UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

quinta-feira, 21 de agosto de 2025
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Comissão da Câmara avança na perseguição política ao deputado Glauber Braga

Sob pressão de parlamentares fascistas e do Centrão, Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a continuidade o processo de cassação do mandato do socialista Glauber Braga.

Felipe Annunziata | Redação


BRASIL – Em mais uma sessão de cartas marcadas, deputados de partidos do Centrão e da bancada fascista da Câmara forçaram a aprovação do processo de cassação de Glauber Braga. O deputado socialista é vítima de uma perseguição política patrocinada pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) por sua oposição ao esquema de corrupção do Orçamento Secreto.

A sessão desta terça (29) contou com uma forte mobilização popular em apoio a Glauber, liderada pelo movimento sindical presente na Marcha da Classe Trabalhadora. Durante todas as sessões de debate sobre a cassação de Glauber, a pressão popular, de trabalhadores e estudantes, tem sido uma constante.

“Deputados, eu entendo que alguns dos senhores queiram se vingar de mim neste momento, por conta das minhas posições políticas. Entendo. Agora, independentemente disso, a defesa do mandato neste momento se faz como uma garantia pelas liberdades democráticas e por muita gente que não está sentada nesta cadeira neste momento, mas que tem expectativa nesta sessão.”, afirmou o deputado mostrando a inconstitucionalidade de sua cassação.

Socialistas já foram perseguidos no Parlamento no passado

Todas as articulações de Arthur Lira e de lideranças do Centrão tem mostrado um desejo deste setor em criar um chamado “precedente” para poder no futuro ampliar a perseguição à deputados progressistas ou de esquerda.

Hoje, o Centrão já controla cerca de 60 bilhões de reais do orçamento federal no esquema do chamado “Orçamento Secreto”. Este dinheiro é usado em obras e “projetos” com fortes indícios de corrupção e desvio de verbas que depois são usadas para comprar votos de eleitores durante as eleições municipais e parlamentares.

O objetivo agora parece ser ter também o controle sobre quem pode e quem não pode exercer o mandato parlamentar. Mesmo Glauber tendo tido 78 mil votos no Rio, não ser acusado em nenhum esquema de corrupção e ter forte apoio popular no estado e no país, está sendo alvo da cassação por se colocar como oposição ao comando do Centrão na Câmara.

Há mais de 100 anos, os antepassados do atual “Centrão” já controlavam a Câmara dos Deputados e faziam uma série de manobras para impedir a eleição  e cassar de deputados socialistas, progressistas ou de oposição naquela época. Este processo ficou conhecido como a “degola” de deputados. Foi assim que as grandes famílias latifundiárias mantiveram o controle do Estado por 40 anos durante a chamada “República Velha”. Arthur Lira parece querer voltar com este sistema.

Durante a sessão, a deputada Sâmia Bonfim lembrou do histórico de perseguições contra deputados socialistas no passado, lembrando da Ditadura Militar Fascista, que cassou 40 parlamentares e da cassação dos deputados do antigo PCB, em 1947. Naquela época, masi de 10 deputados e o então senador comunista Luis Carlos Prestes foram cassados arbitrariamente por defenderem o socialismo dentro do Parlamento brasileiro.

Mobilização popular contra a cassação continua

Mesmo com o resultado, Glauber insistiu na necessidade da continuidade da mobilização popular como única arma para barrar o golpe do Centrão e dos fascistas. O parlamentar socialista prometeu circular todos os estados do país em atos políticos para denunciar a perseguição e dialogar com a população sobre a sua cassação.

A ideia é ampliar a pressão popular para fazer os deputados do Centrão a recuar. No início de abril, o deputado ficou 9 dias em greve de fome, fruto desta posição, Glauber conseguiu a garantia do presidente da Câmara Hugo Motta de que não pautaria a cassação por 60 dias após a sessão de hoje.

Agora o objetivo é continuar este processo de pressão por outros meios. Atos já estão sendo organizado em mais de uma dezena de estados como parte desta campanha do deputado. Partidos, como a UP, organizações políticas e movimentos sociais já estão se mobilizando para ampliar a pauta em defesa do mandato socialista de Glauber.

Cortes em políticas públicas ampliam a violência contra as mulheres no Brasil

“Em menos de uma década da aplicação de medidas de austeridade que inviabilizam políticas públicas, os efeitos já são visíveis. Entre 2011 e 2025, o número de casos de estupro aumentou 91,5%; as mortes por intervenção policial cresceram 188,9%; e, de 2015 a 2024, os feminicídios quase triplicaram, saltando de 535 para 1.450 casos por ano.”

Redação


Milhões de brasileiras enfrentam as consequências dos cortes em políticas públicas voltadas para as mulheres. Desde 2016, com a aprovação da “PEC do Teto de Gastos” (Emenda Constitucional nº 95), os investimentos em saúde e educação despencaram. A mídia tradicional vendeu a medida como uma solução para equilibrar as contas públicas. Mas a realidade foi outra: menos dinheiro para os serviços básicos, pagos com o suor da população. O resultado é visível — e o prejuízo é imenso.

Em 2023, a chamada “Lei do Teto de Gastos” foi substituída pelo novo Arcabouço Fiscal, que mantém a lógica de restrição a investimentos em políticas públicas. A promessa de equilíbrio fiscal continua tendo como custo a redução dos recursos destinados a áreas essenciais.

Em menos de uma década da aplicação dessas medidas de austeridade, os efeitos já são visíveis: o Brasil registra uma escalada da violência. Entre 2011 e 2025, o número de casos de estupro aumentou 91,5%; as mortes por intervenção policial cresceram 188,9%; e, de 2015 a 2024, os feminicídios quase triplicaram, saltando de 535 para 1.450 casos por ano — um aumento de 171%, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2024) e o Relatório Socioeconômico da Mulher (2025).

Mesmo diante desses números alarmantes — e da avalanche de reportagens sobre feminicídios —, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), mantém a cartilha de cortes em políticas públicas.

Essa política de desmonte cria o ambiente para tragédias como a ocorrida entre os dias 18 e 21 de abril, durante o feriado prolongado, quando dez mulheres foram assassinadas no Estado.

O cenário atual é resultado de anos de desmonte. Em 2014, o orçamento destinado a políticas públicas para mulheres no Rio Grande do Sul era de R$ 17,487 milhões. Já em 2019, primeiro ano da gestão Eduardo Leite, a previsão orçamentária despencou para irrisórios R$ 89,7 mil. Em 2024, o orçamento anunciado pelo governo foi de R$4,2 milhões – muito abaixo do que era investido em 2014. Importante frisar que destes R$4,2 milhões, R$4 milhões foram enviados pelo governo federal através do Fundo Nacional de Segurança Pública para o enfrentamento da violência contra as mulheres. Contudo, o recurso não foi utilizado.

