UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 26 de agosto de 2025
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Trabalhadores da Rede Mateus realizam paralisação em São Luís

Na manhã do dia 6/12, trabalhadores da rede de supermercados Mateus realizaram uma forte paralisação em São Luís (MA). Suas demandas incluem o reajuste salarial, o fim da escala 6×1 e o respeito a seus direitos trabalhistas.

Afonso Sodré e Erlik Quadros | São Luís (MA)


Na sexta-feira passada (6/12), os trabalhadores da rede de supermercados Mateus promoveram uma paralisação em uma das maiores lojas do grupo em São Luís, no Maranhão. Os funcionários decidiram cruzar os braços devido às péssimas condições de trabalho a que são submetidos diariamente pela empresa.

Entre as reivindicações da paralisação no grupo Mateus estão o aumento dos salários, o aumento do ticket de alimentação, melhores condições de trabalho e o fim da escala de trabalho 6×1. Além disso, os trabalhadores do supermercado do bairro Cohama, na zona nobre da capital maranhense, ainda reivindicam a modificação de seus horários, uma vez que são obrigados a trabalhar na loja até a meia-noite. Em São Luís, o transporte público só funciona regularmente até as 23 horas, e o grupo Mateus não oferece nenhum meio para que os funcionários voltem às suas residências. Denúncias de trabalhadores que acabam tendo que dormir nas lojas se tornaram cada vez mais comuns, mas nada foi feito.

Diante dessas situações,  os trabalhadores decidiram organizar a paralisação de advertência e denunciar o descaso do grupo com seus funcionários. Não só no Maranhão mas também em outros estados, a rede Mateus é conhecido pelas péssimas condições de trabalho a que submete seus funcionários e por reprimir a organização sindical dos trabalhadores. Prova disso é que a última greve realizada na empresa acabou com a maioria dos grevistas sendo demitidos poucos dias após o fim da paralisação. Além disso, o grupo atua constantemente para reduzir direitos dos trabalhadores.

Ao jornal A Verdade, o presidente do Sindicato dos Comerciários de São Luís, Edmilson Santos, afirmou: “Estamos acompanhando a situação dos trabalhadores do grupo Mateus. O sindicato tem prestado auxílio e busca atuar junto à categoria para melhorar as condições de trabalho não só nesta unidade, mas em todas as outras. Neste momento, estamos em contatos com trabalhadores de outras cidades para organizar uma ação ainda maior. Se não tiver retorno nas negociações, o caminho é uma greve geral”.

O grupo Mateus pertence ao empresário maranhense Ilson Mateus Rodrigues, considerado um dos homens mais ricos do país com uma fortuna na casa dos bilhões de reais. Enquanto Ilson Mateus acumula um patrimônio astronômico,  fruto da exploração dos trabalhadores,  os funcionários do supermercado precisam cumprir dupla função e trabalhar além do seu horário de trabalho regular.

É o que nos relatou uma das funcionárias do Mateus na paralisação: “Eu entro às 8h e minha saída deveria ser às 17h20, porém é quase rotina sair às 18h e até mesmo às 19h. É uma jornada exaustiva, porque fico no caixa passando as compras e tento que empacotar. Imagina esse Mateus lotado todo dia, passando carrinho e eu tendo que fazer duas coisas? Quem acaba sofrendo é minha filha de 2 anos, que quando chego em casa não tenho forças nem pra pegar ela no colo”.

Festa de 25 anos do jornal A Verdade reúne mais de mil pessoas em SP

Realizada na quadra do Stilasp, sindicato que representa os trabalhadores da PepsiCo que promoveram uma greve contra a escala 6×1, a comemoração dos 25 anos do jornal A Verdade em São Paulo teve como tema a solidariedade ao povo palestino

Guilherme Arruda e Junior de Sousa | São Paulo (SP)


No último domingo (15/12), mais de mil pessoas se reuniram na Zona Leste de São Paulo para celebrar os 25 anos do jornal A Verdade. Neste mês de dezembro, eventos por todo o país comemoram esse marco na história da imprensa popular no país. Na capital paulista, a festa ocorreu na sede do STILASP, que representa os trabalhadores da indústria alimentícia no estado, e registrou forte participação das trabalhadoras e trabalhadores organizados na Unidade Popular pelo Socialismo e nos movimentos que constroem o partido.  

A festa contou com debates sobre os 25 anos do jornal A Verdade e a solidariedade ao povo palestino, a exibição de um documentário comemorativo (em breve, disponível no canal do JAV) e saudações de organizações e entidades aliadas do jornal dos trabalhadores na luta pelo socialismo.

“Esse dia é um marco. Nós reunimos mais de mil pessoas para celebrar os 25 anos do jornal, demonstrando sua importância para o crescimento do trabalho político, convencendo milhares de pessoas a assumir a causa da luta pelo socialismo”, avaliou Fernando Alves, da redação nacional do jornal A Verdade.

“Nesse próximo ano, as nossas tarefas são dar continuidade a esse trabalho que a gente vem fazendo de agitação política, propaganda do socialismo e divulgação do nosso programa revolucionário, encadeando com as lutas do nosso povo, da juventude e das mulheres”, concluiu Fernando.

Uma mídia popular pela Palestina livre

Mesa em solidariedade ao povo palestino foi destaque da festa do jornal A Verdade. Foto: Estefani Maciel/JAV
Mesa em solidariedade ao povo palestino foi destaque da festa do jornal A Verdade. Foto: Estefani Maciel/JAV

Na mesa promovida na festa, os 25 anos do jornal A Verdade foram discutidos juntamente de uma das questões centrais do último período: o genocídio ocorrido na Palestina e a total falta de cobertura por parte da mídia burguesa da sequência de ataques brutais contra o povo trabalhador deste país.  

As intervenções de Quéops Damasceno (PCR), Vivian Mendes (UP), Seu Pedro (MLB) e Fernando Alves (Redação JAV) ressaltaram a importância do jornal A Verdade na grande virada ocorrida em todos os movimentos em direção à organização da luta da classe trabalhadora nas fábricas, ponto central do sistema capitalista. Figurou a ideia geral da mobilização revolucionária a partir das brigadas, multiplicando as paralisações, manifestações, greves e ocupações. 

O jornal A Verdade têm atuado de maneira firme e decidida para romper com o total apagão midiático dos crimes de guerra do estado de Israel contra a Palestina. Durante sua participação na mesa, Rawa Alsagheer, refugiada palestina e representante da Rede Samidoun de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos, afirmou: “Desde o início do genocídio, o jornal A Verdade não passou nenhuma semana sem denunciar essa questão”.

Aliados celebram luta do jornal

Como prova do papel cada vez mais central de A Verdade na conjuntura do país, a festa de 25 anos do jornal também contou com saudações de diversos aliados e apoiadores, que ressaltaram a sua importância no desenvolvimento das lutas e da organização da classe trabalhadora brasileira, em especial, no estado de São Paulo.

