UM JORNAL DOS TRABALHADORES NA LUTA PELO SOCIALISMO

segunda-feira, 21 de abril de 2025
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Alí Primera, um artista a serviço do povo

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Nascia no dia 31 de outubro de 1942, na cidade de Coro, Estado de Falcón, na Venezuela, Ely Rafael Primera Rossell. Filho de Antonio Primera e Carmem Adela Rossell, devido à origem árabe de seus avós, logo foi apelidado carinhosamente de Alí. Assim nasceu Alí Primera, “A Voz do Povo Venezuelano”.

Filho de uma família pobre, Alí e seus dois irmãos ficaram órfãos de pai muito cedo; ele tinha apenas três anos quando seu pai foi morto em um tiroteio por ocasião de uma fuga de presidiários na cidade de Coro. Sua mãe, viúva e com três filhos, passando por muitas dificuldades financeiras, peregrina por várias cidades de península de Paraguaná. Para ajudar em casa, Alí já trabalhava como engraxate aos seis anos; teve vários empregos, e, na juventude, chegou a ser boxeador. Apesar das inúmeras dificuldades, sua mãe não permitia que os filhos ficassem sem estudar. Em 1960, sua família mudou-se mais uma vez, agora para a Capital, Caracas, onde ingressa no Liceu Caracas e conclui o ensino secundário.

Arte e Militância Política

Em 1964, inicia os estudos de Licenciatura em Química na Faculdade de Ciências da Universidade Central da Venezuela. É durante o período dos estudos universitários que Alí conhece suas duas paixões: a vida Política e a de Cantor de Músicas de Protestos. O cantor e compositor de círculos de amigos se inscreve no Festival de Canções de Protesto realizado pela Universidade de Los Andes, em 1967, apresentando em público suas primeiras composições, as músicas Humanidad e No Basta Rezar, projetando-se para a fama. Naquele momento, surgia o cantor de Músicas de protesto mais amado da Venezuela.

Em 1968, Alí ganha uma bolsa do Partido Comunista da Venezuela (PCV) para continuar os estudos em Tecnologia do Petróleo, na Romênia. Permanece na Europa de 1969 a 1973; para se sustentar, vira lavador de pratos e se apresenta eventualmente como cantor. Estava na Alemanha quando decide gravar seu primeiro disco (LP) intitulado “Gente de mi Tierra” – todo com canções de protesto, nas quais relata a vida sofrida do seu povo, as desigualdades sociais, a necessidade da luta e da resistência. Com a difusão do disco na sua terra natal, rapidamente sofre censura política nos meios de comunicação. Para evitar que suas canções estimulassem os novos cantores e movimentos, o Governo proíbe a circulação de canções de protesto no país.

O que os “donos” do poder não sabiam é que já era tarde; a música de Alí havia se difundido pelos bairros pobres, nas universidades, nas fábricas, entre as mulheres e os movimentos sociais. Nem o próprio Alí imaginava que havia tocado o coração de sua gente e que isso o transformaria no “Cantor do Povo”.

Ainda na Europa, casou-se na Suécia pela primeira vez com Taria Osenius; deste relacionamento, nasceram duas filhas: Maria Fernanda – a quem dedicou o tema “Los pies de mi niña”, e Maria Angela – para quem compôs a música “ La piel de me niña huela a caramelo”. Mesmo sem ter concluído o curso superior, decide voltar à sua terra amada em novembro de 1973 e dedicar-se inteiramente à música e à vida política. Ingressa na Juventude Comunista da Venezuela (JCV) e no Partido Comunista da Venezuela (PCV), participando ativamente de atividades e campanhas e foi membro fundador do Movimento al Socialismo (MAS).

Nesse período, conhece e se casa com a cantora Sol Musset, com quem teve quatro filhos: Sandino, Servando, Florentino e Juan Simón. Em 1977, do relacionamento com Noelia Pérez nasce Jorge Primera Pérez.

Novos projetos e morte prematura        

Alí participou de inúmeros festivais e eventos na Venezuela e por toda a América Latina. Entre suas canções mais famosas, estão: Paraguaná, Paraguanera; José Leonardo; Casas de Cartón, Cruz Salmerón Acosta; Reverón; Flora y Ceferino; Cancion Mansa para un Pueblo Bravo. Em 1984, inicia um novo projeto musical que combinava as músicas de protesto com novos ritmos e instrumentos nunca utilizados por ele antes.

Já havia gravado quatro músicas, quando, no dia 16 de fevereiro de 1985, sua vida termina num acidente de automóvel na rodovia Valle-Coche, que liga Caracas aos estados do Sul e do Oeste.

Da ditadura ao governo popular

Três anos depois de sua morte, houve uma grande revolta popular na Venezuela contra o arrocho de salários e a alta de preços do pão e outros produtos de primeira necessidade, culminando no Caracazo de 1989, desmascarando a social-democracia que governava sob a presidência de Carlos Andrés Pérez. Milhares de pessoas foram massacradas pelo Exército.

A Voz do Povo Vive!        

Em 1982, um grupo de oficiais de esquerda liderados pelo Coronel Hugo Chávez fundara o Movimento Revolucionário Bolivariano, clandestino, que, mais tarde, soube capitalizar a revolta e a frustração popular de 1989. O Movimento ampliou suas bases para os setores populares e tentou tomar o poder pelas armas em 1992. A tentativa fracassou, mas o Movimento se ampliou, conquistando a Presidência nas eleições de 1998. Desde então, Hugo Chávez se mantém como presidente.

