Patrícia Egerland e Amanda Wenceslau, Florianópolis
BRASIL – Em Florianópolis, estudantes da Escola de Ensino Básico Ildefonso Linhares denunciam casos de assédio contra crianças e adolescentes. Até o momento 12 meninas, estudantes do ensino fundamental, denunciam os assédios por parte de um Capitão reformado do Exército.
Nesta segunda-feira, 19, estudantes organizaram um ato em frente à escola, cobrando respostas da direção. Para além da pressão na divulgação das medidas que a escola irá seguir, o ato foi em defesa de que o projeto cívico-militar possa ser votado pela comunidade escolar.
O projeto é uma medida do governo Bolsonaro, sendo uma ação do Ministério da Educação junto ao Ministério da Defesa, visando trazer aspectos da gestão de colégios militares para as escolas estaduais. Essa foi a aposta do governo para a educação, mas enfrentou resistência por parte dos educadores, devido ao seu caráter autoritário e antipedagógico. Em Florianópolis, a escola Ildefonso Linhares é a única onde foi implementado, há pouco mais de 4 meses.
A mãe de um estudante que estava no ato, relatou que foram feitas algumas reuniões com os pais, onde prometeram muitas melhorias no ensino com a inserção do projeto. Porém, não é o que se vê na prática, analisando o relato da mãe, que prefere não ser identificada: “Acredito que tenham aceitado em troca de mais verba para a escola, pois estão fazendo reformas desde então”. Além da possível verba, o que acontece na realidade, são casos de assédio contra menores de idade.
A primeira denúncia foi feita ainda em maio, quando uma estudante resolveu buscar ajuda da secretaria da escola e denunciou o abuso. A resposta que obteve foi o silenciamento e a tentativa de amenizar a situação, contradizendo a denúncia do crime de assédio, alegando que o agressor “era carinhoso” e a vítima havia entendido errado.
Além da deslegitimação dos fatos ocorridos, visto que os estudantes relataram que têm ouvido em sala de aula, por parte de alguns professores que, o que está acontecendo se trata apenas de “fofoca” e “mentiras” o ocorrido com a vítima.
O ato contou com a presença de várias pessoas, dentre elas familiares, ex-estudantes da escola, membros do Sindicato dos Trabalhadores da Educação de Santa Catarina e do Movimento Rebele-se. As mães presentes falam sobre a angústia, em saber que seus filhos não estão seguros e, mais ainda, que a direção deslegitima as vítimas e negligencia os casos de assédio que acontecem dentro da própria escola. Há também relatos de perseguição aos professores que são contra o projeto cívico-militar e que estão apoiando as estudantes nas denúncias.
Na semana passada, outra escola em Florianópolis, o Instituto Federal de Santa Catarina, teve também um ato organizado pelos estudantes para denunciar o assédio. Uma das estudantes que organizou o ato também se pronunciou: “Essa escola sempre teve um ambiente muito acolhedor, sempre foi como uma família para nós. É muito triste o que está acontecendo”.
A escola, localizada no bairro Carianos, região Sul de Florianópolis, é uma escola pequena onde as crianças e adolescentes lá estudam, às vezes por mais de 10 anos. De forma justa, a frente da escola foi ocupada por estudantes, mães, pais e profissionais da educação, demonstrando indignação, realizando as denúncias com gritos e palavras de ordem como: “Ei diretor, ‘‘qualé’’ que é? Você é contra o assédio ou não é?”.
Embora a conjuntura relacionada aos poderes da instituição de ensino e governamental estarem agindo em oposição aos direitos humanos, às inúmeras estudantes, familiares e apoiadores prometem continuar a luta.