Paulo Viana, conhecido como Paulão, presidente da FITIASP (Federação Independente dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo), federação que representa 150 mil trabalhadores, entre eles os operários da Pepsico que recentemente ganharam destaque nacional ao promoverem a primeira greve contra a escala 6×1, afirmou: “Fizemos agora uma greve de nove dias pela redução da jornada de trabalho. Os trabalhadores não aguentam mais, estão exaustos. A presença da UP na greve fez a empresa entender que nós não estávamos sozinhos, que essa luta extrapolou as fronteiras do economicismo”. 

“Eu vejo para esse país um futuro vermelho. Com o jornal A Verdade, vocês escrevem e falam aquilo que não se falava mais. É uma luz no fim do túnel em um país em que é negado o direito à informação”, continuou Paulão.

Rick, da Ação Antifascista de São Paulo, reforçou a intensa colaboração de sua organização com o jornal A Verdade na luta contra o fascismo: “A gente tem uma leitura de que a extrema direita tem se desenvolvido muito rapidamente no Brasil como resultado da falta de capacidade de boa parte da nossa esquerda de participar da vida dos trabalhadores e se inserir na classe. Para gente, é um orgulho ter vocês como camaradas, porque o jornal A Verdade consegue ser uma ferramenta de ligação entre os trabalhadores e as ideias do socialismo”. No mesmo sentido, Bonzago do Coletivo Soberana reforçou que “o jornal A Verdade é um exemplo no esforço de organização da classe trabalhadora, e é com organização que nós vamos derrotar a mídia burguesa”.

Representantes dos movimentos sociais e organizações que constroem diariamente o jornal A Verdade, como Ligia Mendes (MLC), Victória Magalhães (MLB), Roseli Simão (Movimento de Mulheres Olga Benario), Ísis Mustafá (UJR) e Amanda Bispo (Unidade Popular), também fizeram saudações aos 25 anos do jornal e a seu papel na organização da luta dos trabalhadores.

Como apontou Ligia Mendes, do MLC, “há 25 anos, a mídia burguesa pensava que ia continuar enganando o povo impunemente. Hoje, nosso jornal é uma linha de prumo para a nossa classe, com um trabalho sistemático de brigadas em fábricas e locais de trabalho por todo o país”.

General Braga Netto preso deve ser só o começo

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General Braga Netto, ex-ministro e candidato a vice do fascista Jair Bolsonaro, foi preso neste sábado (14).

Redação


BRASIL – A Polícia Federal prendeu, neste sábado (14), no Rio de Janeiro, o general da reserva Walter de Souza Braga Netto. Ex-ministro da Defesa e ex-chefe da Casa Civil no governo de Jair Bolsonaro, Braga Netto foi detido em Copacabana sob suspeita de envolvimento na tentativa de golpe contra o Estado democrático de Direito e por atrapalhar as investigações. 

De acordo com a nota divulgada pela PF, o general e um de seus assessores são acusados de obstruir a produção de provas durante a investigação. “As medidas judiciais têm como objetivo evitar a reiteração das ações ilícitas”, afirma o comunicado.

Essa é a primeira vez que um general de quatro estrelas é preso. Além dele, mais três generais de quatro estrelas na mira da Polícia Federal: Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira.

O caso faz parte de um inquérito amplo que investiga a articulação de membros do governo anterior e setores militares para interromper o processo democrático no país. Braga Netto foi candidato a vice-presidente na chapa derrotada de Jair Bolsonaro nas eleições de 2022 e é apontado como um dos principais articuladores da trama golpista.

Braga Netto também comandou uma intervenção federal no Rio de Janeiro em 2018. No final de 2023, foi deflagrada operação que investigava suspeita de fraude em verba destinada à intervenção, onde se gastou R$1,2 bilhão. A intervenção ocorreu entre fevereiro e dezembro de 2018, período em que a segurança pública do Rio de Janeiro foi assumida pelas Forças Armadas, por meio de um decreto do então presidente Michel Temer.

As acusações incluem crimes como abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Além disso, investigações sugerem que os planos golpistas envolviam atentados contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

O que falta para Bolsonaro e os generais irem para a cadeia?

É preciso que todos os envolvidos, e especialmente o ex-capitão fascista Jair Bolsonaro, seja preso imediatamente. A luta por justiça não termina com o indiciamento de alguns poucos. Os generais que se organizaram a tentativa de golpe no 08 de janeiro de 2023 seguem no comando, mesmo durante o atual governo. 

Mobilizar e continuar ocupando as ruas nacionalmente, organizar o movimento popular com as manifestações, atos, greves. A Unidade Popular (UP) sempre esteve à frente dessas lutas, principalmente desde a tentativa de golpe do 08 de janeiro, pela prisão do Bolsonaro e dos generais fascistas.

Pacote anti-MST quer sufocar atuação legítima dos movimentos sociais

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Na quarta (12/12), Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou partes do que a imprensa burguesa vem chamando de “pacote anti-MST”. Trata-se, na verdade, de um conjunto de medidas reacionárias para endurecer a repressão aos movimentos sociais

Estefani Maciel | São Paulo (SP)


Nesta quarta-feira (12/12), a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou dois projetos de lei (PLs) do chamado “pacote anti-MST”,  que vem sendo impulsionado pela bancada ruralista no Congresso Nacional com o apoio do presidente da Câmara Arthur Lira.

Um dos PLs que recebeu o aval da CCJ prevê que proprietários de terras ocupadas possam promover reintegrações de posse sem precisar de autorização judicial. O outro aumenta a pena para o crime de esbulho possessório, buscando falsamente associar a ocupação de terras e prédios abandonados promovida por movimentos sociais com o roubo de posses. Ambos os projetos ainda precisam passar pelo plenário da Câmara e pelo Senado Federal antes de entrarem em vigor.

O “pacote anti-MST”, na verdade, é um pacote de ações que busca reprimir a atuação dos movimentos sociais no país. Ele reúne quase 20 projetos que, entre outros pontos, busca classificar ocupações de terra  como terrorismo, endurecendo as penas por esbulho possessório e permitindo a restituição de terras sem a necessidade de ordenamento judicial, garantindo a legalidade no uso de força própria. Além disso, também está em discussão a proibição de militantes do movimento em acessar programas de reforma agrária, crédito rural, auxílios e benefícios do governo federal e de ocupar cargos públicos, enquadrado a todos os acusados de invasão como “terroristas”.

Faltando poucas semanas para o fim do mandato de Caroline de Toni (PL-SC), atual presidente da CCJ, a votação contrária aos movimentos sociais foi apressada pelos deputados fascistas da Câmara. Em 2024, De Toni já aprovou o chamado “pacote anti-STF”, que limita os poderes da Corte, e também deve votar o PL que quer criminalizar, com pena entre dois e cinco anos de prisão, quem chamar outra pessoa de nazista. Esse último projeto é de autoria de Bia Kicis (PL-DF), deputada bolsonarista que comemorou a tentativa de golpe na Bolívia, e está sendo fortemente defendido pela bancada fascista.

