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segunda-feira, 25 de agosto de 2025
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Exploração de petróleo representa um risco para a Amazônia

A exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas avança em meio a pressões políticas e riscos ambientais. O Ibama sofre pressão para liberar a licença, apesar de falhas nos planos de emergência.

Denily Fonseca | Belém (PA)


BRASIL – Na majestosa Foz do Rio Amazonas, onde há um espetáculo de biodiversidade, uma sombra se aproxima: a exploração do petróleo. Este rico ecossistema, que abriga uma infinidade de espécies e sustenta comunidades tradicionais, está sob ameaça. A corrida pelo ouro negro, impulsionada por interesses capitalistas, levanta questões profundas sobre a justiça social e ambiental.

A estratégia do governo e da Petrobras de rebatizar a região como “Margem Equatorial” não é inocente. Trata-se de um conluio para desfazer a conexão direta com a Amazônia. Enquanto o termo “Foz do Amazonas” recorda imagens de biodiversidade única, “Margem Equatorial” soa técnico e genérico, facilitando a aceitação de um projeto que promete lucros bilionários para poucos e destruição para muitos, sob o manto do “desenvolvimento responsável”. 

Pressão sobre o Ibama

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) virou alvo de ataques de parlamentares ligados aos ricos, sofre pressão do novo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e do próprio Governo Federal, que busca manter suas alianças. Lula criticou publicamente o “lenga-lenga” do órgão, pressionando por uma licença rápida para a Petrobras, mesmo com lacunas nos planos de emergência para vazamentos. A petrolífera, que inicialmente propôs uma base de resposta a acidentes a 870 km da área de exploração, só após pressões apresentou um projeto a 150 km, ainda insuficiente para evitar desastres em correntes marítimas intensas.  

A justificativa de que o petróleo financiará a “transição energética” é uma cortina de fumaça. Enquanto os países afirmam que discutirão o fim dos combustíveis fósseis e a transição energética na COP 30, que será realizada em Belém do Pará, em novembro, os grandes acionistas do petróleo planejam abrir uma nova fronteira de exploração, contradizendo os compromissos climáticos. “Não há problema em explorar petróleo enquanto falamos de clima”, diz o presidente da COP 30, André Corrêa do Lago.

Em discurso no Amapá, o presidente Lula defendeu: “Enquanto Suriname e Guiana ficam ricos, nós vamos comer pão com água?”. Contudo, tanto lá quanto aqui, a riqueza gerada pelo petróleo raramente chega ao povo. Dizem ainda que a exploração trará “emprego e dignidade” aos 28 milhões de amazônidas, porém, com a Usina de Belo Monte, prometeram progresso e entregaram caos social e ambiental.

Enquanto o povo amapaense sofre pagando a 10ª conta de luz mais cara do país, um navio-sonda da Petrobras gasta R$3 milhões por dia parado no mar, aguardando licença para perfurar a costa da Amazônia. O bloco FZA-M-59, cobiçado pela estatal, promete até 14 bilhões de barris de petróleo, mas também ameaça extinguir botos, peixes-boi e corais únicos no planeta, com potencial de gerar enorme desiquilíbrio na natureza. Para os ruralistas, políticos e executivos de terno, é o “novo pré-sal”. Para as comunidades tradicionais, é mais um capítulo de um genocídio anunciado.

Vejamos bem, a Petrobras reservou R$ 3 bilhões para perfurar 16 poços na região, enquanto só 11% de seus investimentos são em energias limpas. As empresas TotalEnergies e BP já fugiram do projeto, deixando o risco ambiental para o Brasil. Mesmo com a aposta no ambicioso projeto, a ciência é clara: a Amazônia pode entrar em colapso em 25 anos se o desmatamento e a exploração continuarem. O mundo precisa reduzir o consumo de petróleo em 60% até 2030, mas os bilionários insistem em cavar mais poços. 

De fato, como vimos, os grandes conglomerados petrolíferos, representados por super-ricos e que acumulam fortunas astronômicas, veem na Amazônia uma oportunidade de lucro sem precedentes. No entanto, essa busca desenfreada por recursos naturais ignora a vida dos povos tradicionais e o meio ambiente. Comunidades ribeirinhas e indígenas, que dependem da terra e das águas para sua sobrevivência, enfrentam a devastação de seus lares e modos de vida. A exploração do petróleo não é apenas uma questão econômica; é uma questão de direitos humanos.

Lutar pela Amazônia e pelo socialismo

Nesse sentido, o sistema capitalista, que prioriza o lucro acima de tudo, se revela como um verdadeiro vilão nessa história. A lógica de maximizar ganhos para poucos, enquanto muitos sofrem as consequências, é insustentável. A aliança entre governos e empresários ricos, que prometem desenvolvimento e progresso, resulta em promessas vazias e em um aumento da desigualdade na Amazônia. O que se vê é a concentração de riqueza nas mãos de poucos, enquanto as comunidades locais são deixadas à mercê da degradação ambiental e da exploração.

A solução para essa crise não está em fazer alianças com os poderosos, mas em repensar o modelo econômico que rege nossas vidas. É hora de construir um novo caminho, onde o socialismo se apresenta como uma alternativa real para o nosso povo. Um sistema que priorize o bem-estar coletivo, a justiça social e a preservação ambiental. Um modelo que valorize a vida e a dignidade humana acima do lucro.


Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308

Forças Armadas devem ser responsabilizadas pelo golpe de Bolsonaro

Generais do Alto Comando fizeram de tudo para que o ex-capitão chegasse à Presidência da República, deram sustentação ao seu governo e participaram da conspiração para dar um golpe de Estado e impor nova ditadura militar no Brasil. Não podem ficar impunes.

Heron Barroso | Redação


EDITORIAL – Passados mais de dois anos desde o 08 de janeiro de 2023, Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas foram, enfim, denunciados pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal (STF) por conspirarem para dar um golpe de Estado, anular o resultado das eleições de 2022 e impor uma nova ditadura militar fascista no Brasil.

A maioria dos acusados são militares de alta patente, entre eles, os generais Braga Netto, Augusto Heleno, Estevam Theophilo, Mário Fernandes e Nilton Rodrigues, o ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier Santos. Com tantos oficiais graduados assim, fica difícil acreditar que as Forças Armadas não soubessem desde o início da trama golpista. Mas, apesar disso – e contra todas as evidências – o procurador-geral da República, Paulo Gonet, responsabilizou apenas individualmente os militares envolvidos, livrando a barra da instituição.

Não há dúvidas de que processar e punir o ex-capitão e seus cúmplices é, por si só, um duro golpe contra o fascismo. Mas isso não pode servir de justificativa para que as Forças Armadas passem, mais uma vez, impunes e que nada seja feito para impedir que continuem conspirando contra as liberdades democráticas conquistadas com tanta luta pelo povo brasileiro. Esse erro já foi cometido no passado, e agora estamos pagando seu preço.

O golpe era militar

Não é possível separar Bolsonaro das Forças Armadas. Durante os quatro anos em que foi presidente, os generais deram sustentação ao seu governo. Os militares ocuparam mais de sete mil cargos, comandaram ministérios e estatais, apoiaram o negacionismo na pandemia, foram omissos com a destruição da Amazônia e não passaram um dia sequer sem fazer ameaças de que não iriam reconhecer o resultado das eleições caso seu candidato não fosse o vitorioso.

Quando, finalmente, o ex-capitão foi derrotado nas eleições de 2022, a cúpula das Forças Armadas começou a organizar o plano para dar um golpe de Estado, como provaram as investigações da Polícia Federal. Ao todo, foram realizadas 14 reuniões entre o então presidente e os comandantes das Forças Armadas para discutir o golpe. Em quatro desses encontros, estiveram os comandantes das três forças juntos (Exército, Marinha e Aeronáutica). O general Freire Gomes, então comandante do Exército, esteve reunido com Bolsonaro 12 vezes.

Como parte do plano para desacreditar o resultado da votação, em novembro de 2022, após o segundo turno das eleições, o Ministério da Defesa entregou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um relatório sobre as urnas eletrônicas, feito pelas Forças Armadas, que não encontrou nenhum sinal de fraude no processo eleitoral. Na época, o então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, divulgou nota onde afirmava que, embora o relatório não tivesse achado nenhuma irregularidade no sistema de votação, ele não havia eliminado a possibilidade de que fraudes pudessem ser cometidas.

Essa armação, segundo depoimento à Justiça dado pelo ex-ajudante de ordens de Bolsonado, o tenente-coronel Mauro Cid, “se deu exclusivamente pela determinação e insistência” do então presidente Jair Bolsonaro. Segundo a PGR, o objetivo do ex-capitão era “evitar que a mensagem final sobre o processo eleitoral fosse positiva”.

