Maria Amélia Teles, ou Amelinha, como é conhecida, é uma referência nacional na luta pela Memória, a Verdade e, principalmente, a Justiça. Amelinha foi militante durante os duros anos da ditadura militar no Brasil e foi presa junto com seu marido, irmã grávida e os filhos pequenos – Janaína e Edson Teles, com 5 e 4 anos na época –, pela Operação Bandeirantes em São Paulo.
Fundadora da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos e, recentemente, integrante da Comissão Estadual da Verdade de SP, Amelinha se dedica há mais de 30 anos à luta pela apuração das atrocidades da ditadura e pela responsabilização dos agentes do Estado pelos crimes cometidos.
Você faz parte da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos. Quantas pessoas são desaparecidas no nosso país?
Amelinha Teles – Os que nós temos conhecimento são por volta de 160. Nós localizamos muito poucos, somente quatro ou cinco, e quem conseguiu encontrar esses foram os familiares. O ônus total é dos familiares, não houve apoio do Estado brasileiro. Eu acho que podemos localizá-los se houver vontade política do Estado. O Estado tem que assumir essa responsabilidade porque foram os agentes do Estado que mataram, ocultaram os corpos. É preciso ter essa responsabilidade política, essa determinação para abrir os arquivos militares.
Como avalia até aqui o trabalho da Comissão da Verdade criada pela presidenta Dilma?
Amelinha Teles – Eu acho que a Comissão da Verdade tem um papel político grande e ela potencializa e reforça a nossa luta, que é diária, constante e histórica. Acho que dá força e empoderamento a quem luta pela verdade e justiça há tanto tempo. A Comissão é muito heterogênea na sua composição, nem todos tiveram uma história ligada à resistência, às consequências que a ditadura trouxe para o país, então isso dificulta. Penso também que falta um plano de trabalho mais consistente e, principalmente, há falta de informação. Ontem mesmo eu vi a própria Comissão denunciando que os militares não estão colaborando no sentido de oferecer documentos e informações para esclarecer as atrocidades cometidas durante a ditadura militar. São dificuldades que terão que ser superadas com a mobilização da sociedade; temos que nos mobilizar para poder conseguir força para mudar esse quadro.
Também foram criadas Comissões Estaduais; em São Paulo, a Comissão Rubens Paiva, da qual você faz parte. Qual o papel dessas comissões e qual deve ser sua pauta?
Amelinha Teles – A Comissão da Verdade do Estado de São Paulo tem uma pauta no sentido de fortalecer a Comissão Nacional. Esclarecer os desaparecidos e mortos políticos no Estado de São Paulo, ou que tinham algum vínculo com o Estado. Ela está canalizando a força da sociedade paulista na busca da verdade, de informações junto ao Ministério da Defesa, junto aos órgãos ligados à segurança pública da época, e que, ainda, de uma certa forma, existem nos dias de hoje.
São Paulo foi um dos maiores centros de tortura do Brasil. Aqui teve a Operação Bandeirantes (Oban) que, depois, se transformou em DOI-Codi e que se estendeu para todo o território brasileiro. Portanto, essa Comissão tem uma importância política, talvez uma das mais fundamentais de todo o Brasil. A própria Comissão Nacional precisa dessa. Ela tem que criar condições para desenvolver seu trabalho de investigação dos mortos e desaparecidos políticos, dos órgãos de repressão onde se deram essas atrocidades, e buscar garantir a organização dos arquivos que foram produzidos pela repressão e que ainda não estão disponíveis no Arquivo Público e precisam estar para serem acessados por toda a população. O povo do Brasil precisa conhecer a sua história. Muitos torturadores daqui foram matar na região do Araguaia, depois também nos países do Cone Sul: Uruguai, Argentina, Chile… Temos muito trabalho pela frente.
Dezenas de militantes ligados ao Levante Popular da Juventude, ao Partido Comunista Revolucionário e às Brigadas Populares realizaram na manhã da última terça-feira (25) um protesto em frente à casa do general Nilton Cerqueira, em Copacabana, Zona Sul do Rio.
