Nas duas últimas décadas ocorreu um aumento muito grande do número de casos de depressão na adolescência e na infância. Algumas pesquisas também mostram que cerca de 20% dos estudantes do ensino médio sentem-se profundamente infelizes ou têm algum tipo de problema.
A depressão é certamente o diagnóstico psiquiátrico mais observado em adolescentes que tentam o suicídio. Desesperança, falta de oportunidades, transtornos de humor e principalmente o meio social de que o jovem faz parte podem ser considerados os principais agentes causadores desse distúrbio.
A taxa de doentes depressivos que cometem suicídio chega a ser de 15%, somente na adolescência. O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking da prevalência da depressão em países subdesenvolvimento: são 18,4% de doentes em uma faixa de idade que vai até 24 anos.
Afinal de contas, qual é a principal causa do sofrimento mental? Como explica o médico de psiquiatria no setor de saúde mental do hospital universitário Walter Cantídio, da Universidade Federal do Ceará, “A origem do sofrimento reside no próprio sistema; onde deveria haver amor é dada violência, onde deveria ser distribuída a riqueza produzida pela sociedade para a felicidade de todos, o que é dado é miséria e fome”
Por exemplo, crianças que abandonaram a escola até os sete anos para cuidar da casa, ajudar os pais por falta de estrutura familiar (ou até mesmo para arrumar um trabalho, ilegalmente, e que na maioria das vezes são mais exploradas que uma pessoa adulta), perdem toda a esperança de vida, fazendo assim com que 23 mil delas estejam hoje vivendo nas ruas, desmotivadas a viver por não verem mais um caminho que as possa tirar da situação de miséria.
Outro caso muito comumente analisado de jovens que ficam depressivos e depois cometem suicídio é o fato de a maioria deles morarem em setores marginais da zona urbana. De acordo com o Ministério da Saúde, 22% da população brasileira é formada de jovens de baixa renda que moram em área de risco das cidades, o que dificulta ainda mais o contato com a escola, diversão e arte, trabalho e saúde. Anualmente milhares de estudantes que concluem o ensino médio tentam o vestibular para ingressar em uma universidade pública, mas, com um pouco mais de 270 mil vagas, sendo metade delas ocupadas por alunos de escolas privadas, a maioria acaba perdendo a oportunidade e a esperança de formar-se; um total equivalente a 4,5 milhões de jovens fora das universidades.
Recente pesquisa realizada em Nova Iorque, EUA, mostrou que o fato de ir para a cama mais cedo protege os adolescentes contra a depressão e pensamentos suicidas. Dos 15.500 adolescentes com idade entre 12 e 18 anos estudados, aqueles que costumavam ir para a cama depois da meia-noite mostraram chances de ter depressão 24% maiores que os adolescentes que iam dormir por volta das 22 horas. Os adolescentes que dormiam menos de cinco horas por noite tinham um risco de depressão 71% maior do que aqueles que dormiam oito horas.
Em nosso país também temos jovens que passam a noite sem dormir ou dormem apenas cinco horas por noite, e o motivo da insônia é que, dos usuários da internet à noite, 79% deles estão presos à alienação da mídia burguesa, o Facebook. Os usuários fanáticos ou desequilibrados do Facebook acreditam que, por ser uma rede social em que eles possam expressar-se livremente ou fazer autoexposição, ela os ajuda a ficar felizes ou até mesmo fugir dos seus problemas pessoais. O que não sabem, porém, é que as prováveis consequências são de reações negativas, podendo aumentar o risco da depressão.
No dia 9 de setembro comemora-se o Dia Internacional da Luta contra o Suicídio, e não podemos deixar de nos manifestar e dizer que a vida e seus benefícios são um direito de todos, que só haverá jovens e adultos satisfeitos com ela quando viverem numa sociedade em que a vida humana prevaleça mais do que o dinheiro, em que pessoas de qualquer idade terão acesso à cultura, com uma educação suficiente para lhes dar suporte psicológico, com direito para todos, uma sociedade socialista.
Luane Mota,
diretora da Fenet e militante da UJR – Fortaleza
O filme Batman: o cavaleiro das trevas ressurge (Christopher Nolan, 2012) confirma duas verdades da sétima arte. A primeira é que as superproduções hollywoodianas são armas de propaganda ideológica do sistema e a segunda é que os “investidores” preocupados com essa luta ideológica não jogam leve: foram gastos US$ 250 milhões nesse filme. Não por acaso, a trilogia (que pretende ser definitiva) Batman aparece ao púbico mundial em meio a uma das maiores crises econômicas da história do capitalismo e, consequentemente, em meio a diversas revoltas e rebeliões populares ao redor do mundo. Rebeliões que contam com um protagonismo da juventude, exatamente o público ao qual se destina, principalmente, a trilogia.
Em recente entrevista, o diretor Christopher Nolan dá a dica: “Não acho que exista uma perspectiva de esquerda ou de direita no filme. Ele faz apenas uma avaliação honesta, uma exploração honesta do mundo em que vivemos – de coisas que nos preocupam”. O ambiente do filme é uma Gotham pacificada, onde os policiais quase não tem trabalho a fazer. A proeza se deve ao Ato Dent (surpreendentemente parecido com o Ato Patriótico de Bush), lei que permite à polícia prender sem mandado, punir sem provas contundentes, extingue o habeas corpus e institui a incomunicabilidade do preso pelo tempo “necessário”. Essa lei colocou na cadeia todos os criminosos de Gotham, à exceção de alguns ladrões de galinhas. Nesse contexto, Bruce Wayne descansa tranquilo em sua mansão, pois não precisa ser mais o Batman.
Porém uma conspiração acontece em meio a essa calmaria. Um vilão de nome Bane recruta centenas de degredados sociais para algum desígnio obscuro. E não são homens comuns os que ele recruta, pois mesmo ao serem torturados (ou interrogados, segundo linguagem do filme e da vida real da polícia) não falam nada, não entregam o esconderijo e sequer confirmam qualquer acusação. Simplesmente ficam calados. Qualquer semelhança dos “bandidos do mal” em questão com militantes políticos não parece mera coincidência. E quando se percebe a gravidade do caso, temos o ressurgimento do Batman para, mais uma vez, salvar Gotham. Mas não é assim tão fácil.
Bane é, na verdade, herdeiro de Ra’s Al Ghul e líder da Liga das Sombras, organização “terrorista” secreta, que pretende acabar com a hipocrisia e corrupção existentes no mundo, com métodos nada ortodoxos, tais como dizimar toda a população de uma cidade. Num determinado momento, depois de plantar explosivos por toda a cidade e dinamitar todas as pontes que ligam Gotham ao continente, Bane convoca o povo a assumir o poder, ou seja, lidera uma insurreição popular na qual o grupo de vanguarda são os prisioneiros do Ato Dent (claro que todos bandidos perigosíssimos). Aqui, é necessário entender a caracterização que Nolan dá ao vilão em questão.
