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domingo, 4 de maio de 2025
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Ismail Kadaré: um olhar sobre a Albânia socialista

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Falecido em julho do ano passado, Ismail Kadaré escreveu sobre temas como a memória da resistência da Albânia à ocupação nazifascista na Segunda Guerra Mundial (“O General do Exército Morto”) e a história do rompimento do país com o revisionismo chinês nos anos 1970 (“Concerto no Fim do Inverno”). Um de seus livros, “Abril Despedaçado”, foi adaptado ao cinema em 2001 por Karim Aïnouz e Walter Salles

Guilherme Arruda | Redação SP


No último dia 1º de julho, faleceu o escritor albanês Ismail Kadaré, aos 88 anos. Considerado o maior nome da literatura da Albânia, suas notáveis obras se passam em alguns dos principais momentos da história daquele pequeno e orgulhoso país, que por mais de quatro décadas foi um exemplo de sociedade socialista, independente e orientada pelo marxismo-leninismo.

Indicado ainda jovem para estudar no Instituto de Literatura Máximo Gorki da União Soviética, Kadaré foi posteriormente deputado e chegou a ocupar a vice-presidência da Assembleia do Povo no período do socialismo, além de ter sido membro destacado da Liga dos Escritores da Albânia. Editor e colaborador de revistas literárias, ele estimulou o desenvolvimento da arte e da cultura popular, com as quais também contribuiu imensamente com seus próprios livros.

Com o tom crítico que sempre as marcou, muitas de suas obras são indispensáveis para aqueles que querem conhecer passagens como a jornada de séculos da Albânia em busca de sua independência nacional, a luta dos comunistas para libertar o país da ocupação nazifascista e os caminhos que tomou a construção do socialismo na “Terra das Águias”.

A luta de um povo pela liberdade

Até o século XX, o povo albanês não viveu de forma livre e independente. Por muitos séculos, sua terra foi ocupada por invasores como o Império Otomano, a Itália fascista e a Alemanha nazista. A história de sua pequena nação, subjugada por potências estrangeiras mas sempre resistindo de variadas formas, ambienta uma parte importante dos livros de Ismail Kadaré.

Com seu primeiro romance, “O General do Exército Morto” (1963), o autor já alcançou grande reconhecimento nacional e internacional, apesar de ter apenas 26 anos. Em um certo sentido, a obra trata de elementos caros à luta por memória, verdade e justiça: sua história segue um padre e um general italianos — além de um oficial alemão — que, anos após a Segunda Guerra Mundial, voltam à Albânia para buscar os corpos dos soldados dos dois países que foram mortos pela vitoriosa resistência dos partisans à invasão nazifascista. Nesse ínterim, por meio das dificuldades de cumprir sua missão, rememoram os horrores da guerra e percebem que o povo albanês não se esqueceu dos crimes cometidos por aqueles soldados.

O livro chamou a atenção de Enver Hoxha, líder do país e dirigente máximo do Partido do Trabalho da Albânia, que já havia parabenizado Kadaré anteriormente pela qualidade de poemas publicados na adolescência. Por sua relação pessoal de décadas com Hoxha, críticos anticomunistas acusariam o escritor de “colaborador do stalinismo”, diferenciando-o dos chamados “autores dissidentes” de outros países do Leste Europeu.

Já em “Crônica na Pedra” (1971), lemos suas memórias sobre a vida em sua terra natal, Argirocastro, durante a ocupação nazista. Entre outros episódios, Kadaré relata o dia em que, ainda criança, conheceu Enver Hoxha, nascido na mesma cidade e que então comandava clandestinamente o movimento antifascista que expulsou os exércitos de Hitler e liderou a fundação da República Popular da Albânia em 1946.

Em outros trabalhos, como “Os Tambores da Chuva” (1970) e “A Ponte dos Três Arcos” (1978), o autor romanceia os eventos históricos e lendas da resistência dos albaneses na Idade Média à ocupação do Império Otomano, que duraria até 1912.

A Albânia contra o revisionismo

A defesa dos princípios do marxismo-leninismo contra os mais variados matizes do revisionismo foi o maior motivo do enorme reconhecimento que a Albânia teve no cenário internacional do século passado. Enver Hoxha e seus companheiros se enfrentaram no terreno ideológico, sucessivamente, com Tito e a Iugoslávia na década de 1940, Khrushchev e a nova direção soviética após a morte de Stálin, e a China vinte anos depois.

Este último conflito foi representado de forma envolvente e com impressionante profundidade por Ismail Kadaré em “Concerto no Fim do Inverno” (1988). Alternando entre a perspectiva de diplomatas, funcionários de ministérios, escritores, tradutores e um leque de outros personagens, a obra tem como pano de fundo a crescente divergência entre a China e a Albânia quando esta começou a criticar desvios como a aproximação do governo chinês com os Estados Unidos, nos anos 1970, como passos para a restauração do capitalismo. Para além do aspecto político, Kadaré se dedica a retratar os complexos e contraditórios efeitos da crise na vida pessoal de todos os albaneses, dos dirigentes partidários a ex-burgueses temerosos do rompimento, passando também pelos trabalhadores comuns.

As manobras de pressão da China, retratadas no livro, foram diversas: a criação de entraves para as trocas comerciais e tecnológicas, a chantagem individual contra quadros políticos e militares e a sedução de intelectuais foram algumas delas. Mesmo assim, o Partido do Trabalho da Albânia não recuou de suas críticas, tornando-se o principal ponto de apoio internacional para os comunistas que se mantiveram contrários ao revisionismo, inclusive no nosso país.

Repercussão no Brasil

A partir dos anos 90, o jornalista carioca Bernardo Joffily, que viveu na Albânia nas décadas anteriores trabalhando para a Rádio Tirana (uma rádio operada por militantes brasileiros que enviava notícias da resistência à ditadura para o interior do Brasil, evadindo a censura dos militares), se dedicou a traduzir os romances de Kadaré. Por isso, felizmente, quase uma dezena de seus livros podem ser encontrados em português. A primeira publicação de um de seus livros em nossa língua, porém, veio décadas antes: “Os tambores da chuva” já havia sido lançado pela editora marxista-leninista portuguesa Maria da Fonte em 1976.

Além disso, outra de suas obras chegou a ser adaptada por brasileiros, mas para as telas de cinema. Trata-se de “Abril Despedaçado” (1980), novela sobre as vinganças entre famílias previstas pelo Kanun, a sangrenta lei tradicional da Albânia feudal que vigorou até o século XX e só foi abolida pela revolução socialista. A história foi transformada em filme (e deslocada para o interior da Bahia) no ano de 2001 com roteiro de Karim Aïnouz e direção de Walter Salles, também responsável pelo recente Ainda Estou Aqui, que já levou 3 milhões de pessoas para conhecer a luta de Rubens Paiva e Eunice Paiva contra o regime militar.

