UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

sexta-feira, 15 de agosto de 2025
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Enem: mais um capítulo da exclusão ao ensino superior

Enem - mais um capítulo da exclusão ao ensino superiorNos dias 26 e 27 de outubro, pouco mais de cinco milhões de pessoas participaram das provas no Exame Nacional do Ensino Médio, o Enem. Um número gigantesco, mas que já evidencia a exclusão que esse exame representa, a começar pela grande quantidade de faltoso à prova: quase de 2,3 milhões de candidatos (29% do total de inscritos), que resolveram não se submeter à maratona de provas preparada pelo Ministério da Educação.

O crescimento pela procura ao Enem é inegável, até porque persistimos no Brasil com o menor índice de acesso da juventude ao ensino superior na América do Sul, cerca de 16% dos jovens de 18 a 24 anos. Para edição deste ano, houve um crescimento de 26% em comparação ao ano passado, totalizando 7,8 milhões de inscritos.

A falta de vagas no ensino superior

Em 2013, o Governo disponibilizou pouco mais de 300 mil vagas nas universidades públicas do País.
A juventude que vai às ruas e exige seus direitos não pode aceitar essa exclusão. Devemos exigir o livre acesso do povo à universidade pública, pois educação é um direito de todos e dever do Estado e já que a adoção do Enem não resolveu este, que é o maior problema do ensino superior no País. A União da Juventude Rebelião (UJR) convida os jovens brasileiros a se somar conosco nessa luta, que só virá fruto de muita mobilização.

Coordenação Nacional da UJR

Estudantes do Equador debatem ensino superior

Estudantes do Equador debatem ensino superiorReunindo mais de 2.000 estudantes vindos de instituições de ensino superior de todo o País, o 45° Congresso da Federação dos Estudantes Universitários do Equador (Feue) foi marcado por intensos debates sobre as reformas educacionais que vêm sendo promovidas pelo Governo de Rafael Correa e, claro, por um tema que tem chamado a atenção internacional para o Equador, a reserva Yasuní.

As consequências ambientais e sociais da exploração desta reserva florestal para fins de extração e comercialização do petróleo lá existente foram debatidas e duramente criticadas pelos estudantes equatorianos, sendo essa uma das mais importantes lutas atuais contra o Governo.
Vários foram os relatos sobre a intervenção estatal dentro das universidades, o que, na opinião dos estudantes, se constitui como uma grave quebra na autonomia universitária.

Para os representantes da Feue é preciso repensar todo o sistema educacional do País, baseado em uma ação conjunta entre comunidade universitária, sociedade e Governo, de forma em que prevaleça a democracia, visando a verdadeiras melhorias nas instituições de ensino.

Vários estudantes destacaram também o papel de uma postura crítica e rebelde da juventude, enfatizando que esta é a verdadeira força que pode transformaro processo educacional e a própria universidade, o que reforça a necessidade de ampliar o número de jovens com acesso ao ensino superior.

Dentre as bandeiras de lutas aprovadas no Congresso, estão a luta pela gratuidade da educação, pela contratação imediata de mais professores e pela regulamentação das carreiras. O estudante Javico Rojas, da Universidade Estatal de Guayaquil, foi eleito como novo presidente da Feue.

Estudantes protestam em Paris contra deportação

Estudantes protestam em Paris contra deportaçãoNão é de agora que temos visto uma crescente fascistização da política com imigrantes dos governos de países Europeus. Partidos de extrema direita tem desenvolvido um discurso xenofóbico que tem como objetivo hostilizar, tal qual o nazismo, os imigrantes que saíram de seus países que, por sinal, são espoliados pelos governos imperialistas, entre eles o da França.

Mais uma vez a juventude francesa ocupa as ruas do país. Agora lutam contra esta política xenofóbica que tem expulsado estudantes e suas famílias e tratando-os de forma desumana, como no caso da estudante Leonarda Dibrani, de origem cigana, que foi presa pela polícia durante uma excursão escolar e deportada para o Kosovo.

Em resposta milhares de estudantes franceses tem realizado manifestações contra a expulsão da aluna. Além de Leonarda, os manifestantes protestavam contra a deportação de Khatchik Kachatryan, de 19 anos. Aluna da escola Camille-Jenatzy, em Paris, ela foi enviada para a Armênia.

Os protestos contra a deportação se espalharam pela França. Os manifestantes pedem a renúncia de ministro do Interior, Manuel Valls, que vem perseguindo os imigrantes.
Em Paris, as manifestações aconteceram na Praça da Bastilha, tradicional ponto de encontro da esquerda. Houve confronto com a polícia, que utilizou gás lacrimogêneo. Mais de 40 colégios de ensino médio tiveram a entrada bloqueada. De acordo com os organizadores das manifestações o número de participantes foi calculado em ao menos 12 mil estudantes.

Apesar da repressão as manifestações têm crescido e o apoio popular também. O próprio governo tem recuado em suas declarações, reconhecendo excessos e se dividido em relação ao fato.

Mais uma vez a juventude francesa se rebela e luta contra as injustiças e por seus direitos.

Dois mil trabalhadores rurais iniciam Marcha por Terra e Justiça em Alagoas

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Marcha por Terra e Justiça em Alagoas4 de novembro. Antes de raiar o sol, dois mil camponeses já estavam de pé prontos para dar início à Marcha em defesa da Reforma Agrária. A cidade de Murici, palco de grandes conflitos agrários, concentrou no acampamento Sede (MLST) os movimentos sociais do campo que estão em Marcha com destino à Maceió.

A Marcha por Terra e Justiça é uma iniciativa do MST, MLST, MTL e CPT. E cobra do Governo Federal e Estadual a democratização da terra. “Dilma parou a Reforma Agrária. E quando chega a essa época do ano o presente que o Governador quer nos dar é botar a polícia para expulsar as famílias das terras, passar o natal na rua”, afirmou Zé Roberto, coordenador do MST.

Nas fazendas São Sebastião (Atalaia), Cavaleiro, São Simeão ou Sede e Bota Velha (Murici) vivem há mais de 10 anos cerca de 400 famílias acampadas que estão sofrendo o medo de um despejo. “O Governo Federal, o INCRA e o Governo do Estado fecham os olhos para a situação dessas pessoas e de mais 8 mil famílias que vivem às margens das BRs em Alagoas e, ao mesmo tempo, cedem aos caprichos dos usineiros e latifundiários que devem bilhões aos cofres públicos”, afirmou Carlos Lima, coordenador da CPT.

Para Débora Nunes, do MST, a luta pela terra enfrenta hoje uma forte ofensiva, “pois ela vai no central da riqueza das elites do nosso país e nós, trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra cumprimos um papel muito importante que é o de recuperar a dignidade sugada por essas elites”, afirmou Débora que destacou a importância da Marcha: “mais de 80% dos assentamentos que temos hoje só foram conquistados por conta das marchas e das lutas dos trabalhadores”.

Frei Betto, durante sua vinda à Maceió na Bienal Internacional do Livro, fez críticas a falta de investimentos na Reforma Agrária e defendeu à luta camponesa. “Era um promessa de todas as quatro campanhas do PT e os resultados são pífios frente às necessidades e as urgências do Brasil. Nós temos um crescimento do latifúndio e do agronegócio, invasão da Amazônia, devastação de muitas áreas do Brasil, de modo que eu creio que todos nós, brasileiros e brasileiras, temos que fortalecer esses movimentos que lutam pela terra, essas marchas elas precisam ser fortalecidas porque governo é que nem feijão só funciona na panela de pressão”, defendeu.

Questionado sobre a possibilidade de despejo das antigas Fazendas em Alagoas, completou Frei Betto: “Eu penso que os governos têm que agir para evitar despejos, afinal são pessoas pobres, estão no direito de receber uma terra e na expectativa de uma reforma agrária. E não tem sentido favelizar essa pessoas e levá-las para debaixo da ponte com uma expulsão sumária a base do tacão policial”.

Os movimentos sociais do campo convocam a toda sociedade para apoiar e marchar com os trabalhadores, juntos por um futuro de igualdade e fraternidade. “Precisamos unificar as lutas dos trabalhadores da cidade e do campo para repartir a terra e seus frutos. Assim será possível acabar com a fome e as desigualdades”, afirmou Josival de Oliveira, do MLST.

Histórico das áreas

Fazenda São Sebastião – Atalaia

Parte da massa falida da antiga Usina Ouricuri, a área é ocupada por 120 famílias e coordenada pelo MST. Além da produção dos trabalhadores rurais, o acampamento conta com a Escola Itinerante Rosa Luxemburgo. Nessa área foi assassinado, em 2005, o dirigente estadual do MST, Jaelson Melquíades, tombado pelas mãos dos latifundiários da região.