No segundo filme da série (Batman, o cavaleiro das trevas), o vilão era o Coringa. Personagem de uma crueldade insana desde sua aparição em 1940, ele é a própria antítese do Batman, um vilão sem nenhum escrúpulo. É humanizado, porém, em suas características psicológicas (além de uma impressionante interpretação de Heath Ledger) nesta série, enquanto Bane é o vilão sem qualquer vestígio de humanidade ou compaixão, que não pensa duas vezes em assassinar friamente qualquer de seus colaboradores ou inimigos. Os dois representam, no fim das contas, uma crítica frontal e profunda ao sistema corrupto e hipócrita de Gotham City, ou seja, o capitalismo. Cada qual com sua característica, o Coringa é a revolta sem objetivos definidos, a anarquia em sua mais pura essência. A crítica à moral hipócrita burguesa é central nesse personagem desde sempre. Sua ação é sempre impulsiva, nunca arquitetada, a não ser para gerar o caos e a confusão; ao contrário de Bane, que representa a ameaça à própria existência do Estado burguês. Sua ação não é individual, ele não quer a glória para si. Ele é a própria representação da vanguarda organizada dos oprimidos e espoliados, é exatamente Bane que lidera a revolução popular que acontece na trama e institui a ditadura dos pobres e oprimidos. Ele representa o fim das instituições democráticas burguesas, é o poder do povo de Gotham. É sintomático o tratamento diferenciado para os dois personagens. É natural que Hollywood e seus financiadores prefiram e achem mais humano o primeiro ao segundo.
O fato é que Bane lidera uma insurreição popular que expropria os ricos e distribui a riqueza entre a população de Gotham. Mais: institui um tribunal revolucionário para julgar a burguesia. Prende a polícia de Gotham nos esgotos da cidade e institui uma brigada popular que patrulha as ruas. Qualquer semelhança, novamente, não deve ser mera coincidência. Mas há resistência, e ela vem de Jim Gordon, o chefe policial e reserva moral de Gotham City. Ele começa a recrutar os policiais que não estão presos no esgoto para libertar seus homens e começar a luta contra a tirania de Bane.
No final, Batman forja a própria morte salvando Gotham de uma catastrófica explosão atômica, sacrificando a própria vida pela da cidade. Na verdade ele escapa e se esconde para viver em paz, sob a justificativa de que não precisamos de heróis. Pois sempre existirá mal e sempre existirá bem, e o ideal é o equilíbrio, ou seja, não vale a pena lutar. As últimas palavras de Bruce Wayne (supostamente morto na rebelião popular por ser um dos ricaços) são lidas por um emocionado Jim Gordon e são as últimas palavras do Conto de duas cidades, de Charles Dickens: “Essa é a melhor coisa que faço e que jamais fiz, este é sem dúvida o melhor descanso que terei e que jamais tive”. Exatamente porque os extremos sempre carregam em si alternativas antidemocráticas e totalitárias aos defeitos e erros da democracia instituída.
A última frase do segundo filme da trilogia (Batman, o cavaleiro das trevas) pode resumir todos os três filmes: “A verdade às vezes não é o suficiente. Por vezes as pessoas precisam mais que a verdade, precisam ver sua fé recompensada”. Ou seja, o povo precisa ser protegido de si mesmo, porque sem as instituições democráticas (polícia, bancos, Estado etc.) em que ele tem fé, e as quais escondem a verdade, a tendência é que esse mesmo povo siga líderes cruéis e sanguinariamente igualitaristas e totalitários. Toda essa lição de moral nos é dada por um milionário que faz fortuna com fabricação de armas e especulação financeira.
A empresa Têxtil Bezerra de Menezes (TBM), uma das maiores do Ceará, prometeu aos trabalhadores a participação nos lucros, no programa Querer, no valor equivalente a um salário, para os operadores das fábricas que atingissem as metas de qualidade.
Até o fim do ano passado, porém, apenas uma parcela havia sido paga, e, ainda assim, somente duas unidades da empresa a pagaram. Os trabalhadores, depois de muito esforço para conseguir bater as metas, aguardam a quitação da segunda.
Achando pouco a falta de respeito com os operários, a TBM fez grande alarde, distribuindo camisas e calendários para lançar no mês de julho deste ano a segunda fase do programa, o 100% Querer, prometendo, desta vez, o pagamento do 14º e 15º salários.
Contudo, vários trabalhadores, cansados da enrolação da TBM, deixaram a empresa, que, por sua vez, alega estar passando por dificuldades financeiras. Entretanto, vale ressaltar que a indústria têxtil é a que mais cresceu no Ceará, recebendo gordos subsídios do Governo do Estado, mas continua pagando mal aos operadores, submetendo-os às altas temperaturas no ambiente de trabalho.
No início deste ano, o Sindicato dos Têxteis acionou a Superintendência Regional do Trabalho para participar das mediações com a direção da empresa; um técnico foi designado para inspecionar a temperatura (o que não aconteceu ainda). Para completar, o sistema de climatização existente foi desligado e vários companheiros têm passado mal no trabalho. Tudo isso para garantir os lucros e as mordomias dos patrões, que moram em luxuosas mansões e andam em carros importados com ar condicionado.
Durante 24 dias, trabalhadores dos canteiros de obras da Refinaria Abreu e Lima e do Complexo Químico-Têxtil de Suape, na cidade pernambucana de Ipojuca (a 50 km do Recife), demonstraram que a classe operária responde com energia à exploração e à arbitrariedade de que é vítima. Fizeram mais uma greve contra o acordo coletivo fechado entre os patrões e o sindicato de trabalhadores (Sintepav-PE) sem que a categoria, composta por cerca de 51 mil funcionários, tivesse aprovado.
Ocorre que, no último dia 27 de julho, o Sintepav-PE iniciou uma assembleia para acreditando que a proposta a ser apresentada aos empregados seria aceita, mas, ao ver que a categoria contestava seus argumentos, resolveu pôr fim à reunião, deixando para deliberar num outro momento. Após a maioria esmagadora ter deixado o local, a direção do Sintepav-PE retomou a discussão para aprovar a proposta da empresa, de 10,5% de aumento, com apenas 300 empregados presentes.
Diante da manobra dos patrões, com a anuência do sindicato da categoria, aos trabalhadores restou se lançar com força total numa intensa mobilização para anular o acordo fraudulento. Sem o apoio da entidade que deveria lhe representar, os grupos que encabeçavam o movimento reivindicatório procuravam adesão para a greve explicando a força que teria o movimento caso todos aderissem. Diante das dificuldades enfrentadas, alguns recorreram mesmo à quebradeira e até ao incêndio de ônibus.
Além de reivindicar um aumento salarial de 30%, os operários pediam ainda melhorias no alojamento, folgas de campo, benefícios de produtividade e aumento no valor do vale-refeição. Nem mesmo uma decisão judicial, do dia 8 de agosto, determinando a volta ao trabalho, foi suficiente para convencer os grevistas a suspender a greve nos dias que se seguiram.