O “escracho”, como é conhecido esse tipo de ação, aconteceu para denunciar os crimes cometidos pelo militar durante a ditadura (1964-1985). Cerqueira foi comandante do DOI-CODI baiano, chefe da 2ª Seção do Estado-Maior da 6ª Região Militar e responsável pela operação “Pajussara”, que resultou na morte do revolucionário Carlos Lamarca, comandante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), em 1971.
Além disso, o Ministério Público Federal, após dois anos de investigação, denunciou seis pessoas, entre eles Nilton Cerqueira, que há época era comandante da Polícia Militar do Rio de Janeiro, pelo envolvimento na explosão de uma bomba no estacionamento do Riocentro, na Zona Oeste do Rio, na noite de 30 de abril de 1981, durante show em comemoração ao Dia dos Trabalhadores.
Outras atividades similares estão sendo programadas para repudiar os 50 anos do golpe militar e exigir a punição de todos os agentes do Estado responsáveis pelo sequestro, tortura e assassinato de militantes durante a ditadura. Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça!
A copa que virou sinônimo de repressão agora também é de morte. O Hospital Santa Marcelina confirmou que morreu às 16h deste sábado, 29, o operário Fábio Hamilton da Cruz, funcionário da empresa WDS Construções, que trabalhava na montagem das arquibancadas da Arena Corinthias, estádio onde ocorrerá a abertura da Copa do Mundo.
A diretoria do Corinthias, mais preocupada com a repercussão do caso na mídia, já que na sua obra três operários já morreram, por meio de nota, “corrigiu” as informações oficiais do Corpo de Bombeiros de que o funcionário teria caído de uma altura de 15 metros. No comunicado, o clube esclarece que “o operário caiu de uma altura de 8 metros e portava todos os equipamentos obrigatórios de segurança para a atividade”.
Essa já é a terceira morte registrada na construção do Estádio do Corinthias, em um período de quatro meses. Em novembro do ano passado, após a queda de um guindaste, morreram os trabalhadores Fábio Luiz Pereira e Ronaldo Oliveira dos Santos.
No total, 8 trabalhadores já perderam as suas vidas para atender aos prazos da FIFA, governos estaduais e federal e empresas patrocinadoras da copa. Em junho de 2012, o funcionário José Afonso de Oliveira Rodrigues morreu após cair de uma altura de 30 metros no estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Na Arena Amazônia, em Manaus, o operário Antônio José Pita Martins estava desmontando as peças de um guindaste quando uma delas caiu em sua cabeça, em fevereiro deste ano.
No mesmo estádio outros dois funcionários já haviam sofrido acidentes fatais. Marcleudo de Melo Ferreira caiu de uma altura de 35 metros nas obras do estádio e morreu no dia 14 de dezembro. Em março de 2013, Raimundo Nonato Lima da Costa também morreu após despencar de uma altura de 5 metros. Já o operário José Antônio da Silva Nascimento sofreu um infarto enquanto trabalhava na Arena Amazônia.
Como de costume, as famílias das vítimas ficam sem assistência dos clubes e das construtoras. Muitos eram pais e saíram de suas cidades justamente para tentar dar condições de sobrevivência para seus entes queridos. Isso foi o que aconteceu com o operário Ronaldo Oliveira dos Santos, cearense, nascido na cidade de Caucaia. O Sport Club Corinthias destinou à família de Ronaldo apenas um buquê de flores.
Cerca de 2000 manifestantes uniram forças na Marcha Antifascista na tarde do último sábado, 22 de março, em São Paulo.
A concentração do ato foi na Praça da Sé, centro da cidade, onde se reuniram diversas forças políticas. Organizar este ato antifascista e antigolpista foi uma ação contra os setores reacionários e conservadores que pedem a volta da ditadura militar.
