UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quarta-feira, 20 de agosto de 2025
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Movimento de Mulheres Olga Benário convoca seu 3º Encontro Estadual em São Paulo

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A coordenação estadual de São Paulo do Movimento de Mulheres Olga Benário faz sua convocação para o 3º Encontro Estadual nos dias 21 e 22 de junho para organizar e crescer o movimento revolucionário pelas mulheres no Brasil.

Coordenação Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benário – São Paulo


MULHERES – A coordenação estadual do Movimento de Mulheres Olga Benário em São Paulo convoca todas as mulheres trabalhadoras, estudantes, mães, jovens, negras, indígenas e PCD a participarem do 3º Encontro Estadual do Movimento de Mulheres Olga Benário, que acontecerá nos dias 21 e 22 de junho, sob as palavras de ordem: mulheres em luta pelo fim da violência, da fome e da escala 6×1! Fora Tarcísio fascista! Pelo poder popular e o Socialismo!

Mulheres trabalham mais e sofrem mais com a exploração

A crise do sistema capitalista tem aprofundado as contradições entre os ricos e a classe trabalhadora, aumentando as desigualdades sociais, concentrando riqueza de um lado e fome, miséria e desemprego de outro. No Brasil, as mulheres são as mais exploradas: com a escala 6×1 e as terceirizações, com os menores salários, com a violência do Estado e do sistema que a cada 4 horas assassina uma mulher no país. São as mulheres negras que têm seus filhos violentados pela polícia todos os dias!

O Brasil é o 5º país do mundo que mais assassina mulheres, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada. São apenas 11 Delegacias da Mulher 24h no estado de São Paulo e os serviços de acolhimento estão sendo cada vez mais sucateados.

No estado de São Paulo, o governador fascista Tarcísio de Freitas desmonta os serviços públicos, quer terceirizar e privatizar serviços essenciais, acabando com a estabilidade das trabalhadoras e humilhando os que precisam do SUS, da educação e do transporte públicos, e da assistência social, como aconteceu com Lourivaldo Ferreira Silva Nepomuceno, 35 anos, esmagado na linha privatizada do metrô.

3º Encontro Estadual e encontros regionais

Por isso, o Movimento de Mulheres Olga Benário tem travado importantes batalhas contra o fascismo, organizando ocupações, manifestações, abaixo-assinados, cursos e núcleos para vencer a política de morte e construir o poder popular.

Em sua convocatória, afirma: “Com esta realidade, está posto que precisamos aumentar ainda mais nossa influência entre as mulheres trabalhadoras, fazer nosso movimento ser amplamente conhecido, ser porta-voz e instrumento de luta das mulheres da nossa classe”.

Ainda acrescenta: “Isso significa que precisamos desenvolver nossa organização, consolidar nossos núcleos, coordenações de núcleos e coordenação estadual e desenvolver nossos planejamentos e lutas sistematicamente! Não podemos mais nos contentar com os núcleos que existem, nem com a realidade que vivemos”.

Neste contexto e no ano que antecede os 15 anos do movimento, convoca seu 3º Encontro Estadual, com a tarefa de eleger uma nova coordenação estadual e aprofundar o debate sobre a forma de organização para fazer frente a essa conjuntura e a necessidade da construção diária, sistemática e contínua de seus núcleos de base e das lutas das mulheres.

A construção material e política dos encontros

O papel dos núcleos e suas coordenações nas regiões é muito importante para a totalidade do trabalho no estado, pois é através deles que o Movimento se ampliou para mais regiões do estado, chegando no litoral e em mais cidades do interior. Por isso, também serão organizados encontros regionais para ampliar a divulgação do movimento e poder construir encontros massivos nos bairros onde tem atuação.

A convocatória finaliza afirmando quais as tarefas de cada militante e núcleo do movimento na construção do encontro: “é papel de cada núcleo construir o Encontro Estadual, iniciando através da mobilização para os encontros regionais em que devemos divulgar amplamente com panfletagem, lambes e cartazes, convidar apoiadores para contribuírem com nossos debates, e levantar recursos de forma criativa”, como por exemplo, “apresentando o encontro para apoiadores, fazendo rifas, brechós, venda de materiais e outras atividades de finanças”. Por fim, o Movimento lança o desafio e a meta de cada núcleo do movimento arrecadar R$ 100 para garantir a estrutura do encontro estadual.

Assim, a construção do encontro já se iniciou por meio dos debates que o movimento tem realizado em cada um de seus núcleos, e que vai se desenvolver ainda mais com mais mulheres organizadas no movimento. A construção dos encontros é uma oportunidade para avançar a consciência de mais mulheres sobre a importância e a necessidade de um movimento de mulheres revolucionário, que luta em defesa das nossas pautas, mas principalmente pelo socialismo!

Mulheres organizadas no 2° Encontro Estadual do Olga, em 2021 (Foto: Thais Gasparini)

Calendário

Encontro Estadual: 21 e 22/06 
Encontros Regionais:
18/05 – Guarulhos, Vale do Parnaíba e Alto Tietê | Baixada | Ribeirão Preto
24/05 – ABC (SA, Mauá, SCS, RGS)
25/05 – ABC (SBC e Diadema) | São Paulo | São Carlos | Jundiaí
31/05 – Campinas
01/06 – Sorocaba

VIVA O MOVIMENTO DE MULHERES OLGA BENÁRIO! PELA VIDA DAS MULHERES E PELO SOCIALISMO!

Greve na Enfermagem de Recife denuncia “reajuste” de R$ 1,00

O Sindicato dos Enfermeiros do Estado de Pernambuco (Seepe) decretou greve da categoria na cidade do Recife no último dia 08 de maio. A categoria realizou uma grande assembleia dia 05 e decidiu iniciar a mobilização após a Prefeitura propor um reajuste de 1,5% no salário e um vergonhoso aumento de R$ 1,00 (um real!) no vale-alimentação. Diversas categorias estão em greve na capital pernambucana, que, apesar de ser governada por um partido que leva o nome de “socialista” (PSB), está em situação crítica para os recifenses, que sofrem com um projeto privatista e antipopular. O jornal A Verdade acompanha as mobilizações e entrevistou Ludmila Outtes, presidente do sindicato. Clóvis Maia, Redação PE

A Verdade – Qual a pauta da greve e o que motivou essa mobilização aqui na capital?

Ludmila Outtes – A nossa data-base é em janeiro. Desde então, tentamos negociar com o prefeito João Campos, mas com muita dificuldade. A última proposta da Prefeitura de Recife, dada em abril, foi um reajuste de 1,5% e um aumento de um real no vale-alimentação, enquanto ele deu 33% de aumento para os secretários de sua gestão. Um absurdo!