Será que o governador não sabe que existe apenas UMA Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher aberta 24 horas? Ou que não existe NENHUMA Casa da Mulher Brasileira em todo o Rio Grande do Sul? Quantas mulheres terão de morrer pela mão de maridos/namorados para que Eduardo Leite governe para as mulheres trabalhadoras?

As políticas públicas não são um favor dado pela bondade para a população. As políticas públicas são direitos conquistados com a luta de povos revolucionários que implementaram, nos países socialistas, a garantia de saúde e educação pública e gratuita, além da igualdade salarial entre homens e mulheres promovendo a autonomia das mulheres, amplas campanhas de sensibilização, garantia de serviços de apoio e garantia de direitos sociais como habitação, por exemplo.

Os cortes nas políticas públicas são um dos pilares do neoliberalismo, política econômica que visou acabar com as conquistas dos países socialistas e expandir o capitalismo, que beneficia os bancos, os mega empresários e os latifundiários. Na divisão de tudo que é produzido no país (e no mundo) praticamente tudo fica para os capitalistas e seus capachos, sobrando para nós apenas o crescente desejo de acabar com esse sistema injusto e assassino de mulheres e a vontade de construir uma revolução socialista em nosso país que coloque, de uma vez por todas, a vida das mulheres trabalhadoras enquanto uma prioridade para toda a sociedade.

Após um ano e meio de genocídio, governo brasileiro se recusa a romper relações com Israel

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“Indiretamente, o Estado brasileiro se torna a cada dia cúmplice do genocídio, ainda que por omissão. Enquanto a população de Gaza é exterminada, Israel tem toda liberdade de apoiar e financiar os fascistas brasileiros, usar a mídia burguesa do Brasil para fazer propaganda de guerra e tenta silenciar vozes palestinas.”

Felipe Annunziata | Redação


O genocídio palestino cometido pelo Estado de Israel já deixou mais de 60 mil pessoas assassinadas, 100 mil feridos e 2 milhões de desabrigados. Mesmo assim, o governo brasileiro se recusa a romper relações diplomáticas e comerciais com Israel.

Entre os dias 25 e 26 de abril, cerca de 50 palestinos foram assassinados em bombardeios. Um dos ataques aéreos destruiu uma casa e matou dez pessoas da mesma família: dois homens, três mulheres e cinco crianças. Este ataque ocorreu no momento em que uma delegação do Hamas se dirigia ao Egito para negociar um novo cessar-fogo com Israel.

Um ano após o início do genocídio, em outubro, o chanceler Mauro Vieira foi taxativo sobre o não rompimento com o regime sionista. “Nós não rompemos relações diplomáticas porque nós acreditamos no diálogo e achamos que, conversando, sempre dialogando pelos canais diplomáticos, é melhor. Não está em consideração romper relações, o rompimento não leva a nada, somente ao acirramento da situação, que pode levar a conflitos maiores na região. Então, não está nas nossas considerações”, afirmou na cúpula dos Brics, na Rússia.

Ou seja, para o ministro de Relações Exteriores do Brasil não é suficiente o assassinato sistemático de dezenas de milhares de pessoas para romper com Israel. O presidente Lula, por sua vez, já condenou com palavras a matança em Gaza, mas, até agora, sem as ações concretas em apoio ao povo palestino.

Nem mesmo o caso dos 11 brasileiros-palestinos presos em centros de tortura de Israel, depois de o adolescente Walid Ahmad, de 17 anos, ter sido assassinado após meses de tortura numa prisão israelense, o governo daqui mudou de postura. Tornaram-se rotineiras as notas de “profunda consternação”, em que se condenam os ataques israelenses, mas não se indica nenhuma ação objetiva por parte do governo brasileiro.

Em novembro de 2024, a Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) entregou uma carta diretamente ao governo federal defendendo o rompimento das relações diplomáticas com o regime neonazista de Benjamin Netanyahu. Após o assassinato do jovem Walid, novamente a Fepal cobrou uma posição neste sentido: “Se a orgia genocidária promovida pelos israelenses em Gaza não foi o suficiente para o Itamaraty tomar uma medida à altura, será que um adolescente brasileiro torturado até a morte em um campo de concentração sionista fará com que os diplomatas e o governo brasileiro enxerguem a necessidade civilizatória de romper com ‘israel’?”, questionava a nota.

Além disso, segundo informações divulgadas hoje (28/4) pela FEPAL, o governo sionista de Netanyahu se recusa a entregar o corpo de Walid para sua família. Trata-se de uma prática recorrente do estado de Israel, que nega sistematicamente o direito dos palestinos de enterrar seus entes queridos assassinados em prisões israelenses.

Não bastasse isso, desde de outubro de 2023, o governo brasileiro e o próprio presidente são alvos de ofensas e humilhações diplomáticas por parte de Israel. Este foi o caso da declaração de Lula como persona non grata no país sionista. Esta declaração significa que o presidente não pode entrar em Israel e é uma sanção nunca aplicada antes contra um presidente brasileiro.

Fascistas negociam livremente

A posição vacilante do governo deu espaço aos governadores e parlamentares fascistas para negociar acordos diretamente com Israel. Desde o ano passado, o Governo de São Paulo, do fascista Tarcísio de Freitas, fechou uma série de acordos com o Estado terrorista nas áreas de segurança, agricultura e ciência e tecnologia.

Já é conhecido o uso de armas israelenses de grosso e médio calibre pelas Polícias Militares do país. Além disso, durante o Governo Bolsonaro, programas espiões israelenses foram adquiridos para espionar militantes e partidos de oposição.

Já durante o Governo Lula, o reacionário Alto Comando do Exército, com apoio do Ministério da Defesa, tentou comprar armas israelenses no valor de R$ 1 bilhão. Diante do massacre palestino e da pressão, o Governo Federal cancelou a compra.

Petróleo do Brasil no genocídio

Segundo a organização Oil Change International, o Brasil foi responsável por 9% de todo petróleo consumido por Israel em 2024. Ou seja, se o Exército que mata palestinos é israelense, as armas são estadunidenses, podemos dizer que o petróleo usado nessa guerra também é brasileiro.

Se nosso país, desde o início do genocídio, tivesse rompido com Israel, o prejuízo à máquina de matança sionista teria sido considerável. No entanto, a regra daqui é só condenar em palavras, mas não em ações.

