, a prestadora sequer se compromete a prestar satisfações à população, não informando ou informando de maneira imprecisa o povo e o poder público sobre seus serviços. É o que vem acontecendo, desde janeiro, em diversos municípios gaúchos. Apenas para exemplificar: a Aegea já deixou mais de 56 mil pessoas sem abastecimento de água por três dias inteiros em Charqueadas e São Jerônimo, dois municípios próximos à Região Metropolitana de Porto Alegre.

Essa situação é recorrente em diversos locais do Brasil em que os serviços básicos à vida da população são precarizados em nome do aumento do lucro de alguns empresários, que compram empresas bilionárias construídas com dinheiro público por um valor muitíssimo abaixo do mercado. A verdade é que essa precarização é culpa do neoliberalismo econômico e político, que nada mais é do que uma série de medidas que servem para desfazer tudo o que é público e que garante qualidade de vida para todos os trabalhadores e substituir por empresas privadas que não se importam nem um pouco com a população.

Além disso, o processo de privatização da Corsan no Rio Grande do Sul foi extremamente antidemocrático, passou por cima de diversas irregularidades. Sob pressão de Eduardo Leite, contra a vontade do povo e ignorando os debates públicos, a empresa foi vendida por R$ 4,15 bilhões, mesmo sendo uma empresa pública altamente saudável na época da venda e avaliada em pelo menos R$7 bilhões, segundo estudo solicitado pelo Sindicato dos Técnicos Industriais de Nível Médio do Estado do Rio Grande do Sul (Sintec/RS). Durante o processo de privatização, deputados da oposição e o SindiÁgua apontaram outras irregularidades na ganhadora da licitação.

Tudo isso deixa claro que, para o governo do PSDB, a classe trabalhadora não é uma prioridade, ainda que seja a maioria da população. Esta é uma característica recorrente nos governos do sistema econômico e político em que vivemos, o capitalismo.

Todas as privatizações no brasil demonstram que o Estado burguês só serve para beneficiar os ricos e que a solução para isso é organizarmos nosso povo em luta para garantirmos uma nova sociedade e um futuro digno para os trabalhadores, que só pode ser construído com a edificação de um Estado socialista.

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Comunistas transformam prédio da tortura em lugar de memória

Ocupação do antigo prédio do DOPS-MG já dura mais de 50 dias e garante existência de espaço de memória em antigo local de tortura da Ditadura.

Rafael Morais | Belo Horizonte


BRASIL – Em 1958, no Centro da cidade de Belo Horizonte, foi construído o prédio que abrigaria o Departamento de Ordem Política e Social (Dops), criado para monitorar e reprimir as lutas que a classe trabalhadora e a juventude organizavam na capital mineira. A partir de 1964, o Dops se transformou em casa de tortura e morte, abrigando também o Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), comandado pelas Forças Armadas. Por lá passaram as melhores filhas e filhos do povo brasileiro, que viveram seus piores dias, sob as condições mais desumanas possíveis e, mesmo assim, resistiram bravamente.

Quase seis décadas depois, no último dia 1º de abril, o antigo Dops foi ocupado, por homens e mulheres de todas as idades, mas que carregavam uma mesma ideia. Ideia esta que, durante os anos da ditadura fascista, tentaram destruir. A ideia da transformação da sociedade, do fim da fome e da exploração, a ideia que caracteriza os que a defendem pelo nome de COMUNISTAS.

A ocupação do prédio (que deveria ser um memorial sobre os fatos que ocorreram durante a ditadura militar fascista) tem uma significação enorme para todos nós que vivemos hoje em luta. O local guarda memórias difíceis, locais que transmitem a dureza e a desumanização que a burguesia é capaz de impor aos que ousam contrariar sua ordem. Salas de interrogatório e torturas assistidas, celas solitárias de todos os tamanhos.

Reocupar um local que servia para a dor, a tristeza, voltado a desmoralizar os militantes que passavam por lá e que agora passa a ser dirigido pelos comunistas, com suas salas recebendo leituras coletivas das obras do marxismo, suas paredes projetando filmes que relataram a luta contra a ditadura, é parte da luta pelo socialismo. Outro ponto de imenso orgulho é receber os ex-presos políticos que sobreviveram às violências no Dops e, desta vez, chegam ao local de cabeça erguida, orgulhosos de suas histórias, compartilhando com as novas gerações.