Em 12 de dezembro de 2012 as famílias foram despejadas pela Policia Militar de Alagoas, e no dia 8 de março de 2013 foi reocupada. O clima na região é bastante tenso e já foi expedida outra ordem de despejo, inclusive com pedido de prisão de lideranças.

Fazenda Cavaleiro ou Bulangi – Murici

O imóvel foi ocupado em 18 de setembro de 2003 por 75 famílias Sem Terra, coordenadas pelo MTL. As famílias foram despejadas, em fevereiro de 2011 de forma violenta pela policia militar de Alagoas com uso de bombas e balas de borrachas, vários camponeses foram feridas. Atualmente vivem de forma precária em barracas de lonas na BR 104.

O imóvel faz parte da massa falida da usina São Simeão, atualmente a usina Santa Clotilde explora o imóvel e foi a autora do pedido de reintegração de posse.

Marcha por Terra e Justiça em Alagoas 2Fazenda São Simeão/Sede – Murici

Ocupada por 120 famílias sem terra e coordenadas pelo MLST, as famílias construíram casas de taipas, escolas para crianças, jovens e adultos, salão de reunião, conquistaram energia elétrica e cultivam Macaxeira, banana, feijão, milho, batata, abacaxi, abobora, hortaliças.

Quando as famílias ocuparam a propriedade as terras improdutivas estavam abandonadas pela Usina São Simeão pertencente às famílias Omena e Nogueira que são devedoras do INSS, impostos federais e estaduais, companhia energética, passivo trabalhista. O INSS estava adquirido por conta de dívidas trabalhistas, estranhamente foi arrendada pela Usina Santa Clotilde S/A, que entrou com o pedido de reintegração de posse na Vara Agrária que concedeu liminar favorável à usina. O despejo pode acontecer a qualquer momento.

Bota Velha – Murici

Ocupada em 2002 por 102 famílias Sem Terra, coordenada pela CPT, as famílias que moram e plantam nas terras, possuem produção agroecológica (hortaliças, macaxeira, inhame, abóbora, melancia, feijão, etc) e uma pequena criação de animais (galinhas, ovelhas, patos), ocupam 60 hectares do total da fazenda. No local, existe energia elétrica, as casas algumas são de alvenaria e uma casa de farinha.

Nos últimos três anos a Usina Santa Clotilde vem ameaçando as famílias de despejos, destruição das lavouras, das casas e de outras benfeitorias construídas nos últimos 11 anos.

Foto: Ésio Melo

Assassinado pela ditadura, Odijas Carvalho de Souza terá atestado de óbito retificado

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Assassinado pela ditadura, Odijas Carvalho de Souza terá atestado de óbito retificado 2No dia 15 de outubro, foi anunciada uma importante conquista para os direitos humanos e todos que lutam pela justiça no caso de Odijas: seu atestado de óbito será retificado para conter as reais causas de sua morte, de “embolia pulmonar” (ou seja, morte por causa natural assinada pelo médico Ednaldo Paes Vasconcelos) para“homicídio por lesões corporais múltiplas decorrentes de atos de tortura”.

Odijas Carvalho de Souza, estudante de agronomia da UFRPE e militante do PCBR, foi barbaramente assassinado, aos 26 anos, após sessões de tortura nas dependências do Hospital da Polícia Militar do Recife, no dia 8 de fevereiro de 1971.Seu corpo foi enterrado no Cemitério de Santo Amaro com o nome de “Osias” de Carvalho Souza, como forma de dificultar a localização e esconder o crime, o que causou ainda mais dor a família durante a procura. Odijasé um dos 51 mortos e desaparecidos políticos pernambucanos que constam na lista preliminar da Comissão Estadual da Verdade.

A mudança da causa da morte no atestado de óbito de Odijas, punição dos torturadores e esclarecimento da verdade é uma luta que tem sido travada pelos estudantes, militantes dos movimentos sociais e dos direitos humanos ao longo dos anos em Pernambuco, através de atos políticos, seminários, aposição de placas, apuração de depoimentos. A solicitação da correção do atestado de óbito foi encaminhada à justiça pela Comissão Estadual da Verdade Dom Helder Câmara em julho de 2013 em nome da viúva de Odijas, Ivone Loureiro.

Assassinado pela ditadura, Odijas Carvalho de Souza terá atestado de óbito retificadoA sentença da juíza da 12ª Vara do Recife, Andrea Epaminondas Tenório, foi publicada no Diário Oficial do Estado e entre 15 à 20 dias, prazo em que o cartório de registro civil deverá ter expedido novo documento. Na sentença, a juíza afirmou que tomou o parecer favorável do Ministério Público de Pernambuco (MP-PE) e o levantamento da Comissão estadual da Verdade como base para a decisão. Ao encaminhar à 12ª Vara de Família, a promotora Luciana de Braga Costa argumentou: “a agonia de Odijas se deu no cárcere, mas as provas de sua ocorrência estão hoje postas sob as nossas vistas: em campo aberto, à luz clara do dia, após minuciosa apreciação em instâncias diversas”.

A correção do atestado de óbito de Odijas é a primeira alcançada pela Comissão Estadual da Verdade Dom Helder Câmara e o segundo que ocorreu no país. Em São Paulo, a justiça também autorizou a modificação no atestado de óbito de Vladimir Herzog, que morreu sobre tortura no DOI-CODI, no entanto constava morte por suicídio.

Assassinado pela ditadura, Odijas Carvalho de Souza terá atestado de óbito retificado 4

A luta pela justiça e memória dos jovens assinados pela ditadura está na ordem do dia, mentiras, causas mortis falsas, torturas, violações de direitos humanos, desaparecimentos, constituem torturas eternas para os familiares e o povo brasileiro. Sigamos em frente na luta para que todos os que foram assassinados pela ditadura civil-militar brasileira tenham seus atestados corrigidos, corpos encontrados e seus torturadores punidos! São estas reparações que o estado brasileiro precisa cumprir diante dos crimes de lesa-humanidade e lesa-pátria, intensas violações de direitos humanos e crimes imprescritíveis que foram cometidas contra o povo brasileiro e a democracia. Um país digno é um país que tem memória, e que é justo por tomar ações condizentes com a sua história.“Brasil, mostra tua cara!”

Confira algumas mobilizações e atos em memória à Odijas:

– Rematrícula de Odijas Carvalho de Souza na Universidade Federal Rural de Pernambuco, em Novembro de 2012

– Primeira sessão sobre a morte Odijas e depoimentos de ex-presos políticos promovido pela Comissão Estadual da Verdade Dom Helder Câmara, outubro de 2012

– Seminário 30 anos de luta pela anistia na UFRPE, em agosto de 2009
– Ato político e Aposição de Placa em homenagem à Odijas Carvalho de Souza na sede do DCE-UFRPE, em Agosto de 2009

Assassinado pela ditadura, Odijas Carvalho de Souza terá atestado de óbito retificado 3

Lidiane Monteiro, militante doMovimento Resistência UFRPE

O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem

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Engels, FriedrichO trabalho é a fonte de toda riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregada de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém, é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana. E em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem.

Há muitas centenas de milhares de anos, numa época, ainda não estabelecida em definitivo, daquele período do desenvolvimento da Terra que os geólogos denominam terciário, provavelmente em fins desse período, vivia em algum lugar da zona tropical — talvez em um extenso continente hoje desaparecido nas profundezas do Oceano Indico — uma raça de macacos antropomorfos extraordinariamente desenvolvida. Darwin nos deu uma descrição aproximada desses nossos antepassados. Eram totalmente cobertos de pelo, tinham barba, orelhas pontiagudas, viviam nas árvores e formavam manadas.

É de supor que, como conseqüência direta de seu gênero de vida, devido ao qual as mãos, ao trepar, tinham que desempenhar funções distintas das dos pés, esses macacos foram-se acostumando a prescindir de suas mãos ao caminhar pelo chão e começaram a adotar cada vez mais uma posição ereta. Foi o passo decisivo para a transição do macaco ao homem.

Todos os macacos antropomorfos que existem hoje podem permanecer em posição erecta e caminhar apoiando-se unicamente sobre seus pés; mas o fazem só em casos de extrema necessidade e, além disso, com enorme lentidão. Caminham habitualmente em atitude semi-erecta, e sua marcha inclui o uso das mãos. A maioria desses macacos apóiam no solo os dedos e, encolhendo as pernas, fazem avançar o corpo por entre os seus largos braços, como um paralítico que caminha com muletas. Em geral, podemos ainda hoje observar entre os macacos todas as formas de transição entre a marcha a quatro patas e a marcha em posição erecta. Mas para nenhum deles a posição erecta vai além de um recurso circunstancial.