A pedido do Sintepav-PE e do sindicato patronal, em reunião no Tribunal Regional do Trabalho (TRT-PE), no dia 9 de agosto, o Batalhão de Choque entrou em ação: balas de borracha, agressões, policiais atirando para cima e prisões. Raimundo Amorim Filho, de 50 anos, e Johemert Moura, de 24 anos, acusados de lesão corporal, dano ao patrimônio público e suspensão de trabalho coletivo, foram encaminhados ao Centro de Triagem (Cotel), na cidade de Abreu e Lima, na Região Metropolitana do Recife.
Somente a partir de 20 de agosto é que a categoria, pouco a pouco, começou a retornar ao trabalho. A resposta dos cerca de 22 consórcios que atuam no grande canteiro de obras de Suape veio sob a forma de demissões. Cerca de 200 funcionários foram dispensados por justa causa. Não havia dúvida de que os capitalistas iriam impor pesadas penas aos operários revoltosos, mas os trabalhadores preferiram encarar os riscos a se submeter àquela arbitrariedade.
A jornada de lutas de agosto de 2012 dos operários de Suape demonstra que, apesar da traição de setores do sindicalismo brasileiro, o movimento se encaminha para o novo, para o enfrentamento, e não para a conciliação de classes.
A greve dos servidores técnico-administrativos das universidades federais, que compõem a base da Federação de Sindicatos de Trabalhadores em Educação das Universidades Brasileiras (Fasubra), terminou no dia 27 de agosto, após quase 80 dias de paralisação. A categoria foi a primeira a firmar termo de compromisso com o Governo Dilma, o que representou uma grande vitória política.
Os técnico-administrativos conquistaram um reajuste acumulado de 15,8%, dividido em três parcelas para os meses de março de 2013, 2014 e 2015. Além do reajuste, os servidores conquistaram importantes melhorias no Plano de Carreira, que não tinha sofrido modificações significativas desde 2005, quando foi criado.
O principal avanço é o que fixa percentuais de Incentivo de Qualificação, uma espécie de gratificação que os servidores recebem sobre o vencimento básico por atingir um nível de escolaridade superior ao exigido para o ingresso no seu cargo. A partir de janeiro de 2013, todos os servidores, independente da escolaridade mínima exigida, terão o direito de avançar na carreira até obter o percentual máximo do incentivo de qualificação (75%), que é oferecido para aqueles que conseguem concluir o doutorado. Além disso, as qualificações mais baixas (ensino fundamental, médio, técnico e graduação) foram valorizadas.
Temos a certeza de que isto ainda é muito pouco, diante das nossas reais necessidades. No entanto, conseguir unificar a categoria e quebrar a intransigência do Governo foram as principais conquistas do movimento.
Estas conquistam se revestem de grande valor político pela conjuntura em que elas foram obtidas. A categoria enfrentou no ano passado uma greve duríssima de 90 dias, que foi marcada pela divisão do Comando Nacional de Greve em dois campos opostos. Enquanto isso, o Governo Federal fez pouco caso da greve e chegou a pedir na Justiça sua ilegalidade. Como resultado, a categoria não conseguiu nenhum reajuste, amargando o segundo ano consecutivo de congelamento da tabela salarial.
Neste ano, a realidade foi bem diferente. Além da unidade dentro da categoria, a Fasubra contou com o quadro de uma verdadeira greve geral dos servidores federais. Entraram em greve professores universitários, servidores dos Institutos Federais de Educação, as 18 categorias que compõem a base da Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal (Condsef), os servidores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Polícia Federal, da Justiça Eleitoral, etc.
Esta conjuntura obrigou o Governo Dilma a ceder. A experiência da greve 2012 demonstrou o acerto da posição que o Movimento Luta de Classes (MLC) já defendia desde o ano passado: a necessidade da greve geral dos servidores federais para derrotar a política de arrocho salarial. Mas mostrou também que é necessário aprofundar esta unidade. Se as categorias negociassem de forma conjunta com o Governo, seria possível arrancar um reajuste muito maior.
Clodoaldo de Oliveira,
da Coordenação Nacional do MLC
A rede de lanchonetes McDonald’s terá que responder na Justiça por exploração de seus funcionários. A empresa sofreu uma Ação Civil Pública (ACP), em 14 de agosto, na Justiça do Trabalho de Pernambuco, impetrada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT). A responsabilizada pelo tratamento ilegal de seus funcionários é a Arcos Dourados Ltda., maior franqueadora da McDonald’s da América Latina, responsável por 12 das 14 lojas existentes em Pernambuco.
Entre as irregularidades trabalhistas encontradas nas lojas está o não pagamento de salário mínimo, a criação da “jornada móvel variável”, a não concessão de pausas na jornada e de folgas, a proibição de que os funcionários se ausentem da empresa durante o intervalo intrajornada, e, até mesmo, a proibição de se comer outro alimento que não o fabricado pela rede no ambiente de trabalho.
De acordo com o procurador envolvido no caso, a jornada de trabalho é determinada pela própria empresa, segundo suas necessidades, de modo que hoje ela pode começar às 7h, amanhã às 12h, depois às 10h, o que impede o trabalhador de ter outras atividades rotineiras previamente planejadas. Além disso, há uma total indefinição de qual será o horário de intervalo intrajornada de cada trabalhador. “Tem dia em que você entra no intervalo cinco minutos depois de ter a sua jornada de trabalho iniciada, ou seja, o intervalo perde totalmente sua função de recuperação da energia já despendida no trabalho. Também foram verificados episódios em que o empregado trabalha mais de seis, sete horas sem descanso, por causa do movimento no balcão de vendas”, simplifica o procurador. Isso faz com que o empregado esteja, efetivamente, muito mais tempo à disposição da empresa do que nas oito horas de trabalho diárias previstas nos contratos de trabalho.
Com o slogan “Amo muito tudo isso”, a maior empresa de fast-food do mundo gasta milhões com propaganda dizendo que ajuda entidades filantrópicas, mas, na verdade, ela ama muito é explorar seus trabalhadores, que, na grande maioria, são jovens e até menores. Os funcionários da Arcos Dourados no Brasil têm o seguinte perfil, segundo dados da própria empresa: 89% abaixo dos 25 anos; 98% com nível de escolaridade igual ou inferior ao 2º grau completo; alto índice de movimentação (admissão e demissão) do pessoal.
Segundo o MPT, a McDonald’s não possuía uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa) nem emissão regular de Comunicação de Acidentes de Trabalho (CAT). Ainda de acordo com o MPT, em diversas de suas franquias, a McDonald’s mantinha os funcionários em jornadas de horas-extras excessivas – ultrapassando o limite legal de duas horas diárias –, em alguns casos sem direito ao descanso semanal. A rede também é acusada de dificultar a sindicalização dos trabalhadores.