Assim como ocorreu com Jorge Amado, que escreveu as obras-primas do romance proletário brasileiro, Ismail Kadaré veio a romper amargamente com o comunismo e seu próprio passado político. Sua “conversão” ao liberalismo mais rasteiro foi muito aplaudida pelo establishment literário burguês, e seus pueris comentários e escritos mais recentes sobre o socialismo chegam ao ponto do patético e calunioso. Contudo, a exemplo do caso do escritor baiano, que ainda nos inspira com clássicos como “Subterrâneos da Liberdade” e “Seara Vermelha”, a opinião pessoal do artista conta menos que a realidade concreta: a própria formação de Kadaré enquanto escritor é atestado do desenvolvimento das artes na Albânia socialista, em contraste com a inexistência de uma literatura nacional antes da Revolução de 1944 e a inexpressividade do que foi produzido (inclusive pelo próprio Kadaré) após a restauração capitalista de 1991. Seus trabalhos seguem sendo uma ótima adição à formação literária, histórica e política do leitor, em especial o que quer conhecer mais sobre a Albânia do tempo de Enver Hoxha e do poder popular.

Aumento das passagens de ônibus no Grande Recife é aprovado nas vésperas do ano novo

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Em pleno fim de ano, o Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM), sob proposta do Governo do Estado de Pernambuco aprovou um aumento nas tarifas de ônibus da Região Metropolitana do Recife.

Redação PE


BRASIL – O Conselho Superior de Transporte Metropolitano (CSTM) decidiu aumentar as tarifas de ônibus na Região Metropolitana do Recife (RMR), aumento aprovado que fez o Anel A passar de R$ 4,10 para R$ 4,28, enquanto outros anéis tiveram reajustes ainda maiores, superando 7%. O conselho, que fez a sua segunda reunião no ano, repete uma prática antiga e repetida em outros estados: pegar o povo desprevenido em pleno fim do ano para evitar protestos e mobilizações.

Entenda a situação

Durante 16 anos de governo do PSB em Pernambuco, a promessa de criação do Bilhete Único era usada em época de eleição. Fosse para a Prefeitura do Recife ou para o Governo do Estado. Após a eleição da nova governadora Raquel Lyra (PSDB), o Bilhete Único saiu do papel, porém, como uma medida populista, voltada para melhorar a imagem da governadora – que chegou a ter sua gestão avaliada como a pior do Brasil ­­­– e beneficiar os empresários, de onde se origina sua família na política.

Dessa forma, o Anel B que custava R$5,60, passou a ter o mesmo valor do Anel A, custando R$4,10. A contrapartida: aumentar o subsídio para os empresários do transporte da região metropolitana. Hoje o Governo do estado de Pernambuco destina entre R$350 milhões e R$400 milhões para manter um serviço ruim e que não melhorou em nada.

Outra questão que revolta a população é o fato de que durante a pandemia de COVID-19, as empresas de ônibus tiveram o serviço reduzido (o que não desgastou a frota), recebeu os subsídios do governo do PSB e ainda por cima demitiu em massa cobradores e motoristas, sendo que a função do cobrador não foi retomada. O argumento dos empresários de que a falta de aumento desde a pandemia prejudica o serviço não passa de mais uma grande mentira.

O usuário sofre com um péssimo serviço de transporte

O quadro não é novidade e se repete em praticamente todas as grandes capitais do país: os ônibus são antigos, carecem de manutenção regular e costumam falhar durante as viagens, deixando passageiros, como trabalhadores e estudantes, à mercê dos pontos de ônibus. A promessa de atualização, incluindo a instalação de ar-condicionado, permanece apenas no papel. Enquanto isso, o lucro dos empresários do transporte parece ser a única preocupação do atual governo do PSDB.

Além disso, assaltos, agressões e ameaças são parte do dia a dia daqueles que dependem do transporte coletivo. O medo é constante a cada parada, enquanto as empresas e o governo mantêm-se inertes. A segurança nos ônibus é insuficiente, e há uma sensação de abandono por parte das prefeituras municipais que deveriam assumir suas responsabilidades em relação ao transporte coletivo, mas que não fazem nada para auxiliar no melhoramento do serviço.

Não há motivo convincente para esse reajuste, uma vez que os usuários são vistos como meros números, e não como indivíduos. É evidente: no Recife, enquanto há o aumento da passagem de ônibus, não existe investimentos significativos visíveis para melhorar o sistema. Paradas superlotadas, veículos cheios além da capacidade e atrasos recorrentes são a realidade para quem depende dos ônibus no Grande Recife.

No capitalismo, o lucro está acima da vida

Em um contexto de crise econômica do sistema capitalista, com desemprego, empregos informais e a inflação desvalorizando os salários, essa decisão apenas agrava a situação da população que mais precisa. É inaceitável que o transporte coletivo continue sendo tratado como uma mercadoria, e não como um direito básico.

O atual anúncio de aumento, de forma covarde e injusta só faz lembrar das históricas manifestações contra o aumento das passagens no Recife, como a de 2005, 2013 e 2017, que além de receberem grande apoio e adesão da população foram responsáveis por desgastar a imagem dos governos da época. Como diz a palavra de ordem, “o povo não é bobo, aumento de passagem é roubo”.

Enquanto o lucro de poucos for colocado acima do bem-estar da maioria, a mobilidade urbana no Recife continuará sendo um caos. Chegou a hora da sociedade exigir um sistema justo, com tarifas acessíveis e um serviço que respeite os cidadãos. O aumento das passagens não é só injusto, é imoral.

Greves dos garis de Paulista (PE) escancara problema da terceirização

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Após o dia 20 de dezembro, quando os trabalhadores viram que o pagamento do 13º salário não iria ser encaminhado pela prefeitura e a empresa, decidiram cruzar os braços e parar a coleta de lixo no município. Logo após quatro dias de greve ficou explícita a importância da categoria: as ruas de Paulista ficaram cobertas de lixo.

Wildally Souza | São Paulo


TRABALHADOR UNIDO – Desde a última sexta-feira (20), data limite para o pagamento do 13º salário, trabalhadores da limpeza urbana de Paulista (PE), na Região Metropolitana de Recife (RMR), entraram em greve contra o atraso do pagamento e por melhores condições de trabalho.

