UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 5 de maio de 2025
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Trabalhadores da Braskem do ABC Paulista fazem paralisações por piso salarial

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Com greve no ABC Paulista, operários denunciam prática abusiva da Braskem. A petroquímica terceiriza funções essenciais para empresas que pagam salários diferentes pelo mesmo serviço, gerando desigualdades entre os trabalhadores

Larissa Mayumi e Júlia Campos | Santo André (SP)


Na quinta-feira (14/11), trabalhadores das empresas terceirizadas que prestam serviço à unidade do ABC Paulista da Braskem, em São Paulo, realizaram uma forte paralisação em defesa de um piso salarial, denunciando as duras condições de trabalho na petroquímica. Entrevistado pelo jornal A Verdade, um trabalhador da manutenção que preferiu não se identificar explica as razões da nova greve, que vem na sequência de outras paralisações na empresa: “Somos contratados por uma empresa para prestar serviço para a Braskem. Aí, quando entra outra empresa para prestar o mesmo serviço por um custo menor, essa empresa quer contratar a gente com salário mais baixo”.

De acordo com uma recente reportagem da Folha de São Paulo, a Braskem lidera o ranking de empresas que mais receberam incentivos fiscais do governo. De janeiro a agosto deste ano, a empresa declarou que recebeu R$2,27 bilhões em dinheiro público. Apesar disso, trabalhadores terceirizados por empresas como Tecnosonda, CascaDura, Primer, Chiarelli, Tenente e Manserv são contratados pela Braskem com salários baixos e vínculos trabalhistas precários para realizar serviços fundamentais para o funcionamento da produção, como sonda, manutenção de máquinas, montagem de caldeiras, andaimes e vários outros trabalhos. Seus contratos podem ser quebrados a qualquer momento e, exatamente por conta desse regime de trabalho, os salários estão sempre diminuindo e a exploração aumentando.

Em sua paralisação, os trabalhadores defenderam que sejam instituídos salários iguais para quem faz a mesma função não só entre os funcionários diretos da Braskem, mas também para os terceirizados que prestam serviço para a empresa. “Aqui, cada um ganha diferente do outro, mesmo tendo o mesmo trabalho”, denunciou um trabalhador que exerce a função de torneiro mecânico e que também preferiu não se identificar. Ele acrescenta: “Além disso, ainda somos obrigados a fazer hora extra. Se não fizer, corre o risco de ser mandado embora”.

Outra denúncia realizada pelos trabalhadores é o excesso de trabalho que as empresas têm cobrado, conforme relata um trabalhador da CascaDura: “Eles mudam nosso horário, querem cortar as horas extras e custos, fazer a gente trabalhar no sábado e domingo. É o único dia que temos para ficar com a família, é o dia que tenho para ficar com meu filho”.

Apesar da exploração, os trabalhadores da Braskem têm sido firmes em apontar a greve como o caminho para enfrentar seus problemas no local de trabalho. Nos últimos meses, a categoria realizou diversas paralisações no ABC Paulista. Na semana passada, a paralisação contou com mais de 600 pessoas, denunciando o aumento de acidentes no trabalho e lembrando a morte de um trabalhador na explosão de um tanque no ano passado. O operário morto havia acabado de se tornar pai. As mobilizações também denunciam o crime ambiental promovido pela empresa em Alagoas, que deixou mais de 60 mil pessoas desalojadas.

Condições insalubres

O piso salarial não é a única bandeira levantada pelos trabalhadores da Braskem nas recentes paralisações: eles também denunciam a falta de reajustes, os riscos do trabalho insalubre, as restrições às greves e a dificuldade de aposentar.

Enquanto os políticos da burguesia recebem rios de dinheiro dos grandes bilionários para seguir aprovando medidas neoliberais e contrárias aos interesses dos trabalhadores, como denunciou a edição nº 302 do jornal A Verdade, amplos setores do povo vivem sem nenhum reajuste em seus salários desde a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência. “Essa nossa luta pelo reajuste salarial já tem 5 anos, e as coisas aumentaram muito nesse último período. O quilo do contrafilé tá 60 reais, ninguém mais consegue comprar carne vermelha com o salário que a gente ganha de 2 mil reais”, diz um trabalhador da manutenção. E complementa: “Queria ver o patrão viver com o salário que ele paga para gente, só assim ele vai entender o que é passar nosso sufoco”.

A insalubridade do trabalho também torna ainda mais duras as condições na Braskem. “A gente aceita trabalhar aqui porque tem um Vale Alimentação bom e um salário que fica mais aceitável porque pagam a insalubridade. Mesmo assim, estamos vendendo a nossa saúde e quase nada retorna para nós”, aponta um trabalhador das caldeiras. “Até para a gente se aposentar aqui é difícil, você já sai com sequelas do trabalho e ainda tem que contratar um advogado para conseguir dar entrada na aposentadoria, porque se não, não sai”, ele adiciona.

Frente a esse cenário de precarização, os trabalhadores denunciam que a reivindicação de seus direitos se torna mais difícil devido às limitações da legislação sindical, de que as empresas se aproveitam. “Se a gente fizer a greve agora, vamos ter que pagar as horas nas nossas férias de fim de ano”, aponta um funcionário da Manserv. “Para não acumular no banco de horas, a greve precisa passar por um juiz para que ela decida se é legal ou não”, complementa um operário da manutenção.

A despeito das dificuldades, a combatividade dos operários da petroquímica Braskem é um exemplo para os trabalhadores do ABC Paulista e de todo o país. Como vem agitando o Movimento Luta de Classes em suas ações de solidariedade à luta na empresa, as greves continuam sendo a melhor arma dos trabalhadores para conquistar melhores salários, derrubar as terceirizações, revogar a Reforma Trabalhista e a Reforma da Previdência, acabar com a escala 6×1 e conquistar uma sociedade socialista.

A dura vida das mulheres operárias em São Paulo

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No estado de São Paulo, mais de 736 mil mulheres são operárias. Apesar da presença expressiva na indústria, elas ainda recebem salários 14,7% menores que os homens e sofrem com maior insegurança em seus empregos

Larissa Mayumi


Em São Paulo, o estado mais populoso do Brasil, as mulheres são 51% da população de 44 milhões de habitantes, chegando a 23 milhões de pessoas, de acordo com dados da Fundação Seade de 2023. Além disso, São Paulo conta com 3 milhões de operários, a maior concentração do país. Entre eles, 1 a cada 4 é mulher, representando 736 mil operárias, segundo a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). A força dessas mulheres foi provada ao longo da história, sendo determinantes em inúmeras greves e protestos que conquistaram direitos para toda a classe trabalhadora.

