Relatório publicado pelo Departamento de Saúde dos EUA revelou que o então presidente Donald Trump “persuadiu” o Brasil a não comprar doses da vacina Sputnik V, fabricada na Rússia, levando nosso país a se transformar no “cemitério do mundo” e uma das nações mais atrasadas na vacinação em todo o planeta.
Felipe Annunziata | Redação Rio
BRASIL – Relatório publicado pelo Departamento de Saúde dos EUA revelou que o então presidente Donald Trump “persuadiu” o Brasil a não comprar doses da vacina Sputnik V, fabricada na Rússia. No capítulo intitulado “Combatendo influências malignas nas Américas”, o então secretário de Saúde de Trump, Alex Azar, afirma que seu departamento conseguiu impedir que o Brasil fechasse contrato com o laboratório russo.
“O Escritório de Assuntos Globais [OGA, na sigla em inglês] coordenou com outras agências governamentais dos EUA para fortalecer os laços diplomáticos e oferecer assistência técnica e humanitária para dissuadir os países da região de aceitar ajuda desses estados mal intencionados. Os exemplos incluem o uso do escritório do Adido de Saúde do OGA para persuadir o Brasil a rejeitar a vacina russa [contra] a Covid-19”, afirma o documento.
Essa “assistência técnica e humanitária” dada pelos EUA a nosso país transformou o Brasil no “cemitério do mundo” e uma das nações mais atrasadas na vacinação em todo o planeta. Enquanto sabota a compra de vacinas por outros países, o governo dos Estados Unidos estoca dezenas de milhões de doses de vacinas, mesmo já tendo mais que o suficiente para atender a sua população.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) somente liberou o uso emergencial da Sputnik V no último dia 30 de março, apesar de estudos publicados pelas principais revistas científicas já terem comprovado que a vacina russa tem eficácia acima de 90%. Dessa forma, é o povo brasileiro quem vem pagando o preço pela subserviência do governo do fascista Bolsonaro ao imperialismo norte-americano.
Diplomacia de joelhos
Diante das revelações feitas pelo próprio governo estadunidense, em audiência com o hoje ex-ministro das Relações Exteriores do Brasil, o negacionista Ernesto Araújo, o deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) questionou Araújo sobre se ele sabia desse movimento e qual era a posição do governo Bolsonaro. O então ministro se limitou a dizer apenas que não sabia do ocorrido.
Em nenhum momento, entretanto, o ex-chefe da diplomacia nacional, que teria a responsabilidade de zelar pelos interesses do país, condenou o governo norte-americano pela sabotagem na compra das vacinas. Infelizmente, o atual governo colocou a diplomacia brasileira de joelhos para o imperialismo.
Vacina é um direito humano
A falta de vacina não é um problema apenas do Brasil. Os países imperialistas e ricos concentraram grande parte da produção de vacinas no mundo. Só os EUA comprou mais de 1,8 bilhão de doses, mesmo tendo uma população de 330 milhões de habitantes.
Isto acontece por conta da produção dos imunizantes estar concentrada nas mãos de alguns monopólios capitalistas, a maioria deles sediados nos EUA e na União Europeia. Além disso, como denunciou a edição de março do jornal A Verdade, esses países ricos se recusam, com o apoio subalterno do governo Bolsonaro, a quebrar as patentes desses produtos (patentes são as “receitas” que mostram como se produzir as diferentes vacinas).
A submissão do governo Bolsonaro aos Estados Unidos apenas confirma a incompetência do ex-capitão e seu descaso com a vida do povo brasileiro. Enquanto se preocupa apenas em garantir os lucros dos bancos e livrar seus filhos da cadeia, Bolsonaro faz de tudo para impedir que o Brasil supere a pandemia.
De fato, somos um dos únicos países com capacidade própria de pesquisar, desenvolver e produzir vacinas. Todos os anos, os trabalhadores do SUS vacinam de 70 a 80 milhões de brasileiros contra diversas doenças, o que sempre fez do Brasil referência mundial quando o assunto é vacina. Porém, com Bolsonaro na presidência, toda essa estrutura está sendo sabotada.
Desde o primeiro dia de seu governo, o ex-capitão vem cortando as verbas da educação e pesquisa. Na pandemia, em vez de colocar o Brasil na vanguarda mundial de enfrentamento à Covid-19, o genocida escolheu o caminho da sabotagem, da humilhação e da subserviência aos interesses do imperialismo norte-americano.