Enfermeiros e enfermeiras aprovaram greve após a Prefeitura desmarcar a mesa de negociação no último dia 30 de abril, sem justificativa nenhuma. Realizamos uma assembleia histórica, com a presença de 220 enfermeiros do município e a greve se iniciou com grande adesão. 100% dos enfermeiros dos postos de saúde estão em greve, e as policlínicas de maternidade estão funcionando com 70%, por força da lei. Vamos seguir em greve até a Prefeitura retomar as negociações.

Várias categorias de servidores municipais de Recife estão em greve, como os professores. Qual é sua avaliação sobre essa conjuntura local?

Isso mostra a insatisfação da população, porque o servidor também faz parte da população do município. Mostra a precarização, que faz parte, inclusive, do projeto político dessa gestão de João Campos, que é privatizar. Então ele sucateia todo o serviço público, passando pela desvalorização dos servidores, para depois justificar privatizar tudo, como já fez com as creches, como está fazendo com os parques.

Existe também a expectativa de se privatizar postos de saúde aqui no município. A proposta está engavetada, mas, a qualquer momento, podem tirar da gaveta. Então é um projeto, e os servidores estão dispostos a não aceitar isso. Queremos valorização, queremos melhoria nas condições de trabalho, mais estrutura nas unidades de saúde e todas as categorias estão nesse mesmo clima.

 

 

Trabalhadores rodoviários de Teresina (PI) organizam greve por melhores salários

Motoristas e cobradores de ônibus iniciam greve em Teresina. Trabalhadores denunciam carga horária excessiva e baixos salários 

Celine Oliver Albuquerque | Teresina (PI)


TRABALHADOR UNIDO — Na manhã da sexta-feira (09), os motoristas e cobradores do transporte coletivo de Teresina deram início a uma paralisação, tendo os ônibus permanecido paralisados durante as primeiras horas do dia. Tendo sido anunciada na terça-feira (13), após assembleia geral, os rodoviários reivindicam um reajuste salarial de 15%, que não é atendido há três anos, além de R$900 em vale-alimentação e R$150,00 para auxílio saúde.

Durante o sábado e domingo, os ônibus circularam normalmente segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transporte Rodoviário do Estado do Piauí (Sintetro-PI) por conta do dia das mães e após diálogo com a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (STRANS), que afirmou que intermediaria um diálogo entre os trabalhadores rodoviários e os empresários dos consórcios.

Não foi, porém, formalizada qualquer proposta para a melhoria das condições dos trabalhadores. Sendo assim, na segunda-feira (12), iniciou-se uma greve que paralisará totalmente o transporte coletivo da capital por tempo indeterminado.

Transporte sucateado e falta de direitos trabalhistas

A mídia burguesa ressalta o prejuízo que isso causará aos usuários do transporte coletivo da capital, porém, não reconhecem a necessidade e a validade das reivindicações desses trabalhadores, visto inclusive os abusos sofridos por esses trabalhadores por parte das empresas, fora o que já é “normal” para o sistema capitalista. “Existem algumas empresas, que quando tem um acidente, elas estão cobrando a peça do trabalhador, tem trabalhador pagando 7 mil, 8 mil reais e ela coloca a peça de volta, a peça sendo velha.” como denuncia Antônio Cardoso, presidente do Sintetro-PI.

Denuncia ainda como funciona a justiça burguesa, que privilegia o empresário e põe em desvantagem o trabalhador “a justiça aqui no nosso país ela é muito boa, ela é muito boa quando é pra punir o trabalhador, pra punir a classe menos favorecida, mas absolver o rico é bem rapidinho comenta a respeito da decisão da desembargadora Liana Ferraz de multar diariamente o sindicato em 50 mil reais, enquanto a justiça ignora diversas denúncias de irregularidades por parte das empresas responsáveis pelo transporte coletivo da cidade.

É essencial perceber que a crise do transporte coletivo de Teresina se deve não por conta dos trabalhadores que cobram seus direitos, mas sim é fruto do domínio de empresas privadas sobre um serviço que deveria ser público. A não manutenção dos veículos, a frota insuficiente, além do descumprimento dos direitos e ameaças aos trabalhadores são resultado da privatização do transporte. Para garantir um transporte coletivo com qualidade, é necessário que esse se faça verdadeiramente transporte público, evidenciando-se mais uma vez a necessidade da estatização desse serviço.

202 anos da Revolta das Carrancas

Em 13/05/1833, Ventura Mina liderou a Revolta das Carrancas (MG), organizando uma grande ofensiva às fazendas escravocratas da família Junqueira. A rebelião, duramente reprimida pela Guarda Nacional, simboliza a luta antiescravagista, hoje lembrada pela Unidade Popular e a Frente Negra Revolucionária, que denunciam o racismo inerente ao capitalismo e constroem o socialismo.

André Molinari | Redação SP


No ano de 1833 uma enriquecida família portuguesa de escravocratas acumulava uma vasta extensão de propriedades nas intermediações dos atuais municípios de Carrancas, São João del Rei, Cruzília, Luminárias e São Tomé das Letras, no sul do estado de Minas Gerais. Essa era a família dos Junqueira.

O deputado Gabriel Francisco Junqueira, o Barão de Alfenas, detinha nessas intermediações uma fazenda que, em 1839, matinha 103 negros e negras escravizados para cuidar da plantação e do gado, na Fazenda Campo Alegre – chegaram a ter 163. Na freguesia de Carrancas existia, na época, cerca de 2,5 mil negros escravizados, cerca de 62% de toda a população da região.

A família dos Junqueira, atualmente, é uma das famílias mais tradicionais da região de Ribeirão Preto (São Paulo), onde também instalaram fazendas com trabalho escravo, contribuíram com a Ditadura Militar e hoje membros da família são até sócios do NuBank.

Julião Congo, um dos negros escravizados pela família Junqueira relatou os maus-tratos que sofria: “Respondeu que seu senhor o tratava de mandrião, não estava contente com o seu serviço, dava-lhe pancadas, ainda mesmo quando estava doente”.

Falando sobre as violências a que os escravizados eram submetidos, Clóvis Moura, relata em Cem Anos de Abolição do Escravismo no Brasil:

“Essa massa escrava distribuída nacionalmente era submetida a todos os tipos de torturas físicas e morais quando se rebelavam ou por simples capricho do seu senhor: máscaras de ferro, tronco, gargalheira, libambo, além de açoites públicos no pelourinho. Suas famílias, por sua vez, eram fragmentadas ao serem os seus membros vendidos para senhores diferentes.

