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domingo, 20 de abril de 2025
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Baixada Fluminense sofre com falta de saneamento básico

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As cidades de Belford Roxo, Duque de Caxias e São João de Meriti, na Baixada Fluminense, estão há uma década entre as 20 piores no ranking de saneamento básico do Instituto Trata Brasil, que avalia as 100 maiores cidades do país.

Hellen Caetano | Rio de Janeiro (RJ)


BRASIL – O ranking divulgado pelo Instituto Trata Brasil, que faz um levantamento anual das 100 cidades mais populosas do país, revela que, há uma década, as cidades de Belford Roxo, Duque de Caxias e São João de Meriti, todas da Baixada Fluminense, estão entre os 20 piores índices de saneamento básico do país. Juntas, essas cidades têm cerca de 1,6 milhão de habitantes.

Saneamento básico é o direito constitucional (Lei Federal nº 11.445/2007) que todo brasileiro tem a serviços de abastecimento de água; coleta e tratamento de esgotos; limpeza urbana, coleta e destinação do lixo; e drenagem e manejo da água das chuvas. Mas, na região da Baixada Fluminense, esse direito é negado à sua população.

Belford Roxo, por exemplo, foi eleita a quinta pior cidade no ranking. São inúmeros bairros na cidade que sofrem cotidianamente com a falta d’água, esgotos a céu aberto, o que é um facilitador para contaminação de doenças como cólera, febre tifoide e hepatite A. Na cidade, cerca de 25% da população não tem acesso à rede de água e apenas 5% tem acesso à rede de esgoto.

Em Nova Campinas, bairro de Duque de Caxias, a falta de abastecimento de água potável é uma realidade diária, o que piorou com a privatização da Companhia de Água e Esgoto do Rio de Janeiro (Cedae), como denuncia Ana Carolina, professora e moradora do bairro. “Meus pais se tornaram moradores de Nova Campinas em 1984 e, só nos primeiros dois anos, o acesso a água era constante. Após isso, parou de funcionar e, até hoje, nós ficamos dias sem água. Quando a empresa responsável pela água passou a ser a Águas do Rio, nós pensamos que a situação iria melhorar, mas a verdade é que nada mudou”, afirma.

Nova Campinas, assim como bairros próximos, também sofre com inundações, já que os esgotos quase não são tratados, assim como falta manutenção no sistema de drenagem. Não à toa, no início de 2024, bairros como Pilar e Saracuruna sofreram com inundações severas e milhares de trabalhadores e trabalhadoras perderam tudo que conquistaram com muito suor. Em Caxias, segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 66% da população é atendida pela rede de água e cerca de 9% tem acesso à rede de esgoto.

Reforma urbana já!

É também por isso que o lema do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) é “Morar dignamente é um direito humano”. Não basta ter uma casa, é necessário um acesso qualitativo à cidade para que a frase faça sentido. Por este motivo, o MLB defende uma Reforma Urbana, cuja principal proposta é “garantir condições dignas de vida para toda a população trabalhadora: direito à moradia, emprego, alimentação, saúde, saneamento, educação, transporte, cultura e lazer” (pág. 11, Cadernos de Formação Política – As propostas do MLB para a Reforma Urbana).

O Movimento convoca todos os moradores da Baixada Fluminense que concordam com esse lema e que se indignam com essas denúncias para se somarem à luta. Só o povo organizado e em luta pode mudar essa situação!

Vilma Espín Guillois: o fogo da liberdade

O triunfo da Revolução Cubana, em 1° de janeiro de 1959, simbolizou esperança para trabalhadores da América Latina e do mundo. Vilma Espín Guillois foi protagonista da revolução em Cuba, dedicando sua vida à construção do socialismo e à emancipação feminina.

Luiza Wolff | Florianópolis (SC)


HERÓINAS DO POVO – Em 1° de Janeiro de 1959, o triunfo da Revolução Cubana foi esperança para os trabalhadores de toda a América Latina e do mundo. A revolução que triunfou após anos de guerrilha foi construída pelos trabalhadores e trabalhadoras de Cuba, dentre elas Vilma Espín, mulher que dedicou toda sua vida para a construção do socialismo e da luta das mulheres.

Durante a revolução em Cuba, Vilma participou da ação e da direção do Movimento 26 de Julho, atuando na província de Oriente. A sua principal tarefa durante a guerrilha foi a de entregar mensagens e fazer a comunicação entre a Sierra Maestra e Havana. Ali conheceu seu futuro companheiro de vida, Raúl Castro, que mais tarde foi presidente de Cuba. 

A Federação das Mulheres Cubanas

A vida de Vilma se mistura com a história da Federação das Mulheres Cubanas (FMC), organização que presidiu e da qual fez parte durante toda sua vida militante, aprendendo e ensinando, junto com mulheres operárias e camponesas.  

Fundada em 1960, logo após o triunfo da revolução, a FMC teve como tarefa principal a formação de mais quadros mulheres. Foi nesse sentido que, ainda nos seus primeiros anos, tendo Vilma a frente, mulheres de todo o país participaram da campanha de alfabetização que erradicou o analfabetismo. 

A FMC também foi responsável pelo desenvolvimento de outras campanhas, como um curso de corte e costura e outro de primeiros socorros, em Havana, que ajudou na formação política das mulheres camponesas e operárias. Segundo Vilma: “Foi uma forma não só de dar respostas ao que os nossas camaradas nos pediam sobre primeiros socorros, mas também de encontrar uma forma de agrupá-las para poder conversar e explicar o que queriam que lhes fosse explicado sobre a revolução.”

Já em 1974, ano da realização do segundo congresso da FMC, a Federação já reunia quase 2 milhões de mulheres cubanas e tomava um papel político fundamental na defesa do país contra o imperialismo estadunidense e na construção do socialismo. 

Hoje, após 65 anos de sua fundação, a FMC reúne 90% das mulheres de mais de 14 anos do país, fazendo a luta contra a violência às mulheres e contra o criminoso bloqueio realizado pelos Estados Unidos à Cuba. 

Educação das mulheres

Vilma se dedicou ao estudo do marxismo-leninismo, mais especificamente sobre a questão da mulher, aprendendo também com a experiência das revolucionárias que construíram a revolução na União Soviética e outros países. Em uma entrevista de 1989, ela explica que, para ela, os problemas das mulheres não podem ser analisados fora do contexto econômico e social e que tampouco esses problemas podem ser solucionados sozinhos, descontextualizados. 

No entanto, Vilma não deixou que seu conhecimento não fosse compartilhado com todas e cada mulher de Cuba. Em um discurso sobre a educação das mulheres campesinas ela escreveu: “Porque antes, para ela, seu mundo nada mais era do que uma cabana no topo de uma colina e arredores. Agora é imenso, esse mundo estreito se expandiu até o que a espera no futuro, porque ela tem certeza do futuro que seus filhos terão […]”. 

Ela incentivou até a última mulher do país a estudar, se formar e construir a revolução e a melhora da vida das mulheres em Cuba. Teve um papel essencial em desenvolver uma nova percepção sobre o papel das mulheres na revolução e da necessidade dos movimentos de massas para a participação das mulheres na construção de um país. Por isso, sua vida é exemplo e devemos aprender com cada passo seu na história da classe trabalhadora mundial.


“A vida que a sociedade socialista nos abre exige de todos uma melhoria constante. Esta melhoria, que se tornou um dever patriótico para todo bom revolucionário. É para nós um objetivo permanente, pelo qual devemos lutar com maior fervor todos os dias” – Vilma Espín Guillois

Quem são as 90 prisioneiras palestinas libertadas das prisões sionistas

Na última segunda-feira (20/1), 90 prisioneiras palestinas foram libertadas como parte do acordo de cessar-fogo. Na lista, há figuras como Khalida Jarrar, dirigente da Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP), mas também jornalistas e estudantes. Conheça seus nomes e sua história

Samidoun – Rede de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos


Nas primeiras horas da manhã de segunda-feira (20/1), 90 prisioneiros palestinos foram libertados das prisões do regime de ocupação sionista no primeiro dia da troca de prisioneiros da Tempestade dos Livres (Toufan al-Ahrar, em árabe), realizada pela Resistência Palestina como parte da primeira etapa do acordo de cessar-fogo imposto ao ocupante.

Apesar das horas e horas de atrasos criados pela ocupação, das repetidas invasões das casas das famílias dos prisioneiros palestinos de Jerusalém na tentativa de impedi-los de comemorar e dos disparos de gás lacrimogêneo e balas de metal revestidas de borracha contra as multidões que aguardavam a libertação dos prisioneiros em Beitunia, o povo palestino comemorou e recebeu seus amados prisioneiros libertados e a resistência e os sacrifícios do povo de Gaza que obteve sua liberdade.