Alí Primera não pôde participar fisicamente desse efervescente processo político, mas a sua voz sim. Ele é a voz do povo rebelde e revolucionário, que ouve e canta suas músicas, em casa, nas ruas, no trabalho e nas lutas.  Em 2005, o Governo de Hugo Chavez declarou a música de Alí como patrimônio nacional.  Sua imagem, seu exemplo e suas músicas estão espalhados por todo o país e inspiram velhos, jovens e as novas gerações de artistas populares, não apenas na Venezuela, mas em toda a América Latina.

Elizabeth Araújo e José Levino

O materialismo dialético e bóson de Higgs

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Físicos do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern, na sigla em francês) detectaram, no dia 4 de julho, uma partícula subatômica que se comporta como o bóson de Higgs. Para entendermos o que tal descoberta – se confirmada – significa, precisamos, primeiramente, entender um pouco da concepção científica acerca da natureza que adotamos atualmente.

Espaço, tempo, matéria… tudo teve origem no Big Bang, uma explosão incomensuravelmente enorme que aconteceu há 13,7 bilhões de anos. O Universo era, então, extremamente quente e denso, mas apenas alguns momentos depois, quando começou a esfriar, as condições eram perfeitas para dar lugar aos blocos de construção da matéria – em particular, os quarks e os elétrons de que todos somos feitos.

Alguns milionésimos de segundos depois, os quarks se agregaram a fim de produzir prótons e neutrons, que, por sua vez, foram agrupados em núcleos após três minutos. Então, como o Universo continuou a se expandir e esfriar, as coisas começaram a acontecer mais lentamente. Levou 380.000 anos para que os elétrons estivessem presos em órbitas ao redor do núcleo, formando os primeiros átomos. Estes eram principalmente hélio e hidrogênio, que são os elementos mais abundantes no Universo. Após mais 1,6 milhão de anos, a gravidade começou a assumir o controle – por exemplo, nuvens de gás começaram a formar estrelas e galáxias. Desde então, os átomos mais pesados, como carbono, oxigêio e ferro, de que todos somos feitos, têm sido continuamente “cozinhados” no coração das estrelas, até que essas cheguem a um final espetacular, como uma supernova[1].

As teorias e descobertas de milhares de físicos ao longo do século passado resultaram em uma visão notável acerca da estrutura fundamental da matéria: tudo o que é encontrado no Universo origina-se de 12 blocos básicos de construção chamados de partículas fundamentais, regidos por quatro interações fundamentais. Nossa melhor compreensão de como essas 12 partículas e três das interações estão relacionadas umas com as outras é enquadrada no Modelo Padrão de partículas e interações. Desenvolvido na década de 1970, o Modelo Padrão se estabeleceu como uma teoria física bem testada, e conseguiu explicar uma série de resultados através de muitas experiências de diversos físicos.

O Big Bang

Também na década de 1970, os físicos perceberam que há laços muito estreitos entre duas das quatro interações fundamentais – a saber, a interação fraca e a interação eletromagnética. As duas interações podem ser descritas a partir da mesma teoria, que constitui a base do Modelo Padrão. Tal “unificação” implica que eletricidade, magnetismo, luz e alguns tipos de radioatividade sejam manifestações de uma única interação chamada interação eletrofraca. Mas, para que essa unificação  seja coerente matematicamente, é necessário que as partículas associadas a essas interações não tenham massa. Sabemos por experiências que isso não é verdade, daí os físicos Peter Higgs, Robert e François Englert Brout chegaram a uma solução para resolver este enigma. Eles sugeriram que todas as partículas não tinham massa imediatamente após o Big Bang. Como o Universo esfriou e a temperatura caiu abaixo de um valor crítico, um campo de força invisível chamado de “campo de Higgs” foi formado em conjunto com o associado “bóson de Higgs”. O campo prevalece em todo o Cosmos: qualquer partícula que interage com tal campo ganha massa através do bóson de Higgs. Quanto mais elas interagem, mais pesadas tornam-se, enquanto que as partículas que não interagem são deixadas absolutamente sem massa. Esta ideia forneceu uma solução satisfatória e ajustou-se bem com as teorias estabelecidas e fenômenos. O problema é que ninguém jamais observou o bóson de Higgs em um experimento, para confirmar a teoria.

Marx e Engels, no século 19, desenvolveram um método filosófico de interpretação do objeto estudado a partir da dialética de Hegel e do materialismo de Feuerbach. Esse método dialético converteu-se no método dialético de conhecimento da natureza, consistente em considerar os fenômenos da natureza como sujeitos condicionados perpetuamente a mudanças e o desenvolvimento da própria natureza como processo equivalente ao desenvolvimento das contradições existentes nela mesma. “Toda a natureza, desde suas partículas mais minúsculas até seus corpos mais gigantescos, desde o grão de areia até o Sol, desde o protozoário até o homem, se acha em estado perene de nascimento e morte, em fluxo constante, sujeita a incessantes mudanças e movimentos”[2]. A História da Ciência demonstra claramente que a maneira de entender a natureza não é estática. Logo, através da gênese e morte de fenômenos e teorias, percebemos que processos de desenvolvimento são progressivos, transitando do inferior ao superior.

O fato de tal partícula existir torna verídico o Modelo Padrão, uma vez que essa partícula seria a responsável pela massa no Universo. Porém, há partículas, como já dissemos, que não possuem massa, ou seja, há matéria que não possui massa[3]. Ora, como poderia uma partícula, que é responsável apenas por fornecer massa a outras partículas, ser responsável também por aquelas que não possuem massa? Tal argumento destrói qualquer tentativa de explicar, metafisicamente, a origem da matéria a partir do bóson de Higgs. Trata-se, pois, de uma constatação do materialismo. Da mesma forma, o fato de o bóson de Higgs não existir garante a mutabilidade do desenvolvimento do conhecimento da natureza, pois isso deixará o campo aberto para os físicos desenvolverem uma teoria completamente nova para explicar a origem da massa das partículas. Logo, caso o bóson de Higgs não seja encontrado, veremos de perto a dialética materialista, uma vez que os paradigmas seriam destroçados e a nossa compreensão da natureza teria que ser repensada.