Durante a manifestação lembrou-se que existem resquícios dos anos de chumbo presentes no nosso dia-a-dia. As mortes provocadas pelas milícias na periferia, os despejos das famílias de suas moradias e as violações da PM e do Choque nas manifestações contra a Copa da FIFA.
Na Praça da República os fascistas se reuniram em cerca de 300 pessoas, no que chamaram de “Marcha da família com Deus pela liberdade”, “reeditando” o movimento que buscou a derrubada do presidente João Goulart e contribuiu com o golpe de Estado em 31 de março de 1964. Os fascistas levantaram cartazes comemorando os 50 anos do golpe, instaurado para garantir os interesses da burguesia, do latifúndio e do imperialismo norte-americano.
Participaram da Marcha Antifascista diversos movimentos sociais, sindicalistas, estudantes, partidos de esquerda e anarquistas, compondo assim um grande ato que seguiu até o antigo DOPS, atualmente Memorial da Resistência, onde foi feito 1 minuto de silêncio para manter viva a memória dos que lutaram e tombaram nos porões da ditadura.
Também levantaram a bandeira pela punição aos torturadores e assassinos que agiram durante a ditadura militar e continuam em liberdade e comemorando um período putrefato da nossa história.
O novo filme do cineasta Silvio Tendler estréia no próximo dia 1º de Abril, dia dos 50 anos do golpe que levou a 20 anos de ditadura militar e manchou nossa história de gritos e sangue.
No documentário, Tendler mostra um lado desconhecido do Golpe de 64: os militares que se mantiveram fiéis à constituição (e ao Brasil) e colocaram-se contrários às ordens dos generais rebelados.
São vários relatos de militares e familiares que demonstram que, mesmo que poucos, alguns militares trabalharam contra o golpe e a ditadura e merecem nosso reconhecimento e respeito pelo dever cumprido.
O dia 17 de março teve uma manhã quente, e o Metrô de São Paulo sofreu mais uma paralisação que afetou 4 das 5 linhas do metropolitano.
Os problemas começaram por volta das 7h30 e ficamos paralisados por uma hora e meia em vagões abafados. Essas panes acontecem constantemente e afetam milhões de trabalhadores que saem muito cedo de suas casas para irem ao emprego.
Estima-se que diariamente, segundo dados oficiais da Companhia do Metropolitano de São Paulo, 4 milhões de passageiros utilizam este transporte. Quando paralisações como estas acontecem, os principais atingidos são os trabalhardes.
Cresce o descontentamento, cada vez mais visível. Nos vagões, ouvimos: “Aturo isto todo dia pra ganhar o pão”, “E ainda querem construir estádio pra Copa”. Este questionamento da população não é à toa, porque estamos diante de contradições profundas. Como podem gastar toneladas de dinheiro público em obras para aumentar o lucro dos empresários e da FIFA, enquanto a mobilidade urbana e o transporte público retrocedem e decaem cada vez mais?
E mais: não é apenas a realização da Copa da FIFA em nossa cidade que demonstra este fracasso. O governo do PSDB – há 20 anos no Estado – atua em várias facetas. Uma destas foi o recente escândalo do propinoduto tucano, que prejudicou os cofres públicos através de um cartel envolvendo diversas empresas, dentre elas Siemens e Alstom, superfaturando trens e metrôs em 30%. O roubo é de cerca de R$ 425 milhões!
Para Geraldo Alckimin, atual governador do Estado, o problema não está nestes casos corrupção dentro do governo, mas sim no “vandalismo” da população, que indignada com a situação precária do transporte busca subterfúgios e meios de se rebelar, nas palavras do governador. Afinal, no conforto do Palácio do Governo é muito difícil ter consciência do que é passar sufoco num vagão fechado.
Além dos problemas técnicos e a lotação diária, é desorganizado o acesso dos usuários às plataformas, o que acarreta quedas na via. Nesse mesmo dia, uma passageira desmaiou e caiu nos trilhos da estação Guilhermina-Esperança (linha Vermelha – zona Leste da cidade).
