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domingo, 6 de outubro de 2024

Planos de Trump para o Oriente Médio: rendição da Palestina e guerra!

Sob o pseudônimo de “paz”, os planos de Donald Trump para o Oriente Médio na verdade equivalem a uma rendição da Palestina e uma nova guerra na região.

Autor: Yusuf Karatas
Tradução e Adaptação: Thales Caramante e Sandino Patriota


Foto: Reprodução/AA

ISTAMBUL – Aguardado por dias, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou seu novo “Plano de Paz no Oriente Médio”. O Primeiro-Ministro israelense Benjamin Netanyahu esteve presente ao lado de Trump enquanto ele discursava sobre a nova solução para a questão “Israel-Palestina”, a qual decretou ser o “acordo do século”. Entretanto, seria frívolo dar esse título a um acordo tão unilateral, pois o conteúdo apresentado está inflado de imposição política à Palestina.

Vamos analisar o conteúdo do plano.

Aos olhos do mundo e da história, Trump será cunhado como um dos líderes mais agressivos à Palestina. A começar pelo fato de que o plano apresentado é um “acordo de paz” típico de quem transfere a embaixada americana de Israel de Tel Aviv para Jerusalém e, ainda, que reconhece a ocupação israelense nas Colinas do Golã. De fato, Natanyahu deixou absurdamente claro a quem serve esse acordo ao elogiar Trump, dizendo que ele “é o primeiro líder a reconhecer nosso território vital.”

Através desse plano, um “mini-estado” nomeado de “Nova Palestina” deve ser estabelecido na Cisjordânia ocupada, aparte dos assentamentos e da Faixa de Gaza. Jerusalém permanecerá nas mãos de Israel e será sua capital, mas, ao mesmo tempo, a parte oriental da cidade será capital do novo mini-estado. Entretanto, como Jerusalém permanece nas mãos de Israel, a Palestina ter o Leste como sua capital terá um valor meramente simbólico.

Com promessas de investimento e trabalho, Trump está buscando reconhecimento e aprovação dos Palestinos. De acordo com esse plano, os palestinos alcançarão a prosperidade através de um investimento de USD$50 bilhões que abrangem o Egito, Jordânia e o Líbano, bem como Cisjordânia e Gaza. Mesmo que o governo Trump chame isso de “paz e prosperidade”, a rendição está sendo imposta aos palestinos em troca de pão e trabalho, mantendo ainda os palestinos sob duras condições de vida e sob cerco militar. Em outras palavras, Trump busca castigar os trabalhadores através da fome.

Para atingir esse fim, o seminário “Paz pela Prosperidade” foi realizado na cidade de Bahraini, em Manama, Arábia Saudita, Emirados Árabes, Jordânia e Egito. A administração Palestina se recusou a participar.

“Se a Palestina desistir do terrorismo, então ela será reconhecida como Estado.” – declarou Trump ao anunciar seu plano. Declaração flagrantemente agressiva à Palestina, cinicamente dita no momento de anúncio do seu “Plano de Paz”. “Chegou a hora de reconhecer Israel”, encaminhou também aos demais países árabes.

O Primeiro-ministro israelense, que discursou depois de Trump, elucidou perfeitamente que esse plano “relembra 1948 (ano de fundação do estado de Israel).”

Comentando, Trump relembrou o atentado realizado pelos EUA em Bagdá que assassinou o Comandante das Forças Quds, Quasem Soleiman. Depois focou seus comentários no Irã e nas forças libanesas do Hezbollah, descrevendo-os como “forças que ameaçam a [nossa] segurança.”

Agradecendo ao Bahrein e aos embaixadores dos Emirados Árabes – que estavam presentes no pronunciamento de Trump –, deu indicações dos objetivos subjacentes ligados ao “Acordo do Século”, ao nomear o Irã e o Hezbollah como ameaças à segurança do Oriente Médio.

Ao declarar o Irã a principal ameaça do Oriente Médio e ao implementar a estratégia de “cerco ao Irã”, os Estados Unidos tentam impedir que a China e Rússia ganhem influência na região. O plano denominado “Aliança Estratégica do Oriente Médio” busca este fim – unificando os regimes árabes sunitas na região do Golfo que veem o Irã como inimigo. Essa estratégia discute o estabelecimento de um tratado árabe-sunita (semelhante a OTAN), com participação do Egito e da Jordânia, juntamente com os demais países da região do Golfo. Afinal, com o aumento da influência iraniana na região, esta estratégia americana seria a única salvação para a manutenção desses regimes.

Trump disse que tinha forte apoio árabe para seu plano em conjunto com Netanyahu, isso nos mostra que o Presidente Americano esteve há muito tempo buscando um “ponto de apoio” e negociando com tais regimes para lidar com a questão Palestina ao lado de Israel. Ao final, Trump quer impedir que a Palestina seja um obstáculo diante dos seus planos de “cooperação” entre os países sunitas e seu “Plano de Paz no Oriente Médio”. Ele quer consolidar a hegemonia e a segurança de Israel na região, reunindo ao redor dele os regimes árabes no Golfo e impondo seu plano estratégico.

Em resumo: O chamado “Plano de Paz no Oriente Médio”, ou “Acordo do Século” pode ser considerado um estágio final da política que se iniciou na Declaração de Balfour em 1917, por meio da qual o imperialismo britânico decretou seus objetivos de estabelecer um estado judeu na Palestina, ideia que se concretizou em 1948 e continuou nas ocupações subsequentes a 1967. A “paz” repousa essencialmente na renúncia da Palestina a todos os seus direitos legítimos como nação, esquecendo às ocupações israelenses e consentindo em ser apenas um estado simbólico. Em outras palavras, o objetivo é legitimar e dar permanência às ocupações e agressões de Israel.

Por outro lado, a ideia central desse plano é explorar a hostilidade da região, dos países sunitas – como Jordânia e Egito – ao Irã. Para que possam exercer tal pressão, precisam do consentimento Palestino em um ato de rendição política. De fato, a participação dos embaixadores árabes no anúncio de Trump e Netanyahu mostra que esses regimes estão prontos para essa tarefa. É necessário remover um obstáculo que não estava permitindo Israel se reunir em torno da estratégia norte-americana de sitiar o Irã.

Concluindo: sob o pseudônimo de “paz”, os planos de Donald Trump para o Oriente Médio na verdade equivalem a uma rendição da Palestina e uma nova guerra na região.

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