Portanto, no que tange à descoberta (ou não) do bóson de Higgs, podemos afirmar, com certeza, que se trata da constatação de que o materialismo dialético é o método mais adequado para entendermos os princípios fundamentais da natureza, pois, como disse Lênin, “o mundo forma uma unidade por si mesmo e não foi criado por Deus nem por nenhum homem, mas foi, é e será eternamente um fogo que se acende e se apaga de acordo com as leis [da dialética]”[4].

Diogo Belloni,
estudante de astronomia na UFRJ e militante da UJR

¹ENGELS, F. Dialética da Natureza.

²Matéria é tudo que existe no Universo.

³LÊNIN, V. I. Cadernos Filosóficos.


[1]  Uma explosão de supernova é um evento cataclísmico de uma estrela quando ela para de gerar energia. Quando uma estrela vira supernova, uma quantidade considerável de matéria é jogada no espaço.

[3]  Matéria é tudo que existe no Universo.

[4]  LÊNIN, V. I. Cadernos Filosóficos.

O mundo em depressão

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O avanço da crise do capitalismo, que teve início em 2008, continua gerando fortes consequências para os trabalhadores de todo o mundo. Os cortes nos direitos sociais e as medidas de austeridade, somados ao aumento das taxas de desemprego e reduções salariais, vêm obrigando os trabalhadores a suportar condições de exploração cada vez maiores.

Reflexo direto deste retrocesso é o sofrimento e a falta de perspectiva que acometem a população dos países mais afetados pela crise, como prova o aumento do número de casos de depressão e suicídios. A venda de antidepressivos nunca esteve tão alta. Nos Estados Unidos, 27 milhões de pessoas fazem uso desse tipo de medicamento, enquanto no Brasil, no primeiro semestre de 2011, foram comercializados 34,6 milhões desses remédios – um aumento de quase 50% nos últimos quatro anos. Os números são ainda mais assustadores nos países da Europa, onde a crise se faz mais evidente. Só na Itália, desde o início deste ano, 80 pessoas tiraram suas vidas por efeito da situação econômica de seu país. Segundo o instituto de pesquisa Eures, o número de suicídios teve um alarmante crescimento a partir de 2008, provando que a incidência desses casos está diretamente ligada às condições sociais a que estão submetidos os trabalhadores de todo o mundo.

Vicky Harrison, 21 anos, Antonio Tamiozzo, 53 anos, Dimitris Christoulas, 77 anos, e centenas de outros homens e mulheres que, em meio ao desespero e falta de perspectiva impostos pelo sistema capitalista, puseram fim às suas vidas. São jovens, adultos e idosos esquecidos diariamente pelos governos, que preferem retirar do trabalhador seus direitos e conciliar com a classe burguesa. Às custas destes e de todos nós, enriquecem os grandes capitalistas, num ciclo que só terá fim quando a classe trabalhadora se unir para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária!

Jessica Tolentino, estudante de Relações Internacionais da PUC-MG e militante da UJR

Violeta foi para o céu

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O filme Violeta foi para o céu, do cineasta Andrés Wood, revela um olhar firme e comovente da artista chilena Violeta Parra e sua  vida atrelada à esperança e à luta por uma sociedade mais justa. A atriz chilena Francisca Gavilán, de forma magnífica, expressou o amor que Violeta dizia lhe mover a alma, o amor pela humanidade.

De família pobre, ela conseguiu com muito esforço estudar até o curso secundário. Sua sensibilidade e habilidade para a vida artística a levaram a trilhar vários campos. Poetisa, cantora, compositora, tecelã, artista plástica, uma mulher que expressava de diversas formas a vida sofrida e simples do seu povo.
Violeta era filha de uma índia com um professor que lecionava numa escola localizada em uma pequena aldeia chilena. Ainda menina contraiu varíola, que deixou marcas em seu rosto. Violeta cresceu entre as guitarras do pai. Apaixonada pelas canções populares que eram passadas às gerações de forma oral, colocou o pé na estrada na busca de registrar as músicas e os sons dos mais velhos. Suas primeiras canções e baladas só poderiam ser os lamentos e as esperanças de uma vida melhor para o povo de seu país. Mais adiante suas canções de protesto iriam explodir na América Latina. Uma delas, chamada La Carta, diz: “Na minha pátria não há justiça; os famintos pedem pão, a polícia lhes dá chumbo”.

Sua arte era seu instrumento de luta, a bandeira da dignidade de seu povo, que tremulava em sua voz e em suas pinturas com o orgulho e a dignidade de ser uma pessoa comum e popular.
Decidida a ampliar seus conhecimentos e divulgar sua arte, Violeta percorreu vários países. Na França,  onde permaneceu por mais tempo, começou a pintar quadros e a bordar painéis, recriando cenas dos povos andinos, suas cores e suas misérias, obras que expôs no museu do Louvre.
De volta ao Chile, em 1965, instalou uma tenda na região dos Andes, chamadaLa Reina, um centro de cultura popular, um palco permanente da cultura indígena onde divulgava suas canções e seus painéis.

“A criação é um pássaro que não voa em linha reta”, dizia, a levaram a voos dolorosos, em que retratava a dura realidade social de seu país. Suas músicas e pinturas expunham
suas raízes campesinas. Por ser uma pessoa forte, sensível e que abraçava e combatia os
problemas que o sistema capitalista empunha ao seu povo, Violeta, numa crise de depressão, deixou de voar. Sua voz calou porque sua dor, que identificava as dificuldades do povo e que ecoava nos lamentos de suas músicas, a paralisaram. Deixou de ser um pássaro que não voa em linha reta na busca da criação, para fincar suas raízes no solo de sua terra.

