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sexta-feira, 14 de novembro de 2025
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Cresce greve dos trabalhadores da limpeza urbana no Rio de Janeiro

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Nesta Quarta-Feira de Cinzas, 05 de março, veio o fim do Carnaval, mas, por outro lado, o fortalecimento da greve dos garis na cidade do Rio de Janeiro. Depois de três horas de negociação com a direção da Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb), a Prefeitura voltou atrás com as 1.200 demissões que iniciou no dia anterior, mas, em troca, cobrou que os garis se contentassem com um reajuste de 9% nos salários, sem garantir os demais pontos da pauta de reivindicações da categoria.

Em plena Terça-Feira de Carnaval, cerca de 500 trabalhadores de limpeza urbana da Comlurb desfilaram na Avenida Presidente Vargas, no Centro do Rio de Janeiro. Não, não era para celebrar o Carnaval, mas a greve da categoria.

A manifestação foi a resposta dos trabalhadores ao descaso do prefeito Eduardo Paes (PMDB), que, desde o início da greve, na sexta-feira (28/02), se nega a atender as reivindicações do movimento.

O cenário de uma cidade entulhada de lixo fazia com que fosse percebida a importância desses trabalhadores, fundamentais, mas que, em geral, ficam invisíveis nas ruas, principalmente para as elites. Não foi por acaso que Prefeitura e a direção da Comlurb, antes de ceder a qualquer negociação em benefício dos trabalhadores, contratou empresas terceirizadas para fazerem a limpeza, não da cidade, mas do Sambódromo, mostrando claramente sua preocupação com a “imagem” do Rio, mas não com seus trabalhadores. Além disso, a mídia dos ricos tentou esconder a greve; não conseguindo, passou a tentar desmoralizá-la. Durante a manifestação, um gari declarou: “Globo não! Manda a Globo embora!”.

A repressão policial não deixou por menos. Relatos de garis falavam em policiais, com fuzil em punho, escoltando companheiros de empresa para garantir o trabalho de limpeza na Avenida Rio Branco, uma das principais do Centro. A gerência da Comlurb pressionou psicologicamente diversos trabalhadores para não aderirem à greve, e, no dia 4 de março, anunciou 300 demissões, que atingiram principalmente as lideranças do movimento nas negociações e piquetes.

 

Sindicato pelego não apoia a greve

 

A greve teve início depois que o Sindicato de Asseio e Conservação, da UGT, negociou uma pauta de reivindicações totalmente fora das aspirações da categoria. Um pífio reajuste de 9%, que elevaria o salário-base para R$ 874,00 líquidos, foi categoricamente rejeitado pelos trabalhadores em assembleia na frente do sindicato, que contou com a descarada ausência da direção da entidade. Os trabalhadores exigiam piso de R$ 1.200,00 para reparar perdas salariais históricas, além de insalubridade, periculosidade para trabalhadores de cozinhas escolares e outros direitos básicos não recebidos pela categoria hoje.

Após negociação estabelecida no dia 04, o sindicato assinou acordo com a Prefeitura, dizendo que a greve não era legal, gerando novo descontentamento da categoria, que decidiu pela manutenção de greve e só negocia com anulação das demissões anunciadas pela Comlurb. Entre as principais lideranças do movimento a palavra de ordem é de “ter um sindicato autônomo, sem rabo preso”.

 

A greve vai além do Carnaval

 

Entrevistado por A Verdade, uma das principais lideranças do movimento declarou: “Queremos o básico. Desde o início, deixamos claro que o sindicato não nos representa mais. A comissão de greve é quem negocia, e o líder do movimento é o gari. Todo apoio de vocês, que são uma imprensa do povo, e das demais organizações, é fundamental para nossa luta ser vitoriosa. São 30 anos de adormecimento da categoria, mas agora não tem volta!”.

É fato que o espírito das mobilizações de junho tem inspirando diversas categorias a entrarem em greve no Brasil. Mas também é necessário registrar que os garis cariocas têm atuado com grande organização e coletividade e com objetivos claros, como mostra a frase de um gari na manifestação, quando falava sobre os donos das redes de televisão: “Queria colocar esses caras para trabalhar limpando rua todo dia que nem a gente, para eles aprenderem”.

A grande maioria dos garis é de negros, o que não é surpresa em profissão tão depreciada pela sociedade capitalista, em especial no Brasil, que carrega a chaga de 400 anos de escravidão e, em pleno século 21, mantém negros em profissões com 70% do salário dos brancos. A manifestação parecia trazer no tempo, por via da cor, a imagem de um povo submetido no passado e seus algozes capitães do mato (hoje policiais fardados) no presente.

 

Esteban Crescente e Gabryel Henrici, Rio de Janeiro

Colapso no transporte público em Recife

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Por volta das sete e meia da manhã do dia 12 de fevereiro, trabalhadores que utilizam o Terminal Integrado da Macaxeira, na BR 101, um dos principais de Recife-PE, realizaram um protesto por melhores condições no transporte público. O acúmulo da insatisfação com os atrasos no s horários dos ônibus, que ocorrem todos os dias, devido a um sistema de transporte sucateado pelos investimentos do Estado para as obras da Copa da Fifa, fez com que a população, decidida a mudar esta situação, partisse para a luta e fechasse a principal via de acesso ao terminal.

O protesto contou com a participação do Movimento Luta de Classes (MLC) e durou a manhã toda, só terminando quando foi entregue uma pauta de reivindicações ao representante do “Grande Recife”, consórcio responsável pelo transporte público da Região Metropolitana da capital pernambucana. Entre as reivindicações, estavam: renovação e aumento geral da frota dos ônibus; redução do intervalo na saída dos ônibus; criação de faixas exclusivas para ônibus; maior fiscalização nas integrações; congelamento do preço das passagens.

Durante a manifestação, foi fácil ver a população dizendo a toda hora que só conseguiriam mudar as coisas erradas se protestassem e não ficar só reclamando sem fazer nada. Afirmavam também que os empresários e o governo têm medo de protesto, etc. O fato demonstrou que a população está cansada de tanto descaso com o transporte público, de ver o governo investir nosso dinheiro na Copa da Fifa, e que está consciente de que só vão conseguir melhores condições de vida se lutar por isso.