No primeiro trimestre, a McDonald’s anunciou alta de 5% no lucro, chegando a US$ 1,3 bilhão conforme as expectativas dos analistas. Essa é a lógica do sistema capitalista e de suas empresas. Quando coloca a juventude no mercado de trabalho, não é para emancipá-la, mas sim para extrair os maiores lucros. O que ela proporciona é a exploração, alimentação de baixa qualidade e mundo de ilusões.
Novos documentos divulgados recentemente pelo sítio de internet WikiLeaks revelam que dois renomados jornalistas da grande mídia brasileira, Diogo Mainardi, da revista Veja, e Merval Pereira, do jornal O Globo, serviram de informantes para o cônsul dos Estados Unidos no Rio de Janeiro durante as eleições de 2010, ajudando o governo norte-americano a formular sua estratégia de intervenção no processo eleitoral daquele ano. Além do “bico” de consultor político do consulado estadunidense, as informações vazadas pelo WikiLeaks também evidenciam as relações íntimas entre os dois jornalistas e o PSDB.
De acordo com os documentos, Diogo Mainardi, conhecido por seu reacionarismo e ódio aos pobres, reuniu-se “em almoço privado no dia 12 de janeiro” com o cônsul dos EUA no Rio de Janeiro, quando falando sobre as articulações para a formação da chapa de oposição à Presidência da República, afirmou que sua “recente coluna, na qual propõe o nome de Marina Silva como vice-presidente na chapa de Serra, foi baseada em conversa entre Serra e Mainardi, na qual Serra dissera que Marina Silva seria a ‘companheira de chapa de seus sonhos’ (…). Naquela conversa com Mainardi, Serra expôs as mesmas vantagens que, depois, Mainardi listou em sua coluna: a história de vida de Marina e as impecáveis credenciais de militante da esquerda, que contrabalançariam a atração pessoal que Lula exerce sobre os pobres no Brasil, e poriam Dilma Rousseff (PT) em desvantagem na esquerda, ao mesmo tempo em que ajudariam Serra a superar o peso da associação com o governo de Fernando Henrique Cardoso que Dilma espera usar como ponta de lança de ataque em sua campanha”.
Também de acordo com o documento, intitulado “Telegrama 10RIODEJANEIRO32”, o colunista do jornal O Globo Merval Pereira esteve com o cônsul no dia 21 de janeiro de 2010 para falar da conversa que tivera na véspera com Aécio Neves, então governador de Minas Gerais, que afirmou estar “firmemente comprometido” a ajudar Serra, inclusive integrando sua chapa.
Se ainda havia alguma dúvida da relação estreita entre os grandes meios de comunicação burgueses do Brasil e o governo dos Estados Unidos, as informações divulgadas pelo WikiLeaks estão aí para comprovar.
O argentino Carlos Pronzato viajou por vários países sem filmar nem documentar nada. No México, realizou estudos de cinema, formou-se em direção teatral e iniciou o trabalho como cineasta, fazendo vídeos institucionais e documentários políticos engajados, quase todos abordando manifestações populares, sindicais e estudantis, mas também se dedicou aos filmes de recuperação histórica, como o do Che na Bolívia. Em 1989 chegou a Salvador, onde se estabeleceu e mora até hoje.
Com poucos recursos e uma câmera na mão, Pronzato conseguiu realizar vários filmes: Carabina M2, uma arma americana – o Che na Bolívia; O Panelaço – a rebelião argentina (2001); Bolívia, a guerra do gás (2003); A Revolta do Buzu (2003); A rebelião dos pinguins – estudantes chilenos contra o sistema (2007); Buscando a Allende (2008); e Madres de Plaza de Mayo – memória, verdade, justiça (2009) – entre tantos outros. Conhecido como cineasta comprometido com a transformação social e política, Pronzato ganhou vários prêmios e, aqui, fala a A Verdade sobre o papel do cinema como transformador social.
A Verdade – Como foi seu primeiro contato com cinema?
Carlos Pronzato – Cresci numa casa onde se respirava arte, já que os meus pais eram artistas. Meu pai, músico, compositor, roteirista de cinema e tevê e dramaturgo; minha mãe, artista plástica e fotógrafa. Assim, acompanhando o trabalho profissional deles, comecei a frequentar esse ambiente. Mas foi também, adolescente, assistindo a importantes programações em espaços culturais de Buenos Aires, que tive oportunidade de conhecer o cinema mundial. Posteriormente, iniciei-me na profissão trabalhando em diversas funções na indústria cinematográfica argentina. E continuei no México, até começar a viajar pelo continente, no início da década de 1980, partindo justamente do país de Emiliano Zapata… e por terra!
Quando surgiu a ideia de fazer documentários que retratam a história dos povos oprimidos?
Penso que foi durante e depois dessa longa viagem “sem motocicleta” que desembocou na Bahia, que começou de maneira ainda embrionária o meu interesse pelo registro dessas culturas e suas lutas. Percorri lugares e trabalhei em diversos ofícios na América Central, no auge dos enfrentamentos das guerrilhas contra os governos manipulados pelos EUA, também na Colômbia, no Peru, no Chile do ditador Pinochet etc. Foi justamente no Peru que comecei a escrever um roteiro, que nunca terminei, sobre uma jornalista (ex-namorada) imersa naquele conflito. Naquele tempo pensava primordialmente na ficção, mas, no final, na hora de dar forma e aprofundar os conteúdos daquela viagem, prevaleceu meu interesse pela documentação, pelo registro oral e pela história, e tudo desaguou no cinema documentário. Talvez a construção dessa minha obra que circula e se multiplica por aí em diversos países, e que me dá a sensação do dever cumprido, tenha se iniciado de fato no âmbito familiar e nesse percurso posterior pela nossa pátria grande. Mas é na Bahia que inicio mesmo minha atividade de documentarista nos conflitos locais, para depois começar a refazer a ideia latino-americana. E não podia deixar de citar também meu interesse pela antropologia visual e pelos filmes de Jean Rouch e o seu denominado cinema verdade.
Que o motivou a escolher Carlos Marighelha como tema de um documentário?
Além de me identificar com a sua proposta de ação constante, a ação faz a vanguarda, o “alerta”, quis abordar essa figura ímpar da recente história brasileira e latino-americana quando do seu centenário em 2011. Mas, principalmente, eu acabara de finalizar, em 2007, um documentário sobre Che Guevara (Carabina M2, uma arma americana – Che na Bolívia) e, como todo aquele que se debruça sobre a vida deste personagem continua pesquisando por toda a vida, chegou 2010 e decidi dar continuidade àquele período da nossa história recente, já que o Che foi assassinado em 1967, mesmo ano da irrupção do Marighella com a ALN [Ação Libertadora Nacional]. Então, é o período do baiano na luta armada que foco no documentário Carlos Marighella, quem samba fica, quem não samba vai embora, e é preciso assinalar o pouco conhecimento que percebi, na população em geral, sobre sua atuação na política nacional. Espero ter contribuído com esse trabalho, como tantos outros que o vêm pesquisando, para a difusão da sua figura de revolucionário que resistiu à ditadura civil-militar de uma época que ainda esconde os crimes de Estado.