Quem também sofre com esta situação são os trabalhadores da Companhia do Me-tropolitano e da CPTM (trens). Para piorar, ainda pagamos uma das tarifas mais caras do país. Com integração com o ônibus (necessário para as regiões mais periféricas), a passagem custa R$ 4,65.
Quando, enfim, o trem andou se anunciou: “Obrigado pela sua compreensão”. Como se fosse possível compreender.
Os comitês populares que lutam por direitos e questionam a realização da Copa da Fifa no Brasil estão aprofundando a organização do movimento e marcando novos atos para o mês de Março. Após a tentativa de criminalizar o movimento por parte da Polícia Militar paulista que deteve mais de 200 manifestantes na cidade de São Paulo, um novo ato ocorreu com grande sucesso no último dia 13 de Março.
Mesmo com a forte presença de mais de 2 mil policiais, os manifestantes demonstraram coragem e reuniram mais de 3 mil pessoas em passeata do Largo da Batata à Avenida Paulista, um percurso de cinco quilômetros. Durante todo o trajeto a polícia procurou provocar os manifestantes para realizar detenções e desmoralizar o movimento. A passeata, no entanto, demonstrou maturidade respondendo de maneira unitária aos ataques da polícia que, ao final, conseguiu deter apenas um manifestante.
Para Ana Gabriela, militante do Movimento de Mulheres Olga Benário: “A tendência é que o movimento que questiona a Copa da Fifa cresça, na medida em que mais pessoas vão percebendo que a realização da Copa no Brasil vai gerar uma nova onda de turismo e exploração sexual contra as mulheres”. Para Lucas Marcelino, Diretor da União Nacional dos Estudantes – UNE e militante da União da Juventude Rebelião – UJR: “As principais palavras de ordem cantadas na manifestação são as de estatização do transporte público e de maior investimento na educação pública. Essas são demandas progressistas, de esquerda, que mostram o caráter avançado do movimento, contra a Fifa e os monopólios”.
Uma nova manifestação está marcada para o dia 27 de Março, Quinta-feira. Será um ato nacional com concentrações confirmadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
O golpe militar que marcou o início da ditadura mais sangrenta da história brasileira teve parte de sua trama montada com a realização, há 50 anos, da famigerada Marcha da Família com Deus, no dia 22 de março de 1964. A marcha tratou de dar um aparente apoio popular ao golpe que derrubou o governo democraticamente eleito de João Goulart e estabelecer um dos governos mais servis ao imperialismo que nosso país já teve.
Para provar que a extrema-direita jamais abandona suas intensões golpistas e tem total aversão a qualquer participação popular na definição dos rumos do país, setores de dentro e de fora do exército estão convocando por diversos meios uma nova edição da Marcha da Família para o próximo 22 de Março, em São Paulo. No vídeo que convoca a Marcha, veiculado através da internet, é possível ver toda a demagogia do discurso da extrema-direita, contrário aos avanços sociais, de propagação do ódio, e também a tentativa de explorar a fé religiosa das pessoas escondendo seu real programa político de retirada de direitos e de aumento da exploração sobre os trabalhadores e o povo.
É preciso responder com energia a essas provocações, organizando atos de frente única contra os fascistas. A frente antifascista de São Paulo convocou para o mesmo dia, na praça da Sé, um ato de denúncia dos 50 anos do golpe militar. A intenção não é a de se confrontar fisicamente com os fascistas, mas de realizar o contraponto defendendo os direitos sociais e a participação dos trabalhadores e do povo na definição do destinos da nação.
Convocamos todos e todas a apoiarem e participarem do ato da frente antifascista, divulgando sua realização e fortalecendo a denúncia dos 50 anos do golpe militar no Brasil.
