UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sábado, 3 de maio de 2025
Início Site Página 20

Campanha internacional pelo aparecimento de Lichita pressiona o Estado paraguaio

0

Filha de dirigentes da resistência camponesa em seu país, Lichita Villalba foi sequestrada pelas Forças Armadas do Paraguai em 2020. Desde então, movimentos populares de todo o mundo organizam luta pela aparição com vida de Lichita

Isis Mustafá e Gabriela Torres


Lichita Villalba, filha de dirigentes da resistência camponesa no Paraguai, é uma criança de 14 anos sequestrada por um destacamento das forças armadas, a Força Tarefa Conjunta (FTC). Nesta mesma operação, outras duas crianças de 11 anos, María e Lilian Mariana, foram assassinadas. O crime aconteceu há quatro anos e faz parte da política de perseguição e extermínio do Estado paraguaio à luta do povo por reforma agrária e à Família Villalba, conhecida pela atuação junto ao Exército do Povo Paraguaio (EPP). Por todo o mundo, inclusive no Brasil, movimentos populares promovem um abaixo-assinado pela aparição com vida da menina Lichita.

O Exército do Povo Paraguaio é uma guerrilha de camponeses pobres criada em 2008 no Norte do país e que luta pela distribuição de terras e realização de uma ampla reforma agrária. Os departamentos de Concepción, San Pedro e Amambay correspondem a 32% do território ocidental, com aproximadamente 700 mil habitantes, profundamente marcados pela concentração de terras e cabeças de gado nas mãos de poucas centenas de estrangeiros, ao passo que a imensa maioria do povo não tem nada.

No dia 30 de novembro, organizações revolucionárias e partidos marxistas de todo o continente latino-americano se reuniram na Plaza de los Desaparecidos, em Asunción. Localizada na capital paraguaia, ex-presos políticos e familiares dos mortos e desaparecidos fazem dessa praça um espaço de luta por Memória, Verdade e Justiça. Um grupo de vítimas da ditadura militar de Stroessner, que acampava em frente à Defensoria Pública exigindo seus direitos, também participou do ato.

A equipe de A Verdade esteve presente em Asunción e entrevistou os membros da 7ª Delegação Internacional Humanitária: Guillermo Kane, deputado provincial de Buenos Aires; Claudio Medina, diretor do Sindicato dos Docentes da Capital Federal Argentina; Fabricio Arnella, dirigente do Partido Comunista Paraguaio; e Ariel Prieto, militante da Juventude Comunista Paraguaia.

A Verdade – O que a violência contra a família Villalba representa para os lutadores da América Latina?

Guillermo Kane – A violência demonstrada pelo Estado paraguaio no crime político cometido contra a Família Villalba, que inclui infanticídios, desaparecimento de pessoas, julgamentos completamente fraudulentos, mantendo presos políticos detidos depois de já terem cumprido até mesmo as sentenças legais dos julgamentos originais pelos quais foram presos… Enfim, toda essa barbárie mostra a ficção representada pelas democracias capitalistas e a disposição de violar suas próprias constituições, sua própria legislação, para reprimir os trabalhadores e o povo quando eles se levantam contra o Estado capitalista.

A Verdade – Qual a importância dessa campanha para a luta dos direitos humanos no mundo?

Claudio Medina – Em primeiro lugar, gostaria de sublinhar que a solidariedade para com os irmãos e irmãs da classe trabalhadora é um princípio de classe. Por essa razão, é de extrema importância que a campanha não se desenvolva somente no Paraguai e na Argentina, que é onde está a família Villalba, mas em todo o continente, como nesta delegação que representa o Brasil. É preciso destacar a importância da solidariedade internacional para unir forças, organizar-se e denunciar publicamente a repressão e perseguição da Família Villalba.

Note que a burguesia e suas instituições repressivas não têm problemas de coordenar-se internacionalmente. Por exemplo, no dia 12 de abril, a ministra argentina Patricia Bullrich ordenou ilegalmente que a Família Villalba fosse detida de forma muito violenta, apontando armas pesadas para as crianças. Fizeram tudo em cumplicidade com o Estado paraguaio, que solicitou a extradição. Naquela ocasião, a Família Villalba foi detida e, em seguida, liberada porque tinham o direito de refugiados políticos. Entretanto, o Governo Milei lhes tirou o asilo e estão obrigadas a continuar fugindo desta terrível perseguição.

A Verdade – Você gostaria de mandar um recado para a militância do Brasil?

Fabricio Arnella – Sentimo-nos muito honrados e, ao mesmo tempo, acompanhados neste caminho. Não é comum assistirmos de forma tão sistemática e contundente à materialização do internacionalismo, que, por vezes, se reduz apenas a declarações e assinaturas. Apesar da indiferença do Estado e de muitas organizações de direitos humanos, sociais e políticas, esta delegação cumpriu os seus objetivos e fez-se sentir com a entrega de notas, a conferência de imprensa e a sua destacada participação no evento na Praça. Não é fácil adiar as próprias agendas, alocar recursos e múltiplos esforços para estar ao lado de uma causa tão sensível. Através de Guillermo, María José, Isis, Gabriela, Claudia e Claudio estendemos nossa gratidão aos seus espaços sindicais, políticos e institucionais e a todas as pessoas e organizações da Argentina, Brasil, Honduras e Uruguai aqui representadas.

Matéria publicada na edição nº 304 do jornal A Verdade

Movimento Correnteza luta pela permanência na Univali (SC)

0

Através das passagens em sala e das brigadas do jornal A Verdade, a experiência do Correnteza na Univali mostra a importância da construção do movimento estudantil nas universidades privadas.

Otávio Colussi de Almeida | Santa Catarina


JUVENTUDE – No mês outubro ocorreu na Universidade do Vale do Itajaí (Santa Catarina) as eleições para o Diretório Central dos Estudantes (DCE), entidade de máxima representação política dentro da universidade. Há 6 anos, os estudantes da Univali não podiam votar para uma eleição da entidade que os representa e isso aconteceu em função do imobilismo das gestões, muitas vezes com a presença da direita, que pouco se importaram com a condição dos estudantes e só queriam garantir os seus cargos.