Na realidade, o que ocorre é que indiretamente o Estado brasileiro se torna a cada dia cúmplice do genocídio, ainda que por omissão. Enquanto a população de Gaza é exterminada, Israel tem toda liberdade de apoiar e financiar os fascistas brasileiros, usar a mídia burguesa do Brasil para fazer propaganda de guerra e tenta silenciar vozes palestinas aqui.

110 anos do Genocídio Armênio

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Em 24/04/1915, teve início o genocídio armênio, com 1,5 milhão de vítimas. A luta por reconhecimento global e reparação permanece, unindo povos contra a negação histórica e reforçando a solidariedade internacionalista.

Aram Poladian | São Paulo (SP)


O dia 24 de abril marca uma data triste, mas também de luta pela memória de todo o povo armênio no mundo: há exatos 110 anos, em 1915, iniciava-se o processo de genocídio e perseguição do povo armênio no então Império Otomano ˗ atualmente território da Turquia. No total, até o ano de 1923, cerca de 1 milhão e 500 mil armênios foram assassinados em diferentes circunstâncias, vítimas da política de perseguição sistemática implementada pela coalizão dos Jovens Turcos, grupo político que visava a reforma da então monarquia otomana.

Ao longo da Primeira Guerra Mundial, com zonas de conflito em diferentes partes do Império Otomano, a violência perpetrada pelas nações imperialistas na partilha de mercados e territórios ficou evidente. Sob a tensão da guerra e a influência do Império Russo no Cáucaso – atual região da Armênia -, os armênios foram classificados como inimigos de estado dentro do Império Otomano, e em 24 de abril de 1915, no dia da Páscoa, suas lideranças políticas e intelectuais foram deportadas ou assassinadas. Essa primeira investida das forças policiais otomanas inaugurou a série de violações às quais o povo armênio seria submetido naquele período.

Mesmo com o conhecimento do Ocidente sobre as atrocidades cometidas dentro do Império Otomano, a perseguição étnica atingiu uma variedade de povos. Assírios, gregos, entre outros grupos tiveram comunidades inteiras condenadas à fome, doença e deportação. Apesar de todas as adversidades, entre 1918 e 1920 o povo armênio conseguiu sua primeira independência, mas isso não bastou para conter o grande fluxo de refugiados e a formação do que conhecemos hoje como diáspora armênia. Atualmente na Armênia (ou Hayastan na transliteração) há 3 milhões de habitantes, mas muitos outros milhões pelo mundo, que há mais de 3 gerações, buscam recomeçar a vida em diferentes países como Rússia, França, Estados Unidos e Brasil.

Luta pela História

Mais do que respeitar e honrar a memória daqueles que perderam suas vidas, o esforço de toda a comunidade armênia espalhada pelo mundo é na luta pelo reconhecimento internacional do genocídio, desbancando o negacionismo do estado Turco e clamando pela reparação das milhões de famílias afetadas.

Um exemplo da lentidão deste processo de reconhecimento é o próprio Brasil, que até hoje não reconhece oficialmente esse crime contra a humanidade, tendo aprovado apenas em 2015 uma moção de solidariedade ao povo armênio no Senado Federal. Trinta e três nações já declararam o reconhecimento, sendo o Uruguai o primeiro deles a fazê-lo, em 1965, entretanto ainda são poucos se considerarmos os 193 países integrantes da ONU. Ainda temos o longo caminho pela frente.

A ausência de reparação por um crime desta gravidade, infelizmente reflete a impunidade que testemunhamos internacionalmente, com o genocídio do povo palestino, com a deportação, em 2023, dos 150.000 armênios que habitavam a região de Artsakh ˗ também conhecida como Nagorno Karabakh, região localizada em território do Azerbaijão ˗, com a guerra civil na República Democrática do Congo, entre tantas outras atrocidades que estão em curso pelo mundo nos últimos anos.

A presença armênia no Brasil

A chegada dos armênios no Brasil teve início entre os anos 1910 e 1920, com muitas pessoas desembarcando dos navios em busca de moradia e emprego nos grandes centros urbanos do país. Atualmente a maioria dos armênios residem nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.

No centro da cidade de São Paulo temos muitas construções importantes para a comunidade, não é à toa que na linha azul do metrô ˗ a mais antiga da cidade ˗ você pode desembarcar na estação Armênia, cercada por e pela escola Hay Azkain Turian Varjaran, que permitiu que centenas de armênios acessassem educação e pudessem preservar o aprendizado da cultura e da língua do país. Ao lado da estação de metrô, temos também o monumento das vítimas do genocídio, que fica exatamente entre as 3 igrejas e recebe todo 24 de abril, cerimônias em memórias daqueles que foram martirizados.

Um evento tão catastrófico redefiniu todo o legado de um povo e deixou marcas irreparáveis, os armênios dirão que onde há 2 armênios uma nova Armênia ressurgirá, e é exatamente esse espírito que garante que tantos de nós lutemos por nossa história.

Não podemos deixar de pressionar as autoridades brasileiras pelo reconhecimento do Genocídio Armênio, ignorado em razão de “preservar” relações econômicas e diplomáticas com a Turquia, nem podemos permitir que o estado brasileiro continue sendo omisso com tantas outras causas internacionais. É urgente reforçar o caráter internacionalista da luta dos trabalhadores do mundo, principalmente enquanto o lucro for posto à frente da vida de milhões de pessoas.

Referência Bibliográfica:

Loureiro, Heitor de Andrade Carvalho. Pragmatismo e Humanitarismo: A Política Externa Brasileira e a Causa Armênia (1912-1922). N.p., 2016. Print.

Plano Safra do governo Lula prioriza fazendeiros

“O novo texto do Plano Safra veio após críticas da bancada ruralista sobre a suspensão das linhas de financiamento em texto da MP anteriormente encaminhado.”

Wildally Souza | São Paulo (SP)


O Governo Federal publicou, no dia 25 de fevereiro, a Medida Provisória (MP) que garante R$ 4,18 bilhões em crédito extraordinário para o Plano Safra 2024/2025. Do valor total do plano, apenas R$ 645 milhões (15,4%) serão destinados para a agricultura familiar – os verdadeiros responsáveis pela comida nas mesas do povo brasileiro –, enquanto R$ 3,5 bilhões foram destinados ao agronegócio – que exporta carne, soja e ovo e financia campanhas de partidos fascistas e golpes de Estado.

O novo texto do Plano Safra veio após críticas da bancada ruralista sobre a suspensão das linhas de financiamento em texto da MP anteriormente encaminhado.