Em um referendo realizado no dia 16 de março, no qual participou mais de 80% da população da Crimeia, 97% decidiram a união com a Federação da Rússia, contra cerca de três por cento que desejam manter-se na Ucrânia. O plebiscito teve duas perguntas: 1) Separar-se da Ucrânia para fazer parte da Federação Russa e 2) Continuar a fazer parte da Ucrânia e desfrutar de um maior grau de autonomia. Nas urnas, uma maioria de 96,8% dos eleitores votou a favor da união da República Autônoma da Crimeia à Rússia, o que representa 1,2 milhão de eleitores.
Após o anúncio do resultado, uma multidão tomou conta da praça Lênin, principal ponto de encontro de Simferopol, capital da Crimeia, para celebrar o referendo.
O governo da Crimeia informou que a adesão ao referendo foi de 83,1% da população Ao todo, a península tem dois milhões de habitantes. Só 2,5% votaram pela manutenção como território ucraniano. Segundo observadores internacionais, o referendo ocorreu com normalidade, apesar da tensão política e militar entre Rússia e EUA.
Embora tenha sido um referendo livre com participação de quase toda a população, os Estados Unidos e a União Europeia comunicaram que não vão respeitar nem reconhecer a vontade da população da Crimeia e decidiram que a Crimeia, mesmo contra a vontade de seu povo, deve continuar parte da Ucrânia.
A comunidade Lauro Vieira, como muitas comunidades de Fortaleza, passou pelo drama de suas casas serem marcadas para demolição para a construção do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos). As famílias foram colocadas contra a parede com o perigo iminente de ficarem sem lar, pois com a indenização oferecida ficava difícil comprar até um barraco de lona. Mas a comunidade se mobilizou e conseguiu diminuir de 203 para 60 o número de casas removidas.
Copa pra quem?
O que motiva as remoções e a preocupação governamental com o aceleramento das outras é a proximidade da Copa da Fifa. É o governo maquiando a cidade pra turista ver. E, como sempre, debaixo dos grandes eventos está o povo pobre, soterrado de sofrimento e indignação. E um dos moradores que teve sua casa removida desabafa: “Pra gente, o único legado essa copa do mundo foi tristeza”. E Gabriel Matos, do Cine Rua, diz “A copa é só pra quem tem poder mais alto (…). Se a copa fosse aqui ou na China ia ser a mesma coisa. A gente vai assistir pela televisão.”
A luta continua!
Para continuar com a mobilização, os moradores organizarão um cineclube chamado Cine Rua, que funciona como espaço de conscientização, debate e entretenimento para a criançada. Nesse mês estreia A comunidade que desviou o trem, uma produção áudio-visual independente e popular.
Tatiane Albuquerque, militante da UJR e estudante da Vila das Artes
Ao contrário do que tentam fazer crer os meios de comunicação da burguesia, a queda do corrupto governo de Viktor Yanukovich, na Ucrânia, não foi fruto de revoltas espontâneas das massas, e sim de uma planejada intervenção direta dos EUA e de seus órgãos de espionagem (NSA e CIA) na política do país, como reconheceu a subsecretária de Estado dos Estados Unidos, Victoria Nuland, em palestra organizada pela petroleira Chevron. Segundo ela, os EUA investiram cinco bilhões de dólares em partidos e grupos de oposição ucranianos para eles defenderem uma maior integração com o Ocidente e organizarem os protestos contra o governo. Tática semelhante, os EUA adotaram ao financiar a ação do Taliban no Afeganistão, do Al Queda na Líbia e Síria e em Honduras, na Bolívia e na Venezuela. Trata-se de uma vergonhosa intromissão nos assuntos internos de outros países e uma grave violação da Carta das Nações Unidas, mas, os EUA, há tempo, agem e usam todas as armas para enfraquecer os concorrentes de seus bancos e monopólios capitalistas e para manter seu domínio no mundo. É claro que se não existisse um profundo descontentamento da população ucraniana com o enriquecimento da família do ex-presidente Yanukovich e com a feroz repressão do governo, que matou mais de 110 pessoas, a intervenção norte-americana não teria alcançado êxito. Não passa, pois, de uma grande hipocrisia, a afirmação de Barack Obama, presidente dos EUA, de que “os ucranianos devem poder escolher seu próprio futuro”.