Durante o período de produção, quais foram as lições aprendidas com a obra de Marighella?
No convívio de quase dois anos com o tema, tive oportunidade de conhecer uma época crucial da História deste país, estreitando relações com seus protagonistas, que me esclareceram certas dúvidas sobre a constituição das guerrilhas, suas organizações e seus procedimentos de luta. As lições, como diz a pergunta, estão sempre em processo, não se impõem simplesmente, e com certeza muito do estudado nesse período foi confrontado com outros de meus trabalhos recentes e depoimentos históricos que constam desses trabalhos, o que constitui um rico material de reflexão para compreender melhor a América Latina. Acho que é para isso que nós cineastas militantes fazemos esses filmes, como ferramentas de ampla difusão da luta popular e do resguardo da memória, sem abandonar a importantíssima possibilidade de penetração no mundo acadêmico, pelo menos no meu caso, e ao que este trabalho em particular se propõe. Talvez a lição maior fique por conta da atualidade da sua proposta de atingir transformações estruturais na sociedade.
Quais filmes considera mais importantes?
Acho que todos tiveram sua importância na hora da realização (e da exibição, principalmente), alguns circulando mais, graças também à velha e boa pirataria, e outros menos. Alguns realizados no calor da hora e outros como recuperação da memória histórica, todos conformam um único e longo filme – sempre incompleto – , um fio contínuo de respostas dos atores sociais e políticos aos desmandos do projeto neoliberal, que agride o ser humano com a alarmante e genocida desigualdade da sua cartilha. Mas se tiver que escolher uns, e não apenas um, eu diria que são O Panelaço, a rebelião argentina (2001), Bolívia, a guerra do gás (2003), A Revolta do Buzu (03) e A Rebelião dos Pinguins, estudantes chilenos contra o sistema (2007) – que seriam os realizados no calor da hora ou imediatamente depois, no cheiro da fumaça. Dentre os históricos, citaria Buscando a Allende (2008), Madres de Plaza de Mayo, memória, verdade, justiça (2009), o do Che citado acima e o mais recente do Marighella. Difícil escolher o melhor dentre tantos filhos… Bem, e o fruto de tudo isto, além de me permitir retornar às estradas latino-americanas e saber de muitos que escolheram essa atividade depois de assistirem a alguns desses documentários, acho que é a continuidade e a dimensão que essa atividade tomou na minha vida, o que muitas vezes me impede de me dedicar à literatura e ao teatro, minhas outras atividades como artista e como militante.
Você sofre discriminação pelo fato de expressar sua opinião política em seus filmes?
Há de fato uma opção que temos que assumir quando empunhamos uma arma como o cinema combativo, que nos conduz a tomar posições políticas com os de baixo. Nas explosivas décadas de 60 e 70 do século passado, muitos cineastas tombaram por enfrentar ditaduras e governos reacionários com suas armas audiovisuais que quase eram armas de verdade. Hoje, o mundo é outro, vivemos na hipocrisia de uma democracia corrupta, num reformismo aliciado e em conluio com o capital em que o cinema de intervenção política é um elemento a mais de discordância com o sistema, não é mais clandestino, e opera num mundo crivado de informação instantânea. Nossa periculosidade aos olhos do poder diminui bastante, houve talvez uma transferência de observação punitiva para o mundo dos wikileaks... Em resumo, com as novas possibilidades de comunicação alternativa, a discriminação para com nossas narrativas e por quem as capta, recorta e exibe, é bem sutil…
Uma mensagem para os leitores do jornal A Verdade?
Em primeiro lugar, agradecer o espaço e reafirmar a importância dos jornais alternativos, que operam fora do mercado tradicional, sejam veículos culturais, informativos gerais ou, como este, jornais políticos, portadores da opinião de militantes comprometidos com a ação popular contemporânea e a história social do nosso país e continente, o que nos faz caminhantes dos mesmos caminhos, cada um por seus atalhos e com seu instrumental específico, mas com um objetivo comum, que é o de contribuir com a transformação social.
Claudiane Lopes,
diretora da União Nacional dos Estudantes-UNE
Para adquirir os filmes de Carlos Pronzato, entrar em contato pelos telefones:
(71) 3345.1268/ (71) 8887.8471/ (71) 9214.4402
ou cpronza8@yahoo.com.br/ pronzato@bol.com.br.
Valor de cada obra audiovisual: R$ 30,00 (Brasil) mais taxas de correio.
Cinco anos após ter acatado a denúncia da Procuradoria Geral da República e de ter aberto o processo contra 38 pessoas, em sua maioria empresários, deputados, ex-ministros, donos e diretores de bancos acusados de crime de corrupção, peculato¹, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) iniciou o julgamento da Ação Penal 470, o chamado “mensalão’’.
Na defesa oral perante o Supremo, a maioria dos advogados dos réus defendeu que não houve compra de votos no Congresso Nacional, mas financiamento ilegal de campanha eleitoral de partidos políticos, o caixa 2.
O advogado do deputado federal Valdemar Costa Neto (PR-SP), Marcelo Luiz Ávila de Bessa sustentou que seu cliente, à época presidente do Partido Liberal (PL), recebeu R$ 10 milhões do PT mas referente não à compra de votos, e sim para a campanha eleitoral dos candidatos do PL e apoiar a chapa Lula-José Alencar em 2002. Marcelo Bessa relatou que houve um “acordo eleitoral para garantir a aliança entre o PT e o PL nas eleições presidenciais de 2002, o que desencadeou o acordo financeiro”. “Existia um temor com relação ao PT, que seria inimigo dos empresários, que entraria para estatizar a economia e se tornava necessário colocar um empresário que acalmasse e desse aparência à chapa, de que não se teria um governo ‘esquerdizante’. […] Houve ‘partilhamento’ do caixa de campanha. Fez-se uma proporção então: três quartos daquele caixa ficariam com o PT (R$ 30 milhões) e um quarto (R$ 10 milhões), com o PL. Não se faz campanha sem dinheiro. E isso não é errado”, finalizou o advogado.
Na acusação, o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, afirmou que Valdemar Costa Neto recebeu, nos anos de 2003 e 2004, a quantia de R$ 8,8 milhões para votar no Congresso Nacional a favor do governo federal.
Arnaldo Malheiros Filho, advogado de Delúbio Soares, declarou em defesa de seu cliente que “O procurador disse que nunca foi respondida uma pergunta: por que tudo isso era transmitido em cash, porque não se faziam transações bancárias? Na verdade, porque era ilícito. Delúbio é um homem que não se furta responder por aquilo que fez, só não quer ser condenado pelo que não fez. Que ele operou o caixa 2 de campanha, operou. Que é ilícito é, isso ele não nega”.