Eleito tendo como bandeiras fundamentais a defesa da democracia, o combate ao golpismo e reforma agrária, o governo Lula caminha na contramão dos interesses do povo pobre e mostra que sua prioridade é a chamada governabilidade, fazendo afagos ao agronegócio e aos grandes empresários golpistas.

Alto custo de vida

Com rios de dinheiro investidos em grandes campanhas de marketing, o agronegócio vende ao povo brasileiro a mentira insustentável de que alimenta o mundo e gera mais empregos, produzindo de forma sustentável.

Os dados e as notícias diárias nos mostram outra realidade. O agro é o principal responsável pela devastação florestal, envenenamento dos solos, das águas e dos ataques constantes e mortes dos povos indígenas e quilombolas, além do assassinato de ambientalistas e defensores da terra. Usam ainda força de trabalho escravo em suas propriedades para garantir as altas taxas de lucro.

A agropecuária no Brasil representa algo em torno de 8% do PIB brasileiro apenas. Muito diferente dos 28% que costumam afirmar. Isso se dá porque o crescimento da produção é extremamente concentrado nas chamadas commodities agrícolas, ou seja, no comércio internacional do que é produzido em nossas terras.

Em 2004, as propriedades rurais com mais de 100 mil hectares ocupavam apenas 2% da área total registrada pelo Incra. Em 2018, essas mega propriedades já correspondiam a 18% da área total (1 hectare equivale a aproximadamente um campo de futebol). Vale ressaltar que essas áreas, verdadeiros países dentro do Brasil, pertencem a apenas 424 imóveis rurais. Ou seja, na estrutura fundiária brasileira, 0,006% das propriedades concentram 18% da área total! Só os três maiores conglomerados capitalistas (Bom Futuro, SLC Agrícola e Amaggi) são donos de 1,5 milhão de hectares.

Prioridade é o povo

São os trabalhadores do campo e a agricultura familiar os responsáveis por mais de 75% de toda a comida que chega às mesas brasileiras. Portanto, se é a agricultura familiar quem gera emprego e renda no campo e garante a produção de comida saudável e sustentável para a população brasileira, por que a atividade só recebe cerca de 15% do financiamento da produção agrícola? Isso só prova que é a lógica neoliberal que tem guiado as decisões econômicas do Governo Lula, que constantemente cede aos interesses dos ricos do país e não atende aos interesses dos trabalhadores.

Não há outra saída senão a mobilização e a organização da classe trabalhadora para derrubar esse sistema capitalista imundo, que promove fome e desigualdades sociais. É urgente a construção de uma sociedade em que a comida não sirva ao lucro dos grandes empresários a partir da fome do povo pobre. É preciso, no campo e na cidade, erguer a bandeira do socialismo!

Matéria publicada na edição impressa nº 309 do jornal A Verdade

Papa Francisco defendeu a classe trabalhadora e denunciou genocídio na Palestina

Em 2014, em entrevista ao jornal La Repubblica, Papa Francisco surpreendeu ao afirmar: “Os comunistas pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os fracos e os excluídos sejam os que decidam”.

Nayara Cordeiro | Campina Grande (PB)


Morreu, aos 88 anos, na manhã da última segunda-feira (21), o Papa Francisco. De acordo com o Vaticano, a causa da morte foi uma parada cardiorrespiratória em decorrência de complicações pulmonares.

Jorge Mario Bergoglio, o primeiro papa latino-americano da história, faleceu deixando uma gestão considerada “reformista” na Igreja Católica. Argentino, filho de trabalhadores, assumiu o papado em 2013 prometendo uma “Igreja pobre para os pobres”.

Sua última declaração pública foi um apelo pelo cessar-fogo imediato em Gaza, denunciando os crimes cometidos pelo Estado de Israel contra o povo palestino. Sua postura clara e firme em defesa da Palestina, ao lado de sua crítica permanente ao sistema econômico mundial, “uma economia que mata”, colocaram-no em confronto direto com as potências imperialistas, o conservadorismo cristão e os setores mais reacionários da própria Igreja. Francisco ligava todos os dias para o padre Gabriel Romanelli, da Paróquia de Gaza. A Faixa de Gaza conta com uma importante comunidade cristã que existe há quase dois mil anos.

Crítica à ganância capitalista

Em suas palavras e gestos, o Papa Francisco se aproximou da Teologia da Libertação, da tradição de luta dos padres e freiras que enfrentaram ditaduras, e das comunidades cristãs que vivem a fé no combate à desigualdade social e ao fascismo. Como líder maior da Igreja Católica, denunciava as injustiças sociais, a destruição ambiental, o racismo e as guerras imperialistas.

O Papa também enfrentou a extrema-direita mundial. Condenou o negacionismo, o armamentismo e os líderes que instrumentalizam a religião para fins autoritários. Seus embates com Jair Bolsonaro, Donald Trump e líderes católicos ultraconservadores marcaram uma divisão nítida entre suas posições políticas e o fascismo global.

“Os comunistas pensam como os cristãos”

Em 2014, em entrevista ao jornal La Repubblica, Francisco surpreendeu ao afirmar: “Os comunistas pensam como os cristãos. Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os fracos e os excluídos sejam os que decidam”. A frase gerou polêmica entre a ala reacionária da Igreja, mas sintetizou uma verdade histórica muitas vezes esquecida: o cristianismo das origens é, em sua essência, profundamente solidário.

O jornal A Verdade já publicou textos sobre essa relação entre cristianismo e a luta revolucionária, não no sentido institucional, mas na prática de vida. Francisco, mesmo sem romper com as estruturas do Vaticano, recuperou a memória de que Jesus não fundou impérios, mas comunidades; de que o Evangelho não legitima a opressão, mas sim a combate.

A estrutura conservadora da Igreja Católica

Agora, os católicos de todo o mundo se preparam para um novo Papa. Apesar de reunir 1,5 bilhão de fiéis em todos os continentes, apenas 135 cardeais terão direito a votar no novo Papa. Esta estrutura, de uma profunda raiz medieval, é o que tem garantido, nos últimos 1500 anos, colocar o governo da Igreja Católica ao lado dos governos dos ricos.

Francisco foi uma exceção a esta regra. A maioria de seus antecessores sempre se colocou ao lado dos governos capitalistas e contra as revoluções socialistas e os governos dos trabalhadores.

Este foi o caso do Papa Pio XII (papado entre 1939 e 1958), que, em troca do seu apoio ao fascismo italiano de Benito Mussolini, garantiu mais direitos e riquezas para a Igreja de Roma dentro da Itália. Outro exemplo foi o Papa João Paulo II, que perseguiu internamente clérigos de esquerda e progressistas durante a década de 1980. Foi durante o seu papado que padres ligados à Teologia da Libertação foram excluídos de espaços dentro da Igreja.

