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domingo, 4 de maio de 2025
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Arquivo Público do Rio de Janeiro (APERJ) sofre risco de ser fechado por falta de estrutura

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O Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) sofre risco de ser fechado por conta da falta de infraestrutura e de orçamento. A instituição, que guarda importantes acervos da história do estado do Rio de Janeiro e do Brasil, como documentos fundamentais para a luta por Memória, Verdade e Justiça, sofre com problemas estruturais em seu prédio sede, com grande risco de incêndio e desabamento. Confira a Nota Pública em Defesa do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ) abaixo.


No último dia 7 de janeiro (terça-feira), veio a público o anúncio do fechamento do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ). A decisão foi tomada pelo então diretor da instituição, Victor Travancas, que denunciou as condições precárias de funcionamento do prédio do APERJ, correndo risco de desabamento e/ou incêndio.

Sem avaliar o estado do prédio, o governador Claudio Castro reabriu APERJ para funcionamento normal no dia seguinte, 8 de janeiro. No mesmo dia, a jornalista Juliana Dal Piva mostrou a situação estrutural do APERJ com fotos, no portal de notícias ICL. Segundo a jornalista: “Salas com piso totalmente quebrado, buracos no chão, rachaduras em pilares e fiação elétrica exposta e sem renovação. Esses são apenas alguns dos principais problemas do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, o Aperj, que foram expostos pelo agora ex-diretor Victor Travancas”.

Além dos problemas estruturais, Victor Travancas denunciou a existência de 26 funcionários fantasmas trabalhando no APERJ. Fundado em 25 de agosto de 1931, Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro possui um acervo com cerca de 37 mil itens (37.000), contando com publicações técnicas de arquivos e bibliotecas, anais e anuários de órgãos públicos estaduais e federais, mensagens e relatórios de governo, Diários Oficiais do Estado do Rio de Janeiro (Executivo), legislação estadual e federal (Leis do Brasil, Província e Estado do Rio de Janeiro), genealogias, biografias e um número relevante de livros, periódicos e folhetos sobre a História Política Nacional e História Fluminense.

Em um levantamento de novembro de 2024, segundo matéria do portal Diário do Rio de 8 de janeiro de 2025, apurou-se que APERJ guarda 39 fundos documentais e 25 coleções particulares. Entre esse material, encontra-se o fundo Polícias Políticas, que contém a documentação do antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), quando a cidade do Rio de Janeiro ainda era Capital Federal e quando foi estado da Guanabara, e do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social (DEOPS) do antigo estado do Rio de Janeiro.

A partir da documentação do fundo Polícias Políticas, foi possível produzir o Relatório Final da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RIO), concluído e entregue no dia 10 de dezembro de 2015, e que se encontra guardado e preservado no APERJ.

Esse acervo é inestimável para a realização e a concretização da justiça de transição no Brasil. A preservação da memória política, social e cultural, a divulgação da verdade e a reparação de suas vítimas só são possíveis com a preservação do APERJ em boas condições.

Além do rico acervo do APERJ, as péssimas condições do prédio colocam em risco a integridade física de trabalhadores e pesquisadores, jornalistas, visitantes etc. cariocas, fluminenses, brasileiros e estrangeiros da instituição. A possibilidade de um desabamento e/ou de um incêndio pode levar as pessoas que lá estiverem trabalhando, pesquisando, conhecendo, visitando etc. à morte ou a graves problemas de saúde, que podem tornar-se crônicos.

Nós, Coletivo RJ por Memória, Verdade, Justiça e Reparação, coletivo Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça e outras entidades de Direitos Humanos, especialmente no campo da Memória, Verdade, Justiça e Reparação, exigimos do governador Claudio Castro medidas urgentes que garantam a segurança e a preservação do acervo do APERJ.

É premente agir com celeridade para evitar que a tragédia ocorrida com Museu Nacional se repita. No dia 2 de setembro de 2018, um incêndio arruinou Museu Nacional, destruindo boa parte de seu acervo científico-cultural em poucas horas.

O impacto negativo causado pela catástrofe ocorrida no Museu Nacional à ciência e à cultura do Brasil, em particular, e do mundo, em geral, é incalculável. Muitas informações e objetos do acervo da instituição foram perdidos irreparavelmente.

Assim como na tragédia do Museu Nacional, APERJ encontra-se em risco devido à negligência do Estado, responsável pela guarda e pela preservação do patrimônio histórico-cultural do Brasil e da cidade e do estado do Rio de Janeiro.

É preciso agir no presente para preservar a nossa história e garantir nosso futuro, em um país mais democrático e mais rico histórica, cultural e cientificamente.

Entidades:

Coletivo RJ por Memória, Verdade, Justiça e Reparação

Filhos e Netos por Memória, Verdade e Justiça

Coalizão Brasil por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia

Imperialismo estadunidense tenta novamente desestabilizar a Venezuela

Tentativa da oposição fascista de impedir a posse presidencial, assim como o oferecimento de uma recompensa pela prisão de Nicolás Maduro, são parte de ofensiva dos EUA para recolocar a Venezuela em sua órbita. Mobilização popular frustrou seus planos, mas a luta pela soberania venezuelana deve seguir adiante

Wildally Souza | São Paulo (SP)


O presidente estadunidense Joe Biden anunciou, nesta sexta-feira (10/1), um aumento na recompensa por informações que levem à prisão do presidente empossado da Venezuela, Nicolás Maduro, e de seu ministro do Interior, Diosdado Cabello. Os valores subiram de US$15 milhões para US$25 milhões, que equivalem a R$152 milhões em moeda brasileira. Além disso, uma recompensa de US$15 milhões (R$91,4 milhões) também foi oferecida por informações sobre o ministro da Defesa, Vladimir Padrino.

Sanções sobre oito dirigentes venezuelanos e restrições de visto para “pessoas ligadas a Maduro” também foram impostas pelo governo imperialista norte-americano. Entre os sancionados estão Héctor Andrés Obregón, presidente da empresa pública de petróleo PDVSA, e Ramón Celestino Velásquez, que é ministro dos Transportes e presidente da companhia aérea estatal Conviasa.

Além dos Estados Unidos, países como Canadá, Reino Unido e toda a União Europeia, que possuem forte interesse econômico no controle dos recursos naturais dos países da América Latina, também não reconheceram a vitória de Maduro nas recentes eleições e sancionaram Caracas em uma tentativa de aumentar a pressão internacional e apoiar a tentativa de golpe de Estado fomentada pela oposição burguesa.

Golpistas não reconhecem eleição

Desde a última eleição presidencial na Venezuela, realizada em 28 de julho do ano passado, o imperialismo norte-americano e a União Europeia tem tentado perpetrar um golpe no país com o objetivo de retomar o controle do petróleo, dos recursos naturais, da economia e da política venezuelana.