E posto que a posição erecta havia de ser para os nossos peludos antepassados primeiro uma norma, e logo uma necessidade, dai se depreende que naquele período as mãos tinham que executar funções cada vez mais variadas. Mesmo entre os macacos existe já certa divisão de funções entre os pés e as mãos. Como assinalamos acima, enquanto trepavam as mãos eram utilizadas de maneira diferente que os pés. As mãos servem fundamentalmente para recolher e sustentar os alimentos, como o fazem já alguns mamíferos inferiores com suas patas dianteiras. Certos macacos recorrem às mãos para construir ninhos nas árvores; e alguns, como o chimpanzé, chegam a construir telhados entre os ramos, para defender-se das inclemências do tempo. A mão lhes serve para empunhar garrotes, com os quais se defendem de seus inimigos, ou para os bombardear com frutos e pedras. Quando se encontram prisioneiros realizam com as mãos várias operações que copiam dos homens. Mas aqui precisamente é que se percebe quanto é grande a distância que separa a mão primitiva dos macacos, inclusive os antropóides mais superiores, da mão do homem, aperfeiçoada pelo trabalho durante centenas de milhares de anos. O número e a disposição geral dos ossos e dos músculos são os mesmos no macaco e no homem, mas a mão do selvagem mais primitivo é capaz de executar centenas de operações que não podem ser realizadas pela mão de nenhum macaco. Nenhuma mão simiesa construiu jamais um machado de pedra, por mais tosco que fosse.

Por isso, as funções, para as quais nossos antepassados foram adaptando pouco a pouco suas mãos durante os muitos milhares de anos em que se prolongam o período de transição do macaco ao homem, só puderam ser, a princípio, funções sumamente simples. Os selvagens mais primitivos, inclusive aqueles nos quais se pode presumir o retorno a um estado mais próximo da animalidade, com uma degeneração física simultânea, são muito superiores àqueles seres do período de transição. Antes de a primeira lasca de sílex ter sido transformada em machado pela mão do homem, deve ter sido transcorrido um período de tempo tão largo que, em comparação com ele, o período histórico por nós conhecido torna-se insignificante. Mas já havia sido dado o passo decisivo: a mão era livre e podia agora adquirir cada vez mais destreza e habilidade; e essa maior flexibilidade adquirida transmitia-se por herança e aumentava de geração em geração.

Vemos, pois, que a mão não é apenas o órgão do trabalho; é também produto dele. Unicamente pelo trabalho, pela adaptação a novas e novas funções, pela transmissão hereditária do aperfeiçoamento especial assim adquirido pelos músculos e ligamentos e, num período mais amplo, também pelos ossos; unicamente pela aplicação sempre renovada dessas habilidades transmitidas a funções novas e cada vez mais complexas foi que a mão do homem atingiu esse grau de perfeição que pôde dar vida, como por artes de magia, aos quadros de Rafael, às estátuas de Thorwaldsen e à música de Paganini.

Mas a mão não era algo com existência própria e independente. Era unicamente um membro de um organismo íntegro e sumamente complexo. E o que beneficiava à mão beneficiava também a todo o corpo servido por ela; e o beneficiava em dois aspectos.

Primeiramente, em virtude da lei que Darwin chamou de correlação do crescimento. Segundo essa lei, certas formas das diferentes partes dos seres orgânicos sempre estão ligadas a determinadas formas de outras partes, que aparentemente não têm nenhuma relação com as primeiras. Assim, todos os animais que possuem glóbulos vermelhos sem núcleo e cujo occipital está articulado com a primeira vértebra por meio de dois côndilos, possuem, sem exceção, glândulas mamárias para a alimentação de suas crias. Assim também, a úngula fendida de alguns mamíferos está ligada de modo geral à presença de um estômago multilocular adaptado à ruminação. As modificações experimentadas por certas formas provocam mudanças na forma de outras partes do organismo, sem que estejamos em condições de explicar tal conexão. Os gatos totalmente brancos e de olhos azuis são sempre ou quase sempre surdos. O aperfeiçoamento gradual da mão do homem e a adaptação concomitante dos pés ao andar em posição erecta exerceram indubitavelmente, em virtude da referida correlação, certa influência sobre outras partes do organismo. Contudo, essa ação se acha ainda tão pouco estudada que aqui não podemos senão assinalá-la em termos gerais.

Muito mais importante é a ação direta — possível de ser demonstrada — exercida pelo desenvolvimento da mão sobre o resto do organismo. Como já dissemos, nossos antepassados simiescos eram animais que viviam em manadas; evidentemente, não é possível buscar a origem do homem, o mais social dos animais, em antepassados imediatos que não vivessem congregados. Em face de cada novo progresso, o domínio sobre a natureza, que tivera início com o desenvolvimento da mão, com o trabalho, ia ampliando os horizontes do homem, levando-o a descobrir constantemente nos objetos novas propriedades até então desconhecidas. Por outro lado, o desenvolvimento do trabalho, ao multiplicar os casos de ajuda mútua e de atividade conjunta, e ao mostrar assim as vantagens dessa atividade conjunta para cada indivíduo, tinha que contribuir forçosamente para agrupar ainda mais os membros da sociedade. Em resumo, os homens em formação chegaram a um ponto em que tiveram necessidade de dizer algo uns aos outros. A necessidade criou o órgão: a laringe pouco desenvolvida do macaco foi-se transformando, lenta mas firmemente, mediante modulações que produziam por sua vez modulações mais perfeitas, enquanto os órgãos da boca aprendiam pouco a pouco a pronunciar um som articulado após outro.

A comparação com os animais mostra-nos que essa explicação da origem da linguagem a partir do trabalho e pelo trabalho é a única acertada. O pouco que os animais, inclusive os mais desenvolvidos, têm que comunicar uns aos outros pode ser transmitido sem o concurso da palavra articulada. Nenhum animal em estado selvagem sente-se prejudicado por sua incapacidade de falar ou de compreender a linguagem humana. Mas a situação muda por completo quando o animal foi domesticado pelo homem. O contato com o homem desenvolveu no cão e no cavalo um ouvido tão sensível à linguagem articulada que esses animais podem, dentro dos limites de suas representações, chegar a compreender qualquer idioma. Além disso, podem chegar a adquirir sentimentos antes desconhecidos por eles, como o apego ao homem, o sentimento de gratidão, etc. Quem conheça bem esses animais dificilmente poderá escapar à convicção de que, em muitos casos, essa incapacidade de falar é experimentada agora por eles como um defeito. Desgraçadamente, esse defeito não tem remédio, pois os seus órgãos vocais se acham demasiado especializados em determinada direção. Contudo, quando existe um órgão apropriado, essa incapacidade pode ser superada dentro de certos limites. Os órgãos vocais das aves distinguem-se em forma radical dos do homem e, no entanto, as aves são os únicos animais que podem aprender a falar; e o animal de voz mais repulsiva, o papagaio, é o que melhor fala. E não importa que se nos objete dizendo-nos que o papagaio não sabe o que fala. Claro está que por gosto apenas de falar e por sociabilidade o papagaio pode estar horas e horas repetindo todo o seu vocabulário. Mas, dentro do marco de suas representações, pode chegar também a compreender o que diz. Ensinai a um papagaio dizer palavrões (uma das distrações favoritas dos marinheiros que regressam das zonas quentes) e vereis logo que se o irritardes ele fará uso desses palavrões com a mesma correção de qualquer verdureira de Berlim. E o mesmo ocorre com o pedido de gulodices.

Primeiro o trabalho, e depois dele e com ele a palavra articulada, foram os dois estímulos principais sob cuja influência o cérebro do macaco foi-se transformando gradualmente em cérebro humano — que, apesar de toda sua semelhança, supera-o consideravelmente em tamanho e em perfeição. E à medida em que se desenvolvia o cérebro, desenvolviam-se também seus instrumentos mais imediatos: os órgãos dos sentidos. Da mesma maneira que o desenvolvimento gradual da linguagem está necessariamente acompanhado do correspondente aperfeiçoamento do órgão do ouvido, assim também o desenvolvimento geral do cérebro está ligado ao aperfeiçoamento de todos os Órgãos dos sentidos. A vista da águia tem um alcance muito maior que a do homem, mas o olho humano percebe nas coisas muitos mais detalhes que o olho da águia. O cão tem um olfato muito mais fino que o do homem, mas não pode captar nem a centésima parte dos odores que servem ao homem como sinais para distinguir coisas diversas. E o sentido do tato, que o macaco possui a duras penas na forma mais tosca e primitiva, foi-se desenvolvendo unicamente com o desenvolvimento da própria mão do homem, através do trabalho.

