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sábado, 27 de abril de 2024

Disputa interimperialista está por trás dos golpes militares na África Ocidental

O golpe militar no Níger consolida a onda de novos governos militares na região do Sahel. Mais uma região do mundo se vê ameaçada pelas disputas interimperialistas entre o chamado Ocidente e a Rússia e China.

Redação


INTERNACIONAL – Desde o fim de julho, o mundo vem acompanhando os eventos que se sucederam ao golpe de estado no Níger, país do oeste africano na região conhecida como Sahel. O Níger sofreu um golpe de estado liderado pelo General Abdourahamane Tchiani, chefe da guarda presidencial que derrubou o governo de Mohamed Bazoum.

Desde o golpe, o imperialismo europeu, estadunidense e russo vem tomando posições de apoio ou oposição ao novo governo. Bazoum era um aliado importantíssimo da França e da OTAN na região. Por sua vez, o novo presidente tem uma postura claramente anti-francesa e tem se aproximado da Rússia e da China. 

Yevgeny Prigozhin, chefe do grupo mercenário neonazista Wagner, que há poucas semanas declarou que sua próxima missão seria em África, saudou o golpe militar no Níger e declarou total apoio ao novo governo. O Grupo Wagner, na realidade, tem aumentado exponencialmente sua presença no oeste africano.

Desde 2021, os mercenários de Prigozhin iniciaram uma atuação junto ao governo do Mali, que está sob um regime militar. Os mercenários têm ajudado os novos mandatários malineses a se manter no poder e cuidam da segurança presidencial.

Em Burkina Faso, outro país da região do Sahel e vizinho do Níger, houve um golpe militar no fim de 2022 e o novo presidente, o capitão Ibrahim Traoré, também adotou uma política de alinhamento aos russos. 

A disputa interimperialista entre França e a Rússia

Os militares têm inflado sentimentos dos povos da região contra a França. Afinal, Níger, Burkina Faso, Mali e diversos outros países do oeste africano são ex-colônias do país europeu. 

Durante seu regime de opressão colonial, a França saqueou as riquezas naturais, culturais e históricas dos povos destes países. Também impôs sua língua e forçou os trabalhadores africanos a lutarem nas guerras imperialistas francesas. 

Mesmo após os processos de independência que ocorreram entre os anos 1960 e 1970, estes países continuam sofrendo ataques do imperialismo francês com golpes e intervenções militares patrocinadas pelos governos e pela burguesia da França. Vale ressaltar que até hoje os franceses mantêm tropas regulares ocupando estes países.

Este histórico criou um sentimento justo nos povos desta região contra o imperialismo francês. Inclusive com bandeiras francesas queimadas em manifestações populares no oeste africano.

Mas apesar dos governos militares que assumiram o poder em Níger, Mali e Burkina Faso, assumirem um discurso “anti-imperialista” e contrário à dominação francesa, ao mesmo tempo, se alinham com o imperialismo russo e trabalham para garantir seus interesses na região.

As burguesias russa e chinesa vem patrocinando governos mais favoráveis aos seus interesses no Sahel. No plano militar, vemos a atuação dos nazistas do Wagner. Já no plano econômico, vemos o capital chinês tomando grandes parcelas da economia nacional de cada um destes países.

No caso do Níger, os chineses controlam 60% da única refinaria de petróleo do país, e detém a propriedade dos campos de petróleo. Depois da França, a China é o 2º maior investidor no país.

Questão nuclear e guerra imperialista

Porém, o imperialismo europeu e estadunidense não estão fora da disputa. Além das intervenções militares e a instalação de bases militares na região do Sahel, seu capital controla a economia local. 

A região do Sahel é responsável pelas maiores parcelas de produção de urânio no mundo, além de outros minérios importantes. O Níger responde por 5% da produção global de urânio e 10% deste minério usado nas usinas nucleares francesas vem deste país. 

O mesmo padrão se repete no Mali e em Burkina Faso. A multinacional francesa Orano, que atua no ciclo de combustível nuclear, detém propriedade da maioria dos campos de minério de urânio no oeste africano e é através deles que mantém seu monopólio mundial.

Não é à toa que o imperialismo russo tem atuado na região. A dominação destes territórios pelos russos significa uma dependência ainda maior da Europa em relação ao gás e petróleo da Rússia.

Por outro lado, as potências imperialistas do chamado Ocidente vem tentando a todo custo ampliar sua atuação militar na região. Utilizando, inclusive, das organizações multilaterais africanas para isso.

O Níger, Mali e Burkina Faso fazem parte da CEDEAO (Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental). Porém, desde os golpes militares, cada um destes países foram suspensos da organização. Além de governos como o da Nigéria ameaçarem intervir militarmente nestes países.

Para isso, estes governos estão ativamente buscando o apoio das potências da OTAN, afinal boa parte deles são governados por elites locais sustentadas pelo imperialismo europeu e estadunidense e veem o que ocorre nos países vizinhos como uma ameaça aos seus interesses diretos.

Neste cenário, principalmente a França vem dando indicações que quer construir uma intervenção militar no Níger usando estes países, além das suas tropas estacionadas. Duas semanas após o golpe, o presidente Emmanuel Macron declarou que “não aceitará que os interesses franceses sejam ameaçados” com a crise no Níger. Em resposta a estas ameaças, os governos militares apoiados pelos russos vem declarando que entrarão em guerra contra quem quiser intervir. 

Ou seja, para garantir os lucros de multinacionais estrangeiras, povos irmãos da África podem acabar entrando em mais uma guerra interimperialista.

É fundamental que todos os que se colocam no campo anti-imperialista no mundo se coloquem contra a presença de todas as forças militares estrangeiras do oeste africano. Tanto os militares europeus e estadunidenses, quanto os mercenários da Rússia devem se retirar destes territórios.

Apesar de não estarem sob o jugo colonial, os povos africanos ainda sofrem a opressão do imperialismo. Isto tudo com o apoio de elites subservientes a interesses estrangeiros. Por isso, o caminho que resta é o da solidariedade a todos os que lutam e resistem a esta situação.

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