A quem interessa acabar com as ocupações?

Deputados e senadores da FPA (Frente Parlamentar da Agropecuária) defendem a agenda anti-ocupações como importante, principalmente em um período eleitoral, e afirmam que a pauta pode ajudar o atual presidente da frente, Pedro Lupion (PP-PR) a se manter no cargo nas próximas eleições da bancada, em fevereiro de 2025. Além da FPA, a Comissão de Agricultura, presidida pelo senador Alan Rick (União Brasil-AC), também está mobilizando suas bases para avançar com os projetos do pacote anti-MST.

Apuração do portal De Olho Nos Ruralistas revela que outros nomes conhecidos também estão envolvidos na agenda contrária aos movimentos sociais e, junto a eles, doações e financiamento de eleições realizadas por donos de fazendas, condenados por trabalho escravo e suspeitos de garimpo ilegal.

O autor do PL 895, que proíbe ocupantes de terras improdutivas de acessar direitos sociais como o Bolsa Família, é Luciano Zucco (PL-RS), ex-presidente da “CPI do MST” e beneficiário de uma doação de 10 mil reais do fazendeiro Bruno Pires Xavier, condenado por escravizar 23 trabalhadores no Mato Grosso e alvo de denúncias que resultaram no resgate de 324 trabalhadores em outras fazendas durante cinco fiscalizações do Ministério Público do Trabalho.

Já Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro de Jair Bolsonaro, é o relator do PL 895. Em 2018, Salles recebeu uma doação de 30 mil reais de Antonio Marcos Moraes Barros, sócio da Elamar Participações e Agropecuária Ltda, cujo 1,5 mil hectares estão sobrepostos em território Guarani Kaiowá.

O PL 709/2023 é de autoria de Marcos Pollon (PL-MS), que defende que condenados por “invasão de propriedade urbana ou rural”, além de perderem o direito de receberem benefícios e auxílios do governo, também sejam impedidos de assumirem cargos ou funções públicas. Pollon teve parte da campanha financiada por Rovilson Alves Correa, notório inimigo do povo Kadiwéu no Mato Grosso do Sul, que busca a retomada de suas terras – essas sim, invadidas por Rovilson – desde 1987.

Outro item do pacote, o PL 4183/2023, proposto por Coronel Assis, impõe que movimentos populares sejam obrigados a terem CNPJ regulamentado, como forma de rastrear seus integrantes. Assis recebeu 80 mil reais do minerador e madeireiro Edmar de Queiroz, investigado pela Polícia Federal por participar de um esquema ilegal de comercialização de ouro e por suspeita de contrabando de madeira ilegal da Amazônia.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, é o responsável por colocar os projetos em votação e articular a pauta com a extrema direita no Congresso. O portal De Olho nos Ruralistas divulgou um dossiê com informações sobre o despejo de camponeses em Quipapá (CE) por Lira e seu pai, a criação de gado em território Kariri-Xocó e seis fazendas ilegais de familiares de Lira nas margens do Rio São Francisco, também território Kariri-Xocó.

Pressionar, ocupar e resistir

Segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT), registrados ao longo do 1º semestre de 2024 pelo Centro de Documentação Dom Tomás Balduíno (Cedoc), houve aumento nas ocorrências de ameaça de expulsão de terras e o número de ocorrências de pistolagem foi o segundo maior da década. Os maiores causadores dessa e de outras violências registradas – como contaminação deliberada por agrotóxicos, poluição proposital de água, trabalho escravo e assassinatos – são empresários, fazendeiros, grileiros e o próprio Governo Federal.

A mera existência de um pacote “anti-invasões” já é sinal de alerta para todos os movimentos sociais e populares que utilizam das ocupações, rurais e urbanas, como forma de denunciar o descaso do estado com políticas públicas que combatam as opressões sofridas pelos trabalhadores.

Movimentos como o Movimento de Mulheres Olga Benario, que já realizou mais de 17 ocupações em todo Brasil para resguardar a vida de mulheres vítimas de violência, estão sob risco de terem suas atividades cerceadas. O MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas) também pode ser outro alvo desse projeto. Ocupando prédios abandonados e redes de supermercado em todo o Brasil, nas jornadas contra a fome, o movimento se articula pelo direito à moradia e alimentação dignas para a população periférica.

Em declaração ao jornal A Verdade, um trabalhador da indústria que não quis ser identificado declarou: “É hora de cobrar o Governo federal, o presidente nasceu da luta dos trabalhadores e não pode nos abandonar nesse momento de luta”.

Mato Grosso é o estado que mais usa agrotóxicos no Brasil

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Ana Pistori e Matheus Araújo | Cuiabá (MT)

BRASIL – Em 2019, o Mato Grosso comprou 121 mil toneladas de substâncias ativas em agrotóxicos (WWF, 2023). Enquanto nosso povo morre de câncer, os latifundiários e donos das empresas de agroquímicos ganham mais dinheiro e aumentam seu domínio sobre as terras brasileiras.

Os agrotóxicos são substâncias químicas, supostamente, usadas para “defender” as plantações da invasão de pragas. Entretanto, o trabalho do Núcleo de Estudos Ambientais e Saúde do Trabalhador (UFMT), coordenado pelo professor Wanderlei Pignati, tem detectado graves doenças nos mato-grossenses causadas pela contaminação de agrotóxicos na água, nos alimentos, nos solos, no ar e até mesmo no leite materno. 

O que o agro não conta é que grande parte das substâncias pulverizadas nas terras do Mato Grosso estão proibidas na Europa. O glifosato, veneno mais cancerígeno para seres humanos, segundo a Organização Mundial de Saúde, é a substância mais comercializada no Brasil. 

Para enganar o povo e justificar seus crimes, os latifundiários bancam a circulação da falsa ideia de que é esse modelo de produção de alimentos que garante segurança alimentar para as pessoas. O boi da cara preta é que a superprodução de soja, milho e algodão gera as 64,2 milhões de pessoas em insegurança alimentar no Brasil (A Verdade, nº 292) e as inúmeras catástrofes ambientais que temos vivido.

Laranjas do mesmo saco

O lucro do agro se concentra nas mãos de poucos. Os latifundiários (1% dos proprietários de terras que possuem mais de mil hectares) controlam 47,6% das terras agricultáveis do país. Nessas terras, as principais commodities produzidas são o destino de 8% dos agrotóxicos comercializados no Brasil.

Em 2018, enquanto envenenava as terras brasileiras, a empresa suíça Syngenta, por exemplo, lucrou 2 bilhões de dólares com a venda de agrotóxicos. Ao mesmo tempo, a indústria farmacêutica de tratamento de câncer lucra 1,5% do PIB mundial. A relação entre as doenças e o lucro do agro ficou ainda mais escancarada com a compra da Monsanto (empresa bilionária que criou agroquímicos extremamente prejudiciais à saúde) pela Bayer (líder na produção de fármacos). 

