Somente no ano passado, foram 38 jovens que perderam suas vidas pelas mãos da Polícia. A maioria dessas mortes é de pessoas negras, e todas elas de moradores da periferia. Diversas entidades de direitos humanos, além dos familiares e amigos, denunciam que várias mortes são casos de execução, ocorridos sem nenhum tipo de confronto ou resistência.
Jorge Ferreira | São Paulo
BRASIL – Não é novidade que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem feito de tudo para privatizar as empresas públicas do estado. Logo nos primeiros meses de seu mandato, ele deixou claro sua obsessão em servir aos super ricos, dando as marteladas finais no leilão que privatizou uma importante rodovia. O êxtase do gerente da burguesia, que quase quebrou o martelo do leilão com sete pancadas, deixava claro o que estaria por vir.
De lá pra cá, são várias as tentativas de entregar o patrimônio público para os bilionários. O projeto de aumentar o lucro dos capitalistas através de empresas que prestam serviços essenciais à população está a todo vapor e passa pela privatização da água, de linhas do trem, metrô, ônibus intermunicipais, balsas, rodovias, parques, escolas e até mesmo presídios.
No entanto, a grande maioria do povo, os trabalhadores, os movimentos sociais e as organizações sindicais, tem demonstrado que não aceitarão essa política de enriquecer ainda mais os patrões à custa da retirada de direitos da classe trabalhadora, piora dos serviços essenciais e aumento das tarifas. É o que ficou provado com a grande resistência que ocorreu na Assembleia Legislativa, em dezembro passado, quando os deputados votaram a privatização da Sabesp.
Perseguição a quem luta
Naquela ocasião, os trabalhadores se fizeram presentes naquela que deveria ser a “casa do povo” para se manifestarem contra a privatização da empresa pública de água. O que vimos lá foi uma tentativa de massacrar aqueles e aquelas que, de maneira legítima, resistiam ao perverso interesse dos ricos de lucrarem com a água. A Polícia Militar transformou o plenário da Assembleia numa verdadeira câmara de gás e, com golpes de cassetete, derramou o sangue dos lutadores sociais, além de prender e torturar quatro manifestantes.
Mas, não bastasse, dois meses após essa brutal e desumana violência, que ficou conhecida como “Batalha da Alesp”, a Polícia Civil, em conjunto com o setor de inteligência da Assembleia Legislativa, produziu um relatório tentando enquadrar os movimentos sociais e o partido Unidade Popular (UP) como “organização criminosa”, crime previsto no Código Penal. Trata-se, na verdade, de um artifício para justificar a quebra do sigilo telefônico dos militantes. Juntaram ao inquérito uma centena de páginas com endereços, filiação sindical e partidária, detalhamento de quem foi candidato em qual eleição e qual cargo disputou, informações sobre quem é próximo de quem, alegações sem nenhuma relação com os fatos investigados.
O absurdo foi tanto que, para justificar o levantamento da ficha criminal de cada um dos manifestantes, os argumentos utilizados foram: “Ligado ao partido UP”; “Ligado ao Sindicato dos Metroviários”; “Ligada à política da cidade de Mauá”; “Ligado a Vivian Mendes”; “Participou de manifestação da Sabesp”, ou até mesmo sem nenhuma justificativa. Por acaso, é crime participar de sindicato, movimento social ou qualquer organização política?
Ainda em janeiro, durante as manifestações contra o aumento das tarifas no transporte público, a Tropa de Choque da Polícia de Tarcísio abordou centenas de trabalhadores que circulavam próximos do ato, muitos que sequer sabiam das manifestações. Além das dispersões violentas, a PM prendeu mais de 30 manifestantes, sob a alegação de associação criminosa e atentado contra o Estado Democrático de Direito. Dos presos, a maioria ainda está em liberdade provisória, com o uso de tornozeleira eletrônica.
Mais recentemente, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), entrou com representação criminal devido às ameaças de morte que se intensificaram. O parlamentar, que está em pré-campanha à Prefeitura de São Paulo, disse que optou por acionar a Polícia Federal, e não a Secretaria de Segurança Pública paulista, porque um dos autores das ameaças é integrante das forças policiais comandadas pelo secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite, ex-capitão da Rota, Tropa de Choque da PM.
Crescem mortes de crianças por policiais
“Algo que eu nunca vou me esquecer é que, assim que eu cheguei ao hospital, uma médica veio e me disse: Corre atrás, que o que fizeram com o seu filho foi muito brutal”. É o relato de Maria Silva para a Agência Pública. Ela era tutora de Luiz Gustavo Costa Campos, de 15 anos, morto por policiais militares em agosto de 2023, no Guarujá. O portal de notícias revelou que, desde que Tarcísio assumiu o Governo de São Paulo, o número de crianças e adolescentes mortos por policiais cresceu 58%.
Somente no ano passado, foram 38 jovens que perderam suas vidas pelas mãos da Polícia. A maioria dessas mortes é de pessoas negras, e todas elas de moradores da periferia. Diversas entidades de direitos humanos, além dos familiares e amigos, denunciam que várias mortes são casos de execução, ocorridos sem nenhum tipo de confronto ou resistência.
No litoral do estado, a violência policial nos bairros pobres foi batizada pelo governo como Operação Escudo. No ano passado, a mesma operação matou 28 pessoas na região. Neste ano, em apenas dois meses, já são 38 mortes. A chacina já é considerada a mais letal da Polícia de São Paulo desde a invasão ao Carandiru, em 1992, quando 111 presos foram assassinados.
Mesmo tendo sido denunciada na ONU, a operação não tem data para acabar, pelo contrário, o governador trocou recentemente 34 postos de comando da PM, que foram ocupados por membros da Rota, a tropa mais letal da Polícia.
Lutar contra as privatizações e o fascismo
A verdade é que a violência contra o povo pobre e as perseguições àqueles e àquelas que lutam fazem parte do mesmo projeto político. Os gerentes da burguesia tentam, a todo custo, aumentar a riqueza dos capitalistas, mesmo que, para isso, tenham que privatizar até mesmo aquilo que é mais essencial para a sobrevivência humana, a água. Enquanto concentram a riqueza e a fartura de um lado, a grande maioria do povo vive debaixo de uma profunda exploração e miséria. Nem as crianças e os adolescentes são poupados pelos parasitas.
A história coloca diante dos povos a missão histórica de derrotar de uma vez por todas o fascismo. Em São Paulo, e no Brasil, ganhar o conjunto da classe trabalhadora para lutar contra as privatizações é também a oportunidade de desenvolver a consciência de que o povo unido pode construir uma sociedade sem violência e sem fome, onde o povo negro, a juventude, as mulheres e todos os trabalhadores possam viver dignamente.
Matéria publicada na edição nº287 do Jornal A Verdade.