A seguir, confira a lista dos prisioneiros – 70 mulheres e 20 jovens do sexo masculino – libertados no primeiro dia da troca, com seu nome, sua idade e sua cidade de origem:

  1. Nawal Fatiha, 23, Jerusalem
  2. Aseel Osama Shehada, 18, Qalandiya, Jerusalem
  3. Tamara Abu Laban, 24, Jerusalem
  4. Jenin Mohammed Amr, 22, al-Khalil
  5. Nafisa Rashid Farid Zourba, 37, Jericho
  6. Khalida Kanaan Jarrar, 61, Ramallah/al-Bireh
  7. Yasmine Abdel-Rahman Abu Srour, 26, Bethlehem Aida Camp
  8. Fatima Nimr al-Rimawi, 52, Jericho
  9. Dalal Mohammed Suleiman Khasib (al-Arouri), 53, Ramallah
  10. Fatima Mohammed Suleiman Saqr (al-Arouri), 48, Aroura
  11.  Rana Jamal Mohammed Darbas, 35, al-Bireh
  12. Zahra Wahib Abdel-Fattah Khadraj, 52, Qalqilya
  13. Balqis Issa Ali Zawahra, 33, Bethlehem
  14. Duha Azzam Ahmad al-Wahsh, 29, al-Taamra, Bethlehem
  15. Halima Fayeq Suleiman Abu Amara, 22, Nablus
  16. Mona Ahmed Qasim Abu Hussein, 46, Abboud
  17. Bushra Jamal Mohammed al-Tawil, 31, al-Bireh
  18. Raeda Ghanem Mohammed Abdel-Majeed Barghouti, 46, Abboud
  19. Murjana Mohammed Mustafa Hreish, 32, Beitunia
  20. Walaa Khaled Tanji, 28, Tulkarem camp
  21. Rawda Musa al-Akhras (Abu Ajamiyeh), 47, Dheisheh Camp
  22. Rula Ibrahim Abdel-Rahim Hassanein, 30, Bethlehem
  23. Ahmed Bashar Jumaa Abu Aliya, 18, Ramallah
  24. Saja Zuhair al-Muaddi, 27, Kufr Malek
  25. Shaimaa Mohammed Abdel-Jalil Rawajbeh, 25, Nablus
  26. Salwa Attiya Mahmoud Hamdan, 45, Dheisheh Camp
  27. Rose Yousef Mohammed Khweis, 17, Jerusalem
  28. Fatima Youssef Mustafa Salha, 36, Deir Jarir
  29. Haneen Akram al-Masaed, 30, Aida camp, Bethlehem
  30. Jihad Ghazi Ahmed Joudeh, 36, Jericho
  31. Nidaa Ali Ahmad Salah (al-Zughaibi), 37, Kufr Dan, Jenin
  32. Amal Ziyad Omar Shujaia, 21, Deir Jarir
  33. Lubna Mazen Salim Talalweh, 46, Arraba, Jenin
  34. Ola Mahmoud Qasim Azher (Jouda), 22, Kabalan, Nablus
  35. Ayat Yousef Saleh Mahfouz, 33, al-Khalil
  36. Hadeel Mohammed Hussein Hijaz (Shatara), 32, Mazraa al-Sharqiya
  37. Wafa Ahmed Abdullah Nimr, 21, Kharbatha Bani Harith
  38. Rasha Ghassan Mohammed Hijjawi, 40, Tulkarem
  39. Zeina Majd Mohammed Barbar, Silwan, Jerusalem
  40. Israa Khader Ahmed Ghneimat (Lafi), 40, Surif, al-Khalil
  41. Tahani Jamal Abed Ashour, 49, al-Khalil
  42. Aya Omar Youssef Ramadan, 23, Tal, Nablus
  43. Shaimaa Omar Youssef Ramadan, 19, Tal, Nablus
  44. Dunia Shtayyeh Marouf Shtayyeh, 20, Salem, Nablus
  45. Alaa Jad Nabhan Shaheen, 37, Beitunia
  46. Nahil Kamal Mustafa Masalmeh, 37, Dura, al-Khalil
  47. Khitam Arif Hassan Habaybeh, 50, Jenin
  48. Aseel Mohammed Adnan Eid al-Yassini, 20, Jerusalem
  49. Alaa Samir Harb Abu Rahima, 27, Beit Rima
  50. Baraa Hatem Hafez Fuqaha, 25, Tulkarem
  51. Shatha Nawaf Jarabaa, 23, Bittin
  52. Dania Saqr Mohammed Hanatsheh, 22, Ramallah
  53. Saja Imad Saad Daraghmeh, 19, Tubas
  54. Al-Yamama Ibrahim Hassan Hreinat, 21, Yatta, al-Khalil
  55. Raghad Walid Mahmoud Amr, 24, Dura, al-Khalil
  56. Hanan Ammar Bilal Ma’alawani, 23, Nablus
  57. Raghad Khader Deeb Mubarak, 23, al-Khalil
  58. Ashwaq Mohammed Ayyad Awad, 23, Beit Amr, al-Khalil
  59. Iman Ibrahim Ahmed Zaid, 40, Beitunia
  60. Tahrir Badran Badr Jaber, 44, Beitunia
  61. Abla Mohammed Othman Abdel-Rasoul (Sa’adat), 68, Ramallah
  62. Israr Abdel-Fattah Mohammed al-Lahham, 42, Bethlehem
  63. Myassar Mohammed Saeed al-Faqih, 60, Nablus
  64. Abeer Mohammed Hamdan Ba’ara, 33, Nablus
  65. Samah Bilal Abdel-Rahman Souf (Hijjawi), 25, Qalqilya
  66. Margaret Mohammed Mahmoud al-Ra’i, 53, Qalqilya
  67. Latifa Khaled Ramadan Mashasha, 34, Jerusalem
  68. Israa Mustafa Mohammed Berri, 54, Jenin
  69. Alaa Khaled Mohammed Saqr al-Arouri, 21, Ramallah
  70. Lana Farouk Naeem Fawalha, 25, Sinjil, Ramallah
  71. Jamal Kaabneh, 18, al-Khalil
  72. Adam Hadara, 18, Jerusalem
  73. Mouadh Omar Abdullah al-Haj, 17, Ain Sultan Camp
  74. Ibrahim Sultan Ibrahim Zumour, 17, Askar camp
  75. Abdel-Rahman Jamil Khudeir, 18, Beita
  76. Saeed Mizyed Saeed Salim, 18, Azzoun
  77. Mohammed Aman Fawzi Bishkar, 18, Askar camp
  78. Issam Mamoun Abu Diab, 18, Jerusalem
  79. Thaer Ayoub Rashid Abu Sarah, 17, Jerusalem
  80. Fahmi Mohammed Fahmi Faroukh, 17 Silwan, Jerusalem
  81. Qasim Iyad Mohammed Jaafreh, 17, Jabel al Mukaber, Jerusalem
  82. Youssef Jamal Ayyad al-Hreimi, Bethlehem
  83. Firas Jihad Ahmed al-Maqdisi, 18, Silwan, Jerusalem
  84. Abdel-Aziz Mohammed Atawneh, 19, al-Jiftik, Jericho
  85. Fadi Bassam Mohammed Hindi, 17, Jenin
  86. Osama Nasser Jibran Abed Ataya, 18, Kifr Nimah
  87. Ayham Ali Issa Jaradat, Sair, al-Khalil, 18
  88. Mahmoud Mohammed Daoud Aleiwat, 15, Silwad, Jerusalem
  89. Laith Mohammed Naji Kamil, 17, Qabatiya, Jenin
  90. Ahmed Walid Mohammed Khashan, 18, Arraba, Jenin

A lista inclui vários prisioneiros libertados que haviam sido libertados anteriormente pela resistência na primeira troca de prisioneiros do Dilúvio de Al-Aqsa, em novembro de 2023, apenas para serem alvos de um novo sequestro pela ocupação, incluindo Wala’a Tanja, Ahmed al-Khashan, Haneen al-Masaed, Rawda Abu Ajamiyeh e Samah Hijjawi.

Também foram libertos vários prisioneiros conhecidos e importantes, como Khalida Jarrar, a proeminente feminista, esquerdista e acadêmica palestina; Abla Sa’adat, esposa de Ahmad Sa’adat, o secretário-geral preso da Frente Popular para a Libertação da Palestina, e a escritora Zahra Khadraj, de Qalqilya; jornalistas como Israa Lafi, Bushra al-Tawil e Rula Hassanein; estudantes como Jenin Amr, Raghad Amr, Shaima Rawajbeh, Tamara Abu Laban, Duha al-Wahsh, Amal Shujaia, Ola Jouda, Dunia Shtayyeh, Aseel Eid al-Yassini, Baraa Fuqaha, Shatha Jarabaa, Dania Hanatsheh, Raghad Mubarak, as irmãs Shaima e Alaa Ramadan e Al-Yamama Hreinat; educadores como Hadeel Shatara e Fatima al-Rimawi; e três membros da família Al-Arouri, alvos e presos por causa de sua relação com o líder assassinado do Hamas, Salah al-Arouri: Dalal al-Arouri, Fatima al-Arouri e a filha de Fatima, Alaa Saqr.

Retaliações contra familiares

Tanto Duha al-Wahsh quanto Wala’a Tanja ficaram sabendo que seus irmãos haviam sido martirizados durante a prisão, uma realidade que não havia sido revelada a ambas devido ao bloqueio de notícias e informações imposto aos prisioneiros. Duha, uma estudante de medicina, soube que seu irmão Ahmad, um médico, havia sido martirizado após sua prisão, somente no momento de sua libertação; o mesmo aconteceu com Wala’a Tanja, cuja alegria pela libertação foi recebida com a notícia de que seu amado irmão Ayman havia sido martirizado durante sua prisão.

