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sábado, 14 de dezembro de 2024

Atos em repúdio ao golpe de 1964 e pela punição de Bolsonaro marcam o 1º de abril

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A cada 1º de abril, os militantes que lutam por memória, verdade, justiça e democracia saem às ruas do Brasil para dizer: “Ditadura Militar Nunca Mais!”. Neste ano, os atos tiveram um caráter mais nacional, com atos em todas as regiões do país. Outro pauta levantada foi a campanha pela punição do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus cúmplices.

Rafael Freire e Cadu Machado | Redação


EDITORIAL – Em 1º de abril de 1964, foi dado um golpe militar no Brasil. As Forças Armadas, com apoio da imprensa burguesa, dos latifundiários e industriais, do STF e da maioria do Congresso Nacional, destituíram o presidente democraticamente eleito João Goulart. O que se seguiu foram 21 anos de ditadura fascista, regime mantido à base da superexploração da classe trabalhadora e do assassinato de aproximadamente 10 mil brasileiros.

Agora, a questão que se coloca para as gerações do presente é a seguinte: avançar para uma Justiça de Transição, que siga as 29 recomendações do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (CNV) – disponível na íntegra no site Memórias Reveladas –, visando ao julgamento dos responsáveis por toda estrutura de repressão política em que se transformou o Estado brasileiro naquele período.

Ato nacional de repúdio

A cada 1º de abril, os militantes que lutam por memória, verdade, justiça e democracia saem às ruas do Brasil para dizer: “Ditadura Militar Nunca Mais!”. Neste ano, o repúdio ao golpe de 1964 avançou para um caráter ainda mais nacional, com atos em todas as regiões do país. Outro componente importante que se somou a estes atos foi a campanha pela punição do ex-presidente Jair Bolsonaro e seus cúmplices.

“Acabamos de derrotar um governo de orientação fascista, responsável direto pela morte de mais de 700 mil brasileiros na pandemia e pelo genocídio dos povos indígenas. Bolsonaro é produto da ideologia fascista impregnada no Alto Comando das Forças Armadas e já defendeu abertamente as práticas de tortura e os torturadores. Isso só é possível porque nunca houve punição aos criminosos do regime militar”, denunciou Leo Péricles, presidente nacional da Unidade Popular (UP), no ato realizado em frente ao antigo Dops, em Belo Horizonte (MG), órgão que era responsável pela perseguição política no regime militar.

Em Minas Gerais, além de Belo Horizonte, ocorreram ações nas cidades de Poços de Caldas, Viçosa, Juiz de Fora e Uberlândia.

No Estado do Rio de Janeiro, o ato na capital saiu dos Arcos da Lapa e seguiu pela Rua do Lavradio com muitas bandeiras, faixas e palavras de ordem até o prédio do antigo Dops. Também aconteceram panfletagens e brigadas do jornal A Verdade em Macaé, Petrópolis e Teresópolis.

Na capital de São Paulo, cerca de cinco mil pessoas estiveram presentes no ato, que saiu do Memorial da Resistência até a Praça da República e foi construído pela Unidade Popular, em conjunto com o PCB, a Ação Antifascista São Paulo e o coletivo de comunicação antifascista “Em Rede”, que reúne A Verdade, Soberana e Revista Opera, entre outros. Também participaram familiares de mortos e desaparecidos.

Honrando a história da UNE, Isis Mustafá, secretária-geral da entidade, afirmou que “estar nas ruas no dia de hoje é muito importante. Lutar por memória, verdade e justiça, contra impunidade para aqueles que submeteram mulheres e até crianças a torturas inimagináveis, é muito importante”.

No Espírito Santo, a militância da UP e da UJR realizou uma brigada do jornal A Verdade em que foi vendida toda a quota do Estado.

Em Brasília (DF), o ato foi realizado no dia 31 de março, com concentração na Praça Zumbi dos Palmares, onde centenas de pessoas denunciaram o que representou o golpe para a classe trabalhadora.

Em Goiânia, capital de Goiás, existe um monumento em homenagem aos mortos e desaparecidos políticos da ditadura, que foi o cenário para o ato do dia 1º de abril. Uma rua do entorno foi renomeada para homenagear Maria Augusta Thomaz, estudante morta pela ditadura. Outro momento que emocionou a todos foi o relato do jornalista Renato Dias, irmão de Marco Antônio Dias Batista, outro estudante goiano assassinado.

Atos no Nordeste

O dia 31 de março foi um marco histórico para a luta no Piauí, pois deu-se início à construção do Memorial da Resistência e da Democracia, uma demanda do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Teresina, representando no ato pelo companheiro Pedro Laurentino. A solenidade contou ainda com a presença do governador em exercício Themístocles Filho, cujo pai, o ex-deputado Themístocles Sampaio, teve seu mandado cassado na ditadura.

No Ceará, ocorreram dois atos. Em Fortaleza, a concentração foi na Praça do Ferreira, com os manifestantes saindo em caminhada com uma batucada que chamou a atenção de todos que passavam pelo Centro. O ato chegou ao Mausoléu Castello Branco (primeiro ditador pós-golpe), onde foi reafirmada a luta pela substituição desse monumento na cidade. Em Juazeiro do Norte, o ato contou com ótima recepção dos trabalhadores e trabalhadoras, que demonstraram sua revolta com a impunidade dos crimes de Bolsonaro.