Ao atuar para derrubar o governo Yanukovich, o objetivo dos EUA é enfraquecer economicamente a Rússia, que já tinha anunciado sua intenção de criar junto com a Ucrânia a Comunidade Econômica Euroasiática em 2015 e destina 25% das suas exportações para esse país, mas também militarmente, ao passar a influenciar o 2º exército mais numeroso da região e criar obstáculos para a presença da frota russa na Crimeia.
No entanto, a comemoração de grande parte da burguesia internacional com o novo governo ucraniano não durou muito. A Rússia, cuja burguesia quer seguir explorando a nação ucraniana, não reconheceu o governo interino, assumiu o controle dos aeroportos e portos das regiões sul e leste da Ucrânia, fechou a fronteira da Crimeia e ameaça invadir o país. Para adotar essas medidas, teve o apoio do Parlamento da Crimeia, que convocou um plebiscito para decidir sua separação da Ucrânia e a união com a Rússia. Como se sabe, a Rússia mantém na península de Crimeiauma estratégica base militar com 25 mil fuzileiros navais.
Capitalismo trouxe corrupção e desemprego para a Ucrânia
Por outro lado, apesar de Yanukovich só ter apoio das tropas russas que estão na Ucrânia, nenhum dos partidos que agora se candidatam a governar o país conseguirá ganhar a confiança e unificar o povo ucraniano, uma vez que seus líderes estão envolvidos em vários casos de corrupção e defendem abertamente a submissão do país ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e aos interesses da Alemanha e dos EUA. Aliás, o governo interino já negocia um empréstimo com o FMI que, como lhe é habitual, exige em contrapartida um plano econômico que reduza os salários e privatize empresas.
Na realidade, o retorno do regime capitalista à Ucrânia trouxe além do desemprego e da pobreza, a formação de partidos políticos corruptos e de organizações neonazistas. Tanto o ex-presidente Viktor Yanukovich, que agora se encontra refugiado, quanto a líder do principal partido de oposição, o Pátria,Yulia Timoshenko, formaram suas fortunas com o processo de privatização que ocorreu no país após o fim do socialismo. Yulia, apesar de apresentar-se hoje como vítima, foi uma das maiores beneficiárias das privatizações, tornando-se proprietária da principal distribuidora de gás; sua família e sócios são donos de grandes empresas no setor industrial, e financeiro, na maioria ex-estatais. O ex-primeiro ministro Pavlo Lazarenko, também membro do Partido Pátria, após vários golpes, chegou a ser preso na Suíça e condenado por lavagem de dinheiro e fraude nos Estados Unidos.
A família do deposto Viktor Yanukovich também é dona de importantes empresas. Seu filho Aleksandr Yanukovich é a quinta pessoa mais rica da Ucrânia, fortuna adquirida após seu pai se tornar chefe de governo e com o aluguel ao governo de helicópteros que eram do Estado e foram privatizados.
Vitali Klitschko, campeão de boxe que se transformou no líder do Partido Udar (soco), candidato favorito nas pesquisas, recebeu milhões de euros do partido de Angela Merkel, razão pela qual não tem a simpatia dos norte-americanos, e prega “um país moderno com padrões europeus”.
Outros partidos apresentados pela mídia burguesa como democratas são claramente de ultradireita e defendem a instalação de um regime nazista na Ucrânia. É o caso de Aleksandr Muzychko, um dos líderes dos protestos em Kiev e chefe da Organização Fascista Ucraniana, que tem como meta lutar contra “os comunistas, os judeus e os russos”. Fãs do nazista Goebbels, adoram queimar livros e quadros comunistas, pois creditam a estes a expulsão das tropas de Hitler da Ucrânia.
Portanto, como num raro ato de sinceridade disse o fascista Vladimir Puttin, o que acontece na Ucrânia, é a “substituição de um grupo de bandidos por outro”.