Jailson Davi é do MLC – Movimento Luta de Classes

Comissão da Verdade ouve depoimento de José Nascimento em Alagoas

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Comissão da Verdade ouve depoimento de José NascimentoA Comissão Estadual da Verdade Jaime Miranda, instituída no dia 12 de agosto de 2013, entrevistou o professor da Universidade Federal de Alagoas José Nascimento de França, na manhã de 25 de fevereiro. Esse é o 10º depoimento recolhido entre perseguidos e torturados pela Ditadura Militar em Alagoas.

Para o professor Nascimento, “esse trabalho é de fundamental importância para elucidar os crimes de Estado não investigados até hoje e ajudar a reescrever a história do país. Para que a tortura e tantos crimes perversos não mais aconteçam e nem mais fiquem impunes”.

Em emocionado, Nascimento contou sua história de vida inteiramente dedicada à luta por um país soberano e socialista. Descreveu as dificuldades na infância, a sua participação no movimento estudantil e operário, a luta contra a Ditadura, a prisão com os momentos de tortura e o ingresso como docente na UFAL dificultado pelo regime.

“Sem sonhos a gente morre”

José Nascimento nasceu de uma familia bastante humilde em Marechal Deodoro e, aos 9 anos, foi morar no bairro do Vergel. Teve uma infância sofrida, fez curso de alfaiate pela Escola Industrial de Alagoas (atual IFAL) pois, segundo ele, a escola era integral e oferecia fardamento, livros didáticos e alimentação, que nem sempre tinha em casa.

Seus primeiros contatos com a literatura marxista e com os movimentos sociais se deram ainda no nível secundário. Na biblioteca da Escola Industrial conheceu o livro de Máximo Gorki “A Mãe”, clássico da literatura soviética, e no bairro onde morava se aproximou da Juventude Operária Católica (JOC); fatos determinantes para alimentar sua vida de sonhos e esperança de um mundo novo.

Início da militância

Sua militância política se consolidou com o ingresso na JOC. “Eu considero essa a minha primeira Universidade. Nós aprendemos a nos identificar com o povo pobre, ser humilde, largar qualquer vício pequeno-burguês, se dedicar ao povo”, disse Nascimento.

Aos 18 anos, já participava como secretário da SAVEL (Sociedade de Amigos e Moradores do Bairro do Vergel de Maceió), que lutava pela legalização das moradias dos associados; ocupação de barracões militares americanos utilizados durante a Segunda Guerra Mundial.

Movimento estudantil e a primeira prisão

Após o ingresso na Escola de Serviço Social Pe. Anchieta, José Nascimento quebrou muitas barreiras. “Naquela época, o curso era totalmente feminino e orientado por uma perspectiva desenvolvimentista. Fui o primeiro homem a se formar como Assistente Social em Alagoas e rompi também com essa perspectiva de curso: me formei dando os primeiros passos na perspectiva do marxismo”.

“Antes do golpe, participamos da greve da UNE por paridade nos Conselhos e Representações e lutamos pela sua proposta de Reforma Universitária”, contou com entusiasmo ao lembrar de sua atuação, juntamente com Lúcia Souza, no Diretório Acadêmico Artur Ramos. “Mesmo depois de 1964, continuamos a organizar os estudantes. Lutamos contra a Lei Suplicy (Lacerda), que engessava a atuação do movimento estudantil, e organizamos um Seminário de Reconstrução da UNE, em Maceió, junto à União dos Estudantes de Alagoas (UEA)”, completou Nascimento.

Esse também foi o motivo de sua primeira prisão. O líder estudantil, em 1966, passou dois dias preso e não se intimidou. “Não me abati, voltei para a escola, convoquei uma assembleia para denunciar minha prisão e dizer que era preciso seguir na luta”.

Derrubar a Ditadura e construir o socialismo

Ao sair da Universidade, o jovem Nascimento tomou a decisão de continuar seu trabalho político e ingressou na Ação Popular¹ (AP). “O que me fez entrar na AP não foi só defender as liberdades democráticas, mas sim o desejo de construir o socialismo. Passamos de um cristianismo político para o marxismo-leninismo e o Pensamento Mao Tsé Tung”.

A definição política de sua organização era de transferir quadros para o campo e as fábricas dos grandes centros urbanos e organizar os trabalhadores pela derrubada da Ditadura. Dessa forma, Nascimento decidiu cancelar seu registro profissional como Assistente Social, parar de lecionar e atuar na Companhia de Habitação Popular (COHAB/AL) e ir trabalhar como operário tecelão. “Passei nove meses na fábrica de tecidos Torres, no Recife, e depois recebi a missão de ir a São Paulo. Minha companheira, militante da JOC, decidiu me acompanhar”.

Nascimento lembrou ainda da situação arriscada que passou em sua ida à capital paulista. “Tinham acabado de prender militantes da AP em São Paulo. Tive muita sorte. Fiquei no “ponto” durante uma hora e ninguém apareceu. Podiam ter me prendido já ali”.

Sem conseguir estabelecer contatos em São Paulo, deslocou-se para casa de parentes no Rio de Janeiro. “Essa foi minha lua-de-mel; eu e minha esposa, recém-casados, ficamos de favor na casa de quatro cômodos de um tio meu no Rio. Era uma família grande, os homens dormiam na cozinha e na sala e as mulheres no quarto”.

Prisão e tortura

Ao trabalhar na fábrica de tecidos Aurora, reencontra militantes da AP. Em 1970, já atuando na metalurgia carioca, é sequestrado e preso. Levado ao 7º andar do Ministério da Marinha, CENIMAR, sofre as primeiras torturas. “Um torturador mostrou-me um panfleto da AP denunciando as torturas no Brasil. Subitamente ele me disse: ‘Vocês andam espalhando que existe tortura no Brasil. No Brasil não existe tortura. Agora você vai ver se existe ou não tortura no Brasil e, subitamente, me deu um soco que me jogou no chão passando um tempão me chutando, principalmente no meu estômago”. Em seguida, Nascimento viu alguns de seus companheiros com o rosto desfigurado, resultante de pancadas.