Nas fábricas, a maior parte do que é produzido vai para o bolso dos ricos, enquanto a classe operária sofre com os baixos salários e o aumento da exploração e miséria. Em média, o salário de operárias é 14,7% menor que o salário dos homens na indústria, também de acordo com a FIESP. Essa situação só se sustenta a partir das ameaça de demissão e assédios constantes impostos pelos patrões contra as mulheres.

A operária da costura Paula atua em um ramo da indústria onde estão a maioria das operárias mulheres e denuncia: “Meu salário não é compatível com o desempenho do meu trabalho. Não só eu, mas todas as costureiras não são bem remuneradas, é quase um trabalho escravo! É um trabalho árduo”. A situação piora ao se considerar que a capital paulista apresenta a cesta básica mais cara do Brasil, com um custo médio de R$ 786, de acordo com o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

Além da exploração que vivem nas fábricas, com longas jornadas de trabalho mal remuneradas, 11,3 milhões de mães em todo o país têm de cuidar de seus filhos sozinhas e passam seus poucos dias de folga também trabalhando. “Quando não estou no emprego, ainda cuido de casa e fico com meu filho”, afirma Luzia*, também do ramo da indústria têxtil. Ainda acrescenta Paula: “Nas minhas folgas fico dentro de casa, é o que dá.”

Os sindicatos deveriam ser espaços fundamentais para organizar a luta das operárias em defesa de seus direitos. Apesar disso, não é assim que muitos sindicatos tem atuado. “Se a gente quiser lutar por um salário maior e pelos nossos benefícios adquiridos, nós sofremos pressão, porque a maioria fica com medo de reivindicar os direitos e ser mandada embora”, afirma Paula.

Além disso, ainda há muitos desafios para as mulheres em várias categorias. Conforme indica Clara*, metalúrgica e diretora de seu sindicato: “A luta organizada das mulheres trabalhadoras está avançando, mas ainda temos muitos desafios. Mesmo com os avanços, as mulheres ainda ganham menos que os homens, tem menos chances de ocupar cargos de liderança e enfrentam dificuldades para conciliar o trabalho fora de casa com as tarefas domésticas e os cuidados com a saúde”.

Apesar dos desafios, não faltam exemplos de lutas das mulheres operárias na nossa história. A primeira greve geral do Brasil, em 1917, foi desencadeada pelas mulheres de uma fábrica têxtil em São Paulo. Historicamente, as operárias do ABC Paulista também foram vanguarda na construção de mobilizações por creches para suas crianças.

No mundo, a luta das operárias já conquistou uma sociedade onde havia lavanderias coletivas, creches nas fábricas e escritórios, intervalos no trabalho para as mães irem à creche amamentar e uma jornadade trabalho reduzida para 6 horas: a sociedade socialista. Era, principalmente, uma sociedade onde as mulheres operárias, junto aos demais operários, tomavam as decisões sobre a produção e onde ela servia para o bem-estar dos trabalhadores, e não para o lucro de uma minoria. Os exemplos demonstram que só lutando por uma sociedade socialista as mulheres, especialmente as operárias, poderão conquistar seus direitos e sua libertação.

*Nomes fictícios para preservar a identidade das entrevistadas

“Ainda Estou Aqui”: filme resgata a história da resistência contra a ditadura militar

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Inspirado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, filho de Rubens Paiva, deputado assassinado pela ditadura militar nos anos 70, “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles retrata a luta da família para garantir de justiça em pleno regime militar.

Helô Francisca e Clóvis Maia | Recife – PE


CULTURA – “Ainda Estou Aqui”, filme do diretor Walter Salles se passa no Rio de Janeiro da década de 1970, no auge da ditadura militar, e através das lentes nos conta a história da família Paiva, sete pessoas que moravam na orla carioca, mas que tiveram suas vidas drasticamente mudadas quando militares, invadem a casa, armados e sem um mandato se quer, e sequestram o pai da família com a justificativa de que ele precisaria prestar um depoimento de rotina.

O pai em questão se tratava de Rubens Paiva, deputado federal por São Paulo, eleito em 1962 e que teria sido cassado pelo Ato Institucional Número 1 em abril de 1964 após o parlamentar ter feito um discurso incisivo na Rádio Nacional denunciando o caráter golpista dos militares. Rubens Paiva  nunca mais foi visto novamente depois daquela noite.

Uma denúncia atual

“Ainda Estou Aqui” foi inspirado no livro de mesmo nome do escritor Marcelo Rubens Paiva lançado em 2015, filho do ex-deputado e engenheiro brasileiro Rubens Paiva e da advogada Eunice Paiva, retratando a luta dessa mãe, que decide voltar aos estudos e se formar em Direito para descobrir o paradeiro do marido e cobrar justiça.

O longa retrata não só a dor da família Paiva, mas também reflete a dor de milhares de famílias brasileiras que tiveram seus entes queridos sequestrados e mortos pelos militares e seus corpos desovados em valas comuns.

Eunice, interpretada brilhantemente em dois momentos da vida da personagem pelas atrizes Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, é também uma mostra da força das mulheres que ousaram enfrentar o regime, além de mostrar como os militares eram cruéis, não apenas com os presos políticos, através de tortura e assassinato, mas também com seus familiares, ao perpetuarem sistematicamente a violência psicológica, perseguição, negação e falsificação da lei, da ordem e da justiça, passando desde a promoção de mentiras na imprensa até pelo acesso a um simples pedaço de papel, como um atestado de óbito, coisa que só veio acontecer com Marcelo Rubens Paiva 40 anos depois de ser torturado, assassinado no 1° Exército do RJ e enterrado posteriormente, tendo seus restos mortais desenterrados pelos milicos e jogados ao mar em 1973 numa queima de arquivo.

Infelizmente todos os envolvidos diretamente no sequestro e morte do ex-deputado não foram condenados, muitos se quer foram denunciados, como o Brigadeiro João Paulo Burnier, golpista daquele primeiro de abril de 1964, que comandava a Base Aérea do Galeão no RJ e que também foi acusado pelos assassinatos de Stuart Angel e Anísio Teixeira, ambos em 1971, mas que morreu na reserva, em 2000 aos 80 anos, homenageado pelo exército pelos serviços prestados.

O importante papel da Comissão Nacional da Verdade

O autor do livro Marcelo Rubens Paiva fez questão de agradecer nas redes sociais a ex-presidente Dilma Rousseff pela criação  e a importância da Comissão da Verdade. Segundo ele,  nem o livro nem o filme existiriam sem a atuação da comissão e da presidente:

“Tenha dito! Por conta da Comissão da Verdade, tive elementos para escrever o livro “Ainda Estou Aqui”, e agora temos esse filme deslumbrante. E Dilma pagou um preço alto pelo necessário resgate da memória.”

Criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012, a Comissão Nacional da Verdade foi um marco histórico em nosso país, tendo finalizado seus trabalhos com um relatório final contendo 29 recomendações para as autoridades nacionais e apesar de ter sido muito tímida se comparada ao que ocorreu na Argentina, retratada também num filme (“Argentina, 1985” de 2022), o trabalho e a criação da CNV foi fundamental para o país revisitar seu passado recente, inclusive sendo esses um dos motivos principais para o golpe de 2016 sofrido por Dilma Rousseff, tendo no caso Rubens Paiva um dos mais emblemáticos.

Um filme necessário

Dirigido por Walter Salles, que tem em seu currículo obras como Central do Brasil (1998), Abril Despedaçado (2001) e “Diários de Motocicleta” (2004) o filme Ainda Estou Aqui foi anunciado como concorrente ao Óscar em 2025, além de ter sido premiado no Festival de Veneza desse ano pelo melhor roteiro. A extrema-direita, claro, tratou de fazer uma campanha de boicote nas redes sociais, que se reverteu em mais de R$8,6 milhões de bilheteria no Brasil nos 4 primeiros dias e exibição, o que é por si só uma marca histórica no cinema nacional, tão inviabilizado dentro do circuito comercial de cinema no país.

Quando esse artigo foi fechado, mais de meio milhão de brasileiros já tinham ido ver o filme nos cinemas, que contou com momentos marcantes como a reabertura do histórico Cine São Luiz, no Recife, que reabriu suas portas depois de dois anos fechado e contou uma exibição gratuita do filme com a presença do diretor no início de novembro.

Mais do que reforçar a trilha sonora impecável, a boa montagem do Rio de Janeiro dos anos 70, a direção minimalista e delicada do diretor e uma fotografia e edição que garante uma imersão nesse drama realístico de nosso passado recente, o filme Ainda Estou Aqui coloca o dedo na ferida de quem insiste em não querer acertar as contas com o passado, exige a reparação histórica aos indivíduos atingidos pelas duas décadas de uma ditadura sanguinária e violenta e acende também o alerta para o perigo que ronda nossa sociedade por parte daqueles que, pela impunidade, ainda alimentam projetos golpistas como vimos recentemente no 8 de janeiro de 2023 e suas consequências. Por exemplo, o episódio recente do terrorista que se explodiu em Brasília no último 13 de novembro.

Como um lembrete para todos nós, o título do filme ressoa quando saímos do cinema e nos impele para luta: ainda estamos aqui.

Bolsonaro e generais são indiciados pela PF por tentativa de golpe de estado

Polícia Federal (PF) finalizou o inquérito das tentativas de golpe estado de 2022 e indiciou 37 pessoas, entre elas Bolsonaro e vários generais.

Redação


BRASIL – A Polícia Federal anunciou, na tarde desta quinta (21), a finalização do inquérito que investigava a organização criminosa que tentou dar um golpe de estado no Brasil em 2022. Ao todo, a polícia indiciou 37 pessoas, incluindo o ex-presidente fascista Bolsonaro e o general Walter Braga Netto.

O anúncio ocorre dois dias depois da operação da PF que desarticulou o grupo de militares e policiais que organizaram um plano para assassinar o presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.

Em nota, a Polícia afirma que a quadrilha de Bolsonaro se organizou em 6 núcleos operacionais que desempenharam diferentes tarefas.

De acordo com a PF, “As investigações apontaram que os investigados se estruturaram por meio de divisão de tarefas, o que permitiu a individualização das condutas e a constatação da existência dos seguintes grupos:

  • a) Núcleo de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral;
  • b) Núcleo Responsável por Incitar Militares à Aderirem ao Golpe de Estado;
  • c) Núcleo Jurídico;
  • d) Núcleo Operacional de Apoio às Ações Golpistas;
  • e) Núcleo de Inteligência Paralela;
  • f) Núcleo Operacional para Cumprimento de Medidas Coercitivas”

Entre os indiciados estão também o general fascista Augusto Heleno, o ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem, o presidente do Partido Liberal (partido de Bolsonaro) Valdemar da Costa Neto e o ex-ministro da defesa, o general Paulo Sergio Nogueira.

Todos os indiciados são acusados de três crimes: abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de estado e formação de quadrilha. As penas máximas desses crimes pode chegar a 28 anos de prisão.

Agora caberá à Procuradoria Geral da República apresentar ou não uma denúncia ao Supremo Tribunal Federal para que os criminosos possam ir a julgamento.

O indiciamento dos criminosos fascistas é mais um passo adiante na luta pela prisão de Bolsonaro e seus comparsas. No entanto, o inquérito da PF até agora aparenta estar incompleto, já que não indicia nenhum dos filhos de Bolsonaro, cujo envolvimento com a máquina de fake news é bastante conhecido. Além disso, não consta da lista de indiciados diversos ministros de Bolsonaro que sabiam e foram coniventes com o golpe.

Esse cenário coloca a luta pela prisão do bando golpista fascista como uma das mais importantes da atual conjuntura nacional e impõe a necessidade de se continuar a pressão para que todos os fascistas sejam presos.

Ao todo temos um almirante, 7 generais, 13 coronéis e tenentes-coronéis, um subtenente, um major e um capitão. Já o núcleo civil era composto de 12 pessoas, sendo um deputado federal e dois policiais federais.

