Segundo levantamento divulgado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), além de ter o segundo menor número de inscritos(as) da história nesta edição do vestibular, cerca de 1,24 milhão de alunos faltaram no primeiro dia de aplicação do Exame Nacional Ensino Médio (Enem), isso é 26,7% de todos os inscritos.
Diogo Leme
SÃO PAULO (SP) – Seria, no mínimo, desvario afirmar que os números sobre os o ENEM e outros vestibulares acabam em si. Há, na verdade, toda uma problemática social, econômica e política por de trás da aplicação dos vestibulares no Brasil que escancara qual é o resultado de mecanizar a educação e deixá-la nas mãos dos grandes ricos.
Podemos começar pelo valor das inscrições. Considerando que o estudante escolha fazer apenas os quatro vestibulares paulistas teremos os seguintes custos por inscrição: o Enem por R$85,00; a Fuvest (USP), com seus exorbitantes R$191,00; a Comvest (Unicamp) com o recorde de R$192,00 e a Vunesp (UNESP) a R$110,00.
Somando esses 4 valores, obtém-se o total de R$578,00. Isso é cerca de 46,7% de um salário-mínimo atual, que se encontra no valor de R$1212,00.
Segundo a consultoria IDados, em 2021 o Brasil chegou a 30 milhões de pessoas que sobrevivem com 1 salário-mínimo – o maior número desde 2012. Isso representa 34,4% de todos os trabalhadores do Brasil. Ou seja, verifica-se como horizonte para os filhos de 30 milhões de cidadãos brasileiros enxergar a continuidade dos estudos em uma universidade pública como um longínquo horizonte, bem mais longe do que a fome, o trabalho informal, o crime ou a falta de formação profissional.
A política de elitização do ensino e a precarização da vida dos trabalhadores no país é um programa político seguido à risca por governos de direita que atendem às demandas dos grandes empresários de gerar lucro até mesmo na educação. Isso significa a descaracterização do ensino, transformando-o em mais uma mercadoria a ser vendida.
Segundo levantamento feito pelo Sou Ciência (Centro de Estudos Universidade, Sociedade e Ciência da Unifesp) em parceria com o Instituto Serrapilheira, de 2019 a 2022, durante o mandato de Bolsonaro, houve uma queda nas verbas de custeio das universidades federais de R$8,1 bilhões para R$4,4 bilhões. Isso representa uma queda de 50%.
Desse modo, todo o ensino superior, é levado à inércia, não havendo perspectiva para a popularização das cadeiras das universidades e correndo o risco do fechamento destas, principalmente após mais um corte das verbas do MEC e das universidades públicas.
Voltando dois anos, uma pesquisa denominada “Juventudes e a Pandemia” (realizada pelo Conselho Nacional da Juventude) mostrou que sete a cada dez jovens afirmam sentirem-se despreparados para fazer o Enem. As coisas pioram quando os dados mostram que 6 a cada 10 jovens pensam em desistir da prova do vestibular mais importante do país. Entre os motivos, 21% apontam a pausa na vida escolar por dificuldades financeiras e 14% pela dificuldade de acesso ao ensino remoto.
Percebe-se a consequência da gestão do país por um fascista e pela política neoliberal que colocou, acima da vida, o lucro durante uma pandemia em que mais de 600.000 pessoas morreram.
A falta de acesso às universidades representa uma característica do fascismo de Bolsonaro: o ódio ao povo pobre e a tentativa de mantê-lo na ignorância negando acesso à cultura e ao conhecimento para que não possa contestar as condições em que vive.
Já de acordo com o censo de 1939, da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), 100% de toda a população estava alfabetizada, exprimindo qual é a principal divergência entre os interesses de Bolsonaro e dos grandes ricos com os interesses de toda a classe trabalhadora: não se oprime e negligência educação a nenhum setor da população quando a exploração do homem pelo homem já não é mais necessária.
“A educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa”. A frase do mestre Paulo Freire evidencia que um ato de amor nunca poderá ter seu valor medido para uma venda, apenas se o amor for substituído pela ganância de poucos.
Contudo, os estudantes pobres que não possuem acesso devido pelo Estado e pelos governos ao ensino e ao vestibular são os críticos que Freire aponta, são as pessoas que devem lutar – não só por condições mínimas –, que devem almejar uma educação popular, de qualidade e gratuita.
Os primeiros cortes nas verbas das universidades por parte de Bolsonaro foram rapidamente interceptados por manifestações universitárias e secundaristas de estudantes que viram no meio político o motivo de sua precária condição de ensino, provando qual é a natureza do jovem estudante: aquele que não foge, que não se dobra à luta.
Agora é hora de voltarmos às ruas e aos corredores das universidades e derrotar de vez o fantoche de presidente para que a juventude pobre e trabalhadora possa prestar o vestibular e conquiste o livre aceso à universidade pública, com gratuidade e qualidade.