UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

terça-feira, 11 de novembro de 2025
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A repressão das classes dominantes contra os camponeses

PortinariAo criar a personagem Jeca-Tatu, o genial escritor Monteiro Lobato quis denunciar a situação em que vivia o homem do campo no Brasil, abandonado à própria sorte. Mas a personagem foi interpretada com símbolo do trabalhador rural brasileiro, por sua simplicidade, ingenuidade, ignorância, desleixo, etc. Essa visão preconceituosa do camponês, disseminada pelos meios de comunicação e pela própria escola, corresponde à ideologia das classes dominantes, e atinge até setores de esquerda colonizados pela visão capitalista europeia do mundo. O grande Lenin já promoveu a devida retificação no início do século XX, deixando claro tanto na teoria como na prática da Revolução Russa, que o campesinato é aliado fundamental do proletariado urbano nos países da periferia, e que seria impossível tomar o poder político e construir o socialismo sem a consolidação de uma forte e indissolúvel aliança operário-camponesa.

Bravo como um Leão

A história do Brasil é rica em exemplos de que esse homem amável, cordial, e aparentemente acomodado à situação em que vive, se transforma num leão quando sente ameaçada sua família, o pedacinho de chão em que vive e planta, ou para conquistar o seu chão. Os latifundiários e a burguesia sabem muito bem disso, tanto que sempre reprimiram com extrema violência e crueldade as tentativas de libertação dos camponeses em todo o decorrer da nossa história, e não apenas nos períodos de ditadura.

Sem esquecer a Resistência Indígena e o hercúleo esforço dos Quilombolas, atendo-nos ao século passado, nos emocionaremos com lutas memoráveis por terra para trabalhar, viver com dignidade, todas combatidas sem dó nem piedade, resultando em milhares de mortos, sem diferença de gênero, idade ou raça. Muitas dessas lutas já foram relatadas nas páginas do jornal A Verdade nos seus onze anos de existência: Canudos, Contestado, Caldeirão, Trombas e Formoso, guerrilha do Porecatu, as Ligas Camponesas, etc.
Idosos, mulheres e crianças remanescentes da última expedição do Exército Brasileiro (depois de três vitórias em Canudos) foram impiedosamente degolados para que ninguém pudesse contar a história, cujo registro o povo brasileiro deve ao jornalista e escritor Euclides da Cunha. No Caldeirão, para pôr fim a uma pequena comunidade de camponeses desarmados em Juazeiro do Norte (CE), o governo de Vargas utilizou a Força Aérea (FAB).

Na ditadura e na “democracia”

Nos anos que antecederam ao golpe de estado de 1964, as Ligas Camponesas e os sindicatos relacionaram e denunciaram um sem-número de casos de violência praticados pelos capangas, milícias e pistoleiros de aluguel pagos pelos latifundiários, não raro com a participação de policiais. São métodos cruéis. Mergulhavam, por exemplo, a pessoa num tanque de mel e a levavam para ser lambida por vacas até o corpo ficar coberto de chagas ou a punham amarrada sobre um formigueiro. Muitas usinas e fazendas tinham um cubículo para trancar o camponês que reclamava algum direito e o deixavam por tempo indeterminado em completa escuridão, apenas com um buraquinho para tomar fôlego.

Em seu livro Que São as Ligas Camponesas? , Francisco Julião relata: “camponeses são arrastados por jipes; com um ferro em brasa, marcam-lhes o peito e as nádegas; um é posto lambuzado de mel sobre um formigueiro; outro é metido numa cuba cheia d’água, mantido noite e dia a pão seco, servindo-se daquela água contaminada por urina e fezes onde fica mergulhado até a boca; tem havido camponeses mutilados na presença de outros, sendo pedaços de sua carne oferecidos aos cães, para servir de exemplo….” . Assassinato de lideranças e chacinas coletivas também são uma constante.

O que muda com a ditadura civil-militar implantada no dia 1º de abril de 1964 é que o Estado assumiu a repressão, oficial ou extra-oficialmente, imbricando-se com a repressão privada, que de modo algum foi extinta. Os métodos de tortura adotados nos porões da ditadura não foram tão diferentes, alguns mais sofisticados e até piores, como os choques elétricos na boca e nos órgãos genitais, introdução de objetos nas vaginas e ânus dos (as) torturados (as), a tortura de crianças diante de mães ou pais, sem contar o exílio, que é o assassinato da nacionalidade.

As Ligas Camponesas, postas de imediato na ilegalidade, foram as primeiras vítimas do golpe. “…Quase todos os dirigentes foram presos ou mortos. Começaram a perseguir camponeses e assassinaram vários: enforcaram, queimaram …” (Francisco Julião, entrevista ao Pasquim, 1979). Homens, mulheres, crianças, eram presos e tangidos como animais. O líder comunista Gregório Bezerra foi torturado de forma bárbara, publicamente, pelas ruas do Recife, numa repetição da via-sacra de Jesus Cristo.

Dirigentes das ligas e dos sindicatos, ativistas de base, não importava a filiação político-ideológica: comunistas, cristãos, teve qualquer grau de militância, podais ser preso, torturado, morto, desaparecido. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) registra o número de 1.586 assassinatos em razão da luta pela terra no período de 1964 a 1986.

O Nordeste foi a região mais visada, pois as ligas e os sindicatos eram mais fortes e combativos, mas a repressão atingiu todos os recantos do país. Do Norte ao Sul. Aliás, no Rio Grande do Sul, nascera em 1950 o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), desmantelado pela ditadura (1964). Ele foi precursor do MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra, fundado em 1984 em Encruzilhada Natalino (RS).