O resultado destas gestões são 2 anos sem uma assembleia geral e estatuto ou regimento interno, que acabaram por excluir os campis fora do município de Itajaí, impedindo estudantes de São José, Balneário Camboriú, Tijucas, Biguaçu e Florianópolis de participarem de forma democrática através da construção de uma chapa. Para piorar a situação, foram dispostas urnas apenas em Itajaí, impedindo os estudantes destas 5 cidades de exercer o seu direito de voto, mais um claro ataque ao processo legítimo e democrático da entidade.

No ano de 2023, os estudantes bolsistas sofreram um severo ataque com a proposta eleitoreira do Jorginho Mello, com o programa “Universidade Gratuita”, que na prática deixou milhares de estudantes sem acesso às bolsas, excluindo principalmente os estudantes pobres nascidos em outros estados.

A desorganização é tanta, que mesmo hoje, 1 ano e meio depois do lançamento desse programa, os estudantes ainda não tem uma resposta quanto ao pagamento da contrapartida, deixando estudantes com mais de 300 horas acumuladas para pagar. Estas e muitas outras denúncias fortaleceram a luta e o vínculo entre o Movimento Correnteza e os estudantes que se encontram abandonados pela instituição e pelo seu próprio DCE.

Mobilização do movimento estudantil

Foi através da mobilização intensa da Chapa 2 – Pra Fazer Acontecer, formada por militantes do Movimento Correnteza e do PCBR, que foi possível pautar as verdadeiras necessidades dos estudantes, tendo como principais pautas a necessidade de mais políticas de permanência estudantil.

Hoje não existe uma opção de alimentação acessível em nenhum dos 5 campis da Univali, mesmo com os valores absurdos das mensalidades, que ultrapassam um salário mínimo. Os estudantes ainda precisam pagar para protocolar atestados médicos e para utilizar o estacionamento da instituição. 

Mesmo com todas as dificuldades encontradas no regimento eleitoral, que iam desde impedir as chapas de distribuir panfletos, até proibir agitações com bandeiras e caixas de som, a nossa militância esteve presente nas salas de aula durante todo o processo eleitoral, conversando com os estudantes sobre a necessidade de uma gestão de luta, estando presente, inclusive, nos campi que não poderiam votar. Foi o convencimento passado aos estudantes, através das passagens em sala e das brigadas do jornal A Verdade, que nos permitiu conquistar 903 votos e a vitória em 6 das 9 urnas na eleição mais votada da história da Universidade, com 1832 votos totais. Embora a Chapa 1 tenha sido eleita, com 932 votos, são muitas as vitorias conquistadas durante esse processo eleitoral, desde as denúncias trazidas pelo programa político até a permissão para venda do jornal A Verdade dentro da instituição.

São inúmeras as lutas dentro da nossa universidade e para conquistá-las é necessário um movimento estudantil verdadeiramente revolucionário, comprometido com a luta dos estudantes e presente no dia a dia. A experiência do Correnteza na Univali nos mostra que não é apenas possível, mas também necessário, a construção do movimento estudantil nas universidades privadas. Além disso, nos ajudou a desconstruir o mito de que não se pode falar sobre socialismo nas universidades privadas de Santa Catarina. 

Para construir uma universidade livre de opressão, é necessário que nós, estudantes, nos organizemos nas fileiras do movimento correnteza, levantando sempre e bem alto a bandeira em defesa da nossa educação. 

Povos indígenas ocupam Secretaria de Educação do Pará

0

Manifestação contra o fim da educação modular indígena expõe retrocessos nas políticas públicas, repressão policial e descaso do governo estadual com os povos originários.

Ayry Guará Porã Tupinambá | Belém (PA)


No final do ano passado, Hélder Barbalho e seus deputados aprovaram, na Assembleia Legislativa do Pará (ALEPA), o Projeto de Lei nº 10.820/2024, que, na prática, extingue o Sistema de Ensino Modular (SOME) e o Sistema de Organização Modular de Educação Indígena (SOMEI). Essas políticas públicas são essenciais para garantir o acesso à educação nas áreas do interior do estado, especialmente para os povos indígenas. A aprovação da medida ocorreu sob repressão a trabalhadores da educação e estudantes que lutavam contra esse retrocesso.

Em resposta a essa ação autoritária, diversos povos indígenas das regiões do Baixo e Médio Tapajós, Xingu e Alto Rio Guamá se organizaram e ocuparam a sede da Secretaria de Educação do Pará (SEDUC) no dia 14 de janeiro de 2025. Eles exigem a revogação dessas medidas e a garantia de professores nas escolas indígenas, já que o PL aprovado propõe a implementação de ensino remoto nas aldeias.

A Polícia Militar, sob o comando de Hélder Barbalho, reprimiu de forma violenta os povos indígenas que realizaram a ocupação. Na parte da manhã, impediram que as comunidades recebessem água, comida e outros mantimentos, além de cortar o fornecimento de água e energia elétrica da SEDUC como forma de retaliação ao protesto.

Governo do Pará é a favor do sucateamento das escolas indígenas e beneficia os latifúndios

Em entrevista ao jornal A Verdade, Wender Tembé, liderança indígena do povo Tembé-Tenetehara da Terra Indígena do Alto Rio Guamá, destacou que a ocupação foi uma necessidade para defender o direito à educação escolar indígena. Ele denunciou o projeto de sucateamento das escolas indígenas, que frequentemente enfrentam a falta de professores e estrutura adequada. Wender criticou a postura do governador e do secretário de educação, afirmando que ambos ignoram as reivindicações das comunidades e dificultam o diálogo: “O governador precisa parar de fingir que defende a Amazônia, que defende a floresta e os povos indígenas, enquanto apoia o agronegócio, a garimpagem, os madeireiros e não atende às reivindicações dos povos indígenas”, declarou.

No período da tarde, a ocupação continuou, mesmo com a intervenção do Ministério Público Federal (MPF). Hélder Barbalho e Rossieli Soares, secretário de educação do estado, não se pronunciaram sobre a situação dos povos indígenas, tampouco atenderam às demandas apresentadas ou encaminharam a revogação do PL que extingue a educação modular indígena.

