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segunda-feira, 14 de outubro de 2024

Jornalista palestino: “Às vezes, sou espancado ou preso”

O jornal A Verdade entrevistou o jornalista palestino Shafee Al-Hafeth. Residente de Hebron, a maior cidade da Cisjordânia, Shafee mora na região com mais 14 membros da família. Eles costumavam trabalhar nos territórios ocupados antes dos conflitos com soldados israelenses terem se acirrado, desde outubro do ano passado. Hoje, apesar das ameaças e riscos, o jornalista mantém o compromisso de reportar os abusos e violências do Estado israelense.

Ele conta já ter sido submetido a múltiplas agressões e espancamentos, além de sofrer ameaças de morte, mas resiste: “Depois que os negócios pararam, continuei sendo o único a continuar trabalhando, desafiando as ameaças e os riscos que enfrentava. Enfrentei a morte várias vezes, mas me recuso a parar de relatar a verdade”. Neste momento o Exército de Israel intensifica sua operação de ocupação na Cisjordânia, já somando dezenas de pessoas mortas sob o argumento “caça aos terroristas”.

A Verdade – A ajuda humanitária tem chegado na Cisjordânia?

Shafee – Desde 07 de outubro de 2023, devido ao bloqueio de fronteiras e passagens e à paralisação de trabalhos, nenhuma ajuda especial chegou à Cisjordânia. As famílias dependem dos rendimentos provenientes da agricultura, do comércio ou de algum apoio de organizações de caridade. Muitos enfrentam dificuldades para garantir o sustento diário, o que os leva a procurar donativos nas ruas ou em locais públicos.

Você poderia falar sobre sua rotina e da sua família nos últimos meses?

Desde 07 de outubro, minha rotina de vida mudou drasticamente. A vida tornou-se difícil devido aos postos de controle militares estabelecidos pela ocupação israelense entre cidades e aldeias na Cisjordânia. O deslocamento de Hebron para Belém, que costumava levar meia hora, agora leva longas horas devido aos postos de controle militares e inspeções constantes.

Às vezes, sou espancado ou preso, e, às vezes, são disparadas balas de borracha contra nós nos postos de controle. Sou sujeito a revistas minuciosas e agressões físicas por parte de soldados israelenses. Além disso, minha família sofre pressão psicológica e medo constante devido à deterioração da situação de segurança e à falta de estabilidade econômica. Contamos agora com a agricultura e o comércio locais como principal fonte de renda, na ausência de salários e auxílios.

Sobre as agressões que você enfrentou, poderia explicar como o Exército de Israel opera para oprimir as pessoas, especialmente os jornalistas?

O Exército israelense exerce intensa repressão contra cidadãos e jornalistas. As agressões incluem impedir-nos de trabalhar, restringir a nossa liberdade de movimento e nos prender por expressarmos nossas opiniões em redes digitais. Eles revistam celulares e apagam qualquer coisa relacionada à guerra ou à bandeira palestina. Sou sujeito a espancamentos, ameaças de morte e horas de detenção. Além disso, enfrentamos ataques de colonos sob a proteção do Exército sionista, que queimam casas e carros dos cidadãos e incendeiam campos agrícolas, que são a principal fonte de sobrevivência dos cidadãos.

Como está o controle israelense das fronteiras da Cisjordânia?

Israel tem controle total sobre todas as fronteiras da Cisjordânia. A saída da região é permitida sob condições limitadas, não podendo haver quaisquer problemas de segurança com a ocupação israelense. Em geral, viajar a partir da Cisjordânia é possível, mas enfrenta muitas restrições, e quaisquer questões de segurança que envolvam familiares podem dificultar a viagem.

Israel controla todas as aldeias e cidades, com portões de ferro que fecham às 15h30 e abrem às 08h00. Houve uma mudança recente na situação, uma vez que o controle sobre a Cisjordânia foi entregue ao Ministro das Finanças israelense e ao líder do partido “Sionismo Religioso”, Bezalel Smotrich. Pouco antes de lhe enviar esta mensagem, uma gravação de áudio que vazou indicava a sua intenção de anexar a Cisjordânia a Israel, o que poderia levar a mudanças significativas na região e virar a situação de cabeça para baixo, resultando potencialmente no nosso deslocamento total.

Entrevista publicada na edição nº 298 do Jornal A Verdade.

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