Ahmad al-Khashan, de Bir al-Basha, ao sul de Jenin, foi sequestrado pela ocupação em 25 de janeiro de 2024, no mesmo dia em que seu irmão, Wissam, também um prisioneiro libertado, foi martirizado pelas balas da ocupação, e seu irmão Mohammed foi ferido na perna. Ele havia sido libertado anteriormente na troca de novembro de 2023.

Israel torturou prisioneiras e prisioneiros

Ao ser libertada, Khalida Jarrar denunciou as torturas e maus-tratos que sofreu.
Ao ser libertada, Khalida Jarrar denunciou as torturas e maus-tratos que sofreu.

Várias das prisioneiras precisavam de cuidados médicos imediatos, e os sinais claros de negligência e abuso médico contrastavam fortemente com a saúde das três prisioneiras sionistas que haviam sido libertadas pela Resistência no início do dia, apesar de suas circunstâncias sob um bombardeio e cerco genocida em Gaza. Khalida Jarrar saiu da prisão com os sinais de maus-tratos – incluindo cinco meses e uma semana em confinamento solitário com apenas uma pequena fenda para respirar o ar – evidentes em seu rosto e corpo, enquanto Margaret al-Rai saiu do ônibus com uma mão quebrada, ferida pela agressão dos guardas da prisão da ocupação. Muitos dos prisioneiros haviam perdido dezenas de quilos durante a prisão devido à política de fome da ocupação dirigida contra os prisioneiros.

Dunia Shtayyeh, a estudante de 20 anos da Faculdade de Sharia da Universidade de An-Najah, era aguardada por sua avó, a famosa Hajja Mahfouz Shtayyeh, que se tornou um símbolo icônico da conexão palestina com a terra ao abraçar suas oliveiras enquanto elas eram cortadas e queimadas pelos colonos.

De fato, as prisioneiras foram submetidas a abusos no dia de sua libertação, conforme relatado pela prisioneira libertada de Jerusalém Latifa Mashasha em entrevistas; depois de serem transferidas da prisão de Damon para Ofer, as mulheres foram arrastadas pelos cabelos, jogadas no chão enquanto cães latiam para elas. Várias mulheres foram espancadas, pouco antes de serem finalmente entregues ao CICV para a troca.

Ex-prisioneiros e famílias se solidarizam com Gaza

Enquanto isso, as forças de ocupação estavam impondo terror nas casas dos prisioneiros de Jerusalém, invadindo repetidamente as casas de suas famílias, convocando seus familiares para o notório centro de interrogatório de Moskobiyeh e alertando sobre qualquer tipo de comemoração da libertação de seus amados prisioneiros.

Já em Beitunia, as forças de ocupação tentaram dispersar as crescentes multidões que aguardavam os prisioneiros libertados, ferindo seis pessoas ao atirar contra elas e forçando as famílias dos prisioneiros a esperar até altas horas da madrugada. No entanto, nenhum desses esforços impediu a comemoração do povo palestino, que recebeu com alegria os prisioneiros libertados, agitando as bandeiras da resistência e as bandeiras palestinas e cantando pela resistência vitoriosa em Gaza, pelas Brigadas al-Qassam, por Saraya al-Quds e pela libertação dos prisioneiros.

De forma unânime, os prisioneiros expressaram seu amor e solidariedade ao povo de Gaza. “Nossos sentimentos vão para o nosso povo em Gaza. Nossa preocupação na prisão, apesar das torturas e abusos, é que a guerra em Gaza pare. Nossa mensagem e agradecimento a eles… Nunca esqueceremos o que eles fizeram por nós até o Dia do Juízo Final”, disse o estudante de medicina libertado Bara’a Fuqaha.

Texto originalmente publicado no site da rede Samidoun. No link, podem ser conferidas mais imagens da libertação das prisioneiras e dos prisioneiros e do reencontro com suas famílias.

Rubens Paiva e a resistência ao golpe de 1964

“Somente em 1996 o Estado brasileiro reconheceu o assassinato de Rubens Paiva, sem até agora ter entregue seu corpo aos familiares e sem ter punido nenhum de seus algozes. Da vida de Rubens Paiva, lembremos do exemplo da luta por um país realmente soberano, em que o povo trabalhador pudesse ter uma vida digna.”

Felipe Annunziata | Redação


“Desejo conclamar todos os trabalhadores de São Paulo, todos os trabalhadores portuários e metalúrgicos da Baixada Santista, da capital e das cidades industriais de São Paulo, em especial, a todos os universitários, que se unam em torno dos seus órgãos representativos, obedecendo a palavra de ordem do Comando Geral dos Trabalhadores, do Fórum Sindical de Debates, dos sindicatos, da União Nacional dos Estudantes, das uniões estaduais e das greves estudantis, para que todos, em greve geral, deem a sua solidariedade integral à legalidade que ora representa o presidente João Goulart.”

Enquanto os tanques do general golpista Olímpio Mourão Filho desciam em direção ao Rio de Janeiro, foi com esse chamado que Rubens Paiva, deputado trabalhista por São Paulo, convocou o povo às ruas para defender o governo de João Goulart e resistir ao Golpe Militar Fascista em discurso realizado na madrugada de 1º de abril de 1964, na Rádio Nacional.

Rubens Paiva foi uma importante figura histórica na luta contra o golpe e a Ditadura Militar que assolou nosso país por 21 anos. E agora, com o sucesso do filme “Ainda Estou Aqui”, estrelado pela atriz Fernanda Torres, cada vez mais pessoas passam a conhecer a sua história e a de sua família na luta contra a Ditadura.

De liderança estudantil a deputado

Nascido em 1929, na cidade de Santos, Rubens Paiva ingressou na militância política durante a graduação em engenharia na Universidade Mackenzie, na capital paulista. Paiva era de uma rica família de fazendeiros no Vale do Ribeira, mas segundo seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva, ele era brigado com seu pai pelo apoio que dava às organizações políticas de direita e extrema-direita do Brasil na época.

Durante a universidade, no início da década de 1950, Rubens Paiva foi vice-presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, onde foi uma importante liderança na campanha “O Petróleo é Nosso!”, que culminou com a nacionalização da exploração e produção de petróleo e a criação da Petrobras. Naquela época, o movimento estudantil vivia um período de ascensão e, junto com o movimento operário, estava conquistando uma série de direitos no país, como o aumento do salário mínimo, a ampliação das leis de proteção dos trabalhadores, entre outras.

A militância política de Paiva o levou a ingressar no antigo Partido Trabalhista Brasileiro, criado pelos setores progressistas ligados ao presidente Getúlio Vargas. No PTB, ele conseguiu sua primeira e única eleição em 1962 como deputado federal por São Paulo. Naquela época, o PTB estava no governo com o presidente João Goulart, que defendia reformas para acabar com o analfabetismo, taxar as remessas de lucros ao estrangeiro, fazer a reforma agrária e a reforma urbana no Brasil.

Durante os cerca de um ano e meio em que esteve como deputado, Rubens Paiva foi vice-líder do PTB e defendeu a luta pelas Reformas de Base e o enfrentamento às organizações de extrema-direita financiadas pelos EUA.

Em 1963, o deputado trabalhista foi vice-presidente da CPI que investigou as organizações fascistas “Instituto de Pesquisas de Estudos Sociais (Ipes)” e “Instituto Brasileiro de Ação Democrática (Ibad)”. Estes institutos foram financiados pelos Estados Unidos, por meio do embaixador golpista Lincoln Gordon, para apoiar os candidatos a deputados de oposição a João Goulart, a maioria dos quais estariam na linha de frente do apoio civil ao golpe militar.

O Ibad, junto com o Ipes, organizou uma campanha de desestabilização do governo e buscou unir a burguesia brasileira em torno do projeto golpista. Na CPI ficou evidente as ligações dos deputados de direita do Brasil com o governo dos EUA e os militares golpistas.

Durante todo ano de 1963 até o golpe de 1º de abril de 1964, João Goulart tentou implementar um programa de esquerda de reformas para mudar a estrutura do capitalismo brasileiro. Além do programa de erradicação do analfabetismo, idealizado por Paulo Freire, Goulart também defendia a restrição das remessas de lucros das empresas multinacionais para o exterior, a ampliação dos direitos dos trabalhadores e a distribuição de terras improdutivas do Estado aos camponeses.

Rubens Paiva avaliou assim as Reformas de Base no seu histórico discurso na Rádio Nacional: “O nosso presidente, ao tomar as medidas tão reclamadas por todo o nosso povo, medidas que nos conduzirão indiscutivelmente à nossa emancipação política e econômica definitiva, realmente prejudicou os interesses de uma pequena minoria de nossa terra. Pequena minoria, entretanto, que detém um grande poder, todo o poder econômico deste país, todos os órgãos de divulgação, os grandes jornais e as estações de televisão.”

Exílio, prisão e assassinato

Toda essa atuação parlamentar não passou despercebida pela cúpula fascista das Forças Armadas. Dias depois de chamar o povo a lutar contra o golpe no rádio, Rubens Paiva foi cassado pela Ditadura, em 9 de abril de 1964, pelo Ato Institucional nº 2.