Hélder Barbalho, cuja família possui milhares de hectares de terra no Pará, tem adotado uma postura sistemática de ataque aos povos indígenas e comunidades tradicionais desde o início de seu mandato. O governador mantém alianças com o agronegócio, latifundiários e grileiros, principais responsáveis pelos conflitos de terra no estado, e permanece omisso diante das reivindicações desses grupos.

Mesmo no ano em que Belém sediará a COP-30, o governo do Pará continua a atacar e retaliar os povos indígenas, posicionando-se contra o meio ambiente e a justiça climática. Não há justiça climática sem a garantia dos direitos dos povos originários, que são os principais responsáveis pela proteção de florestas, terras, rios e do ar, especialmente na Amazônia, onde o desmatamento, os incêndios e os conflitos por terra atingem níveis alarmantes. Os povos indígenas estão na linha de frente na defesa da natureza, combatendo o agronegócio, a mineração e os madeireiros.

O sistema capitalista tenta apropriar-se das terras e da natureza para mercantilizá-las, reservando seu acesso apenas à elite econômica. Esses ataques aos direitos dos povos indígenas fazem parte de um projeto maior de opressão e marginalização, com o objetivo de roubar suas terras.

A luta dos povos originários e a ocupação da SEDUC são ações fundamentais para barrar os retrocessos na educação no Pará, especialmente nas regiões interioranas. Essa luta busca assegurar um direito constitucional garantido pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) e pelo Decreto nº 6.861/2009, que regulamentam a organização da educação indígena nos territórios.

É essencial fortalecer essa mobilização para impedir qualquer retrocesso. Direitos são conquistados com luta, e a resistência dos povos indígenas diante da opressão não pode ser reprimida. A revogação imediata do PL 10.820/2024 é indispensável para garantir a soberania dos povos originários, sua autodeterminação e a preservação de suas culturas, saberes e cosmologias.

Mulheres argentinas na luta contra as políticas do governo Milei

0

Em 2026, a Argentina será a sede do 4° Encontro de Mulheres da América Latina e Caribe. No entanto, a vitória de Milei nas últimas eleições presidenciais trouxe vários desafios para os movimentos e organizações de mulheres e sociais do país e, para entender mais esse momento, a redação do jornal A Verdade entrevistou María Rosario, que é responsável pelo trabalho entre as mulheres do Partido Comunista Revolucionário da Argentina.

Redação


A Verdade – Como o governo do fascista Javier Milei e sua política de cortes nos investimentos nas áreas sociais tem afetado a vida das mulheres?

María Rosario – Desde que assumiu o governo, o ultradireitista Javier Milei adotou diversas medidas reacionárias, entre elas a extinção do Ministério das Mulheres, Gêneros e Diversidades. Ele está tentando também modificar a Lei de Educação Sexual Integral e a Lei Micaela. Desarticulou e desmantelou as redes de assistência às vítimas de violência de gênero, está cortando os investimentos dos programas de prevenção e acompanhamento às mulheres vítimas e os planos de prevenção e acompanhamento à gravidez na adolescência e pretende acabar com a Lei de Interrupção Voluntária de Gravidez.

Há alguns anos, as mulheres conquistaram o direito ao aborto, direito este alvo de ataques pelos fascistas e conservadores em todo o mundo. Existe ameaça de acabar com essa conquista?

O Encontro Plurinacional de Mulheres e Diversidades, que se realizou em outubro, na província de Jujuy, desde a sua abertura se colocou contra a política reacionária de Milei e afirmou que o caminho é a unidade na luta por nossos direitos e conquistas. Consideramos que estes Encontros são a base do imenso movimento de mulheres da Argentina e o êxito em sua realização é um grande impulsionamento para todo o movimento popular em nosso país.

O coração dos Encontros são os grupos de debate, onde se discute de forma horizontal, com o conjunto das mulheres e dissidências de gênero, onde todas as vozes são ouvidas. Aí que nasceu a Campanha pelo Aborto Legal, Seguro e Gratuito, em 2020, com as mobilizações de milhões de mulheres em todo o país e, com isso, transformamos o aborto em lei. Através das lutas em nossos movimentos, conquistamos o direito ao matrimônio igualitário, a Lei da Identidade de Gênero (ameaçada pelo atual governo), a Lei da Educação Sexual Integral.

A campanha Ni Una Menos permitiu o desenvolvimento de uma luta aberta contra os feminicídios e a violência em geral contra as mulheres. Decidimos impulsionar a campanha pela Declaração de Emergência contra a Violência às Mulheres em todo o país. Na Argentina, a violência tira a vida de uma mulher a cada 33 horas todos os anos.

Como o pacote de reformas, que contém a Reforma da Previdência, afeta a vida das mulheres trabalhadoras?

No que diz respeito à Reforma Previdenciária, ela afeta especialmente as mulheres que, não tendo o valor integral das contribuições necessárias para se aposentar, poderiam ter acesso a uma aposentadoria em que as contribuições não contribuídas eram deduzidas mensalmente. Porém, isso afeta principalmente as mulheres que são donas de casa e que trabalharam apenas alguns anos ou que seus empregadores não fizeram as contribuições exigidas ao Estado. Para as mulheres trabalhadoras, fala-se em aumentar a idade de aposentadoria de 60 para 65 anos, com opção de trabalhar até aos 70 anos. Existe a ameaça de revogação do Estatuto do Ensino (sendo o sindicato docente um sindicato majoritário de mulheres), prolongando o número de anos de contribuição e de trabalho, revogando o artigo que lhes dava o benefício de se aposentarem com 82% do salário dos professores.

Como as mulheres veem na luta uma forma de impedir essas tentativas de retrocesso?

Nosso partido e sua juventude priorizam a importância dos Encontros Nacionais de Mulheres, que acontecem há 37 anos. Nossas companheiras tiveram um papel importante para que dezenas de milhares (80.000, nesta edição) fossem protagonistas nos três dias de debates nas oficinas, nas atividades unitárias e na marcha massiva que ocorreu.

Quando crescem os sofrimentos da maioria devido às políticas de ajuste e sujeição de Milei cresce também a necessidade de fortalecer a organização coletiva para enfrentar e derrotar as políticas antipopulares e antigênero do governo nas ruas, em defesa dos nossos direitos e conquistas e avançar no que nos falta.

