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domingo, 22 de dezembro de 2024

A burguesia, suas correias de transmissão e a manipulação das massas

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As consequências de uma pequena classe de exploradores dominar a sociedade são milhões de pessoas trabalharem sem nenhum direito, crianças passarem fome e jovens ficarem sem estudar e sem emprego. 

Luiz Falcão | Comitê Central do PCR


EDITORIAL – Não há quem duvide de que a sociedade brasileira está dividida entre pobres e ricos. A classe dos pobres é formada pelos trabalhadores e trabalhadoras e são a imensa maioria da população. Já a classe dos ricos é formada por um grupo extremamente reduzido de pessoas. Estudo da Oxfam, divulgado em 16 de janeiro de 2023, revelou que apenas 3.390 indivíduos (0,0016% da população) possuem mais riqueza do que 182 milhões de brasileiros. 

É verdade que existe uma terceira classe formada por pessoas que têm renda ou salários elevados. Sonham em “subir na vida” e, um dia, virarem burgueses. Essa classe, porém, vive um acelerado processo de empobrecimento e, em grande parte, é formada por empregados de grandes empresas privadas.

Diferente do que pregam alguns pastores e padres, a burguesia não é uma classe rica graças a Deus, mas, por ter tomado posse da terra, dos minérios, do ouro e escravizado diversos povos. Até a invasão do nosso país pelo império português, nenhum hectare tinha dono; os povos indígenas viviam no regime de comunismo primitivo e consideravam a terra um bem da natureza, e não propriedade privada. Passados mais de dois séculos da implantação do sistema capitalista em nosso país, a burguesia segue mantendo os trabalhadores num regime de escravidão assalariada. De fato, 80% dos que trabalham vivem da venda de sua força de trabalho e ganham até três salários mínimos por mês, um dos mais baixos do mundo. 

Por ser proprietária do capital, dos bancos, das fábricas, da terra, das empresas, etc., a classe rica tem o poder econômico e político e é a classe dominante. A Constituição estabelece que o Estado está acima das classes, mas as ações e políticas do Estado mostram que o que existe no Brasil é um Estado burguês. Por isso, quando as massas trabalhadoras se levantam para acabar com as injustiças sociais, o Estado mobiliza não os clubes de tiro, mas as Forças Armadas e as Polícias Militares e reprime violentamente greves e manifestações. 

As consequências de uma pequena classe de exploradores dominar a sociedade são milhões de pessoas trabalharem sem nenhum direito, crianças passarem fome e jovens ficarem sem estudar e sem emprego. Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), publicado em 12 de julho, mostrou que, no Brasil, 21 milhões de pessoas não têm o que comer todos os dias e 70,3 milhões estão em insegurança alimentar. (G1, 12/07/2023). De outro lado, uma minoria de bilionários, os capitalistas, ostenta riqueza, constrói shoppings para cachorros e realiza um desenfreado consumo de bens caros e supérfluos. 

Manipulação das massas

Há, porém, outro poderoso meio usado pela burguesia para manter o domínio sobre a maioria da sociedade: apresentar a sua ideologia como se fosse uma ideologia da sociedade. Assim, promovem a manipulação das massas trabalhadoras para que tenham as mesmas ideias da classe dominante. Um exemplo: muitos trabalhadores acreditam que a causa de sua pobreza é não terem conseguido estudar ou não ter uma maior qualificação profissional, já que essa é a ideia que os grandes meios de comunicação sempre estão repetindo. Outros acreditam que foram demitidos pelos patrões porque não estão indo à igreja, quando a verdade é que o desemprego é consequência direta de um sistema econômico baseado na exploração do trabalhador e cujo objetivo principal é o aumento da riqueza capitalista, e não o bem-estar do ser humano.

Com efeito, diariamente, os inúmeros meios de comunicação da classe capitalista se encarregam de divulgar mentiras, tais como: “O capitalismo tem alguns defeitos, mas é melhor que o socialismo”; “Os ricos têm muitas mansões porque trabalharam muito”; “Os pobres são preguiçosos, se trabalhassem duro, teriam dinheiro”; “A exploração sempre vai existir, então, se você não explorar o próximo, ele vai te explorar”; “Pense primeiro em você, o resto que se dane”, etc. Pois bem, essas ideias estão presentes nas novelas, séries, filmes, programas de TVs e rádios, e são escritas por intelectuais a serviço da burguesia, com a finalidade de esconder a cruel exploração do povo e da nação pela classe rica, da burguesia.