Agora, um novo conclave está prestes a se iniciar e muitos cardeais querem retomar essa posição conservadora e reacionária da Igreja. Com uma estrutura reacionária de governo, nada garante que as posições do Papa Francisco continuarão tendo influência na Igreja.

Mais importante do que esperar que venha um novo papa “progressista” é ganhar trabalhadores e trabalhadoras católicos de todo o mundo para as pautas que Francisco defendia. A defesa do meio ambiente, o combate à acumulação de riquezas capitalistas e a defesa do povo palestino são pautas urgentes para os povos do mundo.

Novo ato mobiliza trabalhadores contra a escala 6×1 por todo o Brasil

Atos pelo fim da escala 6×1 e a redução da jornada de trabalho ocuparam shoppings e locais de trabalho em mais de 60 cidades de todo o país nesta quarta-feira (23/4).

Felipe Annunziata e Guilherme Arruda


Nesta quarta-feira (23/4), trabalhadores e militantes da Unidade Popular pelo Socialismo (UP) foram às ruas em dezenas de cidades para denunciar a escala 6×1 e defender a redução da jornada de trabalho no país. Os atos, que dão sequência às manifestações do último dia 19 de março, contaram com forte adesão de movimentos sociais e também dos funcionários de shoppings nos mais de 60 municípios onde ocorreram.

No estado de São Paulo, somando a Região Metropolitana da capital e os interiores, centenas de trabalhadores ocuparam 15 shoppings — entre eles, o Shopping Metrô Tatuapé, na Zona Leste da capital, e o Osasco Plaza Shopping. Jograis, palavras de ordem, panfletagens e brigadas do jornal A Verdade denunciaram a exploração a que estão submetidos milhões de pessoas no nosso país, que hoje trabalham na escala 6×1 e 44 horas semanais, sem contar as horas extra.

“A escala 6×1 é muito cansativa, eu também trabalho em shopping e a gente só trabalha, é muita exploração. Eu acho que essa manifestação aqui é o começo de tudo. A gente que faz girar a economia do país, se a gente não se juntar, nada muda”, denunciou Camila, que estava no Shopping Bandeiras, em Campinas (SP), quando o ato ocorreu.

No mesmo tom, Mariana, ouvida pela reportagem no Shopping Metrô Tatuapé, afirmou: “Eu trabalhei cinco anos em shopping, é uma escravidão. Do que adianta ter convênio médico no contrato, se a gente não consegue nem tirar um momento pra usar? A gente tem que fazer de tudo pra acabar com essa escala maldita o mais rápido possível.”

O roteiro se repetiu em outras capitais do país, além de cidades do interior. É o caso do estado do Rio de Janeiro, onde pelo menos três cidades tiveram shoppings ocupados. Atos ocorreram no Shopping Nova América, na capital, no Caxias Shopping, localizado na região metropolitana, e em um shopping de Niterói.

A denúncia das péssimas condições de trabalho esteve sempre presente: “É bem complicado, ainda mais pra quem tem filho e pra quem estuda. Um dia só não dá pra fazer nada, e ainda tem a questão dos lugares que não pagam feriado. Os horários também são muito cansativos, eu saio 23h30”, afirmou Ingrid, trabalhadora do Caxias Shopping, ao jornal A Verdade.

Além disso, houve manifestações por toda a região Nordeste, mais notadamente em Salvador (BA), Recife (PE), Natal (RN), Fortaleza (CE) e mais de uma dezena de outros municípios. “Foi muito importante ter feito esse ato contra a escala 6×1 para denunciar a exploração dos trabalhadores, especialmente no setor de Serviços. Conseguimos fazer essa denúncia apesar da truculência das empresas e dos donos dos shoppings, que recai tanto contra os trabalhadores quanto contra essa luta”, avaliou Cassiano Bezerra, diretor da União Nacional dos Estudantes (UNE) que participou da manifestação em Recife, no Shopping Boa Vista.

No Sul, os três estados contaram com manifestações. Uma das mais expressivas foi em Porto Alegre, onde mais de uma centena de pessoas ocuparam um shopping. Em Florianópolis e Curitiba também ocorreram manifestações semelhantes.

No Centro-Oeste, as capitais também foram palco de grandes atos. Em Brasília (DF), os trabalhadores que se somaram à mobilização fizeram denúncias sobre como a escala 6×1 e as longas jornadas de trabalho prejudicam a saúde e a vida de milhões de homens e mulheres no país. Com violência, seguranças do shopping Conjunto Nacional tentaram impedir a manifestação de acontecer – no entanto, o ato pacífico continuou seu curso, recebendo o apoio de trabalhadores e clientes do espaço.

Mobilização reforça luta contra escala 6×1

A mobilização de hoje, convocada por trabalhadores e pela Unidade Popular, reforça a luta nacional contra a exploração imposta pelos patrões na forma da escala 6×1. Hoje, a grande maioria dos trabalhadores contratados via CLT são submetidos a esse modelo de exploração, onde seis dias de trabalho são seguidos de apenas uma jornada de descanso.

Durante os atos, muitos trabalhadores dos shoppings levaram espontaneamente ao jornal A Verdade depoimentos e denúncias de folgas cortadas por seus chefes, o desenvolvimento de problemas de saúde mental e física, horas não pagas, e muitas outros problemas. Há muitos casos em que são obrigados a trabalhar 15 ou 20 dias sem descanso, contando com apenas uma ou duas folgas por mês. Nesses locais de trabalho, a situação se agrava durante feriados prolongados e datas comemorativas como a Páscoa.

Além da falta de folgas, os trabalhadores da escala 6×1 são submetidos a uma realidade cruel no transporte público. Muitos gastam duas ou até mais horas por dia durante o deslocamento de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Esse cenário, agravado pela privatização dos transportes públicos e os sucessivos aumentos de passagem nos ônibus e trens, torna ainda mais difícil a vida desses trabalhadores.

Por isso, a jornada de lutas convocada pela UP evidencia a necessidade de o conjunto da classe trabalhadora unir-se em defesa do fim da escala 6×1 e da redução da jornada de trabalho para 36 horas semanais.

O partido também vem defendendo, assim como o mais recente editorial do jornal A Verdade, a necessidade de conquistar o aumento de 100% do salário mínimo e a redução do preço dos alimentos, contra a ganância dos supermercados e da indústria alimentícia.

Somente com o avanço dessas pautas é possível dar início às transformações estruturais do país e a melhoria significativa da qualidade de vida do conjunto do povo brasileiro — um chamado que foi reforçado pela UP nesta quarta-feira.