Matéria publicada na edição impressa nº 304 do jornal A Verdade

Encontro do MLB reafirma o lugar de direção das mulheres pobres e trabalhadoras

0

“Se é verdade que lutar pela moradia digna, contra a fome, em defesa das creches e por saúde de qualidade é lutar pelo fim da violência contra a mulher, é verdade também que as pessoas responsáveis por organizar e assumir esse papel de direção dessas lutas revolucionárias são as mulheres do MLB e do Movimento de Mulheres Olga Benario”

Coordenação Nacional do MLB


No último mês de novembro, aconteceu o Encontro Nacional de Mulheres Dirigentes do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), em Recife. Com o objetivo de aprofundar o debate sobre a importância das companheiras do movimento se enxergarem enquanto direção do trabalho entre as mulheres para além do MLB, o encontro contou com a presença das companheiras Larissa Vanessa e Vitória Ohara, da Coordenação do Movimento de Mulheres Olga Benario de Pernambuco.

O trabalho de massas e a organização das mulheres trabalhadoras, a necessidade de uma formação política mais profunda para uma ação ainda mais consequente e a organização de creches em defesa da infância foram temas trabalhados durante os dias de Encontro.

Na sociedade capitalista, a maioria das mulheres não se enxerga enquanto liderança. A falta de autoestima e de confiança em si, consequências da falta de estímulo externo ao longo da vida, além da própria falta de tempo, devido as várias jornadas de trabalho impostas, fazem com que as mulheres se deparem com mais obstáculos do que facilidades para cumprir essa tarefa.

Para isso, foi levantada a necessidade de uma formação política ainda mais intensa entre as companheiras mulheres e mães. Para embasar esse debate, foi lido o texto de Samora Machel, líder do povo moçambicano, que aborda o projeto capitalista de preservar a ignorância ao invés de incentivar os questionamentos e o conhecimento. A ignorância leva à passividade e essa faz com que não se possa imaginar a possibilidade de uma libertação. Por isso, o conhecimento pode conduzir à liberdade, comprovando que, quanto mais consciência temos sobre nossa realidade, mais entendemos que os responsáveis por uma mudança somos nós mesmos.

Durante as falas, as companheiras presentes, em sua maioria negras, vindas de ocupações, mães e avós, reafirmavam a mudança de vida após conhecer o MLB e como elas, vivendo essa mudança, se sentiam no dever de apresentar a possibilidade de uma vida diferente para outras mulheres, também atravessadas por violências, miséria e fome.

Nesse sentido, a necessidade da organização de mais mulheres e o trabalho de massas entre as mulheres operárias e trabalhadoras foi reafirmada em todas a falas. Pois, se é verdade que lutar pela moradia digna, contra a fome, em defesa das creches e por saúde de qualidade é lutar pelo fim da violência contra a mulher, é verdade também que as pessoas responsáveis por organizar e assumir esse papel de direção dessas lutas revolucionárias são as mulheres e homens que hoje se organizam no MLB e no Movimento de Mulheres Olga Benario.

“Senti que o encontro marcou a vida das companheiras presentes. A partir de então, vão assumir ainda mais o papel de direção, tendo mais confiança e dando mais qualidade a sua militância”, avaliou Vitória Ohara, do Movimento Olga Benario.

Um espaço como esse, onde as mulheres possam compartilhar suas experiências de vida e o que enfrentaram até chegar aonde estão é fundamental. Porém, é importante também pontuar que esses espaços sirvam para que essas mulheres cultivem o espírito fraterno de camaradagem e se encontrem na luta comum, ou seja, na luta contra esse sistema opressor e violento.

Ainda nesse final de ano, o MLB realiza uma de suas lutas mais importantes, que é a luta do Natal Sem Fome. As companheiras e companheiros presentes no Encontro Nacional saíram ainda mais convencidos de construir essa mobilização, destacando o esforço necessário de cada militante para visitar os bairros e cadastrar mais famílias.

Vamos juntos construir o maior Natal Sem Fome do MLB, com a presença massiva das mulheres trabalhadoras, mães e operárias do nosso país.

Justiça por Maria Maianara! Maria Maianara presente! Agora e Sempre!

Matéria publicada na edição impressa nº 304 do jornal A Verdade

Às portas de Moscou

0

Leia resenha de “Às Portas de Moscou”, romance de Alexandr Bek publicado pelas Edições Manoel Lisboa. Pelo olhar de um regimento que protegeu a capital soviética, obra apresenta a heróica luta dos comunistas para conter a ameaça nazifascista na Segunda Guerra Mundial

Rafael Moraes | Belo Horizonte (MG)


O ano era 1941, em plena Guerra Patriótica (Segunda Guerra Mundial). O Exército nazista já havia invadido e ocupado uma parte do território da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) e se chegava à cidade de Volokolamsk, a ínfimos 120 km de distância do principal centro político e administrativo do Estado soviético, literalmente, Às Portas de Moscou. É neste contexto que Alexandr Bek, na época, correspondente de guerra, apresenta sua obra a partir da narrativa do oficial Momych-Uli.

Primeiro-Tenente de nacionalidade kazak (nascido no Cazaquistão, na época umas das Repúblicas Soviéticas), Momych-Uli recebe a missão de ser Comandante de Batalhão de um regimento composto por trabalhadores e civis que foram convocados e se prontificaram para defender a URSS. Inseridos na 316ª Divisão de Caçadores, dirigida pelo General Panfilov, Momych e seu batalhão tinham uma enorme responsabilidade: eles estavam em uma das últimas linhas de defesa que protegia Moscou, ou seja, todo o legado e a sobrevivência do Estado socialista soviético.

Ao refletir sobre a participação dos combatentes soviéticos na Segunda Guerra Mundial, não se pode olhar sob a mesma ótica dos combates das forças armadas dos países capitalistas; é exatamente o inverso. Nas guerras da burguesia, os soldados, integrantes da classe explorada de um país, confrontam-se com outros soldados, também de mesma origem, num confronto que não tem nenhum sentido àquelas pessoas. Colocam suas vidas em jogo por um interesse de uma minoria, da burguesia, que assiste de longe ao massacre.