A mulher negra-escrava era aquela que mais sofria. Transformada em objeto de trabalho era, também, objeto de uso sexual do senhor, nascendo dessas relações um enorme número de filhos bastardos, mas escravos […]. Por outro, esse princípio proporcionava imensa mortalidade infantil, não só pelas condições em que eram criados nas senzalas, mas também porque o senhor achava mais econômico comprar outro escravo quando ele morria ou ficava incapacitado para o trabalho. […]

O escravo, no entanto, não aceitava passivamente tal estado de coisas. Revoltava-se constantemente contra o cativeiro a que estava submetido. O rosário de lutas do negro escravizado contra o estatuto que o oprimia enche todo o período no qual perdurou o sistema escravista de produção.”

E foi o que aconteceu, quando um escravo da família Junqueira decidiu, no dia 13 de maio de 1833 que era hora de tomar a história em suas próprias mãos.

Ventura Mina

Ventura Mina, o rei negro, era um escravizado da etnia Mina, da cultura Fanti-Axânti oriunda de Gana. Em 1931 os escravizados da região de Carrancas já tinham começado a preparar um levante, mas que não foi levado a cabo.

Ao longo dos anos seguintes, Ventura Mina organizou uma rede de armamentos, materiais com escravizados tropeiros – Roque e Jerônimo, da fazenda da Prata – e conversava com vários escravizados das fazendas do entorno. Ventura entrou em contato com tropeiros garantiu com eles carregamentos de armas e informações da vida política do Império. Nos autos do processo-crime da insurreição, foi registrado com base no testemunho de seus companheiros que: “Ventura além de ter um gênio fogoso e ardente era empreendedor, ativo, laborioso, tinha uma grande influência sobre os réus e estranhos de quem era amado, respeitado e obedecido”.

José Mina, companheiro de luta de Ventura, afirmou que Ventura passou dois anos preparando uma insurreição. Que começou a articular e planejar isso no instante que chegou nas intermediações, comprado pela família Junqueira no Rio de Janeiro. Na véspera da revolta, Ventura foi até a senzala da fazenda Bela Cruz, também da família Junqueira, onde junto com Joaquim Mina decidiram que no dia seguinte deveriam lançar toda a organização numa revolta contra os seus senhores.

A Revolta das Carrancas

Na manhã do dia 13 de maio de 1833, exatos 55 anos antes da incompleta abolição da escravatura no Brasil, Ventura Mina liderou mais de 30 negros num levante contra a família escravocrata dos Junqueira. O plano era de justiçar todo o senhorio da região e expropriar as propriedades.

Para isso, primeiramente seriam invadidas as fazendas Campo Alegre, Bela Cruz, Jardim, Campo Belo, Campo Formoso e Carneiros. Depois voltariam reunidos para tomar as fazendas Santo Inácio, Favacho, Traituba e Penhas. A partir daí os escravos se dividiriam em duas porções dos quais uma seguiria para o Espírito Santo a extinguirem a família dos Andrades e outra para Carrancas a extinguirem às famílias dos Machados e mais fazendeiros desse lado.

Os escravos usaram instrumentos de trabalho – paus, foices e machados – e mesmo armas de fogo para dar cabo da rebelião. Primeiro derrubaram Gabriel Franscisco Junqueira, filho do dono da fazenda Campo Alegre, não atacaram a sede da propriedade, porque estava fortemente protegida com capitães-do-mato. Rumaram para a sede da fazenda Bela Cruz e lá justiçaram todos os escravocratas e cúmplices que encontraram. Depois decidiram partir para travar combate na fazenda Bom Jardim.

João Cândido Junqueira, escravocrata dono da fazenda Bom Jardim, já tinha tomado consciência do ocorrido nas terras de Campo Alegre e Bela Cruz, organizando a fazenda para repelir a rebelião. Neste confronto, Ventura Mina foi gravemente ferido, e pela resistência dos escravocratas foi preciso bater em retirada. Em seguida, as autoridades locais, proprietários e a Guarda Nacional se uniram para liquidar toda a revolta. Nestes últimos confrontos, Ventura Mina, João Inácio, Firmino, Matias e Antonio Cigano foram mortos.

Temendo uma onda de sucessivas revoltas, os vilarejos da região convocaram homens armados para impedir os levantes. Foram colocados no centro da vila de Rezende, uma vila próxima, uma força de quarenta soldados, parte da cavalaria e parte da infantaria, devidamente munida de pólvora e bala, para derrubar qualquer escravizado revoltoso.

Resistência que permanece

As sucessivas ondas de resistência da história do Brasil demonstram que os trabalhadores pobres e explorados, humilhados pelos ricaços, nunca se contentaram com sua situação de dor e opressão. Seja nas confederações e levantes indígenas, revoltas e quilombos negros, levantes camponeses, greves operárias, manifestações democráticas e muitos outros exemplos de luta. Cotidianamente se levantam as “vítimas da fome e os famélicos da terra” para dizer: basta!

Neste 13 de maio, dia da incompleta abolição da escravatura no Brasil serão organizados diversas manifestações e atividades pela Unidade Popular e pela Frente Negra Revolucionária – Manoel Aleixo (FNR) para denunciar a violência de estado que cai sobre a população negra desde o início do capitalismo. Violência esta que só poderá ter fim quando todos os trabalhadores e trabalhadoras, assim como Ventura Mina, tomarem seus destinos em suas mãos e confrontarem seus senhores, tomar aquilo que é nosso por direito e neste histórico ato de justiça, construir uma sociedade sem amos, construir o socialismo.

Ocupação do DOPS-MG completa mais de 40 dias na luta por espaço de memória

Ocupação do DOPS-MG completa 42 dias sob risco de despejo por parte do governo estadual. Movimentos e partidos organizaram centro de memória em antigo local de tortura da Ditadura Militar Fascista.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Num espaço em que se vê as marcas de um dos piores períodos da História do Brasil, militantes de organizações de esquerda organizaram um Memorial dos Direitos Humanos. No local, que já recebeu mais de 300 pessoas em visitas guiadas, é possível ver antigas celas e salas de tortura organizadas para reprimir militantes socialistas e a população pobre, negra e trabalhadora em geral.

De acordo com um estudo realizado pela UFMG, dezenas de pessoas foram torturadas e mortas dentro das dependências do antigo DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), localizado na Avenida Afonso Pena, em pleno centro de Belo Horizonte. Durante a Ditadura funcionou no espaço também o DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna) de Minas Gerais.

Ameaça de despejo

O espaço, no entanto, corre o risco de sofrer um despejo por parte do governador fascista Romeu Zema (NOVO-MG). O governo de extrema-direita é um negacionista dos crimes da Ditadura Militar e tem tentando fazer um esforço para impedir a criação do Memorial e apagar os vestígios de tortura no local.