Para isso, desde 2014, essas potências têm usado como seus peões e capachos a fascista Maria Corina Machado, Edmundo González Urrutia, Leopoldo López e outros líderes de extrema-direita para iniciar uma série de manifestações, apoiadas e financiadas pelos Estados Unidos, criar as condições para um golpe no país e semear dúvidas na população sobre a validade das eleições. Criaram até mesmo a figura de um suposto presidente interino para evitar o juramento e a posse do governo eleito de Nicolás Maduro. Fracassaram parcialmente pois Maduro fez seu juramento na tarde desta sexta-feira e, apoiado por uma multidão de trabalhadores anti-golpistas, tomou posse para exercer seu novo mandato de 2025 a 2031.

Está cada vez mais claro que o discurso fantasioso do bloco EUA-UE-OTAN que domina os fascistas venezuelanos é uma fachada para atentarem contra a soberania do povo daquele país e executarem de forma intensiva as políticas que causam a precarização das condições de sobrevida da classe trabalhadora no mundo. Recorrem à manipulação e ao engano do povo para afastá-los da Revolução Bolivariana e impor cada vez mais medidas que avancem a fome, o desemprego, a falta de moradia e a extrema pobreza.

Não foi diferente com o Brasil, quando em 8 de janeiro de 2023, movidos pelos discursos e os planos golpistas de Bolsonaro e demais generais fascistas, centenas de terroristas invadiram prédios governamentais, atearam fogo e tentaram matar o presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva, seu vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Povo venezuelano contra o golpe imperialista

A Revolução Bolivariana é marcada pela forte participação popular na luta revolucionária e antifascista. Foto: Marcelo Garcia/Palacio Miraflores
A Revolução Bolivariana é marcada pela forte participação popular na luta revolucionária e antifascista. Foto: Marcelo Garcia/Palacio Miraflores

Apesar de manter a propriedade privada dos meios de produção e buscar uma relação subordinada da Venezuela com outras potências como Rússia e China, Maduro têm instituído relativos avanços para os trabalhadores e o povo pobre no país. Sua gestão tem dado continuidade ao controle social e à luta ideológica nas Forças Armadas que vêm desde o governo de Hugo Chávez e elevado o apoio aos movimentos sociais que lutam contra o fascismo nacional e internacional.

Reconhecendo esses feitos e tendo a consciência de que a solução para os problemas da Venezuela não é um golpe imperialista, vários setores populares — milhares de trabalhadores, operários e jovens — têm tomado as ruas do país, principalmente em Caracas, para defender sua soberania e lutar contra o golpe. Há relatos de bairros inteiros que pararam para acompanhar a posse de Maduro e os movimentos sociais já convocaram mobilizações para os próximos dias a fim de impedir qualquer tentativa de invasão e atos terroristas por parte dos fascistas e dos Estados Unidos. Maduro também convocou as tropas do Exército para proteger as fronteiras com países vizinhos.

Em nota, o Partido Comunista Marxista Leninista de Venezuela (PCMLV) declarou na sexta-feira que “o imperialismo trava hoje uma intensa e agressiva campanha de divisão do mundo, os ataques de alguns dos seus setores contra a Venezuela foram e serão determinados por este fenômeno, que procura como parte dos seus objetivos a apropriação de recursos como o petróleo, elemento vital poder desenvolver campanhas de guerra em diversas partes do mundo”.

A organização revolucionária também salientou que “os trabalhadores e o povo com uma visão revolucionária, anti-imperialista e antifascista devem aproveitar o momento para continuar a acumular vitórias e forças, o que passa por travar e derrotar neste momento a agenda violenta da oposição liderada pela extrema direita no país […], superando e rejeitando as vacilações da pequena burguesia e as suas ilusões do perecimento das contradições de classe”.

Logo após as eleições na Venezuela e o desenvolvimento de um possível golpe, em 3 de agosto, a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) também se solidarizou com a situação do povo venezuelano. Através de comunicado oficial, a UP reforçou que “neste momento, o que o povo venezuelano precisa é da nossa solidariedade contra o movimento golpista em curso. […] Não se trata, portanto, de defender irrestritamente o governo Nicolás Maduro, mas de defender que a soberania e a Constituição daquele país-irmão sejam respeitadas e que o poder do seu povo prevaleça, sem agressões imperialistas e intromissões colonialistas”.

Bandidos armados matam 2 militantes do MST em assentamento em Tremembé (SP)

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Assentamento em Tremembé (SP) onde 2 militantes do MST foram assassinados por grupo de bandidos armados já era alvo de assédio da especulação imobiliária. Movimento exige que governo de São Paulo promova investigação urgente para identificar culpados

Guilherme Arruda | Redação SP


BRASIL – Na noite de sexta-feira (10/1), bandidos armados atacaram o assentamento Olga Benário do MST, na cidade de Tremembé (SP), e mataram duas pessoas. O crime também deixou seis outras pessoas feridas, que estão hospitalizadas.

Os dois homens assassinados, Valdir do Nascimento (Valdirzão) e Gleison Barbosa de Carvalho eram militantes do MST. Em nota, o movimento destacou a responsabilidade do governo estadual de São Paulo, encabeçado pelo fascista Tarcísio de Freitas, pela conjuntura que criou as condições para o ataque. “A ausência de políticas públicas efetivas por parte do governo paulista deixa os territórios de Reforma Agrária vulneráveis e as famílias assentadas desprotegidas, reforçando um cenário de insegurança e violência”, aponta o documento.

Além disso, o MST ressalta que “o Assentamento Olga Benário enfrenta uma intensa disputa com a especulação imobiliária voltada para o turismo de lazer, devido à sua localização estratégica na região do Vale do Paraíba”, mas que as diversas denúncias de ameaças encaminhadas aos órgãos estaduais não foram respondidas com ações concretas das autoridades. Para Gilmar Mauro, da Coordenação Nacional do MST, os tiros na cabeça de Valdirzão, importante liderança dos sem-terra em Tremembé, provam que “o grupo [de bandidos] foi lá para aniquilá-lo”.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra também exigiu do governo a realização urgente de uma investigação que identifique os responsáveis pelo crime contra os assentados.

Manifestando sua solidariedade às famílias das vítimas, a presidente estadual da Unidade Popular pelo Socialismo (UP) de São Paulo, Vivian Mendes, avalia que o ataque vem em um contexto de escalada na violência contra os movimentos sociais no país. “Nos solidarizamos com o MST e com as famílias das vítimas desse brutal ataque, que representa mais um ato de violência fascista contra aqueles que lutam pelo direito à terra e à dignidade. É mais um crime fruto do especulação imobiliária, dos interesses dos ricos do nosso país, alimentado por discursos de ódio e pela criminalização dos movimentos sociais. Não podemos aceitar que a vida dos trabalhadores seja tirada por defenderem seus direitos”, afirmou Vivian ao jornal A Verdade.