Honrar essa história e manter vivo este legado é tarefa de quem compreende o passado, sabe da responsabilidade do presente e de como tudo isso repercuti às gerações futuras. Por memória, verdade, justiça e reparação! Lutar para que nunca que se esqueça e não mais aconteça!

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Abril foi marcado pela luta por memória, verdade e justiça

Atos em todo país lembraram a luta contra a Ditadura Militar Fascista e exigiram punição para torturadores e golpistas.

Redação


BRASIL – No mês em que se completaram 61 anos do golpe militar de 1964, os militantes políticos que lutam por memória, verdade e justiça deram mais uma prova de como estas bandeiras seguem cada vez mais vivas. Atos em repúdio ao golpe foram realizados em praticamente todas a capitais brasileiras no dia 1º. Um destaque foi a ousada ação de militantes do Partido Comunista Revolucionário em Belo Horizonte (MG), que ocuparam (e ainda permanecem) a sede de um antigo centro de torturas (ver crônica abaixo).

No mesmo dia, aconteceu uma sessão especial do Conselho Superior da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), que aprovou um requerimento pela diplomação post mortem de três de seus ex-alunos assassinados pela ditadura: Manoel Lisboa de Moura (PCR), Gastone Lúcia Beltrão (ALN) e José Dalmo Lins (PCB). A dos conselhos ficou lotada de estudantes, militantes, professores, familiares e ex-presos políticos, entre eles, Edival Nunes Cajá, representando o Comitê Central do PCR, que fez uma exposição sobre a luta de Manoel Lisboa. Destaque também para a presença de Iracilda Moura, sobrinha de Manoel e professora da instituição. Em novembro, será realizada a solenidade de diplomação durante a Bienal do Livro da UFAL, em Maceió.

Já em João Pessoa (PB), nos dias 11, 12 e 13 de abril, realizou-se o 9º Encontro de Comitês e Comissões por Memória, Verdade e Justiça do Norte-Nordeste. O evento se deu num momento bastante propício na capital paraibana, pois o Ministério Público da Paraíba ajuizou uma ação civil pública para que a Prefeitura de João Pessoa e a Câmara Municipal adotem, no prazo de 90 dias, medidas legais para a renomeação de ruas, avenidas, edifícios e instituições públicas que ainda homenageiam pessoal ligadas à ditadura militar, seguindo as recomendações da Comissão Nacional da Verdade.

“O encontro foi um êxito completo. Todos os participantes trabalharam em cinco grupos temáticos para concluir, de forma unitária, inspirados nos heroicos exemplos de João Pedro Teixeira, de Nego Fuba, Pedro Fazendeiro e Elizabeth Teixeira (que com seus 100 anos de vida, foi homenageada no Encontro), exigindo do atual Governo Federal que aplique, sem vacilação, a Justiça de Transição. Isto é, que puna exemplarmente todos os golpistas de 1º de abril de 1964 e de 08 de janeiro de 2023, para que não se repitam nunca mais ditaduras militares a serviço do grande capital do Brasil e dos Estados Unidos e do fascismo. Durante 21 anos, um Estado terrorista assassinou mais de 10 mil brasileiros e brasileiras e tudo isso impune até hoje. Por isso, é urgente a reinterpretação da Lei da Anistia por parte do Supremo Tribunal Federal”.

O 9º Encontro foi concluído com a aprovação da Carta, já convocando o 10º Encontro. Ainda foi realizada uma visita ao Memorial das Ligas Camponesas em Sapé.

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Deputado Glauber Braga enfrenta golpistas que querem cassar seu mandato na Câmara Federal

Glauber Braga percorre o país denunciando a perseguição política patrocinada por deputados fascistas e do Centrão.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Desde abril do ano passado, o deputado socialista Glauber Braga (PSOL-RJ) é vítima de um processo de perseguição política liderado pelo ex-presidente da Câmara Federal, o latifundiário de direita Arthur Lira (PP-AL), em conluio com provocadores do Movimento Brasil Livre. O deputado socialista é acusado de ter quebrado o decoro parlamentar por ter reagido a agressões realizadas por um provocador fascista, que xingava sua mãe, à época, em condições de saúde críticas. A mãe de Glauber faleceu alguns dias depois do episódio.