Andrés Wood, no filme Violeta foi para o céu, conseguiu mesclar a doçura, a sensibilidade, a personalidade forte, a guerreira e a apaixonada pelo simples e criativo na história que conta a vida de Violeta Parra. Um grande filme que merece ser visto por todos que querem conhecer mais sobre a autora de Gracias a la vida e uma das criadoras, ao lado de Victor Jara, da Nova Canção Chilena.

Denise Maia, Rio Janeiro

Projeto resgata história de mulheres assassinadas

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O Movimento de Mulheres Olga Benário do Ceará realizou projeto de resgate da história de dez mulheres torturadas, desaparecidas e assassinadas pela ditadura militar brasileira. O projeto foi realizado nas comunidades, em parceria com o Movimento de Luta, nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

A atividade levou ao povo a oportunidade de conhecer a vida e a luta de mulheres como: Jana Moroni Barroso (1948-1974, CE); Áurea Eliza Pereira (1950-1974, MG); Therezinha Viana de Assis (1941-1978, SE); Nilda Carvalho Cunha (1954-1971, BA); Alceri Maria Gomes da Silva (1943-1970, RS); Gastone Lúcia de Carvalho Beltrão (1950-1972, AL); Ísis Dias de Oliveira (1941-1972, SP); Lourdes Maria Wanderley Pontes (1943-1972, PE); Anatália de Souza Melo Alves (1945-1973, RN) e Miriam Lopes Verbena (1946-1972, PA).

A pesquisa foi levantada de acordo com as informações do livro Luta, substantivo feminino, uma publicação da Secretaria Especial dos Direitos Humanos e da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, do Governo Federal.

A recepção da população nos bairros foi de muita indignação e revolta por saber que mulheres foram brutalmente torturadas, estupradas e assassinadas simplesmente por defenderem um país democrático e justo. Como bem falou Anatilde do Nascimento, do Conjunto Habitacional Bárbara de Alencar, “foi muito bom para nós, donas de casa e trabalhadoras, conhecermos essas histórias tão tristes, mas de muita luta. Me sinto forte para lutar como elas por saúde, creches para as nossas crianças, trabalho e por um Brasil melhor para todos. Essas mulheres, sim, são as nossas verdadeiras heroínas! E não aquelas que a televisão mostra nas novelas!”.

Ao final do projeto, um ato político na Praça do Ferreira, no Centro de Fortaleza, foi realizado com o objetivo de mostrar à sociedade o espírito de dar continuidade à luta dessas mulheres, exigindo a imediata abertura dos arquivos da ditadura e a punição dos torturadores e assassinos das verdadeiras heroínas do povo brasileiro.

Paula Virgínia,
Movimento de Mulheres Olga Benário

A luta da mulher no mercado de trabalho

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No ano de 1968, 198 operárias da fábrica da norte-americana Ford na Inglaterra, onde trabalhavam cinco mil operários, fizeram uma greve por equiparação salarial. No início muitos operários eram contra a greve, por acreditar que o aumento salarial para as mulheres poderia reduzir seus salários. Depois foram convencidos pelos argumentos das operárias e apoiaram a greve das mulheres, que conseguiram um reajuste inédito de 92% do salário então pago aos homens. Estes fatos estão retratados no filme Revolução em Dagenham, do diretor Nigel Cole, e, embora tenham se passado há mais de 40 anos, até hoje as mulheres continuam recebendo salários menores que os homens, em diversas profissões.

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2010, a média salarial dos homens era de 3,5 salários mínimos, enquanto que a das mulheres era de 2,8 salários mínimos. A desigualdade salarial entre homens e mulheres manteve-se no mesmo patamar em 2011, segundo o estudo Mulher no mercado de trabalho: perguntas e respostas, do IBGE. De 2009 para 2010, foram abertos 163 mil postos de trabalho para mulheres na Grande São Paulo. Elas representam 45% da população ocupada. A taxa de desemprego feminina recuou pelo sétimo ano seguido, atingindo 14,7%, ainda bem acima da masculina (9,5%). O rendimento médio aumentou em ambos os casos, mas essa alta foi maior para os homens, fazendo crescer a diferença entre a remuneração dos gêneros. Em média, as mulheres ganham 79,8% dos valores médios recebidos pelos homens.

Na indústria ASA, que produz material de limpeza no bairro recifense de Afogados, não existe mulher na produção; as três que trabalhavam na fabricação de lã de aço – um setor da indústria que principalmente emprega mão de obra feminina – foram afastadas, já que essa linha de produção foi suspensa em função de problemas no gerenciamento. Esse é um dos exemplos da discriminação da mulher no mercado de trabalho.

Apesar de muitos avanços, a presença da mulher em diversos setores econômicos ainda é tabu. Em 2011, as mulheres somaram 53,7% da população brasileira com 10 anos ou mais (idade ativa). Na população ocupada, elas ainda ficaram em menor número do que os homens (45,4%). Ainda de acordo com pesquisa do IBGE, as atividades que mais absorveram mão de obra feminina em 2011 foram o comércio (em que a participação das mulheres cresceu de 38,2% para 42,6%) e serviços prestados às empresas (com aumento de 37,3% para 42,0%). Nos serviços domésticos, predomina a mão de obra feminina (94,8%).

A discriminação da mulher e a desvalorização do trabalho feminino são instrumentos para dividir a classe operária e perpetuar o exército de desempregados que se submetem a receber salários menores em função das necessidades reais da manutenção de suas famílias. É necessário enxergar que a luta contra a exploração capitalista é igualmente de homens e mulheres, é uma luta coletiva, e que a luta contra a desigualdade salarial tem que ser vista também como de interesse coletivo, já que o salário menor acaba puxando para baixo o salário de todos os trabalhadores. Incorporar as mulheres e levantar suas especificidades na luta sindical são tarefas de todos os que lutam por uma nova sociedade.