A redemocratização ocorrida em 1964 não pôs fim à repressão, como se poderia pensar. Ela continua vitimando todos os que ousam desafiar a estrutura agrária e lutar por terra para quem nela trabalha. E se faz das duas formas: pelo Estado, a exemplo de Eldorado dos Carajás (1996), ou por pistoleiros, capangas e milícias privadas. Nem sequer houve redução. A tendência tem sido de crescimento. De acordo com os dados levantados pela CPT, em 2012 houve um crescimento de 24% no número de assassinatos e de 102% nas tentativas de assassinatos no campo.

Apoiadores na Mira

A repressão no campo não atinge apenas os camponeses. Mas também aqueles que os apóiam, especialmente sacerdotes e advogados. Casos mais conhecidos de assassinato: padres e freiras João Bosco Penido Burnier (Mato Grosso, 1976), Josimo Morais Tavares (Maranhão,1986), Irmã Dorothy Stang (Goiás,2005). Advogados: Djalma Raposo (Pernambuco, 1972), Gabriel Sales Pimenta (Pará, 1972), Evandro Cavalcanti da Silva (Pernambuco, 1987).

Na lei ou na marra?

O crescimento da violência das classes dominantes contra os camponeses em luta por terra é resultado da permanência do mesmo modelo agrário concentrador da propriedade da terra. Não houve avanço algum nesse sentido após o fim da ditadura, exceto algumas desapropriações pontuais que em nada abalaram o latifúndio brasileiro, hoje chamado de agronegócio. A esperança de que assumindo a Presidência da República, o PT promoveria a reforma agrária, se transformou em ilusão.

Está claro que não é com recuo da mobilização e da organização dos camponeses que se conseguirá terra para quem nela trabalha. A negociação não conseguirá jamais desmanchar o casamento desastroso, como dizia Marx, entre o senhor Capital e a senhora Terra.

As Ligas Camponesas tinham um lema: “Reforma Agrária na lei ou na marra”. O legalismo já se mostrou ineficaz. Que caminho resta? O caminho da luta é, pois, inevitável.

José Levino

Oposição fortalece intervenção no 53° Congresso da UNE

uneAo término do 53° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), ocorrido entre os dias 29 de maio a 02 de junho, os mais de sete mil estudantes presentes no encontro saíram com a certeza da vitoriosa e importante unidade estabelecida entre os setores de esquerda da entidade na luta por uma universidade democrática e popular, por uma UNE independente e comprometida com a soberania nacional e com o povo brasileiro.

Em praticamente todos os debates, a Oposição de Esquerda polarizou a disputa com a diretoria majoritária da entidade, criticando abertamente as posições de conciliação que tem tomado a UNE, seja na omissão contra os leilões do petróleo, nos absurdos gastos com a Copa do Mundo de Futebol e ainda na restrição do direito à meia-entrada em espetáculos culturais e esportivos.

Durante a realização da marcha por 10% do PIB para educação, o bloco organizado pela Oposição de Esquerda expressou a combatividade dos que lutaram ao lado dos estudantes na greve de 2012, no apoio à luta dos estudantes goianos contra o aumento das passagens e a repressão promovida pela PM, na defesa do petróleo brasileiro dizendo não aos seus leilões da ANP, combatendo os absurdos gastos com a Copa e apoiando a apuração e  punição de todos os crimes cometidos pela Ditadura Militar.

No ambiente da plenária final era visível o crescimento da oposição à majoritária diretoria da UNE, e as críticas ao comportamento da entidade com relação à luta contra os leilões do petróleo e à limitação da destinação dos royalties para a educação, repercutiu até mesmo dentro da chapa majoritária, a ponto de que, a partir de uma proposta da Oposição de Esquerda, fosse incluída a bandeira de luta contra os criminosos leilões do petróleo brasileiro na Jornada de Lutas de agosto deste ano.

A chapa da Oposição de Esquerda, formada a partir da unidade dos movimentos REBELE-SE, JUNTOS, ROMPENDO AMARRAS, DOMÍNIO PÚBLICO, LEVANTE, JSOL, VAMOS À LUTA e CONSTRUÇÃO, e que recebeu ainda o apoio da Juventude Marxista, reuniu mais de dois mil estudantes durante suas plenárias e atividades, conseguindo estabelecer uma grande agitação contra a diretoria majoritária da UNE.

Ao término da votação para escolha da nova diretoria, a chapa da Oposição de Esquerda recebeu 618 votos, ficando em segundo lugar, e elegendo a 1ª vice-presidência da entidade, e ainda mais dois cargos na sua executiva, tendo a chapa majoritária obtido 2.607 votos. Completando a votação, a chapa Campo Popular recebeu 539 votos e indicará dois representantes na executiva.

Dentro de alguns dias, a chapa da Oposição de Esquerda se reunirá para indicar seus representantes para a próxima gestão e, assim, dar início a uma nova jornada de lutas em defesa de uma UNE rebelde e combativa, por um Brasil soberano e socialista!

Coordenação Nacional da UJR

Cuba ou a globalização da solidariedade: a Operação Milagre

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Operación Milagro VenezuelaAs medidas que Cuba e Venezuela lançaram em 2004 possibilitaram que 2 milhões de pobres recuperassem a visão

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), há atualmente cerca de 285 milhões de pessoas vítimas de deficiência visual no mundo – entre elas, 39 milhões de cegos e 246 milhões que apresentam uma diminuição da acuidade visual. Quase 90% delas vivem em países do Terceiro Mundo. As principais causas de deficiência visual são os defeitos de refração não corrigidos (miopia, hipermetropia e astigmatismo, com 43%), a catarata (33%) e o glaucoma (2%). Cerca de 80% das deficiências visuais são curáveis, observa a organização, e acrescenta que “a catarata continua sendo a primeira causa de cegueira”. Essas enfermidades oculares afetam, em primeiro lugar (65%), pessoas de mais de 50 anos (20% da população mundial), uma porcentagem que crescerá com o envelhecimento da população, mas também 19 milhões de crianças.