Desde então, Lira, que é o principal líder do Centrão (grupo de cerca de 300 deputados de direita que vivem do esquema do orçamento secreto), articulou a aprovação da cassação de Glauber, que foi aprovada no Conselho de Ética da casa no último dia 9 de abril.

O relator do processo, deputado Paulo Magalhães (PSD-BA), e os outros 13 membros do Conselho que votaram pela cassação foram, de acordo com fontes do Congresso Nacional ouvidas pela nossa reportagem, previamente contatados pelo ex-presidente da Câmara para garantir os votos necessários para dar seguimento à cassação. 

Durante a sessão do dia 09, os parlamentares que defendem o mandato democrático de Glauber tentaram obstruir a votação, mas os deputados do Centrão se utilizam de manobras regimentais para acelerar o processo.

“Vou permanecer aqui nessa sala da Comissão e no Congresso Nacional até o fim do processo e, a partir de agora, não vou me alimentar. Vou seguir aguardando aqui com uma decisão irrevogável de que não vou ser derrotado pelo orçamento secreto”, anunciou Glauber. Além da greve de fome, ele também agora recorreu à Comissão de Constituição e Justiça, último passo antes de o processo seguir ao plenário da Câmara. 

Agora, o deputado socialista percorre todo país denunciando a perseguição politica e mobilizando militantes e apoiadores para pressionar os deputados do Centrão a votarem contra a cassação. Glauber já percorreu sete estados do país e se prepara para percorrer as demais 20 unidades da federação.

Por que o perseguem?

O deputado, que está no seu quinto mandato, tem se destacado pela defesa de pautas históricas da classe trabalhadora. Sem ter vergonha de se apresentar como um militante socialista num Parlamento cheio de fascistas, ele tem defendido o fim das privatizações, a auditoria da dívida pública, as reformas agrária e urbana, além de uma série de pautas históricas da esquerda socialista. Além disso, Glauber defende a luta contra a escala 6 x 1, a redução do preço dos alimentos, o aumento do salário mínimo e a luta pela punição dos fascistas e golpistas.

Mais recentemente, o deputado tem enfrentado o esquema do orçamento secreto, que tira R$ 50 bilhões do orçamento público e entrega para deputados e senadores poderem utilizar em esquemas de corrupção espalhados pelo país. Já há mais de uma dezena de investigações da Polícia Federal apontando que deputados que receberam emendas do orçamento secreto utilizaram esse recurso para obras superfaturadas, projetos inexistentes e para compra de votos durante o período eleitoral. O próprio relator do processo contra Glauber está na lista de investigados da PF.

Esse esquema é hoje uma das principais bases de sustentação do controle do Centrão sobre o Congresso Nacional e várias áreas do Governo Federal. Glauber tem denunciado todos os dias o envolvimento de Arthur Lira e vários deputados do Centrão nesses esquemas. No plenário da Casa, em suas redes digitais e com agitações políticas nas ruas do Rio de Janeiro, o deputado tem apontado os nomes. A cassação, portanto, é uma resposta dos deputados milionários do Centrão à atuação de Glauber.

Impunidade para fascistas

Não bastasse toda a armação durante a sessão do Conselho de Ética, a hipocrisia dos deputados de direita e fascistas ficou ainda mais evidente com o avanço do processo de cassação. Ao contrário de Glauber, mais de uma dezena de deputados fascistas do PL não receberam nenhuma punição por defenderem a ditadura militar fascista e fazerem apologia à tortura e até ao nazismo. A deputada fascista Carla Zambelli, até hoje, não foi punida no Congresso por ter perseguido, com uma pistola, um homem negro nas ruas de São Paulo na campanha eleitoral de 2022.

O caso mais absurdo é de Chiquinho Brazão, acusado de ter mandado matar Marielle Franco e já condenado pela Justiça. Até agora, seu processo de cassação não foi votado no plenário da Câmara. 

O processo contra Glauber Braga é só um pretexto dos fascistas e do Centrão para perseguir quem defende propostas socialistas na sociedade. Na prática, o processo é um golpe contra a democracia e o voto de 78 mil eleitores do Estado do Rio de Janeiro. É preciso continuar a mobilização firme e combativa para barrar o processo de cassação.

