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terça-feira, 12 de novembro de 2024

Correnteza organiza batalha de rima durante a Calourada da USP

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Visando aproximar a Universidade de São Paulo à cultura preta e periférica, o Movimento Correnteza realizou a primeira edição da Batalha do Correnteza.

Rael “Obanai” Brito*


JUVENTUDE – A Universidade de São Paulo teve, desde sua criação, o objetivo de servir a elite econômica paulista para formar e possibilitar o acesso ao conhecimento apenas a quem tinha condições financeiras para tal, impossibilitando que os pobres, pretos e de periferia ingressassem na universidade e dispusessem das mesmas oportunidades.

Com o decorrer dos anos, através da implementação das cotas raciais e econômicas, a Universidade tem tido cada vez mais a cara que sempre deveria ter tido: a cara do povo. Entretanto, é inegável que há um distanciamento cultural.

Ainda que o perfil do estudante da USP não seja mais o mesmo, falta a presença da cultura marginal, popular e periférica nas atividades culturais que a universidade se propõe a levar para seus alunos.

O que queremos é que os estudantes se sintam vistos e pertencentes aos espaços, que muitas vezes não os representam. O movimento Hip Hop, por outro lado, está presente em todas as comunidades através de seus quatro elementos: DJ ‘s, graffiti, breakdance e o MC.

Uma cultura marginal é “uma produção artística que não se enquadra dentro dos padrões tradicionais de produzir cultura” e, normalmente, aquela que não reproduz a ideologia dominante, a da burguesia. Busca romper com seus ideais e criticar o sistema vigente, não é erudita, é marginal justamente por ser colocada de tal forma.

As batalhas de rima, originalmente criadas como alternativa para a violência praticada entre as gangues do Bronx em 1970, são um exemplo dessa cultura marginal. Se tornaram um espaço de voz para que os MCs possam se expressar e protestar contra as mazelas sofridas no cotidiano.

Com o objetivo de aproximar o povo de uma cultura que lhes foi tirada no momento que pisaram no ambiente elitista que é a Universidade, o Movimento Correnteza protagonizou a organização da primeira batalha de rimas dentro da USP Butantã. Trazendo nomes importantes para a cena de São Paulo como Barreto, Youngui, Vick Vi, Spratzz e Kroy, o evento ocorreu no prédio da Letras, na FFLCH.

Compreendemos como partida que a revolução só ganhará concretude material quando sua ideologia penetrar nas massas populares, se incorporar à elas e assumir a face de seu povo.

O que é perceptível ao longo dos anos é que o povo, preto, pobre e trabalhador tem tido dificuldade de se enxergar em um partido de esquerda, que buscam dialogar com a classe média e ignoram a maior parte da população, que luta diariamente por seus direitos, dentre deles o acesso à cultura, que lhes é negado.

O Correnteza, assim como seus movimentos irmãos – o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas e o Movimento de Mulheres Olga Benário – se orgulha de edificar suas bases na periferia e ser o reencontro da esquerda com o povo.

Também houve vagas para sorteio, e todos os MCs que se inscreveram tiveram a oportunidade de se expressar. A batalha ocorreu da forma mais bela possível, todos dando o máximo de si e se depositando em cada linha.

Um tema recorrente em meio às rimas foi o fato dos MCs estarem tendo espaço de voz dentro de uma faculdade, espaço que é negado à juventude preta e periférica. Entendemos que “pintar a universidade de povo” significa não só lutar pelo ingresso e permanência da nossa juventude preta, pobre e trabalhadora nesses espaços, mas também ousar valorizar nossa cultura popular!

Após o evento, diversos alunos nos contataram e, além de pedir por próximas edições, também elogiaram a iniciativa. “É muito mais próximo da minha realidade” relatou uma caloura da Letras. Esse reconhecimento nos mostra que estamos na linha correta. O objetivo de um movimento popular deve justamente ser se opor à ideologia burguesa e valorizar sua cultura.

As casas de cultura de São Paulo estão sob risco de privatização, as batalhas de rima são frequentemente alvo do governo e da polícia, através de revistas e censura, com agentes do estado rondando as rodas culturais, impedindo o prosseguimento dos eventos. Não há nenhum incentivo para que as batalhas sejam realizadas, como fornecimento de equipamentos, iluminação, e, na verdade, há uma burocracia para que os organizadores consigam permissão da prefeitura para que sejam realizadas.

Colocar um movimento periférico dentro da maior universidade da América Latina é um ato de rebeldia, é uma demonstração de poder popular e um recado em voz alta que grita que não nos calaremos.

“O Hip Hop salva vidas” foi a frase que Barreto declamou em seu freestyle, eleito o campeão. É urgente que entendamos o papel social que a cultura tem. Não são apenas pessoas gritando e se atacando em cima de uma batida musical. São jovens periféricos que muitas vezes tiveram seus direitos e vozes cerceadas, que nunca puderam se impor e através do rap encontraram uma alternativa.

*Estudante da USP

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