Representante da empresa Davati Medical Supply, que fornece vacinas contra a Covid-19, afirma que diretor do Ministério da Saúde cobrou propina de US$ 1 por dose “para o grupo” como condição para fechar contrato com o governo.
Heron Barroso
Rio de Janeiro
BRASIL – Artigo publicado ontem (29) pelo jornal Folha de São Paulo traz denúncia gravíssima de corrupção dentro do governo Bolsonaro para a compra de vacinas contra a Covid-19. Segundo a matéria, Luiz Paulo Dominguetti Pereira, representante da empresa Davati Medical Supply, disse que o Diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, cobrou propina de 1 dólar por dose para fechar contrato para a compra de 400 milhões de frascos do imunizante da AstraZeneca.
Além disso, conforme a denúncia, o representante do governo ainda exigiu que o preço de venda apresentado pela Davati fosse majorado para viabilizar o acordo. Assim, cada dose passaria de US$ 3,50 (cerca de R$ 17,50) para US$ 15,50 (R$ 77,50).
“Eu falei que nós tínhamos a vacina, que a empresa era uma empresa forte, a Davati. E aí ele falou: ‘Olha, para trabalhar dentro do ministério, tem que compor com o grupo’. E eu falei: ‘Mas como compor com o grupo? Que composição que seria essa?’”, relatou Dominguetti.
Segundo o empresário, durante a conversa num restaurante em Brasília, na presença de mais duas pessoas, entre elas um oficial do Exército,“ele [Roberto Ferreira Dias] me disse que não avançava dentro do ministério se não compusesse com o grupo (…), se a gente conseguisse algo a mais tinha que majorar o valor da vacina, que a vacina teria que ter um valor diferente do que a proposta que a gente estava propondo. (…) Se você quiser vender vacina no ministério tem que ser dessa forma”.
Dominguetti disse que a empresa negou o pedido feito pelo diretor do Ministério da Saúde e não fechou contrato. “Nós tentamos por outras vias, mas não adiantou nada. Ninguém queria vacina”.
Corrupção e genocídio
O relato do representante da empresa fornecedora de vacinas reforça as suspeitas, cada vez mais concretas, que a demora do Ministério da Saúde na compra do imunizante está ligada às negociatas para enriquecer membros do alto escalão do governo.
Ainda na semana passada, o servidor do ministério Luís Ricardo Mirando relatou pressão “atípica” para a liberação a toque de caixa da vacina indiana Covaxin, e que levou o caso ao conhecimento do presidente Bolsonaro, que nada fez. A questão agora está sob investigação da CPI da Covid no Senado. Coincidentemente, o preço negociado da Covaxin (US$ 15) é praticamente o mesmo exigido pelo diretor de Logística do Ministério da Saúde para a compra da vacina oferecida pela Davati.
A pressa do governo na negociação da Covaxin contrasta com o tratamento dado à Pfizer e a Coronavac. O presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou na CPI que tanto o presidente Bolsonaro como o Ministério da Saúde ignoraram pelo menos cinco ofertas de vacina ao longo do ano passado. Será que o valor da propina não agradou “o grupo”?
Enquanto Bolsonaro e seus aliados chafurdam na corrupção, mais de 515 mil brasileiros já morreram de Covid-19 e pela falta de vacina. Hoje, um em cada quatro mortos pelo coronavírus no mundo é brasileiro e nosso país vive o maior colapso sanitário e hospitalar da sua história. Não há medicamentos para intubação, nem cilindros de oxigênio em dezenas de cidades, mas sobra cloroquina no Exército. Bolsonaro transformou o Brasil no “cemitério do mundo”.
Por tudo isso, é urgente tirar Bolsonaro e derrubar seu governo de morte, fome e desemprego. Esperar por 2022 é, além de um grande erro político, um total descompromisso com os milhares de vítimas da covid e os milhões de trabalhadores que amargam o desamparo do desemprego, a crueldade da fome e a incerteza do amanhã.
Próximo sábado (03), novas manifestações ocorrerão em todo país. É preciso transformar toda a indignação e revolta em povo na rua pelo Fora Bolsonaro.