Guita Kozmhinsky,
coordenadora do Movimento Olga Benário

Desempregados contra cortes do governo espanhol

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O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, anunciou no início de julho novas “medidas de ajuste” que, na prática, representam mais demissões e aumento de impostos e agravam a crise social vivida pelo país. Entre as medidas estão a redução do número de empresas públicas, o fim do abono de Natal para os servidores, a suspensão de novas contratações e o aumento de dias trabalhados, além da redução do valor do auxílio-desemprego.

O parlamento do país, reafirmando o caráter cada vez mais reacionário desta instituição burguesa, aprovou o novo pacote do governo por 180 votos a favor, 131 contra e uma abstenção. A decisão foi tomada em consequência das pressões (o melhor seria dizer chantagens) do FMI e do Banco Central Europeu, que impuseram ainda mais exigências para continuar “auxiliando” economicamente a Espanha.

Entretanto, esse “auxílio” da chamada “troica” (BCE, FMI e União Europeia), longe de resolver a crise, agrava-a. De fato, mesmo depois de todos os pacotes anticrise aprovados e das inúmeras promessas de recuperação por parte do governo, a Espanha amarga hoje a maior taxa de desemprego da Europa (25,3%), o que representa 5,7 milhões de trabalhadores. No segundo trimestre deste ano o número de desempregados aumentou em 53,5 mil pessoas, enquanto o de famílias com todos os seus membros desempregados subiu para 1.737.600.  Na juventude, o desemprego entre jovens de 16 a 19 anos atinge 235,2 mil pessoas, enquanto que na faixa de 20 a 24 anos existem 722,3 mil desempregados.

Esta situação tem levado os espanhóis às ruas contra o desemprego e os pacotes econômicos neoliberais do governo. No último dia 10 de julho, milhares de mineiros ocuparam as ruas de Madri contra o corte de 63% nas verbas públicas destinadas ao setor e que ameaça os empregos de cerca de 30 mil mineiros em todo o país. Os funcionários públicos – cujos salários foram reduzidos 5% em 2010 – também protestam. No dia 15 de julho, milhares de policiais, bombeiros, profissionais da área de saúde e professores foram às ruas contra as medidas aprovadas pelo Congresso, numa manifestação que percorreu o centro de Madri e terminou em frente ao prédio do parlamento. “Estou aqui porque este é um país de charanga e tamborim. Há dois anos cortam o nosso salário”, afirmou Domingo, 35 anos, policial há oito.

A Central Sindical Independente e de Funcionários convocou uma greve no setor público para setembro. Já a CCOO, um dos principais sindicatos do país, afirmou que, diante dos fatos, uma nova greve geral será inevitável. “O governo tem em suas mãos o poder de evitar. Eu não renuncio à greve porque a sociedade tem o direito à autodefesa. Se o governo forçá-la e obrigá-la a isso, e temo que é o que está fazendo, será inevitável que ocorra”, disse Ignacio Fernández Toxo, secretário-geral do sindicato, que também defendeu a unidade sindical e afirmou que “vamos nos reunir com todos os sindicatos, profissionais, confederados e com outras organizações da sociedade civil para promover uma ampla resposta”.

No dia 21 de julho, houve outra manifestação contra as medidas governamentais, que dessa vez reuniu milhares de desempregados nas ruas de Madri. “Foi um longo percurso, mas não podemos ficar em casa”, disse Rafael Ledo, 31 anos, que andou 500 quilômetros, desde Astúrias, para participar do evento. “É preciso se mobilizar, tentar reunir todos os desempregados da Espanha. Somos quase seis milhões”, afirmou Ledo, há dois anos sem trabalhar.

Segundo a Organização Internacional do Trabalho, desde o início do ano, a situação do emprego se agravou em metade dos países da Zona do Euro e pode piorar ainda mais, com a demissão de mais 4,5 milhões de trabalhadores até 2016.

Heron Barroso, Rio de Janeiro

Seminário reafirma união de revolucionários da América Latina

Com o tema “O Caudilhismo Populista e a Luta Revolucionária na América Latina”, ocorreu de 16 a 20 de julho, em Quito, Equador, o 16º Seminário Problemas da Revolução na América Latina. O encontro, realizado na sede da União Nacional dos Educadores (UNE), reuniu um público estimado em 400 pessoas. As organizações e partidos de esquerda e revolucionários da América Latina e de outras partes do mundo apresentaram exposições sobre o tema central, sobre a grave crise do sistema capitalista e, principalmente, sobre a importância da organização do movimento popular e revolucionário para enfrentar a política de agressão imperialista e as políticas de ataques aos direitos dos trabalhadores e da juventude.

Uma mesa-redonda debateu a situação da exploração pelas multinacionais dos minérios na América Latina e as suas consequências para a soberania dos povos e os efeitos da degradação ambiental.

O crescimento das lutas em todos os países também foi destacado, mostrando que a disposição é de intensificar as mobilizações populares para ampliar a consciência de classe e avançar na conquista da revolução e do socialismo.

O Partido Comunista Revolucionário do Brasil esteve representado no 16º Seminário com os companheiros Fernando Alves e Serginaldo Santos. A seguir a Declaração final do 16º Seminário Internacional Problemas da Revolução na América Latina.

Da Redação

“É fundamental preservar a unidade do movimento popular”

 O descontentamento social crescente, manifesto nas mobilizações de rua, greves parciais e gerais e até em levantes populares que colocaram fim a governos reacionários e pró-imperialistas, quebrou a institucionalidade burguesa e acelerou o esgotamento do modelo de acumulação capitalista em curso, monitorado a partir dos centros de dominação imperialista.