No dia seguinte à divulgação da nota sobre o relatório de fiscalização das urnas, bandos fascistas pedindo intervenção militar começaram a se reunir em frente aos quartéis, com a permissão e apoio das Forças Armadas. Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica chegaram mesmo a assinar uma nota pública chamando esses acampamentos de “manifestações populares”. Mais uma vez, segundo a PGR, a nota foi escrita por ordem de Bolsonaro. O então presidente sabia que “a mensagem seria recebida por seus apoiadores como sinal de concordância das Forças Armadas aos acampamentos espalhados pelo país”.

Diante de tantas evidências, como ainda duvidar do envolvimento das Forças Armadas no planejamento e execução do golpe, que previa, entre outras coisas, matar o presidente eleito e seu vice, sequestrar um ministro do STF e anular o resultado das eleições?

Essas mesmas Forças Armadas realizaram ao longo da História vários golpes militares e foram responsáveis pela tortura e assassinato de centenas de revolucionários, verdadeiros patriotas e democratas, como Manoel Lisboa, Manoel Aleixo, Rubens Paiva, Sônia Angel e Anatália Alves, entre tantos outros.

Foi apenas depois que esse novo golpe deu errado e que perceberam que poderiam acabar na cadeia, que seus comandantes admitiram conhecimento do plano terrorista.

O ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, jura que tentou convencer Bolsonaro a não ir adiante e que chegou, inclusive, a avisar ao então presidente que, se ele atentasse contra o regime democrático, seria obrigado a prendê-lo. Ora essa! E por que não prendeu? Quem ele quer enganar com essa conversa pra boi dormir?

Os fascistas e seus defensores dizem agora que são vítimas de perseguição política e que não há mais liberdade no Brasil. Vão em caravana aos Estados Unidos beijar a mão de seu amo Trump e pedir que interceda por eles. Temem, como o diabo foge da cruz, passar o resto dos seus dias na cadeia.

Bem, senhores fascistas, como estamos em época de Carnaval, deixemos que a grande Beth Carvalho lhes responda: “Chora, não vou ligar / Não vou ligar / Chegou a hora, vais me pagar / Pode chorar, pode chorar / Mas chora!”.

Além de golpista, ladrão

Voltando às Forças Armadas brasileiras… Sua dignidade é tão pequena que elas se prestaram ao papel de servir de contrabandista do ex-capitão no esquema criminoso de enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro montado pelo fascista Jair Bolsonaro.

Segundo a Operação “Lucas 12:2” (“Mas nada há encoberto que não haja de ser descoberto; nem oculto, que não haja de ser sabido”), Bolsonaro desviou joias e outros bens de valor recebidos em viagens oficiais e os vendeu ilegalmente fora do país.

O principal operador do esquema era o ajudante de ordens da Presidência, o tenente-coronel do Exército Mauro Cid. Em depoimento, ele confirmou que pelo menos R$ 1 milhão foi arrecadado e entregue em mãos ao ex-presidente.

A certeza da impunidade era tão grande que os envolvidos falavam abertamente da falcatrua em trocas de mensagens. Numa delas, o também coronel Marcelo Câmara, assessor de Bolsonaro, explica para seu colega que o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica havia informado ser necessário aviso prévio para a venda de bens destinados ao acervo privado do ex-presidente. Cid, então, lamenta: “Só dá pena pq estamos falando de 120 mil dólares. Hahaaahaahah” (sic).

Agora que a casa caiu, Mauro Cid se faz de arrependido. “Tem gente que não perdeu nada. Eu não. Perdi tudo que eu tinha. A família está vendendo os imóveis. Eu não tenho minha carreira mais”, disse durante depoimento.

Em um dos áudios interceptados pela Polícia Federal, Cid reclamava que “todos se deram bem, ficaram milionários”, referindo-se a Bolsonaro e aos militares envolvidos nas investigações sobre a tentativa de golpe de Estado. “Não vou dizer que me senti abandonado de alguma forma. Mas, obviamente, eu tava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix, aqueles negócios todos. Falo também dos generais porque todo mundo que tá envolvido tá na reserva. Todo mundo envolvido na investigação está na casa dos seus 60 anos, seus 70 anos, atingiu todos os seus objetivos de vida e, no meu caso, não. Eu não. Eu perdi tudo”.

Cadeia para Bolsonaro!

Não podemos ter pena de fascista! Eles enchem a boca para falar em pátria e família, mas a pátria deles é a corrupção, são as chacinas nas favelas, o orçamento secreto, é atacar as eleições, matar os povos indígenas, roubar joias e decretar sigilo de 100 anos sobre tudo isso.

Enquanto o Brasil foi governado por essa corja, milhões de famílias amargaram a falta de moradia digna, o povo sofreu sem remédios e assistência médica e 33 milhões de brasileiros ficaram sem ter o que comer todos os dias.

Precisamos ir às ruas exigir a prisão imediata de Bolsonaro e de seus generais fascistas e que medidas firmes sejam tomadas para impedir que os golpistas continuem atuando livremente, começando por colocar na reserva o Alto Comando das Forças Armadas, desmilitarizar as polícias, confiscar os bens dos empresários que financiaram o golpe e fechar seus canais de mentiras na internet.

Somente com coragem e sem conciliação, a luta contra o fascismo será decidida a favor da classe trabalhadora. Nesse dia, cantaremos novamente “Eu vou festejar, vou festejar! / O teu sofrer, o teu penar”.


Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308

A campanha pela creche e a libertação da classe trabalhadora

A falta de acesso à creche impacta diretamente mães trabalhadoras, que dependem desses serviços para conciliar emprego e cuidado com os filhos. Diante desse cenário, o Movimento Olga Benario mobiliza campanha para ampliar o direito à creche, reivindicando mais vagas e melhores condições para a educação infantil.

Nana Sanches | Coordenação Nacional do Movimento Olga Benario


MULHERES – Para o sistema capitalista, a classe trabalhadora é vista como um número, como estatística. Para a burguesia, é necessário manter uma massa de trabalhadores reproduzindo capital, vendendo seu trabalho em troca de um salário, que, na maioria das vezes, não cobre as necessidades de uma família. Por isso que, há décadas, a classe trabalhadora luta por direitos e políticas públicas que garantam melhores condições de vida para nós e nossos filhos. 

Para as mulheres, essa luta é ainda maior, já que, na maioria dos lares, elas são as responsáveis por cuidar dos filhos e ainda fazer o trabalho doméstico. Para conseguir cumprir tudo isso, as mulheres trabalhadoras precisam de serviços públicos que garantam que seus filhos estejam em boas condições enquanto elas trabalham. 

Assim, as mulheres cumprem um papel fundamental na sociedade: são responsáveis pela reprodução de trabalhadores. Neste sentido, a educação cumpre o papel de formar a classe trabalhadora para que ela possa assumir seu posto de trabalho quando adulta, garantindo a troca de trabalhadores entre uma geração e outra sem que haja interrupção. Parte desta educação é realizada pelas mulheres.

Contudo, o estudo “Levantamento Nacional Retrato da Educação Infantil no Brasil: acesso e disponibilidade de vagas”, divulgado pelo Ministério da Educação em agosto de 2024, mostra que mais de meio milhão de crianças brasileiras, aproximadamente 633 mil, não têm acesso à creche, aguardando vagas em instituições públicas.

Importância da creche

Creche é um estabelecimento voltado para crianças de 0 (zero) a 3 anos e 11 meses e dispõe de profissionais preparados para atendê-las. Sabemos que, nesta idade, a criança não tem autonomia alguma, precisando de outra pessoa para alimentação e higiene. Desde o início da vida, a criança precisa de alimentação adequada, brincadeiras e aprendizagens. Sem isso, elas têm maior dificuldade de se desenvolver plenamente. A creche é um direito das crianças. Também é um direito de mães e pais que precisam que seus filhos estejam sob cuidados para que possam trabalhar ou estudar. 

Ao contrário de países que desenvolveram o setor industrial rapidamente, no Brasil, as primeiras instituições voltadas para atendimento a crianças surgiram através de instituições religiosas, que mantinham locais para crianças filhas de escravizadas, por volta dos anos 1870, década em que a Lei do Ventre Livre foi aprovada no país, que dava liberdade a todos os bebês de mulheres escravizadas. Só com o fortalecimento da classe operária brasileira, entre os anos 1900 e 1930, passaram a existir as creches.

Entendendo o papel que a mulher desempenha na produção e reprodução social, a ideologia propagada pelo capitalismo trabalha para colocar as mulheres no papel de esposas e mães. Por isso, além de serem contrários à educação digna dos filhos da classe trabalhadora, a burguesia e seus políticos de estimação têm atacado os direitos reprodutivos das mulheres.