Segundo a Plataforma Agrosaber, criada para esclarecer, de forma simples e acessível, diferentes temas ligados à produção de alimentos, a lei dos agrotóxicos (Lei 7.802) depende de outras normas regulamentadoras. Assim, em Mato Grosso, o Decreto Estadual 1.651/2013 reduziu as distâncias permitidas para aplicação terrestre de agrotóxicos de 200 para 90 metros. Ou seja, hoje, é permitido aplicar veneno muito perto de povoados, cidades e cursos d’água.

Essa prática de envenenamento de pessoas é protegida pelo Estado brasileiro. O agronegócio é o setor da economia que menos paga impostos.

Usineiros destroem casas e vidas de centenas de camponeses em Alagoas

No município de Messias (AL), a Usina Utinga Leão já demoliu 330 casas e quer expulsar mais centenas de famílias de uma área ocupada por trabalhadores rurais há duas décadas. Sob ameaça de jagunços e policiais, comunidades resistem

Ésio Melo | Maceió (AL)


BRASILCentenas de camponeses foram expulsos de suas terras e tiveram suas casas demolidas em Messias, Alagoas, após uma ação movida pela Usina Utinga Leão, para reintegrar a posse de uma área de aproximadamente 200 hectares ocupada por trabalhadores rurais há cerca de 20 anos.

A reintegração de posse e as primeiras demolições ocorreram no dia 22 de outubro, colocando ao chão 330 casas. Outras áreas também estão sob ameaça, totalizando cerca de 700 famílias.

O jornal A Verdade e a Unidade Popular (UP) estiveram presentes, no dia 02 de novembro, em um ato em apoio aos camponeses, realizado na Escola Municipal onde famílias desalojadas se encontram.

A atividade contou com a presença do desembargador Tutmés Airan e dos movimentos rurais com atuação na região: Frente Nacional de Libertação (FNL), Movimento Popular de Luta (MPL), Liga dos Camponeses Pobres (LCP) e Movimento Social Via do Trabalho.

Presente na atividade, o desembargador que coordena o núcleo de Direitos Humanos do Tribunal de Justiça, afirmou que “a decisão não trouxe justiça, porque, na prática, foi uma desapropriação, que fez com que o rico ficasse mais rico e transformou o pobre em miserável. Quem tem já tem muita propriedade, ficou com mais propriedade ainda. Quem não tinha nada, ficou com nada”, afirmou Tutmés.

Durante o despejo, o companheiro Inácio faleceu ao cair do caminhão de mudança que transportava seus pertences.

Relatos

A presidenta da associação dos moradores e agricultores da fazenda Lajedo, Dona Bina, perdeu sua casa, seus animais, sua renda e o convívio com os filhos e os netos – que foram morar em Pernambuco na casa de parentes.  

“Tinha três netos que nasceram e se criaram aqui nesse pedacinho de terra. Moro aqui desde 2009. Vi meus netos nascerem e se criarem. É uma história de vida que a gente tem aqui nessa área e foi derrotada pelo latifundiário – que não tem coração e nem dó de ninguém. Pobre para eles é para morrem à mingua, mas nós vamos lutar para retomar esse lugar”, afirmou Dona Bina.

Ela morava com seu marido, e sua casa era um espaço sagrado de matriz africana. Nos escombros onde residiu nos últimos 15 anos, vê-se a imagem de uma santa quebrada e muita dor. Ao mostrar seu lote e de seus filhos, que moravam vizinhos, descreveu que tinham dois açudes, onde crivava 500 tilápias e 200 tambaquis, criavam porcos, cabras, bodes e até duas vaquinhas. “Hoje, só escombros”.

“Tudo derrubado, nossa família toda na rua e hoje a gente está num colégio passando privações. Nós tínhamos a liberdade de criar nossos filhos e hoje estamos nessa situação. A gente quer viver para lutar e levar o que comer para a cidade”, acrescentou.

Em outro lote, cheio de mangas, abacates, laranjas, bananas, açaí, jacas, cocos, entre tantas frutas, encontramos um casal de idosos. “Fomos os primeiros a descer aqui e a construir uma casinha. Então começamos a plantar. Hoje nosso lote tá cheio de fruteira, tudo frutificando. Foi quando veio o desmantelo e fomos obrigados a sair e deixar tudo isso para trás”, disse Dona Cícera, aos prantos.

Na área urbana, próxima ao cemitério da cidade, no Conjunto Ana Raquel, também houve demolições. “O pessoal da Usina aproveitou a situação do ‘desapropriamento’ das famílias lá embaixo e derrubou nossas casas também. Antigamente, aqui era o lixão da prefeitura, e a gente tirou o lixo e construímos casas para morar. Nunca ninguém chegou com ordem de despejo, mas nos deram quatro horas para tirar as coisas de dentro ou passavam o trator por cima. A gente tirou o que pôde, e o que não pôde, o trator passou por cima. Eu tinha uma oficina no valor de R$ 120 mil dentro. Trabalhei 35 anos para conquistar minha oficina e hoje me encontro sem ela, sem uma renda e sem uma casa por conta desses empresários que não têm coração”, afirmou um mecânico que não quis se identificar.

Também houve vários relatos da truculência da polícia no dia da desocupação.  “Vivíamos aqui com a esperança de viver a vida inteira. Aí chega um mandato na porta, de repente, de uma hora pra outra, dizendo ‘sai, sai’. E eu disse ‘espera aí, minha gente, deixa eu tirar pelo menos os cacos que tenho dentro de casa’. Mas o policial disse ‘você quer que a gente derrube a casa com você dentro?’”, relatou o morador Ezequiel Lima.

Matéria publicada na edição impressa nº 303 do jornal A Verdade

Qual a sua fábrica, camarada?

No ABC Paulista, brigadas do jornal A Verdade nas portas das fábricas têm sido decisivas para a ampliação da mobilização entre as trabalhadoras e os trabalhadores. Experiência traz importantes lições para o trabalho operário

Márcio Alves e Victória Magalhães | ABC Paulista (SP)


A situação dos trabalhadores e trabalhadoras em nosso país e no mundo é cada vez mais grave. A precarização e a carestia crescem, o fascismo avança promovendo guerras, genocídios, tentativas de golpes, aumento da violência policial, da fome, das privatizações e da retirada de direitos. Vemos, a cada dia, o aumento da revolta e da insatisfação nos bairros e postos de trabalho.

É certo que só alcançaremos a libertação do nosso povo com a tomada do poder nas mãos dos trabalhadores. Para isso, é fundamental fundir profundamente a classe operária com o movimento revolucionário. Para que nosso Partido seja indestrutível, precisamos organizar e formar cada vez mais operários e operárias comunistas. 

Como temos debatido, isso só será possível com a realização de um trabalho sistemático, diário e contínuo em cada fábrica, com cada operário e operária. Para isso, é preciso que todo o Partido se envolva. Só com o envolvimento geral da militância poderemos garantir que, para cada fábrica, haja um revolucionário! 

