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domingo, 22 de dezembro de 2024

Viva Amaro Félix Pereira!

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“Só o proletariado urbano e industrial, dirigido pelo Partido Comunista, pode libertar as massas trabalhadoras rurais do jugo do capital e da grande propriedade agrária, dos latifundiários, da ruína e das guerras imperialistas, inevitáveis, vez por outra, enquanto se mantiver o regime capitalista. As massas trabalhadoras do campo não têm outra salvação senão selar uma aliança com o proletariado comunista e apoiar abnegadamente sua luta revolucionária para derrubar o jugo dos latifundiários (grandes proprietários agrários) e da burguesia”. (A Aliança Operário-Camponesa, Lênin, Editorial Vitória, 1961).

Edival Nunes Cajá | Comitê Central do PCR*


HERÓIS DO POVO – Amaro Félix Pereira, também conhecido pelo seu nome de guerra, Procópio, foi um valente militante e dirigente das Ligas Camponesas e do Partido Comunista Revolucionário (PCR), desde 1966, até seu último dia de vida, quando foi obrigado a ter que escolher entre a defesa de seus companheiros, do seu Partido, da causa do socialismo ou a sua própria morte. 

Ele nasceu no dia 10 de maio de 1929, em Rio Formoso (PE), filho de Caetana Maria da Conceição e Félix Pereira da Silva. Criou-se trabalhando no cultivo da cana, nas diversas funções existentes no canavial e na maquinaria do fabrico de açúcar e do álcool, na Usina Central de Barreiros.

Amaro se casou com Maria Júlia Pereira em sua terra natal e tiveram dez filhos. Foi dirigente das Ligas Camponesas desde seu surgimento, em 1955, no Engenho Galileia, zona rural de Vitória de Santo Antão (PE).

Sempre na luta

Imediatamente após a primeira semana de abril de 1964, Amaro Félix, Manoel Aleixo, Amaro Luiz de Carvalho, entre outras lideranças sobreviventes das Ligas, deslocaram-se para a luta clandestina devido à repressão desencadeada pela ditadura militar.

Em 1966, Amaro Félix, como resultado de uma assembleia, apresentou uma chapa, com todos os cargos preenchidos, tendo seu nome como candidato a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Barreiros. No último dia da campanha, foi preso, lançado numa viatura sob espancamento dos policiais e capangas armados da usina até sua chegada ao DOPS-PE (Delegacia de Ordem Política e Social de Pernambuco), em Recife, onde foi torturado na Rua da Aurora por três longos dias.

Porém, com as articulações do Partido junto ao aliado Miguel Mendonça, advogado, ex-deputado estadual, e ex-secretário de Estado no primeiro governo de Miguel Arraes (1962-1964), Amaro foi posto em liberdade. Ao retornar à usina para reassumir seu trabalho, foi demitido e ameaçado de “qualquer dia amanhecer com a boca cheia de formiga, se voltar a fazer agitação comunista no campo ou na frente do sindicato e da usina”.

Amaro passou a sustentar sua casa com o pequeno saldo da barraca que ele mesmo construiu em sua casa para vender as verduras por ele cultivadas na horta do quintal de sua casa e outras miudezas, aos sábados, na feira de Barreiros, onde continuou a se encontrar com seus companheiros dos engenhos e da usina.

Com o AI-5, em 13 de outubro de 1968, o chamado golpe dentro do golpe, recrudesceu a repressão política no Brasil e, de modo especial, aos comunistas revolucionários, que passaram a ser procurados feito agulha no palheiro. Para proteger os camaradas da exposição e das perseguições, a direção do Partido arrendou o Sítio Borboleta, no Engenho Constituinte, zona rural de Água Preta, sob a responsabilidade dos camaradas Palmeira e Procópio, que passaram a se dedicar ao trabalho de recrutamento e formação política marxista-leninista de novos militantes para o Partido.

Comissão sobre Mortos e Desaparecidos

Em 2006, Pedro Bezerra, ex-funcionário da oficina da usina de Barreiros, então proprietário de uma pequena oficina de automóvel, na entrada da cidade, foi, a pedido da família de Amaro Félix, depor na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), cerca de 34 anos depois da premeditada e truculenta morte de Amaro, seu companheiro de trabalho na oficina da usina.

Pedro foi a última pessoa a ver o camarada Procópio, já morto, acorrentado, no assoalho traseiro de um jipe verde, com três soldados do Exército e suas botas sobre o corpo.

“Uma lona verde cobria o corpo, mas provavelmente a movimentação do carro terminou descobrindo sua cabeça e pude perceber que se tratava do companheiro Amaro Félix”, disse Pedro diante da Comissão. Pedro afirmou ainda que a viatura trafegava no sentido Recife-Barreiros e que o carro parou na sua oficina para um conserto rápido no carburador.