Confira abaixo a lista dos indiciados:

  1. AILTON GONÇALVES MORAES BARROS, capitão expulso por envolvimento com tráfico
  2. ALEXANDRE CASTILHO BITENCOURT DA SILVA, coronel
  3. ALEXANDRE RODRIGUES RAMAGEM, deputado federal e ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência
  4. ALMIR GARNIER SANTOS, almirante e ex-comandante da Marinha
  5. AMAURI FERES SAAD, advogado envolvido com a minuta do golpe
  6. ANDERSON GUSTAVO TORRES, ex-ministro da justiça
  7. ANDERSON LIMA DE MOURA, coronel
  8. ANGELO MARTINS DENICOLI, major que fez parte do governo de SP
  9. AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA, general e ex-chefe do GSI
  10. BERNARDO ROMAO CORREA NETTO, coronel
  11. CARLOS CESAR MORETZSOHN ROCHA, engenheiro que participou da tentativa de desacreditar as urnas eletrônicas
  12. CARLOS GIOVANI DELEVATI PASINI, coronel
  13. CLEVERSON NEY MAGALHÃES, coronel
  14. ESTEVAM CALS THEOPHILO GASPAR DE OLIVEIRA, general ex-membro do Alto Comando do Exército
  15. FABRÍCIO MOREIRA DE BASTOS, coronel
  16. FILIPE GARCIA MARTINS, ex-assessor de Bolsonaro
  17. FERNANDO CERIMEDO, argentino e divulgador de fake news sobre as eleições brasileiras
  18. GIANCARLO GOMES RODRIGUES, subtenente do exército
  19. GUILHERME MARQUES DE ALMEIDA, tenente-coronel
  20. HÉLIO FERREIRA LIMA, tenente-coronel
  21. JAIR MESSIAS BOLSONARO, militar expulso do exército nos anos 80 por atos terroristas e ex-presidente responsável pela morte de 700 mil pessoas durante a pandemia de COVID
  22. JOSÉ EDUARDO DE OLIVEIRA E SILVA, padre que participou de reuniões golpistas
  23. LAERCIO VERGILIO, general do exército
  24. MARCELO BORMEVET, policial federal
  25. MARCELO COSTA CÂMARA, coronel
  26. MARIO FERNANDES, general preso por causa do plano do assassinato do presidente Lula
  27. MAURO CESAR BARBOSA CID, coronel, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator
  28. NILTON DINIZ RODRIGUES, general de brigada
  29. PAULO RENATO DE OLIVEIRA FIGUEIREDO FILHO, jornalista e neto do ditador João Figueiredo
  30. PAULO SÉRGIO NOGUEIRA DE OLIVEIRA, general e ex-ministro da defesa
  31. RAFAEL MARTINS DE OLIVEIRA, tenente-coronel
  32. RONALD FERREIRA DE ARAUJO JUNIOR, tenente-coronel
  33. SERGIO RICARDO CAVALIERE DE MEDEIROS, tenente-coronel
  34. TÉRCIO ARNAUD TOMAZ, ex-assessor de Bolsonaro
  35. VALDEMAR COSTA NETO, presidente do Partido Liberal
  36. WALTER SOUZA BRAGA NETTO, general, ex-ministro da Casa Civil e ex-candidato a vice-presidente
  37. WLADIMIR MATOS SOARES, policial federal acusado de participar do plano do assassinato de Lula

Declaração do G20 mostra hipocrisia do imperialismo

Reunião do G20 termina com declaração cínica das maiores potências capitalistas do mundo sobre a pobreza e as guerras.

Redação


INTERNACIONAL – Nos dias 18 e 19 de novembro, o Rio de Janeiro foi palco de uma das principais reuniões das maiores potências capitalistas e imperialistas do mundo, o chamado G20. O grupo com as 19 maiores economias capitalistas do mundo, mais a União Europeia e a União Africana.

Pela primeira vez, o G20 foi presidido e realizado pelo Brasil. A presidência do governo brasileiro colocou como centro da pauta desta reunião o debate sobre a fome, desigualdade e a crise climática.

Os dois dias de conferência foram tomados por falas bonitas dos líderes mundiais e de chefes dos bancos da burguesia, como o FMI e Banco Mundial. Como todo espaço da burguesia internacional, o G20 mostrou a hipocrisia do sistema capitalista e do imperialismo no mundo.

Reunião do G20 e a hipocrisia capitalista

“Nós permanecemos resolutos em nosso compromisso de combater a fome, a pobreza e a desigualdade, promover o desenvolvimento sustentável em suas dimensões econômica, social e ambiental e reformar a governança global”, assim termina a declaração final do G20. Ou seja, os mesmos países que hoje promovem as principais guerras no mundo, como EUA, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha dizem que vão combater a pobreza.

Em outro trecho do comunicado, os países afirmam que “nós reconhecemos que a desigualdade dentro e entre os países está na raiz da maioria dos desafios globais que enfrentamos e é agravada por eles”. O reconhecimento dos chefes políticos do capitalismo impressiona, já que presidem alguns dos países que lucram com a desigualdade no mundo.

O tom hipócrita foi a marca desta conferência do G20, o que já vem sendo a tônica nestes encontros todos os anos. O tema principal imposto pelo governo brasileiro, a luta contra a fome, foi abordado por todos os líderes.

O próprio presidente Lula lembrou que os países capitalistas gastam mais com guerras do que com o combate a pobreza. “Em um mundo que produz quase 6 bilhões de toneladas de alimentos por ano, isso é inadmissível. Em um mundo cujos gastos militares chegam a 2,4 trilhões de dólares, isso é inaceitável. A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais”, afirmou na abertura do encontro.

Ou seja, a reunião do G20 deixa claro que os países imperialistas e a maiores economias capitalistas sabem muito bem a origem da pobreza e da miséria do mundo. O que torna as posições sobre a luta contra as desigualdades apenas discursos vazios.

Conivência com o genocídio em Gaza e as guerras no mundo

Outro ponto que foi tratado com hipocrisia pela reunião do G20 foi o genocídio contra o povo palestino. Os países apenas se limitaram a apresentar preocupação com a destruição humana e material em Gaza, não condenando nem aprovando nenhum tipo de sanção contra Israel.

Essa posição cínica foi denunciada por movimentos sociais e organizações políticas no dia 16/11, quando 10 mil pessoas se mobilizaram debaixo de chuva intensa denunciando o genocídio palestino e exigindo o boicote à Israel. Confira a cobertura completa do Jornal A Verdade deste ato neste link.

Os mesmos países que estão no G20 são responsáveis pela maior parte do comércio com Israel. As potências imperialistas da Europa e os EUA são os principais financiadores e fornecedores de armas para o Estado sionista. China e Rússia, até agora, não romperam relações comerciais e diplomáticas com Israel, mesmo caso do Brasil.

A posição do Brasil, inclusive, foi evitar ao máximo tratar do genocídio no G20, com medo de criar divergências que impedissem uma declaração final. Ou seja, em troca de uma declaração que nada resolve, o governo optou por não pressionar nem denunciar o papel das potências imperialistas no genocídio de Gaza.

Países imperialistas do G20 são responsáveis pela fome e a guerra

O resultado da reunião do G20 foi a continuidade deste espaço em que os líderes mundiais aproveitam apenas para continuarem suas negociatas em nome da burguesia mundial. Para os povos do mundo, os líderes não apresentaram nenhuma alternativa a não ser a continuação da exploração capitalista e o domínio do imperialismo sobre a vida dos povos do mundo.