O desenvolvimento do cérebro e dos sentidos a seu serviço, a crescente clareza de consciência, a capacidade de abstração e de discernimento cada vez maiores, reagiram por sua vez sobre o trabalho e a palavra, estimulando mais e mais o seu desenvolvimento. Quando o homem se separa definitivamente do macaco esse desenvolvimento não cessa de modo algum, mas continua, em grau diverso e em diferentes sentidos entre os diferentes povos e as diferentes épocas, interrompido mesmo às vezes por retrocessos de caráter local ou temporário, mas avançando em seu conjunto a grandes passos, consideravelmente impulsionado e, por sua vez, orientado em um determinado sentido por um novo elemento que surge com o aparecimento do homem acabado: a sociedade.

Foi necessário, seguramente, que transcorressem centenas de milhares de anos — que na história da Terra têm uma importância menor que um segundo na vida de um homem(1) — antes que a sociedade humana surgisse daquelas manadas de macacos que trepavam pelas árvores. Mas, afinal, surgiu. E que voltamos a encontrar como sinal distintivo entre a manada de macacos e a sociedade humana? Outra vez, o trabalho. A manada de macacos contentava-se em devorar os alimentos de uma área que as condições geográficas ou a resistência das manadas vizinhas determinavam. Transportava-se de um lugar para outro e travava lutas com outras manadas para conquistar novas zonas de alimentação; mas era incapaz de extrair dessas zonas mais do que aquilo que a natureza generosamente lhe oferecia, se excetuarmos a ação inconsciente da manada ao adubar o solo com seus excrementos. Quando foram ocupadas todas as zonas capazes de proporcionar alimento, o crescimento da população simiesca tornou-se já impossível; no melhor dos casos o número de seus animais mantinha-se no mesmo nível Mas todos os animais são uns grandes dissipadores de alimentos; além disso, com freqüência, destroem em germe a nova geração de reservas alimentícias. Diferentemente do caçador, o lobo não respeita a cabra montês que lhe proporcionaria cabritos no ano seguinte; as cabras da Grécia, que devoram os jovens arbustos antes de poder desenvolver-se, deixaram nuas todas as montanhas do pais. Essa “exploração rapace” levada a efeito pelos animais desempenha um grande papel na transformação gradual das espécies, ao obrigá-las a adaptar-se a alimentos que não são os habituais para elas, com o que muda a composição química de seu sangue e se modifica toda a constituição física do animal; as espécies já plasmadas desaparecem. Não há dúvida de que essa exploração rapace contribuiu em alto grau para a humanização de nossos antepassados, pois ampliou o número de plantas e as partes das plantas utilizadas na alimentação por aquela raça de macacos que superava todas as demais em inteligência e em capacidade de adaptação. Em uma palavra, a alimentação, cada vez mais variada, oferecia ao organismo novas e novas substâncias, com o que foram criadas as condições químicas para a transformação desses macacos em seres humanos. Mas tudo isso não era trabalho no verdadeiro sentido da palavra. O trabalho começa com a elaboração de instrumentos. E que representam os instrumentos mais antigos, a julgar pelos restos que nos chegaram dos homens pré-históricos, pelo gênero de vida dos povos mais antigos registrados pela história, assim como pelo dos selvagens atuais mais primitivos? São instrumentos de caça e de pesca, sendo os primeiros utilizados também como armas. Mas a caça e a pesca pressupõem a passagem da alimentação exclusivamente vegetal à alimentação mista, o que significa um novo passo de sua importância na transformação do macaco em homem. A alimentação cárnea ofereceu ao organismo, em forma quase acabada, os ingredientes mais essenciais para o seu metabolismo. Desse modo abreviou o processo da digestão e outros processos da vida vegetativa do organismo (isto é, os processos análogos ao da vida dos vegetais), poupando, assim, tempo, materiais e estímulos para que pudesse manifestar-se ativamente a vida propriamente animal. E quanto mais o homem em formação se afastava do reino vegetal, mais se elevava sobre os animais. Da mesma maneira que o hábito da alimentação mista converteu o gato e o cão selvagens em servidores do homem, assim também o hábito de combinar a carne com a alimentação vegetal contribuiu poderosamente para dar força física e independência ao homem em formação. Mas onde mais se manifestou a influência da dieta cárnea foi no cérebro, que recebeu assim em quantidade muito maior do que antes as substâncias necessárias à sua alimentação e desenvolvimento, com o que se foi tomando maior e mais rápido o seu aperfeiçoamento de geração em geração. Devemos reconhecer — e perdoem os senhores vegetarianos — que não foi sem ajuda da alimentação cárnea que o homem chegou a ser homem; e o fato de que, em uma ou outra época da história de todos os povos conhecidos, o emprego da carne na alimentação tenha chegado ao canibalismo (ainda no século X os antepassados dos berlinenses, os veletabos e os viltses, devoravam os seus progenitores) é uma questão que não tem hoje para nós a menor importância.

O consumo de carne na alimentação significou dois novos avanços de importância decisiva: o uso do fogo e a domesticação dos animais. O primeiro reduziu ainda mais o processo da digestão, já que permitia levar a comida à boca, como se disséssemos, meio digerida; o segundo multiplicou as reservas de carne, pois agora, ao lado da caça, proporcionava uma nova fonte para obtê-la em forma mais regular. A domesticação de animais também proporcionou, com o leite e seus derivados, um novo alimento, que era pelo menos do mesmo valor que a carne quanto à composição. Assim, esses dois adiantamentos converteram-se diretamente para o homem em novos meios de emancipação. Não podemos deter-nos aqui em examinar minuciosamente suas conseqüências.

O homem, que havia aprendido a comer tudo o que era comestível, aprendeu também, da mesma maneira, a viver em qualquer clima. Estendeu-se por toda a superfície habitável da Terra, sendo o único animal capaz de fazê-lo por iniciativa própria. Os demais animais que se adaptaram a todos os climas — os animais domésticos e os insetos parasitas —não o conseguiram por si, mas unicamente acompanhando o homem. E a passagem do clima uniformemente cálido da pátria original para zonas mais frias, onde o ano se dividia em verão e inverno, criou novas exigências, ao obrigar o homem a procurar habitação e a cobrir seu corpo para proteger-se do frio e da umidade. Surgiram assim novas esferas de trabalho, e com elas novas atividades, que afastaram ainda mais o homem dos animais.

Graças à cooperação da mão, dos órgãos da linguagem e do cérebro, não só em cada indivíduo, mas também na sociedade, os homens foram aprendendo a executar operações cada vez mais complexas, a propor-se e alcançar objetivos cada vez mais elevados. O trabalho mesmo se diversificava e aperfeiçoava de geração em geração, estendendo-se cada vez a novas atividades. A caça e à pesca veio juntar-se a agricultura, e mais tarde a fiação e a tecelagem, a elaboração de metais, a olaria e a navegação. Ao lado do comércio e dos ofícios apareceram, finalmente, as artes e as ciências; das tribos saíram as nações e os Estados. Apareceram o direito e a política, e com eles o reflexo fantástico das coisas no cérebro do homem: a religião. Frente a todas essas criações, que se manifestavam em primeiro lugar como produtos do cérebro e pareciam dominar as sociedades humanas, as produções mais modestas, fruto do trabalho da mão, ficaram relegadas a segundo plano, tanto mais quanto numa fase muito recuada do desenvolvimento da sociedade (por exemplo, já na família primitiva), a cabeça que planejava o trabalho já era capaz de obrigar mãos alheias a realizar o trabalho projetado por ela. O rápido progresso da civilização foi atribuído exclusivamente à cabeça, ao desenvolvimento e à atividade do cérebro. Os homens acostumaram-se a explicar seus atos pelos seus pensamentos, em lugar de procurar essa explicação em suas necessidades (refletidas, naturalmente, na cabeça do homem, que assim adquire consciência delas). Foi assim que, com o transcurso do tempo, surgiu essa concepção idealista do mundo que dominou o cérebro dos homens, sobretudo a partir do desaparecimento do mundo antigo, e continua ainda a dominá-lo, a tal ponto que mesmo os naturalistas da escola darwiniana mais chegados ao materialismo são ainda incapazes de formar uma idéia clara acerca da origem do homem, pois essa mesma influência idealista lhes impede de ver o papel desempenhado aqui pelo trabalho.

