A falta de recursos não impediu a UP de colocar seu programa de propostas nas ruas. Feita de madeira reciclada, canos, megafone e caixa de som, a Tribuna Popular foi o palco de denúncias, agitação e propaganda do partido.
Júlia Andrade Ew e Matheus Menezes
FLORIANÓPOLIS (SC) – Sem tempo de TV ou rádio, sem fundo partidário e com a menor porcentagem do fundo eleitoral do país, as campanhas da Unidade Popular Pelo Socialismo (UP) em sua primeira participação eleitoral foram verdadeiras demonstrações de força, disciplina e entusiasmo. Em Florianópolis não foi diferente, numa campanha que se caracterizou como uma verdadeira guerra contra o fascismo na cidade.
Na capital de Santa Catarina, o estado que mais votou em Bolsonaro, a UP conquistou 575 votos do povo em suas candidaturas proporcionais, o que representa 0,25% do eleitorado total da cidade, que tem 508.826 habitantes. Em sua primeira campanha no município, a UP já fez uma votação significantemente mais expressiva que partidos consolidados como PSTU, PCB, PV e AVANTE.
Esse resultado expressivo em um dos estados em que o partido é mais recente é fruto de um incansável trabalho político por parte da direção e da militância do partido, que fez uma campanha de olho no olho, conversando e visitando centenas de pessoas, apresentando para além das candidaturas, o programa do partido, as lutas dos movimentos que o compõe e o jornal A Verdade: mais de 700 jornais foram vendidos durante a campanha e pré-campanha nas ruas, e muitas pessoas assinaram o jornal para continuar em contato com a mídia popular. Pode-se dizer que boa parte dos eleitores de Florianópolis é composta por leitores do jornal A Verdade.
Enquanto grande parte dos partidos, inclusive de esquerda, se detiveram prioritariamente em uma campanha de redes sociais, a UP consolidou suas bases nas ruas. O sentimento de rejeição aos partidos burgueses e ao governo federal impulsionou ainda mais a campanha da Unidade Popular, partido declaradamente antifascista, antirracista, antimachista e socialista!
Tribuna Popular
A falta de recursos não impediu a UP de colocar seu programa de propostas nas ruas. Feita de madeira reciclada, canos, megafone e caixa de som, a Tribuna Popular foi o palco de denúncias, agitação e propaganda do partido. Situada numa das principais esquinas de Florianópolis, foi na Tribuna que se viraram votos, fizeram contatos e filiações. Se a justiça burguesa fechou as portas ao partido dos pobres em sua primeira aparição eleitoral, nas ruas o debate aconteceu de forma aberta, sincera e objetiva: combatendo o bolsonarismo, os partidos oportunistas e milionários, divulgando a alternativa dos trabalhadores, mulheres e estudantes!
Lutas na Cidade
Durante a campanha, Florianópolis foi palco de diversas lutas. Apesar das políticas de maquiagem do prefeito reeleito, não foram poucas as vezes em os trabalhadores da cidade saíram às ruas em protesto. A começar com as manifestações dos movimentos populares de moradia e ocupações urbanas contra a política de despejos do prefeito Gean Loureiro (DEM), que com seu Projeto de Lei Complementar (PLC) 1801 busca, ainda hoje, legalizar despejos sumários, sem mandado judicial, em plena pandemia. A Unidade Popular e o MLB (Movimento de luta nos bairros vilas e favelas) marcaram presença na resistência pelo despejo zero.
Em um intervalo de 30 dias, duas crianças foram executadas pela PMSC nas periferias: Marcos (15 anos) e Naninho (12 anos) que moravam, respectivamente, no morro do Quilombo e na Costeira do Pirajubaé. Até hoje, três atos foram organizados pelos familiares de Naninho. Contra a política de extermínio de pretos e pobres de SC, a UP e o Jornal a Verdade estiveram presentes no protesto, se somando ao grito de revolta dos familiares, que foi brutalmente reprimido pela PMSC.
Depois da absolvição de André Camargo Aranha, empresário que estuprou Mari Ferrer, dois atos em defesa da vida das mulheres e exigindo justiça por Mari Ferrer aconteceram na capital catarinense. A Unidade Popular, juntamente ao Movimento de Mulheres Olga Benário, somou-se também nessa batalha, contra a impunidade cedida aos homens ricos, contra a cultura do estupro e o machismo.
Além da falta de política habitacional, do racismo, violência policial e machismo, a UP em sua primeira campanha também denunciou o estado precário de trabalho de milhares de trabalhadores de Florianópolis que, pela falta de oportunidades, vivem de bicos e da informalidade. É o caso de jovens, grupos indígenas e centenas de imigrantes, que diariamente enfrentam racismo e a fiscalização da guarda municipal e da polícia, muitas vezes chegando até a serem presos e tendo seus materiais apreendidos pelo simples fato de estarem trabalhando.
Pudemos, ao longo de nossa campanha, travar lutas, fazer denúncias e lançar propostas, organizar e conhecer muitas novas pessoas, o que faz da primeira campanha da UP em Florianópolis uma campanha vitoriosa!
Próximos Passos
Nossa luta não se resume às urnas! Com um governo anti-povo do DEM reeleito, muitas serão as lutas que devemos travar em Florianópolis. Hoje, convidamos a todas e todos a comparecer quinta-feira pela manhã na esquina da Jerônimo Coelho com a Conselheiro Mafra, esquina da Tribuna Popular, para informar ao nosso povo o resultado e nossa avaliação das eleições, agradecer a todos os que nos apoiaram e apontar próximos passos de nossa organização!
Convidamos igualmente todas e todos os filiados e simpatizantes da Unidade Popular para no próximo fim de semana, no sábado dia 21, realizarmos uma plenária de avaliação da participação da UP nas eleições, organizarmos os próximos passos e avançar rumo ao poder popular.