Diante dessa constatação, no marco da Alba, Cuba e Venezuela decidiram lançar em julho de 2004 uma ampla campanha continental sob o nome Operação Milagre. Consiste em operar gratuitamente os latino-americanos pobres que têm cataratas ou outras enfermidades oculares, mas estão impossibilitados de pagar uma operação que custa entre 5 e 10 mil dólares, segundo os países. Essa missão humanitária se estendeu a outras latitudes (África, Ásia). A Operação Milagre inclui a participação de 165 instituições cubanas. Dispõe de 49 centros oftalmológicos em 15 países da América Latina e do Caribe (Cuba, Venezuela, Equador, Haiti, Honduras, Panamá, Guatemala, São Vicente e Granatinas, Guiana, Paraguai, Granada, Nicarágua e Uruguai).

Em janeiro de 2008, foi alcançada a cifra de um milhão de pessoas operadas. Em 2011, mais de dois milhões de pessoas oriundas de 35 países haviam recuperado a visão. No marco dos acordos da Alba, a população venezuelana foi a primeira a se beneficiar da missão, com mais de 178.000 operações realizadas. A Bolívia também se beneficiou amplamente da cooperação médica cubana, com 600.105 pessoas operadas. O presidente boliviano, Evo Morales, saudou a presença dos médicos cubanos, assim como o papel integrador e solidário da Alba.

Outros países também se beneficiaram do internacionalismo humanitário da Operação Milagre. Dessa forma, 100.000 equatorianos, 61.000 nicaraguenses, 61.000 jamaicanos, 50.000 panamenhos, 48.255 brasileiros, 35.245 argentinos, 22.280 peruanos e 312 paraguaios recuperaram a visão. Inclusive cidadãos norte-americanos oriundos dos setores menos privilegiados se beneficiaram da Operação Milagre.

O caso mais emblemático, sem dúvida, é o de Mario Terán, ex-suboficial boliviano aposentado, que assassinou Ernesto Che Guevara em 9 de outubro de 1967 na escola de La Higuera, na Bolívia. Vivia então no anonimato, em Santa Cruz. Sobrevivia graças a sua pequena aposentadoria de ex-soldado e havia perdido a visão por conta de uma catarata que não pôde tratar por falta de recursos.

Graças à Operação Milagre, Terán pôde se libertar se seu problema. Pablo Ortiz, jornalista boliviano que trabalha para o jornal El Deber de Santa Cruz, retratou a história: “Terán tinha problemas de catarata e operou graças à Missão Milagre, a médicos cubanos, de modo totalmente gratuito”. Deu mais detalhes: Esse sujeito é um total desconhecido. Ninguém sabe quem é. Está completamente arruinado e se apresentou no hospital da Operação Milagre. Ninguém o reconheceu e o operaram. Foi seu próprio filho quem nos contou, e veio ao jornal para fazer esse agradecimento público”.

Em 2009, por ocasião da intervenção cirúrgica número 10.000, realizada no Centro Oftalmológico José Martí, a Operação Milagre recebeu o Prêmio de Excelência Cidadã, no Uruguai, do Centro Latino-americano de Desenvolvimento (CELADE), que patrocina a Organização dos Estados Americanos (OEA), por seus valores solidários e humanos.

A imprensa canadense relatou, inclusive, que alguns súditos da Coroa britânica carentes de recursos econômicos preferiram ir se curar e serem operados em Cuba, famosa pela excelência de seu sistema de saúde e por seus preços atrativos para os ocidentais.

A Operação Milagre é um exemplo concreto de uma política social eficaz levada a cabo por nações do Terceiro Mundo a favor dos mais pobres. É também uma lição para os países ricos e um chamado a mais solidariedade para com aqueles que Víctor Hugo chamava de a “cariátide”.

 

 

Salim Lamrani*
Fonte: Paris Opera Mundi – Brasil

* Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, Salim Lamrani é professor titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos. Seu último livro é intitulado The economic war against Cuba. A historical and legal perspective on the U.S. Blockade (A guerra econômica contra Cuba. Uma perspectiva histórica e legal sobre o bloqueio norte-americano), Nova York, Monthly Review Press, 2013, com um prólogo de Wayne S. Smith e prefácio de Paul Estrade.

Vacinas de Cuba e do Brasil salvam vidas na África

Vacinas de Cuba e do Brasil salvam vidas na ÁfricaEm meados de 2006, a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um SOS internacional: necessitava da produção massiva, ao preço mais baixo possível, da vacina polis-acárida contra a meningite A e C, com destino a 23 países do chamado “cinturão da meningite” da África, que se estende do oeste de Senegal até o leste da Etiópia, e onde vivem 430 milhões de pessoas.

A única empresa que fabricava estas vacinas era a transnacional “Sanofi Pasteur” mas, devido aos baixos índices de lucro, a empresa havia reduzido drasticamente seus volumes de produção, algo que colocava a África à beira da emergência sanitária. Cada vacina era comercializada nestes países por 20 dólares, impossibilitando que a maioria do povo tivesse real acesso a vacina.

Com este problema do lucro, a OMS teve que apelar para outros laboratórios públicos e privados de todo o mundo, pedindo que encontrassem a maneira de fabricar milhões de vacinas baratas. As multinacionais responderam, dizendo que era inviável a produção dessas vacinas pois não trariam grandes lucros, incluindo Fundação Bill e Melinda Gates que também recusou a proposta. No entanto, dois laboratórios públicos o fizeram.