No prédio de arquitetura modernista é possível ver celas de presos, espaços para solitárias e salas de torturas, além de um canil onde eram criados cães treinados para atacar prisioneiros políticos.

Durante a ocupação, muitos ex-presos políticos tem participado da luta pela criação do Memorial. A proposta das organizações políticas é transformar o prédio, abandonado há 8 anos, num espaço de memória e verdade dos crimes da Ditadura Militar Fascista (1964-1985), conforme uma proposta organizada por um grupo de trabalho da Universidade Federal de Minas Gerais.

Ato se solidariza com vítima da privatização do transporte em São Paulo

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Nesta terça-feira (6/5), Lourivaldo Ferreira Silva, de 35 anos, morreu na linha 5-Lilás do metrô de São Paulo enquanto se dirigia para o trabalho. Ele era pai de 3 filhos, trabalhador da escala 6×1 e foi mais uma vítima da privatização do transporte público na capital paulista. Ato de solidariedade repudiou a precarização do transporte e convocou para uma aula pública na estação Capão Redondo no sábado (10/5), às 10h.

Redação SP


Nesta terça-feira (6/5) as privatizações ceifaram mais uma vida no Capão Redondo, em São Paulo. Lourivaldo Ferreira Silva, de 35 anos, trabalhador da escala 6×1 e pai de 3 filhos, foi morto pela negligência da ViaMobilidade, empresa privada que assumiu a gestão de linhas de trem em 2018, enquanto se dirigia ao trabalho.

No dia seguinte, manifestantes e movimentos sociais, entre eles o Movimento Luta de Classes (MLC), se reuniram na estação do Campo Limpo, onde a catástrofe ocorreu, para denunciar que as privatizações significam morte para nosso povo. O ato exigiu justiça para Lourivaldo e sua família, e uma atitude imediata tanto da empresa quanto do Governo Estadual. O jornal A Verdade entrevistou alguns dos presentes na manifestação.

Madu, moradora do Campo Limpo, relatou que estava presente na mesma porta em que a ViaMobilidade tirou a vida deste trabalhador. “A gente que é aqui da periferia, que utiliza a Linha 5, sabemos o quão sucateada tá a linha que atende a gente. E a situação só tá piorando, infelizmente. As vidas de nós, pobres, que estão sendo pagas pro lucro deles.”

“Quem é cidadão e morador aqui do Capão e do Campo Limpo não tem como não se indignar com uma situação como essa, né? O que aconteceu ontem com um rapaz jovem, de 35 anos de idade, que tem família, que é um trabalhador, é um crime. Não pode passar impune”, complementou Nilton, professor da rede municipal.

Noêmia, que estava passando pela estação quando viu a manifestação e decidiu participar, compartilhou seu sentimento conosco: “Revolta. Muita revolta. Porque a gente trabalha, a gente paga e a gente acaba morrendo. É uma coisa que a gente está pagando e acaba perdendo a vida.”

Manifestante estendem faixa em denúncia ás privatizações. JAV/SP
Manifestante estendem faixa em denúncia às privatizações. Foto: JAV/SP

Privatizações: lucro para os ricos, morte para o povo

Um dos pontos principais da manifestação foi a denúncia das privatizações, que servem para um punhado de milionários enriquecerem cada vez mais sucateando serviços essenciais para os trabalhadores.

“Representa justamente o que a privatização faz.  Sempre a vida de um pobre que vai estar ali para eles poderem lucrar.  E infelizmente vai ser a nossa vida que vai pagar. É isso. E é uma impunidade que infelizmente por questões de dinheiro eles acabam calando. E se não fosse a pressão que a gente está fazendo seria só mais um caso isolado”, diz Madu.

“Aconteceu o que aconteceu por negligência, não foi por falta de aviso. Eles acham que está tudo bem, que o transporte tá cada vez melhor. Quem usa o transporte fornecido pela ViaMobilidade sabe que isso é mentira, tá cada vez pior. Os trens estão cada vez mais lotados, falta funcionário e segurança na plataforma”, afirmou Robert, militante do Movimento Luta de Classes presente no ato de denúncia da privatização.

Para ampliar a mobilização e derrubar e denunciar ainda mais as condições do transporte, foi convocada uma aula pública sobre os impactos da privatização dos trens para esse sábado (10/05). A aula ocorrerá às 10h na estação do Capão Redondo.

“Nada que essa empresa possa fazer vai trazer de volta o companheiro que morreu ontem. É uma vida de um trabalhador que foi vítima da precarização do transporte”, sintetiza Robert.

A Rede JAV/SP colaborou com a coleta de depoimentos e os registros desta matéria.

Casos de assédio revoltam estudantes da UFRN

“Apesar dos casos alarmantes de violência contra a mulher, a Reitoria da UFRN tem feito medidas tímidas em relação às situações de assédio, como uma nota vaga nas redes digitais, afirmando realizar “medidas cabíveis” e reuniões com as superintendências.”

Kivia Moreira | Natal (RN)


Desde o início do período letivo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), houve diversos relatos de importunação sexual dentro dos ônibus circulares da universidade, de um único homem que utiliza da superlotação dos ônibus para assediar as estudantes. De acordo com a Delegacia Especializada da Mulher (Deam), de Natal, há pelo menos 20 boletins de ocorrência denunciando o mesmo agressor.

Infelizmente, não houve somente casos de assédio, mas também de sequestro dentro do campus. No dia 09 de abril, a estudante Ana (nome fictício) relatou ao Movimento de Mulheres Olga Benario que estava saindo da aula às 22h00, a caminho de seu carro no estacionamento do Centro de Biociências, quando, na porta do veículo, um homem armado a abordou, obrigando-a a entrar no carro, deitar-se no banco de trás e desligar a localização do seu telefone. A estudante foi deixada no matagal do bairro Ponte Negra, em Natal, sem seus pertences.

Queremos estudar sem medo

Apesar dos casos alarmantes de violência contra a mulher, a Reitoria tem feito medidas tímidas em relação às situações de assédio, como uma nota vaga nas redes digitais, afirmando realizar “medidas cabíveis” e reuniões com as superintendências.

Nesse sentido, cansados de esperar ações efetivas, os estudantes da UFRN realizaram medidas de auto-organização para proteger as mulheres, como aulas de autodefesa e a instalação de uma ouvidoria feminista, além de patrulhas de segurança às alunas e grupos de aviso de situações de importunação sexual.

Também foram realizadas manifestações exigindo respostas efetivas e rápidas, organizadas principalmente pelo Movimento de Mulheres Olga Benario e Movimento Correnteza. “Vamos ocupar toda a universidade para exigir que acabem os assédios”, afirma Milenne Barbosa, do Movimento Correnteza. Os movimentos exigiram uma reunião aberta com a Reitoria da universidade, mas, até o momento, não houve retorno.