O temor cresceu entre as elites econômicas e sociais, pois o anseio e o desejo de ser protagonistas de profundas transformações tomou corpo no meio do povo. As propostas políticas progressistas e de esquerda, outrora olhadas como defasadas e inaplicáveis, abriram caminho entre as classes trabalhadoras e populares.

Enquanto em vários países da América Latina se mantêm governos abertamente direitistas e submissos ao imperialismo, em outros emergiram governos denominados alternativos e progressistas. Em alguns destes, em determinadas ocasiões, tem se observado ações de resistência às políticas do imperialismo, o que tem merecido o apoio dos povos.

Recuperando sua própria experiência política, frações burguesas de diferentes países manobraram para aproveitar o descontentamento das massas em favor de seus interesses. Aparentemente, fizeram suas as ideias e propostas levantadas durante anos pelo movimento popular e as organizações de esquerda contra o neoliberalismo e pela conquista de um desenvolvimento soberano, em condições de igualdade social.

Porém, a expectativa e o entusiasmo das massas com esses governos que prometeram deixar para trás o passado de opressão e atraso se chocam com a realidade quando estes aplicam seu verdadeiro projeto político e entregam as riquezas naturais (principalmente as minerais) a companhias estrangeiras; quando o endividamento externo persiste, ainda que os capitais provenham de outros centros imperialistas; quando se criminalizam as lutas populares; quando se avançam em negociações e acordos de livre comércio com nomes diferentes; ou quando a publicidade governamental fala mais do que, em realidade, executa-se no âmbito social.

Não obstante o descontentamento dos povos, é um fato que, por ora, estes governos têm tido, em certa medida, a capacidade de neutralizar e conter a mobilização social. Sem dúvida, isso é fruto da capacidade de manipulação ideológica e política das frações burguesas que, com o apoio do imperialismo, encontram-se no governo, se deve à execução de políticas assistencialistas e clientelistas, à presença de caudilhos em condição de chefes de governo, que fazem uso da demagogia e de políticas populistas e também aos limites existentes na consciência das massas e às debilidades que ainda existem nas organizações revolucionárias.

Nestas novas condições, as lutas que os trabalhadores e as organizações revolucionárias desenvolvem se tornam mais complexas, pois resulta relativamente mais evidente para as massas enfrentar e combater um governo que se apresenta abertamente de direita e ligado ao capital estrangeiro, que um que demagogicamente diz promover as mudanças, mas, na realidade, não faça mais que sustentar todo o sistema de dominação do capital, defender os interesses das classes dominantes e do capital financeiro imperialista. Neste sentido, afirmamos que, para o avanço da luta revolucionária dos povos, é fundamental desmascarar e derrotar estes governos entreguistas, demagógicos e populistas, que provocam um grave dano ao desenvolvimento da organização e da luta popular.

A fim de cumprir os propósitos estratégicos que nos animam, as organizações, movimentos e partidos políticos comprometidos em levar à vitória a revolução e o socialismo devem redobrar esforços para desenvolver a consciência política das massas, e isso é possível, sobretudo, desenvolvendo suas lutas por reivindicações particulares e por bandeiras políticas, a fim de desmascarar a verdadeira natureza desses governos; é vital promover uma intensa e sistemática ofensiva político-ideológica dos ideais revolucionários entre os trabalhadores, a juventude, os camponeses, as mulheres e os povos; urge aproveitar todos os resquícios que a institucionalidade burguesa permite; preservar a unidade do movimento popular e das organizações políticas de esquerda é uma necessidade para isolar do movimento social aqueles que hoje manipulam através do poder os anseios de mudanças dos povos.

Apesar de que, circunstancialmente, os governos populistas conseguiram de maneira parcial frear a luta de massas, o certo é que as condições materiais de vida destas e as limitações históricas destes governos as levam à luta. Ainda mais porque existe um cenário mundial que inevitavelmente incide em todo lado, e é a agudização da crise geral do sistema capitalista que provoca a resposta combativa dos povos, como se observa em nossa região e, de maneira particular na Europa, para cuja classe operária e juventude expressamos nossa solidariedade.

As organizações presentes ao 16º Seminário Internacional Problemas da Revolução na América Latina reiteram sua vocação internacionalista e o compromisso de continuar lutando pela unidade e solidariedade entre os povos. Levantamos o direito dos povos à autodeterminação, condenamos toda forma de intervencionismo estrangeiro e toda ação das classes dominantes para burlar a vontade dos povos.

De Quito, Equador, expressamos nosso compromisso de dar continuidade a este evento e, por ele convocamos o 17º Seminário Internacional para o próximo ano.

Quito, 20 de julho de 2012

Partido Comunista Revolucionário da Argentina

Partido Comunista Revolucionário – Brasil

Movimento pela Constituinte Popular – Colômbia

Partido Comunista da Colômbia (Marxista-Leninista)

Partido Comunista da Espanha (Marxista-Leninista)

Frente Democrática Nacional – Filipinas

Partido Comunista do México (Marxista-Leninista)

Frente Popular Revolucionária – México

Partido Comunista da Palestina

Partido Comunista do Peru – Pátria Roja

Partido Comunista Peruano Marxista-Leninista

Coordenação Caribenha e Latino-americana de Porto Rico

Partido Comunista do Trabalho – República Dominicana

Partido Comunista (bolchevique) de Toda a União Soviética

Movimento Gayones – Venezuela

Movimento de Mulheres Ana Soto – Venezuela

Movimento Socialista pela Qualidade de Vida e Saúde – Venezuela

Movimento Popular Democrático – Equador

Juventude Revolucionária do Equador

Confederação de Mulheres Equatorianas pela Mudança

Partido Comunista Marxista-Leninista do Equador

Prefeitura terceiriza Assistência Social

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A Prefeitura de São Paulo não se cansa de apresentar propostas contrárias ao povo pobre.  Desta vez, trata-se da proibição da distribuição de “sopão” na Capital paulista.