Matéria publicada na edição n° 311 do Jornal A Verdade.

Montadoras de veículos no ABC Paulista apontam para mais uma onda de demissões em massa

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Trabalhadores do ABC Paulista enfrentam insegurança crescente com possíveis demissões em massa e paralisações em montadoras como Scania e Volkswagen. Empresas adotam férias coletivas e “stopdays” como medidas pautadas pela busca implacável por aumento dos lucros. Cenário histórico de cortes evidencia a urgência da organização operária contra a exploração capitalista.

Karol Vilela – MLC SP


A Scania, montadora de caminhões localizada no ABC Paulista, anunciou férias coletivas aos trabalhadores a partir do dia 10 de julho. Já na semana do 1º de maio, Dia Internacional dos Trabalhadores, a empresa implementou o chamado “stopday”, uma parada programada da produção durante 2 dias na semana, devido à queda do mercado e da arrecadação da multimilionária. Essas decisões são um indicativo de uma nova possível demissão em massa dos quase 6 mil funcionários, sendo 3000 diretamente ligados à linha de produção.

“O clima é de tensão” — contou uma trabalhadora da fábrica — “Todos nós percebemos a diferença entre o começo do ano e agora. Tínhamos uma previsão de trabalho no começo e agora no meio do ano não temos mais segurança de nada, não sabemos se vamos manter nossos empregos, se vamos conseguir sustentar nossas casas, colocar comida na mesa”, lamenta.

A empresa alega queda de 28% de produção devido ao agravamento das taxas de juros e baixa demanda, mas seguindo o padrão de outras montadoras, as paradas de produção para o patrão significam segurar os meios de produção e cortar funcionários para continuar explorando o máximo possível. Enquanto os trabalhadores não sabem como vão sustentar suas famílias no mês seguinte, os grandes empresários usam diversos recursos para manter suas fortunas e riquezas protegidas e crescendo. No mundo do trabalho no sistema capitalista, não há perdas para o patrão.

Cenário de alerta para o proletariado

Desde a última grande crise do sistema capitalista em 2008, que assolou a economia mundial e dizimou inúmeros postos de trabalho, temos acompanhado as suas sequelas ano após ano: saída das montadoras de veículos do território brasileiro, demissões em massa, corte de áreas produtivas, paradas “programadas” da produção, terceirizações. Conforme avança a exploração da classe capitalista internacional, o setor operário brasileiro não tem fôlego para recuperação e entra ano e sai ano temos notícias dos processos de cortes de funcionários aos montes.

Em 2022, a Mercedes-Benz anunciou o corte de 3600 funcionários da sua fábrica principal, o que representava 36% do seu quadro total de funcionários. A realocação dos funcionários foi conquistada na luta, mas diversos setores da fábrica foram fechados e alguns terceirizados. Em 2022, a Volkswagen também anunciou o corte de mais de 2300 funcionários da sua fábrica. A General Motors e a Bridgestone também anunciaram cortes de centenas de funcionários.

Em 2021, a Ford anunciou o encerramento das atividades no Brasil justificando uma reestruturação global para melhorar sua rentabilidade. Cerca de 5000 funcionários perderam os seus postos de trabalho o que significou para a empresa bilionária uma economia de 4,1 bilhões de dólares. O stopday, férias coletivas, aposentadoria voluntária são um prelúdio para o encerramento de contratos, como aconteceu nas outras montadoras. Apenas com a organização dos trabalhadores é possível mudar essa realidade.

Chão de fábrica é trincheira de batalha

A Scania, assim como a Volkswagen, é marcada pelo apoio à aparelhos de repressão desde o início da Ditadura Civil-Militar e perseguição aos trabalhadores com a “lista suja de subversivos”. A greve na Scania foi um importante passo no processo de redemocratização do Brasil após o regime militar e, assim como conta a série de reportagens produzidas pelo site Opera Mundi, “Scania e a ditadura militar”, os trabalhadores da Volks e da Scania lutam pelo processo de reparação da Verdade, Memória e Justiça desse período.