Por outro ponto de vista, temos a guerra sob a ótica dos comunistas e dos Estados Socialistas. Antes de tudo, é necessário, para precisar o debate, trazer a perspectiva de Lênin, líder da Revolução Russa de 1917:

“Os socialistas sempre condenaram as guerras entre os povos como coisa bárbara e brutal. Mas a nossa atitude em relação à guerra é fundamentalmente diferente da dos pacifistas (partidários e pregadores da paz) burgueses e dos anarquistas. […]

Nós, marxistas, distinguimo-nos tanto dos pacifistas quanto dos anarquistas pelo fato de reconhecermos a necessidade de estudar historicamente (do ponto de vista do materialismo dialético de Marx) cada guerra em particular. Na História, houve repetidamente guerras que, apesar de todos os horrores, atrocidades, calamidades e sofrimentos inevitavelmente ligados a qualquer guerra, foram progressistas, isto é, foram úteis ao desenvolvimento da humanidade, ajudando a destruir instituições particularmente nocivas e reacionárias (por exemplo, a autocracia ou a servidão), os despotismos mais bárbaros da Europa (o turco e o russo).”

A atitude dos socialistas

A guerra, como foi o caso da Guerra Patriótica, pela defesa de uma obra coletiva de uma classe, significava defender as conquistas da Revolução, e isso coloca aos combatentes um grande aspecto moral, uma disciplina e um sacrifício conscientes.

Neste raciocínio, em uma das passagens do livro, Momych-Uli, após ouvir uma palestra do Politruk (Comissário Político, oficial encarregado da educação política, moral e cultural da tropa), sobre as razões de entregarem-se integralmente às batalhas, decide fazer uma intervenção:

“Esperei que acabasse a sua palestra. Depois, fiz sinal a um dos meus soldados, mandei que levantasse e perguntei-lhe:

– Sabe você o que é a pátria?

– Sim, Comandante.

– Diga-o

– É a nossa União Soviética, nossa terra.

– Sente-se.

Dirigi-me a outro:

– Você aí, que acha que seja a pátria?

– A pátria… Bem, a pátria é o lugar onde nasci… Isto é… Não sei explicar… afinal é onde…

– Sente-se! E você?

– A pátria? É nosso governo soviético… é… tomemos por exemplo Moscou. Estamos aqui para defendê-la. Nunca lá estive… Jamais a vi, porém é a pátria…

– Então, você nunca viu sua pátria?

O soldado ficou calado.

– Que é, afinal, a pátria?

[…]

– A pátria é você. Mandam-no matar aquele que desejaria fazer-lhe a mesma coisa. Por quê? Por quem? Por você mesmo, por sua mulher, seus pais, seus filhos!

Toda a tropa me ouvia. O comissário político, Dordia, tomara lugar do meu lado, e me olhava, a cabeça ligeiramente inclinada para trás, piscava os olhos levemente. 

Ao falar, eu me dirigia a ele também, e aos outros, porque desejava que compreendessem uma coisa: a cruel necessidade da guerra não está na palavra ‘morrer’, mas sim na palavra ‘matar’.”

Este trecho do livro, entre diversas questões que poderiam ser abordadas, apresenta como era profundo o significado e as tarefas de um comandante militar soviético. Além de um chefe militar, era um dirigente político, que não apenas mandava, mas deveria comandar à vitória. Todavia, é apenas um trecho, somente a leitura completa pode dar a dimensão e a beleza desta obra. Sendo assim, fica a recomendação!

Matéria publicada na edição nº 304 do jornal A Verdade

Edival Cajá recebe título de doutor honoris causa pela Unirio

0

Concessão da homenagem a Edival Cajá faz parte de série de iniciativas do DCE e da reitoria da Unirio na luta por memória, verdade e justiça. Em 2024, universidade também diplomou estudantes assassinados e criou Comissão da Verdade

Felipe Annunziata | Redação


Foi com a presença de jovens e experientes lutadores sociais que o Auditório Vera Janacopoulos, na Universidade Federal do Estado do RJ (Unirio), testemunhou a concessão do título de doutor Honoris Causa a Edival Nunes Cajá, ex-preso político na ditadura militar fascista e membro do Comitê Central do Partido Comunista Revolucionário (PCR).

A homenagem foi uma iniciativa do DCE e da Reitoria da Unirio. Em abril deste ano, o golpe militar fascista completou 60 anos, e uma série de ações por memória, verdade e reparação aconteceram na instituição. Além da homenagem a Cajá, estudantes assassinados foram diplomados e a universidade criou uma Comissão da Verdade para investigar os crimes cometidos contra alunos, docentes e funcionários.

Tanto o reitor da Unirio, José da Costa Filho, quanto a vice-reitora, Bruna Silva do Nascimento, ressaltaram a presença e a animação de centenas de jovens na cerimônia e a importância de o título ser concedido a um militante revolucionário, nordestino e negro.

Na cerimônia também falaram Katerine Oliveira, da Coordenação Nacional da UJR, e Mariela Cajá, filha do homenageado. As duas falas, cercadas de emoção, ressaltaram a luta de Edival Cajá, a construção do PCR nas últimas cinco décadas e sua luta contra a ditadura, mesmo após o sequestro e as torturas que sofreu nas mãos do Estado, em 1978.

Cajá, por sua vez, lembrou que sua titulação não é fruto de um esforço individual, mas de uma luta coletiva. Além disso, lembrou que se hoje ele pode receber este título, é porque o PCR é resultado da luta de Manoel Lisboa, Manoel Aleixo, Amaro Luiz de Carvalho, Amaro Félix e Emmanuel Bezerra, heróis do povo brasileiro brutalmente assassinados pela ditadura.

“Queria agradecer a esta Reitoria e a todos os presentes pela atenção, pelo carinho e pelo desejo de caminharmos juntos no rumo da emancipação da classe trabalhadora. Vamos sair daqui mais fortes porque estamos levando conosco a memória de uma caminhada de mais de 500 anos de resistência”, afirmou Cajá ao receber o diploma.

A titulação de Cajá como doutor Honoris Causa é mais uma prova da justeza da luta contra os agentes da ditadura e de seus defensores, que ainda hoje tentam dar mais um golpe para instaurar outra ditadura militar no Brasil.

