Sob a justificativa de apaziguar um “conflito”, polícia militar do norte de Osasco (SP) assassina dois jovens negros nesta quarta-feira (06) em uma região que não há nenhum registro de homicídio em seis anos, senão os da polícia.
Thales Caramante
OSASCO (SP) – Fruto das lutas populares por moradia digna, a ocupação, nomeada simbolicamente de “Ocupação Esperança”, construiu um refúgio pacífico entre seus moradores. Em seis anos de lutas, não houve nenhum homicídio ou ato que justificasse uma ação ofensiva da polícia militar entre os moradores.
Foi o que argumentou um dos moradores anônimos da ocupação ao se declarar nas redes sociais sobre o ocorrido: “a polícia chega e alega um conflito e de repente, mais dois números para a estatística. Dois jovens negros, moradores da periferia, de uma ocupação organizada por um movimento de luta.”
A indignação do morador parece decorrer justamente do fato das “alegações policiais” para os assassinatos não soarem senão como um “gesto de legalidade” para anunciar sua ideologia e conduta genocida, a história se repete como uma eterna retransmissão de fatos já decorados; “Até o momento, o que se divulgou é de uma ação típica da polícia: ‘recebemos uma denúncia, fomos verificar, o indivíduo atacou a polícia que revidou e, em seguida, dois corpos tombados ao chão’.”
Mesmo diante do que consideram “algozes”, os trabalhadores e moradores não parecerem retroceder diante das ameaças contínuas da polícia no bairro com suas viaturas e pistolas em mãos, pois “vamos seguir na luta pela construção de um território onde morar com dignidade seja o nosso lema. Onde não aceitemos a invasão da PM para impor o medo, a morte.”
De fato, nem compete apresentar ainda mais contradições que se manifestaram nesse ato, pois as declarações da polícia militar para justificar sua ditadura nos bairros nem tomam o tempo de se apresentarem através de notas ou entrevistas genéricas, elas tomaram a proporção de indicarem apenas pelo seu “agir” enquanto ser político.
Ao que parece, o fato de existir demonstrações de capacidade de mobilização popular na região, impregnou a ideia na polícia militar de que são semelhantes ao crime organizado, o que, para eles, justifica a ideia de interceptação de criminosos. “Não podendo forçar alguém a acreditar que há crime onde não há crime”, a polícia militar irá “transformar o próprio crime em ato legal”. Assim, “A população vê a pena, mas não vê o crime, e justamente por ver a pena onde não há crime, não verá crime onde houver pena.”
E, ao final, essas palavras se materializam no espírito da nota do morador, “não dá pra ficar calado em tudo!” E de fato não hão de ficar calados, pois a consequência deste crime policial é senão a revolta popular contra o sistema que, nas palavras do jornalista e fotógrafo Jorge Ferreira, criou “um projeto de moer corpos negros e pobres para gerar lucro para uma elite.”