Assim como o fim da Ditadura Militar foi fruto da luta do povo, a soberania do setor operário nacional e a garantia dos postos de trabalho só serão garantidos com a dos próprios trabalhadores. Podemos conquistar a redução da jornada de trabalho, o aumento do salário-mínimo, criação de diversos postos de trabalho e a sociedade livre da exploração, a sociedade socialista. A classe operária tem nas mãos as ferramentas da libertação das garras desse sistema apodrecido que só pensa no lucro. Uma grande greve geral é o caminho para a mudança da sociedade, portanto é uma tarefa imediata de todos: organizar a classe trabalhadora para lutar pelos seus direitos e pelo socialismo.

CARTA | Na luta se encontra sentido para vida

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Em carta ao jornal A Verdade, brigadista argumenta: “Enquanto a burguesia defende que o sentido da vida é individual, meritocrático, minha história — e a história dos jovens e trabalhadores em geral — demonstra que a realidade é na direção contrária. Só a luta coletiva pode dar sentido à vida.”

Junior de Sousa | Suzano (SP) 


A periferia de Palmeiras está localizada na cidade de Suzano, no Alto Tietê, estado de São Paulo. É aqui que moro desde o dia em que nasci. Nunca foi fácil crescer por aqui — como não é em nenhuma periferia do nosso país.

A quebrada sempre foi um lugar onde a violência se impõe de todas as formas. Tudo começa com a ausência proposital de acesso à cultura, ao lazer, à saúde, ao saneamento e à educação — uma exclusão planejada pela burguesia. Aqui, a violência policial é regra, e o respeito à dignidade da classe trabalhadora, exceção.

Nesse contexto muito cedo comecei a minha buscar pelo sentido da vida.

Ainda criança, numa noite de domingo chuvosa, vi uma cena que me marcou profundamente. O céu estava escuro. Olhei pelo portão de casa e vi um senhor negro, retinto, de cerca de 50 anos, caminhando com dificuldade e recolhendo papelão em meio ao temporal. Ao ver sua expressão de sofrimento, fechei os olhos e desejei, com todas as forças, que aquela chuva parasse.

Pensei naquilo por meses. E concluí: a vida não fazia sentido. Se estar vivo era estar entregue à miséria e ao sofrimento, por que continuar vivendo?

No ano seguinte, encontrei um livro esquecido no fundo da biblioteca da escola — “Batismo de Sangue”, de Frei Betto. Foi minha primeira leitura revolucionária, aos 12 anos.

A obra narra a participação dos frades dominicanos na luta contra a ditadura militar, nos anos 1960 e 70. Eles apoiaram a resistência armada contra a ditadura através da Ação Libertadora Nacional (ALN), liderada por Carlos Marighella.

Terminei o livro e decidi fundar um grêmio estudantil. Queria ser como Marighella — mesmo sem talento para a poesia, nem para as letras. Ali começou a florescer minha consciência de classe. E o dia a dia tratou de fazer essa semente crescer e desabrochar: a vontade de lutar a batalha que é simplesmente existir em um mundo marcado pela exploração.

Ao ler sobre as prisões, torturas e mortes enfrentadas por esses revolucionários, compreendi que o sentido da vida deveria ser muito mais profundo do que eu imaginava. Aqueles camaradas me ensinaram que o sentido da vida podia — e devia — ser coletivo. Sem saber, eu havia descoberto ali um dos princípios da moral comunista. Essa nova moral se baseia na valorização do bem coletivo, na igualdade entre as pessoas, na solidariedade entre os trabalhadores e na rejeição da exploração do ser humano pelo ser humano. Como dizia o comandante Che Guevara, “o indivíduo se desumaniza aos poucos; acaba por se converter em uma engrenagem de uma máquina, perde sua condição de ser humano completo. Isso acontece no capitalismo. No socialismo, por outro lado, é preciso transformar as consciências, criar o homem novo.”

Com tudo isso na cabeça ainda em reflexão, o grêmio nasceu. E nos anos seguintes, vieram muitas lutas: as Jornadas de Junho de 2013; piquete estudantil na porta da escola que estudava, em 2014, pela destituição da direção escolar; as ocupações das escolas em 2015, contra o seu fechamento; a ocupação do Centro Paula Souza, em 2016, contra o roubo da merenda; as mobilizações pelo Fora Temer e contra as reformas trabalhista e da previdência, em 2017, e muitas outras.