De acordo com a denúncia, a prefeitura de Paulista, governada por Yves Ribeiro (MDB), estava com uma dívida de mais de R$ 25 milhões com a empresa I9 Paulista Gestão de Resíduos, responsável pela terceirização da limpeza na cidade. A dívida é referente às parcelas de agosto, setembro, outubro e novembro do contrato, que totalizam R$ 13 milhões. Esse valor ainda é somado à uma dívida anterior de R$ 12 milhões contraída também pela prefeitura.

Após o dia 20 de dezembro, quando os trabalhadores viram que o pagamento do 13º salário não iria ser encaminhado pela prefeitura e a empresa, decidiram cruzar os braços e parar a coleta de lixo no município. Logo após quatro dias de greve ficou explícita a importância da categoria. As ruas de Paulista ficaram cobertas de lixo, principalmente a avenida Vice-prefeito José Rodrigues da Costa Filho, no bairro de Jardim Paulista Baixo e a Feira Livre de Paratibe, que às vésperas do Natal diversos moradores faziam compras de fim de ano.

O problema da terceirização

De acordo com um dossiê elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em 2015, a terceirização impacta diretamente as condições de vida dos trabalhadores, que sem alternativa de trabalho, recorrem a essa política empresarial para poder sobreviver, se alimentar e dar teto pros seus filhos. Os trabalhadores terceirizados recebem salários 24,7% menores do que efetivados, além disso cumprem jornadas muito maiores de trabalho – culpa da informalidade – permanecem no emprego pela metade do tempo (2,6 anos contra 5,8), possuem baixíssimas taxas de sindicalização e sofrem mais acidentes de trabalho, principalmente nos que são fatais.

Além disso, as estatísticas do IBGE indicam que o percentual de trabalhadoras e trabalhadores terceirizados subiu de 18,9% em 2017 para 25% em 2020.

Tudo isso não é por acaso, mas faz parte da política de precarização dos trabalhadores e operários por parte dos patrões muito ricos, que movidos pela ganância assumem o risco de vida dos trabalhadores com o objetivo declarado de reduzir custos e aumentar suas já bilionárias contas em bancos internacionais.

Os patrões até tentam enganar o povo com uma “historinha pra boi dormir”, que a terceirização cria novos empregos, mas a verdade é outra: diariamente as empresas responsáveis pelas terceirizações no Brasil demitem trabalhadores sem motivo algum, isso quando não são demissões em massa. Aqueles que dependem da terceirização para colocar o pão nas suas mesas já acordam com medo do atraso no pagamento, da retirada de benefícios e do desemprego.

Segundo José Alexandre da Silva, do Sindicato da Limpeza Urbana em Pernambuco (Sindlimp-PE), “a limpeza urbana é uma categoria muito perseguida, muito sofrida. Agora, imagina ficar sem receber em pleno fim de ano? É um absurdo! Os patrões enchendo o bolso de dinheiro, fazendo o seu réveillon, viajando e a categoria sofrendo. E essa não é a primeira vez. É no tempo de Carnaval, Ano Novo, São João. No carnaval mesmo, no galo da madrugada aqui em Recife, são milhões de foliões, começa no sábado, quando é no domingo de manhã nem parece que teve o galo. Tudo limpinho. Ninguém nem lembra que teve ali o gari pra fazer a varrição, a coleta. Seis da manhã e tá tudo limpo. Aí, na hora de pagar o trabalhador tem prefeito que se dá ao luxo de negar. Aí só vê o gari quando tem uma paralisação dessa. E a categoria tá certa. Me diga quando foi que o trabalhador conseguiu alguma coisa sem luta?”

A terceirização aprofunda a exploração dos operários, intensificando a precarização e sobretudo reduzindo o número de empregos necessários, uma vez que reduzem e eliminam postos de trabalhos já existentes, estratégicos e necessários para a economia do país. Uma comprovação disso é a onda de demissões em massa que ocorreram logo após a aprovação da Lei da Terceirização, em 2017, logo após o golpe institucional de 2016.

A força da classe trabalhadora e as greves

Estudos recentes do Dieese indicam que 56% das greve realizadas em 2022 e 56% em 2023 envolveram ou trabalhadores terceirizados que atuam no serviço público ou trabalhadores que atuam em concessionárias privadas de serviços públicos (transporte coletivo, varrição e coleta de lixo).

Em todas as paralisações foi constatado que 52% em 2022 e 59% em 2023 protestavam contra atrasos no pagamento dos salários e outras irregularidades trabalhistas.

A greve dos garis de Paulista comprova ainda mais esses dados e demonstra a força e importância dos trabalhadores e operários da limpeza urbana. Lembremos da greve dos garis na França em 2023 que deixou seis milhões de toneladas de lixo acumuladas nas principais avenidas de Paris e foi decisiva e essencial para o desgaste do governo Macron e a eleição do Bloco de Esquerda Nova Frente Popular (NFP), no país europeu.

Mais uma vez, apesar da grande mídia burguesa, xenofóbica e racista não noticiar os acontecimentos do norte e nordeste, muito menos as mobilizações operárias na região, os garis de Paulistas demonstraram para as empresas e os patrões e entusiastas fascistas das terceirizações que a classe trabalhadora não se rende e que só com luta que conquista.

No final do dia 24, vésperas de Natal, um comunicado da prefeitura de Paulista noticiava que após 4 dias de greve o 13º dos trabalhadores iria começar a ser pago. Os trabalhadores, que encerraram a greve no início da manhã do dia 25, agora se organizam para novas mobilizações por melhorias das condições de trabalho e valorização e regulamentação dos postos de trabalho.

Bancos e bilionários são culpados pelo aumento do dólar

A aumento do dólar mostrou a voracidade do capital financeiro. A questão não é fiscal, é preciso apontar os verdadeiros culpados.

Redação RJ


BRASIL – Ao longo do mês de dezembro, a moeda brasileira sofreu forte desvalorização. O dólar, que custava R$ 5,80 em 25 de novembro, deve fechar o ano valendo cerca R$ 6,10, tendo alcançado a máxima de R$ 6,18 em 19 de dezembro. O aumento da taxa de câmbio tem impacto direto na vida das pessoas. Por ser um país dependente, a economia brasileira precisa importar insumos e produtos finais para se manter funcionando. Como esses bens são pagos em dólar, a desvalorização do real significa um choque de custo. Ou seja, quanto maior a taxa de câmbio, maior a inflação e menor o poder de compra da população.

Não é a primeira vez que o país enfrenta uma crise cambial. Pelo contrário, momentos como esse acontecem frequentemente na história econômica brasileira. Em geral, fatores econômicos e políticos se misturam na explicação das crises. Porém, uma das particularidades da desvalorização atual talvez seja a preponderância evidente do componente político e especulativo.