Aulas de autodefesa

O Movimento Olga Benario realizou, no último dia 14 de abril, a primeira aula de defesa pessoal para dezenas de mulheres estudantes da UFRN em resposta aos diversos casos de assédio sexual. A primeira aula contou com a participação de cerca de 50 estudantes. O grupo de interessadas chega a ter mais de 300 participantes.

“Como praticante de jiu-jitsu e judô, sinto que é essencial trazer mais meninas para o nosso meio, ocupado majoritariamente por homens. Senti que as meninas estavam muito engajadas em aprender, pois o medo é real. Esperamos continuar com as aulas e seguimos pedindo um campus mais seguro para nós mulheres”, afirma Helena Pires, estudante de Ciências Biológicas e uma das instrutoras.

“As aulas de autodefesa se tornam muito necessárias no contexto que as meninas estão passando. A mulher precisa ter consciência que pode se defender, pois, ultimamente, é mais comum vermos alguém parar para filmar e depois postar a agressão do que tentar ajudar a vítima”, complementa o instrutor Danilo Bezerra.

A organização das mulheres por uma nova sociedade

As mobilizações das estudantes mostraram também que apenas medidas específicas para prender um assediador, não irão acabar com a violência contra a mulher. A raiz dos assédios vem da propriedade privada dos meios de produção, pelo sistema capitalista, que é podre e que lucra em cima da opressão e da exploração das mulheres.

Por isso, somente com a organização das mulheres para transformar a realidade é possível construir uma nova sociedade sem exploração às mulheres, uma universidade inclusiva para todos e livre dos assédios, uma sociedade socialista.

Matéria publicada na edição impressa nº 312 do jornal A Verdade

Ocupação Laudelina de Campos Melo resiste a ataques fascistas e tentativa ilegal de demolição

“A ocupação das mulheres trabalhadoras Laudelina de Campos Melo segue resistindo contra as ameaças e organizando mais mulheres pelo fim da violência e pelo socialismo. Milhares de mulheres tiveram suas vidas transformadas pelo trabalho ali realizado.”

Nicole Ramos | Movimento Olga Benario SP


No dia 24 de abril, militantes do Movimento de Mulheres Olga Benario sofreram ataques e ameaças, além da tentativa ilegal de demolição do imóvel da Ocupação de Mulheres Laudelina de Campos Melo, localizada no bairro do Canindé, no Centro de São Paulo.

Houve destruição do telhado, roubo de itens, corte de luz e a tentativa de demolir o prédio inteiro. Este ataque demonstra o aumento da violência contra as mulheres trabalhadoras na cidade, além da expulsão do povo pobre do Centro, promovida pelo governo de Tarcísio de Freitas e pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Mesmo sendo referência para as mulheres do bairro, a Prefeitura colocou a leilão o terreno da ocupação em 2024. O Movimento realizou diversos atos e mobilizações, saindo vitorioso com a decisão do Tribunal de Justiça do Estado São Paulo de suspender a reintegração de posse.

Casa Laudelina

A Ocupação foi realizada em janeiro de 2021, denunciando o aumento da violência contra as mulheres trabalhadoras na pandemia de Covid-19, frente ao fechamento dos serviços públicos nos momentos em que as mulheres mais precisavam. Honrando o nome de Laudelina, uma mulher negra, comunista e que foi a primeira a lutar pelos direitos das empregadas domésticas. Resistindo há mais de quatro anos, a ocupação realizou mais de 10 mil atendimentos às mulheres vítimas de violência de toda a capital paulista, além de organizar várias mulheres politicamente na luta por uma nova sociedade.

“Helena* começou a participar das oficinas de artesanato e escrita, além das reuniões do Movimento de Mulheres Olga Benario. Ela, que era analfabeta funcional, começou a ler na ocupação. E, ao descrever a Casa, disse que o lugar promoveu nela uma verdadeira reforma”. afirma Mariani Ferreira, coordenadora da Ocupação.

A ocupação das mulheres trabalhadoras Laudelina de Campos Melo segue resistindo contra as ameaças e organizando mais mulheres pelo fim da violência e pelo socialismo. Milhares de mulheres transformaram suas vidas pelo trabalho realizado, como relata, de forma dramática, Maria*, que tem medida protetiva e é uma das atendidas. “A Casa Laudelina salva minha vida todos os dias. Se eu não venho para cá, fico dopada na cama do abrigo cheia de remédios sofrendo com a depressão das violências que passei”.

Elaine*, uma das atendidas que está em um dos abrigos do Canindé, relata que a Ocupação Laudelina salvou a sua vida ao lhe proporcionar um ambiente seguro de acolhimento e aprendizado. “Participando das reuniões do Olga, aprendi como o sistema oprime as mulheres e como o socialismo é a saída. Por isso, organizei outros moradores do abrigo e funcionários num abaixo-assinado que conquistou a mudança de toda a alimentação do lugar”, afirma.

*Nomes fictícios para proteger a identidade das mulheres atendidas

Matéria publicada na edição impressa nº 312 do jornal A Verdade

“Permanecemos vivos na proteção do meio ambiente e da verdadeira história do Brasil”

Localizado no Município de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (BA), o Quilombo Quingoma é um dos mais antigos do Brasil e tem resistido, nas últimas décadas, às investidas da especulação imobiliária, da destruição ambiental e da omissão do Estado. A Verdade entrevistou Rejane Rodrigues, uma de suas lideranças.

Vitor Hugo Moreau | Lauro de Freitas (BA)


Localizado no Município de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (BA), o Quilombo Quingoma tem resistido, nas últimas décadas, às investidas da especulação imobiliária, da destruição ambiental e da omissão do Estado. Reconhecido como território quilombola pela Fundação Palmares em 2013, o Quingoma é considerado o mais antigo quilombo do Brasil, com registros de 1569. No entanto, o processo de titulação das terras segue travado no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), há mais de dez anos.

E os conflitos na região se intensificaram. O território é alvo de um acelerado processo de urbanização. Obras realizadas sem consulta à população quilombola representam ameaças diretas ao meio ambiente e à comunidade.

No centro dessa luta está Rejane Rodrigues, líder quilombola e defensora dos direitos humanos e ambientais. Vivendo atualmente sob medida protetiva, ela enfrenta uma nova onda de intimidações. Sua resistência, no entanto, segue inabalável. A Verdade entrevistou Rejane para conhecer melhor suas motivações, suas dores e suas esperanças em relação à luta do Quilombo Quingoma.