Foi também em 2017 que, viajando num vagão da Linha 10–Turquesa (ABC Paulista), conheceria um militante chamado João, da UJR (União da Juventude Rebelião). Ele usava um colete branco com os dizeres: “Unidade Popular – Pelo Socialismo” e certamente contribuiria para os meus próximos passos.

Ao discursar habilmente em menos de três minutos, sendo direto e bolchevique, explicou como o capitalismo era incapaz de atender às necessidades da classe trabalhadora, a urgência de acabar com a exploração, de tomar os meios de produção, e a então necessidade existente de fundar um novo partido de esquerda radical, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP). No fim, pediu que quem se interessasse pela legalização do partido assinasse uma ficha. Levantei a mão e assinei.

Por cinco anos, não acompanhei o desenrolar dos fatos.

Em 2022, atravessava o pior momento da minha vida. Enfrentava uma depressão severa, conflitos familiares graves, e estava à beira de desistir de tudo. Foi quando decidi voltar à luta, por meio das jornadas do “Povo na Rua, Fora Bolsonaro” impulsionadas pela UP.

Com muita alegria descobri que o partido cuja fundação eu havia apoiado havia realmente sido fundado. Conheci uma militante chamada Camu, que logo me convidou para um protesto do 7 de setembro na cidade de Mogi das Cruzes. Depois, participei de uma plenária de apresentação e, com muito orgulho, me filiei ao partido que eu mesmo havia ajudado a fundar.

No começo, os núcleos da minha região eram pequenos. Mas o trabalho cresceu em ritmo acelerado. Em poucos meses, assumi a tarefa de coordenador do núcleo na minha cidade — e desde então, inúmeras lutas foram travadas e seguem acontecendo. Os tempos mudam, nossas tarefas também. Logo menos um novo camarada estava em meu lugar.

Junto ao partido organizei e participei de várias ocupações, manifestações, panfletagens, brigadas do Jornal A Verdade, Greves, vi lutas nasceram, se desenvolveram e darem frutos.

Conheci a história de heróis que deram suas vidas pela revolução, e, pude começar a sentir orgulho de compor as mesmas fileiras de Manoel Lisboa de Moura, Amaro Félix, Amaro Luiz, Manoel Aleixo, Emmanuel Bezerra, Selma Bandeirae tantos outros.

Meus camaradas se tornaram minha família. Minha vida se fundiu à luta.

Sou grato por estar do lado certo da história, de lutar pelo poder popular e pelo socialismo.

No final de contas compreendi que nossa vida não tem sentido até que a gente dê um sentido para ela.

A luta cria o sentido para a vida, e, a vida cria o sentido para a luta.

PREFEITURA DE JOÃO PESSOA (PB) DESPEJA FAMÍLIAS NA BARRA DE GRAMAME

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Gramame, bairro da zona sul de João Pessoa (PB) é alvo da especulação imobiliária e tem enfrentado uma série de perseguições por parte do governo local, que procura garantir aos empresários a terra, enquanto reprime os movimentos sociais e a sociedade civil organizada da região.

 

Redação Paraíba

 

Movimentos sociais resistem contra desmandos do governo local em Gramame, João Pessoa (PB)
Movimentos sociais resistem contra desmandos do governo local em Gramame, João Pessoa (PB). Foto: Redação JAV (PB)

 

LUTA POPULAR- O coletivo Nosso Lugar em Gramame, localizado na região sul da cidade de João Pessoa, é uma organização que protagoniza o debate socioambiental e o direito à moradia, promovendo atividades públicas na região do Parque do Cuiá e Barra de Gramame. Na manhã do dia 09/05, houve um violento despejo da sede da associação e residência de moradores da região, sendo mais um de vários que vêm acontecendo nos últimos meses, fruto do avanço da especulação imobiliária e da concentração fundiária na mão de poucos empresários da cidade. O Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) têm se somado às mobilizações para fortalecer as lutas e fazer essa denúncia juntamente ao coletivo.

 

O Plano Diretor da cidade de João Pessoa, aprovado no fim do ano de 2023, decidiu pela entrega da região do bairro de Gramame à iniciativa privada, incentivando o processo de especulação imobiliária. Até então, o bairro fazia parte da zona rural da capital paraibana. Na época, a associação construiu uma resistência organizada, sendo uma das vozes mais ativas contra o plano. Recentemente, moradores denunciaram a atuação das grandes construtoras e grandes proprietários de terra do local, a exemplo de grilagem, expulsões arbitrárias, ataques ao meio ambiente e um absurdo acúmulo de terras[1].