Nesse cenário, o que se coloca para os trabalhadores do mundo é a necessidade de continuar a luta contra a burguesia imperialista, representada pelos seus blocos. Seja no enfrentamento ao genocídio palestino ou na luta contra a exploração capitalista, raiz do problema da fome no mundo.

Casa Carolina Maria de Jesus sofre invasão na madrugada

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Na madrugada do Dia da Consciência Negra, dois homens invadiram a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus, em Santo André (SP). Em resposta, o Movimento de Mulheres Olga Benario convoca um ato às 14h na Prefeitura da cidade para a quinta-feira (21/11)

Guilherme Arruda, Felipe Gomes e Michi | Santo André (SP)


Na madrugada da quarta-feira (20/11), a Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus sofreu um ataque em sua sede, em Santo André (SP). O crime, perpetrado no Dia da Consciência Negra, foi denunciado pelo Movimento de Mulheres Olga Benario como uma agressão fascista contra uma casa que acolhe mulheres vítimas de violência desde 2021 e contra a atuação dos movimentos sociais na cidade.

Em imagens capturadas por uma câmera de segurança, dois homens investiram de ré com um carro contra a entrada da Casa Carolina, arrombando o portão e quebrando um relógio de água. No vídeo, disponível nas redes do jornal A Verdade, é possível ver o momento em que o carro invadiu o imóvel. Poucos segundos depois, um dos invasores sai de dentro da casa, o que demonstra que a intenção era forçar a entrada na Casa Carolina.

“O que aconteceu hoje foi uma violência política! Em pleno Dia da Consciência Negra e na mesma semana do Dia Internacional Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, que será no dia 25/11, um agressor de mulheres foi para cima do nosso portão com um carro, com a intenção de nos atacar”, denuncia Sofia Del Fiol, que é coordenadora da Casa Carolina.

A Casa acolhe mulheres em situação de violência. Por isso, uma das principais hipóteses do Movimento é que a invasão foi promovida por um dos agressores de mulheres atendidas.

Insuficiência da ação do Estado

A polícia foi acionada ainda na madrugada para atender à denúncia, e as coordenadoras da Casa foram à Delegacia de Santo André na tarde do dia 20/11 para fazer um boletim de ocorrência. Porém, para o Movimento, o decorrer desse processo demonstra a insufiência da atuação do poder público.

“O Estado não atende adequadamente as vítimas de violência contra as mulheres. Nós levamos à Delegacia todas as informações do caso, imagens, placa e documento do carro, e mesmo assim eles disseram que não poderiam fazer nada, por ser feriado. As mulheres só sofrem violência em horário comercial?”, questiona Larissa Mayumi, da Coordenação Nacional do Movimento de Mulheres Olga Benário.

Solidariedade à Casa Carolina

Na mesma tarde, o Movimento de Mulheres Olga Benario convocou uma plenária em defesa da Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus. Dezenas de pessoas compareceram, entre apoiadores, moradores do bairro e militantes. No evento, as coordenadoras do Movimento expuseram o que aconteceu e foi feito um debate que culminou com a convocação de uma manifestação para o dia seguinte.

A concentração da manifestação será a partir das 14h desta quinta-feira (21/11), na frente da Prefeitura de Santo André, e já conta com a participação do Movimento de Mulheres Olga Benario, da União da Juventude Rebelião (UJR), Movimento Luta de Classes (MLC) e do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

O ato foi marcado na Prefeitura de Santo André porque o espaço onde a Casa Carolina funciona foi cedido pelo Poder Municipal, e o Movimento de Mulheres Olga Benario destaca que é obrigação do Estado garantir as condições para que o serviço de atendimento às mulheres funcione e siga salvando vidas.

“A Casa é uma parceria do movimento com a Prefeitura, e, portanto, ela também precisa se responsabilizar pela segurança e manutenção da Casa. Hoje, nós desenvolvemos o trabalho apenas com voluntárias da equipe técnica e apoiadoras da luta”, explica Natália Pires, coordenadora da Casa Carolina.

A luta das mulheres da Casa Carolina

A Casa Carolina Maria de Jesus é uma das 23 ocupações do Movimento de Mulheres Olga Benario no Brasil, que acolhe pessoas em situação de violência doméstica e luta pela defesa dos direitos das mulheres, da juventude e dos trabalhadores. Fruto da extensa luta das mulheres do ABC Paulista, a ocupação é um dos primeiros centros de acolhimento da região e organiza oficinas e palestras, além de apoio direto às vítimas, ajudando na denúncia e acompanhando seu processo. A existência da Casa é de extrema importância para a mobilização feminista na cidade e para a denúncia da sociedade patriarcal no país.

Em vídeo publicado na página oficial da Casa Carolina Maria de Jesus, a coordenadora Natália Pires pede apoio financeiro: “A nossa casa precisa ter o seu portão de volta no lugar, precisamos reforçar a nossa segurança. Precisamos consertar o nosso portão e colocar câmeras aqui.” Para contribuir na manutenção do espaço, doações são aceitas na chave Pix: movimentoolgabenario.sp@gmail.com.

Além disso, apesar de ser uma casa cedida pela Prefeitura, as ações da Casa Carolina são organizadas de forma completamente independente, e ela resiste sem financiamento público e empresarial. A contribuição periódica para o trabalho de acolhimento pode ser realizado pelo link do Apoia-se: apoia.se/pelavidadasmulheres.

SERVIÇO

Ato em defesa da Casa da Mulher Trabalhadora Carolina Maria de Jesus

Quando: Quinta-feira, 21/11, às 14h

Onde: Praça IV Centenário, s/n, Centro, Santo André/SP

CONHEÇA AS REDES DA CASA CAROLINA

Instagram: https://www.instagram.com/casacarolina.abc/

Facebook: https://www.facebook.com/share/1WLs7D2Kym/

A luta do povo negro é uma luta da classe trabalhadora

No Brasil, a escravidão negra foi decisiva para a formação do capitalismo e a continuidade desse sistema de exploração depende do racismo. Por isso, a luta coletiva e organizada do povo negro por sua emancipação é uma luta revolucionária

Kleber Santos e Bento Xavier*


Através da cultura popular, o povo negro tem transmitido a sua história passada e sua realidade presente para o conjunto da população. Ela tem sido um meio para expor a realidade que o povo negro vive, mas também uma forma de enfrentar a história contada pelos meios da classe dominante. O grupo paulista de rap Racionais MCs é um dos principais exemplos dessa forma de expressão.