Um ano depois, no final de outubro de 1973, Pedro Bezerra, recém-eleito presidente do Diretório Municipal do MDB de Barreiros, foi preso e levado ao DOI-Codi, no comando do IV Exército, na praça 13 de Maio, em Recife, para ser interrogado, sob aterrorizante ameaça de morte, sobre se ele saberia ou não do verdadeiro paradeiro de Amaro Félix.

Ao ser liberado, foi direto para sede do Diretório Estadual do MDB, na Av. Conde da Boa Vista, onde foi recebido pelo seu presidente, Pinto Ferreira, e seu secretário, o deputado estadual Jarbas Vasconcelos, que denunciou o grave ocorrido na tribuna da Assembleia Legislativa. Por esta razão, Pedro se sentiu no dever de dar seu depoimento na CEMDP sobre o desaparecimento do amigo que tanto admirava, mesmo sabendo do risco que corria.

Outros depoimentos confirmam as perseguições e as ameaças de morte que sofria Amaro Félix. Seu filho mais velho, Elias, declarou na Comissão que também foi preso e espancado pela polícia e por capangas da Usina Central Barreiros. Afirmou que, sobre o paradeiro do pai, a família ouviu vários rumores de que seu corpo teria sido jogado dentro da fornalha da usina ou no Rio Una, que passa ao lado da usina.

Sangue revolucionário

A partir da coragem dos familiares de Amaro Félix Pereira, como do seu Partido e da relatora do seu processo, iniciado em 19 de setembro de 2002 na CEMDP, a história da resistência popular pode saber da verdade e prestar uma justa homenagem a mais um dos revolucionários que deu sua vida pela liberdade, pela democracia e pelo socialismo, mesmo sob a mais sanguinária ditadura militar em nosso país.

O camarada Procópio demonstrou sua extrema fidelidade ao seu Partido durante os interrogatórios, torturas e encarceramentos pelos quais passou, primeiro na Casa de Detenção do Recife, e depois na ocasião em que foi assassinado sem nada revelar sobre seus camaradas.

Amaro Félix foi preso em 1964, 1966, 1969 e 1970. Em 20 de janeiro de 1970, foi sua última prisão, para cumprir a injusta condenação de um ano, novamente na Casa de Detenção do Recife. Uma certidão da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), datada de 11 de março de 2005, informa que Amaro foi libertado no dia 24 de novembro de 1970. Seu último depoimento prestado, ainda preso na Casa de Detenção, foi em 7 de setembro de 1970, e foi com base naquelas declarações que foi levantada parte importante das informações necessárias para que a CEMDP condenasse o Estado brasileiro a pagar a indenização a sua família. Posteriormente, foi sequestrado e desaparecido entre o final de 1971 e início de 1972.

A CEMDP acolheu, em 2 de fevereiro de 2006, por unanimidade, o voto da relatora Maria Eliane Menezes de Farias, propondo a aprovação do requerimento assinado por nove dos dez filhos de Amaro em que solicitavam à Comissão o reconhecimento do pai como desaparecido político, bem como a responsabilização do Estado pelo hediondo crime.

O heroísmo com que Amaro derrotou seus algozes, os carrascos do capitalismo, das usinas e dos grandes latifundiários não delatando seus companheiros revela a força ideológica da aliança operário-camponesa forjada para a libertação da escravidão assalariada da classe trabalhadora na cidade e no campo. Para os trabalhadores conscientes, o nome de Amaro é história, esperança, luz e fé no futuro luminoso da humanidade comunista.

A trajetória de vida e de luta de Amaro Félix Pereira jamais se apagará, porque ela é parte integrante da história da luta do proletariado revolucionário do Brasil.

Ao reconstruir a história daqueles que tombaram na luta revolucionária pela liberdade, a democracia e o socialismo, o Partido Comunista Revolucionário ergue ao alto sua bandeira e homenageia os mais de 10 mil brasileiros e brasileiras assassinados pelo fascismo que dominou a nossa pátria por duas décadas e que, até hoje, conspira por mais um golpe exatamente pela falta de punição aos torturadores e golpistas de 1964.

Pela justiça de transição!

O PCR vive, luta e avança!

Amaro Félix Pereira vive!

Viva o Socialismo!

*Edival Nunes Cajá é sociólogo, presidente do Centro Cultural Manoel Lisboa, coordenador do Comitê Pernambucano por Memória, Verdade, Justiça, Reparação e Democracia e membro do CC do PCR.

Matéria publicada na edição nº 274 do Jornal A Verdade.

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