Karl Marx e Friedrich Engels, criadores do socialismo científico, explicaram com essas palavras porque a moral da classe dominante é a que domina a sociedade: “As ideias da classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes. Quer dizer que a classe que é a potência material dominante na sociedade é igualmente a potência espiritual dominante. A classe que detém os meios de produção material dispõe igualmente, e por causa deles, dos meios de produção espiritual e detém, por isso, de maneira geral, sob seu jugo, as ideias daqueles que são privados dos meios de produção espiritual.” (K. Marx e F. Engels. A ideologia alemã. Editora Hucitec)

No século 21, esse domínio cultural e espiritual da sociedade pela burguesia cresceu enormemente com a internet, as plataformas digitais, os streamings, e, em particular, com o telefone celular. Na realidade, com a internet e o celular a ela conectado, as correias de transmissão da burguesia foram ampliadas e o controle e a vigilância sobre a população chegou a um nível nunca visto na humanidade. As empresas fabricantes dos aparelhos celulares, as redes digitais (chamadas de redes sociais para encobrir seus verdadeiros donos), e as operadoras que vendem o acesso à internet sabem o que cada pessoa faz diariamente: o que come, o que planeja comprar, com quem conversa, onde pretende ir e com quem vai se encontrar, já que o telefone está sempre ao lado da pessoa, num bolso da roupa, na mesa quando se está comendo e ao lado da cama quando vai dormir. O capitalismo transformou a liberdade individual em um verdadeiro faz-de-conta, pois monitora, 24 horas por dia, o ser humano que tem um telefone conectado à internet. Em resumo, a burguesia se mantém como classe dominante por também dominar os meios culturais e espirituais, que são suas correias de transmissão da ideologia da classe exploradora. 

Ideologias opostas

Embora possuam poderosas correias de transmissão, os patrões acusam os revolucionários, aqueles que lutam para transformar a sociedade e acabar com o modo de produção capitalista, de usarem os sindicatos como correias de transmissão do marxismo-leninismo e qualificam as lutas dos trabalhadores, em particular, as greves, como baderna e agitação. O objetivo desses ataques é impedir que a ideologia revolucionária seja propagandeada entre os trabalhadores e que a luta de classes se amplie e se desenvolva.

Ora, numa sociedade em que todos os principais meios de propaganda pertencem a uma única classe, a classe rica, e que os meios chamados de públicos são propriedade de um Estado que também é da burguesia, que meios os revolucionários podem ter para divulgarem suas ideias, senão as organizações de massas?

Vejam a falsidade: a burguesia é proprietária de um sem-número de correias de transmissão que destilam preconceitos, racismo e justifica a exploração dos seres humanos. Mas, quando os revolucionários defendem os interesses das massas trabalhadoras e propagam a ideologia da classe operária, dizem que estão fazendo “lavagem cerebral”. 

Ora, os sindicatos defendem a classe dos trabalhadores e, consequentemente, devem defender a ideologia da classe operária, isto é: o fim da sociedade exploradora, a propriedade social dos meios de produção, recursos públicos investidos em benefício do povo, e não para pagar juros ou realizar guerras; promover a solidariedade ao próximo, e não o pisoteá-lo, enfim, construir uma sociedade sem ricos e sem pobres, sem escravos e sem escravizadores.

Os sindicatos, senhores patrões, foram criados pelos trabalhadores contra a vontade da classe rica e por uma razão muito clara: os explorados viram que as entidades e órgãos existentes na sociedade burguesa só defendiam os interesses dos patrões e as suas ideias. Em 1832, por exemplo, ministros, economistas burgueses e empresários defendiam de cara limpa que crianças de menos de 12 anos deveriam trabalhar 12 horas por dia nas indústrias. Foi para combater essa infame exploração que os operários mais conscientes construíram os sindicatos¹.

Aliás, há alguns anos ficou constatado que, em vários países, milhares de crianças trabalhavam mais da metade do dia em fábricas da Apple e da Nike.  Mais: em 2018, o Congresso Nacional aprovou uma reforma trabalhista, que estabeleceu a terceirização e a jornada intermitente para facilitar aos patrões ampliarem a jornada de trabalho dos que eles exploram.

Também os partidos políticos que existiam na sociedade só defendiam os interesses da classe capitalista e leis para aumentar a exploração das massas trabalhadoras. Para ter um partido que defendesse a luta de classe e organizasse a revolução popular, os revolucionários tiveram também que criar o seu partido, o Partido Comunista Revolucionário (PCR). 

A revolução é uma realização das massas

Porém, os sindicatos e demais organizações das trabalhadoras não podem limitar sua luta a aumentos de salários e redução da jornada de trabalho. A luta dos sindicatos deve também ter o propósito de acabar com a escravidão assalariada e educar as massas para conquistar o poder para os trabalhadores. Afinal, enquanto o capital, a terra, as fábricas, as cabeças de gado, as gráficas, a TV, o rádio e a internet estiverem de posse da classe rica, os operários e as operárias continuarão sendo obrigados a vender sua força de trabalho aos donos das empresas, dedicando sua vida a enriquecer o burguês. 

Não basta, porém, os revolucionários terem seus próprios meios transmissão. É preciso que defendam e propaguem o marxismo-leninismo revolucionário e combatam a teoria revisionista da conciliação entre exploradores e explorados, sem nunca esquecerem de que é preciso ouvir com atenção o que as massas falam e convencê-las antes de qualquer grande movimento.

¹“Os operários começam por formar uniões contra os burgueses e atuam em comum na defesa de seus salários; chegam a fundar associações permanentes (sindicatos) a fim de se prepararem para choques eventuais. Aqui e ali a luta se transforma em motim. O verdadeiro resultado dessas lutas não é o êxito imediato, mas a união cada vez mais ampla dos trabalhadores. Mas toda luta de classes é uma luta política.” (Karl Marx e Friedrich Engels. Manifesto do Partido Comunista. Edições Manoel Lisboa)

Editorial publicado na edição nº 276 do Jornal A Verdade.

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