Os animais, como já indicamos de passagem, também modificam com sua atividade a natureza exterior, embora não no mesmo grau que o homem; e essas modificações provocadas por eles no meio ambiente repercutem, como vimos, em seus causadores, modificando-os por sua vez. Nada ocorre na natureza em forma isolada. Cada fenômeno afeta a outro, e é por seu turno influenciado por este; e é em geral o esquecimento desse movimento e dessa interação universal o que impede a nossos naturalistas perceber com clareza as coisas mais simples. Já vimos como as cabras impediram o reflorestamento dos bosques na Grécia; em Santa Helena, as cabras e os porcos desembarcados pelos primeiros navegantes chegados à ilha exterminaram quase por completo a vegetação ali existente, com o que prepararam o terreno para que pudessem multiplicar-se as plantas levadas mais tarde por outros navegantes e colonizadores. Mas a influência duradoura dos animais sobre a natureza que os rodeia é inteiramente involuntária e constitui, no que se refere aos animais, um fato acidental. Mas, quanto mais os homens se afastam dos animais, mais sua influência sobre a natureza adquire um caráter de uma ação intencional e planejada, cujo fim é alcançar objetivos projetados de antemão. Os animais destroçam a vegetação do lugar sem dar-se conta do que fazem. Os homens, em troca, quando destroem a vegetação o fazem com o fim de utilizar a superfície que fica livre para semear trigo, plantar árvores ou cultivar a videira, conscientes de que a colheita que irão obter superará várias vezes o semeado por eles. O homem traslada de um pais para outro plantas úteis e animais domésticos, modificando assim a flora e a fauna de continentes inteiros. Mais ainda: as plantas e os animais, cultivadas aquelas e criados estes em condições artificiais, sofrem tal influência da mão do homem que se tornam irreconhecíveis.

Não foram até hoje encontrados os antepassados silvestres de nossos cultivos cerealistas. Ainda não foi resolvida a questão de saber qual o animal que deu origem aos nossos cães atuais, tão diferentes uns de outros, ou às atuais raças de cavalos, também tão numerosos. Ademais, compreende-se de logo que não temos a intenção de negar aos animais a faculdade de atuar em forma planificada, de um modo premeditado. Ao contrário, a ação planificada existe em germe onde quer que o protoplasma — a albumina viva — exista e reaja, isto é, realize determinados movimentos, embora sejam os mais simples, em resposta a determinados estímulos do exterior. Essa reação se produz, não digamos já na célula nervosa, mas inclusive quando ainda não há célula de nenhuma espécie. O ato pelo qual as plantas insetívoras se apoderam de sua presa aparece também, até certo ponto, como um ato planejado, embora se realize de um modo totalmente inconsciente. A possibilidade de realizar atos conscientes e premeditados desenvolve-se nos animais em correspondência com o desenvolvimento do sistema nervoso e adquire já nos mamíferos um nível bastante elevado. Durante as caçadas organizadas na Inglaterra pode-se observar sempre a infalibilidade com que a raposa utiliza seu perfeito conhecimento do lugar para ocultar-se aos seus perseguidores, e como conhece e sabe aproveitar muito bem todas as vantagens do terreno para despistá-los. Entre nossos animais domésticos, que chegaram a um grau mais alto de desenvolvimento graças à sua convivência com o homem podem ser observados diariamente atos de astúcia, equiparáveis aos das crianças, pois do mesmo modo que o desenvolvimento do embrião humano no ventre materno é uma réplica abreviada de toda a história do desenvolvimento físico seguido através de milhões de anos pelos nossos antepassados do reino animal, a partir do estado larval, assim também o desenvolvimento espiritual da criança representa uma réplica, ainda mais abreviada, do desenvolvimento intelctual desses mesmos antepassados, pelo menos dos mais próximos. Mas nem um só ato planificado de nenhum animal pôde imprimir na natureza o selo de sua vontade. Só o homem pôde fazê-lo.

Resumindo: só o que podem fazer os animais é utilizar a natureza e modificá-la pelo mero fato de sua presença nela. O homem, ao contrário, modifica a natureza e a obriga a servir-lhe, domina-a. E ai está, em última análise, a diferença essencial entre o homem e os demais animais, diferença que, mais uma vez, resulta do trabalho.
Contudo, não nos deixemos dominar pelo entusiasmo em face de nossas vitórias sobre a natureza. Após cada uma dessas vitórias a natureza adota sua vingança. É verdade que as primeiras conseqüências dessas vitórias são as previstas por nós, mas em segundo e em terceiro lugar aparecem conseqüências muito diversas, totalmente imprevistas e que, com freqüência, anulam as primeiras. Os homens que na Mesopotâmia, na Grécia, na Ásia Menor e outras regiões devastavam os bosques para obter terra de cultivo nem sequer podiam imaginar que, eliminando com os bosques os centros de acumulação e reserva de umidade, estavam assentando as bases da atual aridez dessas terras. Os italianos dos Alpes, que destruíram nas encostas meridionais os bosques de pinheiros, conservados com tanto carinho nas encostas setentrionais, não tinham idéia de que com isso destruíam as raízes da indústria de laticínios em sua região; e muito menos podiam prever que, procedendo desse modo, deixavam a maior parte do ano secas as suas fontes de montanha, com o que lhes permitiam, chegado o período das chuvas, despejar com maior fúria suas torrentes sobre a planície. Os que difundiram o cultivo da batata na Europa não sabiam que com esse tubérculo farináceo difundiam por sua vez a escrofulose. Assim, a cada passo, os fatos recordam que nosso domínio sobre a natureza não se parece em nada com o domínio de um conquistador sobre o povo conquistado, que não é o domínio de alguém situado fora da natureza, mas que nós, por nossa carne, nosso sangue e nosso cérebro, pertencemos à natureza, encontramo-nos em seu seio, e todo o nosso domínio sobre ela consiste em que, diferentemente dos demais seres, somos capazes de conhecer suas leis e aplicá-las de maneira adequada.

Com efeito, aprendemos cada dia a compreender melhor as leis da natureza e a conhecer tanto os efeitos imediatos como as conseqüências remotas de nossa intromissão no curso natural de seu desenvolvimento. Sobretudo depois dos grandes progressos alcançados neste século pelas ciências naturais, estamos em condições de prever e, portanto, de controlar cada vez melhor as remotas conseqüências naturais de nossos atos na produção, pelo menos dos mais correntes. E quanto mais isso seja uma realidade, mais os homens sentirão e compreenderão sua unidade com a natureza, e mais inconcebível será essa idéia absurda e antinatural da antítese entre o espírito e a matéria, o homem e a natureza, a alma e o corpo, idéia que começa a difundir-se pela Europa sobre a base da decadência da antigüidade clássica e que adquire seu máximo desenvolvimento no cristianismo.

Mas, se foram necessários milhares de anos para que o homem aprendesse, em certo grau, a prever as remotas conseqüências naturais no sentido da produção, muito mais lhe custou aprender a calcular as remotas conseqüências sociais desses mesmos atos. Falamos acima da batata e de seus efeitos quanto à difusão da escrofulose. Mas que importância pode ter a escrofulose, comparada com os resultados que teve a redução da alimentação dos trabalhadores a batatas puramente sobre as condições de vida das massas do povo de países inteiros, com a fome que se estendeu em 1847 pela Irlanda em conseqüência de uma doença provocada por esse tubérculo e que levou à sepultura um milhão de irlandeses que se alimentavam exclusivamente, ou quase exclusivamente, de batatas e obrigou a que emigrassem para além-mar outros dois milhões? Quando os árabes aprenderam a distilar o álcool, nem sequer ocorreu-lhes pensar que haviam criado uma das armas principais com que iria ser exterminada a população indígena do continente americano, então ainda desconhecido. E quando mais tarde Colombo descobriu a América não sabia que ao mesmo tempo dava nova vida à escravidão, há muito tempo desaparecida na Europa, e assentado as bases do tráfico dos negros. Os homens que nos séculos XVII e XVIII haviam trabalhado para criar a máquina a vapor não suspeitavam de que estavam criando um instrumento que, mais do que nenhum outro, haveria de subverter as condições sociais em todo o mundo e que, sobretudo na Europa, ao concentrar a riqueza nas mãos de uma minoria e ao privar de toda propriedade a imensa maioria da população, haveria de proporcionar primeiro o domínio social e político à burguesia, e provocar depois a luta de classe entre a burguesia e o proletariado, luta que só pode terminar com a liquidação da burguesia e a abolição de todos os antagonismos de classe. Mas também aqui, aproveitando uma experiência ampla, e às vezes cruel, confrontando e analisando os materiais proporcionados pela história, vamos aprendendo pouco a pouco a conhecer as conseqüências sociais indiretas e mais remotas de nossos atos na produção, o que nos permite estender também a essas conseqüências o nosso domínio e o nosso controle.