A violência contra as mulheres em Carpina

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Carpina registrou 62 casos de violência doméstica contra mulheres nos dois primeiros meses de 2025, segundo a Secretaria de Defesa Social de Pernambuco. A taxa de 72 ocorrências por 100 mil habitantes revela o cenário agravado pela falta de estrutura pública de acolhimento e pela subnotificação.

Isabella Morais | Redação PE


MULHERES – A violência contra as mulheres segue sendo uma grave realidade no Brasil e no Estado de Pernambuco, e a cidade de Carpina não está isenta desse problema, pelo contrário. Os dados e as notícias revelam a cultura do machismo e da misoginia, que é o ódio às mulheres, elevadas ao extremo no município.

De acordo com dados da Gerência Geral de Análise Criminal e Estatística, da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE), a cidade registrou 62 casos de violência doméstica contra mulheres nos meses de janeiro e fevereiro de 2025. Embora tenha havido uma mínima redução de 6,25% no número de ocorrências de janeiro (32 casos) para fevereiro (30 casos), a taxa ainda é alarmante e demonstra que pouco ou quase nada tem sido feito para garantir a segurança das mulheres carpinenses.

Quando relacionamos esse número com a população estimada de Carpina, que é de 85 mil habitantes, temos uma taxa de 72,94 casos de violência contra mulheres por 100 mil habitantes. Essa taxa, embora inferior à de municípios como Recife (95,4), Jaboatão dos Guararapes (95,6) e Caruaru (131,5), ainda revela uma incidência preocupante, principalmente se considerarmos a subnotificação, que é uma questão recorrente quando se trata de crimes de violência doméstica. E, em geral, as vítimas são sempre as mulheres pobres, periféricas e negras.

O cenário pernambucano reflete um panorama nacional ainda mais sombrio. A recente pesquisa “Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil”, do Datafolha, encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, revelou que mais de 21 milhões de brasileiras, ou 37,5% do total de mulheres no país, sofreram algum tipo de agressão nos últimos 12 meses. Esse dado evidencia que a violência de gênero continua sendo um problema estrutural, que perpassa questões raciais e socioeconômicas, e que medidas mais eficazes, que cheguem especialmente às mulheres pobres e racializadas, precisam ser adotadas para conter essa epidemia de agressões, que tantas vezes acabam em feminicídio, que é o homicídio de uma mulher cometido em função do seu gênero. Ou seja, quando a mulher é morta exatamente por ser mulher.

Em Carpina, assim como em diversas cidades do estado, faltam equipamentos públicos especializados para o atendimento às vítimas, como delegacias da mulher, funcionando 24 horas, casas de acolhimento seguras e programas de assistência psicológica e jurídica.

No ano passado, em 2024, o município ficou em 2º lugar no ranking de municípios com maior número de casos de agressão às mulheres na região da mata norte, com um registro de 435 casos, ficando entre Goiana, que foi o primeiro lugar, com 465 ocorrências, e Paudalho, que registrou 362 casos, ocupando o terceiro lugar, segundo boletim divulgado pela SDS-PE. Estes dados representam uma crescente dessa estatística, pois em 2023, Carpina ficou em 4º lugar na colocação de cidades da zona da mata norte com mais registros de violência contra mulheres.

Em 2022, dos 903 Boletins de Ocorrência registrados em Carpina, numa delegacia comum, 460 foram registros de violência contra mulheres. A estimativa naquele ano ainda era de que, a cada 1000 mulheres da cidade, 11 eram vítimas de violência doméstica.

É fundamental que haja campanhas de conscientização para o povo, principalmente para as mulheres em vulnerabilidade social e econômica, que se submetem a diversos tipos de violências pela falta de condições financeira e psicológica. Por isso a importância de iniciativas como a do Movimento de Mulheres Olga Benário que, através de ocupações e luta, constrói espaços de denúncia, acolhimento e de organização política e socialista para mulheres. É o primeiro movimento da América Latina que faz ocupações em imóveis abandonados e os transforma em Casas de Referências às Mulheres. Porque quando o poder público falha no investimento em políticas voltadas à prevenção e ao combate à violência doméstica – e ele falha recorrente e miseravelmente – é na força dos movimentos sociais que a população tem uma alternativa de libertação e proteção.

A luta contra a violência de gênero não pode ser apenas uma pauta eleitoreira e emergencial, quando casos extremos chocam a sociedade, como o de Simeia da Silva Nunes, de 33 anos, que em julho de 2023 foi agredida fisicamente e morta a tiros pelo seu companheiro, um policial militar. O crime teve grande repercussão na época, sobretudo pelas imagens estarrecedoras registradas em câmeras de segurança, divulgadas pela mídia, mostrando a brutalidade com a qual Simeia foi espancada, em um bar, um espaço público. Em seguida, quando deixava o local, ela foi alcançada e alvejada com tiros, chegando sem vida ao hospital.

É preciso um compromisso contínuo e ações concretas para proteger as mulheres e garantir seus direitos à segurança e dignidade. A redução de casos em Carpina somente no último mês de 2025 pode ser um bom indicativo, mas é insuficiente se comparado ao número total de ocorrências. Além disso, a ciência das subnotificações reforça a necessidade de políticas públicas mais efetivas e de uma rede de proteção fortalecida para que nenhuma mulher tenha que sofrer calada ou pagar com a sua própria vida.

Mobilização popular e greve de fome forçam recuo da perseguição do Centrão a Glauber Braga

O presidente da Câmara dos Deputados se comprometeu a não pautar a cassação de Glauber Braga durante os próximos 60 dias. É uma vitória tática da pressão dos movimentos populares, que forçaram o Centrão e os fascistas a recuarem. Mesmo assim, é preciso manter a mobilização em defesa do mandato

Guilherme Arruda e Redação


A ofensiva do Centrão e do fascismo contra o deputado socialista Glauber Braga foi forçada a recuar nesta quinta (17/4), após nove dias de greve de fome do parlamentar e a realização de manifestações populares por todo o país em defesa de seu mandato.

Na quinta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que se compromete a não pautar o pedido de cassação do mandato de Glauber no plenário da Casa por 60 dias. O prazo só passará a correr após a avaliação do pedido de cassação pela Comissão de Constituição e Justiça, que ainda não possui data marcada.