Já na Polícia do Exército, “antes do interrogatório, um soldado me mandou ficar em pé diante da parede e, com um cassetete, batia em minha região anal e nos testículos, ordenando para eu subir na parede, como se fosse uma lagartixa. Paradoxalmente, eu tentava subir na parede”, confessou Nascimento ao indagar o quanto a tortura e o terror psicológico faz com que o ser humano perca a razão.

No momento do interrogatório, na Polícia do Exército da Rua Barão de Mesquita, em uma sala de tortura, os choques elétricos o fizeram ter ataque cardíaco. “Fizeram perguntas de coisas que já sabiam. Eu apenas admiti que era da organização”, falou Nascimento sobre o quanto foi difícil manter em segurança outros militantes e não delatar ninguém. “Passei sete dias entre tortura e a tortura de ouvir os gritos dos companheiros. Era um inferno”, declarou Nascimento.

Tendo resistido heroicamente, tanto às torturas físicas quantos às psicológicas, fato que frustava os torturadores, encapuzaram-no e levaram-no à Ilha das Flores², prisão onde passou um ano vivendo junto a outros presos políticos e lutando pela vida, mesmo dentro do cárcere.

“A tortura deixa marcas na alma da gente”

“Quando voltei a Maceió, tive depressão e tenho insônia até hoje. Fiz psicoterapia e tomava remédios e antidepressivos. Enfrentei problemas de perseguição política para dar aulas na UFAL. Fui aprovado na Universidade em 1973 e só consegui ser admitido de verdade em 1977”.

Professor Nascimento, como hoje é conhecido, tem uma longa história de luta. Atualmente, ensina no curso de Serviço Social, defendendo uma educação libertadora, e continua engajado nos movimentos sociais.

“Vivemos uma agudização da repressão”

Ao final do depoimento, questionado sobre as recentes ações da Polícia Militar e em relação aos protestos contra a Copa da Fifa, afirma: “A Dilma disse que garantiria a vida a todos os jogadores estrangeiros. Agora, garantia de vida para o povo brasileiro ela não dá. Ela reprime, as pessoas apanham da Polícia e alguns morrem”.

Já comentando sobre a violência em Alagoas, complementa: “Não é com Polícia, Secretaria da Paz, Carnaval e Copa que vai diminuir a violência, e sim com Reforma Agrária, Saúde e Educação”.

Só o socialismo acabará com a ditadura do capital

Apesar do fim da Ditadura Militar, no Brasil continua a existir torturas, assassinatos e perseguição aos que lutam contra o capitalismo. Com isso, o Estado opressor só será superado com o fim da classe que vive da exploração de todo o povo. José Nascimento encerrou seu depoimento bastante otimista na luta de classes e no futuro que se aproxima e, citando Dom Pedro Casadáglia, afirmou: “Erguei vossas cabeças; está próximo o dia de vossa libertação”.

Descriminalização do aborto: debater ou omitir?

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Aborto 1A votação do projeto do novo Código Penal Brasileiro na Comissão Especial do Senado reacendeu a polêmica em torno do tema aborto. A votação do Projeto de Lei do Senado (PLS) n° 236/2012 ocorreu no dia 17 de dezembro de 2013 e o relatório final foi elaborado pelo senador Pedro Taques (PDT-MT).

No relatório, Taques excluiu a permissão para o aborto induzido até a 12ª semana, como foi sugerido por uma comissão de juristas presidida pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp e que obteve parecer favorável do Conselho Federal de Medicina (CFM), em nota enviada ao Senado.

O aborto é um tema “tabu” sempre recorrente, seja por questões legais ou de saúde. Mas ainda é pouco discutido, cercado de preceitos e dogmas religiosos, espirituais ou místicos. A questão do respeito à vida é o ponto central do debate, sendo defendido o direito do feto/embrião ao nascimento.

Crenças religiosas à parte, é preciso investigar a fundo a questão da saúde da mulher, da sua família, os impactos do aborto no sistema público de saúde e o que a ciência tem a dizer a esse respeito.

Estima-se que no Brasil ocorra, anualmente, um milhão de abortos induzidos, segundo pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos do Aborto (GEA), em 2005. Dados da Pesquisa Nacional de Aborto, de 2010, mostraram que, aos 40 anos, uma em cada cinco mulheres já induziu o aborto, sendo esse número maior entre as mulheres de menor escolaridade. Devido à ilegalidade e consequente realização do aborto clandestino, em condições insalubres, em 2001 houve 9,4 mortes de mulheres por abortamento a cada 100 mil nascidos vivos, e 243 mil mulheres foram internadas na rede do Sistema Único de Saúde (SUS) por curetagem pós-abortamento. O abortamento figura entre a quinta causa de morte materna no país.

Vale lembrar que esses números não são reais, já que, por ser ilegal, grande parte dos abortos induzidos não são identificados, sendo negado pelas mulheres mesmo quando são atendidas nos hospitais por sangramento decorrente do aborto realizado ilegalmente. Muitas mortes também são subnotificadas ou delas constam como causa de morte outro diagnóstico.

O início da vida para a ciência

O ponto-chave da polêmica gira em torno do início da vida. É, ao mesmo tempo, o mais complicado da questão. Segundo algumas religiões, a vida tem início no momento da fecundação, ou seja, quando o espermatozoide fecunda o óvulo (o que ocorre entre 12 e 36 horas após o ato sexual). Nesse período, tem início a divisão da célula primitiva ainda sem diferenciação.

Já de acordo com a medicina, a vida se inicia com o desenvolvimento completo do sistema nervoso central do feto, que se dá por volta da 12ª semana gestacional. Isso é levado em conta porque, sem a coordenação do sistema nervoso, as demais células, mesmo diferenciadas em órgãos, não têm a capacidade de manter-se em funcionamento. É o que acontece, por exemplo, na morte cerebral: sem o funcionamento do sistema nervoso, os órgãos param de funcionar (sem o auxílio de aparelhos e medicamentos, isso ocorre em menos de 12 horas).

Foi isso que levou o Conselho Federal de Medicina a defender a tese da legalização do aborto até a 12ª semana de gestação. Com base nessa premissa, inclusive, o STF permitiu o aborto de fetos anencéfalos (sem formação completa do cérebro) em votação ocorrida em 2012.