Contudo, para levar a termo esse controle é necessário algo mais do que o simples conhecimento. É necessária uma revolução que transforme por completo o modo de produção existente até hoje e, com ele, a ordem social vigente.

Todos os modos de produção que existiram até o presente só procuravam o efeito útil do trabalho em sua forma mais direta e Imediata. Não faziam o menor caso das conseqüências remotas, que só surgem mais tarde e cujos efeitos se manifestam unicamente graças a um processo de repetição e acumulação gradual. A primitiva propriedade comunal da terra correspondia, por um lado, a um estádio de desenvolvimento dos homens no qual seu horizonte era limitado, em geral, às coisas mais imediatas, e pressupunha, por outro lado, certo excedente de terras livres, que oferecia determinada margem para neutralizar os possíveis resultados adversos dessa economia primitiva. Ao esgotar-se o excedente de terras livres, começou a decadência da propriedade comunal. Todas as formas mais elevadas de produção que vieram depois conduziram à divisão da população em classes diferentes e, portanto, no antagonismo entre as classes dominantes e as classes oprimidas. Em conseqüência, os interesses das classes dominantes converteram-se no elemento propulsor da produção, enquanto esta não se limitava a manter, bem ou mal, a mísera existência dos oprimidos.

Isso encontra sua expressão mais acabada no modo de produção capitalista, que prevalece hoje na Europa ocidental. Os capitalistas individuais, que dominam a produção e a troca, só podem ocupar-se da utilidade mais imediata de seus atos. Mais ainda: mesmo essa utilidade — porquanto se trata da utilidade da mercadoria produzida ou trocada — passa inteiramente ao segundo plano, aparecendo como único incentivo o lucro obtido na venda.

* * *

A ciência social da burguesia, a economia política clássica, só se ocupa preferentemente daquelas conseqüências sociais que constituem o objetivo imediato dos atos realizados pelos homens na produção e na troca. Isso corresponde plenamente ao regime social cuja expressão teórica é essa ciência. Porquanto os capitalistas isolados produzem ou trocam com o único fim de obter lucros imediatos, só podem ser levados em conta, primeiramente, os resultados mais próximos e mais imediatos. Quando um industrial ou um comerciante vende a mercadoria produzida ou comprada por ele e obtém o lucro habitual, dá-se por satisfeito e não lhe interessa de maneira alguma o que possa ocorrer depois com essa mercadoria e seu comprador. O mesmo se verifica com as conseqüências naturais dessas mesmas ações. Quando, em Cuba, os plantadores espanhóis queimavam os bosques nas encostas das montanhas para obter com a cinza um adubo que só lhes permitia fertilizar uma geração de cafeeiros de alto rendimento pouco lhes importava que as chuvas torrenciais dos trópicos varressem a camada vegetal do solo, privada da proteção das arvores, e não deixassem depois de si senão rochas desnudas! Com o atual modo de produção, e no que se refere tanto às conseqüências naturais como às conseqüência sociais dos atos realizados pelos homens, o que interessa prioritariamente são apenas os primeiros resultados, os mais palpáveis. E logo até se manifesta estranheza pelo fato de as conseqüências remotas das ações que perseguiam esses fins serem multo diferentes e, na maioria dos casos, até diametralmente opostas; de a harmonia entre a oferta e a procura converter-se em seu antípoda, como nos demonstra o curso de cada um desses ciclos industriais de dez anos, e como puderam convencer-se disso os que com o “crack” viveram na Alemanha um pequeno prelúdio; de a propriedade privada baseada no trabalho próprio converter-se necessariamente, ao desenvolver-se, na ausência de posse de toda propriedade pelos trabalhadores, enquanto toda a riqueza se concentra mais e mais nas mãos dos que não trabalham; de […](2)

Notas:
(1) Notas Sir William Thomson. grande autoridade na matéria, calculou em pouco mais de cem milhões de anos o tempo transcorrido desde o momento em que a Terra se esfriou o suficiente para que nela pudessem viver as plantas e os animais. (retornar ao texto)
(Nota de Engels) Engels refere-se à crise econômica de 1873/1874. (N. da R)
(2) Aqui se interrompe o manuscrito. (N. da R.)(retornar ao texto)

***

Escrito em: 1876
1ª Edição: Neue Zeit, 1896.
Tradução de: (?)
Origem da presente transcrição: edição soviética de 1952, de acordo com o manuscrito, em alemão. Traduzido do espanhol.
Transcrição de: amavelmente cedia por “O Vermelho” para Marxists Internet Archive, 2004
HTML por José Braz para Marxists Internet Archive, 2004.

Veterana da II Guerra conta quem foi Stálin em plena TV russa, ao vivo

Depoimento da Capitã Klavdiya Ivanova, veterana da Segunda Guerra Mundial condecorada com várias medalhas por heroísmo em combate. Uma combatente que viveu o período de Stálin e a II Guerra Mundial nos mostra qual sua visão do grande líder bolchevique.

Quem pagou a conta? A guerra secreta da CIA contra a Cultura

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Livro Quem pagou a conta?O livro Who Paid the Piper: The CIA and the Cultural Cold War (London: Granta Books) de Francis Stonor Saunders conta em detalhes a maneira como a Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA) infiltrou-se e influenciou um grande número de organizações culturais por meio de seus agentes e de organizações filantrópicas associadas, como as Fundações Ford e Rockfeller. O livro revela ainda como a CIA no pós guerra alistou muitos intelectuais na campanha para provar que o engajamento à esquerda é incompatível com a arte séria e o conhecimento.

A autora Francis Stonor Saunders, detalha como e porque a CIA patrocinou congressos culturais, montou exibições de arte e organizou concertos. A Agência também publicou e produziu autores conhecidos que seguiam essa linha de Washington, patrocinou a arte abstrata e fez ataques à arte de conteúdo social. E, em todo o mundo, financiou publicações que atacavam o marxismo, o comunismo e as políticas revolucionárias, ao mesmo tempo que justificavam ou ignoravam políticas imperialistas destrutivas e violentas dos Estados Unidos.

A CIA conseguiu atrair um dos mais proeminentes porta-vozes (ou defensores) do discurso da liberdade intelectual, a ponto de incluir alguns intelectuais em sua folha de pagamento.

Muitos desses intelectuais ficaram conhecidos por se envolver com esses “projetos”, mas outros ficaram orbitando em torno desses projetos, alegando que não sabiam das ligações com a CIA, depois que os seus patrões foram denunciados publicamente no final da década de 60 e durante a Guerra do Vietnã, e depois que a maré política virou para a esquerda .

Publicações anticomunistas americanas e européias receberam várias verbas, direta e indiretamente, entre as quais a Partisan Review, Kenynon Review, New Leader e Enconuter. Entre os numerosos intelectuais pagos pela CIA estavam Irving Kristol, Melvin Lasky, Isaiah Berlin, Stephen Spender, Sidney Hook, Daniel Bell, Dwight MacDonald, Robert Lowel, Hannah Arendt e Mary MacCarthy. Na Europa, a CIA teve um interesse pela promoção da “Esquerda Democrática” e de ex-esquerdistas entre eles Inacio Silone, Stephen Spender, Arthur Koestler, Raymond Aron, Anthony Crosland, Michael Josselson e George Orwell.

Contando com o entusiasmo de Sidney Hook e Melvin Lasky, a CIA teve um papel destacado na fundação do Congresso pela Liberdade Cultural, uma espécie de OTAN cultural que agrupou todo tipo de esquerdistas e direitistas “antiestalinistas”. Eles tinham absoluta liberdade para defender os valores culturais e políticos do Ocidente, atacar o “totalitarismo estalinista” e tergiversar sobre o racismo e imperialismo americano.

A CIA e a arte pela arte

De vez em quando, um artigo de crítica marginal a sociedade de massas americana era publicada nas revistas subsidiadas pela CIA. Uma coisa particularmente estranha nesse grupo de intelectuais pagos pela CIA não era o seu comprometimento político, mas a pretensão de que buscava a verdade de maneira desinteressada, de que eram humanistas iconoclásticos e livres-pensadores e artistas que defendiam a arte pela arte em contraposição aos “filiados” e “assalariados” corruptos da máquina estalinista. É impossível acreditar na alegação que não sabiam das ligações com a CIA.