Matéria publicada na edição impressa nº 304 do jornal A Verdade

Zuzu Angel, a mãe que enfrentou a ditadura militar fascista em busca de seu filho

Filho de Zuzu Angel, o jovem Stuart Angel foi assassinado pela ditadura, mas os militares não admitiam tê-lo matado. Por lutar para que o regime reconhecesse sua responsabilidade pelo desaparecimento de Stuart, a estilista também foi morta e tornou-se símbolo da luta contra os crimes da repressão

Igor Barradas | Macaé (RJ)


Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, foi uma estilista brasileira. Nasceu em Curvelo, no interior de Minas Gerais, no dia 05 de junho de 1921. Ainda criança, mudou-se com a família para Belo Horizonte. Logo depois, morou em Salvador, na Bahia e começou a costurar roupas junto ao seu pai. Desde pequena, fazia peças para suas primas e amigas.

Ainda em Salvador, casou- se com o estadunidense Angel Jones. Em 1946, nasceu seu primogênito, Stuart Edgar Angel Jones. Mudaram-se para o Rio de Janeiro, onde Zuzu passou a se dedicar profissionalmente à costura, abrindo seu próprio ateliê, chamado “Zuzu Saias”. Com o tempo, o trabalho de Zuzu conquistou prestígio. Em 1966, já era uma conhecida estilista, aparecia na imprensa, promovia desfiles e chegava na mídia de moda internacional.

Ditadura militar

Em abril de 1964, as Forças Armadas dão um golpe para manter os privilégios das classes dominantes e barrar mudanças a favor das camadas mais pobres da população. Neste momento, instaura-se uma ditadura militar fascista; comunistas e progressistas foram presos e torturados, entidades estudantis fechadas, greves proibidas, sindicatos sofreram intervenção.

A imprensa foi censurada, junto com as canções, filmes e peças teatrais. Artistas, cantores e atores foram presos. No meio deste regime de terror, que nada fica a dever ao regime nazista de Hitler, brasileiros e brasileiras se organizaram clandestinamente e não mediram sacrifícios pela luta por liberdade no país. Foi o caso do jovem Stuart. Ele era militante da Dissidência Estudantil do PCB da Guanabara, depois conhecido como Movimento Oito de Outubro (MR-8), que desenvolvia ações de resistência armada à ditadura.

Em 1969, Stuart Angel já havia se tornado dirigente da organização e era um alvo visado pela repressão. No dia 14 de maio de 1971, foi sequestrado e barbaramente torturado até a morte pelos agentes do Cisa (órgão de repressão da Aeronáutica), buscando que ele revelasse o paradeiro de Carlos Lamarca.

O oficial afirma que Stuart foi submetido a uma sessão de choques elétricos, afogamentos e amarrado ao para-choque de um jipe. Arrastado nessa condição por várias horas, ele morreu, o corpo foi colocado em um helicóptero e jogado no mar. Stuart não revelou nenhum segredo para seus algozes.

Denúncias de Zuzu

Stuart estava desaparecido. Zuzu, na busca incessante por seu filho, foi às prisões e quartéis do Rio de Janeiro para encontrá-lo. Ao receber uma carta de Alex Polari, militante que ficou preso com Stuart e presenciou sua tortura e seu assassinato, confirmando a morte do rapaz, seguiu buscando o corpo de seu filho.

A partir daquele momento, ela dedicaria a sua vida a buscar informações sobre o filho e ao direito de sepultá-lo, denunciando as arbitrariedades praticadas pela ditadura à imprensa e a órgãos internacionais.

Ainda em 1971, realizou um desfile-protesto no consulado brasileiro em Nova York, sede do imperialismo norte-americano que articulou o golpe junto às Forças Armadas. Suas criações levavam símbolos que denunciavam o regime fascista, com estampas representando tanques de guerra, canhões, pássaros engaiolados, meninos aprisionados, anjos amordaçados. Nesse evento, fez também um discurso em que denunciou o desaparecimento e a morte de seu filho.

De fato, a ditadura fascista reservou aos comunistas – homens e mulheres que lutam por uma revolução socialista, como Stuart Angel – as torturas mais desumanas e ainda desaparecia com seus corpos.

Morte tramada

Na madrugada do dia 14 de abril de 1976, Zuzu Angel dirigia seu carro na Estrada da Gávea, quando, na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado, Rio de Janeiro, o carro derrapou, capotou e caiu fora da pista. Zuzu morreu no local. A ditadura militar armou uma farsa, alegando que o acidente ocorreu porque ela estaria alcoolizada, cochilou ao volante ou sofreu um infarto, resultando na derrapagem do carro.

Porém, antes de sua morte, temendo o pior, a estilista escreveu dezenas de bilhetes que deveriam ser publicados caso ela desaparecesse e os entregou a artistas e intelectuais, como o jornalista Zuenir Ventura, o dramaturgo Paulo Pontes e o compositor Chico Buarque. Zuzu já estava sendo ameaçada pelos militares naquele momento. Em seus bilhetes, dizia: “Se eu aparecer morta, por acidente, assalto ou qualquer outro meio, terá sido obra dos mesmos assassinos do meu amado filho”.

Em 1998, uma nova perícia foi realizada, solicitada pela Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos. A investigação concluiu que a estilista não sofreu um atentado realizado por agentes da repressão.

Em 2019, sua filha Hildegard Angel conseguiu emitir as certidões de óbito de sua mãe, Zuzu, e de seu irmão, Stuart. As causas das mortes foram atestadas como “morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistêmica e generalizada à população identificada como opositora política ao regime ditatorial de 1964 a 1985”.

Chico Buarque homenageia Zuzu Angel na letra de “Angélica”, com música de Miltinho, do MPB4: “Quem é essa mulher/ Que canta sempre esse estribilho?/ Só queria embalar meu filho/ Que mora na escuridão do mar”.

Zuzu lutou pela busca do filho, assim como pelo aparecimento de muitos outros filhos de tantas outras mães. Usou seu ofício e alcance internacional para protestar e foi assassinada por isso. A luta por memória, verdade e justiça, pela abertura dos arquivos da ditadura, mais que uma pauta sobre o passado, é um enfrentamento do presente e do futuro.