Depois da cassação, Paiva se exilou na Embaixada da Iugoslávia, de onde conseguiu sair em junho de 1964 para a França e depois para a Inglaterra. No início de 1965, decidiu voltar do exílio, sendo vigiado de perto pela Ditadura.

Já no Rio de Janeiro, Paiva tenta reconstruir a vida como engenheiro, mas sempre mantendo o apoio político a militantes exilados, com quem trocava correspondências.

Foi por essa atuação que, em 20 de janeiro de 1971, militares da Aeronáutica sequestram, torturam e assassinam Rubens Paiva nas dependências do DOI-Codi do I Exército, no Rio de Janeiro.

Além de Rubens, sua esposa Eunice e a filha Eliane, de apenas 15 anos, foram presas e mantidas sem nenhuma comunicação com familiares. Eliane e Eunice foram vítimas de todo tipo de violência psicológica e liberadas alguns dias depois. Rubens, no entanto, nunca mais foi visto por seus familiares.

É esta história que é retratada pelo filme premiado “Ainda Estou Aqui”.

Após o assassinato, o corpo de Paiva foi escondido e até hoje seus familiares lutam para recuperá-lo e poder finalmente velá-lo. Eunice Paiva lutou por toda sua vida por este direito. Após o assassinato do marido, estudou Direito e se tornou uma defensora dos direitos humanos, atuando nas lutas dos povos indígenas contra grileiros na Amazônia.

Somente em 1996 o Estado brasileiro reconheceu o assassinato de Rubens Paiva, sem até agora ter entregue seu corpo aos familiares para um enterro digno e sem ter punido nenhum de seus algozes.

Da vida de Rubens Paiva lembremos do exemplo da luta por um país realmente soberano em que o povo trabalhador pudesse ter uma vida digna.

Lembremos de suas palavras em 1º de abril de 1964, que ainda são atuais:

“É indispensável que se processe de uma vez por todas a divisão da riqueza brasileira entre todos os seus habitantes. Não é possível que nós tenhamos marginalizados mais da metade dos habitantes deste país, mais da metade dos habitantes do Brasil sem condições de trabalho, sem saber de manhã para que local se dirigirem para ganhar o seu pão e alimentar a sua família”.

Matéria publicada na edição impressa nº 305 do jornal A Verdade

Internacionalismo proletário versus geopolítica imperialista

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“O conceito de ‘multipolaridade’ capitalista é um projeto burguês, que reflete os interesses econômicos e militares insatisfeitos com a ‘unipolaridade’. A teoria revolucionária dos trabalhadores tem nome e sobrenome: internacionalismo proletário.”

Natanael Sarmento | Diretório Nacional da UP


O princípio do internacionalismo proletário é fundamental na teoria científica do comunismo de Marx, Engels e Lênin. É na prática revolucionária que se reafirma este fundamento. Internacionalismo representa a solidariedade e a cooperação, a unidade e a luta de todos os trabalhadores do mundo pelos objetivos comuns, independentemente de nacionalidade. Solidariedade na luta de emancipação dos trabalhadores explorados e oprimidos contra a burguesia capitalista e imperialista. Trabalhadores de qualquer país capitalista, independente de nacionalidade, encontram-se na mesma condição social relativamente à produção e possuem a mesma natureza de classe explorada.

Os comunistas se norteiam pela igualdade e autonomia dos povos e nações. Igualdade fraternal dos partidos comunistas de elevados compromissos e responsabilidades perante os trabalhadores nacionais e de todos os países do mundo. Por isso, é radicalmente anticolonialista, combate qualquer forma de superioridade e exploração entre Estados e nações. Está na linha de frente do combate ao nacionalismo burguês xenofóbico, ideologia fascista utilizada em tempos de crises para deflagrar guerras ou para perseguir imigrantes falsamente acusados de causar desemprego. O internacionalismo dos comunistas é radical na luta contra ideias racistas de superioridade étnica e racial, variações do nazismo serviçal de monopólios capitalistas belicistas e outras ditaduras da burguesia.

A luta internacionalista do proletariado se define nas condições históricas existentes, condições não são escolhidas pelos trabalhadores.  Nas mais diferentes de correlações de forças, os comunistas representam a vanguarda da luta emancipatória dos trabalhadores, seguindo a conclamação do Manifesto do Partido Comunista, de Marx e Engels: “Proletários de todos os países, uni-vos!”.

Lênin lutou tenazmente os desvios dos socialdemocratas, revisionistas e renegados, em especial, os contrabandos ideológicos no seio da classe operária dos defensores do “nacionalismo” das burguesias imperialistas. Eram os “chauvinistas nacionalistas”, dirigentes socialdemocratas e reformistas que se renderam à ideologia das burguesias nacionais com adesão às guerras imperialistas dos respectivos governos. Lênin defendia a missão histórico-universal da classe operária: transformar revolucionariamente o regime capitalista de exploração, liquidar o poder Estatal burguês e construir o poder dos trabalhadores no socialismo. O internacionalismo proletário representa esse combate em escala global, denunciando o caráter de saque das nações vulneráveis nas guerras imperialistas, desenvolvendo as revoluções de emancipação do proletariado em vez de engrossar o botim capitalista. Para isso, devem-se combinar as lutas locais, regionais, nacionais com as lutas dos trabalhadores e dos povos, mundialmente, a luta geral e a particular no contexto do desenvolvimento da luta revolucionária comum do movimento comunista internacionalista.

Conceitos burgueses

O conceito geopolítico de “unipolaridade” ganhou a voz de arautos do capitalismo contemporâneo, entre outros, Krauthammer e Fukuyama, com o suposto “fim da bipolaridade” das relações internacionais entre URSS e EUA, sob os impactos do fim do “Bloco Socialista” do Leste Europeu, década de 1990.

Para os analistas burgueses, a nova correlação de forças internacionais ficou tão concentrada numa única potência capitalista (os EUA), que passaram a falar em “unilateralidade”. Os norte-americanos lideram o bloco EUA-União Europeia, com quase 30 países, além de seu braço militar, a Otan, que abarca mais países de outras regiões. No caso da Guerra da Ucrânia, as pretensões expansionistas russas se chocaram com os interesses desse bloco hegemônico na região, gerando a atual guerra imperialista.

Contudo, a dominação yankee na aliança imperialista está longe de eliminar as contradições internas. Simplesmente é impossível evitar a busca de lucro e expansão de capitais, os conflitos interimperialistas. A unilateralidade, dialeticamente, existe e não existe. O domador sempre corre o risco de ser devorado pelos leões famintos. A saída do Reino Unido da União Europeia, há exatos cinco anos, expressa bem a contradição dos “aliados capitalistas” dessa pretensa unipolaridade norte-americana. Muito mais contradições existem entre esse bloco e as duas potências econômicas e militares do “Oriente”, China e Rússia. O evidente fenômeno da bipolarização EUA-UE com China-Rússia é um barril de pólvora da guerra nuclear global, açulada pela “guerra comercial” e de áreas de influências.

Já o conceito de “multipolaridade” capitalista é um projeto burguês, que reflete os interesses econômicos e militares insatisfeitos com a “unipolaridade”. A “multipolaridade” renovou forças com o declínio estrutural dos EUA e o avanço econômico e financeiro da China e de outras potências. O Partido Comunista do Proletariado da Itália enumera as características principais do modelo multipolar: 1. Pluralidade de centro de poder – diferentes potências econômicas e militares predominam na política regional ou mundial; 2. Ideologia do equilíbrio de poder, segundo o qual o poder partilhado entre potências evita o domínio unipolar e equilibra as forças; 3. A luta pela hegemonia mundial se concentra no plano cultural e front político. Cada potência com sua identidade cultural, econômica e política disputa influência na geopolítica global; 4. Administração mundial é mais complexa, multifacetada e policêntrica para assegurar o “equilíbrio”. (Unidade e Luta, Revista da CIPOML, 2024)

Ilusão de classe

Teorias do unilateralismo e do multilateralismo das relações internacionais são ideologias da burguesia, interessam às potências econômicas e militares imperialistas. O multilateralismo visa a criar e defender blocos exploradores de países capitalistas. Teoriza que vários centros solucionam as suas contradições, pacificamente. Clara falsificação ideológica, sem aplicação na história.

As contradições interimperialistas não se resolvem na tênue assinatura de acordos e tratados, a História comprova que tais tratados não resistem às crises econômicas, vide 1914-1918 e 1939-1945, que apenas prepararam as duas guerras mundiais que já ocorreram até agora. Essa ideologia danosa objetiva ocultar a impossibilidade de paz duradoura mundial sob o capitalismo. Tenta camuflar as contradições intrínsecas do capital, a reprodução e expansão na base da exploração do trabalho e da guerra de rapina.

As guerras imperialistas são produto do modo de produção capitalista em sua fase superior imperialista, e isso Lênin provou há mais de cem anos. A ideologia dos interesses do proletariado preconiza a abolição da exploração do trabalho, o fim das trocas desiguais visando ao lucro capitalista e à acumulação, o ponto final no colonialismo e neocolonialismo dos povos. A teoria revolucionária tem nome e sobrenome: internacionalismo proletário.