A Verdade – O Quingoma é considerado o quilombo mais antigo do Brasil. Como você descreveria a importância desse território para a identidade e resistência do povo quilombola?

Rejane Rodrigues – A gente tem que levar em consideração quem construiu esse país. Nosso povo passa por um processo de invisibilização. A nossa gente, escravizada, contribuiu com tudo isso e, no entanto, hoje somos penalizados. Se engana quem acha que ser quilombola é só uma questão dos povos quilombolas, porque, na realidade, é de toda a humanidade.

A gente se considera o primeiro quilombo do Brasil e isso é sustentado por uma oralidade, que é assim que a gente vem construindo essa história. A importância do quilombo para o Brasil e para o mundo está na resistência de nós, enquanto quilombolas, permanecermos vivos na proteção do meio ambiente e da verdadeira história do Brasil, mesmo à custa de nossas vidas.

O processo de titulação das terras está travado no Incra há mais de dez anos. A que você atribui essa demora?

No mesmo ano em que tivemos nosso reconhecimento pela Fundação Palmares, começamos o processo no Incra para titulação do território. Quando a Bahia Norte invadiu o território para construir a Via Metropolitana, a comunidade se organizou e conseguiu uma audiência com o Ministério Público, onde soubemos que o Projeto do Governo Jacques Wagner, de 2009, já previa a rodovia cortando o território. Depois, veio a construção do Hospital Metropolitano – ao qual nossa gente não tem acesso por não possuir assistência primária – e agora é a construção do Condomínio Joanes Parque, que nos afeta e agrava as ameaças de violência no território.

Nós acreditamos que a morosidade do Incra e a omissão do Governo do Estado se devem ao fato da questão não ser apenas técnica, mas principalmente política. Nós sabemos que o Quilombo Quingoma está bem localizado e a cidade de Lauro de Freitas não tem mais pra onde crescer, a não ser invadindo o Quingoma.

Como o avanço da especulação imobiliária e das grandes obras de infraestrutura afetam a vida dos moradores e o meio ambiente local?

Afetam muito as famílias. Há casos de depressão, pressão alta, diabetes, tudo recai no emocional da comunidade pela incerteza de quem perdeu rios, matas, bichos, território… Os anciões da comunidade vivem assustados. A gente vê também as famílias cada vez mais adoecidas, inclusive as crianças. A especulação imobiliária gera uma mutilação da comunidade, tanto dos corpos, quanto do nosso território e da natureza.

Mais recentemente, a Conder1 entregou intimações para as famílias com avisos de desapropriação das casas. Essas iniciativas têm a intenção de fazer com a comunidade não se envolva na luta pelo território, porque, ao verem suas casas e as principais lideranças ameaçadas e atacadas, muitos ficam com medo.

Como é viver sob medida protetiva devido às constantes ameaças?

Eu me sinto em ameaça mesmo dentro do programa de proteção por eles não entenderem e respeitarem que somos nós que sabemos o que acontece a nossa volta. Quando a gente leva as questões ao programa, eles não recebem de maneira respeitosa. Desde o início de fevereiro, estou fora do território porque o programa de proteção não caracteriza como ameaça o que eu estava sofrendo, não garantindo meu direito de viver com a minha família: minha filha e minha mãe estão precisando de acompanhamento psicológico. A gente teve que construir uma rede própria de apoio que nos acolhesse, porque o programa, que deveria nos defender, pertence ao mesmo Estado que cruza os braços ou até nos ataca. Nós, enquanto lideranças, nos sentimos largadas. Só não nos sentimos totalmente sós por conta dos parceiros que reconhecem a nossa luta e trilham as estratégias para tentar nos proteger.

A impressão que me dá é que, pro Estado fazer alguma coisa efetivamente, é preciso a gente tombar, como Mãe Bernadete2. Esse é o parâmetro pra eles: que as lideranças sejam mortas sem que ninguém descubra os mandantes. Chega de matar a gente pra gente ter nosso território, chega de matar a gente pra gente ter políticas públicas, chega de matar a gente pra gente ter a nossa liberdade!

O Estado e as grandes empresas justificam os empreendimentos como progresso. O que a comunidade do Quingoma propõe como alternativa para um desenvolvimento que respeite sua cultura e seu direito à terra?

A gente tem que entender que o que é progresso pra uns não é pra outros. O que significa progresso pra esse sistema capitalista é uma coisa, e o que significa progresso pra gente é outra – respeitando as nossas raízes, nosso ser, porque a gente não vem desse fast food, a gente não vem desse capitalismo. A gente vem das coisas simples, da natureza, a gente perpetua isso. As políticas públicas têm que vir para o território de forma respeitosa. Eu quero propor que nós pensemos conjuntamente, deem ouvidos às comunidades quilombolas, pra que a gente consiga dizer como pretende organizar nosso território.

O território pra gente, povo quilombola, não é só a terra. A gente tem uma relação peculiar e muito genuína com esse território. É por isso que a gente defende esse território com nossas próprias vidas. Então, eu acho que um progresso que nos respeite precisa ser pensado com os quilombolas, com as comunidades tradicionais. A sociedade hoje clama por um verde, por uma mata, por uma água, pela terra. No entanto, vêm destruindo isso. Nós não somos contra o progresso, mas o progresso tem que ser aplicado às nossas necessidades, não ao lucro de uma meia dúzia de empresários e políticos.

Qual mensagem você gostaria de deixar para aqueles que ainda não conhecem a realidade dos quilombos no Brasil e a importância da sua resistência?

A gente precisa entender que essa luta não é só nossa, é de todos. Por mais que seja o meu corpo que esteja exposto – porque a guerra tem que ter um rosto e, dessa vez é o meu, das lideranças que estão ao meu lado, é o de Mãe Bernadete na foto –, é preciso entender que, sozinhos, não conseguimos vencer. É preciso que a população apoie nossa resistência pra que a gente possa resistir. Não no invisível, no anonimato, mas a público. Muitas vezes, nos veem como guerreiras, como lutadoras e romantizam isso. Não romantizem a violência pelas quais passamos! Não romantizem a perseguição e as ameaças de morte pra depois dizerem: foi guerreira. Cheguem junto com a gente! Mesmo essa história sendo minha, essa história é mais ainda do povo brasileiro. A história do Quilombo Quingoma, que permanece desde 1569 resistindo, preservando e garantindo um futuro pra uma sociedade mais justa, coerente e saudável. É por isso que nós resistimos e vamos continuar gritando.

NOTAS:

  1. Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia, empresa vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano, responsável pela implementação de políticas públicas do Governo do Estado.