Na música “A Vida É Desafio”, o vocalista Mano Brown começa uma de suas interpretações com a seguinte fala: “Desde cedo, nossas mães falam assim: ‘Filho, por você ser preto, tem que ser 2 vezes melhor’. Aí eu pensei: ‘Como ser 2 vezes melhor se você tá pelo menos 100 vezes atrasado pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pelas psicoses, por tudo que aconteceu? Duas vezes melhor como?’”.

A realidade dos negros é cruel. Foram quase 400 anos de escravidão no Brasil, sendo ele o último país das Américas a fazer a abolição da escravatura. E pior: por ter mantido a estrutura de desigualdade entre as raças, ela ficou conhecida como “falsa abolição”.

Com a invasão colonial ao nosso país, a busca desenfreada de Portugal por novos territórios para saquear as riquezas e manter a abundância da nobreza levou à implementação de um dos regimes escravistas mais violentos e opressores do continente.

Como os povos originários não se submeteram ao trabalho forçado que os portugueses queriam impôr, a tentativa de dominação desses povos e o roubo de seus territórios provocou a morte de mais de 2 milhões e 500 mil indígenas. Decidida a explorar essa terra abundante, a Coroa Portuguesa sequestrou da África mais de 5 milhões de negros e negras, submetendo-os a todo tipo de humilhação, açoite e perversidade. Muitos morreram de doenças, maus tratos e torturas nos navios negreiros que os traziam de outro continente.

Escravismo foi base do desenvolvimento do capitalismo no Brasil

O escravismo foi essencial para o surgimento e desenvolvimento do capitalismo no Brasil, com a passagem dos meios de produção das mãos do senhor de escravos para a burguesia. Em alguns casos, senhores de escravos e burgueses eram até mesmo representantes das mesmas famílias, que mudaram sua relação de trabalho com a mão de obra utilizada.

No escravismo, nós, negras e negros, éramos tratados como coisas, sem nenhum direito à saúde, moradia, educação, trabalho digno, lazer e cultura. Hoje, vivendo em um dos países mais desiguais do mundo, ainda temos muitas barreiras que impedem uma vida digna.

Somos a décima maior economia do mundo, o terceiro maior produtor de grãos, o maior produtor de frango e o sétimo país com mais bilionários. Por outro lado, também somos o décimo quarto país mais desigual, com 64,2 milhões que passam fome, temos a quarta maior taxa de desemprego e mais de 11 milhões de pessoas não sabem ler nem escrever. Nessa contradição, 1% dos ricos concentram mais da metade da riqueza.

São muitas as contradições provocadas pelo capitalismo e nós, população negra, somos a parcela mais atingida: 70% dos que passam fome, 71% dos desempregados, 90% dos assassinados pela polícia. Entre os analfabetos, há duas vezes mais negros que brancos.

Como se garante a justiça social em um sistema social, político e econômico como esse? A grande burguesia e a elite branca descendente de europeus, privilegiadas com essas mazelas sociais, defendem que isso é possível. Para isso, mobilizam as ideias da extrema-direita e do fascismo.

O capitalismo depende do racismo

Pretos e pardos, apesar de sermos mais de 55% da população do Brasil e estarmos no centro da exploração, vivem às margens da estrutura social. As instituições como o Parlamento, o Poder Executivo, o Poder Judiciário, os partidos (nesse caso, com a honrosa exceção da Unidade Popular, a UP), os meios de comunicação, todos são majoritariamente compostos e controlados por brancos burgueses.

Apesar de tantas barbaridades e crimes provocados pelos ricos contra nós, a nossa história é baseada também em várias revoltas e rebeliões organizados por revolucionários como Dandara e Zumbi dos Palmares. A coragem e altivez do nosso povo são refletidas nas lutas do Quilombo dos Palmares, da Conjuração Baiana, da Revolta dos Malês, da Balaiada, da Revolta da Chibata e da Revolta de Queimado.

No Brasil, nem sempre os negros tiveram o direito ao voto, ou seja, o reconhecimento do Estado do nosso direito político no meio institucional. Mesmo assim, o desprezo que as classes dominantes do país tem pelo povo e a necessidade de empregar a violência para impor tamanha exploração, fizeram com que vivêssemos longos períodos de ditadura que invalidaram esse direito ao voto. A militarização dos espaços políticos e educativos representa maior risco à nós, negros e negras, que somos as principais vítimas da violência de Estado. É preciso ampliar as lutas para acabar com a exploração e o racismo.

Temos que combater a ideologia individualista que nos cerca e propagandeia que “a favela venceu” pelo enriquecimento financeiro de alguns, enquanto a realidade de exploração se mantém. Devemos seguir os exemplos históricos de luta coletiva e organizada do nosso povo, fortalecendo e impulsionando a luta de classes para quebrar as correntes que nos oprimem. Só isso será, de fato, a vitória do povo negro e trabalhador.

*Kleber Santos é coordenador nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) e militante da Unidade Popular. Bento Xavier é militante da Unidade Popular.

Plano golpista de generais previa assassinato do presidente Lula

Operação prendeu 4 militares e um agente da Polícia Federal, entre eles o general fascista Mário Fernandes, acusados de terem planejado o assassinato do presidente Lula, Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes.

Redação


BRASIL – A operação da Polícia Federal de hoje denunciou uma nova frente da ação golpista realizada no país durante os meses finais do governo do fascista Bolsonaro. O plano dos militares golpistas seria dar um golpe de estado no dia 15 de dezembro de 2022, com o sequestro e assassinato do presidente Lula, o vice Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Todos os militares eram ligados às chamadas forças especiais do Exército, os chamados “kids pretos”, que ficam sediadas em Goiânia. Esse grupo militar já é suspeito de atuar em outros atentados fascistas, como os ataques de 8 de janeiro de 2023.

A ideia dos militares era cortar a linha de sucessão presidencial três dias após a diplomação da chapa de Lula e impedir qualquer reação do TSE. Após o assassinato das três autoridades, o plano golpista previa a criação de um “gabinete de crise” composto pelos generais fascistas que compunham o governo Bolsonaro, como Walter Braga Netto e Augusto Heleno.

O plano golpista, segundo a PF, foi organizado em uma reunião na casa de Braga Netto, em Brasília, no dia 12 de dezembro de 2022. Neste dia, gangues fascistas atacaram a sede da Polícia Federal em Brasília e incendiaram vários carros e ônibus, num ato contra a diplomação de Lula e Alckmin.

De acordo com o inquérito, os militares cogitaram várias formas de realizar o assassinato do presidente Lula, incluindo o envenenamento, mesmo método que agentes da Ditadura Militar teriam usado para assassinar o ex-presidente João Goulart, em 1976.