No mesmo sentido, o presidente nacional da UP, Leonardo Péricles, manifestou sua solidariedade. “A escalada da perseguição e da violência contra os movimentos sociais é uma política expressa do fascismo, que nem se esforça mais em esconder seu desejo pelo sangue de lutadores populares. Nossa resposta deve ser crescer ainda mais os assentamentos, as lutas populares e acumular forças para criar a sociedade socialista, onde crimes como este não sejam possíveis”, disse.

Uma nota de apoio ao MST também foi divulgada no site da Unidade Popular.

A experiência de construção dos núcleos da UP

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A Unidade Popular (UP) tem recebido constantemente centenas de novos pedidos de filiação e, para garantir que cada pessoa seja mais que um filiado, seja um militante, os núcleos de base são a chave.

Amanda Bispo | São Paulo (SP)


Um ponto marcante na construção partidária da Unidade Popular (UP) é sua política de núcleos. O partido tem recebido constantemente centenas de novos pedidos de filiação e, para garantir que cada pessoa seja mais que um filiado, seja um militante, os núcleos de base são a chave.

No Estado de São Paulo, a UP realizou, nos dias 16 e 17 de novembro, seu 5º Curso para Coordenadores(as) de Núcleo. A atividade, que transcorreu em clima de muita combatividade e disposição de luta, contou com a presença de mais de 70 trabalhadores e trabalhadoras, jovens, mulheres, negras e negros, de 25 diferentes cidades paulistas – representando ainda outras 70 cidades de suas regiões. São coordenadores dispostos a estudar e aprender para melhor organizar os núcleos do partido. Para que sejam núcleos ativos, lutando e filiando, e que estejam junto de nossos movimentos sociais propagandeando as ideias do socialismo junto ao jornal A Verdade

“A realização do curso é essencial porque nós, que somos coordenadores, cumprimos um papel importante na vida da UP e precisamos estudar e utilizar essa formação para que os núcleos sejam vivos, estejam lutando pelos direitos do povo e fortalecidos na luta pela revolução brasileira”, afirmou Giovanni Costa, 24 anos, morador de Santos, coordenador do núcleo da zona noroeste da cidade.

A programação começou com a execução d’A Internacional Comunista e um debate sobre a conjuntura do Brasil e do Estado de São Paulo. O debate apontou que a tarefa central dos comunistas, hoje, é enfrentar o fascismo e propagandear as ideias do socialismo. Em seguida, tratou-se de como devem ser os estudos dos núcleos – tanto nas reuniões, quanto os estudos individuais – e como organizar o cotidiano de cada núcleo da UP.

Para Tati Bornato, 42 anos, produtora audiovisual e responsável pela comissão de filiação de São Paulo, “devemos assumir para nós e cumprir, na prática, a tarefa de filiar aos milhares, pois assim teremos cada vez melhores condições para enfrentar o fascismo no Brasil e crescer a luta pelo socialismo”.

Organizar as mulheres 

Com muitas palavras de ordem que animaram o plenário, o segundo dia de curso teve como debate central o desafio da organização das mulheres trabalhadoras. “As mulheres são as mais oprimidas, as mais exploradas, e precisamos trabalhar para garantir as condições para que elas se filiem e se organizem nos núcleos do partido. Somente com as mulheres é realmente possível sermos o partido da revolução socialista”, comentou Beatriz Zeballos, de 23 anos, trabalhadora do ramo têxtil e responsável pela comissão de núcleos da Capital.

Josiely Maria, 20 anos, professora do ensino fundamental e coordenadora do núcleo de Suzano, reforçou: “Precisamos criar as condições para fortalecer as mulheres negras, mães, que sofrem cotidianamente com a violência do estado e a perda de seus filhos”.

O próprio curso contou com uma creche ao longo dos dois dias para garantir que mães e pais presentes pudessem se concentrar, enquanto seus filhos estavam em atividades de diversão e estudo. Larissa Rinck, 37 anos, professora e coordenadora do núcleo de Itu, expressou em sua fala: “Para nós, mulheres mães, se organizar não é fácil. É necessária uma organização com antecedência e o acolhimento do partido e dos companheiros de luta para que a gente possa participar”.

O segundo dia contou ainda com o debate sobre o trabalho de agitação e propaganda, comunicação, filiações e a política de autossustentação do partido. Ao final, foram aprovadas como metas que cada coordenador ajude a fundar um novo núcleo coordenado por uma mulher, ampliar a contribuição financeira individual e alcançar três mil filiados no Estado até o final do ano.

Lutar e estudar, estudar e lutar

O curso ainda contou com dinâmicas em seus dois dias, nas quais coordenadores de diferentes cidades e regiões se reuniram em grupos e debateram os desafios concretos dos seus núcleos. A estrutura com preparação de lanche e café coletivo, além do almoço servido no local e garantia de alojamento para quem veio do interior, contribuíram para a concentração e qualidade do curso. Também esteve presente a banquinha das Edições Manoel Lisboa, que chegou a formar filas para comprar livros sobre socialismo, marxismo e literatura.

Eder Modanez, 41 anos, ilustrador e morador da cidade de Cordeirópolis (a 378 km de distância da Capital), participa de um dos núcleos online que abrange parte do interior: “A importância de estar aqui hoje, para mim, é perceber a diferença dos socialistas, o clima de camaradagem. Desde a vinda até aqui e a estadia, conhecer os coordenadores de outras cidades e o que é importante para todos os militantes da UP”.

Já Pedro Gerloff, coordenador do núcleo de São Caetano, disse que “tudo mudou neste final de semana, neste curso”, após passar por um período difícil em sua vida. “A cada fala de um camarada que eu não conhecia, era como se eu ganhasse mais um ano de vida, o peso do derrotismo estava sendo tirado de minhas costas. Cada exemplo vitorioso em lutas que eu acreditava serem impossíveis, recuperava minha esperança. Cada discordância, feita de forma sensível e cordial, me convidava a ser uma pessoa melhor e abandonar o egoísmo academicista”.

Matéria publicada na edição nº 304 do Jornal A Verdade

Pacote de cortes na economia ataca direitos do povo trabalhador

O Governo Lula apresentou recentemente seu plano econômico de “corte de gastos”. Esses cortes representam um ataque direto à classe trabalhadora e aos mais pobres. São medidas para atender às exigências do mercado, em especial, dos banqueiros e grandes monopólios econômicos.

Cadu Machado | Redação


BRASIL – O Governo Lula, por meio do ministro da Fazenda Fernando Haddad, apresentou recentemente seu plano econômico de “corte de gastos”. São cortes de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, sendo R$ 26 bilhões já em 2025, incluindo o limite de 2,5% de aumento real para o salário-mínimo e mais restrições em benefícios previdenciários e assistenciais.

Entre os mais atingidos estão o INSS e o Benefício de Prestação Continuada (BPC), com perdas de R$ 7,3 bilhões previstos a partir da revisão de concessões do benefício por incapacidade temporária (antigo auxílio-doença) e uma redução adicional de R$ 6,4 bilhões com a reavaliação de pagamentos e revisão de cadastros do BPC, destinado a pessoas com deficiência e idosos de baixa renda.

