“O fim, porém, é orientar tanto os camponeses e a classe trabalhadora a lutar por mudanças estruturais, a promover uma ruptura revolucionária ao sistema capitalista.”
João Victor Medeiros de Godoy
GOIÂNIA (GO) – Analisando hoje, sabe-se que toda a estrutura social e econômica muda através da luta revolucionária, também combatendo politicamente os métodos reformistas que não trazem mudanças efetivas e necessárias para a sociedade. Stálin afirma com clareza: “Para não nos enganarmos em política é necessário ser revolucionário e não reformista”.
O reformismo é um problema de condução da luta pelo socialismo que está sempre à espreita, e na questão agrária não é diferente, Lênin há muito se atentava aos motivos que o levaram a chamar Kautsky de “renegado”: este se apoiava na concepção de que a luta no campo deveria tomar formas de cooperativas contra a introdução do modo capitalista de produção nos latifúndios, com propósito de impedir a desintegração do campesinato.
Para Karl Marx, a introdução do capitalismo no campo traria inevitavelmente consequências para uma “nova fase de acumulação”, dando espaço para:
1. O fim do campesinato, fazendo uma massa de camponeses expulsa do campo;
2. O aumento dos trabalhadores sem-terra se transformando em proletários rurais. O que aumentaria o exército de reserva nas cidades.
Ademais, no artigo “A Desintegração do Campesinato”, presente no livro “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”, Vladimir Lênin minuciosamente detalha três tipos de campesinatos na Rússia: o campesinato rico, o campesinato médio e o campesinato pobre.
O campesinato rico usaria de todas as estratégias possíveis para o desenvolvimento e consolidação de seu mercado, como o arrendamento de terra e a compra destas no mercado;
O campesinato médio, as coisas se dariam de formas incertas, com poucas apropriações de terra e mecanização, seria um “intermédio” entre a burguesia rural e o proletariado rural;
O campesinato pobre, por não deter grandes extensões de Terra, tecnologia em larga escala, conhecimento cientifico etc., se torna refém da introdução do sistema capitalista. Destarte, analisando o campesinato na Rússia, Lênin demonstra concretamente como se daria esse inevitável desaparecimento do campesinato.
Assim, Kautsky renegou ao marxismo por essas e outras razões políticas: colocou a ditadura do proletariado, tal como a questão camponesa, em duas zonas de influência antagônicas, guiando-se, como apontado por Ilyich, “pela sua denominação, isto é, pela palavra e não pelo lugar efetivo que ocupam na luta do proletariado contra a burguesia”. Assim, esta visão apontada por Kautsky está equivocada e travada historicamente.
A democracia burguesa entrega soluções não funcionais para os problemas que tiveram origem a partir dela mesma. Essa democracia é falsa, e as reformas e pequenas mudanças “aqui e ali” não serão suficientes para mudar a estrutura econômica e social concretamente e da maneira que precisa mudar. Ademais, a forma que a burguesia busca realizar essa transformação apenas aprofunda a crise antes estabelecida por sua política liberal.
Isso não significa, sobretudo, que não há de se apoiar e nem de colaborar nas lutas camponesas por sua libertação, tampouco exigir melhores condições de vida e combate ativo à carestia.
Os camponeses formam uma força que somará na luta revolucionária, mas deve-se apoiar os movimentos que intensifiquem a luta dos trabalhadores oprimidos, em movimentos que se formaram como quadros revolucionários e que em muito contribuirão para a revolução.
Em livro “Fundamentos do Leninismo”, Stálin trata sobre a questão do “Problema Camponês” da seguinte forma: “trata-se aqui de um apoio prestado aos movimentos e às lutas dos camponeses que facilitem direta ou indiretamente o movimento de libertação do proletariado, que impulsionem, de uma ou de outra forma, a revolução proletária e contribuam para converter os camponeses em reserva e aliados da classe operária.”
Assim, entende-se que as transformações por meio de “alterações dentro da estrutura”, isto é, reformas, nunca trouxeram uma mudança efetiva na sociedade. As melhorias sociais, principalmente nos países dominados pelo imperialismo, atendem uma ordem de “breves períodos” apontados por Lênin como “fases dentro do sistema”, ou como Marx chamava de “um novo estágio de acumulação”. Mas, que por fim, acarretariam em crises que, para defender os interesses da classe dominante, a repressão e a exploração aumentariam, se caracterizando na tirania, ou fascismo.
O fim desse processo é a intensificação da luta de classes, porém a história mostra que nem sempre essa intensificação da luta entre interesses opostos é sempre favorável à classe trabalhadora ou a burguesia, a isto depende da correlação de forças dispostas neste ou naquele momento histórico. O fim, porém, é orientar tanto os camponeses e a classe trabalhadora a lutar por mudanças estruturais, a promover uma ruptura revolucionária ao sistema capitalista.