Há meses, o mercado, isto é, os representantes do capital financeiro, vem pressionando o governo federal para realizar cortes nos gastos públicos. O objetivo é manter a drenagem de recursos públicos para os grandes detentores da dívida pública, os super-ricos, enquanto áreas como habitação, saúde, educação e meio ambiente têm que se virar com orçamentos cada vez mais apertados.

Para a população, a velha mídia tenta caracterizar pressão por cortes como sendo uma preocupação com a sustentabilidade das contas públicas. No entanto, essa argumentação é falsa por vários motivos. Primeiro, porque a dívida brasileira é uma dívida em reais (não em dólares, como foi no passado) e, portanto, totalmente manejável pelas autoridades monetárias nacionais. Segundo, porque se o capital financeiro estivesse interessado em reduzir os gastos públicos deveria ser contra os constantes aumentos da taxa de juros do Banco Central. Cada ponto percentual de elevação da taxa de Selic, aumenta os gastos públicos em mais de R$ 45 bilhões por ano. Terceiro, porque, em novembro, o governo Lula cedeu às pressões do capital financeiro e anunciou um corte de R$ 70 bilhões, sendo R$ 26 bilhões já em 2025 (ver A VERDADE, no304, dez/24).

Assim, a desvalorização do real aconteceu mesmo com o governo atendendo às exigências do mercado. Fica claro, portanto, a motivação política e especulativa da atual crise cambial.

A vulnerabilidade do mercado de câmbio

O mercado de câmbio, tal como os demais mercados, não existe “naturalmente”. Os mercados são uma criação social e, para existirem, precisam de uma institucionalidade que o oriente (regras, leis, convenções, contratos formais e tácitos, agentes reguladores, etc.). Com o mercado de câmbio, onde são transacionadas moedas de diferentes países, não é diferente. Por isso, a forma de funcionamento do mercado cambial não é a mesma em todos os países. Cabe a cada nação regular como sua moeda é negociada visando, entre outros motivos, proteger-se de ataques especulativos. Entretanto, nas últimas décadas, o Brasil tem seguido o caminho que vai no sentido oposto. Ou seja, as normas e leis aprovadas nos últimos 20 anos aumentaram a fragilidade do real.

Antes da Resolução do Banco Central no 2.689 de 2000, no segundo governo FHC, os capitalistas internacionais não tinham acesso a todos os ativos financeiros disponíveis no mercado brasileiro. Em especial, não podiam atuar no mercado de derivativos.

Desde 2008, durante o segundo mandato do Presidente Lula, com Resolução no 3.548, os exportadores brasileiros não são mais obrigados a converter em reais a receita da venda dos produtos no exterior. Essa situação, que vigora até hoje, atende aos interesses do agronegócio e das mineradoras. Os bilhões de dólares obtidos anualmente com a venda de soja, milho, minério de ferro e outros produtos primários poderiam gerar um fluxo de divisas (isto é, dólares) seguro e previsível que ajudaria o país a enfrentar os ciclos de liquidez internacional.

Porém, da maneira como é hoje, o próprio capital nacional oriundo das exportações se comporta como se fosse internacional. Pode ficar indefinidamente em contas no estrangeiro, voltando ao país apenas para ganhos de curto prazo e promovendo fugas em massa nos momentos de crise. Ou seja, as receitas de exportação que deveriam ser um componente de estabilização da taxa de câmbio convertem-se em um fator que potencializa a especulação. Pior: como essas receitas são operadas a partir de agentes brasileiros (gestores de bancos e fundos de investimento) são ainda mais suscetíveis a serem utilizadas contra políticas do governo federal que contrariem os interesses do capital financeiro.

Em 2021, no governo Bolsonaro, a desregulação no mercado de câmbio deu mais um passo temerário. A Lei 14.286, além de ratificar a manutenção das receitas de exportação no exterior, reduziu as informações exigidas nas operações de câmbio e delegou poderes ao Banco Central para permitir a abertura de contas em dólares no Brasil, o que pode levar à dolarização da economia. Embora essa medida ainda não tenha sido tomada, não há mais nenhum empecilho legal para mais esse ataque à soberania monetária do país.

Porém, mesmo sem ainda terem a possibilidade de contas em dólares em território brasileiro, a redução das exigências legais e o surgimento dos bancos digitais (NuBank, Nomad, C6, Inter, etc) facilitou muito a abertura de contas internacionais. Contas internacionais (ou contas globais) são contas no exterior, em dólares, cujos titulares são brasileiros. Ou seja, agora, mesmo o pequeno e médio capital nacional pode facilmente migrar para a moeda norte-americana. O agravante é que são justamente os detentores desse pequeno/médio capital os mais propensos a adotar o comportamento de gado quando é dada a senha de ataque pela velha mídia, agências de riscos, influenciadores e coaches financeiros, etc.

Em resumo, o neoliberalismo da atual institucionalidade do mercado de câmbio torna a economia brasileira vulnerável a ataques especulativos não apenas do capital internacional, mas também do próprio capital nacional, sendo este ainda mais interessado na manutenção do subdesenvolvimento do Brasil.

Recuperar a soberania monetária e punir os especuladores

Um sindicato que deflagrar greve por motivos que a Justiça Trabalhista julgue serem “políticos”, estará sujeito a multas diárias milionárias. Por outro lado, quando o capital – internacional e nacional – provoca uma crise cambial em represália a alguma medida do governo federal, nada acontece. Pelo contrário, têm a audácia de se apresentarem como defensores das finanças públicas. A crise cambial atual é a greve patronal do capital financeiro. A desvalorização do real é a arma que o capital financeiro usa para chantagear o governo. A aflição é que as condições para que esse mecanismo seja usado foram criadas pelo próprio governo.

Ninguém discute que todo país soberano tem o direito e o dever de vigiar e controlar suas fronteiras territoriais. Pelos mesmos motivos, as “fronteiras” monetárias e financeiras podem e devem ser reguladas em função dos interesses da economia nacional, não do capital financeiro. O mercado de câmbio não pode ser uma terra sem lei. O governo deve exigir a repatriação das receitas de exportação, proibir o livre acesso do capital financeiros aos ativos brasileiros, taxar capitais de curto prazo, evitar a dolarização da economia. Ao mesmo tempo, identificar e punir os especuladores e divulgadores de fake news que fomentam e lucram com a crise.

A crise mostrou a voracidade do capital financeiro. Os cortes sociais nunca serão suficientes. A questão não é fiscal. É preciso apontar os verdadeiros culpados. E, mais importante, tomar medidas para reverter a liberalização do mercado de câmbio e recuperar a soberania monetária do país.

Natal com fome no Supermercado Mateus

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Com muita luta e solidariedade, a campanha do Natal Sem Fome do MLB denuncia a contradição do Brasil, um país tão rico, mas com 30 milhões de pessoas passando fome. Os supermercados Mateus negou qualquer negociação com o movimento, e ainda promoveu violência policial contra os militantes.

Natanael Sarmento*


Para quem desconhece

As campanhas do “Natal Sem Fome” do MLB – Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas, alcançam cada vez mais credibilidade e chegam à 15ª edição nacional anual. Representa a luta solidária visando assegurar ceia de Natal para quem mais precisa. Nesse período de fraternidade cristã, as monstruosas desigualdades sociais ficam mais escancaradas.

Solidariedade e denúncia

É possível agir contra a fome com compaixão, e como faz o MLB promovendo a luta consciente e organizada em defesa da solidariedade. E denuncia a situação das grandes contradições do Brasil, tão rico, ter 30 milhões de pessoas com fome e 64 milhões sem alimentação quase todos os dias.

Conquistas

Por meio da luta, neste Natal de 2024, o MLB arrecadou 5.000 cestas básicas, 2.500 frangos e 500 chesters, porém, nenhuma delas foi do avarento Supermercado Mateus. Evidentemente não resolve os problemas estruturais do sistema capitalista excludente. Mas, fica o exemplo de que quem luta conquista e, ao menos, emergencialmente, diminui a fome de muitas famílias, neste período tão simbólico.

“Mateus, primeiro os teus”

Afigura-se enganoso o slogan “Somos um só coração” dos supermercados Mateus, maior cartel comercial varejista de alimentos do Norte Nordeste com suas 200 unidades – Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. Revelou-se além de mentiroso, cruel, para as pessoas pobres da campanha Natal Sem Fome do MLB, no último dia 21 de dezembro. A mesquinhez singular desse cartel calhava mais o lema: “Mateus, primeiro os teus”. Entre os cinco maiores do setor, avaliado em 24,6 bilhões (2023), no entanto, vê-se que o supermercado Mateus cresceu ostentando o falso lema “um só coração”, conforme revelado pela própria administração ao negar um pedaço de pão a quem tem fome. Pior ainda, o fez de forma arrogante, recorrendo à violência da Polícia Militar no Pará e no Piauí.

Arcaicos

A empresa bilionária não apenas negou cestas básicas a quem tem fome, como negou-se a qualquer negociação de fato e apelou para o diálogo dos cassetetes da truculenta PM em pleno período natalino. Uma atitude inaceitável, marcada pela brutalidade, pela insensibilidade, a direção do cartel recorreu ao velho coronelismo brasileiro que tratava questões sociais como casos de polícia.

Truculência

O MLB denunciou para o Brasil e o exterior a truculência policial do supermercado “Mateus, primeiro os teus”, praticada em toda região. Em Belém do Pará a PM à serviço do supermercado prendeu, numa manifestação pacífica, os manifestantes Edísio Leite, Carol Martins, Raquel Brício e Denily Fonseca. No Piauí, a administração lançou mão de um enorme contingente da PM para intimidar e reprimir os manifestantes dentro da própria Loja, instituiu e retirou um BO, enfim, um tiro no pé, ou quem sabe, no “um só coração”.

Isolados

O mau exemplo desse cartel de venda de alimentos no N/NE, felizmente, está na contramão da história e não foi seguido pelas redes congêneres, em todo país. Mais antenados com as responsabilidades sociais das empresas, os outros grupos e redes de supermercados distribuíram alimentos com as pessoas cadastradas pelo MLB. Milhares de brasileiros, inclusive da região Nordeste, receberão cestas da solidariedade das doações das outras regiões do Brasil, já que o tacanho monopolista da região, “Mateus, primeiro os teus”, não doou um único pão às famílias mais carentes e, ao mesmo tempo, mais aguerridas na luta por um mundo melhor.

Crime

Ensina-se nos cursos de direito que na aplicação da lei o juiz deve atender o interesse social e exigências do bem comum. Ora, indignar-se, organizar-se e protestar contra a fome, não é crime. Crime é a fome, e, certamente, o quê a causa, ou os responsáveis por ela.

Desperdício

No rico Brasil, descarta-se 40 milhões de toneladas de alimentos por ano, 30% do que é produzido.

Reação

Já se disse que: “aqui se faz e aqui se paga”. Não tarda por esperar. Pessoalmente manifesto total solidariedade à reação da sociedade civil contra os atos avarentos e arbitrários do grupo monopolista e truculento, atrasado, aderindo à campanha de não fazer compras nas unidades desse cartel. Como diziam nossos antepassados, a esperteza do ganancioso, o olho grande do avarento pode engolir o seu próprio dono.
Assim, agiu o supermercado “Mateus, primeiro os teus”, ao chocar-se frontalmente com o espírito de Natal das famílias mais pobres do norte e nordeste, apoiadas pelo MLB.
Fraternidade, solidariedade cristã, compromisso social das empresas são demonstrados na prática e não com slogans e propagandas enganosas.


*Natanael Sarmento é advogado, professor e escritor, membro do Diretório Nacional da Unidade Popular.

Prefeitura de Natal aumenta a passagem do transporte para 4,90 em meio à agressões a população

Os empresários do transporte da cidade de Natal convocam conselho para aprovar de forma arbitrária novo aumento da passagem. É o terceiro aumento no intervalo um ano e meio.

Alice Morais | Natal RN


LUTA POPULAR — Na última quarta-feira (26), empresários do sindicato patronal das empresas dos transportes urbanos de Natal (SETURN), em mais um conchavo com a Prefeitura da cidade de Natal, no Rio Grande do Norte, tentou aprovar mais um aumento na passagem do ônibus urbano. Vale ressaltar que o transporte já sofreu um aumento duas vezes em um curto intervalo de dois anos, e os empresários foram isentos de pagar o imposto do ICMS.

O conselho municipal de transporte e mobilidade urbana, que é composto quase que inteiramente apenas pelos empresários do SETURN, aprovou o aumento da passagem para 4,90. O novo valor entra em vigor ainda este ano, a partir do próximo domingo (29).

Truculência da polícia e violência contra o povo

A população, porém, não aceitou calada a arbitrariedade neste aumento. Os movimentos sociais organizaram um ato na Secretaria Municipal de Trânsito e Transporte Urbano (STTU), para manifestar repúdio e impedir que a reunião procedesse sem representação popular. Contudo, a guarda municipal recebeu de forma truculenta a população e os movimentos, que protestavam contra o aumento da passagem de forma pacífica. A polícia utilizou cacetete e spray de pimenta para agredir as mulheres, estudantes e trabalhadores que estavam presentes.