O Instituto Finlay de Cuba e o Instituto Bio-Manguinhos do Brasil se associaram para a criação da vacina vax-MEN-AC, específica para os tipos de meningites que afetam a região africana. A partir de então, em Cuba é produzido o princípio ativo, e no Brasil desenvolve-se o resto do processo industrial, incluindo a liofilização e embalagem. O preço final de cada dose é reduzido quase 20 vezes: dos cerca de 20 dólares da vacina comercializada pela citada multinacional para menos de 0,95 centavos. Esta aliança entre Brasil e Cuba permitiu fabricar desde então 19 milhões de vacinas para a África, que são adquiridas e distribuídas por entidades como a própria OMS, UNICEF, Médicos Sem Fronteiras ou a Cruz Vermelha Internacional.

Mas apesar de sua relevância informativa inegável este tipo de iniciativa de cooperação em grande escala não mereceu o menor espaço nos grandes meios internacionais, localizados no Primeiro Mundo. Algo que contrasta com a cobertura periódica das ações sanitárias na África que são financiadas, por exemplo, pela fundação do multimilionário Bill Gates; ou de projetos de mínimo impacto, sustentados por empresas privadas, algumas do próprio ramo farmacêutico, a partir de orçamentos de marketing social corporativo.

Iniciativas como esta e como os programas educativos, sanitários, alimentares ou culturais de Cuba em dezenas de países pobres nos mostram que a teoria de que a única forma possível de cooperação internacional é a chamada “cooperação Norte-Sul”, isto é, a entrega de recursos dos países do Primeiro Mundo aos do Terceiro, está equivocada.

Uma segunda ideia é que o mercado e a empresa privada, neste caso, as multinacionais farmacêuticas, oferecem soluções mais eficientes às necessidades da população que as iniciativas públicas. A cooperação cubano-brasileira na África demonstra justamente o contrário: milhões de seres humanos desatendidos pelo mercado, que só age pela rentabilidade, conseguem solução para uma necessidade vital a partir da vontade política de governos, como o de Cuba Socialista e do Brasil!

Leonardo Zegarra

A prática da eugenia nos EUA

A invenção da eugenia nazista nos EUAPacientes com sobrenomes latino-americanos internados em asilos e instituições psiquiátricas do estado da Califórnia, no oeste dos Estados Unidos, foram esterilizados em taxas desproporcionais que variam de 20 a 30 por cento, de acordo com pesquisa realizada pela Universidade de Michigan, que perguntou sobre este procedimento praticado discriminatoriamente sob os termos da Eugenia¹.

A pesquisa foi realizada pela professora de Obstetrícia e Cultura Alexandra Minna Stern e a estudante de pós-graduação de Estudos Latinos, Natalie Lira, que analisaram o número de solicitações de esterilização processadas na Califórnia pelos superintendentes das instituições estatais. Os resultados da pesquisa mostraram que até um terço das cerca de 60 mil esterilizações realizadas em 32 estados dos EUA estavam entre as pessoas com sobrenomes hispânicos sob as leis discriminatórias entre 1907 e 1980, refletindo a discriminação étnica e racial nos procedimentos de esterilização.

Na Califórnia, foram feitos cerca de 20 mil esterilizações em instituições psiquiátricas, sob o pretexto de que os pacientes eram “portadores de deficiência mental”, ocorrido entre 1922 e 1952 sob a Lei 1.909 Eugenics, recentemente anulado em 1979. Enquanto isso, no leste da Carolina do Norte, mostrou que as esterilizações eram desproporcionais em mulheres afro-americanas, e na cidade de Alberta (leste do Canadá), as taxas mais elevadas corresponderam às mulheres indígenas.

Stern realizou uma pesquisa para registrar o legado da eugenia na Califórnia contemporânea e da luta das mulheres por seus direitos na nação americana. Atualmente, o pesquisador planeja criar um arquivo digital de grande escala, que faria essa história amplamente acessível e a coletivizaria com todos.

Ele explicou que para a esterilização forçada eram usados ​​como argumentos, “que as mulheres tiveram desvios sexuais, que sofriam de epilepsia, eram mães adolescentes sem apoio ou tinham QI abaixo de 70”.

A maioria das jovens que foram esterilizadas na Califórnia eram mexicanas, que por serem imigrantes, sofriam muitos transtornos e não tinham acesso à educação.

O Consulado do México e da Igreja Católica expressou oposição a estes procedimentos e as famílias das menores mexicanas esterilizadas foram quem levaram os casos ao tribunal.

Leonardo Zegarra

Notas

¹ Eugenia é um termo criado em 1883 por Francis Galton , significando “bem nascido”. Galton definiu eugenia como o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente. Baseando na seleção natural de Darwin, Galton propôs a seleção artificial com os estudos da genética humana e com as escolhas de “ parceiros certos”. Veio a ser parte fundamental da ideologia de “pureza racial”, com o surgimento da eugenia nazista.

Nos EUA surgiu a eugenia negativa, aliança entre as teorias eugênicas europeias e o racismo, que consiste na eliminação das futuras “gerações de incapazes” (doentes, de raças indesejadas e empobrecidas) através da proibição de casamentos, esterilização coercitiva e eutanásia. Como teoria, vicejou no final do século XIX, quando os imigrantes eram mal vistos pelos descendentes dos primeiros colonizadores. O patrocínio privado à eugenia começou nos EUA, nos anos iniciais do século XX. Financiadores do racismo nos EUA, os milionários americanos John D. Rockefeller, Harriman, Carnegie e tantos outros financiaram também a eugenia. Ao capital uniram-se cientistas de Harvard, Yale, Princeton e Stanford.