Matéria publicada na edição impressa nº 304 do jornal A Verdade

População resiste a aumento de passagens em Petrópolis (RJ)

0

População de Petrópolis consegue reverter aumento de passagens imposto pela justiça. Luta continua para evitar novo aumento por parte do novo prefeito.

Christian Nunes | Petrópolis – RJ


BRASIL – No dia 12/12, o povo de Petrópolis foi surpreendido com um anúncio da justiça do município (4ª Vara Cível) de que a passagem de ônibus passaria por um aumento de 35 centavos, chegando a R$5,65.

Tal aumento concedido pelo juiz se justificou por uma ação movida pelo sindicato das empresas de ônibus de Petrópolis (SETRANSPETRO). O juiz, sem sequer exigir dados sobre a arrecadação com as passagens a R$5,30 (preço atual) e sobre os custos para operar a frota, em uma canetada aprovou o aumento. Além disso, a decisão passou por cima de qualquer discussão do Conselho Municipal de Transportes (COMUTRAN) e da Câmara Municipal.

A tarifa mais cara foi vista como completo absurdo pela população, que trabalha todo dia pra se sustentar e depende diretamente dos ônibus pra se locomover. Os donos das empresas de ônibus (TURP, Cidade Real e Cidade das Hortênsias) não revelam seus lucros com toda a venda de passagens e o subsídio pago pela Prefeitura e enriquecem todos os dias às custas do suor do povo trabalhador.

Por causa disso, trabalhadores da cidade tomaram a iniciativa de fazer um ato contra o aumento na cidade, o que ganhou adesão em grupo de numa rede digital de centenas de pessoas. Junto a isso, várias organizações e partidos, dentre elas, a Unidade Popular, construíram este ato e estiveram à frente da mobilização.

A manifestação marchou pelas ruas do centro, interrompendo vias em pontos como na Paulo Barbosa e o início da Rua do Imperador próximo à rodoviária. A pressão e a comoção foram tão grandes que 2 dias depois o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro derrubou a decisão da justiça de Petrópolis, mantendo assim o preço de R$5,30. 

Resistência contra o aumento das passagens continua

Apesar da importante vitória, a vigilância e mobilização da população continua. Em todo o estado do Rio de Janeiro, cidades vem aumentando as tarifas de ônibus e o governo do estado planeja novos aumentos nas passagens de metrô, trens e barcas.

Essa realidade se dá por conta do caráter privado do transporte coletivo no RJ. Se o transporte fosse realmente público, com controle e propriedade do Estado, o dinheiro arrecadado com as tarifas e subsídios poderiam ser integralmente investidos nos salário dos trabalhadores e na melhoria do sistema de transporte.

Agora, a pressão continua em cima do novo prefeito de Petrópolis, Hingo Hammes (PP), não ceda às pressões dos empresários e tente aumentar novamente as passagens ao longo deste ano.

Prefeito de Florianópolis aumenta tarifa de ônibus e se torna a mais cara do país

0

Em um ato covarde no último dia do ano de 2024, Topázio Neto (PSD), prefeito de Florianópolis, aumentou a tarifa de ônibus para R$6,90.

Luiza Wolff | Santa Catarina


BRASIL – A medida entrou em vigência no dia 1 de janeiro, menos de um dia após ser anunciada pela prefeitura. Hoje, a tarifa de ônibus de Florianópolis é a mais cara do Brasil e também é uma das cidades com mais problemas de mobilidade, principalmente durante o verão. Além disso, o passe estudantil e cidadão também vão contar com aumentos para, respectivamente, R$2,88 e R$5,75 e o passe social de estudante, que antes era gratuito, passa ser cobrado R$1,78. 

O último aumento da passagem foi em 2023, também durante o verão, e já tinha um dos maiores valores do país, sendo ela R$6,00. Agora, passa a ser a tarifa mais cara entre as capitais do país. 

Além disso, no final de dezembro, também aumentaram as tarifas de ônibus de toda a região da Grande Florianópolis, fazendo com que trabalhadores paguem tarifas 12,5% mais caras que anteriormente. O valor das passagens intermunicipais varia de R$5,70 até R$10,70 e atende a população de Palhoça, São José, Biguaçu e outras cidades da região. 

Topázio Neto mente para os trabalhadores

O prefeito Topázio Neto (PSD), além de ser um empresário que deve mais de R$69 milhões para mais de 13.000 funcionários em dívidas trabalhistas, também tenta enganar a população de Florianópolis. Desde o verão de 2024, faz uma medida de “Passe Livre aos domingos”. Essa medida funciona apenas até o final do verão, ou seja, serve apenas “para inglês ver”, pois nada resolve o problema dos trabalhadores em relação ao transporte público. 

Ainda, as últimas gestões da prefeitura se utilizam de projetos como o “Asfaltaço” nas rodovias da cidade para fingir que isso resolverá o problema de mobilidade urbana da cidade, fazendo com que se tenha menos trânsito. Porém, a verdade é que apenas um transporte público de qualidade poderia de fato apresentar uma melhora no trânsito da cidade. Hoje, os horários de ônibus e a qualidade do transporte é insuficiente para atingir todos os trabalhadores, além de ser muito caro.

Hoje, os estudantes pagam para estudar, desempregados pagam para buscar emprego e todos pagam para poder ir e vir na capital do estado de Santa Catarina. Por isso, a única saída é ir às ruas para defender um transporte público de qualidade e o passe livre para todos e uma sociedade em que o direito de ir e vir seja de fato um direito de todos os trabalhadores! 

MLC organiza trabalhadores técnicos industriais em Santa Catarina

1

O Sindicato dos Técnicos Industriais de Santa Catarina (Sintec) está há mais de 20 anos sob uma direção que não faz lutas. Mesmo diante de um cenário difícil, militantes do MLC e da Unidade Popular visitaram fábricas por todo estado e conseguiram inscrever uma chapa de oposição, organizando os trabalhadores da categoria.