Como é que eles podiam ignorar a falta de qualquer crítica básica em suas revistas contra os inúmeros linchamentos que estavam ocorrendo no Sul dos Estados Unidos naquele período? Como podiam ignorar, durante a realização de seus congressos culturais, qualquer crítica às intervenções imperialistas dos Estados Unidos na Guatemala, no Irã, Grécia e Coréia, que provocaram milhões de mortes? Como podiam ignorar as grosseiras justificativas, publicadas em suas revistas para os crimes imperialistas que estavam ocorrendo naquela época?

Todos esses intelectuais eram soldados: alguns falastrões, venenosos, rudes e polêmicos, como Sidney Hook e Melvim Lasky; outros eram ensaístas elegantes, como Stephen Spender, ou informantes, donos da verdade como George Orwell. A autora do livro, Francis Stonor Saunders, retrata a elite wasp(1) manipulando os cordéis na CIA e os ex-esquerdistas rosnando contra os dissidentes esquerdistas.

Quando a verdade veio à tona no final dos anos 60 e alguns “intelectuais” de Nova York, Paris e Londres fingiram indignação por terem sido usados, a CIA fez retaliações contra eles. Tom Braden, que dirigiu a Seção das Organizações Internacionais da CIA, entregou-os contando detalhes de que todos eles tinham que saber quem pagavam seus salários e bolsas. De acordo com Branden, a CIA financiou as suas “espumas literárias” expressão usada pelo chefe linha-dura da CIA Cord Meyer, para qualificar os “exercícios intelectuais” de Hook, Kristol e Lasky.

Braden escreveu que o dinheiro das publicações mais conhecidas e prestigiadas da autodenominada “Esquerda Democrática” (Encounter, New leader, Partisan Revew), vinha da CIA e que “um agente (da CIA) tornou-se o editor da Encounter”. Por volta de 1953, escreveu Braden; “nós influenciávamos ou trabalhávamos em organizações internacionais em todos os campos”.

O livro de Saunders traz informações úteis sobre as maneiras pelas quais as operações da CIA eram montadas para defender os interesses imperialistas dos Estados Unidos na frente Cultural. O livro dá início também a uma importante discussão sobre as conseqüências a longo prazo das posições ideológicas e artísticas defendidas pelos intelectuais da CIA.

Saunders rechaça as alegações (de Hook, Kristol, e Lasky) de que a CIA e suas fundações associadas ofereciam ajuda sem pedir nada em troca. Ela demonstra que “dos indivíduos e das instituições subsidiadas pela CIA esperava-se que tomassem parte… da propaganda de guerra”. A propaganda mais eficaz seguindo a definição da CIA, era do tipo em que “o sujeito se move na direção que você quer por razões que ele acredita ser a deles”.

O plano da CIA para impedir o prêmio Nobel para Pablo Neruda

Quando a CIA punha recursos à disposição da “Esquerda Democrática” para eventuais discussões sobre reforma social, seus intelectuais ficavam interessados nas polêmicas “antiestalinistas” e nas diatribes literárias contra os marxistas ocidentais e contra os escritores e os artistas soviéticos. Eles recebiam então patrocínios mais generosos e eram promovidos com maior visibilidade. Braden refere-se a isso como a “convergência” entre a CIA e a “Esquerda Democrática” européia na luta contra o comunismo.

A colaboração entre a “Esquerda Democrática” e a Agência incluía operações fura-greves na França, a deduragem contra estalinistas (Orwell e Hook) e campanhas camufladas de difamação para evitar que artistas esquerdistas fossem premiados (isso aconteceu por exemplo na disputa de Pablo Neruda pelo Prêmio Nobel em 1964).

(….) Uma das mais importantes e fascinantes discussões do livro de Saunders é o fato da CIA e seus aliados no museu de arte Moderna de Nova York (MoMA) terem aplicado vastas somas de dinheiro na promoção da pintura e dos pintores do Expressionismo Abstrato, considerado um antídoto à arte de conteúdo. Ao promover o Expressionismo Abstrato a CIA comprou uma briga com a ala direita do Congresso. A Agência achava que a escola espresava “uma ideologia anticomunista, a ideologia da liberdade e da livre empresa, cujo o não figurativismo e apoliticismo constituíam a própria antítese do realismo socialista”. O Expressionismo Abstrato era visto como a verdadeira expressão da vontade nacional. Para enfrentar as críticas da direita no Congresso, a CIA voltou-se para o setor privado, mais precisamente para o MoMA e seu cofundador, Nelson Rockefeller, que se referia ao Expressionismo Abstrato como “a pintura da livre empresa”. Muitos diretores do MoMA mantiveram duradouras relações com a CIA e quiseram dar mais que uma mãozinha na promoção do Expressionismo Abstrato como arma da Guerra Fria cultural. Caríssimas exposições foram organizadas por toda Europa e críticos de arte foram mobilizados para escrever artigos repletos de entusiásticos elogios. A combinação de recursos econômicos do MoMA com a fundação Fairfeld, ligada à CIA, garantiram a colaboração das mais prestigiosas galerias de arte da Europa, as quais por sua vez puderam espalhar sua influência estética pela Europa afora.

O Expressionismo Abstrato, como uma ideologia “da arte livre” (segundo George Kennan) foi usado para atacar politicamente os artistas engajados da Europa. O Congresso pela Liberdade Cultural (ponta de lança da CIA) ofereceu grande apoio à cultura abstrata em oposição à estética figurativa e realista, num explícito ato político. Comentando o papel político do Expressionismo abstrato, Saunders sublinha “Uma das características mais extraordinárias no papel que a pintura americana jogou na Guerra Fria cultural não foi o fato de ter se tornado parte da iniciativa, mas o fato desse movimento, tão deliberadamente declarado apolítico, ter se tornado tão intensamente politizado”. A CIA associou artistas apolíticos e a arte com liberdade. Isso foi feito para isolar os artistas da esquerda européia. A ironia é que a postura apolítica só valia para o consumo da esquerda. Apesar de tudo, a CIA e suas organizações culturais foram capazes de moldar profundamente a visão de arte no pós-guerra. Alguns escritores, poetas, artistas e músicos de prestígio proclamaram a sua independência da política e declararam sua crença na arte pelo amor da arte. O dogma do artista do intelectual livre, como alguém desconectado do engajamento político, ganhou corpo e está disseminado até hoje.

Embora tenha apresentando uma detalhada descrição das ligações entre CIA e os artistas e intelectuais ocidentais, Saundres deixou inexploradas as razões estruturais para a necessidade da CIA de controlar os dissidentes. Seus argumentos estão muito baseados no contexto da competição política e no conflito com o comunismo soviético. Ele não faz uma tentativa séria de localizar a Guerra Fria cultural da CIA no contexto das lutas de classes, da revolução e do Terceiro Mundo e nos desafios marxistas independentes à dominação do imperialismo econômico dos Estados Unidos. Isso leva Saunders a valorizar algumas iniciativas e operações da CIA em detrimento de outras. (….)

A tarefa dos intelectuais pagos pela CIA não era questionar, mas servir ao império

As verdadeiras origens da Guerra Fria cultural estão enraizadas na luta de classes. Muito antes a CIA e seus agentes ex-comunitas da AFL-CIO Irving Brown e Jay Lovestone usaram milhões de dólares para subverter sindicatos militantes e acabar com greves comparando sindicatos social-democráticos. O Congresso pela Liberdade Cultural e seus esclarecidos intelectuais receberam dinheiro dos mesmos agentes da CIA que contrataram os gângsters de Marselha (França) para acabar com a greve dos portuários em 1948. Depois da Segunda Guerra, com a desmoralização na Europa da velha direita (comprometida por suas ligações com os fascistas e com o sistema capitalista enfraquecido), a CIA chegou a conclusão de que para submeter os sindicalistas e intelectuais contrários a OTAN seria necessário encontrar ou (inventar) uma Esquerda Democrática disposta a participar das lutas ideológicas. A CIA criou uma seção especial para neutralizar as objeções da bancada direitista do Congresso. A Esquerda Democrática foi essencialmente usada para combater a Esquerda radical e dar um verniz ideológico à hegemonia americana na Europa. Até o ponto dos pugilistas ideológicos da Esquerda Democrática poderem dar forma às políticas estratégicas e interesses dos Estados Unidos. A tarefa deles não era questionar ou reivindicar, mas servir ao império em nome dos “valores democráticos do Ocidente”. Somente quando surgiu uma oposição maciça à Guerra do Vietnã nos Estados Unidos e na Europa, e as suas ligações com a CIA foram denunciadas é que muitos intelectuais promovidos ou financiados pela Agência abandonaram o navio e começaram a criticar a política externa dos Estados Unidos. Um exemplo: depois de passar a maior parte de sua carreira na folha de pagamento da CIA, Stephen Spender tornou-se crítico da política americana no Vietnã, assim como alguns editores da Partisan Review. Todos eles alegaram inocência, mas poucos críticos acreditaram que um caso de amor com tantas revistas e conferências, de tão longo e profundo envolvimento, pudesse transpirar sem um certo grau de conhecimento.