Mais pobres

Esses cortes representam um ataque direto à classe trabalhadora e aos mais pobres. São medidas para atender às exigências do mercado, em especial, dos banqueiros e grandes monopólios econômicos. A revisão de benefícios, como o BPC, e a utilização de revisões no sistema previdenciário para “economizar” à custa de quem mais precisa mostram que o ajuste fiscal recai sobre a parte mais pobre da população.

Ao mesmo tempo, o Governo limita o aumento real do salário-mínimo, deixando milhões de brasileiros com poder de compra ainda mais reduzido. O atual salário de R$ 1.412,00 não garante, nem de perto, as necessidades básicas da população com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência, como prevê a Constituição. Partindo dessa lógica, o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), calcula que o salário-mínimo para uma família brasileira de dois adultos e duas crianças deveria ser em torno de R$ 6.800,00.

Em contraste, estão previstos R$ 546 bilhões em renúncias fiscais para grandes empresas em 2024, cifra três vezes maior do que o orçamento do Bolsa Família, que será de R$ 167,2 bilhões. Só o Grupo Globo, maior monopólio das comunicações no país, teve R$ 173 milhões em isenções de janeiro a agosto; por isso, os telejornais da TV Globo não criticam o arrocho salarial vivido pela classe trabalhadora.

Mesmo a proposta de ampliar a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil e a taxação dos que ganham mais de R$ 50 mil por mês não parece ser levada a sério pelo próprio Governo. Isso porque, enquanto as propostas de cortes já foram enviadas ao Congresso Nacional, a proposta que trata sobre o imposto para quem tem um alto rendimento mensal (assim como os projetos que tratam da taxação de grandes fortunas da burguesia) ainda não foi enviada.

Está clara, portanto, a escolha política do atual Governo Federal: proteger os interesses das elites econômicas enquanto o povo paga a conta.

Benefícios fiscais

A chamada renúncia fiscal é destinada a grandes conglomerados, bancos e multinacionais e acaba alimentando a especulação financeira, facilitando a evasão fiscal e privilegiando setores já altamente lucrativos. É a prova incontestável de que, no capitalismo, os grandes empresários não pagam imposto.

E o argumento de que benefícios fiscais geram empregos qualificados não se sustenta. Na prática, a precarização tem aumentado em todos os setores da economia, com mais trabalho terceirizado, desqualificado e contratação via pessoa jurídica (PJ), até em setores estratégicos. As empresas beneficiadas usam os incentivos para cortar custos e ampliar lucros, não para criar empregos dignos.

Outro caminho é possível

O momento exige mobilização da classe trabalhadora para romper com a lógica neoliberal que tem guiado as decisões econômicas do Governo Lula. Medidas como o aumento do imposto sobre lucros e dividendos, o combate à evasão fiscal e a redução de renúncias fiscais para grandes empresas poderiam liberar recursos suficientes para fortalecer políticas públicas, aumentar salários e investir em infraestrutura.

A dívida pública segue intocável e é utilizada para atacar direitos, manter o arrocho salarial, retirar recursos da educação pública, do SUS e outras áreas sociais, permanecendo o país subserviente ao capital estrangeiro, ferindo a soberania nacional.

Há décadas que o Brasil adota a mesma política econômica. Os agiotas do mercado financeiro agradecem, enquanto o país fica mais dependente do imperialismo estadunidense, da União Europeia e do capitalismo chinês.

O discurso de que é um governo de reconstrução nacional não passa de uma falácia, pois a população brasileira está mais endividada (portanto, mais pobre) e com menos direitos.

A única reconstrução real para o Brasil deve começar por salário digno, moradia, educação e saúde para o povo, transformando cada luta localizada numa grande luta política geral pela derrubada do sistema capitalista e construção do poder popular e do socialismo.

Matéria publicada na edição nº 304 do Jornal A Verdade

Movimentos lutam para que local de tortura da Ditadura vire espaço de memória

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Manifestação realizada neste sábado, busca transformar a sede do antigo DOI-CODI no Rio de Janeiro em espaço de memória. O prédio, que hoje abriga um quartel da Polícia do Exército, serviu como centro de tortura e repressão a diversos presos políticos, como Rubens Paiva, cuja história foi retratada no filme Ainda Estou Aqui.

Igor Marques | Redação RJ


BRASIL – Neste sábado (11), foi realizada importante manifestação em defesa do tombamento do prédio do antigo DOI-CODI no Rio de Janeiro pelo IPHAN. O ato, convocado pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e grupos que atuam na luta por Memória, Verdade, Justiça e Reparação, reivindicou a transformação do antigo centro de repressão em um centro de memória.

Localizado nas imediações da Praça Lamartine Babo, no bairro da Tijuca, o prédio do antigo DOI-CODI abriga hoje o 1º Batalhão de Polícia do Exército (PE), órgão que continua, ainda hoje, atuando na repressão da população carioca, participando de operações policiais nas favelas e periferias, por exemplo. A manifestação reivindicou, juntamente com o tombamento do prédio, a desativação do Batalhão da PE.

Durante o período da Ditadura Militar, o local serviu enquanto espaço de detenção e tortura de centenas de presos políticos. Segundo dados da Comissão Nacional da Verdade, o DOI-CODI do Rio de Janeiro foi palco de ao menos 53 assassinatos, dos quais destes 33 ainda permanecem desaparecidos.

“Ainda Estou Aqui”: ex-deputado Rubens Paiva foi morto no DOI-CODI do Rio de Janeiro

Entre os diversos opositores do regime fascista que foram presos, torturados e mortos nas instalações do DOI-CODI, estava o ex-deputado Rubens Paiva, cuja história de luta foi retratada recentemente no filme Ainda Estou Aqui. O filme, que mostra a violência da repressão e a luta da família de Rubens Paiva por Memória, Verdade e Justiça, retrata o quartel nas prisões de Eunice Paiva e de Eliana Paiva, esposa e filha do ex-deputado, respectivamente.

A Praça Lamartine Babo, onde o ato foi realizado, conta, desde 2014, com busto do ex-deputado. Além disso, Vera Paiva, filha mais velha Rubens Paiva participou da manifestação, enviando uma carta que foi lida pela organização do ato.

— Em nome da nossa família, filhos e netos de Eunice e Rubens Paiva, que, como minha irmã Eliana Paiva, estiveram presos neste lugar, marcamos hoje a nossa memória coletiva. Memória, verdade e reparação são a demanda a pautar a partir deste encontro em frente ao que era um portal para o inferno — disse Vera em sua carta.

Em 2013, durante as atividades da Comissão Nacional da Verdade, um grupo de vítimas da repressão que estiveram presas neste local visitou as instalações da Polícia do Exército, reconhecendo permanências no espaço e revelando as práticas então utilizadas.

