Bolsonaro merece passar o resto da vida na cadeia, que é onde todo corrupto e fascista deve estar. Entretanto, ele não é o único que precisa sentar no banco dos réus. Seus cúmplices no Centrão, na grande burguesia e nas Forças Armadas também têm que pagar por todo o mal que fizeram ao país.
Heron Barroso | Redação
EDITORIAL – Por quatro longos anos, o povo brasileiro comeu o pão que o diabo amassou na mão do fascista Jair Bolsonaro. Tudo o que seu governo fez foi para piorar a vida dos trabalhadores: o salário mínimo sofreu o maior arrocho em 30 anos, o desemprego cresceu, o preço da gasolina, do gás de cozinha e dos alimentos disparou e mais de 33 milhões de pessoas voltaram a passar fome todos os dias.
Bolsonaro ainda promoveu uma reforma da Previdência que acabou com o direito à aposentadoria, destruiu leis trabalhistas e programas sociais, cortou verbas do SUS e das universidades, privatizou a Eletrobras, dilapidou a Petrobras e permitiu que a Amazônia e o Pantanal fossem violentados pela ganância do agronegócio e das mineradoras.
A corrupção também comeu solta nesses quatro anos. Através do chamado “orçamento secreto”, bilhões de reais deixaram de ser utilizados para construir escolas, creches, casas populares e hospitais e serviram para comprar o apoio dos corruptos deputados do Centrão. Isso sem contar as rachadinhas, as propinas em barras de ouro no MEC, a compra de 51 imóveis em dinheiro vivo e a gastança com o dinheiro público do cartão corporativo da Presidência da República.
Nas eleições, para tentar evitar sua derrota, o ex-capitão espalhou mentiras contra as urnas, ameaçou fechar o STF e utilizou toda a máquina do Estado a seu favor. A lei que proíbe gastos do governo em ano eleitoral foi inúmeras vezes desrespeitada, o Auxílio Brasil foi reajustado de R$ 200 para R$ 600 durante a campanha, a Polícia Rodoviária Federal bloqueou estradas para impedir eleitores de votar e as Forças Armadas passaram meses a fio ameaçando não reconhecer o resultado da votação caso seu candidato não fosse eleito.
Governo da morte
Além de transformar a vida do povo num inferno e promover a maior corrupção da nossa história, Bolsonaro também realizou um verdadeiro genocídio durante a pandemia. O fascista tratou a Covid-19 como se fosse uma “gripezinha”, fez piada do sofrimento das pessoas, nomeou o incompetente general Pazuello para o Ministério da Saúde e negou até oxigênio aos hospitais. Não bastasse, no auge da crise, suspendeu o pagamento do auxílio emergencial e atrasou por vários meses a compra da vacina. Toda essa desumanidade levou à morte mais de 700 mil pessoas, e, consequentemente, milhões de brasileiros, até hoje, sentem a perda de seus pais, irmãos, avós, companheiros e amigos.
Hipocritamente, enquanto fazia campanha contra as medidas de isolamento social e incentivava seus apoiadores a tomarem cloroquina e a não se vacinarem, o então presidente, secretamente, foi um dos primeiros a tomar a vacina. Para não ser pego no flagra e deixar de ser chamado de “mito” no cercadinho do Palácio do Planalto, decretou sigilo de 100 anos em seu cartão de vacinação.
Nas favelas e periferias, a política de morte de Bolsonaro se fez sentir no aumento da violência policial contra o povo preto e pobre, nas chacinas, no crescimento dos casos de feminicídio e no armamento do tráfico e das milícias, que tiveram a compra de armas e munições facilitada por inúmeros decretos presidenciais.
Nem os povos originários foram poupados da crueldade do governo fascista. O ex-capitão e seus generais nada fizeram para socorrer os Yanomami contra o garimpo ilegal em suas terras. O resultado dessa indiferença foi que quase 600 crianças morreram e centenas de indígenas foram diagnosticados com desnutrição, pneumonia, malária, presença de mercúrio no corpo e outras doenças relacionadas à presença dos garimpeiros na região. Um verdadeiro crime contra a Humanidade.