Mas qual a diferença entre comprar votos de deputados para votarem no Congresso Nacional ou comprar o apoio de partidos inteiros, e consequentemente de suas bancadas, por meio do financiamento da campanha eleitoral? Na essência, nenhuma.
Porém, o financiamento ilegal de campanha eleitoral, o caixa 2, embora proibido, não leva ninguém para a cadeia, pois os crimes eleitorais e de peculato prescrevem em dois anos. Ora, como um processo por corrupção demora pelo menos de três a cinco anos, alguns até dez anos, mesmo que o réu seja condenado ele não irá para a cadeia. Esta é uma das razões para não termos nenhum preso por corrupção entre os mais de 500 mil detentos existentes no Brasil, apesar dos constantes desvios de dinheiro, das licitações fraudadas, das obras inacabadas, de construtoras recebendo aditivos milionários, não termos nenhum preso por corrupção entre os mais de 500 mil detentos existentes no Brasil.
Mensalão tucano
Não é a primeira vez que um esquema de compra de votos no Congresso Nacional ou de partidos é denunciado no país.
Em 1997, os deputados Ronivon Santiago e João Maia, do PFL do Acre, confessaram em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, terem recebido cada um R$ 200 mil para votar a favor da emenda que estabelecia a reeleição para Presidente da República, favorecendo assim ao então presidente FHC. Os dois deputados disseram ainda que o intermediário do governo para a compra dos votos era o próprio presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Luiz Eduardo Magalhães, filho de Antônio Carlos Magalhães, mais conhecido como Toninho Malvadeza. A emenda da reeleição foi aprovada, FHC foi reeleito e continua recebendo até hoje salários de ex-presidente, e nenhum dos envolvidos foi sequer condenado.
Ainda aguarda julgamento no STF um esquema de corrupção operado em favor do PSDB pelo mesmo Marcos Valério e o Banco Rural quando da campanha pela reeleição do Governador Eduardo Azeredo em 1998, o “mensalão” do PSDB. Em 3 de dezembro de 2009, por cinco votos a três, o STF aceitou a denúncia contra o senador Eduardo Azeredo. Mas, passados quase três anos, o PSDB segue governando o Estado de Minas Gerais e Eduardo Azeredo, agora deputado federal, continua no Congresso Nacional votando leis, igual a Collor, Sarney, Renan Calheiros, entres outros.
A verdade é que tanto o caso da compra de votos para aprovar a emenda da reeleição de FHC quanto a compra do apoio de partidos por meio do financiamento ilegal, são evidências claras do peso do dinheiro e dos que o possui, a classe capitalista, nas eleições realizadas numa democracia burguesa. Daí a máxima de que “não se faz campanha eleitoral sem dinheiro” ou que “para ganhar uma eleição é preciso ter muito dinheiro”.
Um prova disso são os gastos que os quatro principais candidatos à prefeitura de São Paulo pretendem realizar nas eleições de 7 outubro: José Serra, do PSDB, declarou que vai gastar R$ 98 milhões. Fernando Haddad, do PT, fixou em R$ 90 milhões. Gabriel Chalita, do PMDB, gastará até R$ 70 milhões e Celso Russomanno, do PRB, prevê gastar R$ 30 milhões. Diga-se ainda que tais partidos são também os que dispõem de mais tempo na propaganda de rádio e de TV e também de exposição nos grandes meios de comunicação. Evidentemente, que com gastos milionários como esses, é difícil um candidato de um partido operário sem compromisso com a classe capitalista vencer uma eleição. Por isso, antes de se proclamar o resultado da eleição, os institutos de pesquisas fazem suas previsões de quais são os favoritos para ganhar as eleições, ou seja, os que têm mais dinheiro para gastar na campanha.
De fato, numa sociedade capitalista, o dinheiro está concentrado nas mãos dos donos dos bancos, das indústrias, das terras. Estes escolhem que partidos ou políticos financiar visando a ter o controle dos governos e dos parlamentos. Vitoriosos, esses partidos ou seus políticos tratam de retribuir as ricas doações recebidas com licitações, subsídios, favores, nomeação para cargos, negociatas, anistia de dívidas (Código Florestal), sonegação, favorecimento nos pagamentos a receber do governo, etc.
Em tal sistema, os partidos que não têm compromisso profundo com os trabalhadores, que não são verdadeiramente revolucionários ou deixaram de ser, terminam prisioneiros dos interesses dos donos do dinheiro e pouco a pouco vão mudando suas posições políticas, seus programas e traindo seus princípios. Alegam para a nova postura pragmática que os tempos são outros, embora o capitalismo continue promovendo a exploração do homem pelo homem, realizando guerras, espoliando as riquezas de dezenas de países, enfim, mais feroz e violento do que no século passado.
Financiamento público e privado das eleições
Como, então, garantir eleições verdadeiramente democráticas e limpas?
É claro que é preciso mudar o sistema eleitoral. Entretanto, o sistema eleitoral não existe por obra e graça do Espírito Santo. Ele é filho legitimo do próprio sistema econômico e político existente na sociedade, isto é, o capitalismo. Basta observar que em todas as democracias burguesas, bilhões são gastos nas eleições e a classe capitalista, dona do capital, termina controlando os governantes.
Os EUA, principal país capitalista do mundo e considerados como a democracia burguesa mais avançada do Planeta, é também onde mais se gasta dinheiro nas eleições: somente na eleição presidência deste ano, estima-se que serão gastos mais de US$ 1,5 bilhão.
Mitt Romney, candidato a presidente do Partido Republicano, tem entre seus principais financiadores os bancos Goldman Sachs, JP Morgan, Morgan Stanley Bank of America, Crediti Suisse Group e o conglomerado Koch Industries, que atua em petróleo, agropecuária, financeira, minérios, etc. Até agosto, a campanha já tinha arrecadado US$ 546 milhões (R$ 1,1 bilhão). Em troca desse apoio e com o pretexto de incentivar a economia, Romney defende eliminar os impostos para os mais ricos, cortar os programas sociais de assistência à saúde de idosos e crianças e ampla liberdade de ação para o capital financeiro.
Também Barack Obama, candidato à reeleição pelo Partido Democrata, segundo estudo do Center for Responsive Politics, arecada um terço do dinheiro de sua campanha no setor financeiro.
Diante desse quadro, alguns defendem que basta fazer uma reforma eleitoral e substituir o financiamento privado das eleições pelo financiamento público. Porém, mesmo nos países onde existe o financiamento público, o financiamento privado legal ou ilegal termina prevalecendo.
Vejamos o caso da França. Em 29 de fevereiro de 1993, o país aprovou a Lei para a prevenção da corrupção e da transparência, com o objetivo de controlar os partidos, candidatos e o uso de dinheiro nas eleições. Dentre as várias regras, a lei estabelece que as doações feitas aos candidatos são públicas, sendo proibidas doações de cassinos e de procedência estrangeira; que a prestação de contas é obrigatória, com a elaboração de balanços por parte de candidatos e partidos e discriminação das receitas recebidas por origem e despesas por natureza.
