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quarta-feira, 13 de novembro de 2024

Elite campineira ataca ocupação Maria Lúcia Petit Vive repetidamente

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Resistindo a vários meses, a Ocupação Maria Lúcia Petit Vive segue como alvo de diversos ataques da mídia burguesa, de grupos de extrema direita e fascistas ligados ao agronegócio.

Erick Padovan | Campinas


MULHERES – A Ocupação Maria Lúcia Petit Vive nasceu no dia 29/04 e é a 14ª ocupação de mulheres do Brasil organizada pelo Movimento de Mulheres Olga Benário. Após três meses, o que se vê é uma grande contradição lançada na sociedade campineira: propriedade privada ou a vida?

Dias se passaram após a instalação da ocupação e as mulheres ainda não tinham enfrentado a repressão burguesa na luta por direitos, até que se deu a visita do suposto e sumido dono do imóvel. Este é dono de mais de uma dezena de imóveis na cidade, ex-professor e diretor da Faculdade de Direito da PUC Campinas (inclusive é alvo de denúncia por perseguição a estudantes).

Figura articulada nos círculos da direita campineira por ter ligações com o Partido Progressistas (PP) e ex-Secretário de Governo da Prefeitura (1997 a 2000), enviou seu filho para ser a figura pública do processo de ataque à Ocupação. O filho foi até a porta do local, no dia 03/05, para intimidar as mulheres em luta e agredir verbalmente o vereador e apoiador Paulo Bufalo (PSOL), num vídeo que viralizou na Internet.

Já no dia 04/05, Nelson Hossri (PSD) – um dos vereadores mais reacionários da cidade e fascista seguidor de Bolsonaro – foi à frente da Ocupação para também intimidar as mulheres. Hossri já foi investigado por racismo numa Comissão Processante da Câmara e quase perdeu seu mandato.

O que se viu a partir desses dois acontecimentos foi uma verdadeira escalada articulada de perseguição violenta ao movimento social por parte da direita, desde a abertamente fascista até a chamada “direita liberal”. Na mesma tarde da visita indesejada de Hossri, vários indivíduos surgiram em frente à ocupação.

Em carros de luxo ou a pé tentavam ofender e intimidar as militantes com xingamentos, intimidação física e ameaças. Foram expulsos cerca de 6 elementos fascistas durante o dia graças à mobilização do Movimento Olga Benário e outros movimentos, além de partidos como a Unidade Popular pelo Socialismo (UP) e o PSOL.

No dia seguinte já pipocavam publicações nas redes sociais pregando o ódio e a perseguição às mulheres. As publicações vieram de outros vereadores da extrema direita, como o vereador Paulo Gaspar (NOVO) e Marcelo Silva (PSD). As mídias tradicionais da cidade começaram então a noticiar a “invasão” do imóvel, deixando claro a opinião de suas redações sobre o tema e criticando a luta pelo direito das mulheres na cidade.

No mesmo dia 05/05 a Ocupação sofreu uma tentativa de invasão por parte de integrantes do MBL, organização fascista que tem origem numa cidade vizinha a Campinas. A tentativa foi liderada pelo ex-deputado estadual Arthur Do Val (Mamãe Falei), cassado em 2022 por quebra de decoro. Mais especificamente por praticar turismo sexual e expor mulheres ucranianas sexualmente em vídeos e áudios.

Os fascistas ameaçaram invadir a ocupação pulando pelo muro e chegaram a forçar a porta de entrada, tentando intimidar as presentes. As coordenadoras da Ocupação pediram imediatamente apoio aos movimentos sociais, partidos e mandatos de esquerda da cidade. Graças ao apoio destes, os fascistas foram expulsos e conduzidos à delegacia rapidamente, onde foi feito um boletim de ocorrência.

Assista um dos vídeos divulgados pela coordenação da ocupação denunciando os ataques.

Nos dias que se seguiram vários canais e páginas nas redes sociais veicularam as informações do ocorrido. Entretanto o que se observou em especial foram os canais de alinhamento político à direita com a narrativa de ataque machista às mulheres.

Foram ataques dos mais diversos tipos, atacando não simplesmente a ocupação, mas militantes individualmente. Foram usadas suas imagens, fotos e vídeos em “reacts” para gerar engajamento com a “lacração” que retroalimenta seu público.

Ataques da grande mídia

Os acontecidos também tiveram espaço na grande mídia. Retratando como uma “invasão”, focaram na Ocupação e não nos motivos desta: a luta em defesa da vida das mulheres. Deixavam nítido o posicionamento dos donos por meio de suas linhas editoriais, que buscam moldar a mente da classe trabalhadora.