“Eles tacaram spray de pimenta na gente, e aí começaram a sufocar as pessoas, pra forçar a gente a sair de onde a gente estava concentrando, que era a recepção. Tacaram cacetetes de madeira na barriga de uma companheira. E a gente estava protestando pacificamente, exigindo que nós também entrássemos lá dentro pra que tivesse representação popular nesse conselho. A polícia é fascista, e agride a população. Hoje foi uma demonstração disso”, relata Caju Bezerra, estudante de letras da UFRN e militante da União da Juventude Rebelião.

Lutar por um transporte digno

O aumento arbitrário da passagem mostra que os ricos, os donos do transporte, são quem controla a cidade, mesmo que quem utilize o transporte público seja o povo. A Unidade Popular vai organizar uma agenda de lutas na cidade de Natal pelo transporte público, gratuito e de qualidade, que sirva de fato ao propósito que ele deve cumprir, e convoca toda a população a se somar na luta por esse direito.

Um verdadeiro milagre de Natal

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Crônica de Clóvis Maia | Pernambuco


Você já presenciou um milagre? Eu posso te contar um. Na ocupação Selma Bandeira, no bairro de Dom Helder, periferia de Jaboatão dos Guararapes (PE), dezenas de famílias, seguindo o exemplo de Jesus, reproduziram o milagre da multiplicação.

Várias famílias se apertando dentro de um barracão de madeira, local onde também se reúnem para suas assembleias e reuniões, muitas crianças, aqueles olhos de curiosidade e expectativa, enquanto pais e mães traziam pratos simples, decorando uma mesa enorme no centro.

Ao lado, uma árvore de Natal improvisada recebia brinquedos, roupas, sacos de pipoca e confeitos. Uma verdadeira mesa de Natal repleta: bolos, tortas, salgados, bebidas, doces, tudo organizado, feito e doado com muito carinho e solidariedade.

Antes de comer, as falas dos presentes. Alguns agradecimentos, fotos e a projeção para mais lutas no futuro. Alguém lembra que Jesus nasceu na Palestina e que lá, dificilmente vai ter Natal esse ano. Que cabe a nós, chorar com aqueles que choram.

Ali estavam os humildes, os bem aventurados. Aqueles que choram, os que tem fome e sede justiça, os misericordiosos, os de coração verdadeiramente limpos, aqueles que são perseguidos por lutarem por justiça. Famílias que batalham o ano inteiro pelo pão de cada dia, por dignidade e por moradia.

Depois das saudações, todos, organizadamente, repartem entre si aquela fartura fruto da união. Idosos, crianças, grávidas, jovens… Um verdadeiro milagre dentro de um lugar tão digno, onde a gente aprende verdadeiras lições sobre aquilo que realmente transforma e que não é preciso ir muito longe para imaginar que é possível construir essa nova sociedade do amanhã.

Povo cubano ocupa as ruas de Havana contra bloqueio dos EUA

Mais de 500 mil cubanos participaram da Marcha do Povo Combatente em Havana, capital de Cuba, para exigir o fim do bloqueio imperialista imposto pelos Estados Unidos e a exclusão do país da lista de patrocinadores do terrorismo.

Wildally Souza | São Paulo (SP)


INTERNACIONAL – Na ultima sexta-feira (20), milhares de cubanos saíram às ruas de Havana, capital de Cuba, para denunciar e exigir o fim do bloqueio ilegal e fascista dos Estados Unidos contra a ilha revolucionária e a eliminação do país da lista de países que patrocinam o terrorismo.

A Marcha do Povo Combatente, como foi convocada pelo governo cubano, reuniu mais de 500 mil pessoas ao longo do Malecón (avenida a beira-mar) de Havana, para expressar, em frente à embaixada dos Estados Unidos, sua exigência pelo fim da hostilidade; condenar as políticas imperialista e anunciar para o mundo que o espírito revolucionário é firme e de luta contra as injustiças e não cansará até conquistar a libertação total de seu povo. 

Marcha denuncia crimes cometidos contra Cuba

Com o objetivo de convocar a Marcha do Povo Combatente, o diário Granma – Órgão Oficial do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba, publicou um editorial que denunciou a atual administração norte-americana de ter mantido em vigor “quase todas as medidas de coerção econômica draconianas impostas pelo governo de Trump, e aprovou outras”, além de ter cumprido a promessa eleitoral de Joe Biden em relação ao tratamento dos EUA contra a ilha.

Apesar de durante sua campanha presidencial ter criticado as medidas que Donald Trump estava implementando contra Cuba e ter prometido reverter as “políticas fracassadas do Trump que prejudicaram os cubanos e suas famílias”, Joseph ‘Joe’ Biden e seu Partido Democrata, liderado por uma de suas vertentes mais conservadoras até o presente momento, continuou o legado imperialista dos governos anteriores e implementou novos crimes, roubos, bloqueios e coerção econômica a Cuba.

Em setembro de 2024, alguns dias antes das últimas eleições estadunidenses, Biden e sua trupe decidiram estender a vigência da ilegal “Lei de Comércio com o Inimigo” – lei que dá poderes ao governo de Washington restringir as atividades comerciais de qualquer nação que classifique como “inimiga”. 

À medida que o imperialismo promovido pelos EUA ampliou sua dominação e implementou políticas de caráter fascista contra outros povos, a Lei de Comércio com o Inimigo foi modificada repetidamente para permitir a continuação de sanções econômicas, mesmo em “períodos de paz”. Essa atitude é aplicada em situações classificadas como “emergência nacional”, exigindo que o presidente renove as medidas anualmente, caso sejam consideradas de “interesse nacional” para os EUA. Nesse contexto, a nova sanção de Biden permanece válida até setembro de 2025, quando Trump estará no poder da Casa Branca.

Políticas dos EUA contra Cuba são ilegais

Povo cubano denuncia que bloqueio e sanções são um ataque direto à soberania nacional e uma violação dos direitos humanos. Em cartazes, dizem que lutarão até a última gota de sangue. Foto: Granma.
Povo cubano denuncia que bloqueio e sanções são um ataque direto à soberania nacional e uma violação dos direitos humanos. Em cartazes, dizem que lutarão até a última gota de sangue. Foto: Granma.

Desde a Revolução Cubana (1959), a estratégia dos Estados Unidos tem sido não apenas impor fome e miséria ao povo cubano, mas, acima de tudo, convencer as massas de outros países de que as dificuldades enfrentadas por Cuba são responsabilidade do governo revolucionário e do socialismo, e não das sanções ilegais e injustificadas de Washington.