Coerentemente com o princípio internacionalista dos comunistas autênticos, devemos combater desvios das posições autoproclamadas comunistas, que, todavia, fazem apologia ao chamado “socialismo ao modo chinês”, dos arautos da potência econômica e militar asiática de Estado dirigido por um PCCh, mas que, objetivamente, mantém relações comerciais capitalistas e imperialistas, regional e globalmente. Expande os seus domínios e áreas de influência na Ásia, África, América Latina, inclusive no Brasil.

Não cabe aos comunistas defender burguesias e capitalistas, fazer apologia da formação de blocos  econômicos capitalistas, como os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), já ampliado com Arábia Saudita, Emirados Árabes, Egito, Etiópia e Irã. A internacionalização do capital de burgueses mandarins, reis, sheiks, czares, presidentes, não expressa o interesse da emancipação dos trabalhadores do mundo. A arapuca ideológica do “atrativo” antiamericano só serve ao oportunismo, pois não debela a exploração capitalista, não traz a paz mundial e em verdade fortalece a corrida armamentista das potências, vide os gastos militares dos EUA, China, Rússia, Alemanha, França, etc.

A História demonstra a ampliação de conflitos armados, o genocídio a céu aberto realizado pelo Estado sionista de Israel em Gaza, a destruição ambiental, guerras regionais e o risco real de guerra global nuclear. Os atuais burgueses, banqueiros e capitalistas chineses, o exército do Estado capitalista russo de Putin não conservam nem a sombra do internacionalismo das Revoluções Socialistas da China e da Rússia, nem muito menos das ações globais da 3ª Internacional Comunista.

Tarefa dos comunistas

A tarefa dos comunistas consiste em desenvolver e organizar a consciência revolucionária do proletariado nacional e internacionalmente, na perspectiva da luta sem trégua de classes antagônicas dos trabalhadores de todo o mundo contra a burguesia e contra qualquer tipo de países imperialistas. O imperialismo é responsável pelas guerras e pela degradação, por milhares de fugitivos de guerras, pela fome e pela enorme desigualdade no mundo.

Neste sentido, para enfrentar e derrotar inimigos tão poderosos, é indispensável fortalecer partidos comunistas revolucionários que travam as lutas pelo poder popular e pelo socialismo em seus países em consonância com a luta de todos os explorados do mundo. Cabe ressaltar a necessidade de restauração da Internacional Comunista, uma poderosa e gigantesca organização mundial do movimento comunista baseado no internacionalismo.

Por isso, saudamos o esforço extraordinário da Conferência Internacional de Partidos e Organizações Marxistas-Leninistas (CIPOML) nos seus 30 anos de existência e luta, celebrados na cidade de Hamburgo, Alemanha, com delegações dos cinco continentes, no final de 2024.

Viva a união de todos os trabalhadores do mundo!

Viva a CIPOML! Viva a Unidade Popular pelo Socialismo!

Matéria publicada na edição impressa nº 305 do jornal A Verdade

A Cabanagem e os movimentos revolucionários na Amazônia

Em aula pública realizada no início de janeiro, a Unidade Popular e o Movimento Correnteza apresentaram no Centro Histórico de Belém a história da Cabanagem, insurreição popular acontecida no Pará durante o século XIX

Kleverson Cordeiro e Belle Leite | Belém (PA)


No dia 07 de janeiro, a Unidade Popular (UP) realizou uma aula pública no Centro Histórico de Belém (PA), palco da insurreição popular conhecida como Cabanagem, uma revolução na Amazônia que se erguia em busca do poder popular. A atividade contou com a colaboração de Alan Dias, doutorando em História Social da Amazônia pela UFPA, e Kleverson Cordeiro, estudante de História e militante do Movimento Correnteza, que apresentaram os principais pontos e eventos em torno da Cabanagem, com início na Praça do Relógio.

Antecedente da Revolução

Após a adesão da independência do Brasil por parte da elite local, em agosto de 1822, os populares e militares de baixa patente se organizaram para reivindicar melhores condições de vida para a população local.

Em 17 de outubro, os ditos “revoltosos” retornavam aos quartéis e, para encerrar a revolta, o governo contou com o apoio de John Pascoe Grenfell, que agiu de forma truculenta. Cinco líderes das tropas foram presos e executados sem julgamento, incluindo o cônego Batista Campos. Ele foi levado ao largo do Palácio, onde foi ameaçado de execução com um canhão, acusado de ser o mentor da revolta. Contudo, foi salvo por uma petição pública da Junta de Governo e pelo bispo local, que alertou que tal execução poderia inspirar revoltas entre as “classes inferiores”.

A repressão ao levante não se encerrou com as cinco execuções. Mais de cem soldados foram presos, juntamente com cerca de 300 civis suspeitos de envolvimento. Em seguida, no dia 19 de outubro, 256 prisioneiros foram transferidos para os porões do Brigue Palhaço, um pequeno navio de guerra. Poucas horas depois, quase todos estavam mortos. Relatos indicam que os presos estavam agitados, e os soldados a mando dos superiores do Brigue teriam lançado cal no porão com a suposta intenção de conter a confusão. No dia seguinte, o porão do navio foi aberto, revelando apenas quatro sobreviventes, dos quais somente João Tapuia resistiu até o dia seguinte. Ao todo, 252 homens morreram por sufocamento e asfixia.

Revolução popular na Amazônia

A Cabanagem foi um dos movimentos de maior mobilização popular do período regencial, um marco da insatisfação das classes populares do Pará contra a exploração decorrente da colonização portuguesa no Norte do Brasil, iniciada no século 17. Essa relação colonial, com raízes profundas, ainda se manifesta na Amazônia nos dias atuais.

Durante a colonização, indígenas, negros, mestiços e brancos pobres foram excluídos, refletindo a lógica capitalista integrada ao modelo colonial. Esses grupos, relegados à marginalidade histórica, foram utilizados como mão de obra explorada. Ao resistirem à condição que lhes era imposta, tornaram-se protagonistas de sua própria história, criando diversas formas de resistência coletiva.

Em seu livro “Cabanagem: A Revolução Popular da Amazônia”, Pasquale Di Paolo escreve que o movimento cabano explodiu na madrugada de 7 de janeiro de 1835, quando um grupo liderado por Antônio Vinagre tomou o quartel da tropa de linha, localizado no Largo dos Quartéis (atualmente a Praça da Bandeira). No local, estavam estacionados um corpo de caçadores e outro de artilharia, e a maioria dos soldados ali presentes aderiu ao levante. O vice-cônsul britânico no Pará, John Hesketh, relatou ao ministro britânico no Rio de Janeiro, Henry Stephen Fox, que a revolta começou por volta das três da madrugada. Segundo ele, os soldados que ocupavam o quartel atacado por Antônio Vinagre dispararam contra seus próprios oficiais, enquanto os “descontentes do rio Acará”, recém-libertados da prisão, uniram-se ao movimento. Hesketh também descreveu o assassinato do presidente da província do Pará Bernardo Lobo de Souza, do governador militar Joaquim José da Silva Santiago e do capitão James Inglis da corveta Defensora, além da libertação de todos os presos e da violência generalizada que marcou a tomada da cidade.

Bernardo Lobo de Souza havia conseguido chegar ao Palácio do Governo, onde foi confrontado por um grupo de cabanos liderado por João Miguel Aranha. Enquanto subia as escadarias do edifício, foi morto com um tiro disparado pelo indígena Domingos Onça. Os corpos de Lobo Souza e de Joaquim José da Silva foram levados para o Ver-o-Peso, onde permaneceram expostos por horas, como alvo da fúria popular.

De acordo com o professor José Alves de Souza Junior, essa hostilidade dirigida aos cadáveres das autoridades refletia o profundo ressentimento acumulado pelas camadas populares paraenses, vítimas de séculos de opressão e exploração durante a colonização portuguesa. Mesmo após a independência, as condições de exploração persistiram, alimentando um ódio reprimido e internalizado pelas populações marginalizadas.

Durante os cinco anos de revolta, cerca de 35% da população do Estado do Grão Pará foi dizimada.

Conflitos internos

A ampla adesão do povo ao movimento cabano pode ser compreendida pelas profundas desigualdades sociais existentes na província do Pará. Para indígenas, tapuios, negros libertos e brancos pobres, a questão da terra desempenhou um papel central na decisão de participar. Esse grupo social, que formava um tipo de campesinato na Amazônia, foi sistematicamente privado da propriedade da terra, sendo forçado a trabalhar em condições extremamente difíceis nas terras de grandes proprietários ou a atuar como meeiros. Alguns líderes importantes da Cabanagem, como os irmãos Vinagre e Eduardo Angelim, eram meeiros nas terras de Félix Clemente Malcher, na região do Acará.

Os negros escravizados que se juntaram ao movimento viam na Cabanagem uma oportunidade de alcançar a liberdade que a independência não havia garantido. Já os mestiços e os brancos pobres, descontentes com o recrutamento militar forçado e as difíceis condições de sobrevivência, abandonaram os regimentos de milícias em grande número e reforçavam as fileiras cabanas. Além disso, as disputas políticas entre as elites locais contribuíram para a divisão no poder, levando parte dessa elite a apoiar o movimento.

