Preço dos aluguéis faz famílias pobres morarem nas ruas do Rio de Janeiro

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Pesquisa da Casa Fluminense, realizada em 2020, revela que somente a Região Metropolitana do Rio de Janeiro tem um déficit habitacional de, pelo menos, 340 mil moradias. Estado foi o segundo que mais despejou famílias durante a pandemia.

Igor Barradas
Rio de Janeiro


BRASIL – Nos bairros nobres de Brasília e do Rio de Janeiro, a família do presidente da República vive uma vida luxuosa, morando em enormes mansões compradas com dinheiro vivo. Enquanto isso, grande parte da população pobre do Rio de Janeiro, o segundo estado mais rico do Brasil, vive em barracos de papelão, de favor na casa de parentes, em áreas de risco, calçadas, praças e debaixo de viadutos.

Pesquisa da Casa Fluminense, realizada em 2020, revela que somente a Região Metropolitana do Rio de Janeiro tem um déficit habitacional de, pelo menos, 340 mil moradias. Além disso, o estado foi o segundo que mais despejou famílias durante a pandemia. De acordo com dados da Campanha Despejo Zero, um total de 5.590 famílias foram expulsar de suas moradias, entre março de 2020 e maio de 2022. Outras 3.481 famílias seguem ameaçadas de despejo.

Essa tragédia ocorre pois uma minoria de ricos, que lucram com a dor e o sofrimento da população, é dona de milhares de casas e prédios e dos meios de produção. Eles se utilizam da especulação imobiliária, ou seja, deixam seus bens vazios ou subutilizados de propósito, esperando valorizá-los para alugá-los por um valor maior.

Ocupações são única opção para quem não consegue pagar aluguel

As riquezas e mansões de uma minoria de privilegiados, os capitalistas, responsáveis pelo encarecimento dos aluguéis no Rio, só existem porque deixam centenas de pessoas na miséria. Buscam reproduzir capital para manter seus interesses egoístas contra a imensa maioria do povo.

O poeta e revolucionário salvadorenho Roque Dalton, expressa essa mesquinhez nos versos da poesia Proposição: “A propriedade privada, de fato, mais do que propriedade privada, é propriedade que priva. E a ‘livre iniciativa’ mantém o país prisioneiro”.

De fato, como o preço do aluguel subiu em mais de 90% dos bairros da capital fluminense, com a média do metro quadrado da cidade a R$ 34,71, milhares de famílias pobres estão privadas de um lar, pois quem consegue pagar aluguel recebendo um salário mínimo de apenas R$ 1.212?

Para essas famílias, impossibilitadas de pagar os abusivos preços de aluguel, que se somam ao aumento do preço dos alimentos, das contas e das passagens, o único meio de conquistar seu direito à moradia é através da ocupação de imóveis sem função social.

Foi o caso de Eleonora Almeida Soares, que faz parte de um dos núcleos do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB), no Rio de Janeiro. Ano passado, ela participou da ocupação João Cândido, num prédio da região central da capital. Para ela, “a razão da existência da ocupação está na busca por solução para moradia de dezenas de famílias que não possuem casa própria, moram de favor ou sofrem pagando aluguel. A ocupação é um ato organizado, onde as famílias adentram um imóvel público ou privado que já está abandonado há anos, sem cumprir função social. É uma forma de resolver o nosso problema de moradia”.

Nos quatro dias de ocupação, Eleonora viu como as pessoas organizadas coletivamente conseguem resolver seus próprios problemas. “Todas as atividades e serviços eram divididos pelo coletivo, todos colaboraram de acordo com suas habilidades e conhecimentos. Durante a ocupação tudo transcorreu bem, todos tivemos prazer em participar das atividades e fomos melhorando cada vez na organização e realização das tarefas. Ainda sentimos saudade de como conseguimos administrar tudo e nos manter em união, segurança e muita motivação, apesar de estarmos num ambiente largado há muito tempo”, relata.

Como o compromisso dos governos capitalistas é apenas com o lucro dos ricos e das grandes empresas de construção, enquanto para o restante da população falta moradia e sobram doenças, desemprego e fome, essa situação só terá um fim quando a classe trabalhadora se organizar para tomar o poder da burguesia, construindo em seu lugar o poder popular e o socialismo.