Se estivermos presentes cotidianamente, com dias fixos, na porta de uma fábrica, apresentando nosso jornal, rapidamente poderemos ter panfletos específicos para aquela unidade, denunciando as condições que os operários nos apresentam, recrutando para os nossos movimentos, fazendo greves e influenciando na vida, na consciência e nas lutas da classe.

Em Diadema, no ABC Paulista, temos feito este trabalho em cinco fábricas e na limpeza urbana. Já temos camaradas reunindo em núcleos do MLB e operários que separam seu dinheiro e mandam mensagens no dia anterior à brigada reservando sua edição do Jornal.

Gabriel, um dos camaradas que tem se dedicado a esse trabalho, conta: “Nossa atuação nas portas das fábricas começou como algo pequeno. Alguns poucos militantes realizavam essa tarefa, até que virou diretriz partidária e todo militante de Diadema voltou seu trabalho para as fábricas. Me pareceu um desafio muito grande, mas, em pouco tempo, eu já realizava quatro brigadas por semana”.

E continua: “Foi preciso adaptar nossa rotina para equivaler a de um operário. Ter sua disciplina, sua seriedade, seu caráter coletivo, planejar os próximos passos e seguir adiante. Logo nos tornamos referência para muitos deles, que recuperaram suas esperanças por nos verem presentes ali toda semana. Alguns operários me convidaram para frequentar o curso do Sindicato e eu fui. A presença de um militante faz com que o clima, antes pacato, passasse a ser de disputa, discussões, inconformismo e propostas. Somos muito respeitados pelo nosso trabalho, e os operários querem que mais de nós estejamos entre eles. É tradição dos operários apelidar os companheiros, por isso, no curso, me deram o apelido de ‘Guerrilheiro’, fazendo alusão a Che Guevara”.

Também no ABC, já temos camaradas atuando no chão de fábrica de grandes empresas do setor automotivo. Em uma dessas indústrias, formamos a primeira célula de empresa da região e a qualidade nesse trabalho ganhou um nível superior.

Em São Bernardo, o Movimento de Mulheres Olga Benario tem se concentrado em organizar operárias da Basf, fazendo a denúncia sobre as condições gerais das fábricas e também dialogando com as mulheres sobre as condições específicas de gênero dentro das fábricas, como a questão do assédio, do direito das mulheres a terem creche, sala de amamentação, etc.

Roseli, brigadista operária e coordenadora do Olga, relata: “Fazemos brigadas na Basf toda quinzena. Em nossa terceira brigada lá, os seguranças tentaram nos reprimir, mas não arredamos o pé. Aí uma mulher que trabalha na empresa, nos chamou, se identificou com a gente e orientou outra portaria, que seria melhor para desenvolvermos esse trabalho com menos assédio e com mais trabalhadoras. Esta é uma demonstração de que temos aberto esse caminho de confiança com as trabalhadoras de lá e já recebemos uma série de denúncias das terceirizadas, das trabalhadoras da cozinha, apesar do medo constante de alguns setores com a terceirização que ameaça os empregos e a redução dos salários. Tem muita disposição de luta e já temos mulheres reunindo com a gente no núcleo do Olga do bairro”.

A tarefa é clara

Todo militante, todo coletivo, precisa ter uma fábrica ou posto de trabalho estratégico, como o exemplo da Sabesp, em São Paulo, ou Servidores Municipais, para construir um trabalho sistemático, diário e contínuo.

Em qual fábrica seu núcleo vai construir este trabalho operário? Os trabalhadores e trabalhadoras estão esperando para conhecer o Partido que pode mudar suas vidas, mas, para isso, devemos nos organizar nas cidades onde atuamos, escolher as indústrias e postos de trabalho onde vamos atuar, e fazer um trabalho sério, com os panfletos específicos, com o nosso jornal A Verdade e conversar com os trabalhadores sobre o dia a dia do trabalho e as dificuldades, convidando-os para conhecer nossos movimentos, nossa juventude e a Unidade Popular.

Outra tarefa importante é qualificar nossas brigadas de porta de fábricas, garantindo ter banquinha com banners e bandeiras, café, panfletos com contatos, agitação e livros das Edições Manoel Lisboa para que os trabalhadores possam estar em contato com a propaganda revolucionária.

Dessa maneira, avançaremos mais rapidamente e recrutaremos com mais ousadia. É hora de arregaçar as mangas e construir diariamente nosso trabalho entre a classe operária!

Se essa é nossa tarefa fundamental, fica a pergunta: A partir de amanhã, qual será sua fábrica, camarada?

Matéria publicada na edição impressa nº 303 do jornal A Verdade

UESP realiza Seminário de Educação em Petrolina (PE)

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Em Petrolina, estudantes se reuniram para debater, durante o Seminário de Educação, a realidade do ensino no sertão pernambucano e eleger a nova diretoria da entidade para as próximas lutas.

Redação Pernambuco


EDUCAÇÃO – No dia 03 de dezembro os estudantes de Petrolina participaram do seminário de educação municipal promovido pela União dos Estudantes Secundaristas de Petrolina (UESP) em parceria com a União dos Estudantes Secundaristas de Pernambuco (UESPE). O seminário debateu a realidade da educação no município, elegeu a nova diretoria da entidade municipal e aprovou uma série de propostas para a nova gestão no próximo período.

Debatendo a realidade da juventude

O seminário da UESP deu início com uma mesa de abertura sobre a situação da educação no país. Entre os participantes, representantes do Instituto Federal (IF-Sertão), da Gerência Regional de Educação (GRE), Movimento Luta de Classe (MLC), Unidade Popular (UP), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES) e da União da Juventude Rebelião (UJR).

Em seguida, Bruno Abreu, do Movimento Luta de Classes (MLC) apresentou um painel sobre a importância do Movimento Estudantil no Brasil, seguido pela apresentação de Victor Hugo, da União da Juventude Rebelião (UJR) destacando a necessidade da juventude se organizar frente às dificuldades de uma sociedade capitalista e construir o futuro.

Depois dos debates e apresentações, os estudantes presentes puderam falar sobre a realidade de suas escolas e trocar experiências sobre como fazer para melhorar a situação do ensino. Vindo das escolas municipais, estaduais e do Instituto Federal, os vários relatos e depoimentos sobre a falta de estrutura nas escolas e as dificuldades com um transporte de qualidade na cidade e acesso a lazer e cultura foram os temas mais destacados.

Na plenária final foi aprovada as principais propostas para a entidade no próximo período e eleita também a nova diretoria da União dos Estudantes Secundaristas de Petrolina, sendo eleita como presidente a estudante Kauane Eveny do IF Sertão. A nova diretoria reafirmou a luta no sertão pernambucano na terceira cidade mais populosa de Pernambuco.

A exploração da juventude ambulante no capitalismo

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Um garoto de 17 anos trabalha de ambulante e passa pelas ruas vendendo produtos domésticos para trazer sustento para sua família. Durante todo o dia, debaixo de um sol escaldante e sem perspectiva de concluir os estudos. Essa é a realidade de mais de 1,6 milhões de jovens inseridos no mercado informal de trabalho.