Destaca-se o caso de matéria veiculada em uma emissora afiliada da TV Bandeirantes com o repórter apresentando os elementos concretos da Ocupação e terminando com o âncora destilando quase 10 minutos de ódio e incentivo à perseguição da ocupação.

Colocou-se em clara defesa dos interesses do dono especulador do imóvel e assim mostra a vontade da grande mídia de manipular os trabalhadores que assistem o programa. Normalmente os âncoras jornalísticos são os maiores representantes da linha política burguesa dos donos das empresas de comunicação.

Outro exemplo do lobby constituído pela direita foi o caso da filiada da TV Record de Campinas, a Tathi TV. Foi dedicado praticamente 1 hora do seu principal jornal diário para construir a narrativa de ódio, perseguição e criminalização dos movimentos sociais, no caso tendo a Ocupação Maria Lúcia Petit Vive como alvo.

O comentarista do jornal chamou as militantes do movimento de vagabundas, desocupadas e incitou a punição de toda a militância envolvida. A estrutura do programa ainda construiu a narrativa de defesa e vitimização do proprietário do imóvel, com a demonização da ocupação e se valendo de comentários da população pelas redes digitais da emissora.

Importante destacar que só é aberto espaço para manifestações pelas redes após toda a narrativa ser apresentada de maneira unilateral, na defesa ideológica da minoria burguesa para a maioria trabalhadora. Isso serve ao fim de manipular a consciência da população para esta não defender seus interesses, mas defender os interesses dos poderosos.

E ainda, segundo denúncia da Rádio Noroeste FM (rádio comunitária da cidade de Campinas), a EPTV (afiliada da Rede Globo), veiculou uma matéria que apresenta os serviços prestados à mulher vítima de violência na cidade. Não foram citadas a superlotação e precarização nos serviços e nem mesmo a nova Ocupação da cidade, que justamente cobra para que mais serviços existam.

Observa-se então vários métodos de abordagem da grande mídia financiada pelos valores milionários de propaganda da prefeitura, defendendo os interesses desta. Desde os ataques frontais mais vis até a sutileza de ganhar a narrativa dos telespectadores ao apresentar um serviço sem críticas (apesar de seu sucateamento) passando a ideia de que está tudo bem.

Para coroar a ofensiva da direita foi organizada a tentativa de cassar o mandato do vereador Paulo Bufalo (PSOL), após o parlamentar visitar a Ocupação ainda nos primeiros dias. O filho do dono do imóvel aparece num vídeo que tomou repercussão nacional, ofendendo o vereador que defende a luta das mulheres.

Além disso o próprio especulador, apoiado pela base fascista de vereadores, protocolou um pedido de Comissão Processante (CP) contra o vereador, por usar o veículo oficial da Câmara de Vereadores para se deslocar para a Ocupação. O Movimento de Mulheres Olga Benário, outros movimentos sociais e partidos políticos se mobilizaram para defender o mandato do vereador.

A CP não visa apenas perseguir o mandato popular de esquerda, mas visa perseguir e criminalizar os movimentos sociais. No dia 10/05 a votação pela cassação do mandato se iniciou e após horas de debates e intensa participação dos militantes ocupando as tribunas da Câmara, e denunciando essa articulação reacionária, a CP foi derrotada. O pedido de cassação foi arquivado e marcou mais uma vitória da Ocupação Maria Lucia Petit Vive.

Ataques recentes

Apesar do arquivamento do pedido de cassação contra um apoiador, a Ocupação Maria Lucia Petit Vive continua a sofrer ataques. No último dia 2 de julho fascistas rasgaram a faixa da ocupação e no dia 24 voltaram a fazer vandalismo e intimidação contra as mulheres.

Após completar três meses de luta e resistência, fascistas que já estiveram no local junto de Arthur de Val no ataque feito em maio, voltaram a fazer intimidações, pichamentos e jogar objetos como latas de metal dentro da ocupação.

Uma das pessoas envolvidas nos ataques é Rafael Macris, filho de deputado federal do PSDB. Rafael é ex-vereador e candidato derrotado à prefeitura de Americana. Além disso, o ex-vereador é ligado ao agronegócio e recentemente se juntou ao MBL.

A luta continua

Muitos desafios ainda estão para surgir na luta contra o capitalismo, que se expressa nesse momento e nessa situação na luta pela vida das mulheres e contra o endeusamento da propriedade privada. Mas a vitória política já se faz presente pois a sociedade campineira já se mobiliza na defesa de uma ocupação.

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