O acordo foi conquistado após fortes ações de denúncia do caráter persecutório da tentativa de cassação de Glauber Braga, forjada por um provocador fascista do MBL e relatada no Conselho de Ética por um deputado que já agrediu um jornalista na Câmara. Conforme noticiou o jornal A Verdade, militantes de movimentos sociais e partidos políticos, como a Unidade Popular pelo Socialismo (UP), estiveram presentes no Congresso Nacional por diversas vezes para defender o mandato popular de Glauber e o voto das mais de 78 mil pessoas que o elegeram.

A vitória parcial – já que o processo injusto de cassação não foi completamente barrado e ainda pode retornar – demonstra que a mobilização, e não a conciliação, é capaz de forçar uma mudança de posição do Congresso Nacional, mesmo em meio à hegemonia do Centrão e de segmentos fascistas.

Próximos passos

Ainda na quinta-feira, após o anúncio da interrupção do andamento da cassação, Glauber Braga acatou a indicação aprovada em uma plenária de apoiadores e suspendeu sua greve de fome. Mesmo assim, ao sair da Câmara dos Deputados, o deputado reafirmou seu compromisso com o enfrentamento às oligarquias e ao Orçamento Secreto encabeçado pelo ex-presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL).

Em nota nas suas redes digitais, Glauber afirmou que “a greve de fome cumpriu o seu papel: ampliou a denúncia da perseguição política, contribuiu para a pressão popular nas ruas e nas redes e gerou toda uma solidariedade a uma causa. Esse protesto acontece não só para a simples defesa de um mandato, mas também para impedir o silenciamento de quem denuncia o escândalo do Orçamento Secreto.”

A Unidade Popular pelo Socialismo saudou a coragem e a disposição de luta de Glauber, avaliando que a dedicação do deputado ao enfrentamento com os representantes da burguesia é justa e correta.

No entanto, o fim da greve de fome também impõe o desafio de levar adiante a mobilização, já que a luta contra a cassação não terminou – assim como a denúncia dos desmandos do Centrão. Por isso, a UP convoca toda sua militância a seguir organizando e participando de atos em defesa do mandato de Glauber e também das pautas dos trabalhadores: o fim da escala 6×1 com redução da jornada de trabalho, o aumento do salário mínimo, a redução do preço dos alimentos e a prisão para os fascistas e golpistas.

“Agradecemos imensamente a toda solidariedade. Essa é uma vitória importante, mas ainda não vencemos a guerra. Por isso, é fundamental seguirmos mobilizados, em cada região do país”, complementa uma nota do mandato de Glauber Braga publicada na sexta-feira (18/4).

Governo e prefeitura de São Paulo querem expulsar o povo do Centro

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No mesmo mês, os fascistas Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes buscam despejar a Favela do Moinho, a Casa Laudelina de Campos Melo e a Ocupação Chaguinhas. População e movimentos prometem resistir em defesa do direito do povo trabalhador de viver no Centro da capital paulista

Redação SP


Os fascistas Tarcísio de Freitas, governador do Estado de São Paulo, e Ricardo Nunes, prefeito da cidade, têm se empenhado para fazer de São Paulo um grande balcão de negócios. Além das privatizações criminosas, o foco agora é entregar o Centro nas mãos da especulação imobiliária, com grandes e milionários acordos e expulsando de forma ilegal e vergonhosa o povo pobre e trabalhador que vive nesse território.

Estão na mira: a Favela do Moinho, última favela do Centro, que é construída há mais de três décadas por mais de 2.500 famílias; a Ocupação Chaguinhas, construída pelo MLB na Bela Vista, com mais de 50 famílias que foram desabrigadas pelas chuvas de janeiro, além de imigrantes, crianças e idosos; e a Casa Laudelina de Campos Melo, ocupação realizada em 2021 pelo Movimento de Mulheres Olga Benario no Canindé, e que já realizou até aqui mais de 10 mil atendimentos de mulheres em situação de violência.

Casa de Mulheres Laudelina de Campos Melo

Completando mais de 4 anos de luta e resistência, a ocupação Laudelina de Campos Melo foi realizada em resposta ao aumento da violência por conta da pandemia da COVID-19 e frente ao fechamento dos serviços públicos nos momentos em que as mulheres mais precisavam. A Laudelina presta um serviço fundamental na região do Centro, visto que infelizmente as políticas de combate e prevenção a violência contra as mulheres tem sido desmontadas, ano após ano, pela Prefeitura e Governo do Estado.

Por conta dessa alta demanda, a Casa Laudelina, que funciona de forma voluntária com uma completa equipe técnica e social, já realizou mais de 10 mil atendimentos de mulheres em situação de violência, e constrói relação com escolas, abrigos e diversos serviços públicos, fazendo encaminhamento, atendimento e formações com as mulheres da região.

Mesmo com todo esse histórico, alguns meses atrás a Laudelina foi ameaçada por uma reintegração de posse. Porém, graças à pressão popular a justiça suspendeu o processo, que segue paralisado desde então. Isso significa que o Movimento de Mulheres Olga Benario tem o direito legal de seguir no espaço fazendo o trabalho.

No entanto, na última semana, capachos de grandes ricos que querem desapropriar as mulheres, buscaram as mulheres para uma tentativa de intimidação, e em sua última abordagem, ameaçaram promover no próximo sábado (19/4), a demolição ilegal e violenta do imóvel, com as mulheres dentro, para forçar uma remoção criminosa.

Favela do Moinho

A Favela do Moinho é a última favela que ainda resiste no Centro de São Paulo. Na luta há mais de 40 anos, o Moinho é construído por mais de 2.500 famílias de trabalhadores e trabalhadoras que com alionsolidaram suas moradias, formando um bairro popular no Campos Elíseos, investindo ali todo o fruto do trabalho de uma vida inteira.

A área ocupada, agora em posse das famílias, está legalmente atrelada à SPU (Secretaria de Patrimônios da União). Contudo, a ordem de remoção vem diretamente de Tarcísio de Freitas, Governador fascista de São Paulo, que visa entregar a área para o avanço da especulação imobiliária e justifica a remoção das famílias para fins da construção de uma nova sede do Governo e de um Parque Estadual.

Compreendendo a clara tentativa de ataque a seu direito à moradia digna, as famílias negaram a criminosa proposta de remoção, que está atrelada a uma carta de crédito no caso de reassentamento em novas unidades habitacionais que serão supostamente construídas pela CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano de São Paulo). Além da expulsão das famílias do Centro, a proposta visa endividar essas famílias e jogá-las na rua.

Ocupação Chaguinhas

Completando um mês de resistência, a Ocupação Chaguinhas, na Liberdade, é a 3° ocupação do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) no Centro de São Paulo. A ocupação organiza mais de 50 famílias trabalhadoras, que buscam seu direito constitucional de morar dignamente, construindo além de moradia, um território livre da fome e da violência.