Países com leis mais flexíveis

Ao contrário do que muitos afirmam, a descriminalização não eleva o número de abortos. É o que relatou a deputada holandesa do Parlamento Europeu Kartika Liotard em debate na cidade do Porto, Portugal, citando os baixos índices de aborto na Holanda, país onde essa prática é legalizada.

“Nos países onde o aborto não é crime, como Holanda, Espanha e Alemanha, nós observamos uma taxa muito baixa de mortalidade e uma queda no número de interrupções, porque passa a existir uma política de planejamento reprodutivo efetiva”, afirmou Jefferson Drezett, ginecologista e obstetra representante do Grupo de Estudos do Aborto. O Uruguai, que descriminalizou o aborto em outubro de 2012, também tem experimentado quedas vertiginosas tanto no número de mortes maternas quanto no número de abortos realizados. Segundo números apresentados pelo governo, entre dezembro de 2012 e maio de 2013 não foi registrada nenhuma morte materna por consequência de aborto, e o número de interrupções de gravidez passou de 33 mil para 4 mil por ano. Isso porque, junto da descriminalização, o governo implementou políticas públicas de educação sexual e reprodutiva, planejamento familiar e uso de métodos anticoncepcionais, assim como serviços de atendimento integral de saúde sexual e reprodutiva (Último Segundo, 2013).

Descriminalização do aborto

Não há crime, portanto, se o aborto não consiste em atentado contra a vida, uma vez que, até a 12ª semana, inexiste vida do ponto de vista da ciência.

Enquanto o aborto induzido for ilegal, as condições a que as mulheres estão submetidas continuarão a causar mortes evitáveis, devido ao uso de medicamentos abortivos e práticas insalubres com métodos mecânicos arcaicos e perigosos (introdução de objetos na vagina, a fim de causar sangramentos e, como consequência, a expulsão do feto), em locais inadequados, causando infecções e hemorragias.

A descriminalização do aborto, portanto, constitui importante decisão para diminuir o índice de mortalidade entre as mulheres.

Ludmila Outtes e Thiago Santos, Recife

Graciliano Ramos: “A arma do escritor é o lápis”

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GRACILIANO_ACERVO-“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa; a palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

  Era com esse rigor que Graciliano encarava o oficio de escrever. Com certeza, ele abominaria os linguistas, pois não admitia o menor erro gramatical. A melhor expressão do seu realismo quanto ao uso da língua culta aparece em Luís da Silva, personagem do romance Angústia; ele vê pichado um muro com o slogan “proletários univos” e exclama: “Não dispenso as virgulas e os traços; quereriam fazer uma revolução sem traços e sem vírgulas? Numa revolução de tal ordem não haveria  lugar para mim”.

Numa ocasião, Diógenes de Arruda Câmara, dirigente do PCB, partido ao qual se filiou em 1945, sugeriu a Graciliano que escrevesse como Jorge Amado, utilizando a linguagem do povo, ao que o escritor respondeu: “Admiro muito Jorge Amado, nada tenho contra ele, mas não sei escrever do seu jeito”. Sobre isso, o romancista baiano comentou: “Ante a justeza, a correção da língua portuguesa por ele escrita, nós, os outros ficcionistas do Nordeste, somos uns bárbaros”

Graciliano nunca aceitou submeter seus escritos à apreciação do Comitê Central como o fizeram Jorge Amado e Alina Paim enquanto militantes. Para ele, o escritor, apesar de comprometido com a luta política, havia de manter sua independência criativa e liberdade de estilo. Por isso, não assimilou as regras do Realismo Socialista, Escola Literária consagrada na União Soviética após o caos criativo dos primeiros dias do poder bolchevique.

Apesar de certo tensionamento na relação com a cúpula do PCB, nunca saiu do partido nem recebeu qualquer admoestação.

Dos rincões alagoanos

Graciliano Ramos de Oliveira, considerado por muitos críticos como sucessor de Machado de Assis no trato da condição humana em sua obra, é alagoano, nascido em Quebrangulo, pequena cidade situada a 115 Km de Maceió, no dia 27 de outubro de 1892. Viveu os primeiro anos nas cidades de  (AL) Buíque (PE), Viçosa e Maceió,  ambas do Estado de Alagoas.  Não guardava boas recordações dessa época. O pai – Sebastião Ramos de Oliveira – e a mãe – Maria Amélia Ferro Barros – não demonstravam afeto pelos filhos e reprimiam-nos fortemente ante qualquer contrariedade. No livro Infância, autobiográfico, Graciliano descreve-os sem contemplação: O pai: “Um homem serio, de testa larga (…), não economizava pancadas e repreensões; éramos repreendidos e batidos”. Mãe: “O que nessa figura mais me espantava era a falta de sorriso (…) miúda e feia, enfezada e agressiva, ranzinza, olhos maus, que em momentos de cólera se inflamavam com um brilho de loucura”.

Por essa razão, talvez, Graciliano era considerado por muitos como “intratável ríspido fechado em si mesmo, mas quem privava de sua intimidade o considerava solidário, paciente e compreensivo”1.

Concluiu o 2º grau em Maceió e seguiu para o Rio de Janeiro onde exerceu o jornalismo; já escrevia para os jornaizinhos de escola desde a adolescência.

Retornou para Alagoas em 1915, fixando-se com o pai em Palmeira dos Índios, onde se casou com Maria Augusta, que morreu em 1920, deixando quatro filhos: Márcio, Júnior, Múcio e Maria Augusta. Em 1928, casou-se novamente, com Heloísa Medeiros, com quem teve igualmente quatro filhos: Ricardo, Roberta, Luíza e Clara.

Em 1927, foi eleito prefeito de Palmeira dos Índios, tendo exercido um mandato marcante de apenas dois anos [1928-1930]. Moralizou a gestão, fez obras na periferia, saneou a cidade, enfrentou os coronéis. São famosos os dois relatórios anuais que encaminhou ao governador Álvaro Correia Paes. Eles foram publicados na imprensa oficial do Estado e chamaram atenção dos jornais do Rio de Janeiro, ficando conhecidos em todo o país: Eis alguns trechos do último, referente ao ano de 1929:

(….) Favoreci a agricultura livrando-a dos bichos criados à toa; ataquei as patifarias dos pequenos senhores feudais,  exploradores da canalha, suprimi nas questões rurais a presença de certos intermediários, que estragavam tudo; facilitei o transporte, estimulei as relações entre o produtor e o consumidor; esforcei-me por não cometer injustiças. Isso não obstante, atiraram as multas conta mim como arma política. (…) Se eu deixasse em paz o proprietário que abre  as cercas de um desgraçado agricultor e lhe transforma em pasto a lavoura, devia enforcar-me (…).