Mas, além da fabricação de partidos corruptos e fascistas, o capitalismo criou desemprego, prostituição e drogas na Ucrânia.
De fato, devido à enxurrada de demissões que ocorreu com as privatizações das empresas públicas, milhões de ucranianos abandonaram o país em busca de emprego. Em 1991, a Ucrânia tinha 52 milhões de pessoas, hoje, são 45 milhões. O país também se tornou um dos mais desiguais do mundo, o de maior índice de alcoolismo infantil da Europa e 1,3% da população vive com AIDS. Além disso, possui 2 milhões de viciados em drogas e o tráfico de mulheres cresce para alimentar as agências de prostituição da Europa e dos EUA.
É evidente que esses usuários de drogas tornaram-se presas fáceis para as quadrilhas de traficantes e as organizações fascistas, formando grupos paramilitares para praticar roubos, ataques a órgãos públicos e violência indiscriminada para ampliar o clima de instabilidade política e social em Kiev. Ademais, a decisão do governo de Yanukovich de não assinar o acordo com a União Europeia, enfureceu milhões de pessoas que contavam com o passaporte europeu para poder trabalhar na Europa sem discriminação. Segundo a Organização Internacional para Migrações, 14,4% da população, cerca de 6,5 milhões de pessoas, são imigrantes. Lembramos que durante as décadas em que viveu num sistema socialista, o povo ucraniano não conhecia nem drogas nem prostituição, muito menos o desemprego, e vivia em profunda harmonia e sem intervenção estrangeira.
De olho nas riquezas do povo ucraniano
Apesar de todas essas tragédias, resultado da apropriação das riquezas do país pelas oligarquias ucranianas e pela burguesia internacional, a Ucrânia é uma nação rica. É o país da Europa que possui a melhor terra agrícola, 25% das chamadas “terras negras” existentes no mundo,terras que não necessitam de fertilizante por serem ricas em húmus, tem grandes quantidades de manganês, ferro, urânio, carbono e petróleo, e, graças ao socialismo, o país possui uma mão de obra extremamente qualificada e considerada barata pelas indústrias capitalistas, além de um desenvolvido setor de aeronáutica de equipamentos industriais. Devido ao seu solo fértil, e de ser um dos maiores exportadores de grãos do mundo, é alvo da cobiça dos bancos e das multinacionais que dominam a agricultura mundial.
A Rússia, por sua vez, como tem demonstrado, não descarta uma invasão militar à Ucrânia para garantir seus privilégios. Pouco teme as sanções econômicas da Europa, pois sabe que 75% do gás russo que vai para a União Europeia atravessa o território ucraniano. Nesse quadro, é grande a possibilidade de uma divisão no país a exemplo do que foi feito pelo imperialismo na Iugoslávia.
O fato é que a continuidade da crise do capitalismo iniciada em 2008, crise essa que completa seis anos em setembro vindouro, acirra a disputa entre a burguesia e seus estados pelo mercado e para controlar matérias-primas, seja petróleo, gás ou a terra.
Sem dúvida, como já advertimos, os países imperialistas seguem ampliando os conflitos e as guerras com o objetivo de escravizar povos e aumentar os lucros da oligarquia financeira que domina a economia do planeta. Para isso, derrubam governos e invadem países. A guerra parece não ter fim no Afeganistão nem no Iraque, continua na Líbia e na Síria, e outra pode começar na Ucrânia. Por isso, a qualquer hora um “erro de cálculo” de qualquer um dos governos imperialistas pode desencadear uma guerra de proporções tais que ponha em risco toda a humanidade. Não se deve subestimar a cobiça e a obstinação desmedida pelo dinheiro dessa minoria exploradora, bancos e monopólios capitalistas, que só pensam em luxo e riqueza. Estes sim, verdadeiramente um bando de loucos, e o quanto antes devem ser mandados não para um hospício, mas para a lata de lixo da história.
Luiz Falcão é membro do Comitê Central do PCR e diretor de A Verdade
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