Essa narrativa de falsas acusações é amplamente reforçada pela mídia burguesa, que não só apresenta Cuba como um país isolado por sua própria culpa, mas também oculta de forma proposital os avanços significativos da ilha em áreas como reforma agrária, direitos humanos, saúde e educação.

Mas os números são claros em mostrar quem está impedindo o desenvolvimento necessário da nação cubana. De acordo com levantamento do Ministério de Economia e Planificação de Cuba, o bloqueio imperialista afeta o povo cubano em mais de 421 milhões de dólares por mês, mais de 13,8 milhões de dólares por dia e 575.683 dólares em danos por cada hora de sua aplicação. O relatório ainda apresenta que na ausência do bloqueio, o PIB de Cuba poderia ter crescido cerca de 8% somente em 2023.

Cuba resiste

É de tamanho cinismo que os Estados Unidos, patrocinador de diversos crimes contra os povos do mundo inteiro e o principal financiador do genocídio promovido por Israel contra o povo palestino, acuse Cuba, também vitima de ações terroristas recorrentes financiadas e organizadas a partir do EUA, de patrocinar o terrorismo no mundo. 

Cuba é reconhecida internacionalmente por renovar seu espírito solidário e internacionalista quando qualquer nação precise de sua ajuda para se libertar das amarras da dominação imperialista, mesmo sofrendo com embargos, bloqueios e sanções. Foi assim, por exemplo, quando Che Guevara viajou para a África do Sul em 1965 para lutar contra a ditadura de Mobutu, no Congo. Ou mais recentemente, as missões humanitárias de saúde a diversos países do mundo, inclusive o Brasil.

A luta do povo cubano é incansável

Durante a Marcha do Povo Combatente, ficou claro que o povo cubano não se rende aos desejos infames dos Estados Unidos. Ao contrário do que a mídia burguesa tenta nos convencer, o povo de Cuba não está cansado da luta revolucionária. Defendem o socialismo e exigem o fim do bloqueio, da agressão injusta, da manipulação e das mentiras imperialistas para que possam viver com a dignidade que o socialismo já mostrou poder oferecer no país.

O povo de Cuba sabe que o socialismo é o sistema mais justo e que oferece condições de vida para a classe trabalhadora ter o que comer, onde morar e trabalhar dignamente. É necessário avançarmos nossa consciência, o internacionalismo proletário e intensificarmos as campanhas de solidariedade ao povo cubano.

Famílias do MLB ocupam mercados para denunciar a fome e conquistar a ceia de Natal

Em mais uma jornada de luta do Natal Sem Fome denunciando o alto preço dos alimentos no país, o MLB conquistou 5 mil cestas básicas, 2500 frangos e 500 chesters para as famílias das ocupações neste Natal

Redação


LUTA POPULAR — Neste sábado, 21 de dezembro, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) ocupou grandes redes de supermercados como parte da campanha “Natal Sem Fome”, denunciado a alta do preço dos alimentos e os 64 milhões de famintos que existem hoje em nosso país. 

As famílias organizadas no MLB ocuparam unidades do Grupo Pão de Açúcar nos estados de São Paulo, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Bahia e Rio Grande do Norte, a rede Verde Mar em Minas Gerais, e a Rede Mix Mateus nas regiões Norte e Nordeste do país. Fruto dessa luta, as famílias conquistaram 5.000 cestas básicas, 2.500 frangos e 500 chesters para a ceia deste ano. As famílias denunciaram também a impunidade dos golpistas, que hoje seguem em liberdade, com cartazes e palavra de ordem pedindo prisão para Bolsonaro e os generais, além do fim da violência contra as mulheres.

Marcos Antônio, da coordenação nacional do MLB, relata: “O MLB realiza o Natal Sem Fome já há vários anos no nosso país para mostrar a contradição e a realidade do povo brasileiro pois como pode um país tão rico ter o povo vivendo na fome e a miséria? Ao mesmo tempo, realizar o Natal sem fome é mais do que apenas lutar por uma cesta básica, é organizar o povo contra as injustiças sociais e provocar o debate contra o desperdício de tantos alimentos que são jogados fora. A gente compreende que só a luta organizada pode mudar a nossa realidade, e o mais importante dessa luta é ver que as famílias conseguem lutar e conquistar um pouco a cada passo um pouco a cada dia mais. A maior conquista é a certeza de que do que o povo organizado vai conseguir construir uma nova sociedade”.

O que é o Natal sem Fome?

O “Natal Sem Fome do MLB” compõe uma série de ações solidárias e de luta que visam garantir uma ceia feliz nas datas festivas de fim de ano. Na época do Natal, muito se fala em comida, fartura e reunir a família, mas essa não é a realidade da maioria da população em nosso país. Como é de se envergonhar um país tão rico como o Brasil ter quase 30% da sua população passando fome, inventou-se o termo “insegurança alimentar” para abranger os 64,4 milhões de pessoas que ou não conseguem se alimentar todos os dias ou não conseguem ter refeições suficientemente nutritivas. 

Por isso, o Natal Sem Fome é uma jornada de lutas organizada há 15 anos pelo MLB para denunciar a fome e lutar contra a exploração capitalista, que é a causa desse massacre contra o povo: num país em que 30% de toda a alimentação produzida no Brasil vai para o lixo, onde por ano chega-se a 127 milhões de toneladas de alimentos desperdiçadas pelas redes de supermercados, totalizando R$7,6 bilhões de reais.

É uma enorme contradição a rede Pão de Açúcar ter lucrado R$1,3 bilhão em 2024 mas não haver comida na mesa do povo: é a prova de que, no capitalismo, os supermercados nada fazem além de lucrar em cima de algo que é necessidade básica para a sobrevivência e dignidade humana. Portanto, nada mais justo que ocupar os supermercados e exigir esse direito que não é assegurado ao povo, pois as comidas só chegam até as prateleiras graças à milhares de trabalhadores e trabalhadoras que plantam, colhem e transportam. 

Confira, a seguir, uma seleção de fotos da jornada de luta do Natal Sem Fome em todo o país. Clique em cada registro para ampliá-lo!

Professor da Unicamp participou da tentativa de golpe fascista

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Relatório da Polícia Federal revelou que a tentativa de golpe de Bolsonaro e dos generais teve contribuição de Paulo Lício, professor do Instituto de Computação da Unicamp, na confecção de relatórios que mentiam sobre o funcionamento das urnas eletrônicas

Pedro Andrade | Campinas (SP)


No último dia 28 de novembro, um relatório da Polícia Federal que desvenda detalhes da tentativa de golpe de Estado perpetrada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e pelos generais das Forças Armadas revelou a participação do professor Paulo Lício, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na trama golpista.