 

Numa programação do Domingo Vermelho do MLB que ocorreu na sede do coletivo no dia 04/05 os mais de 30 moradores presentes discutiram os impactos da especulação imobiliária e o descaso geral da prefeitura ao bairro, que apenas recentemente passou a ser atendido de forma parcial com iluminação pública, e continua não tendo acesso à água, saneamento e aos transportes coletivos, que só realizam 3 viagens por dia. É preciso tornar evidente essa contradição: os moradores se organizam para garantir seus direitos à moradia e denunciar as condições precárias do bairro, e a prefeitura, que deveria estar à serviço de sua população, responde a essa organização com violência e despejo.

 

 

Despejos a serviço de quem?

 

A sede da associação já estava sob ameaça de despejo desde que o antigo interventor da reitoria da UFPB, Valdiney Gouveia, apresentou documentos que alegavam a posse da propriedade por sua família há mais de 35 anos. Mesmo com o coletivo ocupando e exercendo função social naquele terreno desde 2019, o processo de reintegração de posse não permitiu uma audiência para que os moradores e membros do coletivo pudessem apresentar os documentos comprobatórios da ocupação do terreno, mantendo assim, a ordem de despejo. Do mesmo modo, diversas famílias foram vítimas de despejo dos lugares em que vivem há anos, sendo, por vezes, intimidadas e agredidas pela presença de policiais civis e militares armados. Em um dos relatos, sem apresentar documentação apropriada ou processos de reintegração de posse, um suposto dono da propriedade e um policial militar demoliram uma moradia com um trator. O policial chegou a atirar e matar o cachorro dos moradores.

 

 

A luta continua!

 

Para o Jornal A Verdade, Manu Correia, cofundadora do coletivo Nosso Lugar em Gramame e militante do MLB, afirmou que “A nossa perspectiva é reconstruir uma nova sede, institucionalizar o coletivo, promover a alfabetização para as pessoas da Barra, aumentar as atividades educativas e de conscientização no Parque Natural Municipal do Cuiá, além de lutar com mais força por moradia digna. O MLB tem nos ajudado na assessoria jurídica, na conscientização política das pessoas, na construção de unidade entre a comunidade e no apoio às atividades pela luta por direitos.”

 

As atuações do MLB na Paraíba nos mostram que é possível propor um projeto diferente para o povo paraibano, do que o projeto burguês. Enquanto nos empurram o despejo, a especulação imobiliária e a gentrificação, nós respondemos com moradia popular, redes de apoio, e luta pelos direitos dos trabalhadores e pelo socialismo.

 

 

 

COM LUTA, COM GARRA, A CASA SAI NA MARRA!

PELO DIREITO À MORADIA, VIVA O MLB!

 

 

[1] Apenas um proprietário detém 841 propriedades na região.

Mesmo após perseguição, trabalhadores da SESÉ conquistam Assembleia

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Após perseguição e demissão de um trabalhador que lutava pelo direito dos terceirizados da Volkswagen, em São Carlos (SP), de serem representados na Comissão de Negociação, operários conquistam uma Assembleia. Isso porque nem o direito de eleger seus representantes vinha sendo permitido, o que só foi possível através da luta. A mobilização na categoria segue firme pela valorização dos terceirizados, contra a demissão injusta e pelo direito de se organizarem.

Redação SP


Após perseguição e demissão de um trabalhador que lutava pelo direito dos terceirizados da Volkswagen, em São Carlos (SP), de serem representados na Comissão de Negociação, operários conquistam uma Assembleia. Isso porque nem o direito de eleger seus representantes vinha sendo permitido, o que só foi possível através da luta. A mobilização na categoria segue firme pela valorização dos terceirizados, contra a demissão injusta e pelo direito de se organizarem.

A Assembleia Geral, que aconteceu nesta segunda-feira (12/5) devido à luta realizada pelos trabalhadores da SESÉ Logística juntos com o Movimento Luta de Classes (MLC), foi feita para eleger a Comissão de Negociação da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) deste ano.

