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sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Ato relembra mortos incinerados na Usina Cambahyba, em Campos (RJ), durante a ditadura

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Manifestação na Usina Cambahyba, em Campos dos Goytacazes (RJ), reuniu centenas de pessoas. Usina foi usada na Ditadura Militar Fascista para incinerar militantes opositores ao regime. A memória de luta dos assassinados foi lembrada no ato que marcou a luta pela transformação do local em centro de memória.

Felipe Annunziata | Redação


MEMÓRIA – Em um ato por memória, verdade, justiça, reparação e reforma agrária, realizado no último dia 6, em Campos dos Goytacazes, interior do Rio de Janeiro, centenas de pessoas se reuniram no assentamento Cícero Guedes, do MST. A manifestação lembrou dos 12 militantes assassinados pela Ditadura Militar Fascista incinerados na Usina Cambahyba, na década de 1970.

O evento contou com a presença de familiares dos assassinados pelo regime dos generais fascistas e também com a militância de partidos políticos, organizações e movimentos sociais. Com muita emoção, a memória dos heróis que tombaram na Ditadura foi relembrada.

“É importante o ato que estamos hoje fazendo nessa cidade. Para isso, foi importante que as forças progressistas vencessem o atraso e o fascismo, com a desapropriação das terras aqui dessa usina, com o assentamento dos companheiros do MST. Agora precisa haver o tombamento e a desapropriação do forno da usina e da casa grande, que vai ser a Casa da Liberdade, vai ser o Museu da Reforma Agrária e que vai homenagear todos aqueles que foram mortos aqui na usina. Não somente os 12 heróis do povo brasileiro, mas também os camponeses que foram assassinados nessas usinas, como Cícero Guedes. [morto em 2013 e que dá nome à ocupação do MST]”, afirmou Marcelo Santa Cruz, irmão de Fernando Santa Cruz, assassinado e incinerado na Usina, em 1974.

Luta pela desapropriação da Usina Cambahyba

A Usina de Açúcar Cambahyba funcionou até a década de 1990. Durante a Ditadura Militar o local era conhecido como centro de desaparecimento de opositores ao regime. Além disso, era comum relatos de camponeses na época de que trabalhadores da usina também teriam sido incinerados nos fornos.

Após a Ditadura, a usina entrou e crise e faliu em 1995. Desde então, a terra se tornou improdutiva até a chegada das famílias sem-terra que neste ano conquistaram o direito de transformar sua ocupação em assentamento reconhecido pelo INCRA.

Foi no contexto da luta pela terra em Campos, que Cícero Guedes foi brutalmente assassinado em 2013. Militante do MST, defendia a desapropriação das terras da usina e a entrega à reforma agrária. Após sua morte e a ocupação do terreno, o MST deu seu nome ao assentamento reconhecido.

Memória, Verdade e Justiça

O ato também contou com a representação de partidos e organizações políticas, como o PCR e a UP, além de sindicatos e movimentos que defendem a pauta da memória, verdade, justiça e reparação. Representantes de municípios, do governo federal, de mandatos parlamentares, além de universidades como a UENF, UFF e o IFF também estiveram presentes.

Isabela Moraes, representando a Unidade Popular, disse que “hoje é um dia muito importante em que a gente relembra nomes de Manoel Aleixo, Luiz Almeida, Thomaz Meirelles e tantos outros. Esses nomes não podem ser esquecidos! Nós precisamos conseguir garantir a reabertura da Comissão de Mortos e Desaparecidos [extinta no final do governo do fascista Bolsonaro] para trazer justiça, memória para essas pessoas que tombaram pelo nosso país.”

Em outra fala marcante, Perly Cipriano contou como que a Usina Cambahyba havia sido usada pelos órgãos de repressão para incinerar militantes que lutavam contra a Ditadura.

“Se nós contarmos a história dessas pessoas e dos seus familiares de maneira correta, nós estaremos contando a face mais trágica da Ditadura militar. Nós estaremos fazendo a associação da ditadura militar com o fascismo. Vocês imaginem que aqui essas pessoas foram sequestradas, torturadas. assassinadas e muitas delas esquartejadas e depois trazidas para ser queimadas nos fornos de Cambahyba. Se nós pudermos ensinar aos nossos filhos, aos nossos netos e também chamar aquelas pessoas que viveram esse período e que ainda hoje não sabem disso. A criação desse memorial, vai completar um dos momentos mais trágicos da ditadura brasileira.”, afirmou Perly.

Na Usina Cambahyba foram confirmadas a incineração de 12 militantes: Ana Rosa Kucinski Silva (ALN), Armando Teixeira Frutuoso (PCdoB), David Capistrano (PCB), Eduardo Collier Filho (APML), Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira (APML), João Batista Rita Pereira (VPR), João Massena Melo (PCB), Joaquim Pires Cerveira (FLN), José Roman (PCB), Luiz Inácio Maranhão Filho (PCB), Thomáz Antônio da Silva Meirelles Neto (ALN) e Wilson Silva (ALN). Eles lutaram para libertar o Brasil da Ditadura fascista e do capitalismo. Temos que levantar bem alto a bandeira da memória, verdade, justiça e reparação. O ato em Campos (RJ) foi mais uma vitória na luta contra os criminosos da Ditadura Militar Fascista.

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