2. Mãe Bernadete foi assassinada em agosto de 2023, no Quilombo Pitanga dos Palmares, situado no Município de Simões Filho, também na Região Metropolitana de Salvador. Ver A Verdade n° 278.

Matéria publicada na edição impressa nº 312 do jornal A Verdade

80 anos da vitória soviética contra o nazismo

Ao todo, mais de 35 milhões de soviéticos morreram nas câmaras de gás, assassinados nas batalhas, exterminados nas aldeias ou de fome nas cidades sitiadas. Os povos do mundo sempre serão gratos ao heroico povo da União Soviética pela vitória contra o inimigo nazista. Honremos aqueles que morreram lutando pelo socialismo no passado, lutando pelo socialismo hoje.

Raphael Almeida | Historiador


Era 09 de maio de 1945, portanto, há 80 anos, quando toda humanidade respirou fundo e pôde comemorar a derrota da Alemanha nazista na Segunda Guerra Mundial. Os guerrilheiros partisans já haviam executado o ditador fascista Benito Mussolini e libertado Milão, na Itália. Restava apenas a rendição do Japão fascista para que a guerra acabasse. O conflito é considerado, até os dias de hoje, a maior batalha militar da humanidade e vitimou entre 75 e 90 milhões de seres humanos. A guerra foi travada entre duas grandes coalizões militares, de um lado, os Aliados (União Soviética, Inglaterra e EUA); do outro, o Eixo (Alemanha, Itália e Japão).

A guerra se deu na Europa, Ásia, Norte da África e nos Oceanos Atlântico e Pacífico. No entanto, o principal campo de batalha foi dentro do território da União Soviética. Os filmes comerciais, produzidos por Hollywood, tentam contar uma história que não aconteceu. Para combater essas falsificações, é preciso deixar nítido: os Estados Unidos não foram responsáveis pela derrota do nazismo, tampouco venceram a guerra. A grande responsável pela derrota do nazismo, pela rendição japonesa e pelo fim da Segunda Guerra Mundial foi a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

Causas da guerra

O imperialismo já tinha empurrado o mundo para uma guerra mundial entre 1914 e 1918. A crise econômica de 1929 intensificou as disputas por novos mercados e uma redivisão pelo controle das colônias. A cada ano que passava, a beligerância dos Estados e os gastos militares aumentavam. Em 1931, militares japoneses invadiram o Nordeste da China, na região da Manchúria. Poucos anos depois, os japoneses ocuparam Hong Kong, ampliando as ações militares contra a Mongólia e a URSS.

Em 1935, a Itália invadiu a Albânia e a Etiópia a fim de disputar o controle sobre o Mar da Arábia, Mar Vermelho e Canal de Suez. Na Espanha, em 1936, os fascistas impuseram um golpe de Estado que levou a três anos de guerra civil. Inglaterra, França, Itália e Alemanha dividiram a Tchecoslováquia, sem a concordância do Estado Tcheco, entregando a região dos Sudetos ao ditador nazista Adolf Hitler.

Sucessivas provocações foram feitas aos países de economia dependente na Europa por parte dos nazistas, que ameaçavam militarmente as nações em troca de acordos econômicos vantajosos. Assim se deu com a Romênia, a Áustria, até o ataque à Polônia, em 1º de setembro de 1939, que a literatura ocidental trata como o “começo oficial” da Segunda Guerra Mundial.

As ações antissindicais e anticomunistas avançavam, ao passo que se intensificava a hostilidade contra a União Soviética no cenário internacional. Japão e Alemanha assinaram o pacto Anticomintern (Anti-Internacional Comunista), um tratado que visava a atacar o país do socialismo, bem como combater os Partidos Comunistas internos. Posteriormente, Itália, Espanha e Hungria passaram a ser signatárias do acordo.

As burguesias dos demais países capitalistas, como Estados Unidos, Inglaterra, França e Bélgica viam com certo otimismo o avanço da influência nazista, sua política anticomunista, e a recíproca era verdadeira.

Invasão à URSS

Após dominar toda Europa continental, a Alemanha nazista tinha a sua disposição os recursos humanos e materiais (saqueados) necessários para invadir a União Soviética, e assim o fez. Em julho de 1941, as forças armadas alemãs invadiram o território soviético sem nenhuma declaração de guerra com suas 153 divisões, que contavam com 3 milhões e 800 mil soldados, 3 mil veículos blindados e 5 mil aeronaves de combate. Hungria, Romênia, Itália e Finlândia colocaram à disposição dos nazistas 37 divisões e também participaram da invasão.

Os nazistas haviam aperfeiçoado a ciência militar. Precisaram de pouco mais de 150 dias para dominar toda a Europa Ocidental e, após invadir a URSS, alcançaram as duas principais cidades (Leningrado e Moscou) em apenas dois meses. A superioridade militar alemã se dava pela tática da Guerra Relâmpago (Blitzkrieg), que consistia em realizar um ataque coordenado dos tanques de guerra, força aérea e infantaria com o objetivo de cercar o inimigo.

O povo soviético e o Exército Vermelho, dirigidos pelo Partido Comunista Bolchevique da URSS (sob a liderança de Josef Stálin), ofereceram aos alemães algo que eles não tinham vivido até aquele momento: uma barreira intransponível, um desejo de lutar pela Pátria e defender seu Estado e o socialismo. Em vez de se renderem, os soldados soviéticos, mesmos cercados, combatiam até a última bala. Ao mesmo tempo, membros da população civil, militantes do Partido e da Juventude Comunista (Komsomol) se somavam aos milhares nos grupos guerrilheiros, conhecidos como partisans. Esses tinham como objetivo destruir as linhas de comunicação inimigas, impedir o avanço das tropas invasoras e manter o Exército Vermelho informado sobre a localização, a força e os movimentos dessas tropas.

Os nazistas não conseguiam concentrar sua força de ataque no front, já que eram obrigados a combater também na retaguarda contra os grupos do Exército Vermelho que estavam cercados e os guerrilheiros, que transformavam a vida noturna dos alemães em um inferno. O efeito psicológico era devastador contra os nazistas, que comumente tinham seu sono interrompido por todo tipo de ações de sabotagem: estoques de munições e de alimentos incendiados; água de poços envenenada; tanques de combustível e pontes explodidos; carros inutilizados; placas trocadas; conexões de trilhos alteradas, fazendo com que um trem colidisse com outro. Isso fez com que os objetivos alemães não fossem alcançados, e a guerra que foi programada para durar oito semanas se estendeu por quatro anos.