O relatório conclui a existência de uma ampla organização criminosa com o objetivo de instaurar uma ditadura fascista com Bolsonaro e seus aliados no poder. Essa organização incluía membros do alto escalão das Forças Armadas e os setores mais reacionários do empresariado brasileiro.

Uma das táticas promovidas por Bolsonaro e o presidente de seu partido, Valdemar Costa Neto, foi o uso de relatórios distorcidos para descredibilizar as urnas eleitorais eletrônicas. Um dos golpistas expostos é Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O relatório demonstra que Paulo Lício trabalhava para forjar relatórios e análises falsas que questionassem a integridade das urnas eletrônicas. O relatório produzido pelo professor golpista foi usado pelo partido de Bolsonaro dois meses antes da tentativa de golpe do dia 8 de janeiro, e tinha o objetivo claro de tentar dar legalidade ao golpe fascista.

Paulo Lício tinha contato direto tanto com Valdemar Costa Neto – que coordenava quais narrativas falsas o professor deveria dar “sustentação técnica” – quanto com Fernando Cerimedo, blogueiro argentino indiciado por propagar notícias falsas sobre as urnas eletrônicas. Tudo indica que as narrativas propagadas pelo argentino vinham do “Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral”, de que Paulo Lício fazia parte e conversava pessoalmente com Cerimedo.

Além de evidenciar o caráter profissional da organização criminosa de Bolsonaro, o fato relacionado ao golpe marca mais um de muitos outros ataques e manifestações de fascistas na Unicamp.

Fascistas na universidade

O apoio de um professor universitário à tentativa de golpe de Estado não surge como fenômeno isolado, mas como novo marco do avanço do fascismo em nosso país na forma de um movimento orquestrado para aterrorizar, desmobilizar e inviabilizar os espaços de organização da juventude e da classe trabalhadora.

Estudantes da Unicamp que conheciam Paulo Lício reforçaram ao jornal A Verdade o seu caráter extremamente reacionário, com um histórico de ataques a estudantes com notas transfóbicas e racistas enviadas por meio de e-mails institucionais endereçados à comunidade acadêmica.

Apesar das evidências e denúncias, a Unicamp apenas publicou uma nota para a imprensa dizendo que está acompanhando o processo, enquanto ignora os pedidos de abertura de sindicância e tenta abafar o caso. Na mesma universidade, um professor tentou esfaquear um aluno e membro do movimento estudantil durante uma greve estudantil em 2023.

Há alguns anos, os estudantes da Unicamp alertam para o aumento dos ataques fascistas dentro do campus. Há denúncias de ataques armados de grupos fascistas a espaços de lazer dos estudantes, além de pixações racistas e LGBTfóbicas que se espalham pelos institutos da universidade.

A universidade pública e os interesses do povo

Com casos como esse, as universidades públicas, cuja expansão é fruto de um histórico processo de lutas populares, se desviam de sua finalidade enquanto espaço de promoção da ciência e desenvolvimento para o povo e se prestam a ser um espaço usado por golpistas que se valem de sua posição para fomentar ataques fascistas, como fez Paulo Lício enquanto recebia cerca de R$46.000,00 de salário.

O fascismo se organiza no Brasil de forma cada vez mais perigosa e utiliza todos os meios que possui para levar adiante um projeto que condena o povo à superexploração e à miséria, ao mesmo tempo que persegue ainda mais as minorias sociais excluídas.

Por isso, é papel de um movimento estudantil combativo ser capaz de mobilizar amplamente os estudantes para pressionar nos espaços de debate e representação pela expulsão dos fascistas das universidades e pela construção de um projeto de universidade verdadeiramente popular e voltado aos interesses do povo.

Trabalhadores da limpeza urbana fazem greve em Bayeux e Cabedelo

Greve dos urbanitários das cidades paraibanas de Bayeux e Cabedelo, na Região Metropolitana de João Pessoa, denuncia atraso no pagamento de salários e vale-alimentação pelas empresas. Mobilização é organizada pelo Sindlimp-PB, entidade coordenada pelo Movimento Luta de Classes

Redação PB


A partir de segunda-feira da semana passada (9/12), os agentes de limpeza urbana organizaram paralisações nas cidades paraibanas de Cabedelo e Bayeux, coordenados pelo Sindicato dos Trabalhadores da Limpeza Urbana da Paraíba (Sindlimp-PB) e pelo Movimento Luta de Classes (MLC).

Nas duas cidades da Região Metropolitana de João Pessoa, a mobilização reivindica o pagamento de valores atrasados pelas empresas do setor. Em Cabedelo, os garis da empresa Camará Ambiental iniciaram sua paralisação devido a falta de pagamento do vale-alimentação e do salário. Já em Bayeux, os trabalhadores da empresa MB Construções pararam o trabalho após não receberem o salário do mês de novembro, na terça-feira (10/12). No segundo dia de paralisação, 100% da categoria já havia aderido.

Os trabalhadores é que sofrem com o descaso que as empresas têm com a categoria da limpeza urbana. Trabalhar o mês todo e não receber não é justo e a luta tem que ser feita, pois a paralisação é o respaldo que temos da negativa da empresa. A população entende que o lixo na porta deles não é culpa de nós, trabalhadores garis, mas das empresas contratadas pela prefeitura. Vamos à luta, que a vitória é certa afirma Radamés Cândido, presidente do Sindlimp-PB.

Luta já conquistou primeiras vitórias

Após três dias de paralisação em Bayeux, na sexta-feira (13/12), a empresa MB Construções começou a pagar os salários que estavam pendentes por volta das 12h. Após a vitória, a categoria voltou ao trabalho, com entusiasmo e confiança na luta junto do sindicato em defesa dos seus direitos. No entanto, a empresa segue até hoje (20/12), sem pagar o 13º salário aos trabalhadores. O Sindlimp-PB já está de prontidão para iniciar a mobilização junto da categoria caso siga sem resolução.

De forma similar, na sexta-feira (6/12), a empresa Camará Ambiental não pagou os salários e, apesar de ter dito que iria quitar sua dívida com os trabalhadores na segunda, não honrou sua promessa. A paralisação em Cabedelo seguiu e apenas na quarta-feira (11/12) a empresa liberou algum valor, mas só o vale-alimentação, já em atraso. Depois, também às 12h, começou a pagar os salários aos urbanitários. Após dias de muita luta, a categoria segue em mobilização em defesa dos seus direitos e contra os retrocessos que os afetam diariamente.

Há 23 anos, o Sindlimpb-PB vem denunciando as manobras dos patrões para desvalorizar os trabalhadores da limpeza urbana, que todo mês sofrem com a incerteza de que o salário irá cair na conta.