Direitos reprodutivos são medidas que possibilitam que as pessoas decidam, de forma livre e responsável, se querem ou não ter filhos, quantos filhos querem ter e em qual momento de suas vidas. Muitos países garantem que mulheres tenham acesso a essa escolha e, nesses países, poucas mulheres morrem ao fazer abortos clandestinos, ao contrário do que ocorre no Brasil atualmente. E mais, são as mulheres negras as que mais morrem por não ter o atendimento necessário em casos de aborto. 

A verdade é que a burguesia utiliza todos os recursos possíveis para manter as mulheres oprimidas, presas às responsabilidades domésticas, presas em trabalhos precarizados e fazem com que seus filhos sigam pelo mesmo caminho, batalhando toda vida, trabalhando e, mesmo assim, sem conseguir ter uma casa, ter direito a transporte, alimentação e educação decentes. 

Por tudo isso, o Movimento de Mulheres Olga Benario organiza anualmente uma ampla campanha pelo direito à creche. Nessa campanha, conversamos sobre o direito à creche com mulheres e homens trabalhadores, estudantes, donas de casa, nos locais de trabalho, instituições de educação, bairros e ocupações e, a partir disso, organizamos diversos tipos de luta para garantir vagas em creches, fraldários e brinquedotecas nos dias de semana e também nos sábados e domingos, já que muitas mães trabalham na escala 6×1. Organizemos abaixo-assinados, ocupações, plenárias, mas o principal é mantermos as mulheres organizadas em núcleos antes, durante e depois da campanha da creche. Esta é a única forma que temos de conquistar uma vida digna para nossa classe.


Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308

Escala 6×1 prejudica mais as mulheres

Dados do IBGE mostram que as mulheres recebem, em média, 80% do salário dos homens, com um impacto ainda maior sobre as mulheres negras. A escala 6×1, predominante no comércio e no telemarketing, agrava essa realidade, impedindo a qualificação profissional e sobrecarregando ainda mais as trabalhadoras.

Guita Marli e Adriana Farias | Movimento Olga Benario (PE)


MULHERES – Geny, 18 anos, mora com seus pais e mais quatro irmãos menores. Ela queria terminar o segundo grau no colégio para conseguir um emprego formal e ajudar nas despesas da casa, além de ficar com alguns trocados para comprar batom, esmalte e creme para cabelo.

Amanda, 23 anos, é mãe solo. Todo dia, gastava a sola da chinela em busca de um emprego para não mais ouvir: “Quem pariu Moisés que o embale”. Desejava sustentar e alimentar Ágata, que nasceu em meio a um relacionamento abusivo.

Mas não é fácil para as mulheres encontrarem emprego no país, como mostram os dados do IBGE. A desvalorização da mão de obra feminina é uma realidade incontestável, já que as mulheres recebem cerca de 80% do valor dos salários dos homens. Se a mulher for negra, seu salário é ainda menor.

Muitas jovens que procuram emprego acabam sendo engolidas pelo setor de serviços, no comércio e no telemarketing, onde a escala 6×1 é dominante e a superexploração é mais constante.

Essa escala reflete a essência do próprio sistema econômico capitalista que, na verdade, é uma máquina de moer gente. Gente que precisa ganhar dinheiro para sobreviver e entra no chamado “mercado de trabalho”, em que mulheres e homens buscam sua sobrevivência tendo sua força de trabalho como mercadoria. O que importa para esse sistema é o lucro dos patrões, que, a cada dia, procuram novas formas para extrair o lucro máximo da classe trabalhadora.

As mulheres entraram no mercado de trabalho, que antes era masculino, numa fase em que faltavam homens para produzir devido às guerras na Europa. Naquele período, o mundo estava mudando a forma de produzir da pequena escala para a produção em série, uma necessidade do desenvolvimento da humanidade. Dessa forma, elas foram puxadas pela demanda da produção, com promessas dos capitalistas de que a indústria lhes traria liberdade e independência, mas foram engolidas, desvalorizadas com salários menores que seus colegas homens, como uma força de trabalho menosprezada. 

De lá para cá, muita coisa mudou, mas não o fato de que para alguém ficar rico nesta sociedade é preciso explorar a força do trabalho de mulheres e homens em jornadas extenuantes. Essa dura realidade atinge principalmente as mulheres, como no caso da escala 6×1, afinal, além de trabalhar seis dias na semana e ter apenas um dia de descanso, ainda acumulam o trabalho doméstico, sendo responsáveis por cuidar dos filhos, lavar roupa, fazer comida e arrumar a casa.

Geny, enfim, fez teste para uma vaga de caixa de supermercado no seu bairro e segue a vida sem expectativa de crescimento profissional. Seu salário mal dá para comer e ajudar sua família a se vestir, pagar passagem, aluguel, água e luz e só conseguem comer carne duas vezes por semana, mesmo com três pessoas da família trabalhando

Amanda trabalha na banca de bicho na frente de sua casa, porque não conseguiu uma vaga na creche do bairro, uma vida difícil para uma jovem cheia de vontade, de força para trabalhar, que recorre ao subemprego, obrigada a se submeterem a uma vida com ainda mais percalços.

A escala 6×1 sinônimo de superexploração, é a impossibilidade de tempo e oportunidade dos trabalhadores investirem em formação profissional para ter descanso, saúde e convívio com a família.

O capitalismo oferece apenas ilusões, mas, fruto da experiência, cresce a consciência da classe trabalhadora. Não vamos nos calar. No próximo 08 de Março, Dia Internacional da Mulher, vamos às ruas exigir nossos direitos, creche para nossas filhas e filhos, salários decentes, fim da carestia e da escala 6×1.


Matéria publicada no jornal A Verdade impresso edição nº308

Bahia alcança marca de 400 jornais vendidos em brigadas nacionais

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O planejamento das brigadas, aliado à intensa luta política sobre a necessidade de colocar o jornal no centro da vida militante, resultou no aumento de brigadas e vendas do jornal A Verdade no estado. 

Isabella Tanajura | Salvador

Pela primeira vez foram vendidos 401 jornais em brigadas nacionais na Bahia, registrando a maior venda em brigadas já feita no estado. Este feito foi alcançado na edição em que a Bahia também aumentou a cota para mil jornais por quinzena, demonstrando o crescente empenho da militância baiana com as vendas do jornal A Verdade.

Os brigadistas do jornal iniciaram as vendas ainda durante o carnaval de Salvador, no tradicional bloco de esquerda Mudança do Garcia. Todos os 30 jornais que levaram foram vendidos aos foliões na concentração do bloco, que é conhecido pelas manifestações políticas e tinha como um dos temas a defesa da Palestina contra o genocídio imperialista dos Estados Unidos e Israel. Depois da quarta-feira de cinzas, o povo volta às ruas para a luta e os brigadistas também. 

Uma equipe de apenas quatro militantes vendeu 70 jornais na assembleia dos professores da rede estadual de educação que discutia o reajuste salarial da categoria. Nessa oportunidade, os brigadistas aproveitaram para conversar com os trabalhadores da educação sobre o sucateamento que as escolas estaduais têm sofrido e a necessidade de prender Bolsonaro e seus cúmplices fascistas.

No sábado pela manhã, as brigadas nos bairros e estações de metrô aconteceram em diversos pontos da capital baiana, sendo a brigada da Estação Brotas uma das que mais se destacou por ter superado a meta que havia estabelecido, com 54 jornais vendidos. Durante as brigadas nos bairros, é comum os militantes receberem denúncias dos problemas enfrentados no dia a dia da população, como o corte de linhas de transporte, o aumento da violência e a falta de vagas nos hospitais e creches.

Para Macé Silveira, coordenador do núcleo da UP em Brotas, a agitação na caixa de som com microfone é um fator importante para essa atividade já que cumpre o papel de formar mais militantes enquanto tribunos populares e também faz com que as pessoas conheçam a nossa linha política mesmo que não comprem o jornal. 

“Além disso, quando as pessoas passam, elas ficam curiosas em saber o que é que aquelas pessoas que estão com caixa de som e o jornal na mão falam e por isso se aproximam com mais facilidade e aceitam conversar com os brigadistas quando tem agitação. Nas agitações sempre tentamos trazer ao máximo a denúncia da matéria de conjuntura. Nessa agora falamos sobre a escala 6×1 e o dia internacional da mulher trabalhadora também. Nas minhas agitações sempre falo muito sobre a violência policial, o transporte que não é bom e as linhas de 5 anos para cá que foram retiradas. Acho que as outras pessoas tocam bastante nesses temas”, relata Silveira.