Mesmo em áreas ocupadas, a atuação do Partido não acabou. Só na Bielorrússia ocupada pelos nazistas, o Partido tinha em funcionamento nove Comitês Regionais, 174 Comitês Distritais e mais de mil células em sua base. Na Ucrânia ocupada atuavam 12 Comitês Regionais, 265 Comitês Distritais e 670 organizações do Komsomol. Além das armas, o Partido Bolchevique combatia com panfletos e jornais. Durante a madrugada, os guerrilheiros e os militantes tinham a tarefa de deixá-los debaixo das portas das casas, de picharem os muros, e o efeito moral na população era enorme: mesmo com tantas dificuldades, o povo sabia que seu Partido ainda estava ali, clandestinamente.

Combater a falsificação da história

Por ser um dos eventos mais importantes da geopolítica do século 20, a Segunda Guerra é fonte de muitas distorções e falsificações. Milhões de dólares são gastos todos os anos nos filmes e séries que buscam recontar os eventos dessa época para fraudar a História: afirmar que quem venceu a Guerra foram os estadunidenses.

As narrativas mentirosas dos livros não resistem aos números, tão menos à realidade: a cada 10 soldados do Eixo mortos, 8 foram de responsabilidade do Exército Vermelho; o famoso Dia D só aconteceu em junho de 1944, quando a URSS já estava avançando para a tomada de Berlim. No cinema, a maioria dos filmes transforma derrotas humilhantes de franceses e ingleses em vitórias e tenta justificar o colaboracionismo das potências capitalistas com os nazistas em algumas ocasiões.

Os filmes também tentam nos fazer acreditar que o Japão fascista se rendeu por conta do ataque nuclear contra a população civil japonesa feito pelos EUA. Escondem a realidade: a URSS desembarcou suas tropas na Manchúria e na Coreia, declarando guerra ao Japão, que viu suas tropas de mais de 1,5 milhão de homens se renderem, com os soviéticos tendo superioridade numérica e de armas em combate.

Outra falsificação criada é que o Exército Vermelho obrigou o povo a ingressar nos esforços de guerra. Se isso fosse realmente verdade, bastava a população se render quando os nazistas entrassem no país, mas o que assistimos foi a população integrar os grupos guerrilheiros e defender palmo a palmo o solo da Pátria.

Vencer a guerra não foi uma tarefa fácil: ao todo, mais de 35 milhões de soviéticos morreram nas câmaras de gás, assassinados nas batalhas, exterminados nas aldeias ou de fome nas cidades sitiadas. Mesmo assim, foi possível vencer. Há 80 anos, o Partido Comunista Bolchevique e o Exército Vermelho provaram a superioridade do socialismo e que com um povo ganho para defender seus interesses, é possível tudo, até mesmo vencer uma máquina de guerra que parecia invencível.

Os povos do mundo sempre serão gratos ao heroico povo soviético pela vitória contra o inimigo nazista. Honremos aqueles que morreram lutando pelo socialismo no passado, lutando pelo socialismo hoje.

Matéria publicada na edição impressa nº 312 do jornal A Verdade

Terceirizados da Volkswagen em São Carlos lutam por seus sábados

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Trabalhadores terceirizados da Volkswagen em São Carlos, empregados pela SESÉ Logística, estão lutando para receberem seu PLR sem terem que trabalhar quase todos os sábados do ano. Apesar dos ataques da empresa, os operários têm força para barrar a amarração ao sábado produtivo.

Vitor Fabris | São Carlos (SP)


Desde o começo de abril, trabalhadores terceirizados da fábrica de motores da Volkswagen em São Carlos, empregados pela SESÉ Logística, estão lutando por um espaço na mesa de negociação da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) deste ano. Essa mobilização surge após a SESÉ, em outras fábricas, amarrar a participação no PLR à presença compulsória nos sábados produtivos.

Por sua vez, a Volkswagen, gigante multinacional cujas origens remontam à Alemanha nazista e que apoiou a ditadura militar fascista no Brasil em vários de seus crimes, realizou negociações similares com os operários não-terceirizados de São Carlos.

Os sábados produtivos são dias excepcionais em que, por demandas da Volkswagen, um adicional de 65% é pago aos terceirizados para movimentarem a fábrica. Agora, no momento em que as negociações estão para acontecer, se os terceirizados não tiverem representantes próprios na Comissão de Negociação, a SESÉ poderá fazer o que bem entender.

Na prática, esta amarração significaria que os terceirizados da fábrica de São Carlos poderiam ser obrigados a trabalhar quase 30 dias a mais, passando a uma escala parecida com a 6×1. Escala essa que está sendo enfrentada pelos trabalhadores do Brasil todo, como tem mostrado o jornal A Verdade.

Tentativas de desmobilizar os terceirizados

Sabendo que os terceirizados, caso se organizem, podem impedir essa amarração do sábado produtivo, a SESÉ Logística tem tentado desmobilizar os trabalhadores ao máximo.

A empresa aplica punições aos trabalhadores que se reunirem para discutir seus direitos; se tentarem se organizar em redes digitais, colocam infiltrados para observar tudo. Quando os terceirizados, em sua maioria, organizaram uma Comissão de Negociação em fevereiro, foi desmantelada.

Tudo isso culminou na demissão sem justificativa de Fernando*, terceirizado que estava à frente da formação da Comissão. “Quando mandei mensagem cobrando novamente sobre o processo de formação, não deu 30 minutos e me chamaram ao RH. Lá, falaram que eu estava sendo desligado. Não deram justificativa nenhuma, só me mandaram embora”, disse Fernando.

Terceirizados têm força para conquistar

Porém, a realidade que não gostam de falar é que os lucros e resultados só existem por causa dos operários. Se não fossem os terceirizados realizarem a manutenção das máquinas, a limpeza dos espaços, o transporte das peças, a logística dos materiais, a alimentação dos trabalhadores; os metalúrgicos realizarem a montagem dos motores; enfim, se não fossem os operários das fábricas movimentarem tudo, não haveriam lucros nem resultados.

Se a SESÉ realiza esses ataques, é porque sabe que os terceirizados organizados podem impedir essa amarração. Sozinhos, os operários não têm força contra a ganância dos patrões. Mas, organizados, são os patrões que não têm força contra os operários. Com uma Comissão de Negociação dos Terceirizados grande e forte, os terceirizados poderão lutar pelos seus direitos.

A categoria exige que seja feita a Assembleia Geral Extraordinária para que seja eleita uma Comissão de Negociação dos Terceirizados!

Terceirizados da Volkswagen, se organizem no Movimento Luta de Classes (MLC)! Vamos organizar uma forte Comissão para barrar a ganância dos patrões!

Metalúrgicos, apoiem os terceirizados na sua luta! Articulem-se com seu sindicato para ajudar seus irmãos trabalhadores!

* Fernando é um nome fictício empregado para proteger o trabalhador