Adrian Mastrocola, Juliana Mendonça e Redação Santa Catarina
SANTA CATARINA – Na madrugada do dia 24, uma mulher trans de 40 anos em situação de rua foi vítima de uma cruel tentativa de homicídio de motivação transfóbica em Recife (PE). A mulher teve 40% do seu corpo queimado e encontra-se internada e entubada. O prefeito da cidade, João Campos (PSB), manifestou-se em seu Twitter.
“Determinei a nossa Sec. Desenv. Social que seja feito o acompanhamento e dada a assistência necessária à mulher trans vítima de queimaduras, na última madrugada, no Cais de Santa Rita. O que aconteceu é intolerável, atinge a todos e todas nós, comprometidos com a causa dos direitos humanos e do enfrentamento a qualquer tipo de violência e preconceito.”
O prefeito, contudo, foi questionado e criticado das redes por abrandar a violência sofrida, por não nomear o crime como transfobia e por tampouco oferecer o suporte necessário à vítima. A mulher encontrava-se internada na ala masculina do hospital em que está sendo tratada e teve sua privacidade violada pela mídia tradicional transfóbica, que divulgou até mesmo seu nome morto (nome de registro).
O crime não foi o único ato transfóbico marcado pela crueldade essa semana. A travesti Bebê, de 29 anos, foi assassinada a facadas na cidade de Paracuru (CE). Moradores da cidade a descreviam como uma pessoa “do bem, que conversava com todo mundo” e dizem não entender porque alguém faria tal violência contra ela.
Bebê e outras vítimas vivem no país que mais mata pessoas trans no mundo
No ano de 2020, a população trans brasileira sofreu 175 mortes violentas, das quais 78% eram pessoas negras. Além da morte pela via da violência física explícita, as pessoas trans que vivem sob o sistema de opressão que assola nosso país se deparam cotidianamente com a violência de terem seus direitos básicos à emprego digno, saúde, educação e moradia, sendo negados. Como resultado, pessoas trans, principalmente negras e periféricas, morrem também pela via da doença, da fome e da falta de perspectiva apresentada pelo Estado burguês.
É sob esse mesmo Estado que um rapaz de 22 anos foi estuprado coletivamente, torturado e marcado com palavras homofóbicas em Florianópolis, logo antes do início do mês do orgulho LGBTI+. O jovem ainda está se recuperando e o prefeito da capital catarinense, Gean Loureiro, segue sem se manifestar sobre o ocorrido.
É sob esse sistema também que uma mulher lésbica, Luana Melo, de 39 anos, em Curitiba (PR), foi assassinada brutalmente com dez tiros a mando do ex-marido, sendo vítima de feminicídio e lesbofobia, no dia 22 do mesmo mês.
No mesmo dia Gabriel Carvalho Garcia, de 22 anos, em Embu das Artes (SP), foi morto com três tiros na cabeça por um desconhecido cuja motivação também suspeita-se ter sido homofobia.
No dia 28 de junho, comemora-se internacionalmente o dia do orgulho, que relembra a revolta de Stonewall, em 1969, em que mulheres trans e travestis, lésbicas, gays e bissexuais pretas e periféricas combateram a repressão policial contra a comunidade utilizando pedras e tijolos. Uma data que se origina de uma revolta popular de uma das parcelas mais oprimidas da classe trabalhadora, hoje é disputada por grandes empresas que, ao mesmo tempo que nos exploram e nos jogam nas piores condições de trabalho, lucram com cores e estampas das bandeiras LGBTI+ e discursos defendendo a igualdade liberal.
Em tempos anteriores à pandemia, a famosa parada do orgulho de São Paulo, a maior do mundo, aquecia o mercado turístico da capital do estado que mais mata mulheres trans do país. Enquanto um grupo seleto de pessoas com alto poder aquisitivo comemora seu direito, ainda que volátil, à existência, nós, população LGBTI+ pertencentes à classe trabalhadora, lutamos constantemente sem a certeza de que chegaremos com vida e integridade física ao fim do dia.
Em uma sociedade com um sistema que existe para explorar, agredir e fazer esquecer a história de resistência do nosso povo, da nossa classe, nossas vidas não são passíveis de cuidado, de proteção e sequer de luto. Há uma contradição inerente entre a luta da população LGBTI+ e o sistema capitalista e não existe propaganda “representativa” que dê conta de resolvê-la, pois o nosso povo segue sendo assassinado.
O governo fascista homotransfóbico de Jair Bolsonaro representa em última instância o que o capitalismo reserva para nós: morte, violência, negligência e exploração. Sendo assim, não aceitaremos de forma alguma as ilusões liberais que nos são oferecidas. Se o governo fascista e o Estado burguês querem nos matar, seremos nós a derrubá-los.
Bebê presente! Luana presente! Gabriel presente!