Mesmo com capitalistas batendo recordes de lucros, estimativas de organismos internacionais, como o Banco Mundial, indicam que a pandemia da Covid-19 deve levar 150 milhões à extrema pobreza até 2021.
Carolina Matos
Economista
SÃO PAULO (SP) – Enquanto o desemprego e a queda da renda da classe trabalhadora aprofundam a crise social sofrida pela grande maioria da população mundial, durante a pandemia do novo coronavírus, a riqueza total acumulada por bilionários alcançou seu nível mais alto.
Segundo o relatório Riding the storm, das fundações UBS e PwC, os super-ricos globais tiveram aumento de 27,5% de seu patrimônio líquido entre abril e julho deste ano, alcançando USD$ 10,2 trilhões. A soma ultrapassou o pico anterior, que foi de USD$ 8,9 trilhões, em 2017. Os ganhos foram mais expressivos nos setores de tecnologia, saúde e indústrias, onde a riqueza aumentou mais de 40% no período em questão.
O documento aponta que, entre 2009 a 2020, a riqueza de bilionários brasileiros aumentou de USD$ 88,6 bi para USD$ 176,1 bi, um crescimento de 99%. Os magnatas dos EUA seguem concentrando a maior parte da riqueza global, com cerca de USD$ 3,6 trilhões.
O relatório destaca ainda que tal crescimento está relacionado ao mercado de capitais e aos estímulos fiscais promovidos pelos governos como parte do combate ao novo coronavírus. Grandes empresas foram beneficiadas por pacotes de auxílio governamental durante a pandemia. Assim, muitos bilionários, também detentores de ações dessas empresas, tiveram grandes ganhos nesse cenário, em questão de semanas. Sobre isso, os dados apresentados no documento indicam que a riqueza acumulada não tinha crescido assim tão rápido em nenhum outro período desde 2009.
Diferentemente do que alegam os governos aliados ao poder econômico, o mundo não passa por uma situação de escassez ou falência dos meios de reprodução da vida. O que se observa é a frieza do capitalismo e de seus instrumentos financeiros, que funcionam para fazer o enriquecimento privado bater recordes de crescimento em cima do agravamento de uma crise social vivida por milhões de pessoas em todo o mundo.
Estimativas de organismos internacionais, como o Banco Mundial, indicam que a pandemia da Covid-19 deve levar 150 milhões à extrema pobreza até 2021. O cenário é ainda pior quando averiguamos o que há por trás desses números: aumento da fome, condições precárias de moradia, mais mortes por falta de assistência médica, desemprego e a “uberização” do trabalho, com vínculos extremamente precarizados e sem garantia de direitos.
Para atenuar essa tendência, propostas como a taxação sobre grandes fortunas e a reforma do sistema tributário ganharam força diante da pandemia. A ação coletiva, porém, não pode se limitar aos mecanismos que apenas amenizam a pobreza, ao invés de superá-la.