Punição para Bolsonaro e seus cúmplices
Diante de tantas atrocidades, Bolsonaro merece passar o resto da vida na cadeia, que é onde todo corrupto e fascista deve estar. Entretanto, ele não é o único que precisa sentar no banco dos réus e prestar contas de seus crimes. Seus cúmplices no Centrão, entre a grande burguesia e nas Forças Armadas também têm que pagar por todo o mal que fizeram ao povo e à Nação.
Realmente, se não fosse o apoio do Centrão no Congresso Nacional, o ex-capitão não teria terminado seu mandato. Prova disso foram as centenas de pedidos de impeachment engavetados pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e por seu antecessor, Rodrigo Maia (ex-DEM, hoje no PSDB), em troca de mais cargos e verbas.
A grande burguesia também é cúmplice dos crimes do governo fascista, afinal, foi ela quem financiou as ricas campanhas eleitorais dos candidatos bolsonaristas, suas redes de mentiras na internet, os acampamentos nas portas dos quartéis e a tentativa de golpe de Estado do dia 8 de janeiro, em Brasília.
Porém, sem dúvidas, os maiores responsáveis pelos crimes de Bolsonaro são os generais do Alto Comando das Forças Armadas. Foram eles os verdadeiros articuladores da chegada do ex-capitão à Presidência da República. Nesses quatro anos, os militares ocuparam mais de sete mil cargos no governo, comandaram ministérios e estatais, apoiaram o negacionismo na pandemia, foram omissos com a destruição da Amazônia e o genocídio Yanomami e não passaram um dia sequer sem fazer ameaças de um novo golpe militar.
Essa afronta permanente do Exército contra as liberdades democráticas no Brasil só continua impune porque, após o fim da Ditadura Militar, em 1985, não houve uma efetiva Justiça de Transição em nosso país. A Lei de Anistia, aprovada em 1979, ainda no governo do ditador João Figueiredo, abrangeu também os militares que perseguiram, sequestraram, torturaram, estupraram e assassinaram milhares de brasileiros, fazendo com que não fossem julgados por seus crimes. Pior: as Forças Armadas e as polícias militares mantiveram o mesmo comando, a mesma doutrina e estrutura da época da ditadura, e ainda hoje aprendem nos quartéis e academias militares a exaltar o golpe de 1964 e a nutrir ódio aos comunistas e ao povo.
De fato, chacinas, execuções, torturas, repressão policial nas favelas e perseguição aos sindicatos, indígenas, movimentos sociais e organizações revolucionárias não aconteceram apenas na ditadura. Ao contrário, esta política continua mesmo após a redemocratização. Prova disso são as chacinas da Candelária, Jacarezinho e da Praça da Sé, o massacre de Corumbiara e os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes, que completam cinco anos neste mês de março sem que nenhuma resposta sobre seus mandantes tenha sido dada.
Sem anistia para os golpistas!
Por isso, é fundamental que a luta pela punição dos golpistas de hoje caminhe junto com a luta pela punição dos golpistas de 1964, estejam eles vivos ou mortos, pois precisam ser lembrados pelo que realmente são: torturadores, estupradores, sequestradores e assassinos. Sem enfrentar a violência do passado, sem promover memória, verdade, justiça e reparação às vítimas da ditadura, as violações dos direitos humanos e as ameaças de um novo golpe fascista seguirão presentes.
Após o vandalismo fascista do dia 8 de janeiro, ganhou força a palavra de ordem “Sem anistia para golpistas”, que será levada às ruas no ato nacional do próximo dia 1º de abril, data do golpe de 1964. Os comunistas revolucionários devem levantar esta bandeira junto a todos os que defendem a democracia, exigindo a punição de Bolsonaro e seus cúmplices, “Ditadura Militar nunca mais” e por uma verdadeira Justiça de Transição no Brasil, que puna os fascistas.
A derrota sofrida pelo bolsonarismo nas urnas precisa ser consolidada nas ruas, com o movimento de massas promovendo atos e manifestações, pressionando para que não haja conciliação nem perdão e exigindo que medidas firmes sejam tomadas para impedir que os golpistas continuem atuando livremente, começando por colocar na reserva o Alto Comando das Forças Armadas, desmilitarizar as polícias, confiscar os bens dos empresários que financiam os fascistas e fechar seus canais de mentiras na internet. Somente com coragem e sem conciliação, a luta contra o fascismo será decidida a favor da classe trabalhadora.
Editorial publicado na edição impressa nº266 (1ª quinzena de março) do Jornal A Verdade.