No cárcere

Em 1930, o Brasil viveu um momento de transformação, não uma revolução como se denominou, mas um ajuste entre a burguesia industrial em ascensão e o latifúndio conservador. Diante de eleições fraudadas, Getúlio Vargas lidera um golpe de estado com apoio da ala progressista das Forças Armadas – os tenentes. Assume o poder político e imprime as mudanças de interesse dos capitalistas nacionais e estrangeiros, associados. O limite das mudanças implementadas provoca a formação da Aliança Nacional Libertadora (ANL), uma Frente Popular liderada pelo PCB,  que defendia o rompimento com o imperialismo, reforma agrária, reforma urbana, um governo popular, tendo como lema “pão, terra e liberdade”. Com a crescente adesão das massas à ANL, Getúlio decretou a ilegalidade do movimento fechando os comitês e proibindo as manifestações.  O movimento refluiu; o PCB planejou então a tomada do poder pelas armas a partir de um levante  dos militares progressistas. Em que pese os atos heróicos e a tomada de Natal por quatro dias (Leia A Verdade, nº 23), a insurreição (1935) foi derrotada e as prisões abarrotadas de lideranças políticas, militares sindicais, populares e intelectuais. Getúlio instalou um regime ditatorial denominado Estado Novo.  

Em 1930, Graciliano tinha na gaveta o seu primeiro romance Caetés. Depois de deixar a prefeitura, foi trabalhar no Estado de Alagoas, como diretor de Instrução Pública e professor. Ele não participou da ANL, não assinou nenhum manifesto antivarguista, mas foi preso no dia 3 de Março de 1936. Durante 10 Meses e 10 dias, perambulou de uma cadeia para outra no Rio de Janeiro, para onde foi levado de Maceió. Durante a prisão, não perdeu tempo; não fez nenhuma anotação, porém seu cérebro privilegiado registrou tudo, resultando em sua obra-prima Memórias do Cárcere (alguns críticos consideram Angústia a sua obra maior). Não respondeu a processo, nunca foi sequer interrogado. Avalia: “Via-me submetido a cegos caprichos de inimigos ferozes, irresponsáveis, causadores de males inúteis”.

Libertado, ficou no Rio, refez a vida e consagrou-se como romancista no Brasil e no exterior. Suas principais obras: Caetés [1933], São Bernardo [1934], Angústia [1936], Vidas Secas [1938], e as póstumas: Memórias do Cárcere [1953], Viagem [1954], que relata a viagem à União Soviética e países socialistas do Leste europeu, Alexandre e outros Heróis [1962], Cartas [1980], Escreveu também livros infantis: Terra dos Meninos Pelados [1941] e Historias de Alexandre [1943].

 Tradução em diversas línguas, premiações em países vários nunca faltaram a Graciliano Ramos. Foram adaptadas para o cinema, Vidas Secas e Memórias do Cárcere, por Nelson Pereira dos Santos, em 1963 e 1983, respectivamente. Alexandre e outros Heróis foi adaptado recentemente para a televisão por Luís Alberto de Abreu e Luiz Fernando Carvalho, com direção deste.

  A morte de Graciliano, o velho Graça, aconteceu em 10 de março de 1953 aos 60 anos, causada por um câncer no pulmão.

1 Dênis de Moraes, em entrevista sobre Graciliano Ramos, pela publicação do seu livro “O Velho Graça”.

Nota: Sobre a vida e a obra de Graciliano Ramos, leia: O Velho Graça, autor: Dênis de Moraes, Boi Tempo Editorial.  Retrato Fragmentado, Globo Livros, escrito por Ricardo Ramos, filho de Graciliano.  Infância, do próprio Graciliano, Editora José Olympio.

Zé Levino

Um povo que não sabe ler nem escrever é facilmente enganado

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livrosO Brasil é a oitava economia do mundo, exporta as mais importantes riqueza naturais, tem a maior biodiversidade do planeta e agora vai receber a Copa da Fifa. Mas, um estudo realizado em 2011 revela que 12,9 milhões de brasileiros com mais de 15 anos de idade não sabem ler nem escrever. Destes, 6,8 milhões estão na região Nordeste, que apresenta taxa de analfabetismo de 16,9%, quase o dobro da média nacional, de 8,6%. Segundo a pesquisa, os estados de Alagoas, Maranhão e Piauí detêm os maiores índices de analfabetismo do país, de 17,3% a 21,8%.

Quando, porém, o assunto é analfabetismo funcional, a taxa estimada é de 20,4%, Em 2011 foram contabilizados, entre as pessoas de 15 anos ou mais, 30,5 milhões de analfabetos funcionais no país. Analfabeto funcional são as pessoas que, mesmo capazes de identificar letras e números, não conseguem interpretar textos e realizar operações matemáticas mais elaboradas ou maior de 15 anos com escolaridade de apenas quatro anos letivos.

É lógico que esses dados devem nos indignar, pois o analfabetismo num país como o nosso significa um enorme atraso.

A terra de Lampião, Frei Caneca, Manoel Lisboa, Zumbi do Palmares, Margarida Maria Alves, Maria Quitéria, Emmanuel Bezerra, Carlos Marighella, Anita Garibaldi, Santo Dias, Honestino Guimarães, Stuart Angel, Devanir José de Carvalho não pode continuar nessa realidade. Cabe aos comunistas revolucionários que atuam nessas regiões seguir o exemplo do nosso comandante Ernesto Che Guevara, que, mesmo em época de guerrilha, orientava seus soldados a que estudassem e aprendessem a ler e a escrever, sendo ele mesmo o professor, deixando assim uma importante lição: “Um povo que não sabe ler nem escrever é facilmente enganado”, o que se comprovou ser acertado.