No entanto, os interesses dessa parcela da elite eram distintos e muitas vezes opostos aos das camadas populares, explícitos em atitudes contrarrevolucionárias tomadas por Félix Malcher, o que explica os frequentes conflitos entre os dois grupos ao longo do movimento.

Organização de classe

A Cabanagem foi um importante movimento revolucionário, no qual seus dirigentes chegaram ao poder e governaram a província do Grão Pará entre 1835 e 1840. Entretanto, as divergências de interesses contribuíram para sua derrubada precoce.

Algumas das lideranças cabanas não foram capazes de defender os anseios do povo e se aliaram às elites locais que, inclusive, eram muito próximas a Portugal e temiam o rompimento desse vínculo com a recente independência do Brasil, em 1822.

Aprendemos com o líder da Grande Revolução de Outubro, Vladimir Lênin, que a revolução pode não vir de forma planificada, mas explodir a partir de movimentos espontâneos, como aconteceu durante a Cabanagem. Todavia, a existência de uma organização revolucionária capaz de dirigir e garantir que esses levantes se tornem um grande movimento classista organizado pelos trabalhadores e os povos é o elemento crucial para a construção e manutenção do poder popular.

Hoje, ao avaliar os acontecimentos daquele período e refletir sobre os erros e acertos dos cabanos, percebemos que uma organização popular, de caráter estritamente revolucionário, seria a única capaz não só de construir uma revolução vitoriosa e duradoura, como de colocar no centro do poder os mais pobres e explorados.

Sentimento revolucionário cabano

É nossa tarefa, enquanto militantes comunistas, que vivem cotidianamente as lutas do povo e, em especial, as lutas do povo da Amazônia, retomar o sentimento revolucionário cabano, o sentimento de indignação diante da opressão que nos é imposta e apontaram a única saída para mudar essa realidade: a construção de uma revolução socialista, que coloque os povos explorados no poder.

As políticas de conciliação implementadas pelos governantes naquele período – e ainda hoje – precisam ser rechaçadas e expostas como um mal que atrasa a vida do povo e dá migalhas aos pobres enquanto empanturra os ricos.

O povo na Amazônia está no centro da crise climática, causada pela ganância dos capitalistas que exploram os recursos naturais como se fossem infinitos.

Portanto, é urgente entender o quanto a crise do capitalismo se aprofunda e destrói nosso planeta. Nossa tarefa de construir a revolução é imediata e a única salvação para o mundo, a classe do proletariado e os povos. Recuperemos a herança dos bravos cabanos e alcemos a bandeira do socialismo para alcançar a nova sociedade na qual seremos verdadeiramente livres e felizes.

Matéria publicada na edição impressa nº 305 do jornal A Verdade

Descaso do Estado faz famílias perderem tudo nas chuvas de Santa Catarina

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O governador Jorginho Mello (PL), assim como os prefeitos, se negou a oferecer ajuda e fez pouco caso dos efeitos das chuvas sobre a população de Santa Catarina. Por sua vez, organizações populares como o MLB e o Movimento Correnteza rapidamente organizaram ações de solidariedade aos atingidos

Thiago Augusto Zeferino | Redação SC


Na última quinta-feira (16/1), fortes chuvas atingiram o estado de Santa Catarina. Milhares de trabalhadores tiveram suas casas destruídas e ocorreram deslizamentos e enxurradas, especialmente em encostas, favelas e ao redor de rios, onde está localizada a população mais pobre.

Ao todo, 13 cidades catarinenses entraram em estado de emergência: Camboriú, Governador Celso Ramos, Tijucas, Biguaçu, Porto Belo, Ilhota, Balneário Camboriú, Itapema, São José, Palhoça, Gaspar, São Pedro de Alcântara e a capital Florianópolis.

Dados fornecidos pelas prefeituras apontam que mais de mil pessoas se encontram completamente desabrigadas e outras 1.300 se refugiaram em casas de amigos ou parentes. Apenas em Camboriú, cidade localizada na região do Vale do Itajaí, cerca de 300 famílias ficaram ilhadas ou desabrigadas por conta dos alagamentos.

Chuvas escancaram negligência estatal

Todos os anos, na temporada de chuvas do início do ano, o povo catarinense sofre com novas enchentes e deslizamentos. Apesar disso, os governos e prefeituras não tomam medidas para impedir que esses fenômenos causem mortes e desalojamentos. Essas tragédias desmascaram a falsa propaganda de que Santa Catarina é um estado “seguro” e “que só melhora”, muito difundida por esses mesmos governos. Na realidade, a melhoria é para os muito ricos e o desalento atinge a maioria dos trabalhadores.

Apesar da situação crítica, o atual governador, Jorginho Mello (PL), em entrevista à imprensa negou ajuda do Governo Federal, alegando que a situação estava “sob controle” e acrescentou dizendo que “já houveram situações piores”.

Povo organizado dá exemplo de solidariedade

Na capital Florianópolis, bairros como o Alto Pantanal, estão até o presente momento sem receber visita da Defesa Civil e apenas obtiveram apoio por conta do trabalho das brigadas de solidariedade organizadas pela Unidade Popular (UP) e pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que subiram os morros para falar com as pessoas e levar lonas e outros materiais de ajuda arrecadados.

Ações similares também foram organizadas em outras regiões do estado, como em Joinville, onde as brigadas de solidariedade da UP e do MLB distribuíram alimentos, roupas e artigos de higiene para a população atingida pelas enchentes no bairro Ulysses Guimarães.

Na região continental da capital, os moradores da Ocupação Anita Garibaldi deram exemplo de solidariedade organizando marmitas para serem levadas para as famílias mais atingidas. Em São José, cidade localizada na Grande Florianópolis, além da ajuda humanitária, os brigadistas denunciaram que pessoas atingidas foram obrigadas a ficar na rua depois que o abrigo da região não foi aberto por recusa do prefeito Orvino (PSD).

Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), a militância do Movimento Correnteza e o Diretório Central dos Estudantes se organizaram, de forma imediata, para garantir a produção e entrega de dezenas de marmitas, após a Reitoria anunciar o fechamento do Restaurante Universitário. Também foi organizada a arrecadação de diversos outros materiais para os estudantes da moradia estudantil, além de uma brigada de solidariedade ao alojamento indígena da UFSC, que também sofreu com alagamentos.

Enquanto as elites governantes gastam milhões para criar uma falsa imagem paradisíaca de um estado desigual, esses exemplos mostram que a classe trabalhadora enfrenta com auto-organização e solidariedade os desastres que atingem o povo de Santa Catarina.

O trabalho do Comitê Operário de Diadema

Trabalho do Comitê Operário de Diadema tem mostrado resultados no avanço da agitação revolucionária entre a classe trabalhadora do ABC.

Redação SP


PARTIDO – Há cerca de um ano, o Partido no Estado de São Paulo decidiu formar um Comitê Operário no Município de Diadema (ABC Paulista), direcionando todas as atividades para a disputa política entre os operários da cidade, que tem um longo histórico de organização e luta. A partir dessa orientação, o trabalho de mulheres foi direcionado para as operárias, o trabalho de moradia para os operários sem-teto e assim por diante. Nas eleições, todo nosso esforço foi para direcionar o trabalho da Unidade Popular para combater o fascismo, representado na campanha do bolsonarista Takaharu Yamauchi (MDB).

Dessa forma, e em unidade com o propósito principal do Partido, durante a campanha eleitoral utilizamos do espaço das portas de fábrica não só para angariar votos, mas também para trazer a classe operária para o debate e apontar as contradições latentes dos programas políticos em disputa na cidade. E fizemos isso da forma mais eficiente possível, com brigadas diárias do jornal A Verdade.

O trabalho nas fábricas

Uma das primeiras ações do Comitê Operário foi começar um trabalho regular de brigadas em algumas empresas metalúrgicas da cidade a fim de apresentar o programa do socialismo para o operariado e estabelecer contato e vínculo com os trabalhadores e trabalhadoras. Esse trabalho se mostrou muito exitoso e contou com a atuação aguerrida da nossa militância, que conseguiu manter uma constância firme das brigadas. 

“No princípio, achei que não seria possível realizar as brigadas tão cedo e depois ir pro trabalho, mas logo virou uma rotina, pois era preciso ter muita disciplina e convicção”, relata o brigadista Gabriel Matias, membro do Comitê Operário, que de terça a sexta faz brigada do jornal em diferentes fábricas.

Gabriel lembra que “na Papaiz, os operários achavam que era o jornal do sindicato, e já demonstravam rejeição. Mas depois de explicar o que era o jornal A Verdade, muitos deles foram bem receptivos. A maioria não comentava muito sobre a situação na empresa. Algumas mulheres que trabalhavam na cozinha de uma das fábricas demonstraram bastante apreço pelo nosso trabalho e comentaram sobre a jornada cansativa. Em todos os encontros, a líder da cozinha carregava um aspecto de exaustão, pois trabalhava 12 horas por dia em escala 6×1. Muitos relembravam as lutas sindicais dos anos 1980, outros, mais jovens, acreditavam que a organização e coletividade são necessárias para combater a retirada de nossos direitos”.