Contudo, como ficou provado, o ex-presidente Nicolás Sarkozy desrespeitou a lei, e recebeu recursos ilegalmente da dona da L’Oréal, Liliane Bettencourt, para sua campanha eleitoral. Segundo a investigação em andamento, Liliane Bettencourt recebia proteção do governo para sonegar somas milionárias de impostos e em troca dessas vantagens tributárias entregava envelopes com dinheiro a membros do partido e ao próprio Sarkozy em jantares em sua mansão. Entretanto, devido à imunidade que tinha como presidente, só após deixar o cargo Sarkozy está sendo investigado.
Antes dele, o ex-presidente Jacques Chirac foi condenado a dois anos de prisão por ter criado postos de trabalho fictícios na Prefeitura de Paris e usado o dinheiro para sua campanha presidencial, mas, por conta da idade avançada, não cumpriu a pena.
Na Inglaterra, em 2006, o governo de Tony Blair foi denunciado por vender cargos no parlamento e títulos de lordes em troca de um empréstimo de 20 milhões de euros do empresário Gulam Noon para a campanha eleitoral do Partido Trabalhista. Noon recebeu o título de lorde após o empréstimo, mas com o escândalo sua nobreza foi suspensa.
O poder econômico
Como vemos, tanto nos EUA, na França e na Inglaterra, países de democracia burguesa e que possuem financiamento público de campanha, a corrupção e a manipulação das eleições pela classe rica determinam o jogo eleitoral. Trata-se de algo natural para um sistema egoísta cujo princípio maior é de quem tem riqueza tem o poder de escolher os governantes que a protejam e a façam frutificar. Em outras palavras, no século XXI, a democracia burguesa continua sendo “uma democracia limitada, amputada, falsa e hipócrita, um paraíso para os ricos e um engano para os explorados e para os pobres” (Lênin, A Revolução Proletária e o Renegado Kaustky). Ainda mais, hoje, quando todo esse processo é amparado por uma poderosa máquina de propaganda dos meios de comunicação controlados por monopólios e pelos institutos de pesquisas, a serviço daqueles que têm dinheiro para contratá-los com o único objetivo de manipular a opinião popular.
Ademais, num país onde cerca de 56 milhões de pessoas moram em comunidades com infraestrutura precária, mais de 20% da população vivem em situação de indigência ou extrema pobreza, a saúde é privatizada, e a riqueza produzida pela sociedade está concentrada nas mãos de uma reduzida minoria, ao ponto de o Brasil ser o 4º país de maior desigualdade da América Latina, como revelou relatório da ONU divulgado em agosto, a população torna-se alvo fácil para políticos que distribuem não só dinheiro, mas também água, óculos, cestas-básicas ou trocam votos por empregos.
Desse modo, o financiamento público da campanha pode durante um curto período diminuir o perverso efeito do dinheiro e dos seus donos nas eleições, mas logo os capitalistas encontram formas e maneiras de driblar as leis e garantir a continuidade da manipulação do processo eleitoral. Às vezes, quando acontece de um candidato preferido não obter sucesso, graças ao poder econômico que detém, os capitalistas tratam de subornar e corromper os eleitos para que seus interesses continuem intocáveis e o poder em suas mãos.
Logo, o peso do dinheiro, ou seja, do poder dos donos das indústrias, dos bancos e do agronegócio nas eleições, só deixará de existir quando a riqueza não for mais propriedade de uma minoria e passar para o controle social, para as mãos dos trabalhadores e do povo.
Por isso, a luta deve ser para mudar por completo o sistema e não apenas fazer uma reforma eleitoral. Para, entretanto, alcançar esse objetivo é essencial, além de realizar uma grande campanha de denúncias do sofrimento do povo e defender de maneira firme os direitos dos trabalhadores e da juventude, convencer as massas das limitações do sistema eleitoral burguês e de sua falsa democracia. E a melhor forma, no momento, de realizar essa agitação é denunciar a corrupção e a manipulação das eleições pelas classes ricas e seus partidos com o objetivo de manter a pobreza e aprovar leis e benefícios para as elites. Mas além da denúncia, é preciso convocar os trabalhadores, a juventude e todos os pobres a votarem nos candidatos verdadeiramente revolucionários e que lutam e defendem uma revolução popular para construir uma nova sociedade, a sociedade socialista, onde não haja nem ricos nem pobres. Em outras palavras, a principal tarefa dos revolucionários nas eleições é desenvolver a consciência das massas e organizá-las revolucionariamente no Partido Comunista Revolucionário.
Lula Falcão,
membro do Comitê Central do PCR
¹ Peculato – Quando o funcionário aproveita o acesso que tem a dinheiro ou valores públicos e tira proveito dessa “acessibilidade” para roubar ou desviar esses recursos.
Um genocídio como o praticado pelos invasores portugueses e espanhóis contra os povos nativos da América Latina não pode jamais ser esquecido. Manter viva esta memória é o mérito maior do livro O Índio e seus Algozes, de Milton Ivan Heller, 1ª edição do Instituto Memória Editora, Curitiba, 2011.
Uma obra densa, embora de leitura fácil, rica de informações, algumas inéditas, consegue em poucas páginas uma síntese magistral da História dos povos indígenas de Nossa América, especialmente do Brasil.
Nela, não aparecem apenas os crimes hediondos dos enviados de satanás, representantes do capitalismo desalmado, que afirmava, com a bênção da Igreja Católica, que os índios não tinham alma e, por isso, podiam ser exterminados, escravizados, etc. Depois o papa mudou de posição, e os jesuítas vieram “salvar” as almas pagãs; na verdade, agiram como força auxiliar dos colonizadores, domesticando os nativos que conseguiram escapar dos massacres covardes dos ditos “cristãos” e “civilizados”.
No livro de Ivan Heller, temos o dia a dia, a cultura, a felicidade de um povo alegre, que só ficou triste após ser traído, ver suas mulheres estupradas, seus filhos assassinados impiedosamente por aqueles a quem recebeu de braços abertos.
Os cinco milhões que existiam no Brasil são hoje uns poucos milhares, e a violação continua. A ganância do enriquecimento capitalista não respeita a vida e busca expandir o agronegócio Amazônia a dentro, revirando suas entranhas para arrancar minérios.
Só um ponto a discordar, em relação à conclusão pessimista do autor: “…Esta é a realidade cruel da história dos índios no Brasil e nada indica que o seu futuro será melhor, se é que ele existe…”.
O Movimento Indígena tem se fortalecido e alcançado vitórias, a exemplo da retomada de terras que lhe pertencem, assegurando o cumprimento do direito à demarcação que foi inserido na Constituição Federal de 1988. O seu exemplo do Bem-Viver é cada vez mais referenciado pelos que abrem os olhos para a inviabilidade do capitalismo, cuja essência tem se comprovado destruidora da Natureza e da Vida.