Líderes golpistas ainda não foram presos

A realização da operação de hoje é mais uma prova de que Bolsonaro tentou por todos os meios dar um golpe e acabar com a democracia no Brasil. Os ataques fascistas de 8 de janeiro foi a continuação do plano golpista desenvolvido ao longo dos 4 anos do governo do ex-capitão.

A tentativa de assassinato entra, agora, na lista de projetos golpistas descobertos pelas investigações. Desde 2022, já foram revelados uma série de planos golpistas: a tentativa de usar a Polícia Rodoviária Federal para atrapalhar a realização do 2º turno das eleições, uma proposta de decreto de intervenção no TSE e instauração do Estado de Defesa, uma bomba instalada no Aeroporto de Brasília no natal de 2022, os acampamentos fascistas nas portas dos quartéis (financiados por empresários aliados de Bolsonaro) e os atos de 8 de janeiro.

Na sexta-feira passada, um homem-bomba tentou invadir o plenário do STF para assassinar os ministros. Sem sucesso na ação, ele cometeu suicídio. O terrorista era filiado ao partido de Bolsonaro, o PL, e foi candidato nas últimas eleições.

Todas essas ações mostram a amplitude do movimento golpista de Bolsonaro no Brasil. Envolvendo empresários milionários, generais fascistas e membros do antigo governo. O que falta, então, para a prisão definitiva de Bolsonaro, Braga Netto, Augusto Heleno e outros chefes golpistas?

2 anos após as 4 tentativas de golpe de Bolsonaro, ele e seus cúmplices continuam soltos e tendo liberdade de continuar organizando o campo fascista no país. O receio que muitos membros do atual governo e da social-democracia de fazer uma ação mais contundente contra os golpistas mostra que a demora na prisão desses criminosos pode ter um custo alto para a defesa das liberdades democráticas em nosso país.

Após o atentado no STF e a revelação do plano para assassinar o presidente Lula, fica evidente que qualquer conciliação para realizar uma “anistia” em favor dos fascistas só servirá para entregar de bandeja nossos direitos e liberdades para Bolsonaro e sua gangue.

Ocupação da Escola Estadual Dr. Ablas Filho conquista reivindicações em Santos

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Pressionada pela mobilização, Secretaria de Educação assinou termo de compromisso para atender parte das reivindicações dos estudantes. Ocupação da Escola Estadual Dr. Ablas Filho, em Santos (SP), exigiu melhorias na infraestrutura escolar e fim do Novo Ensino Médio

Rebele-se Baixada Santista e Redação SP | Santos (SP)


Nesta terça-feira (19/11), a Escola Estadual Dr. Ablas Filho, em Santos (SP), foi ocupada por seus estudantes, que levantam a bandeira da defesa da educação pública e de melhorias na infraestrutura da escola. A mobilização conta com a participação do grêmio estudantil. Em sua carta de reivindicações, os estudantes exigem a instalação de ar-condicionado, a reforma da quadra poliesportiva, a contratação de mais inspetores, a construção de uma gestão democrática da escola em diálogo com os estudantes, o respeito à autonomia do grêmio e a não-perseguição dos estudantes que estão construindo essa justa luta.

“A gente vem fazendo essas reivindicações há muito tempo, especialmente desde que a atual gestão do grêmio assumiu. A gente mandou três abaixo-assinados para a Secretaria de Educação e não obteve resposta para nenhum deles”, denuncia a estudante Carol, entrevistada pelo jornal A Verdade.

Os estudantes que constroem a ocupação da escola em Santos denunciam que a precarização do ensino público é parte da estratégia do governo fascista de Tarcísio de Freitas e dos empresários da educação para empurrar a proposta “salvadora” de privatização das escolas, garantindo lucros fabulosos para os ricos com mensalidades e taxas para os serviços de escolares.

Entendendo a ligação do cenário de sua escola com a conjuntura de ataques à educação, os estudantes da E. E. Dr. Ablas Filho ressaltam que sua luta também é pela revogação do Novo Ensino Médio, o fim da militarização e plataformização das escolas, o fim dos leilões das escolas para o setor privado e a rejeição da criminosa PEC 9/2024 do governador Tarcísio de Freitas, que busca cortar R$10 bilhões do orçamento da Educação em São Paulo.

“A gente não tá fazendo só pelo Ablas, mas por todas as escolas”, continua a estudante Carol.

PM reprime a luta

Logo pela manhã, em vez de se dispor ao diálogo com os estudantes, o governo de São Paulo enviou diversas viaturas da Polícia Militar para reprimir a mobilização pacífica. Estudantes foram levados à delegacia e spray de pimenta foi lançado contra o rosto dos jovens que estavam presentes. Apesar disso, sob a palavra de ordem “educação não é caso de polícia”, os estudantes seguiram de cabeça erguida e mantiveram a ocupação.

Horas depois, ainda no período da tarde, a opção pela tática combativa de luta se mostrou vitoriosa. Pressionada pela ocupação e pela denúncia da truculência policial, a Secretaria de Educação assinou um termo de compromisso em que se dispõe a atender mais da metade das reivindicações apresentadas pelos estudantes.

Desde o início da jornada de luta, a União da Juventude Rebelião (UJR) e o Movimento Rebele-se na Baixada Santista estiveram presentes na E. E. Dr. Ablas Filho para apoiar a mobilização e denunciar o papel repressor da PM. “Convidamos todo mundo a apoiar a ocupação dos estudantes em defesa dos seus direitos. Lutar não é crime”, afirmou Giovana, militante da UJR.

Com suas ações, os estudantes da Baixada Santista demonstraram na prática que só a luta é capaz de garantir que os interesses da juventude e do povo sejam atendidos e, principalmente, que a Secretaria de Educação pode se dobrar frente às ocupações estudantis. Por isso, a UJR e o Movimento Rebele-se convocam os estudantes a construírem novas ocupações e dar um novo impulso à luta por uma educação democrática e pelo socialismo.

Vladimir Carvalho e o Cinema Novo

A vida de Vladimir Carvalho foi marcada por grandes contribuições para o cinema brasileiro, pela resistência à ditadura militar e por sua atuação como professor de cinema e preservador dessa arte.

Redação Paraíba


ENTREVISTA – Faleceu, aos 89 anos, no dia 24 de outubro, o cineasta e documentarista paraibano Vladimir Carvalho. Sua vida foi marcada por grandes contribuições para o cinema brasileiro, pela resistência à ditadura militar e por sua atuação como professor de cinema e preservador dessa arte.