O sopão é uma refeição oferecida à noite em ruas da região central da cidade para a população em situação de rua que não consegue ou prefere não pernoitar em um albergue municipal.

A Secretaria Municipal de Segurança Urbana prevê que o sopão, hoje oferecido voluntariamente por 48 instituições, seja distribuído nos espaços de convivência, conhecidos como tendas. Mas informou que essa ação, que tinha implantação prevista para até o fim de julho, diante das mobilizações contra a medida foi suspensa. Segundo a secretaria, a proposta tem o objetivo de “coibir a distribuição insalubre dos alimentos”.

As Tendas, como a maioria dos serviços da Assistência Socialem São Paulo, não são gerenciadas pelo Estado, mas por ONGs que mantêm convênios com a Prefeitura. Isto significa que essas instituições recebem uma verba mínima pública para administrar os serviços, o que reflete na falta de estrutura, má remuneração de funcionários e, consequentemente, em funcionamento precário dos serviços, deixando como alternativa a captação de recursos com empresas, igrejas e, o que é pior, com trabalho voluntário.

Vale lembrar que, ao deixar os serviços serem administrados por instituições, em grande parte de cunho religioso, a Secretaria Municipal da Assistência e Desenvolvimento Social (Smads) não garante um atendimento padronizado e laico, contradizendo o que está previsto no Sistema Único da Assistência Social (Suas), pois a supervisão técnica, que deveria garantir isso, é insuficiente, e os serviços prestados acabam variando de acordo com a ONG que os coordena.

Desta forma, o Poder Público se ausenta de sua responsabilidade e terceiriza o atendimento para instituições da sociedade civil. No caso do sopão, a situação se agrava, pois os convênios das Tendas com a Prefeitura não preveem recursos para alimentação da população. Assim, o Estado se aproveita das doações que ocorrem nas ruas para que elas sejam realizadas dentro desses espaços, transferindo mais esta responsabilidade para a sociedade civil e instituições do terceiro setor, sem investir dinheiro nisso e, o pior, sem regulamentação.

Na verdade, isto representa um grande retrocesso e descaso com a luta do Movimento da População em Situação de Rua, que conquistou políticas de inclusão, legislações e até mesmo um conselho para monitorar os serviços, inclusive no que diz respeito à alimentação, para garantir refeições dignas, e não apenas sopa ou salsicha.

Até este momento, a Prefeitura não se manifestou quanto às normas desta medida, ou seja, como isto será feito, já que, para este governo burguês, pouco importam as conquistas e os direitos do povo; ignora totalmente o pobre/trabalhador para garantir os interesses e lucro dos ricos.

No fundo, não passa de mais uma política de higienização do Centro da cidade de São Paulo, assim como a política de truculência contra dependentes químicos na Cracolândia e os despejos de ocupações em prédios. 

Tráfico de animais ameaça preservação ambiental

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Ao longo da história, as riquezas naturais do Brasil sempre foram vistas sob o prisma da cobiça e ganância. Nosso primeiro grande saque, o que abriu as portas para a exploração das matas brasileiras, é estudado em todas as escolas de nosso país: o do pau-brasil. No final do século 16, portugueses e franceses, entre outros, já haviam derrubado a absurda quantia de dois milhões de árvores. Em 1605, a realidade de hoje já estava deflagrada: o pau-brasil estava quase extinto. E a fauna, desde essa época, também já era pirateada: animais exóticos, coloridos e barulhentos da “nova terra” eram comercializados nas ruas europeias, por preços absurdos. Possuir papagaios, araras, tucanos e macacos era sinônimo de poder e riqueza.

De tão rentável que era o negócio, logo as indústrias entraram no jogo: penas de guarás, flamingos e garças da ilha de Marajó eram exportadas para Europa e Estados Unidos, onde eram usadas em adornos para chapéus femininos. O imperador dom Pedro II exibia-se nos salões, com um manto de gala todo confeccionado com penas de galo-da-serra. Antes dele, seu pai encomendava um manto real com penas amarelas do papo de tucanos. Para isso, em 1822, o ministro José Bonifácio exigiu que o Museu Nacional entregasse todos os tucanos-de-bico-preto mantidos em sua coleção. Milhares de beija-flores foram empalhados e ornamentavam casas e salas de concertos na Europa. Só em 1932, as penas de 25 mil dessas aves foram enviadas à Itália para decorar caixas de bombons.

Tal situação não mudou até hoje. Mesmo com toda a legislação vigente e as entidades responsáveis pela defesa do meio ambiente, nossos animais e plantas continuam sendo roubados de nosso país. Muitos remédios norte-americanos são feitos com princípios ativos extraídos de plantas brasileiras, comercializados aqui a preços caros, e o Brasil nada ganha com isso. E até hoje os animais, quando são apreendidos (juntamente com seus vendedores), perambulam muitas vezes por mais de três horas até serem registrados nas delegacias. Os próprios policiais consideram isso um “caso menor” e o despacham para outros distritos policiais. Espremidos em gaiolas e machucados, após tantos sofrimentos, a maioria desses animais, transportados sem nenhuma condição que garanta sua sobrevivência, acaba morrendo ou sofrendo lesões.