Esse sábado de brigada nacional coincidiu com o Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, em que a Unidade Popular e o Movimento de Mulheres Olga Benario estiveram nas ruas denunciando o alto custo de vida, as guerras imperialistas, sobretudo contra o povo palestino, e a violência diária sofrida pelas mulheres no Brasil. Durante o ato em Vitória da Conquista (BA), a estudante Micaelly Teixeira vendeu 24 jornais, sendo a brigadista na Bahia que mais vendeu jornais na brigada nacional dessa quinzena.

“Eu acho que a gente tem que ter muito esse espírito de que, em cada jornal que a gente vende, a gente sempre dá o nosso melhor. Porque a pessoa com quem a gente está conversando pode ser um dos melhores quadros do nosso partido futuramente. Isso depende apenas da postura que a gente vai ter e da gente dar o nosso melhor para vender aquele jornal, para convencer aquela pessoa da nossa linha política, para convencer aquela pessoa de que vale a pena lutar ao nosso lado”, defende a brigadista.

Brigadistas em Salvador durante o ato na capital baiana para o 8 de março. Foto: Isabella Tanajura / JAV BA

Cumprir as metas: um dever revolucionário 

Esse resultado de 400 jornais vendidos na brigada nacional não aconteceu ao acaso. Para o crescimento das vendas e brigadas, o planejamento da Comissão de Agitação e Propaganda foi indispensável. Isso, aliado à intensificação da luta política sobre a importância de colocar o jornal no centro do trabalho, fez com que mais pessoas participassem das brigadas. Também estão sendo consolidadas as brigadas nas portas de fábricas e grandes empresas, como a Atento no bairro do Uruguai, no Porto de Salvador e na porta da montadora chinesa BYD, que recentemente foi denunciada por manter trabalhadores em situação análoga à escravidão.

O planejamento é uma parte fundamental para que possamos aumentar o número de jornais, mas ficará no papel sem a vontade de vencer e o espírito de disciplina dos militantes. Por isso, o cumprimento das metas individuais, aliada à meta geral da brigada, é importante para que possamos aumentar a difusão da nossa política pelo jornal. Quando um camarada está demonstrando dificuldade em bater a sua meta de venda individual, é importante que haja um apoio coletivo para ajudar na dificuldade e procurar compreender qual a questão central que está dificultando — ajustar o discurso, por exemplo, pode ser algo que ajude. É tarefa dos coordenadores de brigada mostrar, pelo exemplo prático, como podemos e devemos difundir a nossa política pela venda do jornal, superando as metas estabelecidas.

No texto de Lênin “O que fazer?” (1902), ele afirma: “O jornal é uma arma poderosa nas mãos do Partido, e é a principal forma de divulgação das ideias revolucionárias”. O jornal A Verdade cumpre um papel central na organização e mobilização da classe trabalhadora, além de ser um instrumento vital para a formação política e propagação das ideias do socialismo no Brasil. É um dever de todo revolucionário divulgar e crescer A Verdade em todo o país.

Prefeitura de São Caetano despeja Ocupação da Mulher Operária Alceri Gomes

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No Mês das Mulheres, o batalhão da força tática da PM preparou a invasão da Ocupação da Mulher Operária Alceri Gomes com bombas de gás, armas e escudos. O Movimento de Mulheres Olga Benario saiu em ato até a Câmara Municipal para cobrar respostas da Prefeitura sobre a violência contra as mulheres na cidade de São Caetano.

Movimento de Mulheres Olga Benario SP


Hoje, 13/03, poucos dias após o 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras, a Ocupação da Mulher Operária Alceri Maria Gomes da Silva, organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benario na cidade de São Caetano do Sul (SP) sofreu reintegração de posse.

Após a saída do imóvel, as mulheres realizaram um ato até a Câmara Municipal, denunciando o despejo e o alto índice de violência contra as mulheres. O Movimento busca há meses a abertura do diálogo com a prefeitura, para apresentar a situação de violência contra as mulheres da cidade. Apesar das diversas tentativas de serem atendidas pela prefeitura, o Prefeito Tite Campanella (PL) segue ignorando as mulheres.

O despejo ocorreu mesmo com a divulgação do relatório do Fórum de Segurança Pública, indicando que os índices de violência contra as mulheres batem o recorde no Brasil, com mais de um terço das brasileiras já tendo sofrido violência. Este é o maior índice desde 2017, quando passou a ser realizado este levantamento. O estado de São Paulo bateu recordes de casos de femicídio em 2024, com 250 casos registrados; o ABC Paulista, na região metropolitana do estado, registrou um aumento de 22,8% no número de denúncias de violência, com 1.376 casos de janeiro a outubro.

Ocupação salvava vidas

Durante os 6 meses de ocupação, diversos trabalhos de acolhimento de mulheres e crianças em situação de violência foram realizados, oferecendo suporte através de uma equipe de profissionais do Movimento e apoiadoras como psicólogas, advogadas, assistentes sociais, além de realizar atividades de formação, rodas de conversa e palestras.

O despejo estava marcado para o início de fevereiro. A Guarda Civil Municipal tentou realizar a operação, mas foi vencida pela disposição de luta das mulheres, que resistiram mesmo com a presença de forte aparato da ROMU, a tropa de choque da guarda. Depois de dois dias de tentativa de reintegração sem sucesso, a Polícia Militar pediu um prazo de 30 dias para montar a operação, entendendo a complexidade do processo, o que foi acatado pelo juiz.

Na última terça-feira (11/03), a Polícia Militar articulou uma reunião com o Movimento de Mulheres Olga Benario, a Guarda Municipal, o secretário de educação, Fabiano Augusto, o secretário de segurança pública, Lourival dos Santos, e a vereadora Bruna Biondi (PSOL), além da presença da oficial de justiça do processo, Cacilda Cunha, e representantes das partes envolvidas no processo para dialogar. Foi concluído que o melhor encaminhamento para o caso era envolver a prefeitura da cidade, para que ela apresentasse uma proposta que garantisse a continuidade do trabalho do Movimento.

“É semana do 8 de Março, acabamos de bater os recordes de violência contra as mulheres no nosso país e a prefeitura de São Caetano vai permitir uma reintegração de posse contra uma Ocupação que acolhe mulheres em situação de violência?”, questiona Roseli Simão, Coordenadora do Movimento, na reunião com secretários da prefeitura.

Ainda acrescenta: “Não queremos um despejo violento, queremos dialogar, para ter uma alternativa para as mulheres que acolhemos e um local para dar sequência aos trabalhos que realizamos na ocupação hoje”.

Prefeitura de São Caetano se recusa a dialogar

Após uma breve negociação, o batalhão da força tática preparou a invasão do imóvel com bombas de gás, armas e escudos. O Movimento então decidiu sair, para evitar uma maior violência contra as mulheres presentes, caminhando em ato até a Câmara Municipal, onde denunciaram que a prefeitura ainda não recebeu o Movimento para dialogar sobre as reivindicações da Ocupação, mesmo após várias tentativas por parte das coordenadoras da casa.

Isabela Leal, Coordenadora da Ocupação, afirma que “há 6 meses tentamos este diálogo, já enviamos ofício, já reunimos com o chefe de gabinete que se comprometeu a nos receber de novo e até agora nos ignora e não temos respostas para as demandas da Ocupação e das mulheres da cidade”.

Fica evidente o descaso da prefeitura da cidade com a vida das mulheres, que mesmo após a autorização de uso de força policial para realizar a reintegração, segue ignorando as tentativas de diálogo realizadas pelo movimento.

Não podem nos amedrontar!

Porém, as mulheres marcharam em ato, fechando as ruas e puxando palavras de ordem denunciando a violência contra as mulheres, até a Câmara e realizaram uma assembleia afirmando que a Ocupação da Mulher Operária está sendo muito vitoriosa: após a ocupação, o tema da violência contra as mulheres virou debate na cidade; em conjunto com a pressão de outros movimentos, foi conquistado o fim da exigência da carteirinha de morador da cidade para utilizar serviços públicos como o SUS e o retorno da cidade de São Caetano para o Consórcio Intermunicipal do ABC, órgão responsável por financiar as casas de abrigo da região.

Assim, as mulheres seguem mobilizadas, uma vez que o Movimento de Mulheres Olga Benario saiu deste processo com mais apoiadores na cidade de São Caetano do Sul e na região do ABC e mais mulheres organizadas no movimento, com a certeza da justeza da luta de enfrentamento da violência contra as mulheres e a necessidade de mais espaços como a Ocupação Alceri Maria Gomes da Silva para realizar o acolhimento e para organizar mais lutas em defesa da vida das mulheres e pelo socialismo!