Ataques à Stálin visavam encobrir os crimes do imperialismo

O envolvimento da CIA na vida cultural dos Estados Unidos, Europa e outras regiões teve importantes conseqüências a longo prazo. Muitos intelectuais foram recompensados com o prestígio e reconhecimento público e verbas para pesquisas justamente para trabalhar com viseiras ideológicas da Agência. Alguns dos grandes nomes da Filosofia, da Ética Política, da Sociologia e da Arte, que ganharam visibilidade com as conferências e revistas financiadas pela CIA, definiram as normas e os padrões para a formação da nova geração, baseado nos parâmetros políticos estabelecidos pela CIA. Não foi nem o mérito nem a competência, mas sim a política – a linha de Washington- que definiu a “verdade” e a “excelência” e as futuras cátedras das universidades, fundações e museus de maior prestígio. As ejaculações retóricas da Esquerda Democrática antiestalinistas dos Estados Unidos e da Europa e suas profissões de fé nos valores democráticos e na liberdade serviam como capa ideológica para os mais abomináveis crimes do Ocidente .

Uma vez mais recentemente, muitos intelectuais da Esquerda Democrática perfilaram-se com o Ocidente e com o exército de libertação de Kosovo2 no apoio ao banho de sangue de milhares de servos e ao assassinato de um monte de inocentes vítimas civis. Se o antiestalinismo foi o ópio da Esquerda Democrática durante a Guerra Fria, o intervencionismo praticado em nome dos direitos humanos tem hoje o mesmo efeito narcortizante, iludindo os esquerdistas democráticos contemporâneos.

A CIA foi quem criou o modelo de artistas apolíticos e divorciados das lutas

As campanhas culturais da CIA criaram o protótipo dos intelectuais, acadêmicos e artistas que hoje se dizem apolíticos e que estão divorciados das lutas populares e cujo valor aumenta na medida em que se distanciam das classes populares e se aproximaram das fundações de prestígio. O modelo do profissional de sucesso criado pela CIA é o porteiro ideológico que deixa de fora os intelectuais que escrevem sobre a luta de classes, a exploração de classes e o imperialismo americano – ou seja, categorias “ideológicas”, “não objetivas”, como eles dizem. A pior e mais duradoura influência dos integrantes do Congresso pela Liberdade Cultural não foi a defesa que eles fizeram das políticas imperialistas dos Estados Unidos, mais o êxito que conseguiram ao impor sobre as novas gerações de intelectuais a idéia de excluir qualquer discussão sobre o imperialismo americano nos meios de comunicação políticos e culturais influentes. A questão não é se os intelectuais ou artistas atuais podem ou não assumir uma posição progressista a respeito deste ou daquele assunto. O problema é a permanente crença entre os escritores e artistas de que as expressões sociais e políticas anti-imperialistas não devem aparecer em música, pintura ou qualquer escrito sério se querem que sua obra seja considerada um trabalho de substancial mérito artístico. A mais persistente vitória política da CIA foi a de convencer os intelectuais de que o engajamento sério e firme à esquerda é incompatível com a arte séria e o conhecimento. Hoje, na ópera, no teatro ou nas galerias de arte assim como nos encontros profissionais das universidades , os valores definidos pela CIA durante a Guerra Fria estão visíveis e disseminados: quem ousa despir o imperador?

James Petras é sociólogo marxista norte-americano

Notas

1. Wasp (white Anglo-Saxon Protestant), protótipo do americano “puro”
2. KLA(Kosovo Liberation Army)

(Publicado no Jornal A Verdade nº 3, em fevereiro de 2000)

PCR lança teses de seu 5º Congresso em São Paulo

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Vídeo-convite para o lançamento do Programa da Revolução Socialista, do Partido Comunista Revolucionário (PCR).  O lançamento srá na Rua Conselheiro Ramalho, 992, Bela Vista, às 16h.

Novo e-mail nacional antiespionagem será todo baseado em software livre

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Software Livre BrasilO Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro)  será a empresa pública responsável pela criação do Expresso V3 – o e-mail de tecnologia nacional que tem por objetivo garantir mais segurança para o governo brasileiro.

Na virada do mês, o Expresso V3 já será instalado em alguns ministérios, e até o fim de 2014 será expandido a todo o governo federal. Depois, em parceira com os Correios, pode atingir a casa de todos os brasileiros.

Segundo Marcos Mazoni, presidente do Serpro, o novo sistema é seguro por sua rede estar no Brasil  – o que cria uma situação de robustez muito maior – e por ser todo baseado em software livre, o que lhe torna completamente auditável. Segundo Mazoni, o sistema americano tem o backdoor (um mecanismo que faz com que um software americano, mesmo comprado no Brasil, continue enviando informações para seu fabricante). Este backdoor, explica Mazoni, existe porque porque a legislação dos EUA manda. O Estado americano diz a todas as empresas que ele se reserva a esse direito. “É uma questão muito mais jurídica do que técnica”, afirma.

Cada vez que o Windows se conecta à internet ele envia 500k de informações: “Que 500k são esses? Quero saber”, afirma o presidente do Serpro. Para ele, isso leva também a um debate internacional: os softwares precisam obedecer à legislação de onde eles estão sendo comercializados, não só dos países de origem.

O Expresso V3, a pedido da presidência da república, deve reforçar toda a parte de criptografia na troca de mensagens. A previsão inicial de entrega era até 2014, mas devido aos escândalos de espionagem estadunidense, a presidenta quer utilizar o sistema já no próximo mês.

Glauber Ataide, diretor do SINDADOS-MG (Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Informática e Processamento de Dados)

Panfletagem termina em prisão

Panfletagem do SINDADOS-MG termina em prisãoPanfletagem do SINDADOS-MG na Cidade Administrativa de Minas Gerais termina em prisão

Quem frequenta as dependências abertas da Cidade Administrativa deve imaginar que toda a área da cidade é pública. Diariamente podemos perceber pessoas fazendo caminhada e realizando outras atividades como se estivessem numa praça pública. Assembleias várias já foram realizadas, panfletagens comerciais e sindicais, bem como uma série de outras coisas que se faz na rua. Esta era a realidade. Era, até nesta última segunda-feira.

Na manhã desta segunda-feira (21), o dirigente sindical Pedro Paulo de Abreu, foi preso na Cidade Administrativa porque ajudava o SINDADOS-MG a divulgar a realização de uma audiência pública na ALMG – Assembleia Legislativa a ser realizada no dia 23/10. Pedro Paulo, mais conhecido como Pepê, é o atual Secretário Geral do SINTECT – Sindicato dos Trabalhadores nos Correios e fazia o trabalho de forma voluntária e solidária ao SINDADOS-MG.

A entrega do informativo ocorria nos pontos de ônibus, fora da área construída da Cidade Administrativa

O dirigente foi abordado por policiais militares sendo intimado a interromper a distribuição do informativo sindical. O dirigente alegou em sua defesa que estava exercendo seu direito constitucional, bem como estar ele em uma área pública. Ficou claro que o policial cumpria ordens e acabou por dar voz de prisão ao sindicalista que por seu lado tentou cumprir com seu papel de divulgar a realização de um evento público e de interesse público.

Após realizar exame de corpo delito, uma formalidade, uma vez que não houve nenhuma violência por parte do policial, o dirigente sindical foi conduzido à delegacia para prestar depoimento, sendo liberado no início da tarde de ontem.

Resta agora ao Governo do Estado, explicar como as entidades sindicais poderão exercer seu papel constitucional, sem poder comunicar-se com seus representados.

Novamente, a atual presidente da Prodemge, passa por constrangimento público e tem sua gestão questionada. Na primeira vez, durante sua passagem pela MGI Participações, o jornal a Folha de São Paulo denunciou a venda de créditos através da empresa junto ao Banco Open em leilão privado, por R$ 1,7 milhão, um pouco antes da liquidação deste banco. Sete meses depois, a Justiça do Rio de Janeiro pagou R$ 12,4 milhões por esses créditos, valor 7 vezes maior. Até hoje a denúncia permanece em alguma gaveta esperando para ser apurada.

Com informações de SINDADOS-MG