Sua primeira grande contribuição cinematográfica se deu por seu trabalho como auxiliar de direção no filme Cabra Marcado Para Morrer, de Eduardo Coutinho. Filme cuja produção começou às vésperas do golpe militar de abril de 1964, e que só teve a produção finalizada em 1984, por causa da perseguição política sofrida. O filme conta a história de João Pedro Teixeira, dirigente das Ligas Camponesas na Paraíba, assassinado por latifundiários em 1962.

Vladimir dirigiu diversos filmes durante as décadas de 1960 e 1970 e se consolidou como um dos nomes influentes do que viria a ser chamado de Cinema Novo, movimento cinematográfico marcado pela denúncia da desigualdade social no Brasil, que trouxe ao cinema brasileiro uma identidade única, sem ser apenas mais uma cópia latino-americana do estilo de produção de cinema de Hollywood.

Um de seus filmes de destaque dentro desse movimento foi o documentário O País de São Saruê, de 1971. O filme relata a vida dura, marcada pela pobreza e pelas secas, dos trabalhadores do sertão paraibano. Mais uma vez, a produção do filme sofreu perseguição política por parte da ditadura militar, sendo mantido sob censura por oito anos.

Para falar mais sobre Vladimir, o jornal A Verdade entrevistou João de Lima, professor de cinema da Universidade Federal da Paraíba.

A Verdade – Como documentarista, qual o lugar de Vladimir Carvalho para o cinema brasileiro?

João de Lima – Vladimir Carvalho está no nascedouro do Cinema Novo, pois fez parte de uma geração muito comprometida com o desenvolvimento de uma cinematografia crítica e, ao mesmo tempo, inventiva em relação aos preceitos estéticos da obra cinematográfica. Fez jornalismo e crítica cinematográfica antes de iniciar sua carreira como cineasta. Está em constante evolução de seu pensamento estético, mesmo que, em algum momento, tenha afirmado que não tinha uma estética definida. Foi amigo, na Bahia, de praticamente todos os artistas que despontaram em diversas áreas da cultura. Glauber Rocha o chamava de “Vertov das caatingas”, em alusão ao mais inquieto e importante dos cineastas da então URSS, que influenciou o mundo inteiro com suas ideias. É, portanto, contemporâneo e atual, pois renovava muito sua obra.

Quais os desafios de fazer cinema no Brasil durante a ditadura militar? Como Vladimir lidou com isso?

Fui assistente de montagem no filme Conterrâneos Velhos de Guerra e pude ver como ele lidava com problemas crônicos do cinema brasileiro, especialmente a falta de políticas estabilizadoras de produção contínua para autores brasileiros. Durante a ditadura civil-militar, muitas vezes circulavam nos festivais listas pedindo a liberação dos filmes que mofavam nas prateleiras da censura, como aconteceu com o filme O País de São Saruê. Vladimir lidava contra a censura acionando as formas de articulação coletiva, como a ABD, da qual foi um dos fundadores, em Brasília, onde estava radicado há anos.

Ele estava animado com o projeto de criação de um Museu do Cinema em Brasília. Como esse novo equipamento público pode impulsionar a produção cinematográfica brasileira?

O Iphan está acolhendo os materiais que Vladimir Carvalho juntou por décadas, e a Cinemateca Brasileira foi depositária, por exemplo, dos negativos do filme Conterrâneos, entre outras obras. Aliás, partes não usadas neste filme serviram a outros projetos, como o filme sobre a invasão da UnB e sobre o movimento de rock na capital federal.

Saudamos todos resistem e lutam pela preservação, semeação e germinação do cinema brasileiro. Viva o Cinema Novo! Viva Vladimir Carvalho!

Matéria publicada na edição 302 do Jornal A Verdade.

Torturas nos presídios do Ceará mostram resquícios da ditadura

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Investigações da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) apontaram que 72 detentos da Unidade Prisional Professor Olavo Oliveira II (IPPO II) sofreram agressões e tortura.

Redação Ceará


BRASIL – Em 2023, a Defensoria Pública do Ceará publicou um relatório indicando torturas nos presídios do estado. Dentre os relatos, estão escoriações nas mãos, pernas, virilhas, testículos e abdomens.

Em abril de 2019, um relatório do Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (MNPCT) apontou o uso contínuo e sistemático de práticas de tortura por policiais penais do sistema prisional do Ceará.

Investigações da Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário (CGD) apontaram que 72 detentos da Unidade Prisional Professor Olavo Oliveira II (IPPO II) sofreram agressões leves ou graves.

Após vistoria, foi aberto processo administrativo e 11 policiais penais estão sob investigação por torturar e quebrar dedos de detentos da unidade prisional, no Município de Itaitinga, na Grande Fortaleza.

Denúncias de torturas nos presídios do Ceará não são apontadas apenas nos mais recentes relatórios, mas é uma prática contínua e uma política de tratamento.

O jornal A Verdade foi ao presídio IPPO II ouvir os familiares dos apenados e recebemos relatos de contínua prática de torturas e más condições, entre elas: pouco fardamento; roupas de tamanhos mais apertadas de forma proposital; falta de calçados e de camisas; escoriações.

Entre as denúncias, fomos informados de que o presídio recebe, mas não está entregando os malotes (materiais de higiene), levados pelos familiares. Além das corriqueiras humilhações e comentários que os familiares são submetidos ao visitar seus parentes.

“Ver ele daquela forma me comove e não só atinge ele, mas me sinto presa junto, a incerteza do que pode acontecer deixa a família ansiosa e, ao mesmo tempo, revoltada. Como alguém pode ser ressocializado se vive sob tortura e opressão dessa forma?”, destaca um familiar ouvido por nossa reportagem.

Apuração e punição aos torturadores

A prática da tortura no Brasil está enraizada em uma larga cadeia de impunidade. Praticada abertamente por quatro séculos de escravidão oficial, as torturas entraram nas forças policiais como forma de manter o domínio sobre o povo explorado.

Usada como ferramenta, a tortura foi amplamente utilizada e potencializada no período da ditadura militar, que assassinou e torturou centenas de revolucionários, operários, camponeses, moradores das comunidades pobres, povos indígenas e quilombolas.

Resultado disso, temos exemplos antigos, como o massacre do Carandiru, que chacinou 111 apenados em São Paulo, em 1992, e também exemplos recentes, como a câmara de gás da PRF no caso do assassinato de Genivaldo de Jesus, em Sergipe, em maio de 2022. 

Junto aos entrevistados, exigimos apuração imediata e punição aos policiais penais envolvidos nessa prática odiosa que só desumaniza e não ressocializa.

Matéria publicada na edição 302 do Jornal A Verdade.