Por fim, encerra a assembleia Maria Clara, Coordenadora do Movimento Olga Benario: “Por Alceri Maria Gomes da Silva, por Helenira Preta, por Damaris Lucena e por tantas outras que tombaram para que pudéssemos lutar hoje! Seguiremos em luta contra o fascismo até a construção do socialismo, onde as mulheres serão de fato livres da opressão!”

 

FENET convoca luta contra “saunas de aula” em meio ao calor extremo

A Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (FENET) convoca os estudantes a organizar grandes mobilizações no dia 19 de março, o Dia Nacional de Luta pela Assistência Estudantil, com as palavras de ordem: “Chega de saunas de aula!”, “Queremos educação de qualidade e orçamento para as ETECs!”

Julia Cacho | Coordenadora Geral da FENET


No estado de São Paulo, várias Escolas Técnicas Estaduais (ETECs) tiveram suas aulas canceladas nos últimos dias devido às recentes ondas de calor extremo. O Centro Paula Souza (CPS), órgão do governo do Estado responsável pelas ETECs, autorizou o cancelamento das aulas presenciais até o dia 10 de março, e cada diretoria escolherá se mantém ou não as atividades. Desde então, várias unidades já dispensaram os estudantes e iniciaram as aulas remotas.

Para justificar a medida, o CPS afirma que a maioria das salas de aulas não tem ventiladores ou ar condicionado, o que pode ser prejudicial para a saúde dos estudantes durante a onda de calor. Há salas que possuem ventiladores antigos, mas que fazem muito barulho e atrapalham as aulas, ou que podem queimar a qualquer momento. Na última semana, a grade de um ventilador atingiu uma estudante na ETEC Bento Quirino, em Campinas (SP). Em diversos relatos ao jornal A Verdade, estudantes defendem que a solução para o problema é a melhoria das condições das salas por meio da instalação de ar condicionados e ventiladores, e não a imposição de aulas em modelo EaD.

A precarização das condições de ensino nas ETECs vem na sequência de um corte de 5% nos recursos da Educação realizado pelo governador fascista Tarcísio de Freitas no ano passado, em que 11 bilhões de reais foram retirados da área. Hannah, caloura da ETEC de Artes, denunciou que, devido à falta de professores e às péssimas condições de estrutura, mal teve aula na primeira semana letiva do ano: “A gente tá sem bebedouro de água gelada e os dois ventiladores que funcionam ficam trancados na enfermaria. A gente queria pelo menos ter aula, mas faltam muitos professores”.

Código de vestimenta machista

Na volta às aulas desse ano, mesmo com o calor que tomou o estado de São Paulo nos últimos meses, as estudantes das ETECs também foram surpreendidas com um novo Código de Vestimenta do Centro Paula Souza, onde foram proibidos o uso de shorts, croppeds e regatas. O texto afirma: “Entendemos que estamos em um ambiente formal de trabalho, portanto, as vestimentas devem ser adequadas a esse espaço”. Foi entregue um termo aos estudantes, que deveria ser devolvido com a assinatura dos responsáveis.

“Estudo há três anos na ETEC Lauro Gomes e, por causa da falta de verbas, nunca vi darem uma prova impressa. Agora, todos os estudantes receberam uma cópia desse termo para levar pra casa. É muito revoltante, várias estudantes foram de short e a direção mandou voltar pra casa”, relata Bia Nogueira, presidente do grêmio da escola e diretora da  Federação Nacional de Estudantes em Ensino Técnico (FENET).

Organizar os estudantes

Em São Paulo, as ETECs já foram sinônimo de esperança para a juventude pobre, representando um futuro menos precário, com melhores empregos e formação de qualidade. No entanto, a situação da educação, especialmente do ensino técnico, só piorou desde que Tarcísio de Freitas tornou-se governador. A falta de professores tem crescido exponencialmente, multiplicam-se os relatos de merenda com larva, aulas são canceladas pela infraestrutura das escolas não aguentar as chuvas ou o calor extremo, e muitas denúncias de assédio são ignoradas pelas diretorias.

“Temos certeza que na casa do Tarcísio e do superintendente do CPS não falta ar condicionado, mas nós podemos ter aula em saunas ou somos obrigados a ter aula online? É um absurdo”, denuncia Manu Vitória, diretora da FENET e estudante da ETEC Camargo Aranha, na Zona Leste da capital paulista.

Por isso, a FENET convoca todos os estudantes a organizar grandes mobilizações junto à federação no dia 19 de março, o Dia Nacional de Luta pela Assistência Estudantil, e reunir os grêmios para dar um recado ao Centro Paula Souza, com as palavras de ordem: “Chega de ‘saunas de aula’!” e “Queremos educação de qualidade e orçamento para as ETECs!”

Retomada Krim Orutu: povo indígena Puri se reergue em Minas Gerais

Em terras hoje localizadas no município de Itueta (MG), a Comunidade Indígena Puri Krim Orutu se organizou para fazer a retomada de um território ancestral do povo Puri, reivindicando sua demarcação.

Matheus Median


Atualmente, o povo indígena Puri se organiza em uma série de grupos e associações regionais. Entre elas, a Comunidade Indígena Puri Krim Orutu. “Krim Orutu”, na língua Puri, significa “sangue valente”. Recentemente, esse grupo liderado pela Cacica Puoná Xipu Puri organizou centenas de pessoas da etnia, principalmente das regiões do médio e baixo Rio Doce, e realizou um feito histórico: retomaram terras no município de Itueta (MG) que estavam sob posse da empresa Aliança Geração de Energia, reivindicando a demarcação de um território Puri.

A luta dos Puris por sua terra remonta a séculos atrás. Ainda no período colonial, os Puris estiveram entre os povos mais perseguidos pela política de “guerra justa” de Portugal, por serem considerados “índios bravos” e “inimigos da coroa”. As expedições militares do período joanino tinham ordens claras de exterminar comunidades inteiras dos nativos das terras que se tornaram a capital do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves e de onde mais se roubava ouro. Os que não eram assassinados eram colocados em catequização e aldeamentos forçados, mas sempre sendo removidos de suas terras ancestrais. A consequência disso tudo é que, no final do século XIX, o povo Puri perdeu suas últimas terras e foi dado como extinto pela historiografia hegemônica.

Apesar disso, originário de um território que foi capital da Colônia e do Império, onde ocorreu o ciclo do ouro, a economia do café com leite e uma das maiores explorações de minério de ferro do mundo, o povo Puri nunca abaixou a cabeça para os poderosos de nenhum tempo, e não se deixou acabar. Hoje, trata-se de um povo vivo, com anciões que resgatam suas práticas culturais, sua língua e agora também seu território.

“Somos um povo forte e guerreiro”

Em entrevista ao jornal A Verdade,a cacica Puoná conta que descende de Puris do médio Rio Doce que foram sequestrados e domesticados para trabalho escravo, e que sua avó era uma grande guardiã da cultura, que a transmitia e pedia para os netos retomarem as origens, mesmo em um período onde estavam vivendo em Belo Horizonte. Com a morte da avó, Puoná, aos 15 anos, decide sair da capital mineira e voltar para a região de origem para lutar pela união de seu povo.

“Nosso povo é um povo muito sofrido, que vivia correndo para não ser morto, que tem medo de falar de tanto terem as línguas cortadas. Ainda existem muitas famílias com medo inclusive das violências que foram cometidas na ditadura militar”, diz a cacica.

Ela complementa contando a história da Comunidade Indígena Puri Krim Orutu: “Aqui existem várias famílias Puri que começaram me procurar, foi quando a gente juntou um grupo grande de pessoas e começamos levantar lideranças para montar nossa associação, que hoje é registrada”.

Puoná também explica que sua família sempre afirmou que haviam terras historicamente ocupadas pelo povo Puri no que hoje é o município de Itueta, próximo à Pedra Lorena, o que se confirma por achados históricos como a trilha utilizada pelos Puri e outros povos e o cemitério indígena na região. A cacica também conta os desafios da retomada estabelecida na cidade. Apesar de o povo ter sido reconhecido por órgãos federais, direitos básicos ainda são negados, como acesso à água potável e alimentação, o que faz os Puris dependerem de doações de água mesmo estando ao lado de um dos maiores rios do país, o rio Doce, hoje contaminado por rejeitos de mineração.

“Somos um povo forte e guerreiro, não vamos desistir, é pelos curumim que estão chegando e crescendo. É muito sofrimento, mas estamos avançando e o que mais queremos agora é a demarcação de nossas terras”.

Próximos passos da luta

Outra liderança da Krim Orutu é Kurim Puri, que conta ao jornal A Verdade sobre as características do povo e a expectativa dos próximos passos da luta. “Nos levantamos das cinzas”, diz ele, após contar que se trata de um povo reservado e arisco em função das perseguições que culminaram em uma etnia com mais de 6 mil pessoas ser declarada extinta, e só ter sido oficialmente tirada dessa condição recentemente.

