Isolamento social, individualismo, solidariedade e saúde mental

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MLB e Movimento de Mulheres Olga Benario já entregaram 50 kits de alimentação e higiene em Porto Alegre. Foto: MLB/RS

Por Vinícius Stone
Vice-presidete da UP no Rio Grande do Sul

OPINIÃO – São tempos estranhos os que vivemos. Mais de trinta e cinco mil mortos no mundo (dados de 30 de março), empresários fazendo campanha pelo fim do isolamento social e o Brasil sem um presidente, tendo como chefe de estado um fantoche do capital estrangeiro, que fomenta as manifestações para que os trabalhadores sacrifiquem sua vida em prol do lucro, da mais-valia dos patrões.

O invidualismo impregnado nas campanhas de isolamento social

Todos aqueles que lutam pelo bem da humanidade devem estar cientes das recomendações de isolamento social, mas precisamos estar atentos para o conteúdo individualista que muitas vezes está impregnado nessa campanha “do bem”.

As campanhas estimulando que fiquemos em casa são muito importantes, mas a grande minoria delas fala sobre quem não tem essa opção. Existem até campanhas em tom agressivo dizendo para as pessoas ficarem em casa, fazendo parecer que a decisão de ficar em casa é sempre individual. Lembremos que a escolha de ficar em casa está socialmente condicionada. Colocar toda a culpa em quem sai de casa sem saber quais são os motivos fortalece a hipótese de que o sistema capitalista e o governo não tem responsabilidade sobre os impactos do coronavírus, a hipótese equivocada de que tanto prevenção como disseminação são responsabilidade apenas de indivíduos, quando na verdade, são responsabilidade de governantes e de um sistema econômico falido.

Se o governo suspendesse imediatamente o pagamento dos juros da criminosa dívida pública, taxasse as grandes fortunas, revogasse a emenda constitucional do teto de gastos, acabasse com as isenções fiscais para banqueiros e megaempresários e usasse esse dinheiro para investir em mais saúde, além de subsidiar contas de água e luz e prover renda para quem não está podendo trabalhar, o povo brasileiro poderia escolher ficar em casa, como dizem as campanhas.

Solidariedade em tempos de coronavírus

Enquanto a burguesia faz campanhas como “não podemos ignorar a pandemia, mas não podemos ignorar a economia”, os militantes da Unidade Popular e todos aqueles que lutam por uma sociedade mais justa devem entoar a palavra de ordem “não podemos ignorar o coronavírus, mas não podemos ignorar a fome”, como bem disse Leonardo Péricles, presidente nacional da UP.

É urgente organizar campanhas de solidariedade como a do Movimento de Mulheres Olga Benário, que está arrecadando alimentos para distribuir para diaristas que ficaram sem renda devido a esta crise

Campanha de solidariedade do Movimento de Mulheres Olga Benario

Além de alimentos, precisamos levar até os trabalhadores nossa linha política, realizando brigadas do Jornal A verdade em empresas que seguem obrigando os trabalhadores a se exporem ao risco de ficar doentes.

Kits arrecadados na Casa de Referência Mulheres Mirabal. Foto: Movimento de Mulheres Olga Benário

Aos militantes que não são do grupo de risco, busquem quem está organizando as brigadas em sua cidade, se não há alguém organizando, tome a iniciativa para que as mesmas aconteçam!

Saúde mental durante o isolamento social

As brigadas de solidariedade organizadas pelos movimentos sociais e apoiadas pela Unidade Popular são um exemplo importantíssimo. Sair de casa (obviamente tomando todas as devidas precauções) para ajudar trabalhadores que às vezes nem conhecemos é um exemplo de solidariedade revolucionária, que além de fazer bem para quem recebe, faz bem para quem participa, aliviando a ansiedade de ficar muito tempo no isolamento.

Também devemos sempre lembrar daqueles e daquelas que estão no nosso dia-a-dia. O isolamento social tem efeitos diferentes naqueles e naquelas que partilham da luta por uma sociedade mais justa, e precisamos estar atentos.

O isolamento social está intimamente ligado à depressão, seja como causa ou como sintoma, independentemente da pandemia que vivemos hoje. Precisamos estar atentos ao comportamento de companheiros e companheiras, dar atenção, se oferecer para conversar, ter habilidade para tratar as questões do dia-a-dia, além de entender (e ajudar a superar) as dificuldades de cada um ou cada uma.

Existem companheiros e companheiras que não devem participar das brigadas de solidariedade, seja por morarem com parentes idosos ou por serem do grupo de risco, esses camaradas merecem atenção redobrada. Em hipótese alguma devemos fazer com que alguém se sinta culpado por não poder ajudar, devemos buscar meios de incluir nas tarefas quem não pode sair de casa de jeito nenhum, buscando coisas que podem ser feitas pelo computador (organizar planilhas, escrever matérias, fazer artes de divulgação, etc).

Além disso, a dificuldade de realizar reuniões muitas vezes pode fazer com que as coisas não aconteçam da melhor forma, que haja desencontro de informações ou que a ansiedade provocada pelos tempos atuais nos faça buscar mais comunicação pelas redes sociais do que o habitual. Precisamos ter calma e responsabilidade nesse momento. Lembremos que a ansiedade que sentimos pelo atual momento provavelmente estão sendo sentidas pelos outros. Sejamos solidários: devemos pedir ajuda quando precisarmos, mas não podemos fechar as portas quando nos pedem ajuda.

Assim não tem que ser
O primeiro a pedir ajuda
Não pode ser o último
A oferecer

A importância da formação política

Não é de ontem nem de anteontem que sabemos que o excesso de redes sociais aumentam a ansiedade. Quem está em isolamento fica mais suscetível a passar mais tempo ainda no facebook/instagram, e devemos ter cuidado.

Usemos nosso tempo livre para estudar o marxismo-leninismo, assistir filmes e séries que contribuam para a formação política e não aqueles que só servem para propagar a ideologia burguesa e que assistimos com a desculpa da “distração”.

Acompanhe e siga o programa de formação política do Jornal A Verdade: https://averdade.org.br/2020/03/programa-de-formacao-politica-para-a-quarentena/