Fruto de muita luta, panfletagens, agitações e organização dos operários, os terceirizados conquistaram esse espaço, que aconteceu na troca entre o 1º e 2º turno da fábrica, para eleger um representante.

Isso representa uma vitória importante para a categoria que, como relatou o jornal A Verdade, se organiza desde o começo de abril contra a implementação de uma escala 6×1 na Volkswagen, além da associação do PLR a metas produtivas.

Trabalhadores organizados realizam panfletagens contra perseguição política. Foto: JAV/SP.
Trabalhadores organizados realizam panfletagens contra perseguição política. Foto: JAV/SP.

Porém, a categoria continua lutando por mais democracia nas Assembleias, contra a perseguição política que aconteceu na fábrica e contra a recente proposta de negociação recebida da SESÉ.

Terceirizados querem mais democracia nas Assembleias

Ronaldo*, operário da fábrica há vários anos, relata um descontentamento com a forma como a eleição aconteceu: “Essa Assembleia só aconteceu por conta da pressão dos trabalhadores e do MLC. Mas tinha que ter acontecido uma eleição com mais candidatos, o Alessandro já tinha se candidatado. Demitiram ele porque a empresa não queria ele como representante.”

Gabi*, que também trabalha na fábrica de motores de São Carlos, conta que faltou transparência na realização da Assembleia: “Queremos uma Assembleia às claras. Queremos que falem pra gente quando as coisas vão acontecer e como vão acontecer. Não queremos representantes que escondam nada da gente!”

De fato, essa Assembleia Geral, mesmo representando uma conquista muito importante dos operários em luta, foi convocada poucos minutos antes da troca de turno, pegando todos de surpresa.

E é claro que isso não beneficia os trabalhadores. Para a Assembleia ser verdadeiramente democrática, precisamos saber de antemão os pontos que serão discutidos, receber a convocação dias antes dela acontecer, e realizá-la em um horário em que estejam presentes todos os turnos.

Proposta da SESÉ para o PLR enfurece operários

Além disso, nesta quarta-feira (14/5), a SESÉ apresentou sua primeira proposta para o PLR deste ano. A amarração do sábado produtivo ao PLR foi barrada pela luta dos operários – mais uma conquista da classe em luta!

Porém, os gananciosos patrões da SESÉ apresentaram vários descontos no salário para o vale-refeição (VR) e o vale-transporte (VT), além de amarrarem o PLR à quantidade de atestados médicos que o trabalhador apresentar.

“Amarrar o PLR à quantidade de atestados médicos é um crime, isso não pode ser feito! O trabalhador não escolhe ficar doente, então por que a SESÉ quer descontar o que é nosso direito por causa disso?”, disse indignado Alessandro, operário da fábrica que sofreu perseguição política por lutar pelos terceirizados.

Outros operários notaram rapidamente que os descontos do VR e VT podem chegar a até 200% para alguns setores. Em média, os descontos representam 80% do valor anterior.

Num país onde a classe trabalhadora, por ganância dos capitalistas, está sofrendo com preços altos dos alimentos, esses descontos no salário representam um ataque à vida desses trabalhadores.

“Nosso ticket é muito baixo, não tem condição. Minha salvação é que minha filha mais nova parou de usar fralda. Antes, eu não sei nem como eu conseguia pagar as contas de aluguel, luz, água, comida e tudo mais. Meu VR ia inteiro pra fralda e leite”, lamenta Gabi.

A luta contra a perseguição política

A readmissão de Alessandro é mais um ponto que os terceirizados estão reivindicando. A Comissão de Negociação pode e deve exigir que esse operário, demitido por lutar pelo seu direito de ser eleito à negociação, seja readmitido.

A SESÉ demitir um trabalhador que estava se organizando para negociar melhores condições para si e seus colegas deixa bem claro o que essa empresa mais teme: a organização dos terceirizados, os trabalhadores se juntarem para exigirem aquilo que mais querem. É, no fundo, uma tentativa de intimidação aos operários.

É o que pensa Ronaldo: “O pessoal está com medo por causa da demissão, que foi proposital, foi um exemplo de perseguição política dentro da fábrica para intimidar os operários. Mas temos que exigir a readmissão do Alessandro. Aí vamos mostrar que não podem intimidar quem luta.”

* Nomes fictícios para proteger os trabalhadores