Pedro Rodrigues | Recife – PE


JUVENTUDE – Na nossa sociedade, os jovens são pressionados a trabalhar desde cedo para garantir sua sobrevivência, e isso é algo que o capitalismo se aproveita, devido a sua baixa experiência e a não qualificação da mão de obra, além da condição de vida, muitas vezes precária. Com a reforma trabalhista, as relações de trabalho se flexibilizaram, retirando diversos direitos, a ponto de ser normal um jovem de 15 ou 16 anos estar trabalhando e não na escola.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, jovens de 16 e 17 anos são hoje 419 mil trabalhando em condições perigosas, e cada vez mais o trabalho é apontado como motivo pelo qual o jovem não está na escola.

José Mario, tem 17 anos, está no 3º ano do ensino médio e trabalha como ambulante vendendo ventiladores pelos bairros de Recife. Ele nos conta um pouco de como o trabalho atrapalha sua vida escolar: ” tem muitas pessoas que não estudam por terem responsabilidades muito cedo, aí tem que lagar [os estudos] e acaba pegando um trabalho que exige muito da pessoa; tem muito sofrimento, tem que ralar muito e o resultado é pequeno; quando acontece algum imprevisto eu tenho que arcar e é muito injusto comigo, o patrão nem quer saber.”

Como o próprio José fala, o estudo é muito importante para a transformação da sua realidade “daria pra ter uma condição melhor de vida, um estudo pode me arranjar um emprego mais justo e uma situação que não seja muito desigual”.

No capitalismo, o modelo que prevalece é o da exploração desenfreada, com a retirada de direitos, redução dos salários, aumento da jornada de trabalho e, principalmente na juventude, isso aumenta também o sofrimento psicológico, que vem sendo uma das maiores causas de doenças incapacitantes.

Para conseguir sobreviver, os jovens da classe trabalhadora precisam estudar e trabalhar ao mesmo tempo, enquanto os filhos das elites, tem garantido o direito ao estudo e emprego garantido antes mesmo de se formar.

Dessa forma, fica escancarado que o capitalismo não tem nada a oferecer para a juventude, a não ser desigualdade, falta de acesso acesso a educação de qualidade, violência policial, trabalhos precários, ansiedade e depressão.

Por isso, a necessidade de organizar a juventude que trabalha é urgente! A juventude periférica está a cada dia mais adoecida, e só lutando por uma sociedade verdadeiramente livre, a sociedade socialista, é que teremos o fim do vestibular, condições de trabalhar e viver dignamente, com acesso à educação, saúde e lazer.

Lia de Itamaracá: “Para chegar aqui, atravessei um mar de fogo”

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  • Nascida Maria Madalena Correia do Nascimento, no dia em 12 de janeiro de 1944, na Ilha de Itamaracá, município da Região Metropolitana de Recife (PE), a cantora, compositora e cirandeira Lia de Itamaracá, recebeu a equipe do jornal A Verdade na Embaixada da Ciranda, para uma manhã de conversa sobre seus mais de 80 anos de vida, sua obra e como ela lutou para fazer de sua arte uma ferramenta de luta. Lia teve que trabalhar desde muito cedo, enfrentar o preconceito antes de ser reconhecida como uma das maiores expressões da música negra brasileira e mundial.

Clóvis Maia e Rafael Freire | Redação


A Verdade – Lia, você começou na música bem cedo. Quais foram seus primeiros passos?

Lia de Itamaracá – Todo o meu sonho era cantar. Sempre achei bonito quem canta, quem dança. E eu dizia: “Jesus, eu quero um dia ser uma cantora, me apresentar no meio de muita gente, cantando pro povo”. Aí eu comecei a me interessar pela música com uns 12 anos de idade. Com 19 anos, eu assumi a responsabilidade de cantar, de compor, de gravar. Aí eu comecei a sair pelo mundo.

Eu venho de uma família de 18 irmãos comigo. Ninguém cantava nem dançava. Minha mãe era empregada doméstica e meu pai era agricultor. Um dia, eles conheceram uma família que viu minha mãe carregando sete filhos. Eles devem ter ficado com pena e ofereceram um emprego pra ela.

Como foi o seu primeiro contato com a ciranda?

Foi no Recife. Eu ia muito ao Pátio de São Pedro. Eu via muito as rodas de ciranda lá. Eu olhava e dizia: “Vou entrar nesse andamento. Vou prestar atenção aqui pra jogar minha linha”. E deu certo. Dizem que a ciranda vem de Portugal, vem da África. Pra mim, a ciranda já existia aqui no Brasil. E eu a consagrei aqui em Itamaracá.

Você foi pioneira em muitas coisas como mulher, negra, cantora, gravando um disco em 1977, em plena ditadura militar. Mas também passou por muitas dificuldades na carreira, como falta de pagamento e a questão do direito autoral sobre o seu maior sucesso. Fala um pouco sobre isso. 

Em 1961 ou 1962, Teca Calazans teve aqui em Itamaracá. Ela já era pesquisadora de música. Ela me ouviu cantar e pediu pra eu cantar pra ela. Seguimos para a praia, eu e ela, e eu solfejei a ciranda “Quem me deu foi Lia”. Então ela me disse: “Lia, essa música é um amor. Vou colocar uma letra nela em sua homenagem”. O tempo passou e depois veio um pessoal do Recife falar da música, e ela disse que nunca teve conhecimento comigo, que nunca me encontrou e disse que essa música era dela.

Aí essa música ficou nessa polêmica grande, que ainda aumentou porque Antônio Baracho, cirandeiro de Abreu e Lima, registrou a música como sendo dele. A coisa pra mim foi difícil, mas eu estou aqui. Eu gravei meu primeiro disco e não ganhei nenhum dinheiro por ele por causa dos direitos autorais. A gente não registrou. Aí eu fazia meus shows aqui e acolá e ainda trabalhando no bar.

Depois que o bar fechou, virei merendeira numa escola. Eu fazia comida para quase 300 crianças. Trabalhar com as crianças pra mim era uma maravilha. Trabalhei lá até me aposentar.

Você se recorda da primeira grande viagem, do primeiro grande show que fez lá fora?

A minha primeira grande viagem que foi para o Rio de Janeiro. Antes, teve o Abril Pro Rock, em 1998, em Recife. Eu gravei esse primeiro disco em 1977, “A Rainha da Ciranda”, depois veio o primeiro CD “Eu Sou Lia” (2000), “Ciranda de Ritmos” (2008) e “Ciranda Sem Fim” (2019). E teve também os filmes, né?! “Sangue Azul”,Recife Frio”, “Bacurau”.

Suas letras falam do cotidiano da gente, a relação com o mar e com a natureza, reforçando a ciranda como uma arte coletiva. Como é o seu processo de criação?