Em Natal, Rio Grande do Norte, a Praça do Relógio, palco histórico das lutas pelas Diretas Já na cidade, reuniu manifestantes erguendo as fotografias de vítimas do regime militar, como Anatália Alves, Emmanuel Bezerra, Virgílio Gomes da Silva e Glênio Sá. “Os arquivos da ditadura não foram abertos e a gente trouxe justamente um panfleto lembrando os nomes e as vidas dessas pessoas para dizer que esses potiguares lutaram por democracia”, ressaltou Samara Martins, vice-presidenta nacional da UP.

Três atos aconteceram na Paraíba: em Patos, Campina Grande e João Pessoa. Na capital, diversas organizações e partidos construíram o ato no Parque da Lagoa e usaram um equipamento de som e panfletos para dialogar com a população.

Pernambuco também realizou três ações, com brigada do jornal e panfletagem em Petrolina e Caruaru e um ato no Monumento Tortura Nunca Mais, em Recife, que contou com falas de representantes de partidos, ex-presos políticos, mandatos parlamentares, entidades estudantis e sindicais, além da presença popular das famílias do MLB e de músicas entoadas por militantes da UJR e do Movimento Olga Benario.

Em Alagoas, no IFAL-Maceió, no dia 31, houve homenagem do Comitê Memória, Verdade e Justiça aos mortos e desaparecidos da ditadura, bem como aos sobreviventes que continuam firmes na luta pela reparação histórica. No dia 1º, a militância da UP foi ao Centro de Maceió para agitar pela punição de Bolsonaro.

Na Bahia, o ato foi planejado como parte do 4º Congresso Estadual da UP, em que a militância se dirigiu do local do evento ao Memorial em Homenagem aos Mortos e Desaparecidos da Ditadura Militar.

Sergipe também se somou com panfletagens e brigada do jornal em Aracaju. No Maranhão, a chuva não impediu que os brigadistas do jornal agitassem nas praças da capital São Luís.

De Norte a Sul

Na Região Norte, o jornal A Verdade promoveu um debate em Manaus, Amazonas, sobre as consequências da ditadura militar e a impunidade dos golpistas. Em Belém do Pará, centenas de militantes se concentraram na frente à Estação das Docas com muitas bandeiras e faixas pedindo a punição aos golpistas de ontem e de hoje.

Já na Região Sul, no Estado do Paraná, a Unidade Popular organizou atos nas cidades de Londrina, Foz do Iguaçu e Curitiba. Na capital, cerca de 70 pessoas marcharam, saindo do beco da Boca Maldita, local de resistência histórica à ditadura.

No Rio Grande do Sul, os atos aconteceram em Porto Alegre, Caxias do Sul, Rio Grande e Pelotas, contando com a UP, PCR, UJR, Movimento Correnteza, Fenet, Movimento Olga Benario, MLB, MLC, APG da UFRGS, PCB, UJC, MRT, Andes, PSTU, CSP e Sindoif.

Em Florianópolis, capital de Santa Catarina, o ato foi organizado pelo Coletivo Memória, Verdade e Justiça, com grande participação da UP e da UJR, e passou por espaços históricos de memória da ditadura, como a sede da União Catarinense de Estudantes, o Palácio Cruz e Souza e o Distrito Naval, realizando também intervenções artísticas.

Audiência em Brasília

No dia 28 de março, o ministro dos direitos humanos, Silvio Almeida, e o assessor especial do Ministério, Nilmário Miranda, receberam a Comissão Nacional de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos do Brasil numa audiência coletiva, em Brasília. Após a saudação inicial do ministro, a companheira Iara Xavier denunciou a impunidade dos assassinatos do seu esposo há época, Arnaldo Cardoso, e de dois irmãos (Yuri Xavier e Alex Xavier), além das torturas que ela própria sofreu, todos militantes da ALN.

Edival Nunes Cajá, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa e coordenador do Comitê Pernambucano por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia, ao representar Manoel Aleixo e seus familiares, denunciou também os covardes assassinatos de Manoel Lisboa, Amaro Luiz de Carvalho, Emmanuel Bezerra e Amaro Félix, dirigentes do Partido Comunista Revolucionário (PCR), e concluiu sua fala com a seguinte proposta:

“Senhor ministro, para defender a democracia das ameaças da extrema direita, é urgente alargá-la com a incorporação dos interesses das classes trabalhadoras marginalizadas e a criação de um órgão de Estado, especialmente com a finalidade de pôr em prática o cumprimento das 29 resoluções da CNV. Um órgão capaz de alcançar todos os militares e civis que golpearam a Constituição e os direitos humanos. Precisamos instalar a Justiça de Transição para pôr fim à impunidade em nosso país e impedir novos golpes, como a recente tentativa em 08 de janeiro”.

Editorial publicado na edição impressa nº268 (1ª quinzena de abril) do jornal A Verdade.

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