Ele acredita que as próximas gerações enfrentarão mais desafios pelo avanço da lógica de destruição da natureza em função do lucro “o não-indígena não pensa muito em preservar, mas é por isso que a gente sempre busca passar nossa tradição e costume para os futuros, para que eles também sejam um povo de resistência, tradição e cultura”. Casado com uma mulher do povo Krenak, ele entende que os povos indígenas são um só, independente da etnias, e que é preciso se fortalecer e referenciar nas lutas de povos indígenas por direitos.

Os direitos originários dos povos indígenas estão intrinsecamente ligados ao futuro da classe trabalhadora como um todo. O corrente etnocídio indígena só serviu até agora para explorar o povo e transformar comunidades e biomas em desertos. Há algumas necessidades básicas para serem atendidas para que o povo Puri tenha condições de dar seguimento a essa luta, e uma delas é a água, que os assassinos do Rio Doce e seus cúmplices, o poder público, deveriam conceder ao território.

A sociedade não-indígena pode e deve se engajar nas causas dos povos indígenas, principalmente aqueles que lutam pelo futuro no presente. Por isso, o povo Puri convoca todos a assinarem a petição “Água para a retomada Krim Orutu do Povo Puri” e lutar por uma Minas Gerais com mais terras indígenas e sem barragens de rejeito de minério.

8 de Março mostra a combatividade das mulheres trabalhadoras

Mulheres organizaram atos no último dia 8 de março pelo fim da violência, da fome, das guerras imperialistas e da Escala 6×1. Prisão para Bolsonaro e punição dos generais fascistas também esteve na pauta.

Alice Morais | Movimento de Mulheres Olga Benario


No último dia 8 de março, milhares de mulheres foram às ruas em todo o país para denunciar a exploração e as violências que as mulheres ainda sofrem hoje. Os atos aconteceram em diversas capitais e cidades do interior, mostrando a combatividade e a disposição das mulheres para a luta.

“Nós conseguimos fazer um vitorioso 8 de Março, relembrando a luta das mulheres trabalhadoras pela destruição do sistema capitalista, e também por direitos para que a gente avance”, relata Samara Martins, vice-presidente da Unidade Popular.

O Movimento de Mulheres Olga Benario esteve nas ruas construindo atos em 22 estados do país para denunciar o alto custo de vida, as violências que as mulheres ainda sofrem diariamente, as guerras imperialistas que têm assolado o mundo, sobretudo na Palestina, pedir diminuição da jornada de trabalho e prisão para Bolsonaro e os generais golpistas.

8 de março é dia de luta

A sensação que a burguesia, e até mesmo partidos da social-democracia, quer colocar para as mulheres no dia 8 de março é que, agora, não há mais razão pela qual lutar, que as mulheres já vivem bem, e que os direitos já concedidos às mulheres, como o voto e a Lei Maria da Penha — direitos esses que, inclusive, foram conquistados através da luta organizada — são o melhor que elas podem ter. Então o propósito do dia 8 de março seria apenas festejar essa vitória.

Na verdade, a crise do sistema capitalista somente precariza cada vez mais a vida das mulheres: elas ainda recebem 22% a menos que os homens pelo mesmo trabalho, e são elas as responsáveis por 48% dos lares brasileiros (Dieese). O aumento do salário (já absorvido pela inflação) não consegue acompanhar a alta nos preços dos alimentos. Nesse sentido, 60 milhões de pessoas passam fome em nosso país, em sua maioria mulheres e suas crianças.

“A fome se agrava no Brasil. E nós estamos aqui para dizer que não vamos morrer de fome enquanto o agronegócio embolsa milhões de reais de dinheiro público que está sendo revertido em planos para poder financiar esse genocídio contra o nosso povo. É absurdo que as mulheres sofram sem poder comprar um litro de leite, uma dúzia de ovos”, denuncia Vivan Mendes, presidenta estadual da Unidade Popular no ato do 8 de Março em São Paulo (SP).

Mais: somente em 2024, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) registrou 2,5 mil ações judiciais de violência contra a mulher por dia. O número de mulheres feridas por armas de fogo cresceu 42% nos últimos três anos; três em cada dez casos relatam já ter sofrido agressão prévia. As mulheres sentem cotidianamente a falta de políticas de combate a violência: em nosso país, há apenas 60 delegacias de atendimento à mulher (Deam) que funcionam 24 horas. São necessárias mais políticas de acolhimento e combate à violência contra as mulheres. Nesse sentido, o Movimento Olga Benario organiza as ocupações de mulheres, que são espaços para acolher mulheres em situação de violência, e sobretudo fazer a denúncia de que hoje o Estado brasileiro não têm feito o que pode pela vida das mulheres.

“No Paraná, fizemos o grandioso feito de colocar mais de 100 pessoas na rua com nosso movimento neste 8 de Março. Além das denúncias contra a carestia, pela prisão dos fascistas, fizemos a denúncia sobre o Paraná ter sido o estado que subiu de 3° para 2° lugar de estado que tem mais feminicídios tentados e consumados no país. Isso ao mesmo tempo em que a polícia e a Prefeitura faziam o despejo da nossa ocupação, a Casa Rose Nunes, e não temos resposta. A desocupação foi violenta, e não tem nenhuma perspectiva de novo espaço de acolhimento ou combate a violência”, denuncia Tayná Miessa, militante do Movimento Olga Benario em Curitiba.

“Na nossa intervenção do 8 de Março, em Mossoró (RN), senti que o Movimento Olga será a ponta de ponta de lança a organização de um movimento de mulheres realmente combativo, que faça as lutas. Hoje, no interior do estado nosso movimento é vanguarda, e mesmo outros movimentos e organizações sendo mais antigos na cidade, fomos muito bem recebidas com nossa intervenção pelas trabalhadoras,” conta Rebeca Canário, militante do Movimento na cidade.

Em Cajamar (SP), Vitória Regina de Sousa, de apenas 17 anos, desaparecida desde o dia 26 de fevereiro enquanto voltava do trabalho, foi encontrada morta no dia 5 de março. O caso de Vitória, infelizmente, ainda expressa uma realidade das mulheres brasileiras: enquanto voltava para casa, ela trocava mensagens de texto com sua amiga, expressando o medo que sentia ao perceber que estava sendo seguida por um grupo de homens. “Mesmo com o aumento da violência contra as mulheres no estado e na cidade de São Paulo, o governo de Tarcísio de Freitas congelou 96% do orçamento destinado às políticas para mulheres. Isso quer dizer que os serviços destinados ao acolhimento de mulheres estão sendo sucateados”, denuncia Nicole Ramos, do Movimento de Mulheres Olga Benario no ato do 8 de Março em SP.

Por tudo isso, se as mulheres desejam ser verdadeiramente livres, não podem se deixar enganar: é impossível viver livre da violência, da fome, das guerras, da ameaça do fascismo no sistema capitalista. A alternativa para as trabalhadoras é a destruição desse sistema pelas suas próprias mãos, e construir em seu lugar o socialismo, onde as mulheres terão uma igualdade verdadeira aos homens e serão, de fato, libertas.

No dia 8 de março é preciso organizar atos de rua cada vez maiores e mais massivos, denunciar a violência contra as mulheres e a real causa dessa opressão. É necessário convencer mais trabalhadoras que só a luta coletiva pelo socialismo é capaz de transformar a realidade.

Yago Oproprio e sua poesia crítica do cotidiano

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O rapper Yago Oproprio, de 29 anos, lançou neste ano seu primeiro álbum, “OPROPRIO”. Com 10 faixas, o disco apresenta uma reflexão poética sobre o cotidiano e as dificuldades impostas pelo sistema capitalista. Em letras que abordam temas como alienação, vícios e desigualdade, o artista destaca a importância da coletividade e da resistência.

Higo Castro | Belém (PA)


CULTURA – O rapper de 29 anos, nascido na Zona Leste de São Paulo, Yago Oproprio lançou este ano seu primeiro álbum, intitulado “OPROPRIO”. Contando com 10 faixas, de maneira leve e poética, Oproprio nos leva a refletir sobre inúmeras questões que nos passam batidas na correria caótica do dia a dia. O cantor levanta perspectivas sobre a forma em que vivemos no capitalismo, a forma como nosso tempo de vida é quase completamente tomado pelo trabalho e que quando reivindicamos ou sequer questionamos esse modo de vida, o sistema faz de tudo para que nossas aspirações coletivas sejam reprimidas.

“La Noche” e “Inofensiva”

Nestas faixas do álbum, Yago nos leva a pensar sobre como nos perdemos em ilusões efêmeras como roupas da moda ou vício em álcool e drogas, procurando uma forma de escape das dificuldades da vida, e como nesse caminho acabamos nos acomodando e até mesmo nos tornando mais brutos conosco e com os outros.