Com diversas celas coletivas e solitárias, o DOI-CODI possuía também espaços destinados para a tortura física e psicológica dos detidos. Os relatos apontam a existência de celas chamadas de “geladeira” – nas quais os presos eram submetidos à baixas temperaturas – e de “boate” – em que havia intenso jogo de luz para atordoar as vítimas. Além disso, os presos políticos passavam por diferentes tipos de torturas físicas e psicológicas, que incluíam até mesmo simulações de fuzilamentos e o uso de animais como jacarés.

Busto em memória de Rubens Paiva na Praça Lamartine Babo, em frente ao antigo DOI-CODI. Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

Punição aos torturadores já!

Outra importante palavra de ordem no protesto foi pela punição dos torturadores e golpistas de ontem de hoje. Ainda hoje, militares envolvidos diretamente na morte de Rubens Paiva e seus dependentes continuam a receber gordas pensões do Estado brasileiro.

Em 2014, o Ministério Público Federal indiciou cinco militares pela morte de Rubens Paiva. Dentre estes, dois dos réus que continuam vivos até hoje recebem por mês, somados, cerca de 60 mil reais. Além disso, os dependentes dos outros três torturadores já falecidos recebem mais de 80 mil mensais somados.

Atualmente, diversos militares envolvidos em violações de direitos humanos e crimes contra a humanidade continuam a receber vencimentos do Estado. A Lei de Anistia brasileira, portanto, permite a impunidade destes militares, que continuam não só livres após tantos crimes cometidos, como também recebem o aval do Estado. Até mesmo os militares envolvidos em tramas golpistas e eventualmente expulsos das Forças Armadas mantêm sua impunidade e a suas famílias continuam a receber pensões.

Memória, Verdade, Justiça e Reparação

A transformação do prédio do antigo DOI-CODI em um espaço de memória é um reivindicação antiga dos grupos que lutam pela Memória, Verdade, Justiça e Reparação. O objetivo é transformar o espaço em um museu que possibilite a reflexão a respeito das violências praticadas pelo Estado brasileiro e pelas Forças Armadas durante os anos da Ditadura Militar.

A transformação de antigos centros de repressão da cidade do Rio de Janeiro em espaços de memória é um objetivo das organizações de memória e direitos humanos cariocas, assim como foi feito com o Memorial da Resistência, museu localizado na sede do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social do Estado de São Paulo (DEOPS-SP), na capital paulista.

Espaços como a sede do antigo DOI-CODI, na Tijuca, e do DOPS, na Lapa, fazem parte da história de luta do povo contra a repressão e precisam ser transformados em espaços que busquem refletir a respeito deste passado e valorizar todos aqueles que tombaram na luta contra o regime militar fascista.

Emmanuel Bezerra e José Silton são diplomados em solenidade na UFRN

A Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) diplomou post mortem dois de seus estudantes perseguidos pela ditadura: Emmanuel Bezerra dos Santos e José Silton Pinheiro. A solenidade que contou com a presença de cerca de 500 pessoas.

Rafael Freire | Redação


No dia 06 de dezembro, a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) foi tomada por emoção e espírito de luta. A instituição diplomou post mortem dois de seus estudantes perseguidos pela ditadura militar: Emmanuel Bezerra dos Santos e José Silton Pinheiro. O auditório da Reitoria ficou lotado, com cerca de 500 pessoas, para este momento histórico em homenagem aos dois jovens revolucionários assassinados sob tortura pelos fascistas. A militância do Partido Comunista Revolucionário (PCR), do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), do Movimento de Mulheres Olga Benario, da Unidade Popular (UP), da União da Juventude Rebelião (UJR) representou grande parte do público presente.

Ana Beatriz Sá, militante da UJR e estudante de Psicologia da UFRN, foi a primeira componente da mesa a discursar na solenidade. Ela falou em nome da União Estadual dos Estudantes do Rio Grande do Norte (UEE-RN), representando a continuidade da luta estudantil. “Quero, primeiramente, saudar o empenho dos professores e servidores desta universidade que se envolveram diretamente no processo de diplomação, como também a Comissão Estadual da Verdade, Memória e Justiça. Estamos aqui hoje para homenagear dois estudantes desta casa, como nós, que se organizaram nas suas entidades para lutar por seus direitos”, destacou Beatriz. E afirmou: “Precisamos estar cada vez mais organizados para enfrentar os fascistas do presente, que querem novamente dar um golpe de Estado e implantar uma ditadura no Brasil”.

Segundo a discursar, o professor César Sanson, do Departamento de Ciências Sociais da UFRN, curso do qual Emmanuel foi aluno, pediu desculpas em nome da instituição. “A universidade não só não protegeu seus alunos, como ainda contribuiu para ser seu algoz. A pesquisa feita da Comissão da Verdade da UFRN apontou que, no subsolo da biblioteca, funcionava a ASI (Assessoria de Segurança e Informação) e que o então reitor, Onofre Lopes, entregava os relatórios à repressão”. Ele ainda relatou as torturas sofridas por Emmanuel e José Silton. Este último, ainda desaparecido político, que dá nome ao Diretório Central dos Estudantes da UFRN.

E o professor Sanson finalizou, bastante aclamado pelo auditório: “Nós só faremos a efetiva reparação a todos os perseguidos quando retirarmos do nosso Hospital Universitário o nome do ex-reitor Onofre, que entregou estudantes e interviu nos CAs e no DCE”.

Durante a solenidade, o reitor da UFRN José Daniel Diniz Melo entregou os diplomas de graduação aos representantes das famílias dos homenageados: Luísa Maria Nóbrega, ex-companheira de Emmanuel Bezerra à época de sua morte, recebeu o diploma de Ciências Sociais; e Antônio Gomes Pinheiro Filho, como ele se definiu, primo-irmão de José Silton, recebeu o diploma de Pedagogia.

Momento da diplomação de Emmanuel Bezerra. Foto: JAV/RN.

Disse Antônio Gomes: “O que levou Silton ao curso de Pedagogia foi o contato com as causas sociais e com a pedagogia freireana” e, citando Honestino Guimarães, outro desaparecido político, que foi presidente da UNE: “Se nos prenderem, se nos matarem, nós voltaremos e seremos milhões”.

Após a solenidade oficial, militantes do PCR e de vários movimentos sociais realizaram um momento de homenagem a Emmanuel Bezerra no pátio da Reitoria, entoando A Internacional, puxando palavras de ordem e reforçando o juramento de lutar por memória, verdade e justiça para todas as pessoas perseguidas e mortas pela ditadura militar, bem como de triunfar na luta para derrubar o capitalismo e construir uma sociedade socialista.

Preparação

Durante todo o mês de novembro, a militância do PCR e dos movimentos sociais promoveu uma série de atividades preparatórias para a diplomação, com debates em escolas e na universidade, colagens, rodas de conversa nas Ocupações Palmares e Emmanuel Bezerra, organizadas pelo MLB, levando para além dos muros da universidade as histórias de vida e de luta dos dois militantes homenageados.