No Brasil inteiro temos que ensinar nosso povo a escrever seu próprio nome, ensinar nosso alfabeto, explicar quem são os seus heróis. Mais do que ensinar, temos que saber ouvir nosso povo, que não entende o que lê, nem o que escreve. Devemos assumir a responsabilidade e dizer que sim, que nosso povo é capaz de ler os livros e entender a realidade, e mais, escrever com sua luta as páginas seguintes da nossa história.

Sem dúvida, se desenvolvermos um trabalho educacional nos bairros, este se tornará cada vez mais profundo, será uma verdadeira fortaleza. Temos muitos companheiros da UJR que podem e devem contribuir com essa tarefa digna.

Queremos um povo que saiba o motivo do seu salário de miséria, o motivo da sua casa ser um barraco, o motivo de as mulheres sofrerem com a dupla jornada, e só vamos realizar de forma profunda a tarefa pela qual somos responsáveis – dirigir uma revolução popular e construir o Poder Popular e o Socialismo – se desenvolvermos a tarefa de sermos educadores populares revolucionários do nosso povo.

Gabriela Valentim

(Militante do MLB e educadora do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (Mova) em São Bernardo do Campo-SP)

“O Carnaval é hoje uma grande alienação das manifestações culturais”

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Bongar foto 2Formado em 2001, o Bongar é um grupo musical com origem na cultura negra, especificamente na comunidade religiosa terreiro Xambá do Quilombo do Portão do Gelo, que é o primeiro quilombo urbano de Pernambuco, localizado no Município de Olinda. No dia 09 de fevereiro, na Torre Malakoff, no Recife Antigo, o grupo estará lançando seu DVD Festa de Terreiro de Bongar.  

Em entrevista exclusiva a A Verdade, o Bongar conta como surgiu, denuncia o Carnaval hoje como “uma grande alienação das manifestações culturais” e a difícil tarefa do grupo em resgatar, preservar e reproduzir a cultura negra num país racista.

Como surgiu o grupo? 

No começo, éramos nove membros e a gente não sabia ainda que ritmo tocar, depois ficaram seis. Decidimos tocar coco de roda, que é uma vertente forte na comunidade Xambá, e era uma coisa que a gente brincava quando criança e via nossos bisavós, avós e tias tocando. Desde o primeiro ensaio, já tinha o primeiro show marcado, em 2001. Com o passar do tempo, entendemos que o grupo surgiu para apresentar à população o terreiro de Xambá, que muitos achavam que estava instinto, ficando nossa comunidade bastante conhecida.

Qual a relação do grupo Bongar com a juventude da comunidade?

Vivemos numa comunidade quilombola e sentimos a necessidade de autoafirmação do povo negro entre os jovens. Para gente era fundamental desenvolver ações que pudesse valorizar isso. Entendemos que a música é um instrumento capaz de levar à transformação. Além da música, promovemos palestras, oficinas de percussão e capoeira, participamos de eventos externos de políticas afirmativas. A partir desse trabalho, percebemos essa transformação considerável na nossa comunidade. Quando a gente era criança, diziam que nosso cabelo era ruim e hoje as crianças e os adolescentes fazem trancinhas, assumem o black. A gente tinha que dizer que era espírita para ser aceito pelos coleguinhas e pelas professoras, hoje até as crianças assumem que são de terreiro. O Bongar nasceu com o propósito der ser referência da cultura negra para essa juventude que não se vê na grande mídia e se transformam para serem aceitos.

Qual a relação da cultura negra com os terreiros?

O terreiro sempre foi fonte de inspiração para os movimentos políticos de identidade negra. Não dá para pensar em políticas afirmativas sem tocar no cultural do negro. Não é só a cota para o estudante negro, a universidade deve fazer uma reforma, reconhecer a história do negro no Brasil. Há pouquíssimos estudos da africanidade nos países latinos. São todos esses elementos que devem ser resgatados e que a grande referência são os terreiros. É dentro deles que está grande parte da nossa história, e essa história está na oralidade, então a academia tem que reconhecer o grande valor que tem a história oral, para relevar um Brasil que não está nos livros. Nisso os terreiros de candomblé estão na ponta. Qualquer arte que a gente venha a fazer tem relação com o sagrado. Não só da cultura negra, mas de uma maneira geral, na Ditadura Militar, por exemplo, os terreiros davam refúgio a vários artistas perseguidos.

É democrático o financiamento cultural no Brasil?

Não. Apesar do Estado brasileiro afirmar que somos um país pluricultural, só investe recursos para manutenção do que ele acredita ser uma “cultura representativa”. Há um mito de que gestores culturais não são racistas, mas existe sim racismo institucional, tanto no Ministério da Cultura como em diversas secretarias. Prova disso foi a 3ª Conferência de Cultura não aprovar a proposta de destinar 20% dos recursos da Cultura para manifestações de matrizes africanas, mesmo o Brasil tendo quase 50% de negros na sua população, e, num gesto simbólico, a mesa da Conferência pediu para que os gestores a favor dessa proposta ficassem À esquerda e os contra à direita. Logo, não existe orçamento suficiente para projeto de cultura negra. E cabe aos movimentos e grupos de cultura negra se desdobrar para se autofinanciar.

E no Carnaval, existe espaço para cultura negra? 

O Carnaval é hoje uma grande alienação das manifestações culturais. O Carnaval deveria ser a culminância de todo um processo desenvolvido durante o ano, e não ser um momento onde as agremiações vão mendigar um mísero cachê, cabendo às prefeituras e os estados decidirem se ele é merecedor ou não. O debate de cultura fica nesse âmbito do cachê, alienando quem faz cultura.  É gasto uma fortuna para quatro dias com artistas nacionais e, durante o ano, não existem recursos para a gente fazer nada. Não existe uma política de base comunitária, onde o Estado esteja presente o ano todo formando essas pessoas para o Carnaval. Inclusive, se houvesse esse trabalho, as apresentações seriam uma contrapartida das agremiações. Por conta disso, vários grupos culturais tradicionais das comunidades não existem mais.

Camila Áurea, Recife 

Assédio moral: tão antigo quanto o trabalho

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assedio-moralO texto que segue contempla o testemunho de três trabalhadoras em Educação do Rio Grande do Sul, cuja luta recente no “chão da escola” contra uma direção autoritária e opressora, venceu o medo e a tensão e deu o exemplo de que não podemos aceitar injustiças.