Apoiado por criadores de animais e especialistas em sementes que participavam do movimento eugenista, Charles Davenport  criou em 1909 o Eugenics Record Office, registro de antecedentes genéticos de americanos com que pretendia pressionar o governo a criar leis propícias à prevenção do nascimento de indesejáveis. O estado de Indiana foi o primeiro a legalizar a esterilização coercitiva, seguido por outros 31 estados. Foram esterilizadas por determinação legal, nos EUA, cerca de 60 000 pessoas, metade delas na Califórnia.

Contrariamente a uma crença popular, a eugenia é inglesa (não alemã) em invenção e estadunidense (não alemã), em pioneirismo legislativo.

Ato em Belém presta solidariedade ao povo cubano e a Revolução

Ato em Belém presta solidariedade ao povo cubano e a RevoluçãoCom a presença do conselheiro político da Embaixada de Cuba no Brasil, Rafael Hidalgo, partidos e entidades do movimento social de Belém participaram de ato de solidariedade a Cuba realizado no plenário da Câmara Municipal no último dia 23.

Cerca de 100 pessoas compareceram ao ato que contou com uma mesa composta por representantes do PCR, PPL, PCdoB, LPJ, PCB, do deputado estadual Edmilson Rodrigues (PSOL) e da Vereadora Marinor Brito (PSOL), além de Carlos Dávila, cônsul adjunto da República Bolivariana da Venezuela em Belém.

Fernanda Lopes, representando o Partido Comunista Revolucionário, destacou a importância histórica da Revolução Cubana para a luta dos povos na América Latina e da necessidade de a tomarmos como “exemplo a ser seguido para transformar radicalmente a realidade de sofrimento pelo qual passa o nosso povo”.

As intervenções da mesa foram alternadas com palavras de ordem vindas do plenário de apoio a Revolução Cubana como “Cuba sim, Yanques não! Viva Fidel e a Revolução!”.

Hidalgo em sua intervenção deu ênfase à importância do trabalho realizado pelos médicos cubanos em 69 países espalhados pelo mundo cumprindo a missão de salvar vidas e prestando solidariedade aos povos atendidos por este trabalho.

O ato faz parte de atividades relativas à XXI Convenção Nacional de Solidariedade à Cuba a ocorrer nos próximos dias 6,7 e 8 de junho em Foz do Iguaçu no estado do Paraná. No final do ato, Rafael Hidalgo fez questão de convidar a todos os presentes à convenção.

Trabalhadores dos serviços essenciais preparam greve unificada

GREVE UNIFICADA EM SPMetroviários,ferroviários, trabalhadores do meio ambiente e saneamento, e eletricitários estão construindo o caminho da unidade com o objetivo de enfrentar os desmandos do governo do PSDB no estado de São Paulo.

Governando o estado há 18 anos, o PSDB vem aplicando uma política de privatização dos serviços públicos que ataca direitos fundamentais do povo paulista. Serra e Alckmin privatizaram a linha 04 (amarela) do metrô e quase todas as empresas de fornecimento e distribuição de eletricidade. Através de novos nomes, como terceirização, concessão ou Parceria Público-Privada, as privatizações continuam nos serviços prestados pela Companhia de Saneamento – Sabesp e de Meio Ambiente, Cetesb.

Neste ano, Alckmin realizou ainda mais ataques aos direitos dos trabalhadores do serviço público, diminuindo o pagamento da participação nos resultados dos trabalhadores do Metrô e Sapesp, aumentando a terceirização em vários setores e negando aumento real de salário, mesmo frente à alta inflação vivida no país. Para o povo, o governo reserva aumento nas tarifas de metrô, ônibus e trem para R$ 3,20 além do aumento na conta de água.

Durante esta semana, a mobilização foi intensa em todas as categorias e estão convocadas assembleias para a próxima segunda-feira (27) que deflagrarão a greve unificada. Para Ricardo Senese, membro do Movimento Luta de Classes – MLC e delegado sindical na estação de metrô da Barra Funda: “A unidade das categorias dos serviços essenciais é um caminho seguro para a vitória. Precisamos construir uma greve unificada que mostre a força dos trabalhadores”.

Abaixo, reproduzimos a nota do Movimento Luta de Classes – MLC em apoio ao movimento:

Diante dos ataques do governo Alckmin (PSDB) aos trabalhadores e ao povo, a greve unificada dos trabalhadores dos serviços essenciais é fundamental. A unidade é um caminho seguro para vitória. Essa é uma greve que se soma a luta dos professores da rede estadual, que enfrentaram de maneira combativa 20 dias de greve, e dos professores da rede municipal que exigem da prefeitura de São Paulo um reajuste salarial digno e a qualidade no ensino.

O MLC tem estado presente nas assembleias, panfletagens e mobilizações convocando os trabalhadores e trabalhadoras a fazer uma greve combativa, que exija do governo o fim das privatizações e se some à luta do povo paulista pela qualidade nos serviços públicos.

No momento em que a inflação diminui de fato o poder de compra dos salários. No momento em que a prática privatista volta com força ao nosso país, através da privatização dos portos, aeroportos, rodovias e, o mais grave de todos, os leilões do petróleo que entregaram parte importante da riqueza estratégica nacional, a unidade e a luta da classe trabalhadora são fundamentais para mudar essa realidade.

Na situação de crise econômica que vive o capitalismo a nível internacional, quando os direitos da classe trabalhadora são atacados no mundo todo, fica evidente que nossas lutas unificadas devem acumular para um sentido ainda maior. O capitalismo é o sistema do desemprego, da miséria, das altas tarifas e da violência e não pode oferecer nada mais para a humanidade. É preciso, em seu lugar, construir uma nova sociedade de Poder Popular e Socialismo.

Apoiamos e participamos da greve unificada dos trabalhadores dos serviços essenciais de São Paulo, defendendo:

-Cumprimento das reivindicações das categorias, com aumento real de salário, pagamento integral e igualitário da Participação nos Resultados, equiparação salarial, fim dos salários regionais e um plano de carreira digno.
– Reestatização da Linha 04 (Amarela) do Metrô. Fim das terceirizações e Parcerias Público-privadas.
– Nenhum aumento na tarifa de metrô, trem ou ônibus. Passe-livre para os estudantes e desempregados.
– Fim das perseguições ao movimento sindical. Readmissão dos perseguidos na greve de 2007 do metrô.

Coordenação Movimento Luta de Classes – MLC

Como a austeridade mata

Como a austeridade mataNo início do mês passado, um triplo suicídio foi noticiado na cidade costeira de Civitanova Marche, Itália. Um casal, Anna Maria Sopranzi, 68, e Romeo Dionisi, 62, estiveram lutando para sobreviver com sua pensão a mensal de 500 euros (mais ou menos R$ 1250,00), e caíram no aluguel.

Por conta dos cortes de austeridade no orçamento do governo Italiano que aumentaram a idade mínima para aposentadoria, o Sr. Dionisi, um trabalhador da construção civil, tornou-se um dos Italianos “esodati” (exilado) – trabalhadores em idade avançada, postos na miséria sem uma rede proteção social. No dia 05 de Abril, ele e sua mulher deixaram uma nota no carro do vizinho pedindo por perdão e se enforcaram na garagem de casa. Quando o irmão do Sr. Sopranzi, Giuseppe Sopranzi, 73, soube da notícia da morte dos familiares, afogou-se no mar Adriático.

A correlação entre desemprego e suicídio tem sido observada desde o século XIX. Pessoas sem emprego tem duas vezes mais chance de pôr fim às suas vidas do que aqueles empregados.

Nos EUA, a taxa de suicídio, que vinha crescendo lentamente desde o ano 2000, teve um salto após a recessão de 2007-2009. Em nosso novo livro, estimamos em 4.750 os suicídios “extras” – ou seja, o número de mortes acima da média anteriormente existente – ocorridos de 2007 a 2010. As taxas destes suicídios foram significativamente maiores nos estados que experimentaram as maiores perdas de postos de trabalho. As mortes por suicídio ultrapassaram o número de mortes por acidente de carro no ano de 2009.

Se os suicídios são uma inquestionável consequência das crises econômicas, esta seria apenas outra história sobre os custos humanos da Grande Recessão. Mas não é só. Os países que cortaram os orçamentos da proteção social e de saúde, como a Grécia, Itália e Espanha, viram nitidamente piores resultados na saúde em comparação a países, como a Alemanha, Irlanda e Suíça, que mantiveram sua rede proteção social e optaram por estímulos ao invés da austeridade (A Alemanha prega as virtudes da austeridade – para os outros).

Como pesquisadores de saúde pública e política econômica, assistimos horrorizados a forma como os políticos encerram o debates sobre as dívidas e os déficits, sem a mínima consideração sobre os custos humanos de suas decisões. Durante a década passada, analisamos uma grande quantidade de dados de vários países para entender como a economia impacta – da Grande Depressão ao fim da União Soviética até a crise financeira Asiática e a Grande Recessão – nossa saúde. O que encontramos foi que as pessoas não ficam inevitavelmente doentes ou morrem por conta de crises econômicas. A política fiscal, ao que parece, pode ser uma questão de vida ou morte.

Em um extremo, está a Grécia, que se encontra em meio ao desastre da saúde pública. O orçamento nacional para a saúde foi cortado em 40% desde 2008, parcialmente para alcançar as metas de redução orçamentária definidas pela chamada troika – o Fundo Monetário Internacional, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeia – como parte do pacote de austeridade de 2010. Algo em torno de 35000 médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da saúde perderam o emprego. As internações hospitalares se elevaram após os gregos perderem as rotinas e os tratamentos preventivos por conta do longo tempo de espera e do auto custo dos remédios. A mortalidade infantil aumentou 40%. Novas infecções de HIV mais que dobraram como consequência do uso de drogas intravenosas – ao passo que o orçamento para o programa de doações de agulhas foi cortado. Após o corte no programa de doação de agulhas. Após os cortes no programa de pulverização anti-mosquito no sul da Grécia, foram registrados números significantes de casos de malária pela primeira vez desde a década de 1970.

Em contraste, a Islândia evitou um desastre na saúde pública mesmo experimentando, em 2008, a maior crise bancária da história em relação ao tamanho de sua economia. Após a falência dos três principais bancos comerciais, a dívida total subiu, o desemprego aumentou nove vezes, e o valor da moeda, a krona, entrou em colapso. A Islândia tornou-se o primeiro país europeu a pedir um empréstimo ao FMI desde 1976. Mas, ao invés de salvar os bancos e realizar cortes no orçamento, como demandava o FMI, os políticos da Islândia deram um passo radical: puseram a austeridade sob o voto. Em dois referndos, em 2010 e 2011, os Islandeses votaram majoritariamente pelo pagamento gradual ao credores internacionais,ao invés do pagamento imediato exigido pela política de austeridade. A economia da Islândia se recuperou bastante, enquanto a Grécia se aproxima do colapso. Ninguém perdeu cobertura de saúde ou acesso a medicamentos, mesmo com o crescimento do preço dos remédios importados. Não houve crescimento significativo no suicídio. Ano passado, no primeiro ranking da ONU “World Happiness Report” colocou a Islândia como uma das nações mais felizes.

Céticos vão argumentar sobre diferenças estruturais entre a Grécia e a Islândia. O fato da Grécia ser membro da eurozona fez a desvalorização da moeda impossível e deixou menos espaço político para rejeitar as imposições do FMI. Mas o contraste entre os dois países fortalece nossa tese de que uma crise econômica não tem que, necessariamente, envolver uma crise na saúde pública.

Os EUA estão em algum lugar entre estes dois extremos (Islândia e Grécia). Inicialmente, o pacote de estimulo de 2009 fez crescer a rede de seguridade. Mas haviam sinais de alerta – por trás das altas taxas de suicídio – que a situação da saúde pública piorava. O número de prescrições de anti-depressivos cresceu. 750 mil pessoas (particularmente homens jovens sem emprego) se tornaram alcoólatras. Mais de cinco milhões de estadunidenses perderam o acesso a tratamentos de saúde durante a recessão, pois perderam seus empregos. Visitas médica preventivas foram diminuídas, houve atraso no atendimento médico fazendo com que as pessoas terminem em salas de emergência (a Lei de cuidados com a saúde do presidente Obama expande a cobertura, mas apenas gradualmente).

David Stuckler, pesquisador senior em sociologia em Oxford, e Sanjay Basu, professor assistente de medicina e epidemiologista no Centro de Pesquisa em Prevenção em Stanford, ambos são autores do livro “The Body Economic: Porque a austeridade mata”.

Por David Stuckler e Sanjay Basu

Crise do capitalismo desemprega 73 milhões de jovens

Crise do capitalismo desemprega 73 milhões de jovensEm virtude da especulação no mercado financeiro e da anárquica produção capitalista, desde 2008 o mundo está mergulhado em uma profunda crise, demonstrando o fracasso geral do atual sistema político e econômico. De lá até agora todas as ilusões de que a liberalização do mercado internacional, a livre concorrência e os ideais de lucro a todo custo poderiam resolver os problemas da humanidade dissolveram-se no ar. O American Way of Life (O estilo de vida americano), antes propagado como o caminho da felicidade em filmes e canções, hoje deixa mais dez milhões de trabalhadores desempregados. O mesmo acontece com a Europa que antes era vista como o caminho para ter um trabalho certo, mas hoje, com a crise do capitalismo, países como a Espanha pontua as maiores taxas de desemprego desde 1970 e, segundo pesquisa realizada pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), o índice de desemprego entre os jovens não deve cair para menos de 17% até 2016 nos países desenvolvidos deste continente.

Ainda segundo a mesma pesquisa realizada pela OIT que foi divulgada no último dia 08 são 73 milhões de jovens entre 15 e 24 anos que encontram-se desempregados no mundo, isto é, 3,5 milhões a mais que em 2007! Em 2012 este índice chegou a 54,2% na Grécia e 38,7% em Portugal. A imprensa burguesa tem dito que entre os motivos principais está a desistência na procura de empregos, incompatibilidade da atividade exercida com a especialização do empregado e a perda de potencial produtivo das economias, isto nos países desenvolvidos. Mas a verdade é que a burguesia, temendo a perda de suas riquezas, tem colocado milhões de trabalhadores nas ruas; naturalmente menos trabalhadores significa menos gastos para o patrão, que fará com que menos pessoas continuem produzindo mais em troca de um salário de miséria. Assim, continuará roubando a maior parte das riquezas produzidas pelos trabalhadores. O fato é que o capitalismo não tem mais nada a oferecer para os jovens do mundo, muito menos aos jovens brasileiros.

No ano passado foi divulgada uma pesquisa do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro que afirma: no Brasil 5,3 milhões de jovens entre 18 e 25 anos nem trabalham nem estudam. Este é o reflexo mais triste e real da crise do capitalismo, são milhares de famílias que não têm um lugar para morar, não têm o que comer e não sabem o que será do seu futuro.

Uma vez que a anarquia do capital financeiro internacional só nos tem colocado mais limitações para uma sociedade justa e feliz, em que é subtraído das pessoas até mesmo o direito sagrado de trabalhar, só resta transformar profundamente esta sociedade. Para por fim a esta situação calamitosa em que nos colocou o capitalismo precisamos nos unir, organizar todos os trabalhadores, jovens e oprimidos para que juntos tomemos de volta o que nós construímos.

Daniel Victor, Pernambuco

Golpe da Prefeitura de BH é frustrado na Conferência das Cidades

Apesar da tentativa de golpe da prefeitura de BH, Conferência das Cidades é adiadaNeste último sábado (18) mais uma tentativa de golpe por parte da prefeitura de Belo Horizonte foi desarticulada. A 5ª Conferência das Cidades, de Belo Horizonte, foi convocada pela prefeitura de forma arbitrária e sem a participação dos movimentos populares da cidade.

“A prefeitura de Belo Horizonte, desrespeitando o histórico das próprias outras quatro conferências, que tiveram média de mil participantes, limitou a participação a 300 pessoas”, disse Leonardo Péricles da Coordenação Nacional do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas – MLB. E não foram somente essas as irregularidades: “Além disso, a suposta comissão preparatória, eleita de forma anti-democrática pois na época de sua eleição, quase nenhum movimento foi avisado, aprovou um regimento que impedia entidades que não tem registro no município de participar da conferência e isso é ilegítimo, uma vez que se trata de uma etapa de uma conferência nacional e mais, a maioria das associações de bairro não têm registro, e nem por isso não são legítimas” argumenta Leonardo.

A desorganização e despreparo dos organizadores ficou evidente. Dezenas de pessoas ficaram mais de uma hora na fila para não conseguir nem se inscrever como observadores.

Nesse contexto, o MLB e a Ocupação Eliana Silva, juntamente com diversos movimentos presentes tentou entrar no espaço onde a suposta conferência estava sendo iniciada. A prefeitura de Belo Horizonte acionou a guarda municipal para tentar impedir a entrada dos movimentos: “Fomos recebidos com cassetetes e spray de pimenta da Guarda Municipal, isso contra trabalhadores lutando legitimamente por seu direito de participar da Conferência”, relata Poliana Souza da Coordenação da Ocupação Eliana Silva.

O Deputado Federal Nilmário Miranda destaca que a insatisfação não se deu só hoje, mas estava colocada desde o processo de credenciamento, que chegou a ser cancelado e depois reaberto. “A concepção da conferência é a participação. Tem que ter regras, regras democráticas, mas a presença deve ser acolhida, mesmo de quem não é observador ou delegado”, observa.

Nilmário aponta ainda que o objetivo da Conferência é discutir o direito à cidade, com tudo que isso inclui, como a moradia, transporte, segurança, meio ambiente, acesso aos bens e serviços essenciais, controle da especulação imobiliária, etc. “Por isso a participação popular é essencial. Quando ela é restringida, a conferência perdeu o sentido”, afirma (1).

Depois de muito enfrentamento e agressões por parte da Guarda Municipal, centenas de participantes, indignados com tamanha covardia da Prefeitura de Belo Horizonte, se juntaram aos movimentos e garantiram a entrada de todos.

Após o incidente foi feita a leitura do regimento que foi destacado por praticamente todos os movimentos presentes, e estes foram unânimes ao defender o adiamento da Conferência, o que foi aprovado pela maioria dos presentes. Ainda foi decidido pelos movimentos a organização de uma nova comissão preparatória com a participação de mais movimentos populares e a remarcação da Conferência com critérios democráticos que possibilitem a participação de todos os movimentos de nossa cidade.

“Essa foi uma vitória dos movimentos populares que impediram mais um golpe da prefeitura de BH. Agora é impedir que a prefeitura possa tentar outra fraude, pois quem deve mandar na conferência são os movimentos” disse Poliana.

Da Redação MG

NOTAS

(1) Entrevista com Deputado Nilmário Miranda foi retirada de matéria da Jornalista Joana Tavares do Portal Minas Livre.

O mito da liberdade sexual feminina

O mito da liberdade sexual femininaEm uma economia dominada por grandes monopólios, onde as pequenas iniciativas e o “empreendedorismo” individual ocupam cada vez menos espaço nas transações econômicas, os valores do liberalismo pequeno burguês que enaltecem os direitos e liberdades individuais, mesmo que imprescindíveis para a manutenção do capitalismo, são cada vez mais questionáveis do ponto de vista prático da economia.

Os desafios colocados hoje para o sistema já não passam mais pela necessidade de que se forjem meios para que mercadorias sejam produzidas. Hoje a disputa acontece para que se garantam as condições para o escoamento da megaprodução desordenada. É a era da “sociedade de consumo”.

Entretanto, o sexo ainda é campo fértil para a disseminação das ideias liberais. Nas primeiras décadas do século 20, foram desenvolvidas diversas teorias sobre uma forte cultura do sexo, adotadas por vanguardas artísticas e por meios de comunicação. Ali a cultura seria uma espécie de grau mais elevado do “instinto sexual”. Esta teoria de que o sexo seria a base de toda a cultura, bem como a terapêutica através da desinibição, formuladas por alguns psicanalistas, foi prontamente absorvida e comercializada pela cultura de classes.

Sendo assim, todos os meios de comunicação e publicidade imprimiram no ideário coletivo o mito de que o sexo é o último refúgio da soberania e liberdade individuais.

Escrava da “sociedade de consumo”, a mulher, em busca de prestígio e reconhecimento social, agora figura como a “compradora oficial do lar”. A publicidade “dignifica” a mulher, apresentando-lhe produtos que seduzem e estimulam também reconhecimento e atração masculinos, como se esta fosse uma forma de equiparação dos sexos na sociedade.

Concepções idealistas colocam o sexo da mulher como via de sua libertação. Esta corrente deixa de lado toda a História de exploração da força de trabalho feminina no seio do lar, bem como não leva em conta a estrutura familiar que pede agora à mulher uma entrega “voluntária” no casamento, para que viva permanentemente como usufruto daquele homem, maquiando sua condição de propriedade privada. Se toda mercadoria pode ser comercializada, a mulher e seu sexo deve também encontrar um comprador, e esta transação se dá tanto pela via do contrato matrimonial como pela prostituição.

A supervalorização da liberdade sexual como objetivo da luta das mulheres está intimamente ligada ao crescimento da “sociedade de consumo” e é uma corrente que fortalece o individualismo. Em termos práticos, desvia a atenção das mulheres da questão fundamental de classe. Elas deixam de fortalecer a luta pela coletivização das múltiplas jornadas, contra a divisão sexual do trabalho e da luta pelos espaços de poder proletário da sociedade. É importante ressaltar que estas ideias aparecem com força entre intelectuais, estudantes ou mulheres presentes nos meios culturais, que já atingiram certo prestígio ou posição social um pouco mais favorecida ou reconhecida, e que, em geral, não vivem as contradições e os problemas do trabalho doméstico na mesma intensidade das mulheres proletárias. Estes movimentos privilegiam uma moral privada, que se opõe à necessidade da criação de uma moral social proletária e, ao mesmo tempo em que reivindicam diretos das mulheres, incentivam resquícios históricos da poligamia, que sempre foi, na prática, poligamia para os homens e monogamia para as mulheres.

Sendo assim, a luta das mulheres trabalhadoras deve ser fortalecida. As mulheres devem lutar por sua libertação das diversas jornadas de trabalho, por uma sociedade verdadeiramente igualitária, onde não haja opressão de qualquer natureza. Enquanto as mulheres forem obrigadas a ceder e vender sua força de trabalho e estiverem, ao mesmo tempo, alijadas dos espaços de poder da classe, não conquistarão sua liberdade plena nem a total proletarização de suas consciências.

Raphaella Mendes,
Movimento de Mulheres Olga Benario – Minas Gerais