Bruno Cordeiro, outro brigadista, nos conta que nas eleições “fizemos campanha nas portas de fábrica contra o candidato do bolsonarismo. Os operários com quem conversávamos reafirmavam a importância de manter essa corja fora de Diadema. Lembro que o porteiro de uma fábrica disse: ‘Prefiro votar no cachorro do vizinho do que nesse Taka’. Outros faziam críticas à atual gestão da prefeitura, reclamando da taxa do lixo e dos radares e que não sentiam confiança para votar novamente no prefeito. Muitos também diziam como a nossa campanha lembrava as lutas antigas da cidade, quando a luta política era muito mais presente em Diadema”.

Comitê Operário nos bairros

Diadema é uma cidade de grande densidade demográfica. Lá, espaço que não é fábrica, é espaço de moradia, com muito trabalhador amontoado. Os comunistas do Comitê Operário também estão presentes nas favelas da cidade. Nossa agitação tem forte presença nos bairros. O MLB constrói um trabalho sólido em algumas regiões. A percepção que tivemos fazendo a campanha dentro dos bairros é que o povo está descontente com os rumos que a situação política tem tomado e começa a entender que é preciso mudar radicalmente. Nossa campanha foi muito bem recebida pelos moradores, que concordam com a linha política da Unidade Popular e cobraram uma candidatura própria.

Novos desafios

Paralelamente a esse trabalho nas fábricas de Diadema, o Comitê Operário também ficou responsável de apoiar a candidatura revolucionária da professora Carol Vigliar e consolidar o trabalho da Unidade Popular na região da Zona Sul de São Paulo. Essa tarefa só pode ser cumprida devido à disciplina operária incorporada pela militância que, com agitação diária nos bairros, de porta em porta, conversando olho no olho, conseguiu conquistar a confiança de milhares de trabalhadores da região que depositaram seu voto na nossa candidatura.

O Comitê Operário teve um papel fundamental nesse trabalho, conseguindo garantir panfletagens e agitações nos bairros da região do Jardim Miriam que, além dos votos conquistados, agora também tem um trabalho fortalecido da Unidade Popular com um núcleo ativo que já tem construído lutas na região. 

Durante a luta eleitoral, houve uma tentativa de fechamento de salas de aula da Escola Estadual Maria Augusta, que pegou a comunidade de surpresa. Imediatamente, a Unidade Popular mobilizou professores e moradores, que responderam de prontidão e barraram esse ataque a um importante espaço da região. 

Outro saldo positivo é a construção de um coletivo do Movimento Olga Benario, que tem se reunido regularmente e crescido a cada nova reunião, mostrando como a agitação durante a luta eleitoral foi bem recebida e de fato atende uma demanda da comunidade que tem fome de luta.

No segundo turno das eleições municipais, o candidato bolsonarista venceu por uma margem minúscula dos votos. Há uma denúncia protocolada pela campanha petista contra Taka por compra de votos. O que avaliamos disso, a partir da nossa experiência em campanha é que, para além do desgaste cada vez maior da social-democracia, o poderio econômico da burguesia mais uma vez passa por cima da vontade popular. A população diademense não é a favor do fascismo representado pelo Taka, prova disso é a forte atuação dos movimentos sociais na cidade. O que sentimos na fala das trabalhadoras e trabalhadores é uma necessidade muito grande de mudanças, profundas e estruturais.

Por isso, é papel central do Comitê Operário em continuar avançando na agitação, propaganda e organização do operariado na nossa região, pois a mudança tanto desejada nunca virá das eleições, muito menos pelas mãos de um candidato fascista, mas da luta organizada da própria classe trabalhadora rumo ao poder popular e o socialismo.

Matéria publicada na edição n°305 do Jornal A Verdade.

Sarah Vive! Sua luta continua!

Completa-se um ano do brutal assassinato de Sarah Domingues, militante revolucionária da UJR em Porto Alegre.

Redação


PARTIDO – No dia 23 de janeiro, completará 1 ano do brutal assassinato da companheira Sarah Silva Domingues, que foi baleada enquanto tirava fotos para seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), em que denunciava as enchentes na Ilha das Flores, bairro periférico da capital gaúcha.

Sarah mudou-se de Campo Limpo Paulista para Porto Alegre em 2015, quando, através da lei de cotas, passou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, para realizar o curso de Arquitetura e Urbanismo.

Ela se aproximou da luta através de ações de solidariedade à Ocupação Lanceiros Negros e à Casa de Referência Mulheres Mirabal. Na UJR, começou a organizar estudantes do curso de Arquitetura e, rapidamente, tornou-se liderança estudantil na universidade. Em 2019, foi eleita coordenadora geral do DCE da UFRGS e diretora da UNE.

Como liderança estudantil da UFRGS, ocupou todos os espaços para garantir que alunos não fossem expulsos da casa do estudante, que não perdessem sua matrícula na UFRGS, que tivessem direito a transporte e a alimentação.

Jovem de apenas 28 anos, Sarah transbordava de amor à humanidade. Por isso, lutou incansavelmente pelos direitos da juventude, por educação de qualidade, por moradia digna e pelo fim do capitalismo.

Sarah Domingues nos deixou um grande exemplo de comunista e de camaradagem. Ela enxergava a todos e não negava ajuda a ninguém. Entregou os melhores anos da sua vida para lutar por condições dignas de vida e de educação.

Sarah entendia que as dificuldades vividas diariamente pelos estudantes para manter-se na universidade, assim como as enchentes avassaladoras que frequentemente assolam os bairros periféricos no Rio Grande do Sul, são reflexo de um projeto político que visa a precarização da vida do trabalhador no sistema capitalista. Por isso, Sarah militava incansavelmente pela construção do socialismo no Brasil, levantava alto a bandeira do Partido, e dedicava-se à formação de novos revolucionários. Sua falta é sentida todos os dias pelas dezenas de jovens cuja vida ela transformou ao apresentar a luta, e por todos seus camaradas que buscam em sua memória inspiração para continuar lutando.

Matéria publicada na edição n°305 do Jornal A Verdade.

Desigualdade no Brasil: aumenta número de bilionários enquanto povo fica mais pobre

60 Bilionários no Brasil acumulam R$943 bilhões enquanto maioria do povo vive com apenas o salário mínimo.

Rafael Pires (UP) e Rafael Freire (Redação)


BRASIL – Segundo levantamento do banco suíço UBS, o número de brasileiros bilionários chegou a 60 em 2024. Juntos, eles acumulam em suas mãos R$ 943 bilhões, um crescimento de quase 38% de suas fortunas em um ano.

Paralelamente, no mesmo período, o número de pessoas vivendo em situação de rua no país aumentou aproximadamente 25%, passando de 261.653 para 327.925, de acordo com o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais. O estudo é feito com os dados do Cadastro Único de Programas Sociais (CadÚnico), que reúne os beneficiários de políticas sociais, como o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), e serve como base para os repasses do Governo Federal aos municípios em relação às populações em vulnerabilidade.

Mas este fenômeno não é novo no sistema capitalista. Pelo contrário. Em 1867, Karl Marx publicou sua principal obra, O Capital, em que afirma, sobre o que chamou de Lei Geral da Acumulação Capitalista: “Ela condiciona uma acumulação de pobreza correspondente à acumulação de capital. A acumulação de riqueza num polo é, portanto, simultaneamente, acumulação de miséria, tormento de trabalho, escravatura, ignorância, brutalidade e degradação moral no polo oposto, isto é, do lado da classe que produz o seu próprio produto como capital”.

E mais. Marx ressaltava que devemos ter sempre em mente o salário relativo, pois, mesmo numa situação em que o salário do trabalhador aumenta, este aumento nunca se dá no mesmo nível do aumento do capital, da riqueza acumulada pelos capitalistas. Isto porque permanentemente ocorre a elevação dos preços dos produtos básicos necessário à reprodução da força de trabalho (manutenção do dia a dia de uma família da classe trabalhadora) e porque boa parte do salário conquistado pelo trabalhador volta à classe dos capitalistas quando se paga por algum produto ou serviço.

Salário mínimo

É o que acontece agora no Brasil. Desde 1º de janeiro, o salário mínimo passou a ser de R$ 1.518,00, um reajuste de 7,5% (apenas R$ 106,00) em relação ao anterior (R$ 1.412,00). Cabe destacar que o Arcabouçou Fiscal (novo nome dado pelo Governo Lula ao antigo Teto de Gastos dos Governos Temer e Bolsonaro) impediu um maior aumento do salário mínimo, visto que só permite “novos gastos” acima de 2,5% em relação ao ano anterior.

Se prevalecesse a forma de cálculo anterior, o aumento seria maior (neste caso, 3,2%), porque, além de corrigir o salário mínimo pela inflação, o governo teria de dar um ganho real equivalente ao crescimento do PIB de dois anos anteriores ao do reajuste.

Na verdade, a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada mensalmente pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) aponta que o Salário Mínimo Necessário para uma família de dois adultos e duas crianças seria de R$ 7.067,68, mais de cinco vezes maior do que o salário mínimo vigente.