A ocupação, composta por famílias que perderam tudo na Zona Leste e na Zona Sul durante as chuvas do último período — incluindo mães, crianças imigrantes e pessoas autistas — reivindica um prédio que está abandonado há mais de 10 anos por um grande ricaço e está localizado entre os bairros da Liberdade, Sé e Bela Vista.

Contudo, assim como tantas outras ocupações no Centro, a exemplo da Ocupação dos Imigrantes Jean-Jacques Dessalines, a Chaguinhas está sofrendo também um processo de reintegração de posse que ignora a realidade das famílias e da população imigrante. A pressão ignora também a Lei do Desejo Zero, que visa sempre, nos casos de remoção, diálogo e envolvimento das partes e do poder público para uma solução habitacional que vise a dignidade destas famílias.

Esse ataque às ocupações de moradia se entrelaça ainda com o avanço da violência contra toda a comunidade de imigrantes africanos e latino-americanos que trabalham como ambulantes no Centro de São Paulo. Essa onda de truculência das forças do Estado persegue, agride e foi responsável pelo assassinato de Ngange Mbaye, trabalhador senegalês que morreu com um tiro da polícia ao tentar defender outra trabalhadora.

A saída é a luta

Todos estes ataques fazem parte de um projeto fascista, racista e machista de expulsão dos pobres do Centro de São Paulo, com claros objetivos: entregar a cidade nas mãos dos grandes ricos, vender o que é do povo e abrir caminho para a especulação imobiliária.

Essas disputas pelos territórios do Centro de São Paulo são uma expressão da luta de classes, em que os ricos querem tudo para explorar o povo enquanto a maioria, principalmente mulheres e crianças, sofrem com o aumento da violência, da fome, da falta de moradia digna e tantos outros direitos fundamentais.

Portanto, a única resposta possível é a luta! Na Favela do Moinho os moradores têm construído grandes manifestações e já se preparam para uma nova ofensiva na próxima terça-feira (22/04), para resistir e impedir que os tratores comecem com a demolição imediata de mais de 800 casas.

Os ambulantes do Centro e vários trabalhadores imigrantes têm avançado também na sua organização e fizeram na última semana um grande ato para denunciar a polícia sanguinária e seus crimes.

Na Casa Laudelina e na Ocupação Chaguinhas, os movimentos já organizam também uma grande jornada de lutas, atos, vigílias às ocupações e principalmente o porta a porta e as brigadas do jornal A Verdade para organizar mais e mais mulheres, trabalhadores e imigrantes. O objetivo é não só fazer recuar os planos fascistas, como também ocupar ainda mais o Centro e construir uma nova sociedade, a sociedade socialista!

Em todas essas mobilizações, as trabalhadoras e trabalhadores gritam alto a palavra de ordem “Tirem as mãos do nosso território! O Centro de São Paulo é do povo trabalhador!”. Com o povo organizado, não se mexe. Tarcísio, Nunes e seus capachos verão a força do povo.

Um ano do criminoso desastre das enchentes no Rio Grande do Sul

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“Quase um ano após as enchentes, o prefeito Sebastião Melo (MDB) simplesmente tem deixado a maior parte da população de Porto Alegre entregue à própria sorte, tendo ocorrido diversas trocas de empresas terceirizadas para fazerem a limpeza da cidade, gerando montanhas de entulhos e lixos pelas ruas.”

Bruno Ferreira | Porto Alegre (RS)


Em 28 de abril de 2024, iniciava, no Rio Grande do Sul, a chuva que duraria até 08 de maio e viria a causar uma catástrofe no estado. Próximo de completar um ano, apuramos alguns dados referentes às medidas adotadas pelos governos para a recuperação e reconstrução da vida dos gaúchos depois das enchentes.

As fortes chuvas atingiram mais de 470 municípios, afetando aproximadamente três milhões de pessoas, deixando quase 80 mil em abrigos e em torno de 580 mil desalojados (pessoas que precisaram ir para casa de amigos e familiares). Em novembro de 2024, apontamentos mostravam que quase 19 mil casas estavam consideradas inabitáveis ou condenadas em cidades do estado e 1.800 pessoas ainda estavam em abrigos. Além disso, o número de solicitações de casas ao Governo Federal chegou a mais de 44 mil.

Até o momento, o Governo Estadual anunciou a entrega de apenas 332 casas temporárias, espalhadas por sete cidades, com a promessa de que entregaria, até o fim de março, as primeiras 80 casas provisórias na capital, que custaram cerca de 11 milhões aos cofres públicos. O primeiro lote de casas anunciado pelo governador Eduardo Leite (PSDB) irá destinar a soma de R$ 83 milhões para a entrega de moradias definitivas ou provisórias. Enquanto isso, demonstrando grande contradição, o Governo Estadual destinou para a contratação de máquinas por hora, para serem utilizadas na abertura de estradas, terraplanagens, etc., R$ 40 milhões, quase metade do destinado para a moradia.

Além disso, destinou R$ 117,7 milhões para conservação de estradas, R$ 300 milhões para o desassoreamento de pequenos rios e córregos, R$ 106 milhões para 64 municípios realizarem a abertura de estradas, limpeza de terrenos e reestruturação de cabeceiras de pontes e para a recuperação da malha viária; outros R$ 265 milhões, obviamente a maior parte da soma destes valores, será entregue nas mãos de donos de máquinas, empreiteiras e construtoras.

Numa rápida soma, R$ 782,7 milhões foram destinados para obras em estradas, entregues diretamente nas mãos dos capitalistas. Porém, para os desabrigados e desalojados das enchentes, foram destinados apenas R$ 251 milhões na forma de “benefícios”, novamente demonstrando que os governos neoliberais, a serviço dos capitalistas, preocupam-se mais com o lucro de um pequeno punhado de indivíduos do que com o bem-estar geral da população.

Na capital, a situação não é diferente e é ainda pior. O prefeito Sebastião Melo (MDB) simplesmente tem deixado a maior parte da população de Porto Alegre entregue à própria sorte, tendo ocorrido diversas trocas de empresas terceirizadas para fazerem a limpeza da cidade, gerando montanhas de entulhos e lixos pelas ruas.

Quase um ano após as enchentes, os governos neoliberais de direita vêm trabalhando para enriquecer ainda mais um punhado de parasitas, enquanto o povo passa por enormes necessidades. Por isso, mais do que nunca é necessária a organização de explorados e exploradas para derrubarmos este sistema de fome e de miséria.

Matéria publicada na edição impressa nº 310 do jornal A Verdade