A ciranda não tem preconceito. Ela abraça o branco, o preto, todo mundo. Ela abraça todo mundo. De adulto às crianças, principalmente as crianças. Isso que é bom. A gente ouve muito falar de racismo hoje em dia. A ciranda acaba com isso tudo. Minhas músicas são escritas na areia da praia. Eu sou filha de Iemanjá. Eu sento na beira da praia, escrevo a música, a onda vem e apaga. Eu vou e escrevo de novo. A onda vem e apaga. Eu acendo novamente. Quando a onda vem de novo, a música tá pronta. Eu tenho contato com Janaína, a mamãe Oxum, Iemanjá. Eu sou católica, mas não vejo nenhum problema com religião nenhuma. Respeito e me dou bem com tudinho. E isso vem da ciranda. Abraçar todo mundo sem preconceito. Eu tenho um talento que Deus me deu e eu sou feliz em tudo que eu faço.

Como funcionam a Embaixada da Ciranda e o Centro Cultural Estrela de Lia?

A gente faz oficina de cabelo afro com as doceiras, as marisqueiras da comunidade, organiza cineclubes. A Embaixada é um Ponto de Cultura, mas, no momento, está sendo mantida por nossa própria conta. No Centro Cultural, fazíamos cirandas todos os sábados, mas está em reforma desde 2014 e parou tudo. Já oferecemos oficinas de fotografia, de cerâmica para as crianças.

Em janeiro deste ano, você completou 80 anos reconhecida mundialmente pela sua arte, com os títulos de doutora Honoris Causa e de Patrimônio Vivo de Pernambuco. Como foram as homenagens?

Foi uma maravilha! A pessoa começar com 12 anos e chegar aos 80, neguinho. Foram três dias de festa… Veio gente do Brasil inteiro pra cá. Teve cortejo, teve circo. Ainda mais porque eu recebi essas homenagens estando viva, né?! Isso que é importante.

Mas tem muita gente da minha geração que ainda enfrenta dificuldades. Tem muitos mestres da cultura no Recife precisando de apoio. Não dá pra esperar a pessoa morrer pra homenagear depois.

Eu fui fazer um show no Pátio de São Pedro outro dia desses, e estava tudo acabado. Eu fico me perguntando onde é que estão os gestores que não veem isso. No centro da cidade, o foco da brincadeira. Eu acho que deveriam olhar o lado dos mestres, especialmente os mais necessitados.

O povo vem de fora buscar as coisas da gente e tem um monte de gente de braços cruzados precisando de ajuda. Onde eu chego, eu falo deles. Faço questão de falar de nossa cultura por todo lugar que eu piso.

Eu, há mais de 20 anos, conheci o Beto Hess, meu produtor e hoje temos uma equipe de produção, tudo cabeça feita, que trabalha com união, com respeito, e a gente continua produzindo. Vamos ver até onde a gente vai… A canção “Dorme, pretinho”, que Beto adaptou [da canção “Duerme, negrito”, de Atahualpa Yupanqui, gravada por Mercedes Sosa], foi premiada e tudo.

É como diz aquela música: “Para chegar aqui, atravessei um mar de fogo/ Pisei no fogo, o fogo não me queimou/ Pisei na pedra, a pedra balanceou”. Isso é um ponto de Exu. É muita história, muita estrada, muita luta. É chão. E eu, com meu pouco estudo, levantei a bandeira e sigo levantando. Atravessei um mar de fogo. Vê que braseiro danado!

Racismo e ditadura militar

Em certa altura da entrevista, Lia nos contou a situação envolvendo os direitos autorais da música “Ciranda de Lia”, que foi divulgada pela cantora, atriz e pesquisadora pernambucana Teca Calazans, em 1964. Acontece que apesar da letra falar explicitamente de quem é a canção, Lia teve sua autoria negada em uma época em que os direitos autorais não eram respeitados.

Em uma reportagem no Diário de Pernambuco, de 23 de julho de 1973, o jornal tratava de “descobrir” quem era a tal Lia da canção, na época, com 29 anos. No ano mais violento do regime militar, em que imperava a censura ao jornalismo e à cultura, não houve nenhum editor ou sensor para questionar o conteúdo da reportagem escrita por Selênio Homem de Siqueira, definia Lia com termos como “crioula”, “escurinha”, “empregadinha” e “boneca de piche”, evidenciando o racismo presente no país governado pelos militares.

Matéria publicada na edição impressa nº 303 do jornal A Verdade

O centenário de Amílcar Cabral

“Jurei a mim mesmo dar a minha vida, toda a minha energia, toda a minha coragem, toda a capacidade que posso ter, até ao dia em que morrer, ao serviço do meu povo da Guiné e Cabo Verde. Ao serviço da causa da humanidade, para a vida do homem se tornar melhor no mundo”. (Amílcar Cabral)

José Levino


“Um dos líderes mais lúcidos e brilhantes da África” (Fidel Castro)

Guiné-Bissau é um pequeno país caracterizado por grande diversidade de línguas, costumes e religiões, contando com integrantes de crenças africanas tradicionais, do islamismo e do cristianismo.  Os portugueses chegaram ao país em 1446 e começaram sua colonização em 1558. Próximo, está situado o arquipélago de Cabo Verde, um conjunto de 10 ilhas, onde os portugueses chegaram em 1460 e iniciaram sua colonização em 1462. Tornou-se um entreposto do tráfico de escravos e teve, a partir da ocupação portuguesa, uma relação próxima e tensa com Guiné-Bissau. Essa tensão se deve ao fato de que Portugal formou em Cabo Verde uma elite local a quem capacitava para exercer funções administrativas nas colônias da região.

A família Cabral

Juvenal Lopes Cabral pertencia a uma dessas famílias da elite caboverdiana. Foi ainda criança para Portugal, onde começou seus estudos e terminou-os em Santiago, principal cidade do Cabo Verde. Aos 22 anos, mudou-se para Guiné-Bissau, onde trabalhou como professor durante 21 anos. Foi aí, na cidade de Bafatá, que nasceu Amílcar, seu filho, fruto da união com Iva Pinhel Évora. Amílcar nasceu no dia 12 de setembro de 1924. Aos oito anos, sua família retorna para Cabo Verde, onde inicia seus estudos e vai terminá-los em Lisboa. A família Cabral se sentia portuguesa, mas Juvenal, que foi um estudioso e escritor renomado, tinha críticas à administração colonial no arquipélago.

Na capital portuguesa, Amílcar, além de estudar Agronomia, vai aprofundar essa visão crítica, a qual evoluirá para a necessidade da luta pela independência, não só de Cabo Verde e Guiné-Bissau, mas de todo o continente africano. E não apenas de independência formal, mas de construção de uma sociedade justa, sem exploração do homem pelo homem.

A Casa dos Estudantes do Império (CEI) foi criada para acolher os estudantes procedentes das colônias portuguesas na África, para facilitar o controle e promover o fortalecimento da visão colonialista entre eles. Facilitou também o desenvolvimento de uma visão anticolonial e anti-imperialista com a ajuda do Partido Comunista Português (PCP), que, apesar das condições duras da clandestinidade imposta pela ditadura salazarista, conseguiu colocar alguns militantes na entidade.