Como diz o poema de Emmanuel, Às Gerações Futuras, nossos soldados não se rendem e constroem, dia após dia, a luta revolucionária pela construção da sociedade socialista.

Militância revolucionária do PCR no ato na Reitoria. Foto: JAV/RN

Emmanuel Bezerra dos Santos nasceu em 17 de junho de 1947 na praia de Caiçara, Município de São Bento do Norte (RN). Em 1961, transfere-se para Natal e passa a residir na Casa do Estudante e a estudar no Colégio Atheneu. Já na ditadura militar, como presidente da Casa do Estudante (secundarista e universitário), transforma-a em forte trincheira de luta do movimento estudantil. Em 1967, ingressa na Faculdade de Sociologia da Fundação José Augusto. Em seguida, incorpora-se ao Partido Comunista Revolucionário (PCR) e é eleito delegado ao 19º Congresso da UNE, em São Paulo. Com o AI-5, é preso em dezembro de 1968, cumprindo pena até outubro de 1969. Libertado, Emmanuel entra para a clandestinidade, já como dirigente nacional do PCR, atuando nos Estados de Pernambuco e Alagoas. Viaja ao Chile e à Argentina em missão do partido e é preso no início de setembro de 1973, quando regressava do exterior, sendo conduzido para o DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, onde foi torturado até a morte. Em 13 de março de 1992, seus restos mortais foram exumados e identificados. Trasladados para Natal em julho de 1992, os restos mortais seguiram em cortejo para São Bento do Norte em meio a grande comoção da comunidade local.

José Silton Pinheiro nasceu em 31 de maio de 1948 no sítio Pium de Cima, Município de São José de Mipibu (RN). Em 1964, começa sua militância no movimento estudantil, tendo sido presidente do Diretório Marista de Natal. Em 1970, ingressa na Faculdade de Pedagogia da UFRN. Neste mesmo ano, incorpora-se ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). Em 1972, é obrigado a entrar na clandestinidade e desloca-se para Recife e, posteriormente, para o Rio de Janeiro. Foi morto, sob torturas, no dia 29 de dezembro de 1972, juntamente com os seus companheiros de partido: Fernando Augusto da Fonseca, Getúlio Oliveira Cabral e José Bartolomeu de Souza, no Rio de Janeiro. A repressão política montou a velha farsa de um tiroteio com os agentes da ditadura. Seu corpo foi encontrado totalmente carbonizado, num automóvel, para ocultar as marcas das torturas. No verso de sua Certidão de Óbito foi colocada a frase “Inimigo da pátria (terrorista)”. Seu corpo foi sepultado numa vala comum e, até hoje, seus restos mortais não foram identificados.

Matéria publicada na edição nº 304 do Jornal A Verdade

Capitalistas fazem preços de alimentos subirem até 40% em todo o país

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Mesmo sendo o terceiro maior produtor de comida do mundo, o Brasil teve grande inflação de alimentos em 2024. Ganância do agronegócio exportador e ataque especulativo são principais fatores por trás dos aumentos de preços que pressionam as famílias trabalhadoras

Felipe Annunziata  | Redação


Leite longa vida subiu 18,83%, carnes subiram 20,21%, óleo de soja subiu 29,21%, café moído subiu 39,6% e laranja subiu 48,33%. Esses foram alguns dos aumentos absurdos de preço dos alimentos em 2024. Na grande mídia, as manchetes dizem que este cenário é culpa do clima, do dólar ou dos gastos do governo. Mas a realidade é outra.

De fato, 2024 foi um ano muito afetado pela crise climática capitalista. As inundações no RS, a seca em várias partes do Brasil e o excesso de chuva em outras prejudicaram a colheita de vários produtos. Mas esse não é o motivo principal pelo aumento dos preços, já que mesmo com esses problemas nosso país se manteve nas mesmas posições mundiais no ranking de produção de alimentos.

Outra justificativa da mídia burguesa é a suposta crise fiscal que nosso país estaria passando. Segundo eles, os gastos do governo pressionariam os preços da economia, incluindo os alimentos. Esse discurso está alinhado com os interesses do mercado financeiro que usa isso como argumento para defender o aumento dos juros extorsivos cobrados no país.

Essa questão tem menos a ver ainda com a inflação de alimentos. Já que o gasto do governo não interfere em nada na decisão dos donos das terras, fábricas e supermercados de exportar ou vender internamente os produtos alimentícios.

Os dados de inflação de 2024, divulgados nesta sexta (10) pelo IBGE, trazem consigo uma grande contradição: os maiores aumentos são justamente de mercadorias das quais o Brasil é um dos maiores produtores mundiais.

Nosso país é o quarto maior produtor mundial de leite, o maior produtor de óleo de soja, laranja e o segundo maior de café e carne bovina. O que explica, então, pagarmos tão caro por comida no supermercado?

Os culpados são os de sempre: os monopólios capitalistas bilionários. São os donos do agronegócio, das fábricas de alimentos e dos supermercados que definem quanto que a gente paga para comer no Brasil. Esse dado a imprensa esconde ou apresenta como se fosse algo inevitável.

Em nome do lucro, essas empresas preferem colocar esses produtos no mercado internacional do que colocar à disposição da população brasileira. Isto porque nosso país é vítima de um ataque dos banqueiros e fundos de investimentos que está fazendo o dólar chegar a mais de 6 reais. Nessas condições, para os capitalistas, dá mais lucro vender a comida produzida aqui no exterior do que no Brasil. Ou seja, estamos pagando mais caro na comida porque os bilionários decidiram vender a produção nacional fora do Brasil em vez de alimentar o nosso povo.

A dependência da economia brasileira ao capital financeiro internacional também cumpre um importante papel nessa crise, já que as mercadorias produzidas e consumidas no Brasil têm seus preços atrelados internacionalmente ao dólar, ficando-se assim sujeitas a suas variações.

Qual é a solução para o aumento dos preços dos alimentos?

Com esse cenário, se torna cada vez mais urgente o debate sobre o controle de preços no Brasil. Não é possível deixarmos a economia do nosso país nas mão de bilionários que só pensam no lucro.

É preciso uma rigorosa regulação do mercado de alimentos básicos no Brasil, com uma ação firme do Estado para impedir que a exportação de alimentos provoque uma diminuição da oferta no Brasil. Ao mesmo tempo, é necessário um forte controle sobre os supermercados e fábricas de alimentos para controlar os preços das mercadorias.

Intervir diretamente na produção e distribuição desses produtos é fundamental num país em mais de 25 milhões de pessoas passam fome aguda ou severa. Para garantir que nossas famílias tenham o que comer todos os dias é preciso atacar a ganância capitalista e garantir acesso do povo à comida boa, barata e saudável.

CARTA | Como conheci e acabei revisando o livro “Che em Sierra Maestra”

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Me alegro em ter contribuído no relançamento deste livro que muito ajudou no intenso período que vivi e espero que fortaleça outros camaradas na luta pelo socialismo.