Além disso, nos faz pensar como tais “escolhas” muitas vezes nos levam às famigeradas crises de meia-idade (inclusive muito cedo), quando nos vemos sem saída em um círculo vicioso de questionamentos sobre o nosso sucesso pessoal. Esta infelizmente é uma vivência muito comum no sistema capitalista, não apenas na fase adulta, mas já a partir da entrada no mercado de trabalho durante a juventude.

“Sempre me enganando pra fugir pra qualquer pico / Bailão na quebrada, se me chama, eu apetito / Whisky mais barato com meu boot mais bonito / Eu bebo até ficar esquisito e volto em casa pra poder / Na medida exata da loucura e o compromisso / Daqui duas hora eu bato o ponto no serviço / Honro as minha fita, ninguém tem nada com isso/ E se o caminho foi do vício, eu precisava(La Noche, Yago Oproprio)

“Jejum”

A faixa mais explicita no quesito político: “Jejum” fala sobre o que temos em comum uns com os outros, afinal, todos que pegam ‘busão’, trabalham todos os dias para trazer seu sustento, fazem parte da mesma classe na sociedade capitalista, temos todos os interesses em comum.

A questão, como coloca o cantor em entrevista, é que “a internet […] ela trouxe… cada um que levanta sua bandeira e a gente excluiu o outro, e essa cultura de destruir, às vezes, quem erra, pode afastar alguns irmãos que poderiam estar com a gente colando junto para construir algo”.

Dessa forma, é preciso que busquemos pautas que sejam unificadoras, pautas que a polarização política não consiga nos distanciar de nossa própria classe, como exemplifica Oproprio: “a música chama jejum porque eu acho que existem dores e pautas que elas são universais pra quem pensa parecido, por exemplo a fome, ela me revolta, então eu vejo alguém passando fome na rua eu fico triste.”

“Tamo pensando em um por um, que revolta cada um / Linha do tempo pode nos comprometer / Se te incomoda esse jejum, temos dores em comum / Basta ‘nós’ saber reconhecer” (Jejum, Yago Oproprio)

 “O Desespero de Odete”

Em menção honrosa, uma faixa que não faz parte do álbum, mas que retrata bem como não basta questionar e reivindicar, mas partir para ação. “O Desespero de Odete”, música com colaboração do rapper Murica, conta a história de uma mãe que perde seu filho para opressão policial. Assim, Oproprio denuncia estas situações que são comuns nas periferias em seus versos:

“Eu ouvi Odete pedindo socorro / Duas da tarde no morro Brejão Santa Luz / E os ‘home’ que ‘invadiro’ sentaram o pipoco / E ela com os filhos nos braços fez sinal da cruz”

Como via de solucionar o problema, Murica complementa, ressaltando como a PM é uma herança da ditadura militar fascista e como é necessária a organização coletiva do povo para por fim a essa chaga da sociedade capitalista:

“Quem que matou, quantos morreu? / E os frutos que ano de 64 deu

Não, com nóis não, sangue bom / Se esqueceu que nóis é malan’ / E o que virá é a revolução / Não vejo fita dominada

Falta estudo e organização / Estratégia e aplicação / Presidente em decapitação / E um samba pra ouvir com a rapa”

E, por mais que a faixa seja de 2021, recentemente em nosso país, houve uma crescente nos casos de abuso de autoridade por parte da Polícia Militar, como a invasão de um velório por parte da corporação em Bauru (SP), no qual os agentes agrediram familiares de luto e prenderam um dos irmãos do morto. “A PM destruiu minha família e está tirando o meu direito de ir e vir porque estou com medo. Se eu vejo uma viatura, é capaz de eu ter um troço”, relata a mãe de Guilherme Alves, morto pela PM no dia anterior.

O rap desde seu surgimento tem se colocado como contracultura, retratando a difícil realidade do povo pobre periférico, em especial, o povo preto, questionando o racista sistema capitalista e nos fazendo refletir sobre a coletividade necessária para mudar essa situação. Yago faz parte de uma leva de artistas que revive essa trajetória questionadora que não se rende a padrões da indústria, é preciso, portanto valorizar artistas deste calibre, pois vale lembrar os versos de Lord em “Favela Vive 5”:

“Favela tá lutando, mas ainda não venceu / Se eu lembrar de quem morreu / Saudade, choro muitas vezes / Quem dera se eu matasse e nesses versos nós vivesse / Quem dera se eu ficando rico, favela vencesse” (Favela Vive 5, ADL)

Nasce a Casa da Mulher Trabalhadora Damaris Lucena

A Ocupação Damaris Lucena acaba de surgir, na semana do Dia Internacional da Mulher Trabalhadora, para enfrentar a violência de gênero na Zona Leste de São Paulo. Trata-se da 27ª ocupação do Movimento de Mulheres Olga Benario em todo o país

Redação SP


No último dia 5 de março, nasceu na Zona Leste de São Paulo a Casa da Mulher Trabalhadora Damaris Lucena, a 27ª ocupação organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benario.

Localizada no Itaim Paulista, uma das regiões da capital com maior índice de estupros no ano passado, a casa acolherá mulheres vítimas de violência e em situação de vulnerabilidade.

“Nós fizemos essa ocupação pela vida das mulheres, contra a violência, contra as enchentes criminosas de Ricardo Nunes e por memória, verdade e justiça. Reivindicamos mais serviços para as mulheres no Extremo Leste de São Paulo. Somos contra os governos fascistas de São Paulo e pela organização das mulheres trabalhadoras”, afirmou Nicole Ramos, coordenadora estadual do Movimento de Mulheres Olga Benario.

Descaso do Estado

Primeira assembleia da Casa da Mulher Trabalhadora contou com alegria e muita combatividade. Foto: Estefani Maciel/JAV SP
Primeira assembleia da Casa da Mulher Trabalhadora contou com alegria e muita combatividade. Foto: Estefani Maciel/JAV SP

Na região do Itaim Paulista, onde foi fundada a ocupação, foram registrados 249 casos de estupro em 2024, segundo estatísticas oficiais. Dessa cifra, 199 foram crimes contra menores de 13 anos de idade.

Apesar dos altos índices de violência, a Prefeitura e o Governo Estadual de São Paulo não oferecem qualquer serviço para acolher as vítimas. Em toda a região, não existe nenhuma delegacia da mulher 24 horas – e o único Centro de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM) sofre com um processo de terceirização e precarização.

Esse cenário é reflexo da política fascista do prefeito Ricardo Nunes e do governador Tarcísio de Freitas, que atacam as mulheres e o povo paulista.

No ano passado, Tarcísio congelou 96% das verbas estaduais destinadas às políticas de combate à violência contra a mulher.

Por sua vez, Nunes fez pior. Além de reduzir em 38% os recursos municipais para programas de acolhimento de mulheres vítimas de violência, sua gestão tenta ilegalmente interromper o serviço de aborto legal em equipamentos como o Hospital Vila Nova Cachoeirinha. O prefeito da capital paulista também promove uma ofensiva de privatização e terceirização que precariza os serviços públicos de assistência social e saúde, essenciais para o combate à violência contra a mulher.

“Só a luta organizada das mulheres vai conseguir enfrentar o fascismo do Nunes e do Tarcísio e reverter essas privatizações de serviços públicos”, afirmou Beatriz Zeballos.

A revolucionária Damaris Lucena

Além de buscar ser um centro de organização da luta pelo fim da violência de gênero, a ocupação também homenageia com seu nome uma grande revolucionária da história brasileira.

Trabalhadora nascida no Maranhão, Damaris Lucena tornou-se líder sindical na Zona Leste de São Paulo e foi uma pioneira da organização das operárias pelo direito à amamentação de seus filhos nos locais de trabalho. Destacada lutadora da resistência à ditadura militar, ela foi torturada e viu seu companheiro ser morto por agentes da repressão, o que a levou a receber asilo político em Cuba. Damaris retornou ao Brasil com a Lei de Anistia.

Entre as demandas apresentadas pela nova ocupação em seu manifesto, estão a ampliação imediata da rede de atendimento à mulher em situação de violência na Zona Leste de São Paulo, o fim da privatização e terceirização dessas políticas e também a criação de um programa de habitação popular para vítimas de violência.

“Com a nova ocupação de mulheres, levamos adiante o legado de luta da operária Damaris Lucena no Extremo Leste de São Paulo”, concluiu Nicole Ramos.

O movimento pede que apoios sejam enviados para o Pix movimentoolgabenario.sp@gmail.com

Leia, a seguir, o manifesto da Casa da Mulher Trabalhadora Damaris Lucena.


