Em Rocha Miranda, bairro da Zona Norte do Rio de Janeiro, o Cine Guaraci foi parcialmente destombado, por uma iniciativa do vereador Jair de Mendes Gomes (PROS), e está prestes a se tornar uma loja de departamentos da rede Nalin.
Luiz Otavio Burity
Rio de Janeiro
CULTURA – O cinema, desativado há pouco mais de 40 anos, possui uma importante e valorosa história no subúrbio carioca. Os cinemas de rua eram locais onde as pessoas se encontravam e difundiam a cultura e sua influência em diversas vertentes.
Em resposta ao descaso, moradores criaram o Movimento Cine Guaraci Vive, uma articulação entre artistas locais e organizações do setor cultural da região.
A burguesia destrói tudo aquilo que eleve o senso crítico da classe trabalhadora e, principalmente, o da juventude, que possui tudo que eles mais temem: a rebeldia e a esperança.
Arrancam o lazer, sucateiam a educação, extirpam a cultura e escondem a história dos nossos povos. Aqueles que verdadeiramente foram os heróis da nação são invisibilizados e tudo o que diz respeito ao bem estar social é ceifado do convívio comunitário.
Essa contradição fica evidente pelo fato da classe dominante focar somente no lucro e nunca no bem estar do povo. A verdade é que a cultura possui incentivo financeiro somente nas zonas mais ricas e influentes da cidade, como no Centro e na Zona Sul.
Dessa forma, os moradores da periferia precisam se deslocar durante horas em um transporte público precário para assistir a um espetáculo de teatro ou assistir a um filme. Excluem os espaços de lazer e entretenimento para a classe trabalhadora, pois desde que trabalhem e consumam, está “tudo bem”.
Valorizar a cultura popular
É necessário se colocar nos espaços de mobilização e articulação para a permanência desses espaços A cultura é um elemento central na constituição do indivíduo. Além da formação crítica, gera emprego e renda, saberes, conhecimento, entretenimento e lazer ao povo.
A luta do Movimento Cine Guaraci Vive ocorre para que a obra seja suspensa de maneira definitiva e o espaço volte a ser tombado e transformado em um centro cultural para a região, onde, além de atrair mais pessoas de outros lugares, incentiva o comércio local, gera emprego e, consequentemente, a área se torna mais valorizada.
Os integrantes do movimento já pensaram e integraram diversas ações, entre elas, a coleta de assinaturas em praças e parques do subúrbio, como o Parque Madureira, intervenções culturais com organizações parceiras, atos em defesa da cultura e do Cine Guaraci.
Quando vamos debater cultura na cidade maravilhosa temos que nos perguntar: “maravilhosa para quem?”. A resposta é clara: somente quem tem dinheiro e não precisa se preocupar se vai ter o que comer no dia seguinte tem acesso à uma cultura de qualidade, educação e conhecimento.
Movimento luta em defesa da cultura no subúrbio
A proposta do movimento é incentivar o movimento cultural no subúrbio, seio da classe trabalhadora fluminense. É necessário promover atividades lúdicas e artísticas, mas também que atendam as necessidades da juventude daquela área, que aumente a perspectiva de vida desses jovens.
“Queremos um bairro vivo, a cultura é o passo principal para que as pessoas de um lugar possam viver para além de trabalhar. Não nascemos apenas para ser mão de obra, temos direito à arte e lazer. E junto disso, vem tudo de melhor!”, disse Tainá Andrade, coordenadora do movimento, quando questionada acerca do impacto gerado pela construção de um centro cultural e não de uma loja de departamentos.
Fica clara a importância da mobilização popular em períodos em que o fascismo avança e a cultura é atacada. Não irão calar os moradores da periferia. No dia 28 de agosto, foi realizado um ato em defesa do Cine Guaraci, em um palco aberto que contou com artistas locais e moradores das redondezas.
Raulf Jatobá, poeta e integrante dos coletivos artísticos Atako RJ e Mente Ativa e membro do Movimento Cine Guaraci Vive, deu um depoimento ao jornal A Verdade comentando sobre a importância dessa movimentação: “Foi incrível e super simbólico, já que é um território periférico que pouquíssimas vezes teve manifestações artísticas em grande proporção. Eu moro aqui desde que nasci e só agora tenho conhecido as potências desse território. Por isso, a necessidade de construir um espaço que trará visibilidade a esses diversos talentos”.
Os moradores da periferia também merecem acesso à cultura, nossos jovens não aguentam mais o descaso. É urgente assegurar os direitos básicos da população e garantir uma vida digna aos trabalhadores.