Thiago Braile | Rio de Janeiro


CARTA – Vim a conhecer o livro “Che em Sierra Maestra”, de Merceditas Sanches Dotres, na metade de 2023 quando estava reforçando o trabalho universitário do Movimento Correnteza em alguns estados durante o processo do Congresso da União Nacional dos Estudantes (CONUNE). Meu primeiro contato com a obra foi na casa de um companheiro em Teresina, Piauí, que me mostrou o livro e me contou um pouco da história por trás do seu lançamento. Logo me interessei e peguei emprestado pra ler.

Mesmo durante um processo bem puxado de mobilização e eleições, todas as noites eu parava pra ler um pouco da obra, que me fisgava pelos aspectos geralmente pouco abordados que são retratados pela militante revolucionária.

O livro chama atenção pois, além de trazer uma visão próxima de Che Guevara, mostra também o funcionamento do movimento clandestino  M-26-07 (Movimento 26 de Julho), com suas redes de informações e de abastecimento e descreve a existência pouco conhecida do jornal El Cubano Libre e da Radio Rebelde. Esse conhecimento enriquece muito a perspectiva da revolução cubana ter sido um processo que envolveu as amplas massas da população e foi construído para muito além de um suposto militarismo unilateral da guerrilha, como tentam falsificar os teóricos da burguesia.

Um mês depois, já em Recife, Pernambuco, reencontrei “Che em Sierra Maestra” no Centro Cultural Manoel Lisboa e, além de relê-lo, aproveitei para digitalizar o livro pra ajudar a chegar em mais gente. Depois de digitalizar, mandei o PDF para um dos companheiros responsáveis pelas Edições Manoel Lisboa que me disse que estavam querendo reeditar o livro e me ofereci pra transcrever e revisar. Um ano depois, cá estamos com o livro lançado!

Ainda em Pernambuco, certo dia no Centro Cultural Manoel Lisboa, encontrei-me com o companheiro Edival Nunes Cajá que, ao me ver lendo o livro, me contou a história por trás do lançamento no qual esteve intimamente envolvido e eu fingi que já não tinha a conhecido ainda em Teresina só para ouvir o camarada falar. Acontece que foi Cajá quem convenceu a autora, Merceditas, a transformar seus relatos sobre a vivência com Che em um livro quando a encontrou em Havana. 

Após os diversos eventos de lançamento e promoção do livro Brasil afora, Merceditas se despediu de Cajá no aeroporto dizendo que dentre todos os partidos brasileiros de origem operária, reconheceu o M26 cubano no partido de Cajá e afirmou que o Partido Comunista Revolucionário será o partido a dirigir a revolução em nosso país. Portanto, me alegro muito em ter desempenhado um papel no relançamento deste livro que muito me ajudou no intenso período que vivi e espero que fortaleça outros camaradas  em todo país na perspectiva de uma vida radicalmente diferente do show de horrores capitalista.

Protesto denuncia aumento da passagem em São Paulo

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Aumento da passagem de ônibus para R$5,00 e do Metrô e CPTM para R$5,20, determinado por Nunes e Tarcísio, foi questionado em manifestação no centro da capital paulista. UP e movimentos sociais defenderam estatização e gratuidade do transporte coletivo

Redação SP


Na quinta-feira (9/1), milhares de jovens e trabalhadores realizaram uma forte manifestação no centro de São Paulo (SP) para denunciar o aumento abusivo no preço da passagem de ônibus na cidade determinado pela gestão municipal de Ricardo Nunes. O ato se concentrou em frente à sede da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá, e percorreu ruas e avenidas importantes da capital paulista até se concluir no Terminal Bandeira.

No final do ano passado, o prefeito da capital paulista havia anunciado que a tarifa subiria de R$4,40 para R$5,00, o que significou uma alta de mais de 13% em seu valor. Em paralelo, seu aliado que ocupa o Governo do Estado, o fascista Tarcísio de Freitas, também promoveu um aumento na passagem dos transportes que estão sob responsabilidade estadual, como o Metrô e os trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). A partir do último dia 6 de janeiro, o usuário passou a pagar R$5,20 para utilizar esses serviços.

Os aumentos vêm em um contexto de precarização da mobilidade urbana e privatização dos meios de transporte que atendem a população da Região Metropolitana de São Paulo, o que foi denunciado no ato. Movimentos sociais como a União da Juventude Rebelião (UJR), o Movimento Luta de Classes (MLC) e o Movimento Correnteza estiveram presentes de forma massiva na manifestação.

Presença ostensiva da PM

Caricatura do governador Tarcísio, que sancionou o aumento da passagem no Metrô e na CPTM. Foto: Wildally Souza (@Wsoouza_fotografia) / JAV SP
Caricatura do governador Tarcísio, que sancionou o aumento da passagem no Metrô e na CPTM. Foto: Wildally Souza (@Wsoouza_fotografia) / JAV SP

Ao longo do ato, puderam ser vistas muitas faixas e cartazes denunciando o aumento da passagem e pedindo a implementação do passe livre. Ainda na concentração, uma catraca com uma caricatura de Ricardo Nunes foi queimada por manifestantes. Palavras de ordem como “O passe livre não é esmola! O filho do prefeito vai de carro pra escola”, “Aê, Tarcísio, vou te falar! Abaixa o preço ou São Paulo vai parar” e “Ô, motorista! Ô, cobrador! Me diz aí se seu salário aumentou” também ecoaram pelas ruas.

Para reprimir e criminalizar a indignação popular, um grande aparato policial se fez presente desde o início do protesto. Policiais militares portando fuzis e GCMs fortemente equipados circulavam em torno da massa e um comboio de motos da PM tentava conduzir o passo da manifestação. Na Praça da República, unidades da cavalaria se somaram ao comboio.

Na chegada da passeata ao Terminal Bandeira, no Vale do Anhangabaú, a Polícia Militar promoveu um cerco na frente da estação do Metrô, ameaçando jornalistas e fotógrafos (entre eles, colaboradores do jornal A Verdade) e tentando prender três manifestantes. A ação foi frustrada graças à intervenção popular, com palavras de ordem como “Lutar não é crime” e “Eu quero o fim da Polícia Militar”.

Transporte privatizado é caro e ruim

Nos últimos anos, os governos de Nunes e Tarcísio atuaram conjuntamente para levar adiante seu programa de privatização dos transportes paulistas, vendendo a promessa de que o serviço se tornaria melhor e mais barato. Contudo, os fatos mais recentes escancaram os problemas graves do modelo privatizado, que já estava em vigor no modal rodoviário, e demonstraram ao povo que nenhum dos benefícios prometidos pelos governos fascistas deverá se concretizar.