Além dos estudos teóricos, a CEI proporcionou conhecimento, troca de experiências e articulação entre estudantes de diversos países africanos, entre os quais líderes como Amílcar Cabral (Guiné-Bissau e Cabo Verde), Marcelino dos Santos (Moçambique) e Agostinho Neto (Angola).  Eles criaram, com apoio do PCP, o Centro de Estudos Africanos (CEA) com o objetivo, segundo um dos seus fundadores, Mário Pinto de Andrade (Angola), de “racionalizar os sentimentos de se pertencer a um mundo de opressão e despertar a consciência nacional através de uma análise dos fundamentos culturais do continente”.

No CEA, os estudantes africanos estudaram o marxismo-leninismo, as experiências socialistas da União Soviética e da Europa Oriental, compreenderam que a colonização era resultado do avanço do capitalismo e que a verdadeira libertação da África não seria apenas anticolonial, mas anticapitalista. Amílcar assimilava e digeria esse aprendizado, mas não se envolvia na política em Portugal. É tanto que um relatório da PIDE, a famosa polícia política salazarista, afirma sobre ele: “Moral e politicamente, nada se apurou em seu desabono”.

Os primeiros passos

Formado como engenheiro agrônomo, o Ministério da Ultramar nomeia Amílcar Cabral para o cargo de Adjunto dos Serviços Agrícolas e Florestais na Guiné-Bissau. E, assim, ele volta para a África em 1952. Percorre todo o país, buscando prestar um serviço eficaz, ao mesmo tempo em que aprofunda o conhecimento da realidade e mantém contato com os camponeses, especialmente ao realizar o recenseamento agrícola, considerado, até hoje, como a melhor fonte de conhecimento global da agricultura guineense.

Seu primeiro passo para a ação foi a criação de uma Associação Esportiva e Cultural onde se desenvolviam reflexões e estudos em vista da conscientização política para a libertação de Guiné. Denunciado ao Ministério de Ultramar, é demitido das funções e proibido de permanecer na região, obrigado a retornar para Lisboa. Foi autorizado a visitar a família uma vez por ano. É numa dessas visitas que, em 19 de setembro do ano de 1956, funda, com um grupo de companheiros, o Partido Africano para a Independência (PAI) que, em 1959, se tornaria o Partido Africano para a Independência de Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

No período de 1956 a 1959, trabalhou em Angola, contratado por grandes empresas para fazer estudos sobre o solo angolano. Este serviço lhe proporcionou maior conhecimento sobre a realidade angolana e a aproximação com os movimentos de libertação locais, tendo participado do encontro de fundação do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA).

Em Angola constatou a forte exploração dos trabalhadores, realidade que ele classificou como “nova forma de escravatura”. Percorreu outros países africanos e esse conhecimento direto da exploração colonial lhe motivou a integrar-se definitivamente à luta de libertação de Guiné-Bissau, Cabo Verde e todo o continente africano. Concluiu que a estratégia de libertação precisa se fundamentar na história e na realidade de cada país. Escreveu: “Só poderemos transformar verdadeiramente a nossa própria realidade com base no seu conhecimento concreto e nos nossos esforços e sacrifícios próprios. Por maior que seja a similitude dos casos em presença e a identificação dos nossos inimigos, a libertação nacional e a revolução social não são mercadorias de exportação”. Amílcar Cabral foi capaz de compreender e aplicar o método dialético marxista à realidade concreta da África colonizada.

Da ação sindical à luta armada

O PAIGC começou sua agitação nacionalista por meio do Movimento Sindical Urbano, caminho que se mostrou inviável com o massacre dos trabalhadores portuários em greve no Porto de Pindijiquiti, no dia 03 de agosto de 1959.  A Conferência do PAIGC, realizada em Dacar, capital do Senegal, em 1960, conclui pela impossibilidade de conquistar a independência por vias legais e definiu a estratégia da luta armada a partir do campo.

Logo após a conferência, tem início a preparação dos militantes para esse fim e a busca de apoios internacionais, especialmente na ONU e nos países socialistas. Em 1961, o Partido anuncia “a passagem da fase da luta política para a luta insurrecional contra as forças coloniais”. Informa que ações de sabotagem econômica têm sido um sucesso, pois “estão levando insegurança aos colonizadores e paralisando a exploração do nosso povo”. Amílcar Cabral consegue falar na ONU, onde explica que a luta não é contra Portugal, e sim a favor da libertação do povo guineense e caboverdiano.

Depois de um período de recomposição, a luta armada é retomada com toda força em 1963, estendendo-se a todo o território nacional. O PAIGC dispunha de mais homens que armas. Mesmo assim, pesadas derrotas foram sendo infligidas às forças coloniais portugueses, a ponto de Guiné-Bissau ter sido denominada de “Vietnam dos Portugueses”.

Foram 11 anos de guerra, vitoriosa, com a independência proclamada unilateralmente pelo PAIGC em 24 de setembro de 1973 e reconhecida por Portugal no ano seguinte, depois da Revolução dos Cravos.

Não pôde comemorar

Amílcar Cabral não pôde comemorar a vitória, que tanto deveu à sua capacidade como liderança e estrategista. Infelizmente, não caiu em combate ao inimigo, mas foi covardemente assassinado por um grupo de traidores do próprio partido, em 20 de janeiro de 1973. Seu sucessor na direção do PAIGC e primeiro presidente da República, depois da Independência, foi seu irmão Luís Cabral.

Na fase da luta, a unidade se manteve após a morte de Amílcar. Entretanto, com a Independência, a proposta de unidade nacional de Guiné-Bissau e Cabo Verde se esvaiu. Certamente, o fato de Luís Cabral ser caboverdiano foi combustível para o golpe de Estado em 1980, promovido pelo Movimento Reajustador, liderado por João Bernardo Vieira (Nino), então primeiro-ministro. Os caboverdianos se desligaram do PAIGC e fundaram o Partido para a Independência de Cabo Verde (PAICV). O arquipélago teve sua independência reconhecida em julho de 1975.

Ambos – Guiné-Bissau e Cabo Verde – vivem em situação de crise e pobreza, integrados ao sistema capitalista na condição de países dependentes. Portanto, a verdadeira independência preconizada pelo herói do povo, Amílcar Cabral, não se concretizou.

O coronel reformado Júlio Monteiro tinha 24 anos quando foi escolhido para hastear a bandeira no dia 05 de julho de 1975. Entrevistado recentemente, disse ao repórter que tem a percepção que “os ideais de Amílcar Cabral morreram com ele”.

Discordo, coronel. Ideais justos não morrem. São como sementes lançadas ao solo, que só esperam o momento propício para renascer, crescer, dar flores e frutos.

Amílcar Cabral vive! Até a vitória sempre!

Matéria publicada na edição impressa nº 303 do jornal A Verdade