Coordenação Estadual MLC | Santa Catarina


TRABALHADOR UNIDO – O Sintec representa trabalhadores de empresas de extrema importância e que oferecem qualidade de vida ao povo catarinense a custos acessíveis. Dentre elas, a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), uma das duas últimas companhias elétricas públicas¹ e a Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan). Estas empresas estão na mira da privatização, e a necessidade de um sindicato que vá até o chão de fábrica para fazer a campanha pela manutenção das companhias públicas fica ainda mais evidente após os apagões de São Paulo e a tragédia no RS, em que a Casan teve um papel fundamental de atuação em apoio aos gaúchos, enviando mais de 100 mil litros de água para a capital Porto Alegre. 

Os técnicos industriais são uma parte muito importante na linha de produção das fábricas mundo afora. Seu papel está diretamente ligado aos setores da construção civil, arquitetura, minas e geologia, no saneamento e na elétrica. Ou seja, cada um desses trabalhadores são fundamentais para que a água chegue límpida nas torneiras, para que a energia seja gerada, transmitida das geradoras para as redes de distribuição e em cada casa deste país.

Dessa forma, se torna fundamental para toda sociedade um sindicato que tenha uma direção consequente e popular, que apresente suas contas, trave lutas pela melhoria da vida dos trabalhadores, que não esteja voltado aos interesses do patrão e portanto não abandone a sua base. Porém, esta não é a realidade dos filiados ao Sindicato dos Técnicos Industriais de Santa Catarina (Sintec-SC). 

Eleições antidemocráticas 

Contudo, o cenário caótico gerado pelas privatizações não parecem preocupar os atuais diretores do Sintec. Após a privatização da Eletrobras, mais de 2.000 funcionários da empresa foram demitidos, muitos destes eram da CGT Eletrosul, empresa em que o Sintec também representa e fez pouco caso deste episódio. Nas greves dos trabalhadores da Celesc e na greve da Casan, o Sintec rodou panfletos direcionando os técnicos a não aderirem a greve convocada pelos sindicatos majoritários – que representam outras categorias de trabalhadores destas empresas – e assim, criando uma divisão entre os próprios trabalhadores. Diante de todo esse imobilismo, muitas pessoas perderam a vontade de participar e deixaram o Sintec, e quem permaneceu estava demonstrando a vontade por mudança. Surge então uma demanda por renovação da direção dentro da sua base – algo que não acontecia há pelo menos 20 anos.

Com medo da provável organização de uma oposição para a disputa, a diretoria executiva, o conselho fiscal e os delegados da atual gestão utilizaram de métodos para dificultar a formação de chapas. As regras eleitorais conhecidas foram suprimidas deliberadamente do estatuto em dezembro de 2023, em uma assembleia esvaziada. Quase um ano depois, faltando poucos dias para o início do processo eleitoral, indica-se arbitrariamente uma comissão eleitoral – formada pelos seus comparsas de outros sindicatos – publica-se então um regulamento eleitoral forjado em reunião fechada, antidemocrático, que restringia ainda mais as chances de formar uma chapa de oposição. 

Essas alterações impostas nas vésperas do processo eleitoral e sem a devida transparência mostra a falta de compromisso do sindicato com os que pagam a contribuição sindical mas não se sentem representados. Em entrevista ao jornal A Verdade, Jaime Weber, técnico da Casan, nos conta como se deu esse processo: 

“Foi após uma companheira nossa cobrar no grupo de WhatsApp que a direção foi atrás de publicar o edital. Tudo foi feito de uma forma muito antidemocrática, a começar pela publicação tardia do edital, do prazo de apenas quatro dias (menos da metade do tempo) para inscrever as chapas e da exigência de tempo de filiação para inscrições, que triplicou em relação ao estatuto anterior, de 1 para 3 anos de filiação. Qual trabalhador vai estar a três anos pagando a contribuição em um sindicado ao qual ele não confia? Achar os 24 nomes para compor a chapa foi quase como procurar uma agulha num palheiro.” 

Outra movimentação que dificultou o acesso à informação foi a mudança recente do website do Sintec-SC para um novo endereço, sem uma ampla divulgação dessa mudança. E mais: a diretoria mantém até a presente data a conta do sindicato na rede social Instagram em modo privado, o que restringe o acesso às informações exclusivamente aos seguidores aceitos. 

A importância do trabalho contínuo e sistemático

Apresentar uma alternativa de luta para um sindicato de tamanha importância foi algo que animou muito a categoria. Porém, a dificuldade da tarefa em achar os 24 nomes em apenas quatro dias fez com que muitos pensassem que seria impossível inscrever a chapa. Porém, a militância do MLC se propõe a cumprir uma missão histórica: a de construir uma nova sociedade em que a exploração do ser humano não existirá mais – a sociedade socialista. Esta tarefa consiste em, literalmente, mudar o curso da história e, para aqueles que se propõem em cumprir essa tarefa, nada deve parecer impossível de mudar. 

Foi com esse espírito de abnegação e trabalho árduo que a militância do MLC em conjunto com os núcleos da Unidade Popular em todo estado visitaram mais de 30 fábricas, distribuíram mais de 2.000 panfletos, estiveram em 16 cidades e não só conseguiram inscrever os 24 nomes, mas também organizar um verdadeiro movimento que abraçou centenas de trabalhadores e trabalhadoras da categoria.  

Além disso, até a justiça trabalhista burguesa reconheceu que a condução das eleições foi enviesada e determinou a suspensão do processo eleitoral e a instalação de novas eleições, com base no estatuto anterior. Ou seja, além da vitória política da inscrição da chapa, obtivemos uma vitória jurídica por mais democracia nas eleições e contra aqueles que abandonaram a luta de classes e escolheram se aliar aos patrões. 

O prazo de inscrições foi reaberto, dessa vez com 10 dias de tempo em vez de 4. O requisito de tempo de filiação é de um ano novamente. Agora a luta é para manter a mobilização da categoria, garantir que a comissão eleitoral seja neutra e que o processo de votação seja presencial, para facilitar a fiscalização no processo.

Todas estas vitórias só foram possíveis por conta do trabalho contínuo e sistemático desse núcleo e das brigadas semanais do jornal A Verdade nas portas da Celesc e da Casan que o que parecia impossível se materializou em uma vitória concreta.


¹ As duas únicas companhias públicas remanescentes são a Celesc e a Companhia Energética de Minas Gerais – Cemig.