Pelo fim da violência contra as mulheres! Por serviços públicos de qualidade na Zona Leste! Por direitos trabalhistas! Chega de governos fascistas! Pela vida das mulheres e pelo socialismo!

A violência contra a mulher explodiu em São Paulo em 2024. As estatísticas mostram que o estado registrou 250 feminicídios (13% a mais que em 2023), 10.665 casos de estupro de vulnerável e 1216 tentativas de homicídio, quase o dobro das ocorrências do ano anterior.

Cúmplices dessa gritante realidade da violência, os governos fascistas de Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes mostram que são contra a vida das mulheres. Tarcísio desviou 99% do orçamento da Secretaria Estadual da Mulher para a Secretaria de Transportes e cortou mais de R$5,2 milhões do orçamento de delegacias de defesa da mulher que funcionam 24 horas.

Já o prefeito Ricardo Nunes, mesmo com um caixa de 35 bilhões, reduziu em 38% a verba para os programas de acolhimento às mulheres vítimas de violência. Em sua gestão, cresceu a ameaça de fechamento dos serviços destinados às mulheres vítimas de violência, devido à proposta de transferência da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) para a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). Tudo isso sem a participação das trabalhadoras desses serviços e sem transparência do orçamento destinado a manutenção dos serviços, que deveria ocorrer segundo suas diretrizes de atuação.

Ricardo Nunes também tentou impedir o funcionamento do serviço de aborto legal do Hospital Vila Nova Cachoeirinha, que salva vidas de mulheres. Frente à pressão popular e à determinação da Justiça de que o serviço deveria funcionar, ele nomeou uma diretora bolsonarista para o hospital para perseguir as trabalhadoras e a população que luta por seus direitos.

Além de ter em seu nome acusações por não pagar pensão alimentícia e de agressão e injúria contra sua ex-esposa, Nunes está sendo investigado pela Promotoria do Patrimônio Público e Social do Estado de São Paulo devido ao envolvimento em corrupção de superfaturamento nos aluguéis de creches conveniadas com a prefeitura.

Por isso, fica claro que Ricardo Nunes e Tarcísio de Freitas não têm interesse algum na vida das mulheres. Pelo contrário: os serviços que atendem as mulheres são os primeiros a serem cortados das verbas, a serem fechados, sucateados e terceirizados. O lucro está acima da vida das  mulheres e das crianças da cidade de São Paulo.

A dura realidade das mulheres trabalhadoras na Zona Leste

A zona leste de São Paulo conta com 4 milhões de habitantes, em que mais da metade é feminina e é uma das regiões mais violentas para as mulheres. A partir dos dados do Mapa da Desigualdade, vemos que Itaquera está no topo da lista com 334 denúncias, seguido por Arthur Alvim 299 e  Guaianases 276, dentre outros bairros em que o número é igual ou superior a 200 denúncias. O total de registros é um número assustador de 2.123 casos anualmente, de vários tipos de violência cometidos contra as mulheres da região. Sabemos, porém, que é muito difícil para as mulheres chegarem a fazer a denúncia, por isso questionamos se a violência não deve ser muito maior do que os dados demonstram.

As denúncias de violência na região são grandes, mas os serviços públicos não são muitos: há apenas três Delegacias de Defesa da Mulher (DDM) na região do Tatuapé; Itaquera e São Mateus, as quais enfrentam muitas dificuldades para que as mulheres acessem esse serviço visto que estão em regiões afastadas dos extremos da Zona Leste. Além disso, a região conta com 7 Centros de Defesa e Convivência da Mulher (CDCM) que estão espalhados pela zona leste e cumprem o principal trabalho de acolhimento às vítimas de violência. Porém, a realidade é que as trabalhadoras desses serviços estão sobrecarregadas devido à alta demanda e à precarização do trabalho. Todos os CDCMs foram terceirizados e estão em condições precárias de trabalho e atendimento. As trabalhadoras estão em luta pela garantia de direitos e contra essa política de abandono do povo.

As precarizações e desmontes na prática significam a retirada de direitos das mulheres! Não basta ter um CDCM se não houver para onde encaminhar a mulher, programa de moradia popular, integração com os serviços de saúde, etc. O que Ricardo Nunes e Tarcísio têm feito é dificultar a atuação das profissionais nos serviços limitando suas opções no enfrentamento a violência, impedindo que funcione a rede de atendimento e enfretamento à violência contra as mulheres.

A terceirização faz com que trabalhadoras sejam demitidas. As que ficam, têm seus salários rebaixados, sobrecarregando os serviços. Por isso, as mulheres que sofrem violência muitas vezes não conseguem superar a situação que vivem, por falta de apoio e condições materiais. As trabalhadoras não têm culpa e acabam trabalhando de forma mais sucateada, sem investimento e muitas se cobram individualmente por essa situação, o que impacta sua saúde mental.

Além de tudo, a terceirização e a privatização são maneiras de o Estado tirar sua responsabilidade, privatizando e repassando um orçamento cada vez menor para as organizações que passam a administrar o serviço, precarizando-os cada vez mais e atacando a vida das mulheres!

Reivindicações

Historicamente, foram as mulheres que tomaram a frente das luras que conquistaram seus direitos. É o caso do direito à saúde, à educação, à moradia e principalmente às políticas destinadas ao combate à violência contra a mulher, como a Lei Maria da Penha. A luta pelo direito de se viver sem violência é uma constante no cotidiano de cada mulher trabalhadora.

Por esta razão, o Movimento de Mulheres Olga Benario organiza diariamente as mulheres trabalhadoras de todas as regiões do Brasil para lutar pelo fim da violência. Construindo ocupações que acolhem mulheres em situação de violência, promovem formações e organizam as mulheres para lutar por seus direitos e por uma sociedade em que o lucro não esteja acima de nossas vidas!

Por isso, agora decidimos construir também  a Casa da Mulher Trabalhadora Damaris Lucena no extremo leste de São Paulo! Chega de ser a região com maior índice de violência e com os serviços terceirizados! Chega de ver as crianças e as mulheres sendo estupradas e assassinadas! Chega de ser a região mais abandonada pelo poder público! Chega dessa política fascista e racista que explora a classe trabalhadora nos deixando viver na miséria e na violência!

Por isso, reivindicamos:

– O fim dos desmontes, privatizações e terceirizações das Casas de Referências(CRM) e Casas de Convivência e Defesa da Mulher (CDCM) e todas as demais políticas voltadas ao enfrentamento à violência.

– Pela ampliação imediata da rede de atendimento à mulher em situação de violência na zona leste, a criação de mais serviços de acolhimento, abrigamento e espaços seguros para as mulheres na região, além de serviços que possam funcionar 24 horas.

– Por um Programa de Habitação Popular para as mulheres que sofrem violência!

– Pela ampliação da verba destinada à política de atendimento às mulheres vítimas de violência na cidade de São Paulo. Não a redução de recursos para ações e serviços de enfrentamento à violência

– Por um espaço seguro para as mães, trabalhadoras, jovens e crianças do extremo leste.

– Pelo fim da violência contra as mulheres e do Feminícidio, Lesbocídio e  Transfeminícidio.

– Pelo fim da política fascista de Tarcísio de Freitas e Ricardo Nunes.

– Pelo combate a impunidade do golpe militar de 1964! Por memória, Verdade e Justiça.  Viva Damaris Lucena!

– Pelo fim da exploração das mulheres trabalhadoras! Pelo Poder Popular e pelo Socialismo!

Quem foi Damaris Lucena?

Damaris Lucena, mulher, negra, mãe, operária e comunista. Dedicou sua vida à luta sindical e em defesa da vida das mulheres, foi a primeira a conseguir o direito de aumentar o tempo de amamentação nas fábricas. Resistiu à ditadura militar, viu seu marido ser executado na sua frente, foi brutalmente torturada e separada de seus filhos. Chegou a ser exilada em Cuba com seus filhos, onde ajudou a criar  Ñasaindy Barrett de Araújo – filha de outra grande mulher revolucionária, Soledad Barrett Viedma. Damaris foi uma grande revolucionária que lutou pela construção de uma nova sociedade livre da fome, da miséria e da exploração. O legado de luta de Damaris continua vivo e lutaremos para a punição dos torturadores do passado e do presente, pelo combate à impunidade do golpe militar e por memória, verdade e justiça.

Não vamos admitir mais mortes de mulheres. Não vamos aceitar a condição de viver com medo de perder a vida ou sofrer violências físicas, psicológicas ou patrimoniais. Vamos agir, mobilizar e organizar as mulheres trabalhadoras exigindo nossos direitos e lutando por uma nova sociedade livre da exploração.

Venha conhecer e contribuir com a Casa da Mulher Trabalhadora Damaris Lucena!