No dia 19 de Abril de 1997, cinco assassinos membros da elite econômica da região e filhos de burgueses exploradores do povo, atearam fogo a Galdino de Jesus, que teve 95% de seu corpo ser queimado, o que resultou em sua morte.
Marcelino | Estudante da UFABC
SÃO PAULO – A tragédia com os povos Yanomami que sofriam com a miséria e exploração de garimpo em suas terras enquanto o governo Bolsonaro negava ajuda nos faz lembrar de um caso importante da luta dos povos originários pela terra.
Esse caso é o assassinato do grande indígena da tribo pataxó, Galdino Jesus. Um tema que a grande mídia burguesa parece ignorar, mas que explica o ódio dos ricos aos povos indígenas e aos revolucionários.
Galdino Jesus dos Santos, da etnia pataxó-hã-hã-hãe, residia no sul da Bahia e foi uma das principais lideranças da luta indígena no nosso país. Lutava pela demarcação justa das terras aos povos originários, contra o garimpo ilegal e o desmatamento. Promoveu tal discussão dentro do cenário político pós-ditadura no Brasil e incentivou, por muitas vezes, que os indígenas ocupassem as ruas e o Congresso Nacional em defesa de seus direitos e de sua cultura.
No dia 19 de Abril de 1997, data em que desde a década de 1940 se comemora o “Dia dos Povos Indígenas”, o conselheiro pataxó foi até Brasília, juntamente ao seu povo, para reivindicar sua posse sobre as terras Caramuru-Paraguaçu, onde fazendeiros invadiram e travaram um violento conflito com os indígenas.
Vale dizer que os direitos da aldeia sobre essas terras só foram assegurados em 2012 por decisão do STF em resposta a um pedido de socorro de seus verdadeiros donos protocolado pela FUNAI quarenta anos antes.
Após as manifestações, Galdino se dirigiu novamente ao local onde iria dormir, mas foi impedido de entrar devido ao horário avançado. Portanto, o indígena, confiando de que estaria seguro, deitou-se para repousar em um ponto de ônibus. Naquela mesma madrugada, cinco assassinos, membros da elite econômica da região e filhos de burgueses exploradores do povo, atearam fogo ao indígena, que assistiu em vida 95% de seu corpo ser queimado, o que resultou em sua morte.
Logo em seguida, movimentos sociais se somaram aos militantes indígenas, agora comandados pelo cacique Wilson Pataxó, primo de Galdino, e promoveram protestos por todo o Brasil. Na mobilização, a comunidade ocupou cinco fazendas e conseguiu reconquistar a posse dos 788 hectares de terra indígena que estavam usurpados pelos capitalistas.
Quanto aos assassinos, foram levados a júri-popular apenas em 2001 e condenados à reclusão que, por intermédio das defesas, foi amenizada. Entre os recursos apresentados pelos advogados cúmplices, há a desculpa de que os homens confundiram a vítima com um morador de rua e que, nesse caso, não deveriam sofrer consequências por aquela barbaridade selvagem. Já em 2004 todos eles estavam livres.
Um dos homicidas, Gutemberg Nader de Almeida Júnior, foi libertado por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) em sessão secreta ainda em setembro de 1997. No ano seguinte, quando o criminoso completou 18 anos, o processo foi apagado. Em 2014, ele foi impedido pelo STJ de exercer um cargo na Polícia Civil do Distrito Federal.
Como todo burguês, se revoltou por ouvir um “não” e deu cabo à um elaborado processo de defesa que tinha como advogado ninguém menos que Ibaneis Rocha, então presidente da OAB e atual governador do DF que foi afastado do cargo em janeiro de 2023 por ter permitido que golpistas bolsonaristas invadissem o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal a fim de vandalizar e roubar o patrimônio público.
Atualmente, todos eles têm cargos públicos e recebem juntos aproximadamente R$ 83.463,17 por mês (fonte: Portal da Transparência) no mesmo país em que trabalhadores honestos, mães e pais de família vão para a fila do osso para poder alimentar seus filhos.
Além disso, o assassino Gutemberg Nader foi nomeado pelo governo Bolsonaro a um cargo comissionado na Polícia Rodoviária Federal em 2021, na época também sob comando do ex-juiz Sérgio Moro.
A conivência e harmonia com que os criminosos apresentam entre si demonstra mais uma vez a ideologia da classe dominante e sua certeza de impunidade. Enquanto o sistema capitalista comandar os órgãos de justiça e utilizar o fascismo como ferramenta de perpetuação no poder, povos originários e quilombolas continuarão a ser reprimidos sem reparação.
Entretanto, o poder da revolta popular e o espírito revolucionário dos oprimidos são ameaça constante aos que hoje dominam o sistema. Assim como a vida de Galdino Jesus foi exemplo de luta e abnegação pelo coletivo, o povo brasileiro não teme aqueles que há anos nos oprimem e seguem impunes por hora.
“Nos revoltamos com a história do nosso irmão até hoje, pois vemos que a justiça não é para todos. Enxergamos isso quando sabemos que os bandidos que fizeram isso com o nosso irmão estão soltos. Mas esse ocorrido não matou a nossa história, fez parte dela e fez nascer a memória do Galdino, que permanecerá”, disse cacique Junior Xukuru, gestor da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil.