UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 21 de abril de 2025
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“Marechal foi ditador, sequestrou e torturou”

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Foi com espírito de indignação que, estudantes liderados pelo PCR, União da Juventude Rebelião, Ames-Teresina e o Movimento Resistência rebatizaram na manhã de 22 de agosto, uma das principais avenidas da capital piauiense, que havia recebido o nome de Marechal Castelo Branco, primeiro militar a assumir um governo fascista instalado em nosso país após o golpe de 1964.

A palavra de ordem puxada pelos estudantes definiu quem foi Castelo Branco: “O marechal foi ditador, ele prendeu, sequestrou e torturou”. Com carro de som, faixas e cartazes com imagens de vários revolucionários assassinados pela ditadura militar, os crimes daquele período foram denunciados a toda a sociedade teresinense. Os estudantes interromperam o trânsito e renomearam, simbolicamente, a avenida com o nome de Antônio Pádua Costa.

Antônio Pádua Costa foi um jovem piauiense que saiu de sua cidade, Parnaíba, para estudar astronomia na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Lá se tornou liderança estudantil à frente do Diretório Acadêmico do Instituto de Física. Preso durante o 30° Congresso União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna-SP, foi obrigado a viver na clandestinidade ao sair da prisão. Já na Guerrilha do Araguaia, foi torturado e morto brutalmente; em 1974, seu corpo foi encontrado na mata junto aos corpos de mais dois guerrilheiros.

“Assim como Antônio Pádua foi morto, vários brasileiros foram sequestrados, torturados, mortos e, até hoje, os culpados estão impunes. Mais que resgatar a memória desses heróis, queremos justiça!”, declarou Amanda Augusta, integrante do Comitê pelo Direito à Memória, Verdade e Justiça do Estado do Piauí.

Redação do Piauí

Semana da Anistia mobiliza estudantes

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Há 33 anos, mais especificamente em 28 de agosto de 1979, promulgou-se no Brasil a Lei nº 6.683, a Lei de Anistia, que, apesar de suas limitações, representou o início do processo de redemocratização do País e foi resultado de diversas lutas populares.

Esta é uma data que merece ser lembrada, não só por aqueles que participaram do processo ativamente, mas pelas novas gerações, que têm a responsabilidade de preservar a memória e buscar justiça das atrocidades cometidas durante o período da Ditadura Militar.

Pensando nisso, o Centro Cultural Manoel Lisboa, em parceria com a Secretaria de Direitos Humanos da Cidade do Recife e o Ministério Público de Pernambuco, realizou, de 26 a 31 de agosto, a Semana de Anistia: pelo Direito à Memória, Verdade e Justiça. Com eventos descentralizados, teve como propostas debater, além da Lei de Anistia, o papel da Comissão da Verdade.

O evento teve início no domingo (26), com a participação de um grupo de grafiteiros que pintaram em partes do Viaduto Tancredo Neves temas relacionados aos direitos humanos. No dia 27, pela manhã, foi a vez da Universidade Federal Rural de Pernambuco, em parceria com o Diretório Central do Estudante Odijas de Carvalho Souza, receber o projeto. Uma palestra com o escritor e ex-preso político Marcelo Mário Melo, que debateu como foi aprovada a Lei da Anistia. Marcelo explicou que, na época, muitas pessoas ainda permaneceram presas, já que a anistia não foi ampla. O escritor ainda aproveitou a oportunidade para discutir sobre seu livro “Colares e Contas”, cuja temática também é a Ditadura. Durante a tarde, o evento aconteceu na Reitoria da Universidade de Pernambuco (UPE), com o apoio do Núcleo de Diversidade e Identidades Sociais (NDIS). A professora Suzan Lewis, do curso de História da UPE, coordenou a palestra do sociólogo e ex-preso político Edival Nunes Cajá, que falou sobre a importância de resgatar a verdade sobre os sequestros e torturas para, a partir daí, punir os criminosos.

Na terça-feira, 28 de agosto, o Ministério Público de Pernambuco realizou um ato em comemoração ao primeiro ano do Comitê da Memória, Verdade e Justiça. Na homenagem, estiveram presentes Roberto Franca e Nadja Brayner, da Comissão Estadual dom Helder Câmara; Agassiz Almeida, ex-preso político, deputado estadual e federal, dirigente das Ligas Camponesas da Paraíba; Danúbio Aguiar, irmão de Ivan Aguiar, militante estudantil assassinado no dia do Golpe, em Recife; Westei Conde, promotor de Direitos Humanos da Capital; Amparo Araújo, fundadora do Movimento Tortura Nunca Mais e atual secretária de Direitos Humanos do Recife; e Abelardo da Hora, artista plástico pernambucano e ex-preso político, que relatou como foi sua prisão em 1964 e denunciou as torturas sofridas por Gregório Bezerra à época. O Procurador Geral do Estado, Tadeu Alencar, ainda se comprometeu de erguer um monumento homenageando os presos políticos no local onde foi um dos quartéis do Exército e que hoje é a sede das promotorias.

Na quarta-feira (29), o Grêmio Jonas José, do Ginásio Pernambucano, organizou, através do grupo de teatro Duas Companhias, uma dramatização cujo texto era baseado nas prisões e torturas sofridas por militantes políticos durante a Ditadura. No dia 30, o evento foi na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), com a palestra do advogado Rodrigo Deodato, do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop). Rodrigo falou sobre a chamada justiça de transição, época em que o País entrava no processo de redemocratização, de forma lenta e gradual. O grupo MPB UNICAP também marcou presença, apresentando-se com o projeto Com Censura, que traz a interpretação de músicas do período da Ditadura.

Por fim, no dia 31, a Casa da Cultura recebeu o encerramento da Semana. O local é simbólico, já que é uma antiga casa de detenção, que abrigou diversos presos políticos. Foi lá, inclusive, que o dirigente do PCR Amaro Luiz de Carvalho foi assassinado. Laura Dornelles, coordenadora do projeto Cinema pela Verdade, organizou a exibição de dois filmes, um deles um documentário produzido pela Comissão de Anistia da Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.

A Semana da Anistia manteve ainda, até a primeira semana de setembro, uma exposição de imagens na Estação Central de Metrô do Recife.

Lidiana Medeiros, Recife

No Pará, ex-militares também serão julgados

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A Justiça Federal de Marambá, no interior do Pará, aceitou no último dia 30 de agosto denúncia contra dois militares que atuaram no Exército brasileiro entre os anos de 1964 e 1965 por crimes durante a Ditudura: o coronel da reserva Sebastião Curió Rodrigues de Moura, de 77 anos, e o major da reserva Lício Augusto Maciel, de 82 anos. Os dois são acusados pelo sequestro de militantes durante a repressão à Guerrilha do Araguaia, na região Sul paraense, na década de 1970.

O então major Curió comandou a repressão à guerrilha usando o codinome de Doutor Luchini. Ele é acusado pelos sequestros de Maria Célia Corrêa (Rosinha), Hélio Luiz Navarro Magalhães (Edinho), Daniel Ribeiro Callado (Doca), Antônio de Pádua Costa (Piauí) e Telma Regina Cordeira Corrêa (Lia). Os militantes foram capturados entre janeiro e setembro de 1974. Após serem levados às bases militares coordenadas pelo major, foram submetidos à tortura e seus corpos, até hoje, estão desaparecidos.

Já Lício Augusto Maciel usava, na época da repressão, o codinome de Doutor Asdrúbal e foi responsável pela captura de Divino Ferreira de Souza (Nunes), ilegalmente detido pelo Exército em 1973, André Grabois (Zé Carlos), João Gualberto Calatroni (Zebão) e Antônio Alfredo de Lima (Alfredo), todos também desaparecidos.

Da Redação

Torturador é condenado em São Paulo

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Amelinha e irmã

O dia 14 de agosto foi um marco na luta pelos Direitos Humanos. Pela primeira vez, um oficial do Exército da Ditadura Militar, que matou e torturou durante os anos de chumbo, foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

O coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, que já havia sido condenado em primeira instância, em 2008, teve seu recurso negado pelo Tribunal paulista. Em uma decisão unânime, os desembargadores responsáveis pelo processo movido contra ele reiteraram: Ustra é um torturador.

Durante o julgamento do recurso, cerca de 100 pessoas fizeram uma manifestação em frente ao Tribunal, ato que contou com a presença de representantes do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça, Grupo Tortura Nunca Mais de São Paulo e Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, entre outros. Militantes do Partido Comunista Revolucionário (PCR) e da União da Juventude Rebelião (UJR) também estiveram presentes.

O processo que tramita na Justiça desde 2005, movido pela família Teles, é uma ação de caráter cível declaratória, na qual a intenção é apenas que a Justiça reconheça que Ustra torturou e causou danos morais e à integridade física de membros da família durante o período em que estiveram detidos, no começo dos anos 1970.

Em depoimento ao jornal A Verdade, Maria Amélia Teles – Amelinha, como é conhecida – disse: “A primeira condenação de um torturador – nós podemos hoje dizer que um torturador da Ditadura chegou ao banco dos réus –, além de justa e necessária para o enfrentamento da impunidade no Brasil, é histórica, é inédita. É preciso que a sociedade brasileira acompanhe esse fato e incorpore essa iniciativa na sua luta no dia a dia, para darmos fim à tortura e à impunidade que acontece ainda hoje no Brasil”.

Ivan Seixas, membro da Comissão Estadual da Verdade de São Paulo e assessor da Comissão Nacional, disse que é importante “a condenação dessa figura emblemática, um fascista assumido, uma cara que esteve a serviço de um projeto político de interesse de uma potência estrangeira, o imperialismo norte-americano”. E acrescentou: “É fundamental que a gente faça dele um exemplo de condenação para mostrar que a sociedade brasileira não aceita mais golpes, não aceita torturas”.

Ustra comandou o DOI-Codi entre 1970 e 1974 sob o codinome de Major Tibiriçá. O Movimento Tortura Nunca Mais estima que foram torturados mais de 500 presos políticos e que 40 foram assassinados no local.

“Carlos Alberto Brilhante Ustra foi um dos maiores torturadores da época da Ditadura do Brasil. Ele fez parte da criação da Operação Bandeirantes (Oban), que deu origem ao DOI-Codi, que se estendeu para todo o país e também para outros países da América Latina”, afirma Amelinha.

O deputado estadual de São Paulo Adriano Diogo, presidente da Comissão Estadual da Verdade Rubens Paiva, vê que esta condenação foi possível graças ao atual momento político do país. Declarou que “a Comissão da Verdade, com todos os seus limites e todas as precariedades, está começando a fazer efeito. Está se criando um movimento nacional de repúdio às ações da Ditadura, e esse homem é um dos maiores símbolos da Ditadura, dos assassinatos, dos extermínios, dos desaparecidos políticos. Viva a luta do povo brasileiro!”.

Vivian Mendes, São Paulo

A Operação Brother Sam

Documentos e gravações divulgados recentemente revelaram que, em 1962, o serviço secreto norte-americano, a CIA, e o Pentágono propunham boicotes ao governo progressista de João Goulart (Jango), chegando a doar oito milhões de dólares à campanha de seu opositor, além de decidirem dar início à operação Brother Sam. No dia 28 de março de 1964, derrubaram com um golpe o presidente Jango, democraticamente eleito. A pouco menos de 90 km das praias cariocas, os navios e porta-aviões norte-americanos se colocavam a postos para garantir o sucesso do golpe. A operação Brother Sam nascia com o intuito de assegurar o golpe dos militares em 1964, dando todo o apoio logístico, bélico e econômico que fosse necessário.

Significando Irmão Sam, em inglês, a operação faz alusão ao Tio Sam (personagem-símbolo dos Estados Unidos) e era constituída por 100 toneladas de armas leves e munições, petroleiros com capacidade para 130 mil barris de combustível, uma esquadrilha de aviões de caça, um navio que transportava 50 helicópteros, com tripulação e armamento completo, um porta-aviões, seis destróieres (embarcação de guerra para abater aviões e submarinos), um encouraçado (navio de guerra pesadamente blindado e armado com peças de artilharia de longo alcance e de maior calibre existentes), além de um navio de transporte de tropas e 25 aviões C-135 para transporte de material bélico. Não havia dúvida de qual era a intenção do imperialismo de ter o Brasil dominado pelas forças armadas.

De 1964 até 1985, período da Ditadura Militar, os trabalhadores perderam vários direitos, manifestações foram proibidas, o movimento estudantil e camponês foram violentamente reprimidos, muitos foram torturados e assassinados. As Reformas de Base e a Reforma Agrária foram interrompidas e, a partir de então, o Brasil viu crescer a pobreza, a concentração de renda e a multiplicação de sua dívida externa.

Durante anos, a Casa Branca tentou negar a existência dessa operação, até que documentos secretos foram publicados no Jornal do Brasil, em dezembro de 1976, denunciando todo o programa previamente orquestrado para tomar o poder no Brasil e impedir os avanços que os trabalhadores vinham obtendo.

Essa chaga, após 27 anos do fim da Ditadura Militar, não se apagou, pois os crimes cometidos pelos torturadores do regime continuam impunes. A União da Juventude Rebelião exige a abertura dos arquivos da Ditadura e a punição desses covardes e sanguinários torturadores e de seus mandantes. Nossos heróis não serão esquecidos jamais, pois, se estamos lutando, a luta deles hoje é só porque eles morreram para assegurar que isso acontecesse.

Viva Manoel Lisboa de Moura! Viva Amaro Luiz de Carvalho! Viva Carlos Lamarca e todos os que tombaram na luta pela liberdade e pelo socialismo!

Raphael Almeida estudante do IFRJ, e Felipe Annunziata, do Colégio Pedro II

Traslado dos restos mortais de Padre Henrique

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Na manhã do último dia 27 de agosto, no mês em que se completaram 13 anos da morte de dom Helder Câmara, 27 da morte de dom José Lamartine e 43 do assassinato do padre Antônio Henrique, os restos mortais deles três foram trasladados para um túmulo definitivo na Igreja da Sé, em Olinda.

Padre Henrique, assessor da Pastoral da Juventude na época em que dom Helder era arcebispo de Olinda e Recife, depois de celebrar uma missa em homenagem a Edson Luís, estudante assassinado pela Ditadura Militar no Rio de Janeiro, foi sequestrado e encontrado morto num matagal localizado na Cidade Universitária, no Recife. Ao lado de dom Helder foram depositados também os restos mortais de seu bispo auxiliar, dom Lamartine. Dom Fernando Saburido, o atual arcebispo, com muita emoção celebrou a missa que lotou a Igreja da Sé com militantes dos direitos humanos, amigos e familiares.

As manifestações pela abertura dos arquivos da Ditadura e pela prisão dos torturadores assassinos crescem em nosso país. A juventude, as mulheres e os trabalhadores têm protagonizado esta luta em vários estados brasileiros e, em Pernambuco, no dia 28 de maio deste ano, foi realizado um ato no Viaduto Presidente Médici, localizado na Avenida Norte, que cruza a Avenida Agamenon Magalhães (um dos principais cruzamentos do Recife), durante o qual o viaduto foi simbolicamente renomeado para Viaduto Padre Henrique.

O coordenador-geral do DCE-UFRPE, Clóvis Silva, disse, durante o ato: “Há 43 anos, Padre Henrique foi assassinado e até hoje os culpados estão impunes; já basta de tanta impunidade. Vamos renomear este viaduto com o nome dele para que possamos restabelecer a justiça. Outros atos virão, e iremos firmes na luta pela memória, verdade e justiça”.

Anatália Silva, Recife

Corpo de Manoel Aleixo continua desaparecido

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O militante camponês e dirigente do Partido Comunista Revolucionário (PCR) Manoel Aleixo da Silva é uma das 136 pessoas reconhecidas pelo Estado brasileiro como desaparecidas, dentre os mais de 500 mortos da Ditadura Militar fascista que instalou no Brasil em 1964 e que, podemos dizer, até hoje não acabou.

Não acabou porque ainda não cessaram as suas dores, o tormento provocado aos familiares dos que tombaram, dos que tiveram seus corpos desaparecidos, dos que foram torturados, mas sobreviveram.

O corpo de Manoel Aleixo continua desaparecido, mas sua história permanece viva. Nascido em São Lourenço da Mata, na Zona Canavieira de Pernambuco, em 04 de junho de 1931, seus pais foram negros alcançados pela escravidão quando crianças. Manoel cresceu trabalhando na moagem da cana de açúcar e ouvindo histórias dos homens valentes em busca de liberdade.

Em 1955, já aos 24 anos, conhece as Ligas Camponeses, que então conquistara a desapropriação do Engenhe Galiléia, no Município de Vitória de Santo Antão. Ingressa nas Ligas, desenvolve lutas e ajuda a organizar novos núcleos em diversas cidades de Pernambuco e Alagoas, recebendo, por isso, o nome de Ventania, pela velocidade e força com que se movimentava.

Nos anos que precederam ao Golpe Militar, as Ligas Camponesas e os Sindicatos de Trabalhadores Rurais travaram grandes lutas, envolvendo uma grande massa de homens e mulheres. Ventania era já então uma de suas maiores lideranças. Quando, de fato, os militares derrubaram o presidente da República João Goulart, em 1º de abril de 1964, Manoel Aleixo se vê obrigado a deixar sua casa, com esposa e filhos, e cair na clandestinidade.

Passados cerca de três anos, em meio ao processo de resistência à Ditadura e de reorganização política do trabalho entre os camponeses da região e das organizações de esquerda no Brasil, Manoel reencontra um velho conhecido: Amaro Luiz de Carvalho, um dos principais comunistas brasileiros com atuação no Nordeste, de ampla formação marxista e militar, que, junto a Manoel Lisboa de Moura e outros camaradas, participara da fundação do Partido Comunista Revolucionário (PCR), em 1966.

Uma vez no PCR, aprende a ler e a escrever e recebe formação política. Logo ingressa na Direção do trabalho no campo, sempre na clandestinidade. O trabalho do Partido cresce em toda a Zona Canavieira de Alagoas ao Rio Grande do Norte, incomoda o Estado fascista e, no início dos anos 1970, vira alvo prioritário das forças da repressão.

Em 1971, Amaro Luiz de Carvalho é assassinado na prisão, pouco tempo antes do fim de sua pena. Entre 1971 e 1972, outro militante camponês de nome Amaro, o Amaro Félix Pereira, é sequestrado e desaparecido. E, em agosto/setembro de 1973, a Ditadura consegue capturar Manoel Lisboa de Moura, Emmanuel Bezerra dos Santos e Manoel Aleixo. Os três são mortos sob as mais bárbaras torturas, mas a versão oficial divulgada pela Ditadura e pela imprensa burguesa é de que foram atingidos em tiroteios com policiais ao resistir à voz de prisão.

Luta pela memória, verdade e justiça

Em 23 de agosto de 2011, portanto, há um ano, foi criado o Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, formado por diversas entidades da sociedade civil e militantes históricos. Já em 16 de maio deste ano, foi empossada a Comissão Nacional da Verdade, criada pela Lei 12.258/2011, de autoria da presidente da República Dilma Rousseff.

O nome de Manoel Aleixo consta, sem dúvida, entre aqueles que o Comitê Pernambucano tem levantado para o devido esclarecimento das circunstâncias de sua morte. É preciso apontar para a Comissão Nacional que leve à frente as investigações sobre Manoel Aleixo, Amaro, Carlos, Odijas, Honestino, Stuart, José, Paulo, Joaquim, Wladimir, Jonas, Maria, Sônia, Soledad, Ana, Anatália, Iara, Íris, Ieda, Marilena…

Para homenagear todos estes militantes e cobrar punição aos golpistas e torturadores da Ditadura Militar, será realizado um ato político no dia 8 de setembro, na sede do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema) – Av. Tiradentes, nº 1.323, na Capital paulista. O ato acontece no marco dos 46 anos de fundação do PCR e será não só uma atividade de denúncia e reivindicação, mas, acima de tudo, uma manifestação em defesa de um mundo novo, socialista, uma celebração da luta libertária, um elogio aos revolucionários que deram suas vidas por esta causa.

Rafael Freire,
presidente do Sindicato dos Jornalistas da Paraíba

“Combate à dívida” na Espanha estabelece recorde histórico da dívida

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Crise na EspanhaA dívida pública espanhola ultrapassou pela primeira vez os 800 bilhões de euros, o que corresponde a 75,9 por cento do PIB, a maior taxa desde 1913, após 12 meses de cortes sociais e salariais decididos pelo governo de Rajoy para “combater a dívida”.

De acordo com dados publicados quarta-feira pelo Banco da Espanha, a dívida pública cresceu 14 por cento nos últimos 12 meses e 3,8 por cento no último trimestre, aquele em que, segundos os analistas, começaram a ter repercussões plenas sobre a economia as medidas de austeridade impostas em fevereiro pelo executivo de direita.

A dívida pública espanhola atingiu os 804.388 milhões de euros, com muito maior responsabilidade da administração central e não das comunidades, que o governo de Madrid costuma responsabilizar pela situação.

De acordo com estatísticas reconstruídas através de um estudo publicado pelo FMI, a dívida de 75,9 por cento do PIB na Espanha é a mais elevada desde 1913, ano em que chegou aos 76,7 por cento.

A dívida pública bate recordes na Espanha ao mesmo tempo que o desemprego atinge os seus valores máximos nas últimas décadas.

Fonte: BE Internacional

Sobre sorrisos e sonhos – Crônica a Manoel Lisboa de Moura

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Ditadura Militar no Brasil

Era bonito aquele sorriso. Por mais que houvesse olhado aquela fotografia zilhões de vezes, não conseguia acostumar-se com um sorriso tão bonito e se surpreendia sempre. Analisando friamente, não era um sorriso retilíneo, tampouco havia uma brancura exemplar. Havia mesmo pontos amarelados pelo cigarro. Mas era muito bonito, mesmo assim. Talvez fosse aquele jeito de sorrir com os olhos. E era amor. Sim, definitivamente aquele sorriso transparecia amor. Pela vida, pelos amigos, pelo futebol no domingo. Por Maria Lúcia, namoradinha de colégio e de faculdade. Amor pelo futuro. Era exatamente isso, conseguia enxergar naquele sorriso as suas fantásticas projeções para o futuro. Sempre havia pensado onde é que ele arrumava tanta criatividade para sonhar.

Dizia que no futuro não haveria meninos dormindo embaixo das marquises, nem vendendo chicletes nos sinais. Dizia que a gente ia poder descobrir que estava doente antes dos sintomas tomarem conta do corpo, através de exames moderníssimos, e que não seria apenas para os endinheirados, todos teriam acesso a essa tecnologia, porque assim seria com os trabalhadores na dianteira desse país. O sonho era tão bonito quanto aquele sorriso.

Chegara a sua vez. Guardou a foto na bolsa e caminhou em passos firmes. No caminho as lembranças iam surgindo como num filme. Os tempos de escola, a primeira namorada e o primeiro arranca-rabo com o pai por chegar a casa após a meia noite. Depois veio a faculdade, queria ser advogado, dizia que o problema eram os homens da lei, se o povo mudasse as leis e houvesse homens da lei a favor do povo, tudo se concertava, era questão de tempo. Sonhava bonito aquele sorriso. Um dia chegou alvoroçado.

— Mãe, eles rasgaram as leis – gritou do portão da rua abanando um jornal amassado.

— Eles quem menino? Deixa isso quieto, vamos almoçar! – Disse eu na minha ordem de prioridades. Primeiro todo mundo bem alimentado, depois a gente junta os pedaços dessa lei rasgada e dá um jeito de emendar.

Depois disso houve muita confusão. Nunca vi tanta cavalaria nas ruas, noite e dia. E onde houvesse passeata e protestos, lá estava a cavalaria e lá estava metido também aquele sorriso inconfundível e aqueles lindos sonhos. E o pai não brigava mais, porque todo dia chegava depois da meia noite em casa, sempre muito silencioso, no começo pensava que era para não acordar o pai, depois descobrimos que estava a se esconder dos mesmos homens que tinham rasgado as leis.

Até que um dia não apareceu mais. Os amigos não sabiam do paradeiro. Só tive notícias suas, meses depois. Maria Lúcia que trouxe. Disse que estava bem, que estava escondido porque os homens que rasgaram as leis queriam pegá-lo, e estavam vigiando a casa agora mesmo, e que mesmo Maria Lúcia corria risco sendo vista ali. Disse que me amava muitíssimo, que morria de saudades e pediu que continuasse a vida, porque logo chegava o futuro e levava todos esses rasgadores de leis e de sonhos para bem longe. E eu podia imaginar aquele sorriso em meio a todas essas palavras.

E alguns anos depois Maria Lúcia apareceu de novo. Não trazia boas notícias. Disse que houve choques elétricos, pau-de-arara, pauladas e pontapés. Disse que procuravam informações, nomes, endereços, queriam saber o que fazia e onde se escondiam aqueles sonhos todos. E por conta disso, não havia mais aquele sorriso que tanto amava, as sevícias tinham arrancado os dentes e a alegria. Mas o certo é que não houve informações. Não puderam encontrar os nomes que queriam, os endereços, não sabiam onde é que escondiam-se os sonhos. Também sabia ser duro aquele belo sorriso. Maria Lúcia chorava muito. Disse que jogaram o corpo no fundo do mar. Disse que isso não era coisa que se fizesse, que era covardia.

Enfim havia chegado o momento de depor na tal comissão da verdade. Era preciso contar tudo. Depor contra aqueles que mataram homens, sequestraram e torturaram sonhos, destruíram sorrisos. Sim, eram os mesmos rasgadores de leis. Nenhum detalhe ficou de fora, podia-se pegar o ar com a mão naquela sala de reunião. Homens e mulheres ouviam e anotavam. Era possível ver a indignação crescendo nos olhos daqueles homens e mulheres. O chefe da comissão pediu desculpas, em nome do Estado pelos bárbaros crimes cometidos, um jovem disse alto que era preciso punir os responsáveis pelas atrocidades, pois as leis, outrora rasgadas, estavam vigentes novamente e era preciso fazer valer nossos direitos. Houve um silencio constrangedor. Quem seria capaz de discordar? Esse mesmo jovem falou que naquele exato momento outros jovens estavam organizando manifestações e protestos em todo o país, exigindo a punição de torturadores e carrascos. E quem poderia ser contra a juventude, tão cheia de sorrisos?

Voltando para casa em um táxi, repassava mentalmente tudo o que tinha me ocorrido naquele dia. Essa memória misturava-se com o quarto arrumado igual como ele deixara, durante anos a fio, décadas. Retirei a foto da bolsa, queria olhar uma vez mais aquele sorriso bonito carregado de esperança nesse tal futuro que ele tanto falava. E apesar do amarelo e da data impressa no canto da foto, percebi que sorrisos não envelhecem. Sonhos também não.

A Manoel Lisboa de Moura (In Memorian)
José Lucas

PCR 46 Anos – Ato pela Punição dos Torturadores

No dia 8 de setembro, 300 pessoas participaram de um importante ato Pela Punição dos Torturadores e Assassinos da Ditadura Militar e em homenagem aos militantes do Partido Comunista Revolucionário assassinados pela Ditadura Militar. O mês de setembro foi escolhido por ser o mês do assassinato de dois dos mais importantes fundadores do PCR, Manoel Lisboa de Moura e Emmanuel Bezerra dos Santos, mortos pela ditadura em 4 de setembro de 1973.

Elmano apoia Serley Leal (13700) em Fortaleza

Elmano 13 apoia Serley Leal – 13700 – para vereador em Fortaleza.