Já os aposentados e beneficiários do INSS que recebem acima de um salário mínimo vão ter um aumento de 4,77% em 2025. O reajuste é baseado na inflamação acumulada em 2024, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Ou seja, o reajuste foi apenas para repor a inflação oficial.

A vida real, porém, fica cada dia mais cara do que mostram os números frios. O leite longa vida subiu 18,83%; carnes, 20,21%; óleo de soja, 29,21%; o café moído subiu 39,6% e a laranja, 48,33%, para citar alguns itens da alimentação do povo brasileiro. Os alugueis dos imóveis dispararam e as passagens de ônibus sofreram grandes aumentos neste início de ano em várias capitais (ver pág. 7). 

Para piorar, a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP) divulgou, em novembro, que 78% dos lares brasileiros estão endividados com faturas do cartão de crédito, boletos do varejo ou financiamentos de carros e imóveis.

Pessoa em situação de rua em Belo Horizonte (MG). Foto: Maxwell Vilela (JAV-MG)

Política econômica

Passada a primeira metade do Governo Lula, esse é o cenário das medidas tomadas por sua equipe econômica, encabeçada pelo ministro da Fazenda Fernando Haddad, resultado da política neoliberal de contenção de investimentos públicos, do fiel pagamento dos juros da dívida pública aos banqueiros e especuladores e de manutenção dos privilégios fiscais para os ricos e as grandes empresas. Já medidas pontuais que poderiam reduzir a carga nas costas dos trabalhadores, como a isenção de imposto de renda para quem ganha até R$ 5.000,00 por mês, ainda não saíram do papel.

“[O problema] é que um lado não quer contenção de gastos e outro não quer pagar imposto. Fica difícil. Direita não quer pagar os impostos. Esquerda não quer conter gastos. Como fecha as contas?”, disse Fernando Haddad, abrindo o jogo sobre como pensa em relação à luta dos mais pobres contra os mais ricos.

A verdade é que as contas estão muito bem definidas. A política de isenções fiscais segue a todo vapor para as grandes empresas e, de janeiro a setembro de 2024, esse valor chegou a quase R$ 111 bilhões, tendo as empresas do agronegócio ocupado a ponta da tabela.

O discurso de que essas empresas garantem muitos empregos, que a manutenção dessa política é fundamental para a economia, não se sustenta. A Syngenta, líder do ranking de isenções, foi beneficiária de mais de R$ 2,2 bilhões e mantém em seu quadro de funcionários apenas 4.100 trabalhadores. Graças ao apoio do Estado, obteve um faturamento de R$ 57 bilhões no ano de 2023 em suas atividades no país. 

Já a catarinense WEG, de motores elétricos, gerou a mais nova bilionária do mundo, Livia Voigt. Com apenas 20 anos, sem trabalhar na empresa, ela “construiu” sua fortuna como acionista e tem um patrimônio estimado de R$ 7 bilhões. Mais uma herdeira de sucesso, que teve como grande esforço ter nascido numa família rica, que construiu sua riqueza sobre a exploração da força de trabalho de milhares de operários.

Super-ricos

Quer dizer, mesmo quando há crescimento da economia brasileira, ao invés de garantir melhores condições de vida para o povo, maior circulação de dinheiro nas mãos dos trabalhadores, o que ocorre é um acúmulo de riqueza para os já super-ricos. Enquanto isso, as ações do Governo Federal não atacam o problema central da concentração de renda e seguem na tentativa de contribuir para o “sucesso” do capitalismo brasileiro.

Submetido às pressões do mercado financeiro, fica cada dia mais evidente o lado escolhido pelo Governo Federal, como mostra a indicação do novo presidente do Banco Central. Em janeiro de 2023, Lula afirmou: “Quero saber do que serviu a independência. Eu vou esperar esse cidadão [Campos Neto, ex-presidente do BC] terminar o mandato dele para a gente fazer uma avaliação do que significou o Banco Central independente”.

Já em vídeo após a indicação do economista Gabriel Galípolo para assumir o BC, o discurso foi outro: “Eu quero te dizer que você será, certamente, o mais importante presidente do Banco Central que esse país já teve, porque você vai ser o presidente com mais autonomia que o Banco Central já teve”.

Seguindo a lógica da autonomia e da independência do Banco Central (leia-se: “tô nem aí para o povo brasileiro”) o Comitê de Política Monetária do BC, órgão responsável por determinar a taxa oficial de juros no Brasil, já sob a orientação de Galípolo, esticou a corda e aumentou a chamada Taxa Selic para 12,25% ao ano. E já avisou, em carta endereçada ao ministro Haddad, datada de 10 de janeiro, que seguirá aumentando: “Diante de um cenário mais adverso para a convergência da inflação, antevê, em se confirmando o cenário esperado, ajustes de mesma magnitude [1%] nas próximas duas reuniões [do Copom]”. Ou seja, a previsão é de que os juros para 2025 cheguem perto dos 15% anuais.

Conforme denuncia Maria Lúcia Fattorelli, coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida, “o que adianta aprovar um pacote de cortes na casa de R$ 30 bilhões se, a cada 1% de aumento da Taxa Selic, cresce em R$ 55 bilhões os gastos com a chamada dívida pública?! Assim, seguiremos encurralados!”. Só na primeira semana de 2025, o Governo Federal gastou R$ 411 bilhões com juros e amortizações. Ano após ano, o sistema da dívida consome aproximadamente 45% de todo o Orçamento da União.

Ora, a grande questão da economia nacional está no fato de que tudo que é produzido pelo trabalho coletivo da classe operária e dos camponeses é apropriado pelos donos das empresas e das terras. Os alimentos não vão baixar enquanto os privilégios do agronegócio não forem enfrentados, tampouco a dependência da cotação internacional do dólar até que o Brasil permaneça como uma nação dependente dentro do sistema capitalista-imperialista mundial. Uma revolução que coloque nosso país nos rumos da construção da soberania, do poder popular e do socialismo é a única possibilidade que temos de sair dessa encruzilhada histórica.

Matéria publicada na edição n°305 do Jornal A Verdade.

Comunidade de Vitória (ES) luta para garantir manutenção de espaço de convivência

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Comunidade de Goiabeiras, em Vitória, luta pela preservação de espaço de convivência e patrimônio cultural, enfrentando especulação e negligência pública.

Evandro Lima Peniche | Vitória (ES)


LUTA POPULAR – Goiabeiras, um dos bairros mais antigos de Vitória, no Espírito Santo, é reconhecido pelo seu patrimônio cultural. Destacam-se suas bandas de congo e a tradicional Panela de Barro, cujo conhecimento de produção é transmitido por gerações, preservando um saber ancestral. Entretanto, apesar desse rico legado, o bairro enfrenta há décadas a pressão de empresas privadas e políticos oportunistas, que ameaçam sua identidade e o direito de seus moradores ao território.

Um dos símbolos de resistência dessa comunidade de Vitória, o 3 de Maio Futebol Clube, luta na justiça para recuperar o campo onde, desde 1938, é um espaço para as suas atividades esportivas e promove o lazer e a integração social. Contudo, o clube enfrentou ataques violentos contra seu espaço: no início dos anos 2000, o forte grupo empresarial, em uma ação arbitrária e carregada de desrespeito ao bairro, despejou terra, pedras e entulhos no campo, inviabilizando as atividades comunitárias.

Recentemente, uma vitória judicial devolveu ao 3 de Maio o direito de utilizar o campo. A comunidade, em um esforço coletivo, limpou o local, nivelou o solo e reinstalou as traves. Mas, em nova investida, o mesmo grupo empresarial recorreu à justiça e obteve mais uma decisão contrária à comunidade, impedindo, novamente, que o campo fosse utilizado para práticas esportivas.

A situação piorou em outubro de 2024, quando, com o apoio da prefeitura de Vitória, do governo do Espírito Santo e do deputado estadual Deninho (União Brasil), uma megaestrutura de um evento comercial foi montada no campo reestruturado pela comunidade, numa ação que ignorou todas as decisões judiciais. As traves foram retiradas, piche foi despejado no solo, e todo o esforço coletivo foi desrespeitado, sem qualquer consulta aos que historicamente defendem o direito ao esporte e lazer no local. Em anos anteriores, o mesmo evento costumava ser realizado em uma rua nas proximidades do campo, o que evidencia ainda mais que o poder público e a burguesia, além de nunca terem lutado pela preservação e manutenção da área, se aproveitaram do trabalho coletivo da limpeza do espaço.

Enquanto isso, os moradores de Goiabeiras convivem cada vez mais com o aumento da violência policial e do tráfico. As crianças, que veem no esporte uma saída, um espaço de lazer e interação, estão sendo privadas do campo que sempre pertenceu à comunidade. Este espaço, agora objeto de especulação por empresários locais, é um direito da população de Goiabeiras.

A luta por moradia e por espaços de convivência nos centros urbanos é decorrência da ganância dos capitalistas e da conivência do poder público burguês. Precisamos lutar pelo fim da democracia burguesa e instauração do socialismo. Apenas quando o povo estiver no poder é que poderemos enfim utilizar os espaços e a sociedade segundo as nossas necessidades e distribuir os bens e espaços públicos de acordo com as realidades locais sem visar os interesses privados e o lucro