No ano passado, uma investigação revelou que várias das concessionárias que recebem anualmente uma grande quantidade de dinheiro da Prefeitura de São Paulo para gerir o transporte coletivo são controladas pelo crime organizado. No ano de 2025, o subsídio a essas empresas de ônibus chegará a R$6,5 bilhões, mas mesmo assim os empresários não aceitam a redução do preço da passagem e nem promovem a melhora do serviço, em uma enorme transferência de recursos do povo para bolsos privados sem que haja um retorno na forma de uma mobilidade urbana de qualidade.

Por sua vez, as linhas da CPTM que foram privatizadas pelo governo Tarcísio de Freitas têm sido palco de cada vez mais falhas de serviço desde que foram vendidas para grupos empresariais. As frequentes panes elétricas já causaram diversos “acidentes” e incêndios em veículos que levavam passageiros, arriscando a vida de milhares de trabalhadores. A despeito da escalada de problemas, o governador não titubeou em cobrar ainda mais caro dos trabalhadores pela passagem do trem neste ano.

UJR ocupa Estação da Sé

Agitação da UJR na Estação da Sé do Metrô de São Paulo. Foto: Bia Borges (@Bia.Borgest)
Agitação da UJR na Estação da Sé do Metrô de São Paulo. Foto: Bia Borges (@Bia.Borgest)

A União da Juventude Rebelião (UJR) e o Movimento Correnteza, que organizam jovens e estudantes na luta pelo socialismo, marcaram presença no protesto da quinta-feira questionando a falta de uma política mais ampla de passe livre estudantil no transporte público e denunciam os males causados pelas privatizações.

“A gente está aqui contra o fascismo, pela tarifa zero e por um transporte público, gratuito, estatal e de muita qualidade”, explicou Júlio César, diretor executivo da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP) e militante do Movimento Correnteza, ao jornal A Verdade.

Logo após a dispersão do ato, militantes da UJR e da Unidade Popular (UP) se concentraram no vão aberto da Estação da Sé, onde estenderam bandeiras e faixas e fizeram uma agitação em forma de jogral para denunciar o aumento da passagem e convocar os trabalhadores e trabalhadoras no Metrô para a luta. Nas redes do jornal A Verdade, você pode conferir um registro da agitação.

Uma grande brigada do jornal A Verdade e a agitação dos militantes fizeram com que inúmeros trabalhadores parassem oferecendo palavras de apoio e buscando se somar à próxima manifestação. O ato seguinte já foi marcado para o dia 14/1, às 17h, em frente ao Theatro Municipal.

Gratuidade e estatização são alternativa

Movimentos, entidades e organizações como FENET, UJR, PCR, Ares-ABC e DCE UFABC marcaram presença no ato contra o aumento da passagem em São Paulo. Foto: Diogo Romão/JAV SP
Movimentos, entidades e organizações como FENET, UJR, PCR, Ares-ABC e DCE UFABC marcaram presença no ato contra o aumento da passagem em São Paulo. Foto: Diogo Romão/JAV SP

Desde 2023, a luta contra a privatização e a precarização dos transportes, em especial o Metrô e a CPTM, tem sido uma das prioridades da mobilização da Unidade Popular (UP) e do Movimento Luta de Classes (MLC) no estado de São Paulo. Além disso, na campanha eleitoral do ano passado, o partido também havia buscado destacar a importância da estatização e da gratuidade do transporte coletivo nas cidades do país, pontos que também constam em seu programa.

Por isso, a UP e os movimentos sociais se somaram em peso à manifestação contra o aumento na tarifa dos transportes, apresentando aos trabalhadores a sua proposta de enfrentamento à precarização e à privatização.

O aumento nas passagens de ônibus e Metrô determinado por Tarcísio e Nunes “dificulta o acesso da classe trabalhadora ao direito ao transporte, à locomoção e ao acesso à cidade. É por isso que o MLC se soma à luta dos estudantes pelo passe livre, pelo controle popular dos transportes, pelo poder popular e pelo socialismo”, explica Gustavo Matos, trabalhador do Metrô e militante do Movimento Luta de Classes e da UP.

Prefeitura de João Pessoa despeja 60 famílias de terreno ocupado

Na quarta-feira (8/1), sob ordens da Prefeitura de João Pessoa, a PM da Paraíba e a GCM da capital despejaram as famílias que construíam há 4 meses a ocupação Olga Benário, na Zona Sul da cidade. Ação foi marcada por ilegalidades flagrantes

Redação PB


Na manhã desta quarta-feira (8/1), mais de 60 famílias que ocupavam um terreno em um bairro da Zona Sul de João Pessoa foram surpreendidas por uma ação de despejo realizada conjuntamente pela Polícia Militar do Estado da Paraíba (PM-PB) e a Guarda Municipal da capital paraibana (GCM-JP). A área estava sendo ocupada pelas famílias há 4 meses.

O nome da ocupação homenageava Olga Benario, exemplar dirigente comunista e destacada lutadora antifascista nos anos 1930. Sua coragem e firmeza no enfrentamento com os reacionários fizeram com que o presidente do Brasil à época, Getúlio Vargas, a deportasse para a Alemanha de Adolf Hitler ainda grávida, quando foi brutalmente assassinada pelos nazistas em seus campos de concentração.

“Entre lonas e paus, estamos livrando nossas famílias da violência. Eles estão colocando a gente como lixo nas ruas”, denunciou uma das lideranças da ocupação, Josefa Cristina, acerca do despejo. Após 4 meses de resistência das famílias no terreno, sem qualquer aviso prévio e nem notificação de órgãos de apoio como a Defensoria Pública da Paraíba e a Comissão de Conflitos Fundiários, a Prefeitura ordenou à Guarda Municipal e à Polícia Militar que despejassem as famílias que ocupavam o local, antes abandonado e coberto com lixo, sob a justificativa de construção de uma praça. “Não estão dando posição pra gente de onde vão nos colocar. Estamos à mercê de tudo”, aponta Josefa.

Novamente, manchetes sobre a popularidade e o turismo crescente da capital da Paraíba entram em contradição com a dura realidade vivida pela grande maioria do povo trabalhador da cidade. Neste mar de problemas, quem rema contra a maré e luta contra a desigualdade social são os movimentos populares, como o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), que acompanhou de perto o caso. Estamos aqui mostrando a destruição da moradia de 64 famílias que antes habitavam este terreno, que estava abandonado. Hoje, a Prefeitura proporciona isso para essas famílias sem nem dar uma direção de onde elas possam habitar”, disse João Batista, coordenador do movimento.

Os tratores, que a mando da Prefeitura destroem as moradias construídas com muito suor e luta das famílias, escancaram a dura realidade da ausência de políticas públicas de moradia na capital paraibana, em benefício do interesse de alguns poucos empresários que ditam os rumos da gestão na cidade. “Ao mesmo tempo que João Pessoa teve uma valorização de seus terrenos e imóveis de 20%, essa é a realidade de quem mora na cidade. Essa é a política habitacional que a Prefeitura apresenta para o povo”, denunciou Yuri Ezequiel, presidente do Diretório Municipal da Unidade Popular, que esteve presente no local em apoio às famílias.