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domingo, 24 de novembro de 2024

Brasil e EUA: 200 anos de relações marcadas por golpes e intervenções

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Em maio deste ano, marca-se 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. A história das relações entre os dois países revela constantes ataques do imperialismo estadunidense e de seus monopólios contra os trabalhadores brasileiros e sua soberania

Igor Marques | Redação RJ


HISTÓRIA – Em maio deste ano, marca-se 200 anos de relações diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos. Os Estados Unidos foram a primeira potência mundial a reconhecer a independência brasileira, no ano de 1824. Porém, o próprio reconhecimento da independência pelos Estados Unidos se inseria na lógica da Doutrina Monroe e nos objetivos do nascente Imperialismo dos EUA na América Latina. 

Nesses 200 anos de relações entre Brasil e Estados Unidos, foram marcadas por profunda desigualdade e constante ataque por parte do Imperialismo estadunidense e seus monopólios, em que os Estados Unidos buscaram impor uma política de dominação imperialista da economia brasileira.

Ao contrário do que é celebrado pelos governos dos dois países e pela grande mídia, que tentam ressaltar a “amizade” entre os dois países, as relações entre Brasil e Estados Unidos são marcadas por 200 anos de sabotagens e espionagem por parte da CIA, intervenções militares e envolvimento direto em golpes, como no golpe militar fascista de 1964.

Nesses 200 anos de “amizade” entre Brasil e Estados Unidos, foram realizadas diversas cerimônias entre os dois países. Mas ainda mais simbólico do que isso foi a mobilização de um grande porta-aviões dos EUA para o Rio de Janeiro, gesto que atua como demonstração da força, do domínio Imperialista e dos reais interesses do país.

A Doutrina Monroe

A independência do Brasil em 1822 fazia parte de um amplo contexto de independência por toda a América Latina. Diversos países da região se viam livres do domínio europeu e havia um crescente temor de uma intervenção contra essas independências.

Nesse contexto, os Estados Unidos buscava se consolidar como uma potência no hemisfério Ocidental do globo e, no ano de 1823, impõe a Doutrina Monroe. Essa doutrina, que tinha o lema “América para os Americanos”, afastava a presença europeia e aprofundava os ideais expansionistas dos Estados Unidos na América Latina.

Além de servir aos interesses dos Estados Unidos contra a presença dos europeus no continente americano, o Brasil também seria importante para a expansão comercial da crescente indústria norte-americana. Desde então, não só no Brasil, mas em toda a América Latina, a Doutrina Monroe foi utilizada pelos Estados Unidos para ampliar o seu domínio, realizar golpes e controlar as economias de diversos países da região.

Construção do Imperialismo estadunidense

No século XX, com a consolidação de seu território após guerras contra o México e o genocídio de povos indígenas, os Estados Unidos busca se tornar também uma potência Imperialista. E, nesse contexto, a América Latina foi seu primeiro alvo.

Após a proclamação da República, os Estados Unidos passam a dotar de influência ainda mais profunda na política brasileira, inclusive com intervenções militares diretas, como no contexto da Segunda Revolta da Armada. A elite que governava o Brasil tinha nos Estados Unidos um exemplo de país que excluía e segregava sua população e que governava para os mais ricos.

O Brasil se tornava cada vez mais dependente economicamente dos Estados Unidos, que se transformavam no principal comprador de café, borracha e açúcar, além de grande credor do país. Com isso, os EUA aumentam sua política de domínio da economia nacional, buscando tornar o Brasil um país que servisse aos interesses de seus monopólios.

Ataques à soberania nacional e o Golpe de 1964

Os Estados Unidos viriam ainda a aprofundar essas políticas no pós-Segunda Guerra Mundial, especialmente a partir da atuação da CIA e do financiamento de grupos de extrema-direita. Além disso, os Estados Unidos, desde antes deste período, empreenderam ações de propaganda contra o comunistas e grupos antifascistas, apoiando, inclusive, a ilegalidade do Partido Comunista.

Em diversos momentos importantes da história do Brasil, como a criação da Petrobras, a Lei de Remessa de Lucros e as Reformas de Base, os Estados Unidos assumiram sua posição Imperialista e ameaçaram intervenção direta por essas medidas irem contra os interesses dos seus monopólios.

Durante as décadas de 1950 e 1960, a relação entre Brasil e Estados Unidos, portanto, foi marcada por grandes tensões, na medida em que os EUA buscavam manter a hegemonia do seu Imperialismo no Brasil. Essas tensões tiveram ápice ao longo do governo de João Goulart (1961-1964), que além de buscar empreender as citadas Reformas de Base, também conduziu a chamada Política Externa Independente, que buscava diminuir a dependência do Brasil com relação aos Estados Unidos.

A partir de uma ampla ação de propaganda, financiamento de grupos de extrema-direita e apoio a generais golpistas, os Estados Unidos atuaram diretamente para a realização do golpe militar fascista de 1964, inclusive com apoio militar na chamada Operação Brother Sam. A partir daí, inaugurou-se um regime de repressão que durou mais de duas décadas com constante apoio norte-americano.

Apoio à Ditadura Militar Fascista e avanço do neoliberalismo

Os Estados Unidos foram fundamentais durante os 21 anos de Ditadura Militar no Brasil. Ao longo desse período, os EUA financiaram e apoiaram um regime que entregava recursos a empresas estrangeiras, restringia direitos da população e produziu profunda repressão a revolucionários e patriotas.

Durante todo esse período, os Estados Unidos ainda financiariam diversos regimes de exceção por toda a região, além de instituir uma política de repressão transnacional a partir da Operação Condor e de treinamento de táticas de tortura na chamada Escola das Américas.

A Ditadura Militar fascista também foi o período em que o Brasil ampliou enormemente sua dívida externa e, em busca de fornecer maiores lucros aos monopólios, atacou os direitos da classe trabalhadora.

Após o fim do regime militar, os Estados Unidos atuaram para manter a sua agenda de dominação do país, com amplo apoio de políticas neoliberais, privatizações e avanço da desindustrialização do país, além da criação de acordos de livre-comércio, como a Alca, que visavam ampliar essa dominação e dependência.

Desde então, os Estados Unidos mantém sua agenda neoliberal, apoiam o desmonte do país e, a partir de agências como a CIA, promovem até mesmo a espionagem de chefes de Estado, como no caso da presidente Dilma, e continuam a financiar a desestabilização e golpes no país, como visto em 2016.

Os Estados Unidos, ainda hoje, buscam ditar a produção nacional e buscam ter controle de áreas importantes e estratégicas da economia, como visto pela fala da Embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, quando afirmou a importância do país no fornecimento de minerais críticos. Além disso, essa afirmação demonstra também o papel que os EUA buscam para o Brasil: como unicamente exportador de matérias-primas.

A relação entre Brasil e Estados Unidos é, então, marcada por uma busca de ampliação do domínio militar e econômico dos EUA, com constante busca por manutenção da hegemonia Imperialista contra o Brasil. São dois séculos de ataques, intervenções e golpes de Estado, e não de amizade como buscam representar.

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