Mal fiscalizadas, as estradas no Norte e do Nordeste do País escoam a fauna brasileira. A cidade de Belém, capital do Pará, é o ponto de encontro de uma das maiores rotas de tráfico interno e internacional. Feira de Santana, na Bahia, que fica num entrocamento viário que leva para o Centro-Oeste e Sul (grandes pólos exportadores de mercadoria ilegal para a América do Norte, Europa e Ásia) também é usada como rota pelos traficantes. Só na Bahia uma pesquisa registrou o comércio de 159 espécies da fauna brasileira em feiras e mercados do Estado. Quem viaja pela BR-116 em direção a Milagres, se depara com cenas realmente absurdas. A dez quilômetros de um posto da Receita Federal, crianças vendem jabutis e filhotes de mico, a 25 reais o casal. “Pode levar, eles aguentam viagens longas. Se tu quiser, tenho mais em casa”, garante a A Verdade um garoto de dez anos de idade. “Tem um americano que sempre vem comprar comigo. Ontem, um caminhoneiro levou dez macaquinhos”, conta, excitado com a “qualidade” de sua mercadoria. A poucos metros dali, três rapazes vendem maritacas depenadas, com asas cortadas e cabeças pintadas de azul e vermelho (com pincel atômico): “São filhotes de papagaio”, tentam enganar.

Com os olhos cegos pela aproximação de brasas de cigarro, corrupiões ficam dóceis e são vendidos como “animais domesticados”, quietos nos dedos dos vendedores nas BRs do País. Outros vendem macacos com os caninos mutilados por cortadores de unha, como garantia de que não morderão ninguém. “Já encontramos bichos que nem são desta região, uma prova de que chegam de vários lugares do País”, afirmam alguns biólogos baianos, após grandes apreensões no Estado – que não são divulgadas com o destaque merecido, em nossa mídia.

Tantos casos demonstram um fato incontestável: o de que é impossível conciliar a preservação do meio ambiente com o avanço indestrutível do capitalismo. Criam-se de leis a planos nacionais, que não são respeitados de forma alguma, e a cada dia que passa mais e mais espécies entram na já extensa lista de animais extintos. E hoje o governo, junto com grandes empresários, divulga, com grande alegria, que são empresas sustentáveis que respeitam a natureza, a fauna e flora, como se fosse possível uma relação amigável entre a humanidade e a natureza no sistema capitalista.

Estamos presenciando no Brasil, um país extremamente rico do ponto de vista ambiental, o avanço de práticas e políticas destrutivas (como o novo Código Florestal) que promovem, a longo e médio prazo, a degradação da natureza, e, em consequência, a degradação da vida humana.

Emanuel Portela,  militante da UJR-CE

O que é ser de esquerda

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Algumas pessoas cometem um grande erro ao responder a essa pergunta – geralmente são os indivíduos que não aceitam a proposta da esquerda sem procurar ao menos entendê-la, ou seguem uma ideologia sem olhar para os lados, deixando o lado emocional falar mais que a razão. Para esclarecer essa questão, consideremos antes algumas palavras clássicas para melhor compreensão: socialismo (sistema que promove o bem comum, sociedade justa e sem exploração), capitalismo (sistema econômico e social baseado na sociedade privada, visando ao lucro) e direita (sistema político reacionário e conservador).

O indivíduo que se enquadra na esquerda da sociedade defende um governo que seja de fato justo; que sua administração seja para todos, ricos ou pobres; que a justiça funcione sem medir a classe social das pessoas; que a riqueza produzida seja distribuída com igualdade; que o cidadão trabalhe sem ser explorado pelo seu patrão, etc. – ou seja, esse indivíduo de esquerda defende o socialismo. Há algum mau você repudiar as injustiças? É óbvio que a população quer viver numa sociedade justa em todos seus aspectos. Que mal a pessoa está praticando quando elabora uma grande ideia e a executa a favor da coletividade, querendo que todos se beneficiem da criação – não apenas o criador? Como seria bom se as informações, os medicamentos especiais e o uso de aparelhos médicos de altíssima tecnologia fossem fornecidos a um preço acessível ou até mesmo de graça à população. O ideal de igualdade, de coletivo está presente na esquerda, sendo que ninguém pode negar que isso seja prejudicial aos outros. Estamos cientes de que o nosso atual sistema econômico e social está focado no lucro, na sociedade privada, num sistema de competição desumano, onde vence quem tem mais poder, centralizando as riquezas e o domínio e, consequentemente, gerando a desigualdade social que castiga grande parcela da população.

Infelizmente os ousados que buscam defender e divulgar uma forma justa de governar são insultados com a ingratidão de críticas sem fundamento, de argumentos que vão contra o bem-estar social  e defendem o sistema econômico atual, sendo que esse gera de fato sofrimento para a maioria dos habitantes; basta olhar a situação dos moradores de rua e de locais impróprios, das pessoas que passam fome, da precariedade dos hospitais públicos, da falta de emprego, falta de moradia, dos catadores dos lixões, das crianças desnutridas no continente africano, do baixíssimo número de jovens em universidades públicas etc. E, diante dessa real situação que vivemos, quando surgem cidadãos, de esquerda – que buscam reverter o quadro, sabendo da complexidade do problema, mas mesmo assim não desistem de seus ideais – eles são julgados como se estivessem fazendo algo errado. Mas onde está esse erro, quando você quer ir além de ficar tapando buracos, mas sim transformar a atual estrutura social?

Essa grandiosa atitude humanitária merece mais apoio e respeito devido a seu objetivo de promover o bem comum. Suas ideias e ambições não são particulares, mas sim democráticas. A sociedade deveria refletir muito mais sobre a esquerda, ter curiosidade em conhecer sua proposta, suas ideias e objetivos, e, a partir, daí chegar a uma conclusão do que realmente a população necessita para obter melhores condições de vida.

Geovane Barbosa Santos, aluno da UFABC e membro da ONG Reduto Social