Como resultado deste movimento coletivo, houve o afastamento e punição da diretora da escola tendo inclusive sua vida funcional abalada. Não nos contentamos só com isso e agora, ao final de 2013, tivemos o comprometimento da 1ª CRE de Porto Alegre de que todas as pessoas que contribuam para um ambiente antidemocrático na escola sejam remanejadas. Começaremos, enfim, uma nova fase nesta comunidade escolar.

 “Durante toda nossa luta, percebi que fibra e garra foram o que não nos faltaram. Todas nós lutamos por justiça e conseguimos vencer o assédio moral. Justiça foi mostrar que assédio é crime. Justiça foi mostrar que todo ser humano merece respeito”, afirmou de Denise Pianetti, professora de Matemática que viveu esse duro embate.

Para Odete Brauner, monitora e uma das envolvidas no caso, sintetizou essa luta dizendo: “Lutei pela justiça e pelo respeito aos professores, funcionários e alunos para que esta escola viva dias melhores e sem opressão”.

O assédio moral é fruto de uma discussão atual, embora o fenômeno seja tão antigo quanto o próprio trabalho. Em nosso país, a primeira matéria referente ao tema foi publicada no jornal Folha de São Paulo em 25 de novembro de 2000, em uma dissertação de mestrado realizada por Margarida Barreto, assim como o primeiro livro, também escrito no mesmo ano, intitulado Dando a Volta Por Cima. Na obra, o autor, João Renato Alves Pereira, retrata as várias faces da opressão de quem é alvo de assédio, as estratégias do opressor, os danos que podem prejudicar a saúde, a vida psíquica, familiar e social. Já o primeiro Estado a adotar uma legislação específica sobre o assunto foi o Rio de Janeiro, em 2002.

Mas o que é mesmo assédio moral?

Segundo Margarida Barreto, pode ser conceituado como uma conduta abusiva (gestos, palavras, comportamentos, atitudes), que atente, por sua repetição ou sistematização, contra a dignidade ou integridade psíquica ou física de uma pessoa, trazendo como consequência a degradação do ambiente de trabalho, a vulnerabilidade e desequilíbrio da vítima, dentre outras.

Este tipo de opressão não está isolada na sociedade, é fruto de um conjunto de fatores, tais como a globalização que visa somente à produção e ao lucro, incentivando a competição opressora através do medo, violência psicológica, humilhação e constrangimento.

Reforçando o título deste texto, infelizmente, isso não é algo novo na vida dos trabalhadores, é o reflexo do que acontece cotidianamente na sociedade capitalista: o patrão sempre querendo ter benefícios próprios sem pensar na coletividade e rebaixando o trabalhador. Essa é exatamente a lógica do sistema – a luta de classes –, caracterizando-se pelo antagonismo entre opressores e oprimidos, uma batalha permanente, às vezes visível, às vezes camuflada.

Acreditamos que a mudança dessa realidade histórica somente acontecerá com a união dos trabalhadores, na luta pelos seus direitos em busca de uma nova sociedade, com igualdade, justiça e solidariedade.

Nas palavras da professora Jussara Moura, que viveu todo o processo ao lado das companheiras, “essas mulheres fizeram-se notórias e aguerridas em nossa caminhada contra o assédio moral. Com união vencemos montanhas e a prática da justiça prevaleceu”.

(Fátima Magalhães e Lorena Teixeira Gomes, militantes do  MLC e do Movimento de Mulheres Olga Benário)

Saúde da mulher: alertas na vacinação contra o HPV

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A partir do dia 10 de março de 2014 a vacina contra o Papiloma Vírus Humano (HPV) será oferecida pelo SUS a meninas de 11 a 13 anos. O HPV é um vírus capaz de infectar a pele e as mucosas, por isso um vírus sexualmente transmissível e que possui mais de 100 tipos circulantes, e sua consequência mais conhecida é o câncer de colo de útero.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras da doença (ou seja, mesmo não desenvolvendo os sintomas estão infectadas e transmitem o vírus) e que 270 mil mulheres morrem por ano devido à doença. No Brasil, 5.160 mulheres morreram em 2011 em decorrência desse tipo de câncer.

Diante desses dados alarmantes e das características fundamentais de transmissão do vírus, voltamos nosso olhar para a importância de medidas de investimentos em medicina preventiva e saúde pública, bem como na educação em saúde. A vacinação é uma medida eficaz e podemos considerá-la um avanço para a prevenção do HPV e do câncer de colo de útero entre nós mulheres.

É importante entender que a faixa etária da vacinação deve ser entre 9 e 13 anos, pois nessa  faixa a vacina é eficaz para imunizar as mulheres quando futuramente atingirem a puberdade e a fase adulta.

Em 2014 a vacina será distribuída para meninas de 11 a 13 anos, e em 2015 para meninas de 9 a 13, pois a meta do Ministério da Saúde é vacinar 80% do público-alvo, que atingirá aproximadamente 5,2 milhões de meninas. Dados que mais uma vez emitem um sinal de alerta: por que não estabelecer uma meta para atingir 100% das meninas?

O fato é que, apesar do avanço, quando se avalia sob a ótica da incorporação de mais uma vacina o calendário do SUS, infelizmente, ao observamos a situação sob a ótica das políticas de saúde pública e planejamento do governo, mais uma vez o governo federal opta por uma parceria público-privada para adotar uma medida no Ministério da Saúde.

A vacina será produzida numa parceria firmada entre o Instituto Butantan e o Merck, um dos maiores laboratórios do mundo, que tem como seu objetivo central o lucro e não a vida humana. Será investido R$ 1,1 bilhão na compra de 41 milhões doses da vacina durante cinco anos – período exigido pela indústria para que se transfira a tecnologia ao instituto brasileiro, para que então a vacina passe a ser produzida integralmente no país.

Mais uma vez assistimos à famigerada indústria farmacêutica, juntamente com um governo liberal, impedindo que os avanços da ciência e da tecnologia cheguem a todos e permitam que a saúde seja, de fato, um direito humano universal.

Esperamos que os 80% das meninas que pertencem ao público-alvo sejam imunizadas, e que os avanços tecnológicos e políticos não parem por aí. E que a constante luta dos profissionais que buscam um SUS 100% público e de qualidade continue ganhando força para melhorar a saúde e, consequentemente, a qualidade de vida da população.