Quem é o autor
Milton Ivan Heller é jornalista. Começou como repórter do Diário da Tarde, de Curitiba (PR), e passou por vários órgãos da imprensa brasileira, a exemplo da Última Hora, TV Globo (Minas Gerais), Jornal do Brasil, Editora Abril. Aprendeu “a obrigação de ser fiel aos fatos, de escrever de forma sucinta e direta, o direito de denunciar e criticar…”.
Aposentado em 2001, passou a escrever livros: Os Índios e seus Algozes, Conspiração Nazista nos Céus da América e o último (por enquanto), A Atualidade do Contestado. Leitor de A Verdade, Milton Ivan Heller escreveu para a redação convidando para o lançamento de sua última obra, que aconteceu em Curitiba no último dia 10 de agosto. Na carta, ele afirma que “…a existência deste jornal (A Verdade), é uma prova de que as nossas bandeiras não foram e não serão arriadas…” .
A Verdade agradece e deseja muitos anos de vida para que continue escrevendo a verdadeira história do povo brasileiro.
“Você já foi à Bahia, Nêga? Não? Então vá!”1. Visite o Pelourinho, o Elevador Lacerda, o Mercado Modelo e tantos pontos de beleza indescritível. Mas não deixe de ir à Ilha de Itaparica. Não se deslumbre apenas com a maravilhosa visão que a Natureza lhe proporciona, que encherá seus olhos e lhe reafirmarão o quanto vale a pena viver.
Você tremerá de emoção ao pisar no solo itaparicano e sentirá a vibração da energia deixada por uma brava heroína: mulher, negra, bela, uma trabalhadora marisqueira e capoeirista de primeira linha: Maria Felipa de Oliveira. O que fez esta mulher para merecer tanta admiração? Calma, companheiro (a), que logo saberá.
As lutas pela Independência na Bahia
Ao deixar o Brasil (1821), dom João VI, prevendo que não tardaria a emancipação da Colônia, dissera a seu filho, Pedro de Alcântara: “…Antes fique para ti o Brasil, que para um desses aventureiros”.
Dom Pedro I seguiu a recomendação e proclamou a Independência no dia 7 de setembro de 1822. Mas a aceitação da proclamação imperial não foi tão simples. Houve resistência dos portugueses aqui radicados, especialmente no Maranhão e na Bahia.
No território baiano, as lutas foram bastante acirradas, do litoral ao interior. Revelaram o destemor de guerreiras como Maria Quitéria (leia A Verdade, nº 98) e Joana Angélica, desde então homenageadas e festejadas nos livros de História.
Uma grande lutadora,entretanto, ficou esquecida por quase dois séculos, tanto nos festejos oficiais como na historiografia. Por quê? “…Era mulher, negra e pobre. Foi injustiçada”, responde a professora Eny Kleyde Vasconcelos de Farias, que pesquisou e escreveu um livro sobre a “heroína da resistência”, como a denomina.2
O povo de Itaparica jamais a esqueceu; seus feitos passaram de mãe para filho e filha, uma geração após outra. Maria Felipa de Oliveiranasceu escrava, não se identificou o ano, mas depois foi liberta e colocou a liberdade como o valor maior dessa vida. Por isso,trabalhou desde cedo coletando mariscos, aprendeu a luta da capoeira para brincar e se defender, e queria um Brasil livre da dominação portuguesa, responsável pela escravização do povo africano, dos seus avós, de sua mãe, do seu pai.
Festejou o Grito de Pedro I e, quando os portugueses pegaram em armas para que o Brasil continuasse sendo Colônia, engajou-se na luta pela Independência. De início, acompanhava a movimentação das caravelas portuguesas no período noturno, camuflada nos outeiros da Fazenda 27, em Gameleira (Itaparica). Logo, tomava uma jangada para Salvador e passava as informações para o Comando do Movimento de Libertação.
Felipa não estava satisfeita com a função de retaguarda. Resolveu partir para o combate. Sabia que uma frota de 42 embarcações se preparava para atacar os lutadores na Capital baiana. Pensou um plano e juntou 40 companheiras para executá-lo.
Saíram “vestidas para matar”. Seduziram a maioria dos soldados e seus comandantes e levaram-nos para um lugar ermo. Quando eles, animados, ficaram sem roupa, elas aplicaram-lhes uma surra de cansanção (planta que dá uma terrível sensação de ardor e queimadura na pele); enquanto isso, um grupo incendiava as embarcações.
Esta ação foi decisiva para uma tranquila vitória sobre os portugueses em Salvador, permitindo que as tropas vindas do Recôncavo entrassem triunfalmente, sob os aplausos do povo, no dia 2 de julho de 1823.
Maria Felipa continuou sua vida de marisqueira e capoeirista, admirada pelo povo de Itaparica. Faleceu no dia 4 de janeiro de 1873.
Um resgate merecido
O historiador Ubaldo Osório ouviu de sua mãe a história de Felipa e foi o primeiro a escrever sobre ela. Seu neto, o famoso escritor João Ubaldo, fala da heroína no seu livro O povo brasileiro, chamando-a de “Maria da Fé”. A professora Eny Kleyde, diretora do Centro de Estudos de Pós-graduação das Faculdades Integradas Olga Mettig, interessou-se pela história da heroína negra e escreveu a obra citada, apresentando também trabalhos acadêmicos sobre sua participação nas lutas pela Independência no I Congresso de Pesquisadores Negros da Bahia e no Seminário “A abolição inacabada”.
Com isso, os jornais baianos passaram a divulgar a história da Matriarca da Independência de Itaparica e ela ficou sendo homenageada no dia 2 de julho a partir do ano de 2007.
A luta continua
Que o (a) companheiro (a) não se emocione apenas com a história de Maria Felipa de Oliveira. Que a emoção o (a) leve ao engajamento na luta pela verdadeira independência do Brasil, que ainda não aconteceu. As classes dominantes não quiseram romper com o capital internacional de quem eram (e são) dependentes e associadas, econômica e politicamente.
Maria Felipa seguramente não está nos desfiles oficiais do 7 de Setembro e sim no Grito dos Excluídos, convencida de que “muitas surras de cansanção” e queima de navios ainda serão necessárias para se realizar a proclamação do Hino ao Dois de Julho3.
“…Nunca mais o despotismo
Regerá nossas ações
Com tiranos não combinam
Brasileiros corações
Cresce, oh! Filho de minh’alma
Para a Pátria defender
O Brasil já tem jurado
Independência ou morrer”.
(1) Extraído da canção de Dorival Caymmi Você já foi à Bahia?
(2) Maria Felipa de Oliveira – Heroína da Independência da Bahia. Quarteto Editora.
(3) Letra do alferes Ladislau Santos e música do maestro José Santos Barreto
José Levino é historiador e colaborador de A Verdade
Nota: Conheça a Casa de Maria Felipa: casademariafelipa.blogspot.com ou Rua Curuzu, 197 – Liberdade-Salvador (BA). CEP: 40.366-110
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