Isabela Neves, biomédica
Belo Horizonte

70 anos da vitória em Leningrado contra o nazifascismo

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LENINGRADONo dia 27 de janeiro de 1944, chegava ao fim a mais longa batalha de toda a Segunda Guerra Mundial: o cerco a Leningrado. Há 70 anos, as tropas do Exército Vermelho venciam e expulsavam o exército nazista de Hitler da “Cidade de Lênin”.

A cidade, então, encontrava-se há 872 dias quase que completamente cercada, com rotas de transporte e linhas de abastecimento cortadas. Leningrado, na época tinha, cerca de três milhões de habitantes. O cerco fez com que metade da população tivesse que ser evacuada. A batalha, juntamente com a fome, matou cerca de 700 mil pessoas.

Para os alemães, Leningrado significava um ponto estratégico no plano de invasão da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). A cidade tinha o principal porto do Mar Báltico, além de ser um centro econômico no oeste da União Soviética. Mas a cidade era, mais do que isso, um centro político importantíssimo para os soviéticos. Ela levava o nome de Lênin, fundador do Partido Comunista Bolchevique e líder da Grande Revolução Russa de 1917, período em que a cidade era a capital do Império czarista e se chamava Petrogrado. Portanto, para os nazistas era fundamental no seu plano de invasão da URSS tomar a cidade.

Só que as forças militares de Hitler não contavam com a feroz e heroica resistência do povo soviético. A população de Leningrado se organizou e, juntamente com o Partido Bolchevique e o Exército Vermelho, resistiu a todos os ataques nazistas. O exército alemão cortou  todas a linhas de suprimentos da cidade, além de realizar bombardeios quase diários, provocando a fome generalizada.

Porém, os soviéticos conseguem uma saída. Durante o inverno, estabelecem uma rota de abastecimento pelo lago Ladoga, que se encontrava congelado. Ao mesmo tempo, a cidade fortalecia sua defesa com a ajuda da Marinha Soviética e com as baterias antiaéreas, que superavam, em quantidade, até as defesas de Londres, que também se encontrava sobre intenso bombardeio nazista. Fábricas enviavam tanques de combate da produção direto para o front.

Incrível que, mesmo com todos os ataques, a cidade mantinha sua vida cultural. Em 1942, em pleno cerco, algumas escolas e teatros foram inaugurados. Houve até um concerto da Orquestra Filarmônica de Leningrado, que apresentou a “Sinfonia Heroica de Leningrado”, de Shostakovitch, que saudava os soldados e trabalhadores que defendiam a cidade e se tornou símbolo da batalha.

A vitória de Leningrado ficou marcada na história como mais um exemplo da combatividade e do heroísmo do povo soviético, do Partido Comunista Bolchevique e do Exército Vermelho na luta contra o fascismo, sendo temas de diversos filmes, livros e músicas. Esse fato significou um avanço fundamental para a vitória da URSS e dos aliados sobre a Alemanha nazista.

A atuação e a organização dos trabalhadores e dos soldados da União Soviética nessa batalha nos coloca um exemplo de luta e de resistência aos ataques do capitalismo, mesmo na sua expressão mais horrenda (o fascismo).

(Com informações do site Gazeta Russa)

Felipe Annunziata, estudante de História da UFRJ e militante da UJR

Invasão de privacidade: EUA inseriram programa espião em 100 mil computadores

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De acordo com o jornal The New York Times, a Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, em inglês) implantou programas de espionagem em quase 100 mil computadores ao redor do mundo. Embora a maioria dos programas seja inserida através da internet, a NSA desenvolveu uma nova tecnologia, que, por meio de ondas de rádio, consegue invadir os computadores que não estão conectados à rede.

A denúncia é baseada em documentos revelados pelo ex-analista da NSA, Edward Snowden. Segundo o jornal, as ferramentas de recepção – minúsculas placas de circuito colocadas no computador monitorado ou em dispositivos USB – eram instaladas diretamente por uma pessoa com acesso ao equipamento, que pode ser um espião, um usuário do computador ou mesmo seu fabricante.

Entre os alvos do “grampo” estão unidades dos exércitos russo e chinês, a polícia e os cartéis do tráfico de drogas do México, instituições comerciais da União Europeia e países “aliados” dos Estados Unidos, como Arábia Saudita, Índia e Paquistão.

Esse método de espionagem, batizado de “Quantum” e utilizado pela NSA desde 2008, consiste em um canal secreto de ondas de rádio que podem ser transmitidas através de cartões USB instalados nos computadores. As informações são recolhidas por uma estação do tamanho de uma maleta, que pode estar localizada a uma distância de até 13 km do alvo.

Segundo a NSA, esse programa é apenas uma defesa contra ataques cibernéticos estrangeiros. “Nós não usamos nossos serviços de inteligência para roubar segredos comerciais de companhias estrangeiras em benefício das empresas dos EUA e sua competitividade internacional”, disse a porta-voz da NSA, Vanee Vines, para quem quisesse acreditar.

Lembremos que, às vésperas do leilão do campo do pré-sal de Libra, em outubro do ano passado, documentos vazados da NSA comprovavam que a rede privada de computadores da Petrobras foi alvo de espionagem do Governo norte-americano. Esses mesmos documentos também relatavam o treinamento para funcionários da NSA sobre como espionar outras redes privadas de computadores.

De acordo com especialistas em computação, a rede de software do programa Quantum pode criar um caminho digital para lançar ataques cibernéticos contra qualquer alvo monitorado. “A tecnologia de frequência de rádio ajudou a resolver um dos maiores problemas enfrentados pelas agências de inteligência norte-americanas por anos: entrar em computadores que adversários, e alguns parceiros dos EUA, tentavam tornar impermeáveis à espionagem ou ataques cibernéticos”, afirma a reportagem do jornal.

Como vemos, quanto mais o tempo passa, mais se descobrem os planos do imperialismo norte-americano de controlar o conjunto das informações que circulam no mundo para, por meio disso, aumentar seu domínio político, econômico, militar e cultural sobre a humanidade, mesmo que para isso seja necessário sufocar a democracia e limitar a tão venerada “liberdade individual”.

Redação Rio de Janeiro